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Deficiência de ferro PERSPECTIVA
DEFICIÊNCIA DE FERRO
A ANEMIA É DEFINIDA PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) COMO A CONDIÇÃO NA QUAL O CONTEÚDO DE HEMOGLOBINA NO SANGUE ESTÁ ABAIXO DO NORMAL, COMO RESULTADO DA CARÊNCIA DE UM OU MAIS NUTRIENTES ESSENCIAIS. PODE SER CAUSADA POR DEFICIÊNCIA DE VÁRIOS NUTRIENTES, COMO FERRO, ZINCO, VITAMINA B12 E PROTEÍNAS.
Dra. Natália Mendes Maia
Licenciada em Nutrição pela Universidade do Oeste Paulista em Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. Co-fundadora da DUONUTRI – Consultoria Nutricional
Aanemia causada por deficiência de ferro, denominada de anemia ferropriva, é muito mais comum que as demais (estima-se que 90% das anemias seja causado por carência de ferro). Este é um nutriente essencial para a vida e actua, principalmente, na fabricação das células vermelhas do sangue e no transporte do oxigénio para todas as células do corpo. De acordo com a OMS, a anemia é um grave problema de saúde que leva, inclusive, a impactos sociais e económicos, porque, além de afectar o desenvolvimento cognitivo e motor de crianças, também causa fadiga e redução na produtividade em adultos. Além disso, quando ocorre durante a gravidez, pode relacionar-se com baixo peso ao nascer dos recém-nascidos e pode aumentar a mortalidade materna e perinatal. Apesar de estar distribuída globalmente, com cerca de um terço da população mundial a ser atingida, a anemia ainda é uma doença que acomete, principalmente, países em desenvolvimento e de menor poder económico. Os sintomas da anemia não são específicos, sendo necessário exames bioquímicos de sangue para que seja confirmado o diagnóstico. Os principais são cansaço generalizado, falta de apetite, palidez da pele e mucosas (parte interna do olho e gengivas), menor disposição para o trabalho, dificuldade de aprendizagem nas crianças e apatia (crianças muito “paradas”). A prevalência de anemia, em 2011, para crianças de seis a 59 meses da região africana da OMS, foi de 62%. Tunísia, Líbia, Argélia, Marrocos, Seychelles e Ruanda tiveram as prevalências mais baixas em África (29%–38%); seguidas pela África do Sul, Botswana, Djibuti, Egipto, Quénia, Namíbia, Etiópia e Madagáscar (41%–50%); Angola, Uganda, Somália, Zâmbia, Eritreia, São Tomé e Príncipe, Sudão, Zimbabwe, Cabo Verde e Gabão (51%–60%); Tanzânia, Camarões, Benim, Congo, Gâmbia, Malawi, Moçambique e República Democrática do Congo (61%–67%) e os demais países do continente tendo a maior prevalência (71%-86%). Em Angola, os dados mais recentes sobre a prevalência de anemia em crianças menores de cinco anos são preocupantes. Além disso, há falta de relatos sobre os principais factores associados e não há intervenções especificamente projectadas para abordá-lo. A pesquisa nacional de múltiplos indicadores, realizada entre 2015 e 2016, relatou que 65% das crianças de seis a 59 meses eram anémicas, com prevalência maior em crianças de seis a 11 meses e maior gravidade em crianças de 12 a 17 meses. A anemia tem sido associada à desnutrição (responsável por 13% dos casos), mas também está frequentemente associada a infecções, tornando a sua prevalência indicativa de um sério problema de saúde pública.
EM ANGOLA, OS DADOS MAIS RECENTES SOBRE A PREVALÊNCIA DA ANEMIA EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS SÃO PREOCUPANTES. ALÉM DISSO, HÁ FALTA DE RELATOS SOBRE OS PRINCIPAIS FACTORES ASSOCIADOS E NÃO HÁ INTERVENÇÕES ESPECIFICAMENTE PROJECTADAS PARA ABORDÁ-LO. A PESQUISA NACIONAL DE MÚLTIPLOS INDICADORES, REALIZADA ENTRE 2015 E 2016, RELATOU QUE 65% DAS CRIANÇAS DE SEIS A 59 MESES ERA ANÉMICO, COM PREVALÊNCIA MAIOR EM CRIANÇAS DE SEIS A 11 MESES E MAIOR GRAVIDADE EM CRIANÇAS DE 12 A 17 MESES
O tratamento da anemia ferropriva baseiase na reposição de ferro por via oral, na orientação nutricional para consumir alimentos fonte desse micronutriente e na identificação da etiologia da anemia.
Em relação à alimentação, é possível obtê-lo de três fontes: • Animal: carnes vermelhas, principalmente, fígado de qualquer animal e outras vísceras (miudezas), como rim e coração, carnes de aves, peixes e mariscos; • Vegetal: folhosos verde-escuros, como gimboa, kizaca, rama, couve, salsa, as leguminosas (feijões, soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha), grãos integrais, nozes e castanhas, sempre acompanhados de uma boa fonte de vitamina C, para que haja absorção do ferro não-heme; • Alimentos fortificados: alimentos enriquecidos com ferro (além de outras vitaminas e minerais), como farinhas de trigo e milho, cereais matinais, leites, entre outros.
É necessário, também, que se reforce o estímulo ao aleitamento materno exclusivo, nos primeiros seis meses de vida, bem como o aleitamento complementar até aos dois anos. Também é necessário evitar o consumo de leite e derivados e outros factores antinutricionais próximo das refeições do paciente anémico, orientar adequadamente o início da alimentação complementar, realizar o aconselhamento dietético por um nutricionista para orientar as famílias e avaliar adequadamente os grupos de risco para anemia ferropriva, como os vegetarianos e crianças menores de um ano que recebem o leite de vaca in natura ou a fórmula inadequada, pois nesses grupos há a necessidade de avaliar, de modo precoce, a suplementação de ferro. Sobre as estratégias de implementação dos programas de fortificação dos alimentos, em muitos países, dispõe-se de poucas evidências da sua melhora na população, tanto pela falta de produção de dados, como pela não consolidação dos programas no que concerne à regulamentação, implementação, insumos e fiscalização.
FONTES: Fançony et al. Iron deficiency anaemia among 6-to-36-month children from northern Angola, 2020, BMC Pediatrics
INE M, MPDT. Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015–2016, Luanda - Angola. Instituto Nacional de Estatística (INE), Ministério da Saúde (MINSA), Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial (MPDT); 2017.
Batista Filho, M.et al. Anemia como problema de saúde pública: uma realidade actual, Ciência & Saúde Colectiva, 13(6):1917-1922, 2008.
Em Angola, 65% das crianças com menos de 5 anos têm alguma forma de anemia, de acordo com o Inquérito de Indicadores Múltiplos e Saúde (IIMS) 2015-2016. A anemia também é considerada uma das principais causas de internamento em unidades de saúde, por estar associada à malária, que é a principal causa de morbimortalidade no país, exigindo elevados recursos humanos e nanceiros.
Reconhecemos que uma estratégia de impacto para prevenção da doença passa pela promoção de programas de educação nas escolas (sessões de consciencialização), uma vez que as crianças e mulheres adolescentes fazem parte do grupo de risco. A iniciativa VIVER FORTE COM FERRO convida pro ssionais da saúde, académicos, entidades público-privadas e a sociedade, em geral, a considerarem a alimentação como solução para este problema, sendo que, para isso, as pessoas devam conhecer o valor dos alimentos e saber quais as fontes de ferro.
Os parceiros envolvidos nesta iniciativa têm nas suas agendas a criação de valor partilhado como forma de apoiar as comunidades onde operam. O envolvimento nesta iniciativa é, sem dúvida, a con rmação de que juntos podemos melhorar a qualidade das famílias, através da educação dirigida à comunidade, (promovendo a re exão sobre o protagonismo da alimentação saudável na atenção à saúde), quer através de programas de TV, rádio, sessões nas escolas, webinars para alunos e pais, cuidadores, entre outras partes interessadas.
Faça parte desta iniciativa e junte-se a nós. Uma acção conjunta:
A PRESIDENTE DO COLÉGIO DE ESPECIALIDADE DE PEDIATRIA, DRA. LILIANA ARAGÃO, FALA-NOS DA IMPORTÂNCIA DOS SUPLEMENTOS VITAMÍNICOS PARA COLMATAR EVENTUAIS CARÊNCIAS DE NUTRIENTES, DE FORMA A TORNAR-NOS, CADA VEZ MAIS, SAUDÁVEIS. Dra. Liliana Aragão
Médica Pediatra. Chefe do internamento de Pediatria da Clínica Sagrada Esperança. Presidente do Colégio de Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos de Angola
Oque é um multivitamínico e qual a sua diferença face aos medicamentos? Multivitamínicos são compostos orgânicos essenciais para a manutenção das funções metabólicas e crescimento normal do organismo. Consistem numa combinação de diferentes vitaminas, que estão normalmente presentes em alimentos e outras fontes naturais. A principal diferença entre um suplemento vitamínico e um medicamento é a sua finalidade de uso. Um suplemento tem como finalidade complementar a alimentação de pessoas saudáveis, com nutrientes ou outras substâncias, quando há falta na dieta ou um aumento da necessidade diária, mas não cura deficiências de vitaminas e minerais, apenas ajuda na prevenção. Já os medicamentos possuem finalidade terapêutica ou medicamentosa comprovada.
Aludindo à celebração do Dia Internacional da Malária, na sua opinião, qual a importância dos multivitamínicos para a manutenção de um corpo saudável? As vitaminas são nutrientes essenciais à vida. O organismo humano é incapaz de as sintetizar, tendo de as receber, em quantidades suficientes, através de uma alimentação equilibrada. O deficiente aporte tem como consequência a presença de patologias associadas às carências de micronutrientes, como a anemia, principalmente em crianças com baixo nível socioeconómico. A malária pode agravar a anemia carencial prévia, cursando com complicações fatais.
Sabemos que a nutrição assume uma importância extrema, especialmente em faixas etárias mais novas, como na infância e adolescência. Sabemos também que a nossa alimentação está longe de ser a mais adequada, muito também devido aos estilos de vida que adoptámos. Na sua opinião, qual a importância de um multivitamínico nestas faixas etárias? A faixa etária pediátrica representa um grupo de grande vulnerabilidade para deficiências de macro e micronutrientes, em consequência do rápido crescimento e desenvolvimento, principalmente, nos primeiros mil dias de vida, que incluem o período da gestação e os dois primeiros anos de vida. Esse período crítico do neurodesenvolvimento é dependente da oferta de nutrientes específicos, cuja deficiência pode afectar a habilidade cognitiva e aumentar o risco para a ocorrência de doenças crónico-degenerativas, a longo prazo. Por isso, intervenções preventivas, nesse período, são fundamentais para garantir a oferta nutricional ideal para uma vida saudável e produtiva.
A malária e a desnutrição estão intimamente relacionadas. Com o aumento dos casos de malária, reduzir os de desnutrição é fundamental. Na sua opinião, a nossa população e os nossos profissionais estão conscientes desta importância?
Existem muitos factores envolvidos no aumento das taxas de morbimortalidade, tanto para a desnutrição quanto para a malária, sendo que a maioria ultrapassa a simples necessidade de tomada de consciência da situação, quer pelos profissionais de saúde, como pela população. Citando algumas, temos as condições socioeconómicas e o deficiente saneamento básico. Precisamos todos de promover mais as medidas de prevenção para tais patologias, aumentando, dessa forma, a protecção dos grupos de risco.
Quais os principais défices nutricionais com que nos deparamos em Angola? De acordo com o cálculo do estado nutricional nas crianças, segundo os índices antropométricos Estatura/ Idade, Peso/Estatura e Peso/Idade, são identificados défices aqueles que pretendam fazer suplementação? Suplementar ou não suplementar, eis a questão... Este é um tema amplamente discutido na nossa especialidade e ainda sem respostas absolutas. Em crianças com doenças crónicas, que muitas vezes cursam com a subnutrição, a suplementação tem critérios bem mais claros. Entretanto, em crianças “saudáveis”, a questão é complexa, pois, em teoria, se recebe uma dieta adequada não necessita de suplementação. Mas isso não é uma verdade absoluta, dependendo do tipo de dieta, do local onde vive e das suas actividades. Por exemplo, no caso dos lactentes em aleitamento materno exclusivo, a qualidade desse leite sofre grande influência da dieta materna. O multivitamínico tem como propósito oferecer várias
vitaminas e alguns tipos de minerais, inclusos numa única fórmula, e, assim, contribuir para melhorias no organismo.
Qual é o papel dos multivitamínicos na prevenção da anemia, que também é um flagelo em Angola? Que formulação aconselha? A anemia por deficiência de ferro é a mais comum das carências nutricionais, com maior prevalência em crianças, principalmente, nos países em desenvolvimento. Crianças com idade entre seis e 24 meses apresentam risco duas vezes maior para desenvolver a doença do que as crianças maiores. É considerada um sério problema de saúde pública, pois a anemia pode prejudicar o desenvolvimento mental e psicomotor, causar o aumento da morbidade e mortalidade materna e infantil, além da queda no desempenho do indivíduo no trabalho e redução da resistência às infecções. Os multivitamínicos, minerais e oligoelementos contribuem para a adição concomitante de ferro e folato e a suplementação para grupos considerados de risco. A formulação recomendada será aquela que for capaz de suprir a suplementação vitamínico-mineral, pois, tradicionalmente, as vitaminas A e D e os minerais iodo, zinco e ferro estão associados às maiores deficiências, consideradas de elevado impacto social e priorizadas pela OMS em todo o mundo.
maioritariamente relacionados ao Peso/Estatura. Crianças com défices nutricionais são mais propensas a infecções graves e a mortes por diarreia, sarampo, pneumonia e malária. As que sobrevivem podem ter o sistema imunológico debilitado e desenvolver um círculo vicioso de infecções recorrentes e de desnutrição. Além disso, podem apresentar rendimento escolar deficiente e estão expostas ao maior risco de desenvolver doenças crónicas na vida adulta.
A avaliação do estado nutricional das crianças e da população é uma emergência, especialmente no sul do país, onde os casos de desnutrição são maiores. Quais as vantagens da educação da população para a suplementação alimentar? São inúmeras essas vantagens, desde a orientação para a promoção do aleitamento materno como primeira escolha alimentar do bebé. É consenso mundial que o aleitamento materno é uma forma inigualável para prover a nutrição ideal para o crescimento e desenvolvimento. Como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde a sala de parto até aos dois anos de vida, ou mais, devendo ser exclusivo nos primeiros seis meses, seguido da introdução gradual da alimentação complementar, suplementada com multivitamínicos sempre que se justifique.
É importante esclarecer que os suplementos não são todos iguais. Qual é o melhor conselho que, enquanto profissional de saúde, pode dar para todos
TEMA DE CAPA NOTÍCIA QUASE METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL SOFRE DE MÁ NUTRIÇÃO
DE ACORDO COM O “RELATÓRIO DE NUTRIÇÃO GLOBAL”, QUASE 150 MILHÕES DE CRIANÇAS, COM MENOS DE CINCO ANOS, SOFREM DE ATRASOS DE CRESCIMENTO E MAIS DE 45 MILHÕES SÃO MAGRAS DEMAIS. EM CONTRAPARTIDA, QUASE 40 MILHÕES ESTÃO ACIMA DO PESO. A ESTE RITMO, O MUNDO NÃO CONSEGUIRÁ ALCANÇAR OITO DAS NOVE METAS DE NUTRIÇÃO ESTABELECIDAS PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), PARA 2025. Entre estas metas está a redução do emagrecimento das crianças (quando são magras demais para a sua altura) e os atrasos de crescimento (muito pequenas para a idade), bem como a obesidade adulta, já que o estudo revela que mais de 40% dos homens e mulheres, o equivalente a 2,2 mil milhões de pessoas, estão com sobrepeso ou são obesos. “Os resultados globais mostram que as nossas dietas não melhoraram, nos últimos 10 anos, e agora são uma grande ameaça à saúde das pessoas e do planeta”, disse, à Agência FrancePresse (AFP), a Dra. Renata Micha, presidente do grupo de especialistas independentes que elaborou o relatório.
Mortes evitáveis
O estudo indica que, desde 2010, as mortes evitáveis, devido a dietas pouco saudáveis, aumentaram 15%, representando, agora, um quarto de todas as mortes entre adultos. As pessoas não estão a consumir as quantidades recomendadas de alimentos que promovem a saúde, como as frutas e os vegetais.
REPORTAGEM DETECTAR PARA MELHOR TRATAR A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO
ACTUALMENTE, HÁ PATOLOGIAS EM ANGOLA QUE SÃO CAUSA DE ELEVADA MORTALIDADE E MORBILIDADE, COMO A TUBERCULOSE, O HIV E A COVID-19, ONDE A EXISTÊNCIA DE UM DIAGNÓSTICO PRECOCE É, DE SOBREMANEIRA, IMPORTANTE. PARA CONHECER OS PRINCIPAIS DESAFIOS NO FUTURO DO DIAGNÓSTICO EM ANGOLA, E PARA ASSINALAR O RELANÇAMENTO DESTA ÁREA NA AUSTRALPHARMA, NO PASSADO DIA 17 DE MARÇO, FOI REALIZADO, COM O APOIO DA TECNOSAÚDE, O EVENTO “DIAGNÓSTICO EM ANGOLA DO PRESENTE PARA O FUTURO”, QUE ABORDOU DIVERSOS TEMAS NESTA ÁREA E QUE CONTOU COM A PRESENÇA DE REPRESENTANTES DO MINSA, DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA, INIS E ORDEM DOS FARMACÊUTICOS DE ANGOLA, ENTRE OUTRAS ENTIDADES.
Damião Victoriano, director clínico do Complexo Hospitalar Cardeal D. Alexandre Nascimento e Luísa Araújo, coordenadora da área de diagnóstico internacional da Quilaban
Mais de 85 pessoas assistiram presencialmente a este evento promovido pela Australpharma, às quais se juntaram cerca de 200 à distância, através da Internet, com a cobertura de meios de comunicação conceituados, como a RTP África e a Televisão Pública de Angola. Na sessão de abertura, o Dr. Marco Correia, director geral da Australpharma, sublinhou que é objectivo da empresa, que sempre foi reconhecida por apresentar soluções de qualidade e inovadoras na área, voltar a aproximar-se do diagnóstico clínico, no seguimento dos desafios que lhe foram propostos pelos próprios parceiros. “Nos últimos dois anos, trabalhámos na adaptação de um novo armazém, exclusivamente dedicado à área do diagnóstico. São mais de 300 metros quadrados de área de armazenamento, uma zona segregada com mais de 20 metros quadrados de área técnica, onde os nossos técnicos poderão fazer todas as manutenções e reparações dos equipamentos dos nossos clientes e parceiros, com todo o processo logístico definido, de acordo com as melhores práticas de distribuição aplicadas ao sector, e com uma equipa de especialistas dedicada, não só em Angola, mas também em Portugal, com a nossa empresamãe, com os nossos parceiros na África do Sul, na Índia e nos Estados Unidos da América, que vai trabalhar diariamente para poder ajudar na solução das necessidades e problemas dos nossos clientes. A partir deste evento, estaremos fortemente no mercado do diagnóstico em Angola”, garantiu.
As melhores soluções
A decisão de regressar à área de diagnóstico foi tomada no final de 2019 e nem a pandemia de Covid-19 demoveu a Australpharma de avançar com este projecto. Até porque como referiu Luísa Araújo, coordenadora da área de diagnóstico internacional da Quilaban, trata-se de uma área que é trabalhada pela empresamãe da Australpharma há mais de 40 anos, reunindo uma vasta experiência e um conjunto de parceiros que a acompanham desde esse momento. Nesse sentido, o relançamento da área de diagnóstico em Angola far-se-á com a introdução de novos produtos e de uma permanente preocupação de adaptar as soluções ao mercado angolano e às necessidades dos parceiros no terreno. “Queremos ser um parceiro global em Angola em tudo o que se relaciona com o laboratório. Na área dos consumíveis, é muito importante a recolha da amostra, uma vez que uma boa amostra vai condicionar todos os resultados. Daí querermos ter consumíveis de recolha de amostras. Trabalhamos já na área de hematologia, de bioquímica, da microbiologia, da serologia, temos alguns equipamentos de ‘point of care’ e trabalhamos a área da imunologia. Mas queremos ir ainda mais longe. Queremos trazer para Angola o que de melhor há na área de diagnóstico, por isso, estamos a explorar a área da biologia molecular e da sequenciação genética, que é uma novidade no país”, detalhou Luísa Araújo.
Marco Correia, director geral da Australpharma
De facto, a Covid-19 fez pensar um pouco mais no diagnóstico molecular, nomeadamente, na questão da sequenciação, mas esta tem muitas outras aplicações. “A Covid-19 foi um desafio enorme para o país e mostrou a importância da capacidade de resposta dos nossos laboratórios face ao acontecimento, elevando a fasquia dos mesmos e deixando portas
abertas para novas soluções de diagnóstico. Não foi fácil, de início, mas com a perseverança e a dedicação colocada em cada dia conseguimos dar uma resposta rápida face à Covid-19, que também mostrou a importância do diagnóstico molecular, aplicado a esta e outras patologias”, destacou
Cláudia Lázaro, coordenadora da área de diagnóstico na Australpharma. Sabendo-se que as principais causas de morte em Angola são as doenças cardiovasculares, respiratórias, desordens neonatais e maternas, o HIV, doenças entéricas, o cancro, a malária, doenças tropicais negligenciadas e outras doenças infecciosas, a sequenciação, tema importante para detectar agentes infecciosos como a Covid-19, demonstrou também poder ser aplicada em várias áreas de rastreio, como pré-natais, neonatais, oncologia e doenças raras.
Importância da detecção precoce
E para sublinhar a importância da detecção precoce, no evento promovido pela
QUANTO MAIS SE DETECTAR E MELHOR SE DIAGNOSTICAR, MAIS E MELHOR SE IRÁ TRATAR. CONSCIENTE DE QUE O FUTURO DEPENDE DO EMPENHO GLOBAL DE TODOS, A AUSTRALPHARMA REFORÇA O PROPÓSITO DE CONTRIBUIR PARA CUIDAR DA SAÚDE E DO BEM-ESTAR DOS ANGOLANOS, COM UMA ESTRUTURA QUE RESPONDE ÀS NECESSIDADES E DESAFIOS COLOCADOS PELOS SEUS PARCEIROS, HOJE E NO FUTURO
Australpharma foram destacadas três patologias que, actualmente, acometem fortemente a população angolana e para as quais é muito importante haver meios de detecção adequados. Uma das quais é a tuberculose, que, nos dias de hoje, ainda é uma das principais causas de morte, a nível mundial, não obstante ser prevenível e curável. Segundo o Dr. Damião Victoriano, director clínico do Complexo Hospitalar Cardeal D. Alexandre Nascimento, antigo Sanatório de Luanda, que moderou o primeiro painel dedicado à tuberculose, “Angola encontra-se entre os 30 países com maior fardo da tuberculose sensível, tuberculose VIH e tuberculose resistente, o que salienta, ainda mais, a importância da área de diagnóstico para nos assegurarmos de que os dados de que dispomos não são subdiagnosticados”. De acordo com os dados disponíveis, e avançados pelo Dr. Damião Victoriano, em 2020, foram diagnosticados 66 mil novos casos de tuberculose, número que, em 2021, baixou para 61.297. A taxa de incidência, em 2020, era de 202,9 casos por 100 mil habitantes, tendo, no ano seguinte, descido para 184,1 por 100 mil habitantes. A tuberculose VIH, em 2020, correspondeu a 12% dos casos e, em 2021, a 13%. “A nossa luta é que o esquema de tratamentos continua a ser prolongado e com elevada taxa de abandono. O maior fardo na tuberculose resistente deve-se, precisamente, ao abandono dos tratamentos na tuberculose sensível, cuja taxa está acima dos 15% em Angola. Daqui se depreende a importância do diagnóstico, do rastreio e da prevenção. Porque a doença é curável”, destacou, uma vez mais, o Dr. Damião Victoriano. E a pandemia pode ter representando um duro golpe na capacidade de detecção atempada de casos de tuberculose, patologia que é a terceira causa de morte em Angola. A convite da Australpharma, o Dr. Miguel Viveiros, especialista em microbiologia do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, investigador na área da tuberculose e resistência a antibióticos e imunologia e especialista em diagnóstico laboratorial no âmbito da tuberculose, chamou, precisamente, a atenção para este facto e para os desafios acrescidos que vão surgir no futuro, os quais exigem preparação e capacitação com as novas tecnologias de diagnóstico. “Até à pandemia, vinham-se a detectar cada vez mais casos de tuberculose. Em 2020, foram diagnosticadas menos pessoas em todo o mundo: de 7,1 milhões, em 2019, caiu para 5,8 milhões. Perderam-se muitos doentes de tuberculose, que vão aparecer agora, com o maior controlo da pandemia, com situações de tuberculose já mais avançada. Pelo que o reforço das capacidades de diagnóstico e a atenção ao diagnóstico precoce é fundamental”, alertou.
A importância do diagnóstico precoce foi também destacada a respeito do HIV, onde se tem vindo a ter um progresso favorável no que diz respeito à diagnosticação. Mas, apesar de se estar a diagnosticar cada vez mais, e num crescendo de pessoas a fazer terapêutica retroviral, verifica-se que ainda existem faixas da população que não sabem o estado da infecção. É, por isso, necessário melhorar o diagnóstico, tornando-o cada vez mais simples, preciso, acessível e com resultados no mesmo dia. Segundo a Dra. Dores Mateta, especialista em infecciologia, até ao final de 2019, registavamse mais de 75 milhões de pessoas infectadas com HIV em todo o mundo e, no final de 2020, 34,7 milhões tinham morrido. O primeiro caso em Angola foi diagnosticado em 1987. Em 2020, estimavam-se 344 mil pessoas a viver com o VIH no país. “A infecção está a atingir, principalmente, as populações jovens e as populações-chave e existem múltiplos factores que podem agravar a epidemia do VIH, o que justifica reforçar as medidas preventivas e de detecção precoce”, sublinhou.
Lições da Covid-19
Sendo certo que a Covid-19 dificultou diagnóstico precoce e o tratamento de muitas patologias, como a tuberculose e o HIV, permitiu também aos profissionais de saúde recolherem toda uma nova aprendizagem que os capacita para melhor responderem aos desafios futuros. O Dr. Domingos Cristóvão, médico doutorado em Saúde Pública, traçou o cenário da evolução do SARS-CoV-2 no país, desde que o primeiro caso foi detectado, em Março de 2020. Numa mensagem de optimismo quanto à resposta que foi dada pelos profissionais de saúde angolanos, que ajudaram a traçar um cenário bem distinto ao avançado por muitos que vaticinaram que os países de África apresentariam muito mais dificuldades em conter a propagação da doença, o Dr. Domingos Cristóvão destacou a importância de Angola dispor dos melhores meios de testagem e diagnóstico da Covid-19. A grande conclusão a retirar deste evento é que, quanto mais se detectar e melhor se diagnosticar, mais e melhor se irá tratar. Consciente de que o futuro depende do empenho global de todos, a Australpharma reforça o propósito de contribuir para cuidar da saúde e do bem-estar dos angolanos, com uma estrutura que responde às necessidades e desafios colocados pelos seus parceiros, hoje e no futuro.
Cláudia Lázaro, coordenadora da área de diagnóstico na Australpharma
Miguel Viveiros, especialista em microbiologia do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa
Lurdes Mateta, especialista em infecciologia
Domingos Cristóvão, médico doutorado em Saúde Pública
ENTREVISTA ANÁLISE PROFISSIONAIS DE SAÚDE CONFIRMAM ATRASOS NOS DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTOS DERIVADOS DA PANDEMIA
PROFISSIONAIS DE TODO O MUNDO VIRAM OS PACIENTES COLOCAR A SUA SAÚDE EM MAIOR RISCO DEVIDO À PANDEMIA. DESDE O INÍCIO DO SURTO PANDÉMICO, TÊM ALERTADO PARA POTENCIAIS ATRASOS NOS CUIDADOS MÉDICOS, A NÍVEL GLOBAL. EM SETEMBRO DE 2020, O CENTRO DE CONTROLO E PREVENÇÃO DE DOENÇAS (CDC) DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA EMITIU UM RELATÓRIO QUE CONFIRMAVA ESTES RECEIOS: AS PESSOAS ESTAVAM A EVITAR RECORRER AOS CUIDADOS PRIMÁRIOS. COM ISTO EM MENTE, A CONSULTORA KANTAR INQUIRIU 1.253 MÉDICOS PARA EXPLORAR SE OS ATRASOS NOS CUIDADOS, DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTOS ERAM UM PROBLEMA CONTÍNUO DIRECTAMENTE LIGADO À PANDEMIA. O ESTUDO OFERECE UMA VISÃO SOBRE ESTE FENÓMENO ÚNICO.
“A interrupção em serviços de saúde essenciais, devido à pandemia, pode deitar por terra anos de progresso contra a tuberculose, em particular, no controlo da tuberculose resistente”.
A afirmação é de Tedros Adhanom Ghebreyesus, director da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, embora se refira directamente à tuberculose, pode ser extensível a muitas outras patologias. Em todo o mundo, os médicos dedicados aos cuidados primários estão a ver os seus pacientes atrasarem consultas e adiarem diagnósticos e o início de tratamentos, desde o início da pandemia. De acordo com um estudo da consultora Kantar, as razões para estes atrasos variam e, em parte, podem dever-se ao facto das pessoas sentirem que cuidar das infecções por Covid-19 continua
a monopolizar os cuidados médicos. Outros estão atentos ao risco de exposição ao vírus, apesar das precauções tomadas pelos profissionais e serviços de saúde. E esta não é uma situação dos países em desenvolvimento e de menor renda e onde, à partida, o acesso aos cuidados de saúde é mais difícil, conforme demonstra o estudo da Kantar, conduzido junto de 1.253 médicos de cinco países europeus e dos Estados Unidos da América. Entre os inquiridos, os profissionais de saúde em Itália e em Espanha foram os que mais reportaram casos de doentes que atrasaram as suas consultas. No total, 44% indicaram que os seus pacientes, frequentemente, atrasaram uma consulta. Outros 27% afirmaram que os pacientes, muitas vezes, faltaram às consultas e apenas 1% disse que nunca o fizeram.
Diagnóstico dificultado
Quando questionados sobre o impacto destes adiamentos no diagnóstico precoce, os médicos na Alemanha e em França registaram os atrasos mais curtos, com 74% e 72%, respectivamente, a reportarem um atraso inferior a três meses. Os Estados Unidos da América e a Espanha relataram, por sua vez, alguns dos maiores atrasos e 7% dos médicos norte-americanos e 6% dos espanhóis registaram atrasos nos diagnósticos superiores a seis meses. Confirmado o diagnóstico, em termos de atrasos nos tratamentos, destacamse o Reino Unido, os Estados Unidos da América, a Espanha e a Itália. Os médicos alemães (81%) e os franceses (76%) reportaram os menores atrasos. No Reino Unido (6%), nos Estados Unidos (5%) e em Espanha (5%), os tratamentos sofreram atrasos de mais de seis meses.
Tratamentos adiados
A Kantar também perguntou que tipo de cuidados foi mais afectado pelos atrasos e adiamentos nos diagnósticos e nas consultas. A nível mundial, os médicos inquiridos indicaram que os rastreios preventivos foram negligenciados ao ritmo mais elevado (81%). Esta foi a resposta mais sinalizada em todos os países. Seguem-se as consultas de rotina (79%), as consultas de saúde mental (46%) e as prescrições de medicamentos (25%). As consultas de urgência foram as menos afectadas, indicadas por apenas 21% dos médicos.