BOREAL 2020

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Ilustração: EDUARDO PORTO

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A quinta edição do BOREAL – Festival de Inverno junta de novo um conjunto de artistas emergentes ou representativos da nova música portuguesa para dois dias intensos de concertos, repartidos por três palcos. O alinhamento da primeira noite inclui um novo talento feminino do rap nacional, Russa (artista revelação no MIMO 2019), o original e inconfundível PZ e aquela que é considerada uma lufada de ar fresco no indie rock português, a banda Cassete Pirata, num concerto que integra a Tour N2. Para fechar esta noite, o Boreal convidou o DJ João Semedo para uma sessão no Club de Vila Real. No sábado à tarde, actuam no Café-Concerto a nova artista indie folk Marinho e o já veterano mas sempre criativo Homem em Catarse, ambos com discos lançados muito recentemente.

A noite de sábado inicia com Dan’s Revival, a banda de Mirandela seleccionada de uma dúzia de candidaturas que responderam à convocatória que este ano o festival fez para bandas da região. O programa da segunda noite continua com o fantástico novo disco de Maria Reis, uma das irmãs das Pega Monstro, a que se segue o quinteto lisboeta Ganso, do catálogo da Cuca Monga, e, para fechar explosivamente em festa o ciclo de concertos, a enérgica e irónica banda do Porto GoBabyGo. Mas a noite continua depois no Café-Concerto com o DJ Nuno Calado, o responsável pelo programa ‘Indiegente’, da Antena 3.

(Eduardo Porto, um dos responsáveis pelo Pitoresco – Festival de Street Art de Vila Real, foi convidado a reinterpretar a imagem do Boreal para o cartaz desta edição.)


Há dois anos a revista digital Rimas e Batidas dizia: «Bem a sul de Portugal há um talento feminino bastante promissor que quer conquistar o trono do rap nacional». Russa, que em 2017 se estreou com a mixtape T.P.C., parece estar empenhada em cumprir a profecia. O seu percurso artístico ganhou maior destaque em 2018, quando lançou um dos primeiros álbuns de trap consciente do país, Catarse, mas o seu primeiro poema havia surgido já em 2014. O seu trabalho tem vindo a ganhar notoriedade, passando nos meios habituais (rádios, jornais e TVs) e marcando presença em diversos festivais pelo país. No seu currículo constam já prémios como Novos Talentos FNAC 2019, na categoria de música, e o prémio MIMO 2019 - Artista Revelação.

Depois de Banano e Realidade Paralela, eis que chega Do Outro Lado, o novo álbum de PZ. Por muito que tenha consolidado um discurso inconfundível, único e extremamente original, ao quinto álbum de originais PZ não pára de surpreender. O seu estilo está claramente marcado nos onze temas que compõem Do outro lado, talvez porque para si não existam dogmas ou temas susceptíveis de não serem questionados, dos mais profundos e existenciais aos mais fúteis ou frugais. Nunca é mais do mesmo, ainda que persista aquele sorriso nos lábios, apenas interrompido por breves e compulsivas gargalhadas, que nos domina quando ouvimos as suas canções. Desta vez a sua pop volta a ser mais hip hop. E depois há os instrumentais que abrigam as suas palavras. E aí PZ é um mestre que, a cada passo domina mais a sua linguagem, essa deliciosa síntese da mais estimulante história da música electrónica, onde Raymond Scott e Luke Vibert, Jean-Jaques Perrey e Morgan Geist, Kraftwerk e Egyptian Lover ou Unknown DJ convivem pacificamente.


Saído em Maio do ano passado, A Montra, disco de estreia dos Cassete Pirata, cumpre todas as promessas que se adivinhavam nos corações expectantes dos ouvintes desta jovem banda. Temas como Ferro e Brasa ou Chora Mãe (que conta com a participação de Samuel Úria) compõem uma sucessão de desafios de integridade e de entrega que se reflectem num “olhar que ascende à procura de respostas às nossas dúvidas mais profundas”. “Este é o nosso primeiro disco, é a nossa primeira montra”, diz João Firmino (autor das músicas), que garante a voz e a guitarra e a quem se juntam as vozes e os teclados de Margarida Campelo e Joana Espadinha, o baixo de António Quintino e a bateria de João Pinheiro. Pelo que é possível apreender da audição dos temas e conhecendo o percurso e a qualidade musical dos elementos da banda, é de esperar um excelente contributo para esta edição do Boreal.

Durante os últimos anos João Semedo afirmou-se no Porto pelo ecléctico e exímio gosto musical. Os seus sets são viagens pelo mundo da música electrónica, carregadas de soul, groove e melodias sedutoras. É residente no Plano B e já partilhou a cabine com alguns dos seus pares mais reconhecidos internacionalmente, como Âme, Barnt, Dixon, Floating Points, Gerd Janson, Omar S, LIndstrom, Prins Thomas ou Superpitcher.”


A biografia de Marinho, que nasceu em Lisboa e cresceu em frente à televisão, mistura-se, ou melhor, estende-se pelas canções de indie folk que escreveu e coleccionou ao longo dos anos. Canções essas que são apresentadas no seu álbum de estreia “~” (ler ‘til’), editado em Outubro de 2019. Nas palavras da compositora, este trabalho “é sobre aceitar que a vida é feita de altos e baixos. É sobre a transição de se tornar alguém que olha para dentro para resolver falhas emocionais, em vez de procurar resolução nos outros. É sobre a procura pela cura”. E isto é um óptimo pretexto para demonstrar como a sua música pode ajudar a compreender “aquilo que existe entre expectativas romantizadas em demasia e a vida real fora de sitcoms.”

Em 2017, aquando da saída do álbum Viagem Interior, Nuno Pacheco escreveu (no jornal Público): “Por detrás do projecto Homem em Catarse, e do guitarrista de Barcelos que lhe dá corpo, há um sentido literal: Viagem Interior, que agora chega às lojas, é uma alegoria sonora de um Portugal que vive sem correr mas também sem que o ouçam.” Homem em Catarse é o alter-ego musical do músico Afonso Dorido. Depois de ter recebido vários louvores da crítica com o EP Guarda-Rios e o aclamado Viagem Interior, Homem em Catarse inicia este ano de 2020 com o novíssimo e conceptual sem palavras | cem palavras, baseado num poema da sua autoria que dá mote e título ao disco onde ouvimos pela primeira vez um piano e laivos de electrónica em sintonia com a sua inconfundível guitarra.


Dan’s Revival é um duo de blues originário de Mirandela e inspirado em sonoridades vintage. A simplicidade estrutural do duo — apenas uma bateria, uma guitarra e voz — choca com os ritmos frenéticos e contagiantes. Em 2019, os jovens irmãos Tiago e Pedro Esteves lançaram o primeiro álbum, Back on Track, mas a sua primeira actuação remonta a 2014. O duo sempre teve um gosto especial pela música e em palco demonstra-o com muita energia, cumplicidade e improviso. Os concertos de Dan’s Revival são sempre diferentes por isso mesmo.

Depois de um percurso notável vivido nas Pega Monstro e de colaborações com nomes como Sara Graça, Joana da Conceição, Gabriel Ferrandini, Miguel Abras ou Rudi Brito, Maria Reis lançou o seu novo disco Chove na Sala, Água nos Olhos no final de 2019. Este último trabalho, que sucede ao EP Maria, de há dois Verões, “chega-nos maravilhoso, curto e directo, animado de dúvidas e sentenças que a sua experiência achou nas acções humanas (...). O sensato e o ridículo, as alegrias e as tristezas, as melodias e os ritmos, as costuras e os arranjos, muito nesta primorosa colecção da Maria nos mostra o seu dom de incidir sobre aquele núcleo permanente, atemporal da realidade humana. E daí decorre a sua identidade e admirável actualidade.”


Com o seu terceiro trabalho discográfico no mercado desde Setembro de 2019, os Ganso são já uma certeza na nova pop portuguesa. Após os bem-sucedidos Costela Ofendida e Pá Pá Pá, Não Tarda é um trabalho que vem “acrescentar maturidade no processo de composição da jovem banda, afastando-se dos riffs rasgados que marcavam os dois trabalhos anteriores, deixando espaço para uma abordagem mais contemplativa, assente em cadências mais relaxadas e ambientes mais complexos.” Depois de passar por festivais como o NOS Alive, Vodafone Mexefest, Vodafone Paredes de Coura, por palcos como o do Hard Club do B.Leza e do Theatro Circo, esta banda, composta por João Sala (voz e teclado), Miguel Barreira (guitarra), Luís Ricciardi (guitarra e teclado), Gonçalo Bicudo (baixo) e Thomas Oulman (bateria), virá certamente proporcionar no Boreal mais uma excelente oportunidade para ouvir o que de bom se vai criando pelo país.

Depois do Lisbon Tattoo Rock Fest, no Altice Arena, a fechar 2019, os GoBabygo começam 2020 em Vila Real. No Festival Boreal. Não poderiam começar melhor. Da sua lavra constam trabalhos como Gaibotas, Dizzizz, e Mémé, cujo videoclip é demonstrativo da ironia e da energia contagiante e irresistível da sua música. A Daniel Carvalho (guitarra) e Gil Barbosa (voz) – os mentores deste projecto iniciado em 2007 –, juntaram-se Ricardo Teixeira em 2011 (bateria) e Miguel Pinto em 2018 (baixo). Completou-se assim, após algumas mudanças, o quadro definitivo desta banda que conta já com algum estatuto no panorama underground nacional.


Nuno Calado é o autor do programa ‘Indiegente’ da Antena 3 e um dos fundadores desta estação. Colaborou com a SIC Radical na cobertura de vários festivais e no CC (Curto Circuito).

LINE UP SEX 28 21h30 / GA 22h40 / PA 23h50 / GA 01h30 / CVR

- RUSSA - PZ - CASSETE PIRATA - DJ SET: JOÃO SEMEDO

SÁB 29 17h00 / CC 18h10 / CC 21h30 / PA 22h30 / GA 23h35 / PA 00h40 / GA 02h00 / CC

- MARINHO - HOMEM EM CATARSE - DAN’S REVIVAL - MARIA REIS - GANSO - GOBABYGO - DJ SET: NUNO CALADO

CC - Café-Concerto | GA - Grande Auditório (caixa de palco) | PA - Pequeno Auditório | CVR - Club de Vila Real

5€ (1 dia) 7€ (2 dias) [Aplicáveis os descontos do Cartão do Teatro]


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