Valores Próprios 2018-023

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ENTREVISTA/INTERVIEW

VALORES PRÓPRIOS

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TÉCNICO

Ao encontro da(s) história(s) Meeting the stories within history

“É de família ser do Técnico” “Attending Técnico runs in the family”

CAMPI

O crescimento registado ao longo dos anos The growth registered over the years


Direção Editorial / Editorial Direction: Arlindo Limede de Oliveira, Luís Caldas de Oliveira, Luís Miguel Silveira, Palmira Ferreira da Silva Editores / Editors: André Pires, Marta Pedro Direção de Arte / Art Direction: Tiago Machado Designers: Patrícia Guerreiro, Telma Baptista, Tiago Lopes Distribuição e Publicidade / Distribution and Advertising: GCRP gcrp@tecnico.ulisboa.pt Editora / Publisher: Instituto Superior Técnico Av. Rovisco Pais, 1 1049-001 Lisboa Tel: (+351) 218 417 000 Fax: (+351) 218 499 242 Impressão / Printing: Jorge Fernandes, Lda Rua Q.ta Conde de Mascarenhas N9 Vale Fetal 2825-259 Charneca da Caparica Tel.: 212 548 320 Fax: 212 548 329 Edição / Edition: 23 Periodicidade / Periodicity: Bimestral/ Bimonthly Tiragem / Circulation: 5.000

DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

VALORES PRÓPRIOS


EDITORIAL/EDITORIAL

ARLINDO LIMEDE DE OLIVEIRA PRESIDENTE/PRESIDENT

O Técnico é, assim, simultaneamente um elevador social com um importante papel de promoção do mérito na sociedade portuguesa, e uma escola de tradição, onde sucessivas gerações de muitas famílias se habituaram a encontrar a excelência da formação e cultura de qualidade que sempre caracterizaram a nossa Escola. Neste número, teremos a oportunidade de conhecer diversos destes casos, e as razões que justificam a tradição IST, comum a tantas famílias portuguesas. A todos os recém-chegados, sejam bem-vindos a uma Escola com tradição, sejam bem-vindos a um mundo de oportunidades.

EN Técnico has been, for the last 107 years, instrumental in the promotion of upwards social and economic mobility of its students. For more than a century, students from less privileged families have had the opportunity to acquire an education and a social status that would have been inaccessible to them if our school did not exist. They have thus joined so, they have joined so many families that have claimed Técnico as their school, for many decades.

The existence of many examples where several generations of the same family have studied at IST, in what becomes almost a family tradition, reveals the other side of IST, that of a school with tradition. The pride of being educated by IST is, certainly, one of the values passed from parents to children, and from grandparents to grandchildren, leading successive generations to choose our school as their own. Técnico is, therefore, simultaneously a social elevator with an important role in the promotion of merit in Portuguese society, and a school with a long tradition, where generations of families became used to finding excellence in education and a culture of quality, which have always been hallmarks of our school. In this edition, we will have the opportunity to get to know several of these cases and the reasons that justify the Técnico tradition, common to so many Portuguese families. To all of you that are now arriving here, welcome to the tradition, welcome to a world of new opportunities.

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PT O Instituto Superior Técnico tem sido, ao longo dos últimos 107 anos, um dos mais importantes motores de promoção social e económica do país. Durante mais de um século, alunos oriundos de famílias com menos posses tiveram a oportunidade, através da educação dada pelo IST, de adquirir uma formação e um estatuto social que lhes teria sido negado se a Escola não existisse. Juntaram-se, assim, a tantas famílias que há muitas décadas têm chamado ao IST a sua Escola. A existência de inúmeros exemplos em que diversas gerações da mesma família são formadas pelo IST, no que se torna em alguns casos quase uma tradição familiar, revela a outra face do Técnico, a de ser uma Escola com tradição. O orgulho de ser formado pelo Instituto Superior Técnico é, seguramente, um dos valores transmitidos dentro das famílias, de pais para filhos, e de avós para netos, levando a que sucessivas gerações decidam escolher a nossa Escola para se formarem.

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Um Elevador Social, Uma Escola com Tradição A Social Elevator, a School with Tradition


DESTAQUES/HIGHLIGHTS 2018

ESCOLA/SCHOOL

GRUPO DE LASERS E PLASMAS / IPFN (IST)

Técnico continua a reforçar os seus quadros de docência e investigação Técnico continues to strengthen its teaching and research boards

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INVESTIGAÇÃO/RESEARCH

Cientistas do Técnico envolvidos na resolução do mistério de emissão de raios-X em cometas Técnico Scientists involved in solving the mystery of X-rays emission in comets

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PT Os raios-X que resultam da interação de cometas com o plasma emitido pelo Sol intrigaram durante muitos anos os cientistas da área, mas o enigma foi resolvido recentemente por uma equipa internacional de investigadores — dois deles do Técnico —, que simulou em laboratório essa emissão de raios-X em cometas, decompondo totalmente o mecanismo. “Esta experiência reproduziu as condições existentes, por exemplo, na interação entre o vento solar e cometas do nosso sistema solar”, esclarece Fábio Cruz, que, conjuntamente com o professor Luís Oliveira e Silva, representa o Grupo de Lasers e Plasmas do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Técnico. O trabalho, publicado na revista Nature Physics, foi produzido por uma equipa internacional com cientistas de 15 instituições, sendo a equipa do Técnico responsável pela modelação numérica e interpretação teórica desta experiência.

EN X-rays that result from the interaction of comets with plasma emitted by the Sun have intrigued scientists for many years, but the puzzle was recently solved by an international team of researchers — two of them belonging to Técnico — who simulated this emission of X-rays from comets in laboratory, totally decomposing the mechanism. “This experiment reproduced existing conditions, for example, in the interaction between the solar wind and comets of our solar system,” explains Fábio Cruz, who, alongside professor Luís Oliveira e Silva, represents the Lasers and Plasmas Group of the Plasmas and Nuclear Fusion Institute of Técnico. Their work, published in the Nature Physics journal, was produced by an international team of scientists from 15 institutions. Técnico’s team was responsible for the numerical modelling and theoretical interpretation of this experiment.

PT Reforçando a vertente do ensino e da investigação — os principais pilares da sua ação — o Técnico continua a renovar os seus quadros, desta feita com a contratação de 19 novos docentes e investigadores que vêm robustecer as diversas áreas da Engenharia e Ciência da Escola. Ao contratar professores e investigadores de grande qualidade, que se destacaram entre muitos no processo de recrutamento, altamente competitivo, conduzido pela instituição, e que envolveu milhares de candidatos, o Técnico demonstra um contínuo investimento na excelência e inovação que tão bem o caracterizam, como aliás refere o presidente do Técnico, o professor Arlindo Oliveira: “Os docentes e investigadores que agora ingressaram no Técnico trazem consigo experiência nacional e internacional relevante, nas mais diversas áreas, e contribuirão para tornar o Técnico uma Escola cada vez mais global”. EN Reinforcing education and research — its main pillars — Técnico continues to renew its staff, this time hiring 19 new teachers and researchers, who will consolidate the school’s various engineering and science areas. By hiring high-quality teachers and researchers, who stood out in the highly competitive recruitment process conducted by the institution, involving thousands of applicants, Técnico evinces its continued investment in excellence and innovation, which, according to Técnico’s president, Professor Arlindo Oliveira, illustrate the school’s stance: “The professors and researchers who have now joined have a remarkable experience, both at national and international level, in the most diverse areas and will contribute to make Técnico an increasingly global school”.


Os novos horizontes das ciências e tecnologias nucleares The new horizons of nuclear science and technology

Docente do Técnico eleita membro do Executive Committee da EPS Técnico professor elected member of EPS Executive Committee

EN On April 27th, the Technological and Nuclear Campus of Instituto Superior Técnico was host to a wide debate on nuclear sciences medical applications. The symposium, organised by Técnico and Fundação para a Ciência e Tecnologia, FCT, intended to mark the commemorations of the 60 years of research in the area of nuclear sciences and technologies in Portugal, but ended up providing the ideal circumstances to discern and delimit some of the future horizons on the subject. The session was attended by the Minister of Science, Technology and Higher Education, Manuel Heitor, the Minister of Health, Adalberto Campos Fernandes, the Director General of the International Atomic Energy Agency (IAEA), Yukiya Amano, the president of Instituto Superior Técnico, Professor Arlindo Oliveira, and several doctors and researchers who work in the area. Some information about the health unit for the treatment of cancer patients using high-energy particle beam therapies that is to be installed in CTN and completed in 2021 was also unveiled.

PT Os membros do Conselho da European Physical Society (EPS) elegeram Teresa Peña, professora do Departamento de Física (DF) e do Departamento de Engenharia e Ciências Nucleares, para o Executive Committee da entidade. Ao órgão, ao qual agora pertence a docente do Técnico, compete dirigir as atividades da EPS, assim como estabelecer as prioridades e o orçamento. “A EPS é uma associação das sociedades de física da Europa, fundada em 1968. Representa mais de cem mil físicos europeus”, destaca a professora do DF. Refira-se que a este Committee compete dirigir as atividades da EPS, estabelecer as prioridades e o orçamento. “É necessário, neste momento, garantir impacto global às atividades de investigação, divulgação e formação em física dos países das sociedades membros mais pequenas”, comenta a Professora Teresa Peña.

DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

PT O Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) do Instituto Superior Técnico recebeu, no dia 27 de abril, um amplo debate sobre as aplicações médicas das ciências nucleares. O simpósio, organizado pelo Técnico e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), teve como intuito assinalar as comemorações dos 60 anos de investigação na área das ciências e tecnologias nucleares em Portugal, mas acabou também por se assumir como a circunstância ideal para vislumbrar e delimitar alguns dos horizontes futuros subjacentes à temática. A sessão contou com a participação do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, o Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), Yukiya Amano, o presidente do Instituto Superior Técnico, o professor Arlindo Oliveira, e de vários médicos e investigadores que atuam na área. Foram ainda reveladas algumas informações sobre a unidade de saúde para o tratamento de doentes com cancro com recurso a terapias de feixes de partículas de elevada energia, que deverá ser instalada no CTN e concluída em 2021.

EN Members of the European Physical Society (EPS) Board elected Teresa Peña, Professor of the Physics and Engineering and Nuclear Sciences Departments, for the Executive Committee of the organisation. The body, to which Técnico’s teacher now belongs, is responsible for directing EPS activities, as well as establishing its priorities and budgeting. “The European Physical Society (EPS) is an association of the physics societies of Europe, founded in 1968. It represents more than one hundred thousand European physicists,” emphasises the professor of the Physics Department. The election is not direct, but carried out by the Council — the governance body of EPS, composed of representatives of the 42 member societies. “At this point, it is necessary to warrant global impact to research, dissemination and training activities in physics within smaller member societies’ countries,” says Professor Teresa Peña.

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NOMEAÇÃO/APPOINTMENT

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

INVESTIGAÇÃO/RESEARCH


DESTAQUES/HIGHLIGHTS 2018

PRÉMIO/PRIZE

DR

Professor do Técnico recebe Google Faculty Research Award Técnico’s Professor wins Google Faculty Research Award

PRÉMIO/PRIZE

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Prémio Carreira AcquaLive 2018 atribuído ao Professor Francisco Nunes Correia Professor Francisco Nunes Correia awarded 2018 AcquaLive Career Award

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PT O professor Francisco Nunes Correia, docente do Técnico, recebeu, no passado dia 13 de abril, o Prémio Carreira AcquaLive 2018. “Naturalmente contente e muito honrado” — é assim que o professor catedrático de Recursos Hídricos e Ambiente se assume com a atribuição desta distinção, lembrando que o prémio “vem sendo atribuído desde 2012 e tem contemplado profissionais de índole muito diversa, incluindo professores e investigadores, empresários do setor, e mesmo um diplomata que assumiu grande protagonismo nas relações com Espanha relativamente aos rios internacionais”. O galardão distingue o contributo do docente para o setor da água em Portugal, quer pelo seu desempenho enquanto ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, quer enquanto responsável pela preparação do Plano Nacional da Política de Ambiente (PNPA), e ainda no apoio ao processo de negociação com Espanha para uma nova convenção sobre recursos hídricos.

EN On April 13th, Professor Francisco Nunes Correia, teacher at Técnico, was awarded the 2018 AcquaLive Career Award. “Naturally pleased and very honoured”: -that is how the Water Resources and Environment Professor feels about such distinction, pointing out that this award “has been granted since 2012 and has recognised a wide range of professionals, including professors and researchers, entrepreneurs and even a diplomat who took a leading role in the relations with Spain with regards to international rivers,” said the professor. The award acknowledges the professor’s contribution to the water sector in Portugal, both for his performance as Minister for Environment, Regional Planning and Development and as head of the National Environmental Policy Plan preparation, as well as for his role in the negotiation process with Spain aiming at a new convention on water resources.

PT O Professor Rodrigo Miragaia Rodrigues, docente do Departamento de Engenharia Informática (DEI) do Instituto Superior Técnico, recebeu um Google Faculty Research Award, sendo o único professor português contemplado na edição de 2017 da conceituada lista de premiados. Os Google Research Awards são concedidos anualmente nas melhores universidades do mundo, pretendendo apoiar as pesquisas de ponta em diversas áreas relevantes e diretamente relacionadas com a linha de atuação da empresa, mas também identificar e fortalecer relações de colaboração de longo prazo com essas instituições. Nesta edição, os prémios receberam 1033 candidaturas, provenientes de 46 países e mais de 360 universidades, num processo do qual resultou a listagem dos 152 projetos financiados, grande parte com ligação às áreas de machine learning, computer interaction e sistemas. EN Professor Rodrigo Miragaia Rodrigues, teacher at Técnico’s Computer Science and Engineering Department, won a Google Faculty Research Award. He was the only Portuguese professor included in the 2017 award-winning list. Google Research Awards are awarded annually in order to support work carried out in the best universities worldwide, aiming at upholding cutting-edge research in several areas directly related to the company’s line of business, as well as determining and strengthening longterm collaboration relationships with such institutions. In this edition, the awards received 1033 applications from 46 countries and more than 360 universities, in a process that resulted in a list of 152 funded projects, most of which related to the areas of machine learning, computer interaction and systems.


Projetos dos Núcleos de Estudantes invadem instalações da Novabase Student centres’ projects invade Novabase facilities

Professor Paulo Martins é o mais recente Doutor Honoris Causa da DTU Professor Paulo Martins is the most recent DTU Honorary Doctor

EN April 18th was not an ordinary day at the headquarters of Novabase corporation. Why? Because the stands of five Técnico student centres left no one indifferent. Props, identification shirts, or just the engaging smile of those eager to share engineering and science made the lunch breaks last a little longer, going back to meetings harder, and turned the company’s reception into a rather hectic spot. The Technology Transfer Area challenged the centres to present their work, and the Project Formula Student (FSTLisboa), Técnico’s Solar Boat, AeroTéc Student Nucleus of Aerospace Engineering, the Mobile Energy Sustainability Project (PSEM) and the Physical Design on Wheels promptly accepted. Célia Vieira, Novabase’s Neotalent Executive Director repeatedly mentioned that “the convergence of companies and scientific knowledge is increasingly important.”

PT O docente do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) e investigador do Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC) e do Laboratório Associado de Energia, Transportes e Aeronáutica (LAETA), professor Paulo Martins, tornou-se o novo doutor honoris causa da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU). A homenagem ao docente integrou o programa da cerimónia de comemoração anual da DTU, e que juntou centenas de convidados, alunos e funcionários da conceituada instituição. “Um cientista excecional e extremamente ativo dentro da engenharia de fabrico”, dotado de “uma combinação verdadeiramente única de fortes competências experimentais e de um profundo conhecimento teórico, que inclui o domínio da modelação numérica avançada”, foi assim que o professor Niels Bay, catedrático Emeritus da DTU, descreveu o docente do DEM, no discurso que antecedeu a homenagem.

DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

PT O dia 18 de abril não foi um dia comum na sede da multinacional Novabase. O motivo? A presença das bancas dos cinco núcleos de estudantes do Técnico na empresa, a que ninguém ficou indiferente. Os adereços, as camisolas identificativas, ou simplesmente o sorriso aliciante de quem quer partilhar Engenharia e Ciência tornaram as pausas para o almoço um bocadinho mais extensas, fizeram com que os regressos das reuniões se prolongassem, e tornaram a receção da empresa mais agitada do que o habitual. A Área de Transferência de Tecnologia convidou os núcleos para o desafio de dar a conhecer o trabalho que realizam, tendo o Projeto Formula Student (FSTLisboa), o Técnico Solar Boat, o AeroTéc – Núcleo de Estudantes de Engenharia Aeroespacial, o Projeto de Sustentabilidade Energética Móvel (PSEM) e o Projeto Física Sobre Rodas acedido prontamente. Célia Vieira, Neotalent Executive Director da Novabase, referiu várias vezes que “é cada vez mais importante esta aproximação das empresas e o conhecimento científico”.

EN The lecturer at the Department of Mechanical Engineering (DEM) and researcher at the Institute for Mechanical Engineering (IDMEC) and the Associate Laboratory of Energy, Transports and Aeronautics (LAETA) was recently granted an honorary degree from the University of Denmark (DTU). The IST professor’s award was part of the annual DTU commemoration program, and brought together hundreds of guests, students and staff from this prestigious institution. In the speech that preceded the tribute, Professor Niels Bay (Professor Emeritus at DTU) described the DEM lecturer thus: “An outstanding and extremely active scientist in the field of manufacturing engineering”, endowed with “a truly unique combination of strong experimental skills and in-depth theoretical knowledge, which encompasses the field of advanced numerical modelling”.

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DISTINÇÃO/DISTINCTION

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PARCERIAS/PARTNERSHIPS


DESTAQUES/HIGHLIGHTS 2018

EVENTO/EVENT

DR

Os Supercomputadores e a Superinteligência por Horst Simon Supercomputers and Superintelligence by Horst Simon

PRÉMIO/PRIZE

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Best Paper na área de Engenharia de Software atribuído a investigadores do INESC-ID Best Paper in the area of Software Engineering awarded to INESC-ID researchers

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PT Luís Cruz e Rui Maranhão Abreu, ambos investigadores do INESC-ID na área de Investigação de Sistemas de Apoio à Informação e Tomada de Decisão, ganharam o prémio Best Paper na XXI Conferência Ibero-Americana de Engenharia de Software SET Track. Na origem deste galardão está o artigo “A Utilização da Refatoração Automática para Melhorar a Eficiência Energética de Aplicativos Android”, que se centra “no desenvolvimento de uma ferramenta que permite auxiliar no desenvolvimento de aplicações móveis, de forma a que estas melhorem o traço energético”, explica um dos autores, Rui Maranhão Abreu. “A ferramenta transforma automaticamente o código fonte de uma aplicação, tornando-a mais eficiente sem alterar a experiência para o utilizador”, acrescenta. Além de “muito gratificante”, esta distinção vem, segundo os vencedores, “realçar a importância do consumo de energia como um requisito de usabilidade das aplicações móveis”.

EN Luís Cruz and Rui Maranhão Abreu, both INESC-ID researchers in the area of Information and Decision Making Systems Research, won the Best Paper Award at the XXI Ibero-American Conference on Software Engineering SET Track. The basis for this award is the article “The Use of Automatic Refactoring to Improve the Energy Efficiency of Android Applications”, which focuses “on the development of a tool that helps the development of mobile applications so that they improve the energy footprint”, explains one of the authors, Rui Maranhão Abreu. “The tool automatically transforms the source code of an application, making it more efficient without changing the user experience”, he adds. Besides being “very gratifying”, this distinction, according to the winners, “is going to highlight the importance of power consumption as a usability requirement for mobile applications.”

PT O Técnico recebe o professor Horst Simon, vice-diretor do Lawrence Berkeley National Laboratory da Universidade da Califórnia, no âmbito do programa American Corners, uma parceria que une o Técnico e a Embaixada dos E.U.A. em Portugal, e que tem trazido à Escola inúmeros e conceituados especialistas das mais variadas áreas. Foi numa linguagem muito simples, tentando chegar aos mais experientes na área e aos que menos a dominam, que o docente da Universidade da Califórnia conduziu a sua palestra. Para a pergunta que todos fazem hoje em dia - Se “a computação de alto desempenho e a inteligência artificial serão alguma vez capazes de superar a inteligência humana?” - o vice-diretor do Lawrence Berkeley National Laboratory teve duas respostas: “sim, os computadores são realmente superinteligentes hoje em dia; e não, o computador não alcançará os níveis de consciência humana, até que tenhamos aprendido o que isso é”. EN Técnico hosted a talk by Professor Horst Simon, Deputy Director of the Lawrence Berkeley National Laboratory (University of California), under the American Corners program — a partnership between Técnico and the US Embassy in Portugal which has brought renowned specialists from several fields to the School. Professor Horst Simon gave his talk in a very simple language, trying to reach both expert and lay ears. Regarding the question everyone is asking nowadays —“Will high-performance computers and artificial intelligence ever surpass human intelligence?” —, Professor Simon provided two answers: “Yes, computers nowadays are really superintelligent; and no, computers will not attain the complexity of human consciousness until we have learned what that is”.


Alumnus do Técnico recebe Medalha Zeldovich Técnico alumnus receives Zeldovich Medal

Técnico reconhece e celebra excelência académica Técnico recognises and celebrates academic excellence

EN Frederico Francisco has recently been awarded the 2018 Zeldovich medal, conferred by the Commission for Space Research (COSPAR) and by the Russian Academy of Sciences, becoming the first Portuguese scientist to receive this medal. This distinction is a recognition of his role in solving the problem of anomalous acceleration in Pioneer probes, as well as his thermal acceleration estimate, which made it possible to validate Cassini probe’s gravitational experience in its voyage to Saturn’s moon Titan. Frederico Francisco got his PhD from Técnico in 2014, under the supervision of professor Orfeu Bertolami and co-supervision of professor Paulo Gil. His PhD thesis, entitled “Trajectory Anomalies in Interplanetary Spacecraft”, earned him a Springer Verlag award in 2015. These medals are awarded every two years since 1990 for each COSPAR’s scientific commission. Frederico Francisco won a Zeldovich Medal in the scientific commission Fundamental Physics in Space.

PT Já dizia Aristóteles que “a Excelência é um hábito”, e, no Técnico, o seu reconhecimento também tem sido. Assim, decorreu, no dia 17 de abril, mais uma edição da cerimónia de entrega dos Diplomas de Excelência Académica — uma sessão solene, organizada pelo Conselho Pedagógico (CP), onde o esforço e o trabalho prosseguidos pelos melhores alunos do Técnico são reconhecidos, incentivados e celebrados pela Escola. Agradecendo o “esforço e a dedicação com que ajudam a propagar a qualidade do Técnico, o professor Arlindo Oliveira, na sua intervenção, fez questão de salientar o “ambiente de competição saudável dominante na escola” e “o gosto em aprender e a paixão que domina quem estuda engenharia”. Depois de várias intervenções, procedeu-se à ansiada entrega dos diplomas de excelência e mérito académicos aos cerca de 120 dos 1636 alunos que integram o quadro de mérito do ano letivo 2016/2017.

DR

PT Frederico Francisco foi recentemente galardoado com a Medalha Zeldovich 2018 da Commission for Space Research (COSPAR) e da Academia de Ciências da Rússia, assumindo-se como o primeiro cientista português a receber o galardão. Esta distinção surge como reconhecimento do seu contributo na resolução do problema da aceleração anómala das sondas Pioneer, e pela estimativa da aceleração de origem térmica que permitiu confirmar a experiência gravitacional realizada pela sonda Cassini aquando da sua viagem até a lua Titã de Saturno. Frederico Francisco doutorou-se em 2014 no Técnico, sob a supervisão do professor Orfeu Bertolami e com co-supervisão do professor Paulo Gil. A sua tese, intitulada “Trajectory Anomalies in Interplanetary Spacecraft”, recebeu um prémio da Springer Verlag, em 2015. Estas medalhas são atribuídas bienalmente, desde 1990, para cada uma das áreas de atividade de COSPAR; no caso de Frederico Francisco, corresponde à área de Fundamental Physics in Space.

EN As Aristotle said, “Excellence is a habit”, and at Técnico its recognition has for long been one too. Thus, on April 17th, another edition of the Diplomas of Academic Excellence awards ceremony took place. It was a solemn session, organised by the Pedagogical Board, to acknowledge, encourage and celebrate the effort and work carried out by the best Técnico students. Thanking “the effort and dedication with which they contribute to spreading Técnico’s quality”, Professor Arlindo Oliveira made a point, in his intervention, of emphasising the “environment of healthy competition that is pervasive in the school” and “the enthusiasm for learning and the passion that takes over those who study engineering.” After a number of speeches, the certificates of excellence and academic merit were presented to approximately 120 of the 1636 students who belong to the group of outstanding students of the 2016/2017 academic year.

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CERIMÓNIA/CEREMONY

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PRÉMIO/PRIZE


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CAMPI

Uma viagem ao passado que construiu o presente A trip to the past that built the present

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As instalações do Técnico foram acompanhando, ao longo dos tempos, o crescente número de alunos, adaptando-se às novas realidades e necessidades educativas, mas não só Over time, Técnico’s facilities have kept pace with the growing number of students, adapting to new realities and educational needs, but that is not nearly all

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PT Do Técnico à Assembleia da República podiam muito bem ser dois passos. Assim seria se o projeto que Alfredo Bensaúde encomendara a Miguel Ventura Terra tivesse avançado, o que só não aconteceu por falta de verbas. Deitado por terra esse projeto, o Técnico manteve-se por largos anos no barracão da Rua da Boavista, que poucas ou nenhumas condições oferecia à prática do ensino e ao ensino prático ambicionado. A pequenez das salas de aulas teóricas, os laboratórios e as oficinas pouco atrativas, a iluminação deficiente, o aquecimento inexistente e as infiltrações de água permanentes não condiziam em nada com o projeto que Alfredo Bensaúde traçara aquando da criação da Escola. O sonho de instalações condignas do fundador do Técnico apenas avançou quando Duarte Pacheco chegou à direção. A ideia do então diretor do Técnico era criar um campus autónomo, e foi com isso em mente que escolheu um espaço de quatro quintas no Arco do Cego, pouco valorizado, e, por isso mesmo, barato, que acabou por assumir-se como um vetor de expansão de Lisboa. Porfírio Pardal Monteiro foi o escolhido para dar corpo às ideias vanguardistas do diretor do Técni-

co. Seria preciso aguardar quase dez anos para a Escola se mudar para instalações condignas, mas valeu a pena a espera. Foram muitos os que criticaram a imensidão da obra, mas a verdade é que a mesma rapidamente passou a ser vista como um emblema de progresso, e, na história da arquitetura portuguesa, seria mesmo considerada a primeira grande obra pública moderna. Segundo consta, o projeto inicial previa uma ocupação máxima de 40 anos; porém, já lá vão mais do dobro, e o campus da Alameda continua a ser um centro de ação do Técnico, ainda que já não se resuma apenas a tal. Com o passar dos anos e o crescimento do número de alunos, a Escola foi-se adequando às novas necessidades e realidades. O campus projetado por Pardal Monteiro foi ganhando novos espaços dedicados ao ensino e investigação, mas que não esquecem a importância das atividades curriculares e as demais necessidades da comunidade. Mas o Técnico já não tem morada única, e hoje em dia é nos seus três campi —Alameda, Taguspark e o Campus Tecnológico e Nuclear — que a sua ação se desenvolve e que de diversas formas se constrói o futuro. •


P — 13 VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

ARQUIVO / TÉCNICO

EN Técnico could have ended up just two steps away from the parliament. That is what would have happened if only the project that Alfredo Bensaúde commissioned to Miguel Ventura Terra had advanced; however, it never happened due to lack of funds. Once this project was abandoned, Técnico remained in the shack at Rua da Boavista for many years, with few or no conditions for the practice of teaching or the kind of practical teaching that was envisaged. Small lecture classrooms, unattractive laboratories and workshops, poor lighting, nonexistent heating, and permanent water infiltrations were in no way compatible with the project that Alfredo Bensaúde had drawn up when the School was created. The Técnico’s founder’s dream of decent facilities only came to being when Duarte Pacheco became part of Técnico’s management team. The idea of the then Director of Técnico was to create an autonomous campus, and it was with this in mind that he chose an area which comprised four farms in Arco do Cego, poorly valorised and therefore inexpensive. It would later be regarded as an expansion vector for Lisbon. Porfírio Pardal Monteiro was chosen to give substance to the avant-garde ideas of Técnico’s director. It took almost ten years for the School to move to decent facilities, but the wait was worth it. Many criticised its large size, but the truth is that it quickly became a symbol of progress, and was even considered the first great modern public work in Portuguese architecture’s history. It seems the initial project aimed at a maximum utilisation time of 40 years; notwithstanding, more than twice this period has elapsed and the Alameda campus remains a hub of activity for Técnico, albeit the latter now encompassing other facilities as well. Over the years, the number of students increased, and the School had to adapt to new needs and realities. The campus designed by Pardal Monteiro has added new areas to teaching and research, never forgetting the importance of curricular activities and the community’s needs. But Técnico no longer has a single address, and today there are three campuses — Alameda, Taguspark, and the Technological and Nuclear Campus — whereupon its activities take place and, in many ways, the future is built. •


1921 - 1941

1961 - 1971

1968 Criação do Complexo Interdisciplinar do Técnico Creation of the Técnico Interdisciplinary Complex

ARQUIVO / TÉCNICO

ARQUIVO / TÉCNICO

1927 Início das projeções do campus da Alameda Beginning of the Alameda campus design

DR

1970 Aumento substancial dos centros de investigação com ligação ao Técnico e criação dos respetivos laboratórios Substantial increase of research centers with the connection to Técnico, and installation of the respective laboratories

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

ARQUIVO / TÉCNICO

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1937 Inauguração das novas instalações do Técnico. Porfírio Pardal Monteiro concebe o primeiro campus autónomo de todo o sistema universitário português Inauguration of the new Técnico facilities Porfírio Pardal Monteiro conceives the first autonomous campus of the entire Portuguese university system


1981 - 2001

2001 - 2018

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ARQUIVO / TÉCNICO

DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

2003 Abertura do Pavilhão de Ação Social Opening of the Social Service Pavilion

1988 Início das obras de construção do Pavilhão de Civil, no campus da Alameda Beginning of the Civil Pavilion construction works at the IST campus in Alameda, Lisbon

2012 Integração do Instituto Tecnológico e Nuclear no Técnico Integration of Instituto Tecnológico e Nuclear in Técnico

1993 Pavilhão de Eng. Civil e Arquitetura (2.ª fase) Civil and Architecture Pavilion (2nd phase) 1994 Início do funcionamento da Torre Norte North Tower starts operating 2000 Início do funcionamento da Torre Sul South Tower starts operating

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

ARQUIVO / TÉCNICO

DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

2000 Começo das Atividades no campus do Taguspark Opening of Taguspark campus


No trilho da evolução, o Técnico foi sabendo vencer ~ Throughout its evolution, Técnico has always found a way to deliver

Ao longo dos anos, a oferta formativa da Escola foi correspondendo às exigências e necessidades da sociedade do conhecimento Over the years, the School’s training offer has always met the demands and needs of the knowledge society

ARQUIVO / TÉCNICO

HISTÓRIA/HISTORY


gerações”, comenta o engenheiro Rui Remígio. “Não sei se me atrevo a dizer quantos estudantes teremos, mas devem ser cerca de oito mil”, lança o alumnus, esperando uma confirmação. Ainda que o palpite tenha ficado aquém do número exato — foram 11 533 alunos os estavam matriculados no Técnico no ano letivo de 2017/2018 —, o engenheiro tem razão sobre a diversidade de áreas que a oferta formativa do Técnico cobre. “A capacidade de aprendizagem e evolução que daqui levamos é tão fenomenal que, quanto mais jovens atingir, melhor”, colmata. •

EN “Back in my days, Técnico was very respected”, says Engineer Rui Remígio, IST student no. 7985 and one of the many alumni who are proud of their years at the School. Although he knows that the “institution’s excellent reputation” has solidified over the decades, he says that “those were different times”, when education was still a privilege of the few. Engineer Rui Remigio joined Técnico in 1963, at a time when the institution was experiencing the biggest boom since its foundation, with about 3,000 students and 500 teachers, and producing over 150 engineers every year. Mechanical Engineering, one of the five degrees offered by the School since its inception, was his first choice — and although it was very demanding, he never regretted it. “Those were very busy days, there were also lab classes, and teachers were very demanding”, the alumnus points out. “Still, I did it in six years, no more no less” he adds.

In addition to Mechanical Engineering, Técnico offered training in Civil Engineering, Mining Engineering, Electrical Engineering, and Industrial Chemical Engineering. New, more specialised syllabi had been established in Portuguese universities in the 1960s, suppressing the general classes that were common to all engineering degrees and introducing optional subjects. From a scientific point of view, the main novelty was the implementation of classes focusing on recent innovations, providing IST engineers with a solid scientific culture. New innovations emerge as years go by, setting the limits for progress within the organic structure of the institution. Unsurprisingly, Portugal’s economic growth and the inevitable industrialisation boom strengthened the economic and social relevance of engineers — a trend promptly followed by the School. The reform of 1970 created specialisations within degrees, reduced the latter’s duration to five years, systematically introduced semestral subjects, and created a new Metallurgical Engineering degree. These changes produced results and Técnico doubled the number of students, approaching 6,000, despite the emergence of new schools and new engineering degrees in other public universities. The following decades brought profound and increasingly frequent qualitative changes, such as the organisation of the School into departments and sections, the creation of postgraduate and master’s degrees, the diversification of doctoral programs, and so on. “Técnico was able to adapt to the times and is now a richer institution, with more courses that meet the needs of society and the tastes of new generations”, says Rui Remígio. “I don’t know if I dare say how many students we have now, but it must be about 8,000,” the alumnus suggests, waiting for confirmation. Although his guess has fallen short of the exact number — there were 11,533 students in the 2017/2018 academic year — Remígio is right about the diversity offered by Técnico“The ability to learn and grow we get here is so huge that the more young people it reaches, the better,” he says. •

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“O Técnico soube adaptar-se aos tempos” ~ “Técnico was able to adapt to the times”

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ARQUIVO / TÉCNICO

PT “Na minha altura, o Técnico era muito conceituado” — a recordação é do engenheiro Rui Remígio, o aluno n.º 7985 do Técnico, e um dos alumni orgulhosos da passagem pela Escola. Apesar de saber que a “ótima reputação da instituição” foi uma constante que se solidificou ao longo das décadas, “eram outros tempos”, um tempo em que a educação ainda era um privilégio de poucos. O engenheiro Rui Remígio ingressou no Técnico em 1963, numa época em que a instituição alcançava o maior boom desde a sua criação, com cerca de três milhares de alunos e meio milhar de docentes, formando mais de centena e meia de engenheiros anualmente. Engenharia Mecânica, um dos cinco cursos que a Escola lecionava desde a sua criação, foi a primeira opção, da qual nunca se arrependeu, apesar da exigência. “Os dias eram muito preenchidos, havia laboratórios pelo meio, os professores eram exigentes”, narra o alumnus. “Ainda assim, fiz os seis anos certinhos”, apressa-se a acrescentar. Além de Engenharia Mecânica, o Técnico oferecia formação em Engenharia Civil, Engenharia de Minas, Engenharia Eletrotécnica e Engenharia Químico-Industrial. Na década de 60, haviam sido estabelecidos novos planos de estudos para os cursos das universidades portuguesas, aumentando a especialização, com o desaparecimento do curso geral comum a todas as engenharias existentes até então, e com a criação de disciplinas de opção. Sob o ponto de vista científico, as principais novidades prendiam-se com a criação de disciplinas para o tratamento das grandes inovações consolidadas pela ciência, dotando os engenheiros de uma forte cultura científica de base. Os anos vão trazendo novas inovações, e a inovação vai delimitando o progresso na própria orgânica da instituição. O crescimento económico moderno em Portugal e o inevitável surto de industrialização aumentaram, como seria espectável, o papel dos engenheiros, quer a nível económico, quer a nível social — uma importância e uma exigência que a Escola acompanha. A reforma de 1970 cria as especializações dentro das licenciaturas, reduz a duração dos cursos para cinco anos, insere a semestralização sistemática das disciplinas, e introduz uma nova licenciatura em Engenharia Metalúrgica. As mudanças deram frutos, e o Técnico duplica o número de alunos, que se aproxima dos seis milhares, apesar do surgimento de novas escolas e novos cursos de Engenharia em outras universidades públicas portuguesas. As décadas que se seguem trazem transformações qualitativas profundas e cada vez mais frequentes, como a organização da Escola em departamentos e seções, a criação de cursos de pós-graduação e de cursos de mestrado, o aumento do número de especialidades de doutoramento, etc. “O Técnico soube adaptar-se aos tempos, e é hoje uma instituição mais rica, com mais cursos que conseguem satisfazer as necessidades da sociedade e os gostos das novas


HISTÓRIA/HISTORY

Os líderes que ajudaram a escrever a história The leaders who helped to write history Ultrapassa as duas dezenas o nome dos diretores e presidentes que, ao longo dos anos, se foram sucedendo, protagonizando momentos marcantes da vida da Escola More than two dozen directors and presidents have played a pivotal role in the School’s important moments over the years P — 18 VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

PT São 23 os nomes dos homens que lideraram o Instituto Superior Técnico nos últimos 107 anos. Na honrosa listagem, quase todos são engenheiros de formação, e a maioria absoluta vai para os que adquiriram esse grau no Técnico. E se, por mera curiosidade, ainda quisermos apurar qual das áreas de formação tende a formar mais futuros presidentes, eis que, entre o antigo curso de Química-industrial e o de Eletrotécnica, vence o segundo. Na verdade, não existe um perfil ideal que os tenha talhado para o lugar, mas há um conjunto de caraterísticas em comum que os une. O cargo que assumiram nem sempre teve o mesmo nome, mas teve sempre a mesma responsabilidade. Fiéis depositários do conhecimento, detentores da experiência, e adeptos e praticantes da sabedoria, é assim que a história e as estórias narram os vários presidentes da Escola. Alfredo Bensaude é o primeiro da listagem, e a mente que permite que ela exista, não fosse ele o fundador do Técnico, o idealizador da sua génese, um visionário que revolucionou o ensino da Engenharia. Desde cedo que revelou o seu gosto pelas ciências da terra, um interesse que mais tarde con

“Quando Alfredo Bensaude deixou a direção do Técnico, já lá era aluno aquele que viria a prosseguir e edificar o seu projeto” ~ “When Alfredo Bensaude left Técnico’s administration, the person who would take on and consolidate his project was already studying at Técnico”

EN 23 men have led Instituto Superior Técnico over the last 107 years. Most of those on this honourable list are engineers, the vast majority with a degree from Técnico. If we are curious about which educational fields tend to raise future presidents, between the old programs in Industrial Chemistry and Electrotechnology, the latter wins. In fact, there is no ideal profile leading to the seat, but a few common characteristics unite them. The position did not always have the same name, but the responsibilities remained the same. Faithful keepers of knowledge, holders of experience and supporters and practitioners of wisdom; this is how history and stories speak of the various presidents of the School. Alfredo Bensaude is the first on the list and actually the brain behind its existence, as the founder of the School and creator of its genesis, a visionary who revolutionised the teaching of engineering. From an early age, he revealed his fondness for earth sciences, an interest he later saw through by obtaining a degree in Mining Engineering at Clausthal School. Some say it was this pedagogical experience abroad that made him able to see all that was wrong in his


1927-1932 1936-1937 Duarte José Pacheco

1932-1936 Caetano Maria Beirão da Veiga

1938-1942 António Chaves de Carvalho 1942-1958 José de Mascarenhas Belard da Fonseca

1958-1969 Luiz Augusto de Almeida Alves

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1921-1927 EduardoAugusto Ferrugento Gonçalves

23 são os nomes dos homens que lideraram o Instituto Superior Técnico nos últimos 107 anos men have led Instituto Superior Técnico over the last 107 years

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1911-1920 1911-1920 Alfredo Bensaude Alfredo Bensaude

own country and led him to boldly present the Reform of Technological Teaching project. When this project came to effect, he was asked to take on the position of director of the Industrial and Commercial Institute of Lisbon and, shortly afterwards, to head the creation of Instituto Superior Técnico. “We owe him everything,” Professor Diamantino Durão says. He is another of the presidents who left a mark in Técnico’s history, even if he tries to downplay his own role in it. “When Alfredo Bensaude left Técnico’s administration, the person who would take on and consolidate his project was already studying at Técnico,” Professor Diamantino Durão says. He is talking about Duarte Pacheco, another remarkable name on this list, such is the size of his work. After completing the program in Electro-technical Engineering in 1923, Duarte Pacheco was appointed professor of General Mathematics in 1925, and two years later he was part of Técnico’s Administration. At the School Council on June 21st, 1927, the name of Duarte Pacheco resonated unanimously. Everything he did next shows how he deserved such vote of confidence, despite his tender age of 27. “Only Duarte Pacheco’s fierceness made it possible to advance with the construction of the Alameda campus, and this was remarkable. No School can be renowned when its students have classes in a shed”, the former president of Técnico says. Attached to politics, and proving to be a man of action beyond a brilliant intellect, Duarte Pacheco was eventually caught up in politics, taking on several positions simultaneously. “Evidence exists that, wherever he was, Duarte Pacheco never stopped caring for the interests of Técnico”, Professor Diamantino Durão shares.


1972-1974 António Carvalho de Sales Luís

1970-1972 João José Rodiles Fraústo da Silva

1974 Alberto Vicente Abecasis Manzanares

1932-1936 João Cunha Serra P — 20

1977-1978 João Fernando Poñe Figanier

1978 António Ferreira dos Santos

1978-1979 Heitor Lobato Girão Pina

1979-1980 Carlos António A. Fonseca Varandas

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PT sumou obtendo o grau de engenheiro de Minas na Escola de Clausthal. Há quem diga que foi essa experiência pedagógica no exterior que o fez ter capacidade de vislumbrar tudo o que estava errado por cá, apresentando, com audácia, o projeto de Reforma do Ensino Tecnológico, sendo, no seguimento do mesmo, convidado para diretor do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa — e, pouco tempo depois, para conduzir a criação do Instituto Superior Técnico. “Devemos-lhe tudo”, refere o professor Diamantino Durão, outro dos presidentes que marcaram a história do Técnico, mesmo que quando a conte tente nela passar despercebido. “Quando Alfredo Bensaude deixou a direção do Técnico, já lá era aluno aquele que viria a prosseguir e edificar o seu projeto”, declara o professor Diamantino Durão. Fala de Duarte Pacheco, outro dos nomes sonantes desta lista, tamanha é a dimensão da sua obra. Terminado o curso de Engenharia Eletrotécnica em 1923, Duarte Pacheco foi nomeado professor de Matemáticas Gerais em 1925, e, dois anos depois, ascendia à direção do Instituto Superior Técnico. No Conselho Escolar de 21 de junho de 1927, o nome de Duarte Pacheco tornou-se unânime para assumir a presidência. Tudo o que faz de seguida mostra como fora merecedor do voto de confiança, apesar dos seus tenros 27 anos de idade. “É com a garra de Duarte Pacheco que se consegue avançar para a construção do campus da Alameda, e isso foi marcante. Não se podia querer ser uma Escola de renome quando os alunos tinham aulas num barracão”, frisa o ex-presidente do Técnico. Ligado à política, e demonstrando ser um homem de ação, que ia para além de um brilhante intelecto, Duarte Pacheco acaba por ser pescado para exercer cargos políticos, vários em simultâneo até. “Provas existem de que, onde quer que estivesse, Duarte Pacheco nunca se esquecia de olhar pelos interesses do Técnico”, partilha o professor Diamantino Durão. Muitos nomes se seguem. O professor Diamantino Durão não se recorda de todos, os anos já não o deixam, a até acha que “a maioria nem de mim se lembra”. O que será difícil, visto que foi o presidente mais duradouro da história do Técnico, contabilizando um total de 14 anos de liderança à frente do Conselho Diretivo do Técnico (1984-1991; 1993-2000). Depois de contornada a humildade que o carateriza, lá acaba por contar como “na altura em que estive na presidência, o Técnico desenvolveu imenso”. “Foram anos em que houve um grande investimento na Investigação e isso catapultou-nos”, recorda. “Aquilo que eu queria enquanto presidente era formar os melhores alunos, fazer a melhor investigação possível, e acho que agora ainda se quer o mesmo, num âmbito cada vez


mais global, mas é principalmente com esta meta que um presidente vai trabalhar todos os dias”, destaca o ex-presidente, confirmando a assertividade com que tantos o recordam. Ainda que a memória e a história reservem um espaço maior a alguns, nenhum dos outros vinte é esquecido. A cronologia retrata apenas o tempo que em que exerceram o mandato, mas o Técnico de hoje tem muito deles para contar. •

“Aquilo que eu queria enquanto presidente era formar os melhores alunos, fazer a melhor investigação possível” ~ “What I wanted as president was to train the best students, do the best possible research”

1980-1981 Virgílio Alberto Meira Soares 1981-1983 Júlio Montalvão e Silva 1983-1984 Celso Tristão Câmara Pestana

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1984-1991 1993-2000 Diamantino Freitas Gomes Durão

1991-1992 Jorge Dias de Deus

2001-2009 Carlos Matos Ferreira

2009-2012 António Manuel da Cruz Serra 2012Arlindo de Oliveira

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EN Many names followed. Professor Diamantino Durão does not remember everyone; time no longer allows him to do so. He even believes that “most probably I myself won’t be remembered”. This may be difficult, since he was the longest-serving president in the history of Técnico. He was at the head of Técnico’s Director Council for 14 years (1984-1991, 1993-2000). Once the the humbleness that characterises him is overcome, he ends up taking about how “during my time as president, Técnico developed a lot”. “In those times, there was a great investment in research and it catapulted us”, he recalls. “What I wanted as president was to train the best students, do the best possible research, and I think we still want the same in an increasingly global context, but it is mainly towards this goal that a president will work towards every day”, the former president emphasises, with the assertiveness so many remember him for. Although memory and history reserve a greater place for some, none of the other twenty have been forgotten. The chronology depicts only the time they served, but the Instituto Superior Técnico of today has many stories to tell about them. •


Serviços de Saúde Health Services

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A unidade de serviços de saúde do Técnico foi inicialmente criada com o objetivo de promover melhores condições de vida e de trabalho a todos os colaboradores da escola, proporcionando-lhes um ambiente adequado ao processo de aprendizagem e às atividades de ensino e investigação.

Técnico’s health services unit was created to promote better living and working conditions for all employees of the school, providing an adequate environment for the learning process and teaching and researching activities.

Vasto leque de especialidades médicas

Análises clínicas, audiologia, electrocardiografias e espirometria

Marcação de consultas de clinica geral e medicina do trabalho

Prestação de cuidados de saúde à comunidade e ao exterior

Vast range of medical specialties

Clinical analysis, audiology, electrocardiography and spirometry

Appointments for general practice and occupational medicine and employee health

Healthcare provided to the school’s community and exterior

VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

saude.tecnico.ulisboa.pt


VALORES PRÓPRIOS 23 — 2018

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ALUMNI

De pais para filhos From parent to child Três histórias que demonstram como, de forma direta ou indireta, a experiência dos ascendentes influenciou a escolha do Técnico anos mais tarde Three stories that show how the parents’ experience in Técnico influenced, directly or indirectly, the choices their children made years later

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PT Partilham o mesmo ADN, o mesmo nome próprio e, claro, o apelido; e um sorriso com tantas semelhanças que quase se confunde quando esboçado em simultâneo. É, aliás, esta a principal semelhança entre pai e filho, Ricardo Nunes e Ricardo O. Nunes respetivamente; mas só à primeira vista, porque, rapidamente, outras se tornam mais notórias e admiráveis após uma troca de palavras. Dispensam títulos no tratamento, mas não se desobrigam de referir que são do Técnico, uma escolha de ambos, que volta a fazer sobressair as várias semelhanças que os unem para além do óbvio. “O número do Técnico era aquele de que o meu pai se lembrava sempre, eu sentia a admiração com que ele falava da sua passagem por cá, e percebia que aquilo era o que queria para mim”, relembra o filho, quando questionamos a influência que o pai tivera na escolha, que acabou por propagar-se aos seus dois irmãos. Apesar de considerar que não os influenciou diretamente, Ricardo Nunes sabe que foram diversas as histórias e os elogios que partilhava sobre a instituição: “O Técnico molda as pessoas. Se amanhã me disserem que eu tenho de fazer isto e aquilo, eu faço, mesmo que não saiba, eu procuro aprender. Não me assusta!”, declara. Seguidas as pisadas do pai rumo ao Técnico, Ricardo O. Nunes optou por divergir

no curso, e escolheu Engenharia Eletrotécnica e Computadores — o pai licenciara-se em Engenharia Mecânica. Ainda assim, e apesar dos anos que separaram as duas experiências, na viagem pelas histórias é fácil encontrar caminhos comuns que o Técnico lhes deu a oportunidade de trilhar. “O Técnico, em todos os seus aspetos, é intenso, pela necessidade de ter de aprender e pela personalidade dos próprios professores, que eram e são bastante intensos e dedicados” refere Ricardo O. Nunes. Entre a passagem pelas recordações das horas de estudo que voavam e o convívio que perdurou na memória e nos laços, encontra-se mais uma semelhança: a intensidade com que ambos viveram os tempos na Escola. Helena Domingues não estudou no Técnico, mas é da casa. E foi nos corredores e pelas pessoas desta casa, onde a mãe trabalha há várias décadas, que Ana Domingues começou a gostar da engenharia: “Ela gostava imenso de estar cá”, relembra a funcionária não docente do Técnico. Com os anos e o interesse da filha pelos “números e pela ciência”, foi percebendo que talvez estivesse a criar uma futura engenheira. “Além do jeito natural para estas áreas, alguns professores do Técnico davam-lhe livros da área, que ela devorava”, relembra. Anos


EN They share the same DNA, the same proper and family name, and such similar smiles that it becomes easy to mix them when they smile simultaneously. That smile might sound like the main likeness between father and son — Ricardo Nunes and Ricardo O. Nunes respectively — but only at first sight, because other similarities quickly become obvious and more remarkable after a few words. They dismiss titles, but do not fail to mention that they attended Técnico, a common choice that brings out, once again, how much they have in common aside what meets the eye. “Técnico’s number was that which my father always remembered, I felt the admiration in his voice when he spoke of his time here, and I realised that this was what I wanted for myself”, the son recalled when we questioned him about the influence his father had had in his choice — which eventually spread to his two brothers as well. Although he thinks that he did not influence them directly, Ricardo Nunes knows he shared plenty of stories and praises about the institution: “Técnico shapes people. If tomorrow someone tells me that I have to do this, I will do it; even if I do not know how, I will learn. It does not scare me!” he says.

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Notwithstanding following his father’s footsteps towards Técnico, Ricardo O. Nunes chose a different course: Electrical and Computer Engineering, while his father had graduated in Mechanical Engineering. Still, despite the years that separate the two experiences, it is easy to find in their stories the common paths Técnico gave them the opportunity to tread. “Técnico is, in all its aspects, intense, because of the need to learn and the personality of the teachers, who were and still are very intense and dedicated”, says Ricardo O. Nunes. Amongst memories of hours of study that flew by and the socialisation that still lives in their memories and relations, there is another similarity: the intensity with which they both lived their time at the School. Helena Domingues did not study in Técnico, but feels at home at the university. And it was in its corridors and with its people, in the place where her mother has worked for several decades, that Ana Domingues began to like engineering: “She loved being here,” her mother, a member of Técnico’s non-teaching staff, recalls. With the years and her daughter’s interest in “numbers and science” she realised that she might be raising a future engineer. “In addition to her natural gift for those areas, some professors gave her books from their subjects, which she devoured,” she adds. Years later, Ana Domingues would enter Técnico as a Physics student, although she had applied for other engineering courses, all in Técnico. Ana Domingues still remembers “the difficulties of the first year” and her mother’s unconditional support: “She knew that it would not be easy but she never doubted I could do it”, emphasises the Técnico alumna. Nowadays, more than 9000 km separate mother and daughter, since her time at the School gave Ana a passport to San Francisco. Despite missing her, Helena Domingues does not regret the moments when she brought her daughter to Técnico: “it is a sign that we were able to raise a citizen of the world, one of those people who work outside their country because they are really good.” For many years, António Bacelar de Sousa wanted to be an historian. The time and knowledge that his father, Miguel Bacelar de Sousa, shared with him in so many ways opened his mind to Engineering. “When I was 14, I started to like computer science. I had a computer at home that was very old and it was getting very slow, and I went as far as I could to try to fix it. “ This passion for programming almost drove him to Computer Engineering, but his father managed to convince him to follow his own course: Computers and Electrical Engineering. “I do not think I influenced his choice; I tried to show him things, the choice was in his hands.” After all, this is what parents do, and when the example is good it is difficult not to follow it. •

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DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

mais tarde, Ana Domingues viria a entrar no Técnico como aluna de Física, ainda que no formulário de candidatura outras engenharias estivessem presentes — mas todas no Técnico. Desses tempos, Ana Domingues ainda recorda “as dificuldades do primeiro ano” e o apoio incondicional da mãe quando as mesmas se fizeram sentir: “Ela já sabia que não seria fácil e nunca duvidou de mim”, frisa a alumna do Técnico. Hoje em dia, mais de 9000 km separam mãe e filha, visto que a passagem pela Escola deu a Ana um passaporte para São Francisco. Apesar das saudades, Helena Domingues não se arrepende das vezes em que a trouxe consigo para o Técnico: “em uma parte boa porque é sinal de que fomos capazes de formar uma cidadã do mundo, pessoas que singram lá fora porque realmente são muito bons”. Durante muitos anos, António Bacelar de Sousa quis ser historiador. O tempo e os conhecimentos que o pai, Miguel Bacelar de Sousa, lhe transmitia foram-lhe abrindo a visão para a engenharia. “Quando tinha os meus 14 anos, comecei a tomar o gosto pela informática. Tinha um computador em casa, já bastante velho e estava a ficar muito lento, e fui até onde foi possível para tentar arranjá-lo”. Esta paixão por programar quase o levou para Engenharia Informática, mas o pai conseguiu convencê-lo a seguir o seu curso: Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. “Não acho que o tenha influenciado, tentei expô-lo às coisas, a escolha estava na mão dele”. Afinal, é isso que os pais fazem, e, quando o exemplo é bom, difícil é não segui-lo. •


ALUMNI

Gerações Técnico Generations of Técnico Histórias de famílias que têm em comum a passagem pelo Técnico e o ímpeto pela engenharia Stories of families have in common attending Instituto Superior Técnico and an impetus for engineering

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PT Maria Amélia Chaves desafiou estereótipos e contornou preconceitos, ousando tornar-se a primeira engenheira portuguesa. “Era uma pioneira, uma apaixonada por aquilo que fazia”, afirma o filho, o engenheiro João Almeida Fernandes, que lhe herdou o ímpeto pela Engenharia Civil, perante o olhar atento dos dois filhos, Pedro e Lourenço Almeida Fernandes, o primeiro engenheiro do ambiente e o segundo também ele engenheiro civil. Além da história que muitos conhecem, os três descendentes têm bem presentes episódios que ajudaram a cimentar a paixão comum pela engenharia: “Lembro-me da minha avó com 90 anos, no terraço dela, depois de já ter perdido uma perna, e a liderar as obras de impermeabilização do prédio onde vivia. E, com este exemplo, só poderíamos querer gostar tanto do que fazíamos como ela.” O engenheiro João Almeida Fernandes sabia que “queria Civil, não sabia se com uniforme militar como o meu pai, ou sem como a minha mãe”. Depois de uma breve incursão na Academia Militar, a mãe convenceu-o a vir para o Técnico. Muitos dos problemas que então lhe eram colocados, já os conhecera nas visitas técnicas em que a acompanhava: “Sentia-me pre-

parado para a exigência porque além de gostar do que estudava, sentia que também aprendia em casa”, recorda o alumnus. Foi também do que ouvia em casa que Pedro Almeida Fernandes percebeu “que, apontasse eu para onde apontasse, havia um valor notório na engenharia”. Contra as expetativas do pai, mas com o apoio da avó, que entendia “o poder de arriscar e seguir a nossa vocação”, optou por um curso recente do Técnico: Engenharia do Ambiente. “Estávamos no início desta grande transformação, onde o fundamental era aprender a aprender e ficar com ferramentas, e acabou por ser uma escolha feliz”, frisa Pedro Almeida Fernandes. “Só muito mais tarde é que percebi que ele tinha feito uma ótima escolha”, interrompe o pai, despertando uma gargalhada geral. Lourenço Almeida Fernandes seguiu a tradição familiar, e, se lhe perguntamos porquê, a resposta é genuína: “A minha escolha na altura foi mais emocional do que racional. Desde pequenino que adorava matemática, era algo que estava na família, e na minha cabeça foi-se formando a ideia de que aquele era o caminho”, justifica o aluno de doutoramento do Técnico. Tal como o irmão, nunca fez questão de “se gabar” do facto de ser neto da


“A minha escolha na altura foi mais emocional do que racional” ~ “My choice was more emotional than rational”

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DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

EN Maria Amélia Chaves challenged stereotypes and overcame prejudices, daring to become the first Portuguese female engineer. “She was a pioneer, she had a passion for what she did”, her son, Engineer João Almeida Fernandes, says before the watchful eye of his two sons, Pedro and Lourenço Almeida Fernandes, the former an environmental engineer and the later also a civil engineer. Besides all that is widely known, the three descendants bear in mind episodes that have helped cementing their shared passion for engineering: “I remember my grandmother in her 90s on her terrace, having already lost a leg, and leading the waterproofing works in the building where she lived. And with this example, we could only wish to enjoy what we did as much as she did.” Engineer João Almeida Fernandes knew that he “wanted to go into civil engineering, but I didn’t know if in military uniform like my father, or without it like my mother”. After a brief foray into the Military Academy, his mother persuaded him to go to Técnico. Many of the problems he faced were already there when he had joined his mother on technical visits: “I felt prepared for the challenge because, besides enjoying what I studied, I felt that I had also learned a lot at home”, the alumnus recalls. It was also from what he heard at home that Pedro Almeida Fernandes noted that “wherever I pointed, wherever I looked, there was a conspicuous value in engineering”. Against the wishes of his father, but with the support of a grandmother who understood “the power there is in risk and in following our vocation”, he opted for a new course at Técnico: Environmental Engineering. “We were at the beginning of this great transformation, the key was learning how to learn and use tools, and it turned out to be a good choice”, Pedro Almeida Fernandes says. “It was only much later that I realised that he had made a great choice”, his father interrupts, and everyone bursts out laughing. Lourenço Almeida Fernandes, in turn, has resumed the “family vocation” of civil engineering, and if we ask him why, the answer is genuine: “My choice was more emotional than rational. Since I was a


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PT primeira engenheira portuguesa, mas não teve grandes hipóteses de ocultá-lo, visto que, “logo no primeiro ano, fizemos um programa com a minha avó, que passou no bar de Civil e ficou logo bastante enunciado”, recorda, com um sorriso que lhe desvenda o orgulho no legado que carrega. O professor António Falcão é o mais novo dos quatro irmãos que entraram no Técnico, e eram de um deles as “construções mecânicas com as quais em miúdo brincava”. Desde cedo que percebeu que não seria a exceção à regra numa família onde até as duas irmãs mais velhas tinham casado com engenheiros do Técnico. Apesar de todas estas ligações, o dia em que entrou como aluno foi o primeiro em que pisou o solo da Escola. Já lá vão 64 anos desde esse dia e, “tirando alguns edifícios, quase tudo é diferente. Há muito mais alunos estrangeiros, a dimensão da escola é outra, nem sequer havia computadores…”, vai enumerando velozmente, detendo-se por vezes em alguns detalhes que lhe marcaram a memória e marcavam os tempos. Além de Marta Líbano Monteiro, aluna do 4.º ano de Engenharia do Ambiente, são mais cinco os sobrinhos-netos do professor António Falcão que frequentam a escola, e, antes deles, já doze sobrinhos haviam escolhido a engenharia como profissão. “Não acho que a minha carreira tenha tido influência nessa escolha”, afirma com humildade o professor emérito do Técnico. A verdade é que, além da paixão e do talento do “tio Tó” — como carinhosamente chama ao professor António Falcão —, Marta cresceu com a “engenharia lá em casa”. “O meu avô também era engenheiro, e eu via a maneira como o meu pai falava das coisas que fazia, e isso influenciou-me, mas não senti qualquer obrigação de seguir o legado”, declara. “Talvez uma ou outra vez eu tenha sugerido que seria uma boa opção”, comenta de seguida, acompanhado de um sorriso, o pai de Marta, o engenheiro Valdemiro Líbano Monteiro, alumnus de Engenharia Eletrotécnica do Técnico. “O meu pai era engenheiro da Carris, vivíamos ao lado da central geradora, crescemos com os trabalhadores de lá, a sonhar saber fazer o mesmo”, narra o engenheiro. O sonho fez-se profissão, e a aprendizagem a melhor memória: “além de me dar a oportunidade de fazer o que gosto, levei desta Escola uma ginástica mental que me abriu muitas portas”, assinala o alumnus. O professor Mário Nina, também alumnus de Engenharia Mecânica, ainda foi aluno do professor António Falcão, e “cresceu a ouvir histórias do Técnico”. O narrador era o seu tio José Castro Nery, que além de alumnus, havia trabalhado de perto com uma das personagens principais dos 117 anos da instituição: o engenheiro Duarte Pacheco. “Olhava para o meu pai e para o meu avô, que eram médicos de sucesso, e olhava para o meu tio engenheiro e sentia que era diferente o que me atraia”, parti-

lha o professor Mário Nina, que acabou por fazer a sua carreira a ensinar engenharia. Foi aliás por pouco que não foi professor do seu filho, Manuel Nina, que ingressa no Técnico em 2002, um ano antes de o pai se reformar. Apesar de ter “aptidão para as ciências”, Manuel Nina confessa que a sua “capacidade matemática era inferior àquela que se pretende para engenharia”, e sabe que ter “um pai engenheiro influenciou completamente a escolha”. Sabia que “só podia vir para o Técnico”, e acabou por seguir a área do pai. “Grande parte dos professores tinham andado comigo ao colo, e isso teve coisas boas e más”, assinala Manuel Nina, lembrando a excelência que tantas vezes lhe foi exigida. Não exerce engenharia, mas, enquanto co-fundador de uma consultora de projetos europeus, trabalha diariamente com ela. “Se eu não tivesse feito o meu curso, seria incapaz de perceber a tecnologia”, declara. E se o questionamos acerca de qual a maior diferença do Técnico que o pai lhe descrevia, aquele que servia de palco para as suas brincadeiras em criança, e o de hoje, é exato na resposta: “O Técnico do meu pai era uma escola de elites sociais, hoje em dia é uma escola de elite intelectuais.” •

“Sentia-me preparado para a exigência porque além de gostar do que estudava, sentia que também aprendia em casa” ~ “I felt prepared for the challenge because, besides enjoying what I studied, I felt that I had also learned a lot at home”to grow further”


Engineering, Professor António Falcão has other five great nephews attending Técnico. Before them, twelve nephews had already chosen engineering as a profession.“I do not think my career has influenced that choice”, the Professor Emeritus of Instituto Superior Técnico says with modesty. The truth is that aside the passion and talent of “Uncle Tó” — as she affectionately calls Professor António Falcão—, Marta grew up with “engineering at home”. “My grandfather was also an engineer, and I saw the way my father talked about the things he did, and that influenced me, but I felt no obligation to follow the legacy”, she says. “Maybe one time or another I suggested that it would be a good option,” Marta’s father, Engineer Valdemiro Líbano Monteiro, comments. He was an Electrical Engineering student at Técnico. “My father was an engineer in Carris. We lived next to the powerhouse. We grew up with the workers there, dreaming of knowing how to do the same”, the engineer says. The dream became a profession, and learning his best memory: “as well as giving me the opportunity to do what I like, the mental gymnastics the School taught me has opened many doors,” the alumnus adds. Professor Mário Nina, a former Mechanical Engineering student, also had classes with professor António Falcão, and “grew

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up hearing stories about Instituto Superior Técnico”. The narrator of these stories was his uncle José Castro Nery, who, besides being a student at Técnico, worked with one of the main characters in the institution’s 117 years: Engineer Duarte Pacheco. “My father and grandfather were successful doctors, but I looked at my uncle, who was an engineer, and I felt that what attracted me was different”, Professor Mario Nina, who ended up making his career teaching engineering, shares. In fact, he was not his son’s teacher by a close call. Manuel Nina joined Instituto Superior Técnico in 2002, a year before his father retired. Despite being “apt for the sciences,” Manuel Nina confesses that his “mathematical ability was below what was required for Engineering”, and for that reason having “a father who was an engineer completely influenced his choice”. He knew that “he could only end up at Instituto Superior Técnico” and eventually followed his father’s steps. “A lot of my teachers had carried me when I was a child, and this was both good and bad”, Manuel Nina confesses, remembering the excellence that has often been demanded of him. He ended up never practicing engineering, but as co-founder of an consulting company that works with European projects, he works with it on a daily basis. “If it had not been for my academic background, I would never be able to understand technology”, he says. And if we question him as to what is the greatest difference between the Técnico his father told him about, the one which was his playground as a child, and that of today, he is accurate in his response: “My father’s Técnico was a school for social elites, nowadays it is a school for intellectual elites.” •

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w child, I adored mathematics. It was something that ran in the family, and I had the idea in my head that this was my path”, the doctoral student at Técnico justified. Like his brother, he never bothered to “boast” about being the grandson of the first Portuguese female engineer, but he had no great chance of hiding it, since “in the first year we took a program with my grandmother, who went to the Civil cafeteria and it was immediately clear,” he recalls with a smile that shows his pride in his legacy. Professor António Falcão is the youngest of four brothers who studied at Técnico. From an early age, he realised that he would not be the exception to the rule in a family where even his two older sisters had married engineers. Despite all these connections, the day he became a student was the first day he stepped onto the school grounds. Sixty-four years have gone by since that day and “except for a few buildings, almost everything is different. There are a lot more foreign students, the size of the school is different, at the time there weren’t even computers…”, he enumerates quickly, dwelling, every now and again, on some details that stayed in his memory and were a sign of those times. In addition to Marta Líbano Monteiro, a student in her 4th year in Environmental

“Além de me dar a oportunidade de fazer o que gosto, levei desta Escola uma ginástica mental que me abriu muitas portas” ~ “As well as giving me the opportunity to do what I like, the mental gymnastics the School taught me has opened many doors”


ENTREVISTA/INTERVIEW

“ É de família ser doTécnico” “ Attending Técnico runs

in the family”

Uma entrevista que se tornou uma conversa; muitas histórias, diversas influências e também algumas coincidências; dois denominadores comuns: o Técnico e o sangue Many stories, many influences and also some coincidences; two common denominators: Técnico and blood

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PT Na casa dos Macedo e Cunha, é “de família ser do Técnico”, como nos diz o patriarca em tom de brincadeira .Poucas semelhanças estão nos muitos anos que separam estas quatro gerações, une-os a exigência e o gosto pela mesma. Luís Macedo e Cunha (LMC) estudou Engenharia Mecânica no Técnico, onde mais tarde se tornou professor assistente. A paixão pelos “desafios da indústria” fê-lo, depois, largar a docência para dedicar-se à sua empresa. Dois dos três filhos seguiram-lhe os passos rumo ao Técnico: Gonçalo (GMC) tirou Engenharia e Gestão Industrial e Inês (IMC) Engenharia Biológica. A outra filha seguiu Gestão, mas o Técnico seguiu-a à mesma, acabando por casar com um alumnus de Engenharia Eletrotécnica, Pedro Braga (PB). A filha mais velha de ambos, Madalena (MB), é aluna da Escola, e talvez para o ano o mais novo se junte a esta dinastia — afinal, “engenheiros nunca são demais”. Acredito que o Técnico seja um assunto assíduo nas vossas conversas. Que diferenças trouxe o tempo a uma escola que é comum a todos? LMC - Devo começar por dizer que tenho muito boa impressão da escolha que fiz. Na altura, os cursos ainda eram de seis anos, e

“A exigência era outra, os horários eram outros, o rigor era obrigatório, mas isso preparoume muito bem” ~ “The demands were different, the schedules were different, rigor was mandatory, but that prepared me very well”

EN In the Macedo and Cunha household “attending Técnico runs in the blood”. Only a few similarities can be found throughout the many years that separate these four generations, but what unites them is excellence and the taste for it. Luís Macedo e Cunha (LMC) studied Mechanical Engineering at Instituto Superior Técnico, where he later became an assistant professor. A passion for the challenges of industry lead him to drop teaching in order to devote himself to his business. Two of his three children followed in his footsteps and went into Técnico: Gonçalo (GMC) followed with Engineering and Industrial Management and Inês (IMC) chose Biological Engineering. Another daughter studied management, but Técnico followed her all the same: she eventually married an Electrotechnical Engineering alumnus, Pedro Braga (PB). Their eldest daughter, Madalena Braga (MB), is a student at the School, and perhaps next year the youngest sibling will join this dynasty — after all, “you can never have too many engineers.” I reckon Técnico is a regular topic in your conversations. What differences has time brought to a school that all of you have in common? LMC - I should begin by saying that I think


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PT eram muito exigentes… e eu ia para as aulas vestido de fato e gravata. Quanto ao estudo propriamente dito, não havia máquinas de calcular sequer, computadores eram coisas de outra dimensão. A exigência era outra, os horários eram outros, o rigor era obrigatório, mas isso preparou-me muito bem. Na minha empresa, eu era especialista em tudo e sentia-me apto para tal. Ah e raparigas, havia uma no meu curso, a corajosa… (risos) PB – Eu entrei em 1985, e o Técnico era muito diferente daquilo que é hoje, certamente! Não tinha as torres, tínhamos aulas em pavilhões que estavam completamente degradados, mas íamos fazendo o curso. Havia um bom espírito de camaradagem e acho que isso se mantêm. Raparigas no meu curso, havia duas ou três. MB - Bom, as coisas estão diferentes. Se os meus colegas chegassem às aulas de fato e gravata, seria deveras estranho, pensaria que tinham ido a um casamento ou algo do género. (risos) Somos milhares de alunos, raparigas em todos os cursos e cada vez mais a mostrar o que valem… A exigência, por sua vez, mantém-se.

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E essa exigência transversal ao tempo é a melhor herança que se pode receber do Técnico? IMC - Quando a Madalena estava a escolher o curso, disse-lhe que, pela minha experiência profissional, trabalhando com engenheiros de várias universidades, eu denoto que os do Técnico estão mais bem preparados para o ritmo de trabalho de uma empresa. PB - Prepara-nos claramente para muitas coisas que temos de enfrentar hoje em dia. Tenho uma empresa por conta própria e, quando faço recrutamento, sou muitas vezes acusado de dar preferência aos candidatos do Técnico. De facto, têm uma capacidade de resolução dos problemas diferente, e isso é uma vantagem. GMC - Do Técnico, a exceção é quando eles não vêm bem preparados. É essa preparação o que de melhor se traz na bagagem? LMC – Também. Mas eu diria que a camaradagem é extraordinária. Com os meus colegas, quer enquanto aluno quer enquanto professor, tive um relacionamento muito agradável. MB - Acho que o Técnico nos prepara de uma maneira diferente, e de uma maneira melhor, e essa exigência liga as pessoas.

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Há espaços, professores, episódios que com certeza pautaram o vosso percurso. Falem-nos um pouco disso. PB - Havia professores claramente excecionais. Tínhamos a clara sensação de que não só havia pessoas que sabiam daquilo “a potes”, como gostavam verdadeiramente de ensinar — professores fora de série, que nos inspiraram enquanto profissionais. LMC - As minhas memórias também me remetem para isso. Nas cadeiras principais, os professores eram geniais. Apesar de, na mi-

nha altura, haver um maior distanciamento entre os professores e os alunos, era apaixonante ver como ensinavam. GMC – Sem dúvida! Já em termos de espaços, quando penso no Técnico, ocorre-me a esplanada de Civil. (risos) Como se fala do Técnico às futuras gerações? LMC - Fiquei muito feliz por a minha neta ir para o Técnico. Dá-me um certo descanso saber que ela vai ter uma boa formação, qualquer avô quer isso. IMC - Quando a Madalena, além de decidir ir para o Técnico, decidiu ir para o mesmo curso que eu, fiquei com algum receio de ter influenciado a escolha… Lembro-me de que lhe disse com orgulho que qualquer curso do Técnico lhe abriria imensas portas, para ela aproveitar isso, porque é diferenciador. GMC – Outro detalhe importante também é que há alunos do Técnico em todo o lado e isso é ótimo. Lembro-me de que, quando ia às primeiras entrevistas de emprego, encontrava muitas vezes alguém de lá, e isso era terrivelmente bom. Haver uma história em comum, uma forma de pensar muito idêntica, por detrás das pessoas que nos entrevistam é sempre uma vantagem. Quando saíram, imaginaram que o Técnico seria aquilo que é hoje? LMC - Sempre acreditei no Técnico; em relação à quantidade de alunos, talvez não es-

tivesse perto de imaginar. Como me sentia com uma boa formação, sentia o peso que o Técnico tinha em mim, sentia que outros sentiriam o mesmo e isso propaga-se. Acho que somos um bom exemplo de que os melhores promotores da história e qualidade do Técnico são os alunos. MB – Eu ainda não saí, mas consigo imaginar que, no futuro, o Técnico continue a crescer. Há muita gente a querer ajudar a construir o mundo. •

“Dá-me um certo descanso saber que ela vai ter uma boa formação, qualquer avô quer isso” ~ “I feel better knowing that she will get a good training. That’s what every grandfather wishes”


DÉBORA RODRIGUES / TÉCNICO

“Do Técnico, a exceção é quando eles não vêm bem preparados” ~ “From Técnico, the exception is when they do not come well prepared”

And is this demand for excellence throughout time the best inheritance one gets from Técnico? IMC – When Madalena was choosing her program, I told her that, from my professional experience working with engineers from several universities, I would say that the ones from Técnico are better prepared for the pace of work within a company. PB – It clearly prepares us for many things we have to face today. I have my own company and when I recruit I am often accused of giving preference to Técnico candidates. In fact, they have a different problem-solving ability, and that’s an advantage. GMC –From Técnico, the exception is when they do not come well prepared. Is that the best thing coming out of it? LMC - Yes, that too. But I would say that the camaraderie is extraordinary. I had a very pleasant relation with my colleagues both as a student and as a teacher. MB- I think Técnico prepares us in a different way, and in a better way, and this demand for excellence binds people. There are places, teachers, events that certainly set your course. Tell us a little about it. PB - There were clearly exceptional teachers. We felt that not only did they know loads about their stuff, they loved teaching too… Outstanding teachers who inspired us as professionals.

When you left, did you imagine Técnico would be what it is today? LMC - I always believed in Técnico; however, I might not have imagined the current amount of students. As I received a good training, I was aware of the importance Técnico had for me. I thought others would feel the same and word would be spread. I think we are a good example of how the best promoters of Técnico’s history and quality are its students. MB - I am still studying, but I can imagine that Técnico will continue to grow in the future. There are a lot of people falling in love with this thing of doing things, of helping to build the world. •

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EN I made a rather good choice. At the time, the courses were still six years long, and they were very demanding… I would go to class wearing a suit and tie. As for the studies as such, there were no calculating machines at all, computers were things from another dimension. The demands were different, the schedules were different, rigor was mandatory, but that prepared me very well. In my company I was a specialist in everything and I felt I was prepared for it. Ah and girls, there was only one in my course, and wasn’t she a brave one... (laughs) PB - I joined Técnico in 1985, and it was very different from what it is today, certainly! The towers did not exist, we had classes in pavilions that were completely degraded, but our program moved forward. There was a good spirit of camaraderie and I think that still holds true today. There were two or three girls in my course. MB - Well, things are different now. If my classmates were to enter class in a suit and tie, it would be weird. I’d think they’d gone to a wedding or something. (laughs) We are thousands of students, there are girls in all courses and they’re increasingly showing what they’re worth… The demand for excellence is the same.

What can you tell future generations about Instituto Superior Técnico? LMC - I am very happy that my granddaughter is attending Técnico. I feel better knowing that she will get a good training. That’s what every grandfather wishes. IMC - When Madalena, in addition to deciding to go to Técnico, decided to go into the same program as me, I feared I could have influenced the decision… I remember that I told her with pride that any program at Técnico would open a lot of doors for her because it is a differentiator. GMC - Another important detail is that Técnico students are everywhere, and that is very good. I remember my first job interviews, and often there was someone from Técnico, which was just great. Sharing a story and a similar way of thinking with the interviewer is always an advantage.

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LMC - That’s how I remember it too. Those teaching the main courses were absolute geniuses. Although there was a greater distance between teachers and students in my time, it was exciting to see how they taught. GMC - No doubt about it! On the other hand, in terms of places, when I think about Técnico the first thing that comes to mind is Civil’s cafeteria. (laughs)


PESSOAS/PEOPLE

Manuel Francisco Pereira

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De aluno do Técnico, passou a docente, e é um apaixonado pela história do Técnico / He went from being an IST student to become an IST teacher; is passionate about Técnico’s history.

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Memória/Memory

Qualidade/Quality

Futuro/Future

PT “Entrei em 1983, e tinha a possibilidade de escolher qualquer curso. Gostei muito do curso, mas, como qualquer aluno, tive as minhas crises. O currículo era muito vasto e exigente. As estruturas eram muito deficientes, tínhamos aulas em barracões préfabricados, que ficaram na memória de muitas gerações. ”

PT “Atualmente, o Técnico é uma escola muito rica. Enquanto professor, percebo que há uma maior dificuldade em agarrar os alunos. No geral, penso que a grande diferença é que a Escola está mais humana comparativamente àquela que eu vivi. As coisas têm mais qualidade, há muita gente a pensar no sucesso dos alunos.”

PT “O futuro constrói-se muito com o passado, e é importante não esquecer quem é que fez a história desta Escola. É com ela que percebemos até onde é que chegamos de uma forma segura e concertada. Um bom futuro nunca pode desligar-se do passado, e os alunos precisam de envolver-se nisso.”

EN “I was admitted in 1983, and could have chosen any course. I really enjoyed the course, but, just like any other student, I had my own crises. The curriculum was very vast and demanding. The infrastructure was quite poor. We attended classes in prefabricated sheds, which became a long-lasting memory for many generations.”

EN “Nowadays, Instituto Superior Técnico is a very rich school. As a teacher, I realise it is more difficult to capture the students’ interest. Overall, I think the main difference is that the School is more humane than when I was a student. There is more quality involved, there are many people thinking about the students’ success.”

EN “The future builds on the past, and we should never forget the people who were the makers of this School’s history. It is history that makes us realise how far we have come, in a secure and structured manner. A solid future can never be cut off from the past, and students must also engage in this.”



VALORES PRÓPRIOS REVISTA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO MAGAZINE 2018

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