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APRESENTAÇÃO

1. APRESENTAÇÃO 1.1 Introdução

Em Campinas, interior de São Paulo, os bairros Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B representam uma das maiores ocupações urbanas da América Latina, com cerca de 30.000 habitantes. Segundo Paulo Freire - “Uma atitude ingênua é esperar que as classes dominantes desenvolvam uma forma de educação que proporcione às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.”.

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Com a falta de assistencialismo do governo, a própria comunidade se organizou ao longo dos anos desenvolvendo ONG’s, instituições sociais e escolas em prol das crianças e adolescentes, buscando o lazer, interação social e educação. A partir dessa constatação, vale ressaltar que:

“A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. [...] Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.” (Artigo 3° do Estatuto da Criança e do Adolescente).

Logo, entende-se que, todas as crianças compreendidas até os 12 anos de idade e todos os adolescentes e jovens até os 21, possuem o direito ao ensino e aprendizagem gratuitos. A qualificação social da educação está intimamente ligada ao acesso às escolas e oportunidades igualitárias, à arquitetura escolar e aos materiais fornecidos e disponibilizados para uso dos alunos.

Em relação ao tempo de permanência na escola, diversos são os estudos e programas que incentivam o ensino de forma integral, a fim de desenvolver as potencialidades humanas em seus diferentes pontos de vista: cognitivos, afetivos e socioculturais. A UNESCO desenvolveu os quatro pilares da Educação: o aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser - relacionados à essa forma de educação mais abrangente.

A educação integral é um papel do Estado como aponta a legislação educacional brasileira nos artigos 205, 206 e 227 da Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 9.089/1990) nos artigos 34 e 87, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (PNE, Lei nº 10.179/01), e no Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEB, Lei nº 11.494/07). A proposta do PNE - Plano Nacional da Educação - prevê que até 2020 metade das escolas púbicas ofertem a educação em tempo integral para seus alunos.

Segundo o Trabalho de Conclusão de Especialização do Thiago

Dutra de Camargo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, orientadora Profa. Dra. Jaqueline Moll (professora universitária e autora de diversos livros sobre educação em tempo integral) –“A resolução para os problemas de má formação educacional da população brasileira não perpassa exclusivamente pelo aumento da carga horária, e sim por uma reestruturação da concepção de educação”.

E complementa:

“O professor Miguel Arroyo ao falar em escola de tempo integral lembra que “mais uma dose do mesmo será insuportável” (in: MOLL, 2012, pág. 33), ou seja, não podemos oferecer mais três horas diárias de aulas expositivas onde o aluno é bombardeado de conteúdos sem significação prática, tendo que permanecer sentados e de preferência inertes e mudos, para que assim os professores tenham um pseudo domínio de classe.”

Ainda em seu estudo ele se refere às atividades extracurriculares: “A biodança e a yoga tornam a criança mais feliz, mais criativa e plena de energia para a realização de suas tarefas cognitivas e de ação; o contato com a natureza revitaliza e harmoniza; o teatro e a música ajudam na formação afetiva e espiritual e a última poderia, e deveria, ter um lugar especial na escola, cantar em conjunto conduz ao amor, e a atividade em grupo conduz à comunicação e não-violência.”

Dentre as pedagogias de ensino existentes, há a pedagogia Waldorf, que trata de uma metodologia de ensino e filosofia de vida, baseado na Antroposofia, que visa o auto desenvolvimento das crianças através de atividades extracurriculares, respeitando o tempo e a individualidade de cada um - processo que difere em vários sentidos do Estilo Tradicional (mais empregado no Brasil).

Conforme “Estudo I (O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem)” produzido pelo Comitê Científico

Núcleo Ciência pela Infância, em 2017:

“[...]Nessa fase de crescimento [anos iniciais] a estrutura cerebral é altamente receptiva e a ausência de estímulos, ou a ocorrência de estímulos negativos, podem deixar marcas duradouras, não somente pela elevada vulnerabilidade dos indivíduos nessa fase de desenvolvimento, mas também pelo efeito cumulativo desses fatores ao longo da vida.[...] Estudos demonstram o efeito do estresse nocivo no cérebro em desenvolvimento, podendo alterar a formação de circuitos neuronais, comprometer o desenvolvimento de estruturas como o hipocampo (região cerebral essencial para o aprendizagem e memória) e retardar o desenvolvimento neuropsicomotor.” (Pág.5)

Sob essa perspectiva de entendimento, se constrói o Centro Contraturno “Espaço Faz de Conta”, para crianças de 04 a 09 anos de idade, com o objetivo de promover o desenvolvimento infantil em toda sua complexidade, através de atividades baseadas na Antroposofia.

O presente trabalho foi dividido em oito capítulos, sendo este o primeiro, que tem como intenção apresentar e justificar a temática abordada, bem como os objetivos que nortearam a elaboração do projeto aqui proposto. O segundo capítulo se refere ao local de estudo, juntamente com a contextualização da área para melhor entendimento e os levantamentos urbanísticos desenvolvidos na disciplina em grupo de Projeto Integrado. O terceiro capítulo trata sobre o tema, no qual é apresentado todo o embasamento teórico, necessário para o desenvolvimento da proposta. O quarto, quinto e sexto capítulo se referem aos estudos de casos analisados, respectivamente, caso regional, nacional e internacional, que servirão como base para a concepção do projeto.

O sétimo capítulo demonstra todo o processo de criação do para a elaboração do projeto, bem como os resultados finais obtidos.

E por fim, o capítulo oito com as considerações finais, referências bibliográficas e apêndices (pranchas produzidas pela autora como parte obrigatória desse projeto de conclusão de curso).

1.2 Justificativa

Para complementar o presente estudo, há um vídeo desenvolvido pela Harvard University, traduzido e adaptado para o português pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que trata sobre os impactos positivos de se investir na educação das crianças nos anos iniciais de vida, disponibilizado em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/ o-supercerebro/.

Segundo “Estudo I (O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem)” produzido pelo Comitê Científico

Núcleo Ciência pela Infância, em 2017:

“A aparência externa do cérebro do recémnascido se assemelha com a de um adulto, porém, ao nascimento ele ainda se encontra em formação e passará por modificações fundamentais até a sua maturação. Por meio de um processo chamado “sinaptogênese”, o número de sinapses entre os neurônios se multiplica, chegando a 700 novas conexões por segundo, em algumas regiões cerebrais, no segundo ano de vida. [...] O somatório desses processos ao longo dos primeiros anos de vida modifica a estrutura do cérebro sob influência das experiências vividas, resultando no impressionante desenvolvimento neurológico que permite que a criança gradualmente adquira novas capacidades como emitir os primeiros sons até falar, aprimorar o controle motor até sentar, engatinhar e caminhar, e assim por diante. (Pág. 04)

Pesquisas desenvolvidas ao longo do século XX por estudiosos da infância demonstram que a afetividade e o vínculo são absolutamente necessários para um desenvolvimento saudável e criativo, assim como a valorização do que a criança sabe fazer de melhor, brincar e criar.

A atividade lúdica permite liberar a criança das limitações do mundo real, permitindo que ela crie situações imaginárias, possibilitando explorar, reviver e elaborar situações que muitas vezes são difíceis de entender. Dessa forma, mais do que educar os cidadãos para serem aprovados em grandes Universidades, deve-se haver a preservação do “direito das crianças de viverem o presente, de forma despretensiosa, feliz e plena”, segundo o Plano Nacional pela Primeira Infância, 2010.

Figura 01: Formação de novas sinapses na primeira infância (0 a 6 anos de idade).

Fonte: Modificado de Charles A. Nelson, From Neurons to Neighborhoods, 2000.

Os especialistas comparam esse processo ao da construção de uma casa: bases sólidas garantem um prédio forte e indestrutível. “De todos os órgãos fetais, o sistema nervoso central é o mais sensível às influências externas. O estímulo começa desde o nascimento e vai até a adolescência”, diz Saul Cypel, neuropediatra da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. E complementa:

“Interações que estimulam a afetividade geram vínculos consistentes, os quais encorajam a autonomia e são necessários para que a criança gradualmente entenda a si própria, sua importância na vida dos outros e futuramente na sociedade. Por outro lado, relações com empobrecimento afetivo e negligência funcionam como fatores de risco para distúrbios psicossociais no futuro.” (Pág. 6)

Outro fator importante nesse período é a experiência do brincar, sendo necessário oferecer situações em que ela possa brincar, explorar e adquirir gradativamente autonomia e responsabilidade por suas ações, desde seus primeiros anos de vida. Em longo prazo, crianças que tiveram menos oportunidades de desenvolvimento tornam-se, com maior probabilidade, adultos pobres, produzindo o fenômeno conhecido como ciclo intergeracional da pobreza. Tais estudos demonstram que o investimento para o desenvolvimento e a aprendizagem durante a primeira infância trazem um retorno maior para a sociedade do que investimentos em qualquer outra etapa da vida.

PRIMEIRA INFÂNCIA

DESENVOLVIMENTO CEREBRAL

BASE SÓLIDAS

VULNERABILIDADE SOCIAL

+ DESENVOLVIMENTO

+ RENDIMENTO ESCOLAR

ADVERSIDADES

FISIOLÓGICAS E

EMOCIONAIS

+ RETORNO FINANCEIRO

PARA A SOCIEDADE

+ INFLUÊNCIA AO CRIME

+ DEPENDÊNCIA DE BENEFÍCIOS DO GOVERNO

Segundo “O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem”:

Do ponto de vista social, a evidência empírica demonstra que crianças que frequentaram boas escolas e tiveram atenção à saúde adequada na primeira infância tornaram-se cidadãos com menor propensão ao envolvimento com tabagismo, alcoolismo, criminalidade e violência, além de precisarem menos da ajuda do governo para sua sobrevivência -através de programas de transferência de renda e concessão de benefícios.”(Pág. 7)

1.3 Objetivo Geral

Propor um anteprojeto arquitetônico de um centro contraturno/ extracurricular para crianças de 04 a 09 anos de idade, equivalente ao ensino infantil (Pré I e II) e fundamental I (1º, 2º e 3º anos), no bairro Jardim do Lago, na cidade de Campinas-SP.

1.4 Objetivos Específicos

• Compreender o funcionamento de um centro contraturno, os Planos de Ensino do Brasil e os princípios da Antroposofia relacionada às crianças;

• Criar espaços que desenvolvam a autonomia e o lado artístico das crianças, valorizando o brincar e o contato com a natureza;

• Produzir espaços que tragam a sensação de pertencimento, através da semelhança com seus respectivos lares;

• Incentivar o contato das crianças com a terra e a plantação de seus próprios alimentos, reforçando bons hábitos, respeito e cuidado com a natureza;

• Priorizar a iluminação e ventilação de forma natural, garantindo o conforto térmico no processo de aprendizagem;

• Criar espaços de convivência internos e externos para interação com o meio.

• Possibilitar, por meio da arquitetura, o desenvolvimento intelectual e físico das crianças;

2.1 Histórico de Campinas

A atual cidade Campinas surgiu através do Movimento Bandeiristas e a necessidade destes de um local para fazer suas paradas. Os homens que caminhavam com a intenção de chegar até as minas começaram a se fixar ao longo do caminho, até surgir um pequeno povoado que ficou conhecido como Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí no ano de 1774. A partir desse pequeno povoado iniciaram-se as melhorias no local, a Capela de sapê que era dependência de Jundiaí, as primeiras ruas, quadras e a inserção da agricultura por conta da queda da mineração.

Em 1797 a Freguesia foi emancipada e elevada a Vila. Os engenhos de açúcar aumentaram a sua produção e se inseriram no mercado de exportação a nível mundial, passando a ser uma elite agrária de peso, implicando em uma urbanização da Vila.

Dessa forma ocorre a formação do atual centro da cidade e no ano de 1842 a Vila se eleva a Município de Campinas, agora produzindo o “ouro da agricultura”, o café.

Em meados de 1870, Campinas foi considerada o município mais rico da Província Paulista e possuía mais habitantes que a própria capital. No ano de 1872 foi inaugurada em São Paulo a Ferrovia Paulista (que passava por Campinas), e em 1875 a Ferrovia Mogiana (sede em Campinas). Esse período foi marcado pelo desenvolvimento urbano e arquitetônico - ligação de iluminação a gás, bondes interligando pontos da cidade, hotéis, restaurantes e a população crescendo cada vez mais.

No ano de 1883, após 76 anos em construção, inaugura-se a Matriz Nova, hoje conhecida como a Catedral de Campinas e outros estabelecimentos como bancos e mercados. E em 1886, a

Em meados de 1890, Campinas sofre com a queda no número de habitantes devido a febre amarela - a população de 20 mil caiu para 5 mil. Além disso, outros problemas atingiram a cidade, tais como: a falta de tratamento de esgoto, onde o mesmo era jogado a céu aberto nos brejos e córregos que cercavam a cidade; elevado número de cortiços; e pra agravar endividada com o desenvolvimento da modernidade e a falta de recursos para o saneamento.

Nesse cenário surgem as Leis de Uso do Solo e são estabelecidos:

- Critérios de ventilação das residências,

- Altura dos pavimentos;

- Espessuras de paredes;

- Destinação do lixo;

- Canalização subterrânea dos córregos;

- Sistema de captação de águas pluviais.

E em 1900 o número de habitantes volta a subir e Campinas começa a ser chamada de “Cidade Planejada”.

Houve também a criação das vilas operárias para receber os trabalhadores da estação, hoje conhecidas pelos bairros Vila Industrial, Guanabara e Jardim Proença. O desenvolvimento industrial era iminente e a população na área central em média de 60 (sessenta) mil pessoas.

Nesse panorama de crescimento (1934-1938), surge a necessidade de uma reorganização urbana. Contrata-se então os serviços do Urbanista Prestes Maia para o “Plano de Melhoramento Urbano de Campinas”, com o objetivo de alargamento das vias, para melhora do tráfego rodoviário. Alguns edifícios passaram por desapropriação, muitos na Avenida Glicério - incluindo a Igreja do Rosário.

Campinas era tomada pelo fenômeno da verticalização, adaptação das ruas para os automóveis, crescimento dos negócios imobiliários e expansão de habitações para a região periférica da cidade.

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