prata DA
CASA
TODOS OS FILHOS
DE DEUS TÊM ASAS 26
JUN 2018
PATROCÍNIO
REALIZAÇÃO
POESIA
Este livro virtual é o resultado do ‘Encontro Poético – Todos os filhos de Deus têm asas’. Aqui reunimos os trabalhos dos servidores que tiveram a generosidade de compartilhar conosco sua emoção e criatividade e tornaram possível a realização do evento. Nossos agradecimentos ao TCE-RJ e à Astcerj, que nos permitiram concretizar este projeto e a todos que participaram desta produção. Simone Magalhães MOMENTO CULTURAL
Nossa homenagem aos poetas que participaram do ‘Encontro Poético – Todos os filhos de Deus têm asas’
COMO É POR DENTRO OUTRA PESSOA QUEM É QUE SABERÁ SONHAR? A ALMA DE OUTREM É OUTRO UNIVERSO COM QUE NÃO HÁ COMUNICAÇÃO POSSÍVEL, COM QUE NÃO HÁ VERDADEIRO ENTENDIMENTO. NADA SABEMOS DA ALMA SENÃO DA NOSSA; AS DOS OUTROS SÃO OLHARES, SÃO GESTOS, SÃO PALAVRAS, COM A SUPOSIÇÃO DE QUALQUER SEMELHANÇA NO FUNDO. Fernando Pessoa (fragmento de 1934- Poemas de Amor)
ÍNDICE
Poranduba (Claudia Rodrigues de Carvalho) Ocaso (Cláudio Coutinho da Silva) Floresta amazônica Felippe Gabriel Freitas de Oliveira (10 anos) Filho do servidor Walter Gabriel R. de Oliveira Você (Fernando Antonio Pinto de Lima) Visão (Flávia Andrea de Albuquerque Melo) Destemor Gabrielle Vieira Dias de Souza (13 anos) Filha do servidor Alcir Dias de Souza Separação - Miniconto (Geane de Figueiredo Porto Ferreira) Eixo (Jordanna Mendonça) Sem título (Lívia Pimentel Delgado) Uma prosa para o dia dos namorados (Lúcia Maria Felipe da Silva) Sem arrependimentos - Miniconto (Luiz Claudio Lopes de Sá) Sem título (Inês Blanchart) Genesis (Robson Aguiar) Senhora do tempo (Robson Figueiredo) Gerar (Ronaldo Cupertino de Moraes) Sob o solo (Rosangela Tozzi) Avalanche (Simone Magalhães) As asas que não sabiam voar (Talitha Magalhães)
PORANDUBA PORANDUBA Se fosse falar de paixão flutuar seria o verbo. Se fosse falar de tesão, na mudez um suspiro certo. Se fosse falar do insensato... sensato seria estar perto. Se fosse falar do que sinto caberia a nudez deste verso. Caberia colher vestígios da prosa em mosaico replicada na alma. Imagem broto de fluxos reflexos, fio de abotoar-nos! Absortos em comprazer o curso nosso, poente verter. Caberia o grito controverso num voraz deglutir de ar... Ar! Sequência úmida minada de suas sendas. Cegueira única, do nosso vermelho sem vendas. Cláudia Rodrigues de Carvalho
OCASO
OCASO
Tempos difíceis estes Tempos de desesperança Desalento Em que se cria o que ter E se nega o que se tem
Tempos em que o conhecimento Vem de aparelhos Frios e inquestionáveis Enquanto a troca É sempre duvidosa Tempos em que o fluido Se tornou insuportável E o sólido malfadado É no que se agarram Os repetidores do passado Tempos inacreditáveis De violência gratuita Na rua e na cama Na mesa e na dúvida Porque é o que vende mais
Tempos inóspitos De controverso isolamento Mundo ex Mundi Pra esperar um deus atrasado Que vai resolver a vida Tempos intragáveis Em que se mente pra vender E o real é duvidoso E secundário Verdade de luva apertada Tempos distópicos Em que não me acho Onde o mal vence a cada dia Insuspeito Em troca da consciência. Cláudio Coutinho da Silva
FLORESTA AMAZÔNICA FLORESTA AMAZÔNICA Na floresta escura Tem fruta madura Planta de todo tipo Que até levam a cura Têm na floresta os animais Como a onça, arara, macaco E também o jacaré de papo No rio também tem bicho O boto pula Que nem uma mula A piranha come sem saber o nome Árvores grandes Rios habitados Bicho legal É o mundo animal
Segundo seu pai, após fazer uma viagem à Amazônia, Felippe ficou tão impactado com o que viu e sentiu que criou essa poesia. Felippe Gabriel Freitas de Oliveira (10 anos) Filho do servidor Walter Gabriel Rodrigues de Oliveira
VISÃO
VISÃO
(ao meu esposo)
VOCÊ
VOCÊ
Tua presença é como a luz Que vem do céu e banha a terra Tu és a musa que seduz E tanta beleza encerra Quem não queria um momento Desfrutar dessa candura Brilha o azul do firmamento Neste olhar de amor sedento E o sussurrar do vento Diz: és deusa, linda e pura Meu sonho sonha em ter teus sonhos E o meu desejo acalentar Nos belos dias de outono Nas noites claras de luar No fim de nossas vidas quero Com a tua alma ascender Pra quando o fio de prata que nos une No imenso espaço se romper. Fernando Antonio Pinto de Lima
Na exceção, a regra transcende, porque criação potente, fluente, vertente, o Amor, que infinito é, faz multiplicar sem parar, os pontilhados da existência crescente. Na vacuidade dos quanta etéreos, o SER em ondas passeia pela consciência desperta a criar beleza, força, verdade. Já o Ego - esse cego conclama o bélico, a aversão, a separação, a destruição de quem vê com bons olhos a CRIAÇÃO, o AMOR, a CONSCIÊNCIA. Todavia, em clara evidência, O Sol brilhante, ao espargir seus raios, Devota a quem quer que seja A energia impulsiva de existir. A natureza, então, Nas suas cores múltiplas Em formas profusas E combinações difusas,
Mantém-se, Velando, caprichosa, As intervenções diuturnas Da Humanidade insana. Veja se enxerga o erro e Contempla o belo, as profundezas do mar o infinito do céu os mistérios da alma Desperta! ILUMINA A si e aos outros! Acenda a luz Para se dissipar a Ignorância dos que Vivem nas trevas da Limitante razão... E, assim, integrante do Todo, o visionário dirige O olhar para o horizonte, E, na amplitude, Acorda do sono profundo As almas inertes do mundo Num testemunho visível Da magnitude imponderável Da verdadeira vida! Flávia Andrea de Albuquerque Melo (concebido no limiar de 4 e 5 na constelação de Cástor e Pólux no ano R+C 3371)
DESTEMOR DESTEMOR A luz do luar excêntrica naquele olhar, que se acalmava na escuridão. Frágil assim como uma pétala que acabara de cair no chão. Aprisionado para sempre num escudo de insegurança. É normal se acalmar na escuridão? O frio intenso das noites que acentua todos os medos e engole as dificuldades. O vento que trombava no rosto, e seu silêncio que sincronizava com a respiração. O medo de viver sozinho e o frio que esquentava seu coração. É normal se acalmar na escuridão? Nas ruas desertas das noites sem fim, ENFIM, a solidão. É normal se acalmar na escuridão? Gabrielle Vieira Dias de Souza (13 anos) Filha do servidor Alcir Dias de Souza
SEPARASEPARAÇÃO ÇÃO
As crianças olhavam incrédulas o ônibus que se afastava. O pai segurou-as pelas mãozinhas e disse: Está tudo bem. Agora somos só nós três. Miniconto de Geane de Figueiredo Porto Ferreira
EIXO
EIXO
O tempo é o agora O tributo à existência Porque a eternidade É presente Quando no centro Há encontro pleno Nunca antes Jamais depois Nem direita ou esquerda Pois É o meio que me transporta Porta Para o Universo Verso Que o que transborda A borda É o seu inverso Passeando Aqui e agora Nesse caminho reconheço O melhor lugar que há Meio Jordanna Mendonça
É tempo de recomeço. Encontrar o artigo perdido, Advérbio do tempo esvaído Em substantivo desvio Da minh’alma cansada. Sentar no beiral do texto E sentir nos dedos o calor da página. Folhear a história ao prazer do vento Virgular a vida com a crase e o acento. E, no amanhecer do novel enredo, Entre o prelúdio e o final desfecho, À folha branca se lerá somente: “Desvenda no ontem o presente”. Lívia Pimentel Delgado
UMA UMA PROSA PROSA PARA O DIA DOS NAMORADOS PARA O DIA DOS NAMORADOS Mulher Companheira Namoradinha Amante Amiga Esposa Fechamento Que seja livre a denominação Que fique livre é a escolha do termo... Agora o sentimento, Ah... o sentimento é um Só, o sentimento é único! É Amor Por isso, que seja, Eterna Esposa Eterna namoradinha Eterna Amante Eterna Amiga Eterna Mulher Eterna Companheira Eterno Fechamento Por que eterno também é o amor... E que seja eterno enquanto dure. Lúcia Maria Felipe da Silva
SEM SEM ARREPENARREPENDIMENTOS DIMENTOS As mãos tremiam incontrolavelmente. A respiração quase tão veloz quanto seu coração. Não havia o menor arrependimento do que fez, apesar do sangue respingado em toda sua roupa. Não tivesse ele estancado o sangue, a morte dela seria certa. Miniconto de Luiz Cláudio Lopes de Sá
Quebrei minhas vitrines e resolvi vestir a vida, tecer o contorno do meu corpo, aparar as arestas que o tempo esqueceu em mim. Quase não dou o passo porque quase sou. Mas o medo de encontrar-me agora me sustenta vestido de novo. Ainda não sei a cor que tenho posto que o amor sempre compôs todas as nuanças de minha aquarela. Agora sou eu que invento a vida e é a vida que me reinventa. Desperto tudo em mim. Estado de atenção. Não consigo definir o que é dor, o que se passa, o que fica e o que perdi. Sonho com o que nem sei se existe, me olho com uma certa cerimônia mas insisto, silenciosa e só, em provar que posso. Chego a tocar o céu... mas desabo na terra. Inês Blanchart
SENHORA GÊNESIS GÊNESIS DO TEMPO SENHORA DO TEMPO
caminho faz horas. caminho é um jeito tênue de contar: muito mais arrasto os vestígios de mim pela areia úmida da praia, enfim deserta nas primeiras horas do novo ano. as cinzas de quem eu era se misturam aos farelos da manhã, restos de comemoração dispersos à maneira de um quebracabeças recém desfeito. diante de mim, uma oferenda devolvida pelo mar - ou, ao menos, é o que os meus olhos precários entendem ser. com os dedos dos pés, passo a desenhar contornos, setas e sinais, conferindo à oferenda assimetrias e identidade. logo eu que, há pouco, era apenas resíduo, transmuto-me em artesão, criador poderoso a lançar tintas de cores vivas na tela nua. e pressinto que, no momento exato em que as coisas estavam maduras para terminar, curiosamente parecem outra vez prontas para nascer. Robson Aguiar
(O texto Gênesis foi escrito a aprtir de imagem criada pela artista Pilar Domingo, para o blog Caneta, Lente e Pincel)
Trago comigo a solidão Em versos e prosa minha vida escrevi Sonho, caminho, abrigo da emoção Lembranças da vitória por um dia mais feliz Agora que tenho só o fim Senhora de instantes que guardei O tempo sequer pensou em desistir Receio será que espera por alguém? O sol que brilha agora, sentidos traz aurora Outrora de um amor se eternizou em mim Caminho a pé descalça, em pedras cacos, rochas O rio que secou transborda a visão de ti Ah quanto imaginei! O tempo não para e as noites são sem fim Senti quando toquei os labios teus Algo tão forte que tomou conta de mim aconteceu Castelo de mar na areia Agora que tenho só o fim Senhora de instantes que guardei O tempo sequer pensou em desistir! Receio será que espera por alguém?
Deserto, frio, solidão O dia aquece a paixão Me entrego em esplendor por acreditar em ti Equilíbrio me conduz, universo brilho vir seduz É a magia que o amor fez renascer em mim Robson Figueiredo
GERAR GERAR
Ermínia Hernandez e Silva, Gerou Opalina Silva y Goes, Que gerou Lindaura Goes de Matos, Que gerou Mariana Matos Rey, Que gerou Eulália Rey Alves, Que gerou Santa Alves Aragon... Carregaram-se ao ventre umas às outras, enquanto perdiam seus nomes pelo tempo. Foram tecelãs, fiadeiras, cozinheiras. Fizeram pães, cerzidos e famílias. Frustaram desejos, anseios e sonhos. Tudo porque queriam ser: Esteios, arrimos, varas verdes Dobrando sem quebrar... Duras penas, duras penas... Ermínia, Opalina, Lindaura. Duras penas, duras penas... Fizeram fogo em seus fogões antigos, Apagaram com a mesma pressa Seus fogos escondidos. Disseram adeus para sempre A seus quereres perdidos... Dançaram a dança dos homens, Numa roda que as consome, Amando heróis e bandidos...
Duras penas, duras penas... Mariana, Eulália, Santa. Duras penas, duras penas... Parideiras, pacifistas, Olhares subtraídos, Gritos trancados na boca E temores escondidos. De onde virá tanta força, Tantas palavras amenas, Tanto sangue derramado, Duras penas, duras penas... Santa Alves Aragon, De lindo nome perdido, Também se deu a um marido, Também selou sua vida Alçando um voo cativo Como um pássaro ferido. Deu ao mundo suas filhas, Como se lançasse flechas Ao encontro do inimigo. Armou a redoma de vidro, Protegeu-as dos perigos, Amamentou as boquinhas, Defendeu-as do Minuano, Fez com o corpo, um abrigo... Ermínia, Opalina, Lindaura. Mariana, Eulália, Santa.
Cada qual com seu caminho, Carregando suas correntes, Arrastando seus grilhões, Afastando seus espinhos, Formando seus batalhões, Marchando prá guerra muda Num exército de milhões... Mulheres, fortes mulheres, Que por calar, foram ouvidas. Muitas perguntas no ar Que não foram respondidas. Caladas nossas mulheres, Pela força de seus homens, Não puderam exigir O seu tempo de mulher, O tempo de conquistar A fera que lhes consome... Criaram seus deuses íntimos, Andróginos, sedutores, Que lhes curassem as feridas, Que lhes falassem de flores, Que ao menos as ouvissem, Quando tremessem de amores... Mulheres tantas mulheres, Como tantos são os homens. Não podem erguer os braços, Pois amordaçam e somem.
Como se fossem só peças, Marcadas a ferro e fogo, Numa dança que as consome... Ermínia gerou Opalina, Que gerou Lindaura, Que gerou Mariana, Que gerou Eulália, Que gerou Santa... Cada qual com seu destino, Todas elas com seus medos. Em cada uma, uma marca, Com a vida escorrendo, Pelo meio de seus dedos... Lá se vai e lá se vem. Está tudo consumado: Aos homens, tudo de bom, Às mulheres, no seu tom, Apenas o destinado... Mas gerem e gerem Suas filhas. Ensinem mulher à mulher. Pois há uma força imensa No peito de cada uma, Que lhe dará o que quer... Ronaldo Cupertino de Moraes
SOB O SOLO
SOB O SOLO
Por sobre a fumaça espessa não tão longe daqui, onde meu corpo esteve fica a minha casa, onda de densos ventos
Não me movo lá pra cima, percorro a superfície do mundo acorrentada, presa nessa camada asfixiando sob o chão profundo É ela - nuvem negra, jaula de almas lacrando a barreira pesando os olhos, pulsando as veias quente como lava Penetro pelas lascas e furos Vagando por néctar de vida latente Colo em corpos vivos e ouvidos Respiro, alimento-me do q sentem Num estrondo, Asmodeus, ávido, de súbito surge Irrompe em fúria, saído do nada Acaba com a dança passiva das almas Roga a luxúria tão esperada Raios vermelhos vêm como gritos Gemidos ecoam de toda a parte Descascam-nos em sangue, Esfacelam as peles em nacos
Mas Serafins surgem dentre o cinza De lanças em riste evocam guerra Prateados riscos movimentam vento Azulejam água, fogo, terra Clarões se abrem nos céus Frescores na escuridão Seres expurgam seus véus Voam regozijados, em vão E eis que ela, Lilith, é atingida das lanças angelicais, raios solares lhe acertam mãe de todos os demônios, estava ela como possuída agora vazava amor pelos poros abertos Seu ódio se congelou e seu poder se transmutava Do seu corpo um campo claro de energia se fez Arcanjos concentrados a tinham nos feixes de luz Demônios horrorizados sucumbiam de vez anjos, arcanjos, querubins e serafins riam estava cumprida a tarefa pretendida o bem e o mal sempre se enfrentariam, Mas o ar divino fez a paz de novo ser sentida. Rosangela Tozzi
AVALANCHE AVALANCHE Sinto tua mão tocando Minha cintura E desenhando meu corpo, Como se me materializasse. Tenho consciência de mim Quando me toca. Minhas costas só existem quando Tuas mãos nelas passeiam. Como um desenho sem preenchimento É o meu corpo. Como uma avalanche ou efeito Em cadeia vou me recriando ao seu toque e sinto reviver Cada pedaço adormecido, Esquecido De mim. Simone Magalhães
ASAS ASAS ASAS QUE NÃO QUE NÃO SABIAM VOAR SABIAM VOAR [Diferente das outras] Ela havia nascido com pernas e pés. Julgava ser por este motivo que não voava. Tinha que se conformar em andar. Correr mesmo, não podia. Faltava-lhe equilíbrio. A velocidade lhe dava ganas de se abrir, e com as asas abertas, o vento tentava derrubá-la. Tinha que se conformar em andar, sem pressa. Quando finalmente parou para reparar na sua dificuldade, em vez de queixar-se dela, percebeu que o vento na verdade era um aliado. Então correu. Abriu-se! E começou a contornar o vento! Logo entendeu o seu volume.... e então as pernas, querendo se juntar à mais nova sensação, deram um salto e ela... voou! Talitha Magalhães
Organização Momento Cultural Arte, diagramação e revisão CCS-TCE-RJ
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