Trabalho de Curso da Fundação Armando Álvares Penteado Faculdade de Artes Plásticas| Curso de Arquitetura e Urbanismo
Fernanda Barreiros Rosa Orientadora: Professora Doutora Elisabete França
São Paulo 2018
Agradecimentos
Aos meus pais, Estela e Fernando, por todos os esforços realizados para eu chegar até aqui, por exercerem papel fundamental na minha formação, apoiando, incentivando e sempre acreditando em meu potencial. Aos meus irmãos, Júlia, Letícia e Louis, presentes em todos os momentos da minha vida. À minha família, que sempre compreendeu os momentos de ausência. Aos professores que acompanharam e contribuíram no meu desenvolvimento durante todos os anos do curso, e principalmente aos professores, Claudia Muniz, por todo acompanhamento no início deste trabalho e auxilio no desenvolvimento, e Sergio Sandler, que sempre se dispôs a ajudar, incentivou, apoiou e proporcionou conversas fundamentais para a conclusão desta etapa. Aos amigos, Clara, Eric, Fabio, Jorge, Tales e Timoteo, que me acolheram tão bem na nova sala e estiveram ao meu lado nos dias e noites de trabalho, sempre tornando os momentos melhores. Às minhas amigas Danielly, Isabella e Marina, pelos momentos tão especiais vividos no inicio desta etapa, que levarei pra sempre em meu coração. Ao Gabriel, por todo amor, ajuda, apoio, compreensão e principalmente, por sempre me fazer sorrir. À minha orientadora Elisabete França, por um ano inteiro incentivando e acreditando neste trabalho.
Preâmbulo
Uma tarde ensolarada de domingo, uma pequena viela no centro da cidade de São Paulo e um cenário um tanto quanto inusitado. Crianças correm, brincam, se escondem, apropriamse de um espaço que já lhes pertence. Nada se ouve além de suas risadas, nada se nota além de seus movimentos. Animais em frente às portas escancaradas das casas, na estreita calçada, aproveitam essa tranquilidade. Roupas penduradas para fora da varanda secam ao movimento da brisa suave. As mães? Estão dentro de suas casas, tranquilas, afinal, aquela travessa ficou no passado, ninguém passa ou repara naquele lugar, não há preocupações... No entanto, existe vida, existem histórias, existe uma realidade não tão tranquila quanto aquela que aparenta existir... Existem problemas reais, problemas habitacionais, problemas sociais. Não estamos mais no século XX: estamos no ano de 2017, e como se estivesse presa no tempo, a travessa luta e permanece. Travessa Noschese, 17/09/2017, relatos da autora
01 Introdução
02 | 09
Contextualização
03 | 12
Referências
04 | 38
O projeto
05 | 40
2.1.Planos para o centro
| 18
3.1.Pátio Bellavista
4.1.Potencialidades
| 42
2.2.Breve histórico da região
| 20
3.2.Plano Ceramique
4.2.Levantamento
| 46
2.3.Moradia em foco
| 22
3.3.Bridge City
4.3.Mapeamento
| 52
2.4.A área
| 24
4.4.Diretrizes
| 54
2.4.1.Mapa 1881
| 28
4.4.1.Preservar
| 56
2.4.2.Mapa 1897
| 30
4.4.2.Conectar | 58
2.4.3.Mapa 1905
| 32
4.4.3.Adensar
2.4.4.Mapa 1930
| 34
4.4.4.Qualificar | 62
2.4.5.Mapa 1954
| 36
4.4.5.Reabilitar | 62
| 60
4.5.Plantas
| 64
4.6.Os edifícios
| 76
4.7.Cortes
| 80
Consideraç oes finais
06 | 87
Bibliografia/ Webgrafia
| 88 | 89
01. Introdução
O trabalho tem como objetivo a valorização da Travessa Noschese, uma pequena via localizada na região central da cidade de São Paulo. Esquecida no tempo, ela mantém algumas de suas características de viela dos anos 20: um leito carroçável estreito, calçadas praticamente inexistentes e pequenas construções residenciais. Buscando reconhecer o significado da área e recuperando parte da memória da região central, o projeto mostra as suas potencialidades junto à permanência do traçado urbano característico e das suas edificações antigas. Simultaneamente, explora os índices urbanísticos atuais, propondo novas edificações e a requalificação da região, estabelecendo assim o equilíbrio entre o pré-existente e o novo, bem como a qualidade de vida urbana. Para tanto, foi realizado um levantamento de todos os potenciais do local, assim como de suas limitações, além de um estudo sobre a necessidade de atrair novos moradores para a região central. O principal estudo feito foi acerca do projeto de habitações de interesse social no local, dada a grande procura por moradias dignas, acessíveis e bem localizadas por uma parcela da população. O início do trabalho se dá através de visitas a campo, conversas com alguns moradores e estudo do histórico da área, da origem da Travessa Noschese e de todo o significado de seu entorno. Através do estudo de mapas, plantas do acervo da prefeitura e matérias de periódicos, busca-se a compreensão da área como um todo, além do entendimento das causas do auge e do declínio da região central da cidade, bem como os desafios de ocupar esse espaço de maneira digna. Posteriormente, são realizados a delimitação do perímetro escolhido para estudo, bem como o levantamento dos possíveis terrenos para intervenção e análise de um desenho de quadra aberta com conexões necessárias para maior fluidez do espaço. Isso possibilita um novo desenho urbano, além de uma valorização e apropriação do pedestre sobre o espaço público. Por fim, desenvolve-se um projeto urbano, com intervenções em diversos pontos do perímetro, além do estudo de volumetrias de edificações habitacionais voltadas ao interesse social e mercado popular. Tais volumetrias são, portanto, conformadas ao redor de um espaço público de convivência, no miolo de uma quadra redesenhada, a fim de conectar os vazios subutilizados, tornando-se um caminho permeável para o pedestre.
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Imagem Avenida Brigadeiro Luis Antonio sentido centro - 1902 - Fonte EstadĂŁo
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Imagem Avenida Brigadeiro Luis Antonio sentido centro - 2014 - Fonte Flavio Morais
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02. Contextualização A cidade de São Paulo teve seu crescimento demográfico acelerado por volta da última década do século XIX. Entre 1890 e 1900, houve um aumento de quase 200.000 habitantes em sua população, principalmente devido à grande chegada de imigrantes consequência do processo de industrialização, que teve início no fim do século. Tal processo foi motivado principalmente pelo grande desenvolvimento da economia cafeeira e seu alcance internacional. São Paulo era o ponto de encontro da mercadoria antes do porto de Santos, além da capital político-administrativa do Estado, tornando-se assim o centro financeiro do café. Entre os anos de 1870 e 1890, com a grande circulação de capital financeiro e a crescente demanda populacional, outras atividades produtivas foram estimuladas, dando início assim à atividade industrial. Descrevendo a cidade de 1902, o jurista Jorge Americano, autor de livros de memória sobre a São Paulo em que coube viver, afirma que despontavam nela “trinta ou quarenta chaminés”. Com as fábricas, delineavam-se os bairros industriais, que eram também os locais de residência dos operários. Começava a construir-se a legenda dos bairros de imigrantes – Brás, Moóca, Bom Retiro, Bexiga. (TOLEDO, 2015, p. 29)
Os cortiços e bairros operários, construídos onde as fábricas eram instaladas e tendo a maior parte de seus habitantes imigrantes, se desenvolviam lindeiros ao centro da cidade. Carentes de infraestrutura, sofriam de problemas sociais e higiênicos, de forma que era alto o fator de insalubridade, muitas vezes devido à sua localização em zonas de várzea inundáveis e à falta de saneamento básico. Tais desafios eram até então desconhecidos à antiga vila, contribuindo assim para as falhas no desenvolvimento urbano dessas áreas.
A área urbanizada da cidade de São Paulo, no período de construção da ferrovia, se encontrava limitada em torno da colina central e alguns bairros de Santa Ifigênia e Brás, se expandindo posteriormente para as áreas das chácaras que a circundavam. Assim, nessa dinâmica de expansão territorial, foram loteadas só nessa vertente norte e oeste da cidade a Chácara das Palmeiras (originando o bairro de Santa Cecília), a Chácara do Campo Redondo (bairro dos Campos Elísios e parte do de Santa Ifigênia), a Chácara do Marechal Arouche (bairro da Vila Buarque), a Chácara do Chá (Centro Novo), as Chácaras de Sousa Barros e do Brigadeiro Tobias (entre a praça do Correio, o Paissandu e a Estação da Luz), e a Chácara do Carvalho (parte da Barra Funda e Bom Retiro), entre outras. (SIMÕES JÚNIOR, 2003, p. 40)
Por volta de 1910, o centro passou por um processo de verticalização devido às novidades tecnológicas na área da construção, que permitiram edificações em altura, conforme explica o arquiteto e urbanista Angelo Bucci: O elevador foi suporte que fez viável os edifícios verticais, predominantemente, prédios de apartamentos e edifícios de escritórios. Se a ferrovia funcionou como máquina de fundar cidades, do elevador, pode-se dizer, que é a máquina de construir arranha-céu. (BUCCI, 2005, p. 20)
Afirma Eva Alterman Blay, socióloga e professora, autora do livro Eu não tenho onde morar: A expansão das indústrias, ao longo das ferrovias, particularmente nas zonas de várzea, deuse concomitantemente a uma ocupação do espaço urbano pela habitação operária. Esta tanto pode ser a vila operária como os demais tipos de habitação ocupados pelos operários. Embora não se possa descrever a estruturação espacial que a cidade vai adquirindo como a implantação de uma segregação social, onde raça ou classe sejam elementos seletivos absolutos para a moradia, ocorre contudo uma predominância de certas camadas sociais no espaço. A estruturação espacial associa-se à conformação social que a cidade adquire: formam-se bairros operários assim como se formam bairros de alta burguesia. Os chamados bairros operários ocupam principalmente as zonas de várzea, inundáveis e insalubres. (BLAY, 1985, p. 51)
Imagem Vila Operária Maria Zelia - Fonte “Os pioneiros da habitação social” - Nabil Bonduki
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Imagem Edifício Martinelli em construção, 1920 - Fonte Site Estilos Arquitetônicos
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Com a facilidade de mobilidade espacial adquirida também pela chegada do automóvel particular, os bairros residenciais passam a se distanciar cada vez mais do centro. Posteriormente, devido ao plano de Avenidas de Prestes Maia (1930), a mobilidade se expandiu ainda mais. Esse foi o primeiro plano para intervir no tráfego da região, que se encontrava congestionada por não ter estruturas para receber a demanda crescente de automóveis.
O plano de avenidas que Prestes Maia elaborara com Ulhôa Cintra tinha por objetivo escancarar a circulação numa cidade que, na marca do 1,4 milhão de habitantes, apresentava um Centro atravancado e comunicação difícil do Centro com os bairros e dos bairros entre si. (TOLEDO, 2015, p. 369)
Imagem Viaduto do Chá - década de 1920. Fonte Estadão
O crescimento populacional na área central, bem como a necessária expansão dos serviços e comércios, resultou na travessia do vale do Anhangabaú, dando origem ao “centro novo”, concretizado por volta de 1930. Baseado em um ideal Europeu, foi projetado atendendo as diretrizes da elite Paulistana, com boulevards, jardins e mansões. O viaduto do Chá, O Theatro Municipal e a reforma do Anhangabaú selaram o destino de São Paulo: a centralidade da cidade tomaria o rumo oeste da colina histórica. É esta a conclusão do urbanista José Geraldo Simões Jr., autor do elucidativo Anhangabaú, história e urbanismo. O antigo morro do Chá, rebatizado de “cidade nova”, logo seria chamado de “centro novo”, com eixo na rua Barão de Itapetininga. O Anhangabaú deixaria de ser o “quintal dos fundos” como escreve Simões Júnior, para virar o jardim de frente da cidade. Depois dos investimentos que iam do viaduto à praça da República, não havia mais possibilidade de o Centro expandirse para o lado leste, sacramentado na condição de região de fábricas e bairros operários. (TOLEDO, 2015, p. 79)
Nota-se que o centro foi, desde sempre, muito mais um local de passagens do que permanências, como pode-se verificar nessa passagem do livro de Roberto de Pompeu Toledo (2015, p. 30): “O Triângulo, [...] era a região compreendida entre as Ruas Quinze de Novembro, Direita e de São Bento. Lá estavam as lojas e os escritórios, as redações de jornais, os hotéis, os cafés e as confeitarias.” Simultaneamente, diversas inovações de abastecimento de água contribuíram para o desenvolvimento de novos empreendimentos imobiliários mais afastados da região do centro histórico, assim como os projetos para organização territorial nos bairros destinados às classes de mais alta renda. Estabeleceu-se, assim, grande disparidade entre os bairros de alta e baixa renda.
Imagem Praça da República . Fonte Folhapress
Por volta de 1940, todo o antigo bairro do Chá, agora já consolidado como “Centro Novo”, estava repleto de lojas comerciais e edifícios. A partir daqui, iniciava-se o processo de expansão da área central no sentido oeste, que se perpetua até os dias atuais. Segundo Simões Júnior (2003, p. 161), tal processo “[...] foi impulsionado pelo mesmo princípio: o de que o Centro segue a direção de expansão dos bairros residenciais de mais alta renda da cidade”. Na década de 1960, as grandes empresas, bancos e sedes de órgãos públicos que estavam instaladas no centro da cidade pouco a pouco se deslocavam para a região da Avenida Paulista. Com o plano de avenidas já implantado, novos caminhos foram proporcionados. A cidade mostrava-se, assim, mais desenvolvida à oeste ao passo em que havia a defasagem dos edifícios na região central, que em sua maior parte não possuíam garagens para os automóveis, o que contribuía para o processo de abandono da área central. A partir de 1970, são propostos diversos planos de requalificação para área, dando início a uma luta constante por melhorias nessa parte tão importante e histórica da cidade, buscando-se assim sua valorização e reconhecimento.
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Imagem Praça Ramos de Azevedo, centro como polo econômico - 1960. Fonte Estadão
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Imagem Avenida Paulista 1970, mudança do eixo econômico - Fonte Bol
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2.1. Planos para o centro A área central da cidade obteve planos de melhorias desde o final do século XIX, por meio de medidas de reestruturação da região central e consequente valorização das áreas próximas ao Anhangabaú que foram elaboradas ao longo do desenvolvimento urbano da cidade. Dentre tais medidas, destacam-se a construção do Viaduto do Chá, em 1892, que permitiu a conexão em nível do centro histórico à Chácara do Chá, posterior “Centro Novo”, além da construção do Paço Municipal e Theatro Municipal, em 1911, além dos melhoramentos da Rua Libero Badaró dentro do plano para a Construção do Parque Anhangabaú, em 1918, o Parque da Várzea do Carmo (D. Pedro II), em 1922, a Praça do Patriarca, em 1924, o alargamento da Rua Boa Vista, em 1930, e a construção do Viaduto Boa Vista, em 1932. A partir de 1970 se inicia tardiamente um Plano de Revitalização do Centro, que inclui a reforma e o restauro de alguns importantes edifícios, bem como a abertura de ruas exclusivas para pedestres, a expansão do transporte público, com novas linhas de metrô e terminais. Outras ações se desenvolveram, a fim de promover a requalificação da área. Dentre as iniciativas, destaca-se o “Concurso Público Nacional para elaboração do Plano de Reurbanização do Vale do Anhangabaú – São Paulo”, com o intuito de valorizar o conjunto arquitetônico e o perímetro urbano que corresponde ao Vale do Anhangabaú, promovido na gestão de 1979 a 1982. A revitalização do Vale do Anhangabaú isolou, de fato, a população motorizada da pedestre. Porém, tornou-se um monumento arquitetônico que acrescenta valor paisagístico à região de transição do “Centro Velho” ao “Centro Novo”. O local, que é utilizado como palco para eventos públicos, como shows e feiras, não é tão utilizada no dia a dia, principalmente devido à falta de segurança sentida pela população transeunte e por não estar em nível com as vias de circulação que o cercam: Viaduto do Chá, Rua Xavier de Toledo e Rua Líbero Badaró, dificultando o acesso de circulação imediata. Na altura da Av. São João, que cruza o Vale do Anhangabaú em nível, é a região que apresenta o maior fluxo de pedestres em dias úteis, também devido à localização do Edifício dos Correios e estabelecimentos comerciais. (DOURADO, 2017, p. 107).
Desde então, as gestões municipais têm buscado alternativas para o processo de deterioração da área central. Na maior parte dos casos, promoveu-se a construção de unidades habitacionais, especialmente de interesse social ou mercado popular, considerando que essa parcela da população gasta horas diárias em transporte público, devido às grandes distâncias percorridas. Em 1991, entra em cena a Associação Viva o Centro (AVC), interlocutora entre o Poder Público e demais instituições, que tinham interesse na recuperação da área central. A AVC terá participação ativa na maior parte das iniciativas para requalificação do centro. De acordo com a Associação, todos os estudos e propostas abordados até a década de 80 não atenderam seus objetivos por não abordarem os problemas e potencialidades da área em conjunto, pensando que a região central é uma área dotada de diversos equipamentos, estruturas e diversidades, o que a torna um local de grande potencial. Portanto, é necessário que as medidas tomadas levem em conta todos esses aspectos positivos. A requalificação do centro é uma questão muito mais histórica e social do que estrutural. Como uma área abastada de equipamentos, o seu processo de recuperação se refere à toda a memória que o local representa para o desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo e à toda a sua população, principalmente àquela parcela que atualmente vive e/ou trabalha, mesmo que de maneira informal, na área. Entre os anos 1993 e 1997, foi priorizada a Operação Urbana Faria Lima, que contribuiu para a migração de diversas empresas e bancos do centro e Paulista para a Avenida, que passou a ser considerada o centro econômico e financeiro da cidade. O Programa não contemplava investimentos em habitação de interesse social na região, incentivando a segregação social da área.
A Operação Urbana Centro (OUC), de 1997, buscou incentivar a construção de edificações, regularização de imóveis, reconstrução e reforma para adequação de novos usos e transferências de potenciais construtivos. Seus objetivos são: Ambiente Urbano; Uso e Ocupação do Solo; Patrimônio Histórico; Áreas Verdes e Drenagem; Mobilidade; Atratividade. Não possui, portanto, estímulo específico para construções de habitação de interesse social. Em 18 anos de vigência, a OUC apresentou poucas adesões ao projeto para a requalificação da região central: apenas 125. A falta de propostas de projetos se deve ao fato de que a maior parte das entidades envolvidas defendem interesses pessoais, e um dos benefícios oferecidos ao investidor, o de transferência de potencial construtivo a outras áreas da cidade, foi considerado inconstitucional, sendo possível assim apenas a transferência para a mesma área ou locais que também atendessem a operação. Dentre todas as medidas tomadas até hoje, em relação à requalificação do centro, a Operação Urbana é considerada a mais evoluída, conforme explica Júlia Dourado, especialista em planejamento e gestão de cidades, no trecho abaixo: A OUC apresenta uma evolução em relação às intervenções anteriores pois propõe uma diversidade de diretrizes urbanísticas que buscam não só a harmonização do ambiente, mas também a articulação de espaços públicos, a segurança de seus usuários e visitantes, a conservação de monumentos históricos, a ampliação de áreas verdes, a melhoria da mobilidade urbana e a atração de estabelecimentos comerciais, turísticos, comerciais e públicos. (DOURADO, 2017, p. 110).
Imagem Vista aérea Vale do Anhangabaú - Fonte Folhapress
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Em contrapartida, a OUC desestimula e proíbe algumas atividades que são características da região, como comércio atacadista de cereais, madeiras e frutas. Também possui pequena participação popular e ausência de políticas habitacionais. [19]
2.2. Breve histórico da região Para abordar a questão do histórico da área de estudo, é necessário também abordar a questão de sua parte mais antiga: um entorno que, em 1814, ganhava o seu primeiro monumento, o Obelisco do Piques. Localizado no início da Rua 7 de Abril, o Largo da Memória era caminho obrigatório dos viajantes e ponto de encontro dos moradores, a “porta de entrada” da cidade, local onde os moradores e viajantes abasteciam-se das águas dos chafarizes do monumento, originadas do Tanque Reúno, formado pelo represamento do córrego Saracura. Próximo ao Largo da Memória encontrava-se o Largo do Bixiga, posteriormente Largo do Riachuelo e atualmente conhecido como Terminal Praça da Bandeira. Por volta do século XIX, o local foi um importante ponto de trocas comerciais, carregando uma grande bagagem histórica que muitos desconhecem. Também foi palco de uma parte lamentável da história: em sua praça aconteciam leilões de escravos, que muitas vezes, conseguindo fugir, se abrigavam aos redores da propriedade que se tornou o Bairro da Bela Vista. Foi na região do Largo da Memória e do Terminal Bandeira que se originou o bairro da Bela Vista, conhecido como Bixiga. Não há um consenso a respeito do surgimento desta nomenclatura; alguns dizem que foi pela incidência de pessoas que viviam ali e adquiriram a doença da varíola, na época conhecida por doença da Bixiga, outra hipótese era a do comércio de bexigas de boi que acontecia na Rua Santo Amaro, devido à presença de um matadouro no local, e a terceira hipótese era do proprietário de uma pousada local ser conhecido como Antônio Bixiga.
Mas quem move os olhos, da grande bandeira sobre o mastro, em direção ao chão, vê um cenário deserto de vida, uma mistura de tons de cinza, claro do concreto e escuro do asfalto, e o colorido de centenas de ônibus empacotados. Constata então que a “praça” da Bandeira é, na verdade, uma garagem de ônibus privados ocupando um espaço público que poderia formar, com o Anhangabaú, um grande corredor democrático, misturando o umbigo paulistano com o símbolo pátrio... Mas a “praça” da Bandeira, em vez, simboliza o que houve de mais trágico e vergonhoso no urbanismo local: a contínua submissão de praças e parques à condição de suporte de avenidas e viadutos de concreto que consagraram o interesse da indústria automobilística sobre a dimensão humana. Em vez de homenagear, a “praça” agride a Bandeira Nacional. (FOLHA, 2017)
Em outro trecho da publicação, o jornalista também questiona a real necessidade desses terminais em locais privilegiados da cidade, que antes serviam à população, com importantes áreas verdes, transformadas em locais degradados. Para termos realmente uma cidade linda, a administração deveria pensar em como tirar os terminais e devolver ao prazer humano as praças centrais, como Bandeira, Princesa Isabel e o Parque D. Pedro. (FOLHA, 2017)
Essas transformações ocorridas na Praça da Bandeira contribuíram para a presença dos elementos que hoje apresenta a região: espaços áridos que, além de repelirem o fluxo dos pedestres no nível do fundo de Vale, promovem uma degradação constante do local.
O atual Terminal Praça da Bandeira já foi realmente uma praça, com áreas verdes e espaços de desfrute de lazer. É interessante observar as transformações que ocorreram no local, resultando em suas características atuais. Segundo a publicação online do acervo do jornal Estadão: A briga dos moradores para manter um espaço público reservado para a recreação começou na década de 1940. Inicialmente marcada pela preocupação com a segurança dos pedestres. Em 1948 o Estado publicou uma matéria pedindo mais atenção das autoridades para o trânsito no local por onde passavam carros, ônibus e bondes. Na década de 1950 medidas para melhorar o trânsito foram tomadas e o jardim passou por obras de revitalização. Na década seguinte a praça mudaria para sempre com a inauguração da Avenida 23 de Maio e a construção do Viaduto da Bandeira, que liga a Avenida 9 de Julho e a Avenida Anhangabaú e hoje conhecido como Viaduto Doutor Eusébio Stevaux. Na época, os moradores tentaram, sem sucesso, reclamar a construção de locais de lazer permanentes na área. (ESTADÃO, 2015)
Apesar de não ser parte do perímetro da área escolhida para esse estudo, acreditando-se ser um objeto único e complexo de pesquisas, o local em que se encontra o Terminal Bandeira possui grande importância para a memória da cidade, ocupando um local de destaque em relação ao seu desenho urbano. Propõe-se, assim, um estudo e requalificação desta importante área, já que é fruto de muitas discussões e questionamentos até os dias atuais, como se verifica abaixo em uma publicação feita pelo jornalista Leão Serva para o jornal Folha de São Paulo:
Imagem Praça da Bandeira, 1956 - Fonte Acervo Estadão
Imagem Matéria do Estadão
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2.3. Moradia em foco Apesar da onda de migrações que o centro sofreu desde a década de 1960, das empresas para outras regiões da cidade, além de um abandono de parte da população, que negou a história e cultura existentes ali, o CENSO 2010 (IBGE) apresentou números positivos diante desse cenário. Em matéria para a revista Arquitetura e Urbanismo (AU), desde a primeira década do século XXI vem mudando de aspecto. Os números indicam que a população da área central cresceu em 15,4%, número bem superior se comparado aos 7,9% no restante da cidade, e a porcentagem de imóveis vazios diminuiu de 39,7% (CENSO 2000) para 11,7% (CENSO 2010). Os desafios que se encontram hoje em dia são de políticas públicas que produzam habitações na região central para famílias de baixa renda, além da recuperação dos edifícios já construídos, superando alguns obstáculos como a legislação, regularização da propriedade, desapropriação e ocupação e a concorrência com o mercado imobiliário.
Pessoas de baixa renda, que por motivos como pequena oferta de Habitação de Interesse Social (HIS) na área central em relação à grande demanda por habitações, proximidade de seus trabalhos, falta de documentação, contratos informais, entre outros, se veem em situação de moradias irregulares, arriscando suas vidas e pagando aluguéis elevados em relação à infraestrutura. Com o elevado número de edifícios abandonados na área central, casos de ocupações são muito comuns. Em entrevista ao técnico da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), Alonso López, em 16 de março de 2018, foram obtidos alguns números sobre as edificações em situação irregular na área central. Através de levantamentos feitos pela Companhia, existem 102 edifícios em situação irregular, 16 deles estão invadidos, 38 estão desocupados, 17 estão ocupados e 31 estão parcialmente ocupados.
Segundo Elisabete França (2017), os programas habitacionais públicos na região central, entre os anos 1990 e 2012, tiveram produção de cerca de 3.800 novas unidade habitacionais, uma média de 170 por ano. Dentre os 38 empreendimentos, sete foram realizados pelo Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e da Caixa Econômica Federal, 17 pelo Programa de Atuação em Cortiços – Governo do Estado e o Banco Interamericano (PAC/BID), 14 são do Fundo Municipal de Habitação, programas municipais de mutirão e locação social.
102 edifícios situação irregular
A fim de acelerar o processo de produção de moradias na região central, o governo do estado buscou parcerias com o setor privado, através da Parceria Público-Privada (PPP). Na sua primeira etapa, a PPP, iniciada em 2015, apresenta como resultados 126 unidades entregues na Rua São Caetano, em terreno cedido pela prefeitura. Estão em obras 91 apartamentos na Alameda Glete, que serão entregues até o fim do ano, e 1.202 unidades em dois terrenos ao lado da Praça Júlio Prestes, com início de entregas previsto para 2018. Recentemente, a prefeitura cedeu mais quatro terrenos para a PPP, próximos das estações Júlio Prestes e da Luz, para a construção de mais 440 unidades habitacionais. Ou seja, até o momento, são 1.859 novas moradias de interesse social que serão entregues em prazo não superior a quatro anos de execução, que representam 50% do que foi entregue em 22 anos dos programas públicos anteriores. (FRANÇA, 2017, n.p.)
16 edifícios invadidos 7,9%
Crescimento população na cidade de São Paulo
17 edifícios ocupados
31 edifícios parcialmente ocupados
15,4%
Crescimento população no centro de São Paulo
Além dos investimentos em habitações de interesse social, os números mostram que houve entre 2011 a 2014 cerca de 69 empreendimentos lançados pelo mercado imobiliário na área central, com um total de 12.483 unidades. O maior número de unidades se situa na região da República (1.965). Os movimentos de luta por moradia estão cada vez mais em foco. Pode-se ressaltar o caso recente do edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandu, ocupado desde a saída da Polícia Federal do edifício em 2003, e que veio a desabar no dia 1 de maio de 2018, após um incêndio provocado por um curto circuito em uma tomada. Esse é um dos casos que terminou em tragédia, em meio a tantas edificações ocupadas irregularmente. [22]
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38 edifícios desocupados
2.4. A รกrea
Imagem Rua Santo Amaro - 1927. Fonte Sรฃo Paulo Antiga
Imagem Rua Santo Amaro atualmente - Fonte Streetview
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Imagem Vista Panoramica da Travessa Noschese - Acervo pessoal
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[27]
Mapa da cidade de São Paulo - 1881 2.4.1. Rua Santo Amaro No mapa de 1881, a rua Santo Amaro é a primeira via do perímetro de estudo a ter seu traçado e nomenclatura desenhados. Porém, livros relatam a presença de um matadouro municipal nessa área por volta de 1774. [28]
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Mapa da cidade de São Paulo - 1897 2.4.2. Rua Maria Paula A Rua Maria Paula é uma importante via que liga a Rua da Consolação à região do “centro histórico”. Sua abertura pela Baronesa de Limeira é datada de 1894, recebendo esse nome em homenagem à avó da baronesa. Por volta de 1930, a via ocupava apenas duas quadras, tendo seu fim na Rua Genebra. No Plano de Avenidas, fez parte do “anel de irradiação”, que traçava um círculo em torno do centro histórico. Seu alargamento e ampliação aparecem nos mapas de 1954. Atualmente é uma via que possui uso diversificado, com comércios e serviços em maior parte das edificações e alguns usos habitacionais. Abriga um canteiro central arborizado e passeio sombreado e largo, promovendo um espaço de agradável caminhar. [30]
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Mapa da cidade de São Paulo - 1905 2.4.3. Rua Asdrúbal do Nascimento Essa via aparece no mapa de 1897, e por volta de 1905 tem seu nome alterado para Rua São Francisco. Volta, no entanto, a aparecer sua denominação inicial no mapa de 1930, o mesmo mapa que mostra o desenho da Travessa Grassi, via que atualmente dá acesso à Avenida 23 de Maio. [32]
[33]
Mapa da cidade de São Paulo - 1930 2.4.4. Travessa Noschese Não existem documentos exatos do primeiro desenho da Travessa Noschese. Contudo, o que foi possível encontrar em arquivos históricos são plantas e pedidos de aprovação na prefeitura para construção, na via, de uma fábrica de tecidos elásticos, por volta de 1910, pelo proprietário Miguel Noschese. Em 1911, um ano depois, foi dado entrada ao pedido de construção das edificações para residência dos funcionários da fábrica. Através da consulta de publicações do Diário Oficial, foi possível encontrar um “Albergue Noturno” localizado na travessa, que por volta da década de 1940 foi o único da cidade de São Paulo. A Travessa Noschese, apesar de todas as mudanças ocorridas em seu entorno, como a demolição das paredes da antiga fábrica e de uma residência anexa a ela em 2010, além de algumas alterações nas edificações remanescentes, permanece com muito de seu traçado e ambiência, que caracterizam essa via de mais de 100 anos, preservando assim parte da história. [34]
[35]
Mapa da cidade de São Paulo - 1954 2.4.5. Avenida 23 de Maio A última via do perímetro de estudo a ter seu traçado estabelecido foi a Avenida 23 de Maio. A partir de um fundo de vale, a Avenida foi projetada acima do córrego Itororó. Originada do Plano de Avenidas de Prestes Maia, ela teve seu primeiro desenho traçado por volta de 1954, sendo inaugurada apenas em 1960. No largo do Piques, que seria remodelado e viraria a praça da Bandeira, se abririam as duas hastes do Y, cada uma tomando o rumo de um dos riachos formadores do Anhangabaú – o Saracura, sobre cujo vale se assentaria a avenida Nove de Julho, e o Itororó, destinado a receber em seu risco a avenida Vinte e Três de Maio. (TOLEDO, 2015, p. 371)
[36]
[37]
03. Referências 3.1. Patio Bellavista Localização: Santiago | Chile Projeto: Plan 3 Arquitetos Ano do projeto: 2009 Com um programa de comércio, bares, restaurantes e lojas, localizado em um bairro boêmio da cidade de Santiago, o pátio Bellavista é a principal referência para o desenho urbano do miolo de quadra do projeto. Esse projeto se consolida em 5 níveis diferentes, a partir da intervenção e restauro em edificações já existentes, criando uma conexão entre essas pelo interior da quadra. Antes era um local privado, com galpões e terrenos vazios, e agora recebe um novo uso, podendo ser acessado a partir de três ruas existentes.
Fonte: Archdaily
3.2. Plano Ceramique Localização: Maastricht | Holanda Projeto: Jo Coenen Ano do projeto: 1987 – 2007 O Plano Ceramique se desenvolve a partir da necessidade de conectar o terreno de uma antiga fábrica, que formava um ponto cego na cidade. A intenção do projeto era estabelecer uma conexão entre o centro histórico e as áreas mais distantes da cidade. É utilizado como uma das referências, pois integra as pré-existências às novas edificações, estabelecendo uma coerência com as tipologias históricas localizadas às margens do perímetro, criando edificações que respeitam o gabarito de altura e fazem uma transição até chegar aos gabaritos mais altos do projeto. Outro aspecto importante dessa referência é a criação de espaços públicos de convivência ao redor de equipamentos públicos para a população. Projetado por Álvaro Siza, no encontro da principal avenida do projeto com uma ponte que a liga ao centro histórico, o edifício de escritórios de gabarito mais alto estabelece um marco no projeto, criando um eixo visual.
Fonte: Revista Óculum Ed. 10/11
3.3. Bridge City Localização: Lausanne | Suíça Projeto: Bernard Tschumi Ano do projeto: 1988 O projeto Bridge City, em Lausanne, aproveita das tipologias de pontes já existentes na cidade para ampliá-las, estabelecendo conexões na parte mais alta do Vale. São 4 novas estruturas, criando assim novas relações com o espaço. Essas “pontes habitadas” acomodam diversos usos, sendo eles, público, comercial e de tráfego de pedestres. Deixando de ser simplesmente usados como pontos de travessia, se transformam em locais de diversos usos. Fonte: Bernar Tschumi
Bridge City é uma referência para a passarela do projeto devido à relação que cria com essas passagens em nível, transformando-as em locais de convivência e estar, convidativos para a travessia do Vale. [38]
[39]
4. O Projeto: Localização
Bairro Bela Vista - Distrito da República Limites: Avenida 23 de Maio, Rua Santo Amaro, Rua Maria Paula e Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Vias internas: Rua Asdrúbal do Nascimento, Travessa Noschese, Travessa Grassi e Rua Genebra. Área aproximada: 56.600m² - 5,6ha
[40]
[41]
4.1. Potencialidades: transporte público
Estação Sé
Estação Anhangabaú
Av. 23 de Maio
Rua Santo Amaro
Rua Maria Paula
Metrô Terminal de ônibus Linha de ônibus Faixa de ônibus
[42]
[43]
Prefeitura Municipal 4.1. Potencialidades: pontos de atração de pessoas
Catedral e Praça da Sé Largo São Francisco
Faculdade de Direito de São Paulo Redbull Station Terminal Praça da Bandeira Palácio da Justiça
Câmara Municipal de São Paulo
Teatro Renault
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[45]
4.2. Levantamento | densidade
Legenda - densidade demogrĂĄfica (hab/ha) 0 - 50 50 - 100 100 - 200 200 - 350 350 - 500 350 - 500
[46]
[47]
4.2. Levantamento | gabarito de altura
Legenda - gabarito de altura (m) 0-5 5 - 15 15 - 30 30 - 60 60 - 100
[48]
[49]
4.2. Levantamento | zoneamento
Legenda - zoneamento Zona de Interesse Social 5 Zona de Interesse Social 3 Zona Centralidade
[50]
[51]
4.3. Mapeamento
SITUAÇÃO ATUAL
A escolha do perímetro de estudo e intervenção se desenvolveu inicialmente, apenas na Travessa Noschese e nos terrenos pertencentes a ela. Posteriormente, tendo em vista a necessidade de intervir nos demais terrenos da mesma quadra, chegando até a Rua Maria Paula, esse perímetro se ampliou um pouco mais, abrangendo as áreas de estacionamento, muito incidentes na quadra, além da proposta de demolição de três imóveis, para integração dos terrenos. Em estudo mais afundo da área, e compreendendo suas necessidades em visitas a campo, notou-se a necessidade de transpor o Vale, principalmente no momento em que se encontra em sua parte mais baixa, próximo à Avenida 23 de Maio, propondo assim uma ampliação ainda maior da área, abrangendo o terreno ocioso encontrado no outro lado da Avenida. Na primeira imagem ao lado é possível observar a incidência de vazios urbanos no perímetro de intervenção, e os imóveis a serem demolidos possuem baixo gabarito ou apenas coberturas de estacionamento. Na segunda imagem, a proposta de volumetria para a área de intervenção.
a demolir ESTUDO DE VOLUMES PROPOSTO
[52]
[53]
4.4. Diretrizes
O projeto de requalificação da Travessa Noschese e todo seu entorno próximo é um Projeto de Intervenção Urbana (PIU) na área central. Esse plano é uma ferramenta que possibilita o estudo de uma certa área subutilizada, a fim de promover sua reestruturação em relação à cidade, visto seu grande potencial de transformação. Criam-se, assim, mecanismos urbanísticos que melhor aproveitem o solo e a infraestrutura, aumentem a densidade demográfica através da oferta de habitações de interesse social e mercado popular, atividades que atendam à população local, equipamentos públicos que promovam educação, qualificação e melhoria de vida, além da gerar empregos. Com o objetivo de garantir uma área qualificada para habitação, lazer e até mesmo turismo, o Projeto de Intervenção Urbana Travessa Noschese tem como principais diretrizes: - PRESERVAR o patrimônio existente e traçado urbano característico; - CONECTAR o bairro e as pessoas ao centro da cidade, através de requalificação urbana e do uso da quadra aberta; - ADENSAR a área através da oferta de habitações de interesse social, oferta de empregos e serviços; - QUALIFICAR a nova população através de equipamentos públicos e educacionais; e - REABILITAR o espaço público através da conexão de praças e áreas verdes.
[54]
[55]
4.4.1. PRESERVAR Através da preservação e adequada requalificação de cada um desses três imóveis históricos existentes na área, o projeto visa a integração das pré-existências com os novos edifícios, respeitando o gabarito de altura e propondo usos diversificados que atraiam a população para conhecer um pouco da história local. Além das edificações, também é proposta a preservação da ambiência e traçado característicos da travessa, preservando seus aspectos de via do século XIX. - Edificações da Travessa Noschese: O conjunto de edificações que está localizado no interior da Travessa Noschese é compreendido por 4 casas térreas geminadas e um sobrado. Construídos por volta de 1911, essas residências eram de uso da Indústria Têxtil de Miguel Noschese, situada na mesma via, que até então tinha apenas um acesso pela Rua Asdrúbal do Nascimento. O uso original das edificações da Travessa Noschese era de abrigo noturno para os operários da indústria. Sabe-se que na mesma época, existiram na cidade as indústrias Souza Noschese, de metais esmaltados, com relativa importância para o desenvolvimento industrial da época, porém. Porém se sabe se seu proprietário possuía alguma relação com as edificações da travessa. Esses imóveis não são preservados por nenhum órgão público e atualmente essas edificações estão bastante degradadas: há alterações nas portas, janelas, coloração e ornamentos originais e na configuração interna das casas, entre outras modificações que descaracterizaram parcialmente o local.
Imagens Edificação Histórica R. Santo Amaro - Streetview
Imagens Edificação Histórica R. Santo Amaro - Acervo pessoal
As edificações térreas possuem a função atual de cortiço: dentro de um dormitório acomoda-se uma família inteira, e para atender essa função, os moradores criaram “mezaninos” nos quartos, conseguindo assim comportar mais pessoas em um mesmo cômodo. Uma residência é geralmente dividida por duas famílias, compartilhando as áreas comuns. Em conversa informal com um morador, foi possível relatar que o valor pago por aquele cômodo chega a R$700,00, e alguns dos motivos de viver ali são a proximidade da área central e a ausência de contratos formais, que exigem comprovação de renda ou fiadores. No sobrado, o cenário é um pouco diferente. Dividido em dois andares, ele comporta três “grupos” da mesma família, dois no pavimento térreo e um no pavimento superior. Em conversa informal com a moradora do térreo, foi relatado que cada “grupo” paga aproximadamente R$400,00 – o valor mais baixo em se deve ao fato de ela morar no local há mais de 20 anos. Questionada sobre os motivos de viver ali, ela responde que “é um lugar tranquilo e perto do trabalho, além de não precisar de contrato de aluguel”. Ambos os moradores não sabem a quem pertence a propriedade e nem o nome da pessoa para quem pagam os aluguéis. Na travessa, eles não possuem acesso à internet cabeada, e essa foi a única reclamação sobre morar no local. O projeto prevê a conservação de uso dessas edificações, propondo uma requalificação e preservação adequadas a elas, visto que seu uso permanece o mesmo por mais de 100 anos, fazendo parte da história do local. - Edificação localizada na esquina da Rua Santo Amaro com a Travessa Noschese: Esse imóvel foi construído por volta de 1920 e pertencia também a Miguel Noschese. Não encontrado seu uso original, atualmente possui um bar funcionando no pavimento térreo. Sendo um imóvel preservado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), não são permitidas alterações na edificação sem prévia consulta e autorização do órgão. Porém se encontra com diversas características originais alteradas; dentre elas, portas, janelas, coloração e ornamentos.
Imagens da Travessa Noschese - Acervo pessoal
O projeto prevê o restauro adequado dessa edificação, dada sua importância arquitetônica de imóvel preservado pela Área Envoltória do Largo da Memória, além da [56]
[57]
preservação de seu uso atual. - Edificação da Rua Santo Amaro: A edificação da Rua Santo Amaro, pertencente na época a Donato Plastino, foi construída por volta de 1920, para seu uso como habitação. Preservada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), dentro do tombamento de edificações do Bairro da Bela Vista e Área Envoltória do Largo da Memória, não são permitidas alterações na edificação; apesar disso, ela não está preservada conforme suas características originais. Atualmente o imóvel pertence ao Sindicato dos Engenheiros de São Paulo e é utilizado como depósito. Não possui nenhuma função ativa para a população, propondo seu restauro e incorporação ao projeto de intervenção urbana. Oferecendo espaços de educação e capacitação e a fim de integrar esse patrimônio para uso da sociedade, o projeto prevê a implantação da área administrativa da creche nessa edificação. Propõe-se conectá-la ao projeto do terreno ao lado, que abrigará as salas de aula.
4.4.2. CONECTAR As conexões do projeto se referem tanto a conexões sociais quanto espaciais, podendo ser elas das pessoas com seu bairro, de fluxos e vias, níveis e até mesmo transposições. O primeiro tipo de conexão, dos habitantes com seu bairro, se dá através da valorização e conhecimento do local onde vivem. Essa valorização ocorre através da preservação da memória do local e do desejo de mantê-lo digno para sua morada. As conexões espaciais estão ligadas tanto às pessoas quanto aos espaços em que transitam. A primeira dela, fluxos e vias, acontece a partir de um estudo de fluxos dos automóveis e pedestres, realizando esboços de como atender ambas as necessidades, priorizando os pedestres, pois são eles que mantém a conexão mais próxima com o espaço público. Sendo assim, a primeira necessidade observada foi de transformação da Travessa Noschese em via exclusiva de pedestres, devido ao baixíssimo fluxo dos automóveis e necessidade de preservação das características da via, considerando que, sendo uma via de uso exclusivo dos pedestres, pode-se atrair uma atividade comercial destinada a eles. A partir do desenho que se conformou estabelecendo o perímetro de intervenção e os terrenos pertencentes ao projeto, notou-se a fluidez da quadra e a possibilidade de atravessála por seu miolo, trazendo novo fluxo aos transeuntes. A viabilidade do desenho de quadra aberta se deu através de um único terreno subutilizado encontrado na Rua Maria Paula. Vencendo um desnível de 9 metros, possibilitou-se um acesso direto da via até a Travessa Noschese. Essa necessidade se manifestou ainda maior, visto que uma das diretrizes de projeto visa a valorização e reconhecimento da Travessa, sendo a Rua Maria Paula, via de grande fluxo de pessoas, peça chave para a descoberta da Travessa pelos pedestres que passam diariamente na área. A transposição do Vale é outro aspecto importante para essas conexões espaciais. Ligando a Rua Maria Paula ao outro lado do bairro, a passarela projetada para pedestres possui diversos acessos por variados níveis ao longo de seu percurso. Essa conexão torna-se convidativa a partir do momento em que se criam pontos de atratividade ao longo dela, como a passagem por comércios e serviços no interior dos edifícios.
[58]
O estudo de fluxo dos automóveis acontece para completar o dos pedestres. Primeiramente, o trecho da Rua Asdrúbal do Nascimento, que vai da Travessa Grassi até a Rua Santo Amaro, torna-se uma via compartilhada, no mesmo nível das calçadas, com baixo fluxo de automóveis. Considerando que o acesso para a Avenida 23 de Maio acontece pela Travessa Grassi, não há necessidade de manter o outro acesso localizado na parte inferior da via. [59]
4.4.3. ADENSAR
As volumetrias desenvolvidas no projeto buscam primeiramente ocupar o solo de maneira a proporcionar espaços públicos de convivência, ou espaços privados de uso público, garantido assim atividades todos os momentos do dia e noite nas ruas e calçadas. Jane Jacobs, em seu livro Morte e vida de Grandes Cidades (1961), trata desse aspecto tão relevante para a segurança dos bairros. O uso das ruas e calçadas é imprescindível para proporcionar um ambiente seguro em meio a tantas pessoas estranhas em um mesmo local. Portanto, é importante a diversidade de usos nos edifícios e nos limites das calçadas, estabelecendo uma relação constante das pessoas que passam e daquelas que habitam o local. É uma coisa que todos já sabem: uma rua movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não. Mas como é que isso ocorre, na verdade? E o que faz uma rua ser movimentada ou evitada? [...] E por que certas ruas são movimentadas num período do dia e de repente se esvaziam? Uma rua com infra-estrutura para receber desconhecidos e ter a segurança como trunfo devido à presença deles – como as ruas dos bairros prósperos – precisa ter três características principais: Primeira, deve ser nítida a separação entre o espaço público e o espaço privado. O espaço público e o privado não podem misturar-se, como normalmente ocorre em subúrbios ou em conjuntos habitacionais. Segunda, devem existir olhos para a rua, os olhos daqueles que podemos chamar de proprietários naturais da rua. Os edifícios de uma rua preparada para receber estranhos e garantir a segurança tanto deles quanto dos moradores devem estar voltados para a rua e deixa-la cega. E terceira, a calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente, tanto para aumentar na rua o número de olhos atentos quanto para induzir um número suficiente de pessoas de dentro dos edifícios da rua a observar as calçadas. (JACOBS, 1961, p. 35-36)
Outra diretriz para formação das volumetrias foi de respeitar o gabarito existente, anular o máximo de empenas, criando visuais mais agradáveis para aqueles que passam pela região, buscando homogeneidade com o entorno. Todo o térreo, dos 13 edifícios projetados, foi pensado para atender os usos de comércio e serviços locais, suprindo a demanda da região, visto que a área será adensada. Os edifícios projetados para o interior da Travessa abrigarão comércios como bares, restaurantes e pequenas lojas, trazendo um pouco de sua história à tona e preservando, assim, a memória do local, além de seu conjunto arquitetônico. Os térreos próximos à Travessa se conectam através de marquises, que no miolo de quadra se sobrepõem aos níveis, criando lajes estendidas, servindo de abrigos aos transeuntes da área. Com a proposta de habitações de interesse social e de mercado popular, o adensamento através de moradias auxiliará na requalificação da região. Serão 13 edifícios habitacionais, totalizando 1.000 unidades, sendo 700 HIS e 300 Habitações de Mercado Popular (HMP). A implantação de unidades habitacionais é imprescindível para que se estabeleça um equilíbrio constante de fluxos de passagem e permanências, mantendo-a em constante uso e ocupação. A escolha de apenas um edifício de escritórios para a área é devida à grande incidência de edificações com essa atividade, além dos diversos órgãos públicos já presentes na Rua Maria Paula, dentre eles a Câmara Municipal dos Vereadores, Ministério Público do Estado de São Paulo, Procuradoria de Procedimentos Disciplinares, Procuradoria Geral do Município, entre outros. A edificação de gabarito mais alto será de uso misto, abrigando o uso de escritórios em seu núcleo mais verticalizado, tornando-se um “marco” no projeto. A localização escolhida desse edifício é o mesmo da fábrica de cultura, localizada na Praça Mario Câmara. Por sua localização às margens da Avenida 23 de Maio, essa verticalização marca o espaço de projeto, cirando um visual de impacto na Avenida no sentido do Parque Ibirapuera. [60]
[61]
4.4.4. QUALIFICAR O adensamento da área resulta em demanda maior por equipamentos públicos de formação e qualificação do ser humano. O projeto desenvolve três equipamentos: - Uma creche para até 102 crianças em período integral, que atenderá uma parte da demanda de crianças vindas para a região. Projetada para ocupar a edificação histórica da Rua Santo Amaro com a parte administrativa e um anexo no terreno ao lado com as salas de aula, no térreo de um edifício habitacional, a creche terá também um acesso pelo miolo de quadra, trazendo assim um espaço de lazer para as crianças, conectado à área verde, contribuindo para o cuidado e manutenção dessa praça, além de mantê-la ocupada nos dias de semana, pelas manhãs e tardes. - Uma fábrica de cultura, localizada nos dois primeiros pavimentos do edifício implantado na Praça Mario Câmara, promovendo diversas atividades culturais, além de oficinas e atividades para os moradores da região. - Procurando uma atividade que qualificasse o terreno lindeiro à Avenida 23 de Maio, a proposta de uma edificação de uso misto, que abriga em seus três primeiros pavimentos a Instituição de Ensino Técnico, promove qualificação profissional para os novos habitantes da região, além de trazer vida a essa área, atualmente inutilizada e de difícil acesso. Com o intuito de melhorar a conexão com esse terreno, a passarela proposta desde a Rua Maria Paula chega no térreo elevado desse edifício, dando a ele um segundo acesso pelo Viaduto Brigadeiro Luís Antônio. A partir desse nível, do térreo elevado, é possível descer até a Avenida 23 de Maio e desfrutar de um pátio coberto, com praça e arquibancada para descanso.
4.4.5. REABILITAR A quadra aberta se conforma em uma praça de miolo de quadra, que além de trazer para a região uma área verde de lazer aos habitantes e transeuntes também promove qualidade do ar, em um local que sofre com a poluição advinda dos carros que circulam diariamente na via expressa 23 de Maio. Essa praça no centro da quadra se conecta aos térreos dos edifícios, fornecendo, além do acesso para as habitações, alguns comércios e serviços, qualificando a área com um uso misto. A praça do miolo de quadra se conecta à já existente Praça Mario Câmara, através da via compartilhada Asdrúbal do Nascimento. Localizada às margens da Avenida 23 de Maio, a Praça Mario Câmara, compõe mais um espaço de integração e lazer, com o projeto de uma quadra poliesportiva e pista de skate integrando seu espaço. O uso de vegetações mais altas promove uma barreira sonora para as habitações lindeiras. O edifício de uso misto projetado nessa praça, com térreo livre, proporciona uma área de abrigo no espaço público. Atravessando a Avenida 23 de Maio, o terreno de projeto da Escola Técnica possuirá o térreo livre com uma pequena praça e arquibancada, fornecendo um pátio coberto para os usuários da região, e três pavimentos acima, um térreo elevado que dá acesso à passarela e viaduto Brigadeiro Luís Antônio.
[62]
[63]
4.5. Plantas
PLANTA NÍVEL 740 esc. 1/700
C
A
A
B
C
B
A
Total aproximado de áreas verdes no projeto: 7.540m² B
A
[64]
[65]
PLANTA NÍVEL 743 esc. 1/700
C
A
A
B
C
B
A
B
A
[66]
[67]
PLANTA NÍVEL 748 esc. 1/700
C
A
A
B
C
B
A
Equipamentos Públicos: 2.493m² B
A
Comércio e Serviços: 8.182m² [68]
[69]
PLANTA NÍVEL 751 esc. 1/700
C
A
A
B
C
B
A
B
A
[70]
[71]
PLANTA NÍVEL 755 esc. 1/1000
C
A
A
B
C
B
A
Área aproximada de habitações: 30.600m² Total de unidades habitacionais: 680 Total de pessoas: 2.360 B
A
Densidade atingida: 425 hab/ha [72]
[73]
PLANTA COBERTURA esc. 1/700
1
12 11
14
10
2
13 13 14 7 14
3
6 8
5
4
9
[74]
[75]
4.6. Os edifĂcios 1 5 4
3
2
7 6
6
[76]
[77]
10
9
8
11
13
12
14
[78]
[79]
4.6. Cortes
CORTE A esc. 1/750
[80]
[81]
CORTE B esc. 1/750
[82]
[83]
CORTE C esc. 1/750
[84]
[85]
05. Considerações Finais
A partir dos estudos feitos na área central da cidade e principalmente no perímetro de projeto – a Travessa Noschese e seu entorno – tornam-se evidentes as razões para intervir nessa parte da cidade de São Paulo, que manteve-se viva ao longo dos anos, apesar das intervenções que cortaram o território sem respeito às pré-existências, como a implantação do terminal Bandeira. Sendo o local carente de espaços públicos de convivência e com passeios que dificultam o caminhar dos pedestres pelas calçadas, e somam-se a isso o elevado número de terrenos subutilizados e vazios, que contribuem para tornar o local árido e de difícil circulação. Esse estudo, além de mostrar parte da situação em que se encontra o centro da cidade de São Paulo, também comprova a realidade local – de um lado um número elevado de pessoas buscando habitações acessíveis na região e, de outro, um número considerável de oportunidades para incrementar a oferta de moradias no local. O projeto de edifícios de usos diversificados, incluindo comércios, serviços e habitação, além dos equipamentos públicos de formação educacional e profissional, somam-se às potencialidades que a área já oferece, como sua localização privilegiada e transporte público de qualidade. Revelando a rua como um espaço valioso para o desenvolvimento de atividades coletivas, o projeto visa a interação do pedestre, quebrando o paradigma de que é apenas um local de automóveis. A passarela estabelece a conexão dos pedestres com o bairro, antes rompida pela via expressa, e desenvolve também a ligação dos edifícios e níveis. Sendo assim, o projeto busca a requalificação desse local por meio da preservação do patrimônio, do adensamento populacional, do uso de edifícios de usos mistos, de espaços públicos de qualidade e de ruas compartilhadas e habitadas por todos. Através da reabilitação, a Travessa Noschese gradualmente reconquistará seu espaço na cidade.
[86]
[87]
06. Bibliografia
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