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Moda não combina com preconceito

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Vamos balaiar

Vamos balaiar

A moda deixou de ser algo somente do universo feminino. No entanto, em Dourados, homens que gostam do assunto ainda passam por julgamentos por Letícia Franco

Nos últimos anos, muitos artistas e personalidades masculinas estão se destacando no universo da moda. Harry Styles foi o primeiro homem a estampar uma capa da revista Vogue, Kanye West é uma das pessoas mais influentes na moda e jogos de basquete da NBA parecem até um desfile. Eles inspiram pessoas no mundo todo, assim como os jovens douradenses Alison Raidan, Ícaro Franco e Maycon Fujizawa. Alisson é professor de design de interiores na Unigran e gosta de relacionar a moda com o trabalho ao propor trabalhos de design para seus alunos. Sua paixão pelo tema começou desde criança, quando assistia desenhos na televisão. “Comecei a gostar de moda com Power Rangers, eu gostava da ideia das cores, uniformes e brilho”, ele lembra. Moda sempre foi uma linguagem não verbal. Ícaro, acadêmico na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), também lembra de gostar de moda desde muito novo. “Quando eu tinha os meus dez anos, já gostava de me vestir diferente, eu me atraía

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por estilos que fugiam do padrão”, conta. O processo de Maycon foi mais tardio, depois de fazer 18 anos. Por frequentar a igreja, se reprimia por conta dos valores religiosos. “Minha mãe comprava uma calça reta e eu não conseguia usar, achava feio porque eu queria uma calça skinny, mas eu não conseguia me permitir”, ele lamenta. Em 2018 ele abriu o seu brechó de curadoria e hoje tem espaço físico. Preconceito

Dourados tem a economia voltada para o agronegócio e isso gera influência no âmbito social. O vestuário masculino na cidade é heteronormativo e padronizado, segrega aqueles que não se identificam. Ícaro sofreu julgamento ainda adolecente, na época que calça colorida era tendência e ele usou para ir à escola “os meninos, principalmente os mais velhos, tiravam sarro, faziam bullying, eu cresci com isso”, relata. No entanto, não o desencorajou a usar o que gosta e o que quer. O cenário não é ideal, mas já foi pior. Maycon sente isso pelo olhar das pessoas, percebe o julgamento, principalmente de outros homens. “Eu percebo quando uso um shorts mais curto ou uma peça mais trabalhada, é um olhar diferente”. Alisson analisa que a visão de moda em Dourados divide o masculino e o feminino. Por não associar moda a gênero, já sofreu algumas dores de cabeça. “Uma vez eu fui em uma loja de departamento, fui provar uma camiseta da sessão feminina, a moça da loja falou que eu tinha que ir para o provador feminino”, revela. Não foi uma situação isolada. Como dono de brechó, Maycon gosta de garimpar peças, nesse processo se atrai mais para a “ala feminina” para o consumo próprio. Suas influências de moda são mulheres: Maju Trindade, Nati Vozza, Hailey Bieber e Kendall Jenner. Afirmar que moda não tem gênero ou sexualidade já é cansativo para Alisson, que aponta Kanye West como inspiração “ele trouxe uma moda acessível a todos, eles e elas, ele veste qualquer pessoa, ele vestia a Kim Kardashian”.

@ICAROFRANCO_

@ALISSON_OR

Ser estiloso

A moda é uma forma de expressão e Maycon usa isso ao seu favor. Por ser tímido, escolhe suas roupas para demonstrar como está o seu humor “dependendo do dia eu estou mais introspectivo, me visto de um jeito, quando eu mais animado, sou mais criativo, ouso na hora de me vestir”. Seus looks ajudam na autoconfiança. Ícaro é fã de basquete e o esporte tem influência no seu estilo. Colecionador de tênis, mescla história e gosto pessoal quando compra um novo par. “É uma cultura que nasceu com o Michael Jordan, ele é considerado o maior atleta de todos os tempos não só nas quadras, mas por conta de todo o impacto cultural que ele teve”, explica. Alisson gosta de peças icônicas e conhece a história de coleções de grandes marcas. Sua paixão é tanta, que gosta de ajudar a vestir outras pessoas “meus amigos me ligam

@MAYCONFUJIZAWA pedindo socorro com alguma roupa, eu paro tudo o que eu estou fazendo”, ele brinca. Mais homens estão sentindo necessidade de se vestir melhor, entender como a moda funciona. Traz mais confiança, destaque e expressividade, mas para quem acabou de começar a se interessar pelo assunto, Alisson tem um conselho importante: “é importante usar o que te faz sentir confortável, não use uma peça que você não consegue sustentar”.

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