Artigo: A internet e o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

Ficha para Catálogo Artigo Final Professor PDE/2010 A Internet e o Ensino da História e Cultura Afro-

Título

Brasileira e Africana na Disciplina de História

Autor

Sonia Augusta de Moraes Colégio Estadual Ensino de primeiro e segundo

Escola de Atuação

grau Paulo Freire

Município da Escola

Marechal Cândido Rondon Paraná

Núcleo Regional de Educação

Toledo

Orientador

Marcio Antônio Both da Silva

Instituição de Ensino Superior

Unioeste

Área do Conhecimento/Disciplina

História

Relação Interdisciplinar Público Localização

Alunos da Educação de Jovens e Adultos (identificar

nome

e

Colégio Paulo Freire. Rua Sete de Setembro 2441

endereço da escola de implementação)

Uma das grandes tarefas da educação atualmente é contribuir com a discussão sobre a igualdade racial, reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos afro-brasileiros e africanos. Tendo como marco legal a Lei 10.639/2003 e as Resumo: (no máximo 1300 caracteres, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação ou 200 palavras, fonte Arial ou Times das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Este New Roman, tamanho 12 e artigo tem como o objetivo apresentar os resultados espaçamento simples) da implementação pedagógica realizada no Colégio Estadual Paulo Freire em Marechal Cândido Rondon no estado do Paraná. Esse artigo relaciona-se ao uso pedagógico da ferramenta Wiki na disciplina de História. A aprendizagem virtual colaborativa vem tomando força nos últimos anos


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como uma possibilidade de produção de conhecimentos significativos em sala de aula. Essa proposta pedagógica possibilita uma interação “todos-todos”, ampliando para a produção do conhecimento da Educação das Relações Étnicoraciais e do Ensino da História e da Cultura Afrobrasileira e Africana em rede. Tendo como principal objetivo o respeito a diversidade étnico-racial dos alunos da Educação de Jovens e Adultos e da sociedade brasileira. Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)

Internet, lei 10639/03, educação de Jovens e Adultos


A INTERNET E O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA

Autora: Sonia Augusta de Moraes Orientador: Prof. Marcio Antônio Both da Silva

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Resumo

Uma das grandes tarefas da educação atualmente é contribuir com a discussão sobre a igualdade racial, reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos afro-brasileiros e africanos. Tendo como marco legal a Lei 10.639/2003 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Este artigo tem como o objetivo apresentar os resultados da implementação pedagógica realizada no Colégio Estadual Paulo Freire em Marechal Cândido Rondon no estado do Paraná. Esse artigo relaciona-se ao uso pedagógico da ferramenta Wiki na disciplina de História. A aprendizagem virtual colaborativa vem tomando força nos últimos anos como uma possibilidade de produção de conhecimentos significativos em sala de aula. Essa proposta pedagógica possibilita uma interação “todos-todos”, ampliando para a produção do conhecimento da Educação das Relações Étnicoraciais e do Ensino da História e da Cultura Afro-brasileira e Africana em rede. Tendo como principal objetivo o respeito à diversidade étnico-racial dos alunos da Educação de Jovens e Adultos e da sociedade brasileira.

Palavras-chave: Internet, lei 10639/03, educação de Jovens e Adultos

1 Introdução

Esse artigo é resultado de um processo que começou a ser construído no ano de 2010. Neste ano foi elaborado o projeto e a produção didático pedagógica intitulados: A internet e o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Esses trabalhos fazem parte do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). E tem 1

Mestre em Educação–UEM, professora de história e geografia na Rede Pública Estadual de ensino e cursista do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010.

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Doutor em História UFF, docente do curso de História da Unioeste e orientador do PDE.


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como objetivo geral contribuir para a inclusão digital de jovens e adultos nas escolas públicas. Com a finalidade de promover reflexões sobre a diversidade étnico-racial brasileira. A seguir destacamos os objetivos específicos: 

Compreender que a sociedade é formada por grupos étnico-raciais distintos e que possuem cultura e história próprias.

Promover o conhecimento e a interpretação das leis em relação ao ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.

Dialogar e debater sobre a presença das culturas de matrizes africanas na formação cultural brasileira.

Desconstruir as imagens negativas do Continente Africano e sua população.

Promover diálogos sobre a identidade étnica dos alunos.

Combater práticas racistas em relação ao pertencimento étnico-racial dos alunos.

Utilizar as tecnologias de informação-criação e comunicação como ferramenta de apoio aos conteúdos sobre a história e cultura afro-brasileira e africana.

Para possibilitar reflexões e ações referentes ao ensino da história e cultura afro-brasileira e africana utilizamos na escola a Internet e suas ferramentas (wiki, slides) e também textos e imagens on-line e outros meios tais como: o livro didático e a produção didático pedagógica. A produção didático pedagógica teve como objetivo principal elaborar atividades e metodologias referentes ao ensino da história e cultura afro- brasileira e africana. E também apresentar ao professor algumas possibilidades sugestões de sites, livros, vídeos, textos e softwares educacionais disponíveis na internet. Este material também teve como objetivo implementar suas propostas e atividades a partir do mês de agosto até dezembro de 2011, na Educação de Jovens e Adultos no Colégio Estadual Paulo Freire em Marechal Cândido Rondon no Estado do Paraná. O principal objetivo destas atividades é o de indicar possíveis caminhos para a discussão, bem como para posterior superação de todas as formas de


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preconceito, racismo e intolerância em relação a diversidade étnico- racial brasileira e quiçá mundial. A implementação pedagógica é o momento onde o professor desenvolve com seus alunos em sala de aula os conteúdos propostos pela produção didático pedagógica. Essa implementação se deu em dois momentos distintos. O primeiro foi realizado em sala de aula e o segundo momento no laboratório de informática do colégio Estadual Paulo Freire.

2 Metodologias Desenvolvidas em Sala de Aula para a Implementação da Produção Didático Pedagógica na Educação de Jovens e Adultos

Como já destacamos anteriormente a implementação pedagógica ocorreu a partir das sugestões de atividades propostas pela produção didático pedagógica elaborada durante o período de estudos do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Nesta proposta apresentamos algumas sugestões de como trabalhar os conteúdos da história e cultura afro-brasileira e africana, utilizando: as fontes orais: depoimentos, relatos, história de vida e memórias, fontes icnográficas: charges, cartuns, ilustrações, pinturas, caricaturas, retratos, imagens e fontes escritas: revistas, livros e internet. A seguir apresentamos as atividades realizadas na primeira etapa da implementação pedagógica com os Jovens e Adultos do ensino fundamental na disciplina de história. Inicialmente apresentamos a proposta de implementação pedagógica e iniciamos com os alunos da Educação de Jovens e Adultos diálogos sobre a lei 10639/03. Essa lei determina a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura AfroBrasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. A lei também estabelece que os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira sejam trabalhados no contexto do currículo escolar, especialmente no âmbito das disciplinas de Educação Artística, Literatura e História Brasileiras. Os

alunos desconheciam

esta

lei,

mas

isso

não

impossibilitou

o

desenvolvimento do nosso trabalho. Após trabalhar questões relacionadas a lei 10639/03 passamos então a estudar conteúdos sobre como o avanço das


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tecnologias de comunicação e informação (Internet) podem, a partir de políticas públicas, contribuir para a inclusão digital de jovens e adultos nas escolas públicas. Com a finalidade de promover reflexões sobre a diversidade étnico-racial brasileira. Para iniciar este tema trabalhamos com o texto pela Internet de autoria de Gilberto Gil. Os objetivos em relação a esta proposta de atividade foram: 

Pesquisar vocabulário específico de informática apresentada na música pela Internet de Gilberto Gil.

Dialogar sobre a função da internet na atualidade.

Pesquisar palavras de origem africana destacada pela música.

Possibilitar aos alunos o acesso as tecnologias (internet e ferramentas) para construção de conhecimentos sobre a história e cultura afro-brasileira e africana.

O objetivo principal desta atividade foi dialogar com os alunos sobre as tecnologias na sociedade atual e a sua importância no processo educacional. E também de como a internet pode ajudar na construção de conhecimentos no ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Ao realizar as atividades com a música de Gilberto Gil “pela Internet” percebemos que muitos alunos desconheciam alguns termos citados na música. Então sugerimos que fizessem uma pesquisa sobre as palavras citadas na letra da música. Em relação aos debates sobre as tecnologias na sociedade atual os alunos consideram importante, pois atualmente a internet é um meio de comunicação muito utilizada pelas pessoas. Mas também destacaram que nem todos possuem acesso a internet. Pois as condições financeiras impedem de comprar esses equipamentos. Após a realização desta atividade trabalhamos com textos sobre a história e cultura afro-brasileira e Africana no livro didático da Educação de Jovens e Adultos.

2.1 Os nossos ancestrais africanos

O tema nossos ancestrais africanos foi abordado nas aulas de história, pois faz parte do livro didático SILVA& MELO, 2009, p.189. Este livro aborda conteúdos de todas as disciplinas do ensino fundamental.


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O livro didático possui na página 189 o enunciado: “Ampliando o Tema” no qual apresenta o título: Os Nossos Ancestrais africanos e justifica porque os negros foram

trazidos

para

o

Brasil.

“Os

nossos

colonizadores

trouxeram,

aproximadamente, 05 milhões de pessoas que foram utilizadas como mão de obra escrava em diversas atividades como agricultura, mineração, serviços domésticos, etc.” (2009, p.189). O livro didático apresenta a realidade do negro escravizado de uma forma recortada que possibilita a construção de conhecimentos carregados de preconceitos e estereótipos, ou seja não existe nenhum questionamento sobre a escravidão no Brasil, como ela ocorreu e o porque de escravizar a população negra do Continente Africano. Bem como as formas encontradas pelos negros no sentido de resistir a escravidão. Nesse sentido Ana Célia Silva comenta sobre as possíveis sequelas sofridas pela população negra, quando sua imagem nos livros didáticos reforçam os estereótipos. A presença dos estereótipos nos materiais pedagógicos e especificamente nos livros didáticos, pode promover a exclusão, a cristalização do outro em funções e papéis estigmatizados pela sociedade, a auto-rejeição e a baixa auto-estima, que dificultam a organização política do grupo estigmatizado. O professor pode vir a ser um mediador inconsciente dos estereótipos se for formado com uma visão acrítica das instituições e por uma ciência tecnicista e positivista, que não contempla outras formas de ação e reflexão. (SILVA, 2008, p.24).

O livro didático analisado apresenta um mapa no qual aponta apenas origem dos negros africanos trazidos para o Brasil. Porém não menciona como era a sua organização política e social, antes dos colonizadores escravizarem essa população. Neste caso o professor deve destacar que os portugueses chegaram ao continente africano no decorrer do século xv, mas que a população deste continente possui diversas etnias também chamada de nações tais como haucás, mandigas, iorubas (sudaneses) e cabindas, benguelas, congos, angolas (bantos). Entre outras tantas etnias presentes no continente africano. Nesta época alguns destes povos já contavam com um artesanato têxtil e produção de ferro, assim como trabalhos em metalurgia. Podemos concluir que os povos africanos possuem suas histórias, saberes e conhecimentos que não são apresentados neste livro didático. Dando a impressão que a história dos negros africanos começa apenas partir do tráfico negreiro ocorrido nos séculos XVI e XVII.


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O livro também apresenta uma imagem pintada por Debret de um feitor castigando o negro de forma violenta. E este aparece totalmente imobilizado, uma imagem que vista pelo aluno, se não for devidamente problematizada em sala de aula, dá a impressão de que os negros não reagiam ao processo de escravidão no Brasil. As imagens como fonte de estudo do processo escravocrata no Brasil são fontes interessantes, contudo é importante que o professor em sua relação com os alunos possibilite a construção de análises

criticas de como ocorreu e dos

significados da escravidão no Brasil.

Figura 1: Feitor castigando negro, obra de Jean Batist Debret, (1768-1848)

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Nesta figura temos a imagem de um feitor castigando um negro no período da

escravidão

no

Brasil. Veladamente apenas apresenta a

imagem, sem

nenhuma problematização deste período histórico ocorrido no Brasil. A pintura aqui exposta tem como autor o pintor francês Jean Batist Debret (1768-1848) e evoca bem a constatação da brutalidade do sistema escravista brasileiro. No entanto se é destacado no primeiro plano a violência do sistema, sempre é bom lembrar que “cada uma dessas realizações tem uma linguagem, e entendê-las nesses termos é um importante estágio de investigação. Discernir [...] a sintaxe de sua expressão, as imagens usadas e o simbolismo empregado é relacioná-la a uma prática de conduta, de crença ou de entendimento. (OAKSHOTT, 2003, p.105).

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Imagem disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=31> Acesso em: 04 jun. 2012.


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As imagens e textos presentes no livro didático e também em outros meios de comunicação (Internet) que apresentam os negros escravizados ou em situação degradante, trabalhos forçados e vendidos como mercadorias nos comércios de escravos ou sendo punidos, podem ser um dos pontos de partida para uma análise crítica do processo histórico da história e cultura afro-brasileira e africana. Neste sentido o parecer CNE/CP n.º 03/04, indica alguns caminhos valorizar o patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, [...] bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira [...] buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira. [...] Adotar políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos diferentes níveis de ensino. Questionar relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas. [...] Divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade. [...] Criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele. (BRASIL, 2004, p. 11- 12).

Esse parecer estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana que foi aprovada em 10.03.2004. Neste sentido acreditamos que é possível criar estratégias pedagógicas de valorização da diversidade. E que estas estratégias com certeza podem contribuir para que possamos romper com as praticas racistas e discriminatórias, ainda tão presentes na sociedade e também na escola.

2.2 A resistência negra

O conteúdo no livro didático da Educação de Jovens e Adultos não possibilita uma análise crítica sobre o a resistência negra no Brasil contra a escravidão. O livro didático apenas destaca os quilombo de Palmares e que Zumbi foi um líder que resistiu até a morte, em função disto, hoje comemoramos no dia 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra. O livro também destaca em três parágrafos a


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revolta dos Malês ocorrida em 1835 na cidade de Salvador. E termina seu texto falando que a “a influência da cultura africana é grande no Brasil”. A presença do negro nos livros, frequentemente como escravo, sem referência ao seu passado de homem livre antes da escravidão e às lutas de libertação que ele desenvolveu no período da escravidão e desenvolve hoje por direitos de cidadania, pode ser corrigida se o professor contar a história de zumbi dos Palmares, dos quilombos, das revoltas e insurreições ocorridas durante a escravidão; contar algo do que foi a organização sóciopolítico-econômica e cultural na África pré-colonial; e também sobre a luta das organizações negras, hoje, no Brasil e nas Américas.(SILVA, 2008, p. 21).

Percebemos que o livro didático da Educação de Jovens e Adultos apresenta os conteúdos da história e cultura afro-brasileira resumidamente. Ou seja é impossível apenas por meio deste material analisar o contexto histórico social, político e econômico do período da escravidão no Brasil, assim como a história do Continente Africano. O professor poderá corrigir essa lacuna destacando que a história dos africanos está inserida num contexto de acumulação de bens de capital, ocorrida entre os séculos XVI e XIX, envolvendo África, Europa e Américas. E que no Brasil há uma história de organização e resistência dos negros, desde a vinda nos navios negreiros, as fugas individuais e coletivas para os quilombos, o banzo4, a organização em irmandades, a resistência da cultura nas manifestações religiosas dos batuques, terreiros e danças. Constatamos que a falta de material didático impresso, que aborde conhecimentos significativos, contextualizados, livres de preconceitos e estereótipos sobre a história e cultura afro-brasileira e Africana ainda são empecilhos para o trabalho do professor na educação e mais especificamente na Educação de Jovens e Adultos. O livro didático é apenas um referencial para o processo de ensino e aprendizagem. Ao utilizá-lo o professor precisa analisar criticamente seus conteúdos, principalmente aqueles que se referem à história africana e seus afrodescendentes. É necessário suscitar debates com os alunos e buscar outras fontes de conhecimentos tais como, materiais, disponíveis em bibliotecas on-line, livros publicados

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via

internet

por

grupos

afro-descendentes,

Nostalgia mortal dos negros da África, quando cativos ou ausentes do seu país.

entidades

não


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governamentais e movimento negro. Enfim é preciso na educação de Jovens e Adultos implementar ações de pesquisa, desenvolvimento e aquisição de materiais didático-pedagógico que respeitem, valorizem e promovam a diversidade, a fim de subsidiar práticas pedagógicas adequadas à educação das relações étnico-raciais. Incluir na formação de educadores de Eja a temática da promoção da igualdade etnicorracial e combate ao racismo. (BRASIL, 2004, p.55).

Neste sentido enquanto profissional da educação busquei em minha prática pedagógica diferentes metodologias no processo de ensino e aprendizagem da história e cultura afro-brasileira e africana. A seguir destaco algumas atividades desenvolvidas na Educação de Jovens e Adultos.

2.3 Representações feitas por meio de desenhos pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos sobre o Imaginário do Continente Africano

Esta atividade foi proposta no sentido de verificar qual era a imagem que o aluno tinha sobre o Continente africano. E representar por meio de desenho esse imaginário. O objetivo principal foi o de desarticular e desconstruir o imaginário depreciativo e negativo de olhar o continente africano e sua população. A maioria dos desenhos representados pelos alunos prevalecem o estereótipo de uma a África assolada pelas guerras, devastada pela fome, miséria e doença. Também como um lugar de excursões, safáris com muitos animais. É possível observar essa realidade a partir das representações das figuras, dois, três e quatro dos alunos sobre o Continente Africano.


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Figura 2: Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos

Figura 3. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos


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Figura 4. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos

Também no imaginário dos alunos existe uma África diferente para os ricos: representada por safáris, excursões e turismo. Para os pobres que vivem no Continente Africano o que resta é: a fome, guerras e pessoas aleijadas pelas minas de explosivos.

Figura 5. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos


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Ou seja percebemos que no imaginário do aluno o continente Africano é associado a uma população decadente, com pessoas sofridas e também como sendo formada por populações primitivas e pobres morando em casas de palhas. Que são representadas pelas figuras seis e sete.

Figura 6. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos

Figura 7. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos

A imagem de que o continente africano é povoado por tribos primitivas em imensas

florestas faz parte de um processo de construção de conhecimentos

equivocados sobre este Continente. Essa imagem é construída pelos meios de


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comunicação e também pelo livro didático. Esse conhecimento estereotipado do Continente africano pode ser corrigido pelo professor a partir do momento em que destacar que na África tivemos grande nações impérios como por exemplo o Egito Antigo e os reinos do Mali, do Gongo e do Zimbabwe entre outros. Essa representação do Continente Africano não está presente apenas no imaginário dos alunos da Educação de Jovens e adultos mas também na maioria dos brasileiros: Conhecemos a África das tribos, do Simbá, dos safáris, da Aids, da fome e das guerras. O continente africano permanece para a maioria dos brasileiros reduzida a uma imagem simplificada por quatro t:tribo, tambor, terreiro, tarzan (PEREIRA apud SILVA, 2009, p. 5).

Também percebemos na figura oito a associação da África com o processo de escravidão ocorrido no Brasil. O desenho representa o comércio de escravos negros feitos pelos navios portugueses na época do tráfico negreiro. A figura nove representa o negro africano já na posição de escravo que é representada pelas correntes desenhadas em seus pés.

Figura 8. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos


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Figura 9. Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos

A representação do negro como escravo da a falsa impressão de que essa situação é natural, ou seja não existe nenhum questionamento sobre esta questão. Consideramos fundamental que o professor faça uma análise crítica em relação a estas imagens ainda presentes nos livros didáticos e na mídia em geral. Cristalizar a imagem do estado de escravo torna-se uma das formas mais eficazes de violência simbólica. Reproduzi-la intensamente marca, numa única referência toda uma população negra, naturalizando-se, assim uma inferiorização datada.(LIMA, 2008, p.99).

Outro desenho que chamou a atenção é a representação de um homem negro magro sendo observado por um urubu. Percebemos que esse imaginário representado no desenho é bastante influenciado pela mídia, livros didáticos e internet. Pois quando digitamos no Google a palavra África a imagem que mais aparece é uma criança negra magra sendo observada por um abutre5. As redes sociais (facebook, orkut, messenger, e-mail) assim como muitos sites de busca também contribuem para representações estereotipadas sobre o continente africano

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Disponível em: http://obviousmag.org/archives/2007/11/as_fotografias_4.html. Acesso em: 22. jul de 2012


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e sua população. Que acabam influenciando o imaginário do aluno e da população em geral.

Figura 10: Desenho feito por um aluno da

Figura 11: Figura retirada do Google

Educação de Jovens e Adulto

A pobreza também foi bastante representada pelos alunos tanto em forma de desenho quanto em palavras. A ilustração número onze deixa bem visível essa associação do negro e do continente africano com a pobreza.

Figura 12: Desenho feito por um aluno da Educação de Jovens e Adultos.

Nos livros didáticos e na internet é

comum imagens

que representam

apenas a pobreza do Continente Africano. Sem problematizar ou discutir sobre a origem desta pobreza.


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De modo geral, o negro é representado nas ilustrações e descrito como pobre. Porém, a representação do pobre corresponde à do miserável, uma vez que é descrito e ilustrado como esfarrapado, morador de casebre, pedinte ou marginal. Por outro lado, o livro responsabiliza o indivíduo por seu estado de pobreza quando apenas o descreve e o ilustra como pobre, sem propor uma discussão sobre as causas da pobreza. (SILVA, 2008. p.25)

Por isso consideramos fundamental ao trabalhar com o imaginário dos alunos sobre o Continente Africano, o professor possibilite debates reflexivos no sentido de desconstruir essas imagens compostas por estereótipos em relação ao continente Africano e ao processo de escravidão ocorrido no Brasil. Em relação aos conteúdos do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana que poderão ser abordados em sala de aula pelas disciplinas curriculares, as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e Cultura Afro-Brasileira e Africana6 apresentam algumas sugestões. 

trabalhar às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente africano e os da diáspora; - à formação compulsória da diáspora, vida e existência cultural e histórica dos africanos e seus descendentes fora da África.

à diversidade da diáspora, hoje, nas Américas, Caribe, Europa e Ásia.

abordar celebrações como: congadas, moçambiques, ensaios, maracatus, rodas de samba, entre outras.

incluir a história dos quilombos, a começar pelo de Palmares, e de remanescentes de quilombos.

abordar sobre as tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivos, de mineração e de edificações trazidas pelos escravizados, bem como a produção científica, artística política, na atualidade.

promover um estudo da participação dos africanos e de seus descendentes em episódios da história do Brasil, na construção econômica, social e cultural da nação, destacando-se a atuação de negros

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Destacamos apenas alguns conteúdos proposto pelo documento, para obter os conteúdos na íntegra consulte as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnicoraciais e para o ensino de História e Cultura afro-brasileira e Africana (BRASIL, 2004, p. 2123).


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em diferentes áreas do conhecimento, de atuação profissional, de criação tecnológica e artística, de luta social.

Com isso concluímos que é possível o professor explorar os conteúdos do livro didático de uma forma crítica, possibilitando assim a visibilidade da diversidade humana e da história e cultura afro brasileira sem preconceitos, estereótipos ou racismo. E também utilizar outras fontes de pesquisas. Podemos encontrar materiais de qualidade na Internet, que possibilita ao professor fazer downloads e trabalhar com os alunos tais como: textos, livros, dissertações, poemas, músicas vídeos e imagens. Neste sentido buscamos juntamente com os alunos utilizar também as tecnologias (internet) como apoio ao processo de ensino da história e cultura afrobrasileira e africana nas aulas de História.

3 Metodologias Desenvolvidas no Laboratório de Informática para a Implementação da Produção Didático Pedagógica na Educação de Jovens e Adultos

A aprendizagem virtual colaborativa vem tomando força nos últimos anos como uma possibilidade de ampliação e complementação da sala de aula nas instituições escolares. Essa proposta pedagógica possibilita uma interação “todostodos”, ampliando para a produção do conhecimento em rede. Um conceito definido por Dillenbourg (1999 apud MORAES, 2011, p. 8) sobre aprendizagem colaborativa define-a como: “uma situação de aprendizagem na qual duas ou mais pessoas aprendem ou tentam aprender algo juntas”. Assim, uma prática educativa colaborativa possibilita o debate, a discussão, a reflexão individual e coletiva e o respeito às ideias do grupo em relação a um determinado tema. Os

ambientes

virtuais

colaborativos

de

aprendizagem

são

espaços

compartilhados de convivências que dão suporte à construção, inserção e troca de informações pelos participantes, visando à construção de conhecimentos. Existem vários ambientes de aprendizagem colaborativa, sendo que nesta implementação pedagógica utilizamos a ferramenta wiki que está disponível no link www.pbworks.com. Trata-se de uma ferramenta de administração de atividades


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educacionais destinado à criação de comunidades on-line, em ambientes virtuais voltados para a aprendizagem colaborativa. Esse software tem uma proposta bastante diferenciada: “aprender em colaboração” no ambiente on-line. A ferramenta wiki possui uma estrutura hipertextual, com a possibilidade de incluir vários links. Além disso também possuem outras características tais como: 

possibilitam o acesso público e gratuito ao conteúdo da página e podem ser atualizados diariamente.

permitem ao usuário escrever, formatar, corrigir e publicar textos incluir slides, vídeos e fotos.

estimulam a criação e construção de páginas sobre temas pesquisados pelos alunos.

possibilitam a divulgação de ideias e projetos desenvolvidos pelo comunidade escolar.

Neste processo de construção do ambiente virtual o professor inicia juntamente com os alunos esse desafio, perceberá que a sua postura não é de apenas ensinar, mas de juntamente com o aluno aprender, construindo assim uma rede virtual colaborativa de aprendizagens. A aula de história nesta perspectiva é [...] o espaço em que um embate é travado diante do próprio saber: de um lado, a necessidade do professor ser o produtor do saber, de ser partícipe da produção do conhecimento histórico, de contribuir pessoalmente. De outro lado, a opção de tornar-se apenas um eco do que os outros já disseram. (SCHMIDT, 2006, p.57)

Todas estas transformações advindas das tecnologias segundo Schmidt (2006, p. 58) vem implicando em mudanças no “fazer histórico e fazer pedagógico de História”. O grande desafio consiste em como articular esses dois elementos as inovações tecnológicas e o ensino de História, na construção de conhecimentos significativos. Assim o objetivo é: Fazer com que o conhecimento histórico seja ensinado de tal forma que dê ao aluno condições de participar do processo do fazer, do construir a história. Que o aluno possa entender que a apropriação do conhecimento é uma atividade em que se retorna ao próprio processo de elaboração do conhecimento. (SCHMIDT, 2006, p. 59).


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É preciso que o aluno realmente saiba quais são os objetivos das atividades propostas pelo professor. Para que o professor avalie se as tecnologias estão possibilitando (ou não) a construção do conhecimento. A seguir destacamos as atividades desenvolvidas no laboratório de informática. Nossa primeira atividade foi a construção das páginas on-line dos alunos no endereço www.culturaafrobrasileira.pbworks.com. Os objetivos destas atividades foram: 

Conhecer alguns softwares que possibilitam a criação de ambientes virtuais de aprendizagem.

Criar home-page com a ferramenta wiki para publicar conteúdos sobre a história e cultura afro-brasileira e africana.

Acessar sites de busca sobre assuntos relacionados à temática.

Nesta atividade percebemos que alguns alunos tinham dificuldades em manusear o computador. Além da dificuldade, também alguns tinham medo em trabalhar no computador outros até nem queriam realizar as atividades, justificando que nunca tinham manuseado um computador. Mas aos poucos os alunos foram se soltando e conseguiram criar sua página na Internet. Foi uma grande satisfação vivenciar esse momento tão importante, para o aluno, e o que mais me deixou feliz foi o fato de poder ajudar os alunos a vencerem a timidez. Foi preciso agir com eles como a professora que segura a mão da criança para ajudá-la a desenhar as primeiras letras. O clima de confiança tomou conta de todos, uns ajudavam aos outros. Percebia-se a motivação de todos os participantes do projeto. Em relação a essa situação Moran destaca: A Internet é uma mídia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor cria um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia, o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, pela competência e pela simpatia com que atua. (MORAN, 2002, p. 53).

Em função destas possibilidades da Internet, apresentamos algumas atividades desenvolvidas nas páginas criadas pelos alunos. A seguir destacamos as principais atividades:


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Produção de um texto sobre o tema quem sou eu?

O que você sabe sobre o continente Africano?

O que foi a lei 10639/03?

Além destas atividades os alunos fizeram pesquisas sobre a história de vida de alguns personagens negros (as) que lutam e lutaram contra a política de segregação racial tais como: Nelson Mandela, Martin Luther King, Rosa Park, Solano Trindade, José do Patrocínio, Zumbi dos Palmares e Abdias do Nascimento. Também foi proposto aos alunos pesquisarem sobre o Egito antigo e as revoltas atuais ocorrida neste país. Outra atividade desenvolvida foi a produção de slides com imagens de combate ao racismo e discriminação. A seguir destacamos alguns sites e depoimento feitos pelos alunos em relação a atividades desenvolvidas em suas home-pages.

3.1 Sites e depoimentos dos alunos da educação de jovens e adultos Nesta etapa os alunos construíram suas páginas na internet e passaram a estudar os conteúdos acima citados. A seguir destacamos alguns sites e relatos dos alunos sobre a sua experiência em participar desta implementação pedagógica. O objetivo principal destes relatos foram o de possibilitar ao aluno uma auto-avaliação em relação as

atividades propostas e sua participação

nesta atividade.

Home-Page da Adriana: “Nas primeiras aulas que tive com a professora Sônia,fiquei um pouco perdida pois tenho pouca habilidade na parte da Informática, mas com o passar dos dias fui me entrosando nos assuntos. No momento não tenho muito acesso a Internet,estou guardando um dinheiro para comprar um computador, devagar a gente chega aonde quer. Gostei muito, que pena que já está terminando pois ainda tenho muito a aprender. (depoimento da aluna)”.


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Home-Page do Eduardo:

“Achei super interessante esse projeto. Aprendi que Marthin Luther King foi líder do ativismo pelos direitos civis das pessoas negras, lutou em defesa dos direitos sociais para os negros e as mulheres combatendo o racismo e o preconceito. Rosa Parks também lutou pela igualdade de direitos entre negros e brancos e encarou de frente a discriminação. Agora com esse projeto sinto que estou conhecendo mais sobre a cultura afro-brasileira”. (depoimento do aluno)


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Home- Page da Angélica:

“Aprendi muitas coisas foi muito bom aprender sobre estes conteúdos Uma das atividades que eu aprendi foi fazer slides. Isso eu não sabia fazer, graças a professora Sonia que me mostrou essa atividade sem ela eu não teria aprendido nada e nem teria conhecido Rosa Parks, Martin Luther king, Zumbi dos Palmares,Solano Trindade e acima de tudo conheci um pouco do Egito e a sua localização”. (depoimento da aluna)

Os alunos sentiram-se importantes, por saber usar o computador e aprender um pouco mais sobre a Internet e conteúdos sobre a história e cultura afro-brasileira e africana. Valente (2002, p. 106) a partir de seus estudos ajuda a compreender esse tipo de sentimento. Quando é dado oportunidade para as pessoas compreenderem o que fazem, elas experienciam o sentimento do empowerment a sensação de que são capazes de produzir algo considerado impossível. Além disso, conseguem um produto que eles não só construíram, mas compreenderam com foi realizado. Eles podem falar sobre o que fizeram e mostrar esse produto para outras pessoas. É um produto da mente deles e isso acaba propiciando uma grande massagem no ego.

Em outra atividade os alunos escreveram um texto respondendo a pergunta: quem sou eu? Os principal objetivo desta atividade foi:


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Apontar as diferenças culturais individuais e de grupos a partir da valorização da história familiar dos(as) alunos (as).

Proporcionar diálogos com a memória dos familiares dos alunos: por meio de fotos, depoimentos orais e história de vida.

Pesquisar junto aos familiares dos alunos (as) a sua descendência: indígena, africana, europeia, asiática, alemã, etc. Posteriormente montar painéis para expor o resultado do trabalho.

Ao realizar esta atividade percebemos que alguns alunos tinham dificuldades em escrever sobre sua história ou não sabiam o que escrever sobre seus familiares e sua descendência. Outros nem queriam escrever sobre estas questões pois não consideravam importante. Os alunos possuem dificuldades em escrever sobre suas identidades, e histórias dos antepassados. Neste sentido o estudo do Cotidiano7 pode ser importante para discutir a formação histórica do aluno com as diversas etnias e culturas existentes na sociedade brasileira. O ponto de partida para perceber esses vínculos „é analisar as relações entre história de vida e história, compreendendo como sujeito da história‟. As expectativas estabelecem as articulações entre a vida dos alunos (experiência) e a compreensão de contextos históricos diversos (perspectiva histórica). (SÃO PAULO, 2010, p. 43).

Em função desta realidade buscamos estabelecer articulações entre a vida do aluno e o contexto histórico da história afro-brasileira e africana. E ao escrever sua história de

vida foi possível

estabelecer entre professor e aluno

uma relação

dialógica em relação a esta temática.

3.2 Diálogos com a memória dos alunos e de seus familiares Estes diálogos foram fundamentais no sentido de possibilitar ao aluno pensar e compreender que sua história de vida faz parte também da história brasileira. A seguir destacamos alguns textos escritos pelos alunos.

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Para Agnes Heller, a vida cotidiana está no centro do acontecer histórico e ela seria a própria substância histórica. Nessa perspectiva, os estudos do cotidiano seriam essenciais para fazer emergir as tensões e lutas do dia a dia.


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Texto 01 Gosto muito de passear conhecer pessoas diferentes, não gosto muito de animais sou uma pessoa mais fechada se tenho um problema ou algo que me incomoda gosto de guardar comigo. Perdi minha mãe quando criança ainda para mim foi como se eu tivesse perdido parte de mim, é uma dor que remédio não cura. Meu pai é de origem negra e minha mãe é alemã. Nasci em Marechal Cândido Rondon, mais morei uma parte da minha vida em Praia Grande SP. Depois de um tempo retornei a Marechal gosto muito desta cidade, do colégio em que estudo. (depoimento de uma aluna da Educação de Jovens e Adultos).

Texto 02 Eu sou caminhoneiro faço frete, tenho caminhão de mudanças, viajo para todo o território brasileiro. Tenho orgulho do que eu faço, gosto de brincadeiras e cantorias, sou muito extrovertido e gosto de música. Meus pais são brasileiros, minha mãe nascida em Santa Catarina e meu pai nasceu em Minas Gerais. Minha mãe era de origem italiana e meu pai de origem portuguesa. (depoimento de um aluno da Educação de Jovens e Adultos)

No depoimento do texto um e dois a aluna e o aluno falam mais sobre suas vidas, o jeito de ser e alguns conflitos pessoais, porém destacam apenas ao final do texto sobre sua origem, no entanto finalizam sem falar sobre aspectos relacionados a sua cultura e história de seus pais. Esse silêncio sobre suas culturas e de seus descendentes revelam a falta de diálogos com a memória dos alunos e dos seus familiares sobre este tema. Ou seja, atualmente fala-se muito pouco sobre nossas origens. Acreditamos ser esta uma lacuna a ser preenchida, a partir do momento que possamos juntamente com os alunos abordar sobre a temática da diversidade étnico racial brasileira.

Texto 03 Sei pouco sobre minha cultura, na verdade nunca tive tanto interesse sobre esse assunto mesmo sabendo que sou uma afro-brasileira, talvez a falta de informação condiz com a ideia de que ainda pra mim não seria uma cultura mas um tipo de racismo. Sei que hoje já não é mais assim, mas é difícil ainda aceitar as pessoas olhando para a gente de maneira nem um pouco confiável, achando que são melhores que nós por ter a cor de pele branca. Quando vim morar em Marechal no começo do ano 2000 sofri muita discriminação e isso fica marcado para toda a vida, mas graças a Deus tudo vai mudando e a cabeça das pessoas também. Antigamente todo negro era tratado como escravo, era um povo sofrido, sentia na pele toda a fúria do branco que se sentia dono do negro. Mas hoje é tudo bem diferente, somos respeitados pela grande maioria.


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No texto três a aluna afirma que seu pertencimento étnico racial é afrobrasileiro. Consideramos importante que o aluno da Educação de Jovens e Adultos possa refletir sobre seu pertencimento étnico racial. E que os problemas apontados em seus depoimentos também fazem parte da história brasileira, ou seja a discriminação ainda é uma triste realidade ainda presente para muitos afrodescendentes. A aluna também afirma que apesar de ainda existir a discriminação na atualidade o negro é respeitado pela grande maioria da população. Esta afirmação de que o preconceito e a discriminação vem diminuindo é importante e fundamental para professor continuar o seu trabalho, em relação a ao ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Pois sabemos que toda mudança faz parte de um processo histórico, que é construído a cada dia. A escola possui um grande potencial, no sentido de desencadear ações e reflexões que realmente respeitem essa diversidade presente na sociedade e em sala de aula. Todos os textos apresentados pelos alunos fazem uma relação com a vida cotidiana, seus pensamentos e emoções. E em alguns momentos os alunos relacionam sua vida com o processo histórico da sociedade brasileira. Neste sentido é interessante destacar que

A vida cotidiana é a vida do homem inteiro; ou seja, o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam-se em funcionamento todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias. (HELLER, 1985, p. 17).

Consideramos fundamental que o professor trabalhe conteúdos sobre a diversidade étnico racial nas aulas de história. Para que os alunos possam dialogar sobre suas origens. E principalmente respeitar a diversidade humana. Mas para que isso aconteça precisamos urgentemente proporcionar aos nossos alunos uma ampla discussão não apenas da cultura afro-brasileira e africana, mas de todas culturas e pertencimentos identitários.

E principalmente disponibilizar esses conteúdos em

rede para que possamos universalizar esse conhecimentos que fazem parte da história do Brasileira. 4 Considerações Finais


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Este trabalho apresentou algumas reflexões sobre como o livro didático aborda questões relacionadas a diversidade ético racial, principalmente em relação ao Continente Africano e a escravidão ocorrida no Brasil.Também apresenta algumas sugestões de como utilizar internet no ensino da história e da cultura afrobrasileira, buscando a inclusão digital dos alunos na Educação de Jovens e Adultos. Pois muitos desses alunos não costumavam utilizar a internet como apoio ao processo de ensino e aprendizagem na disciplina de História. Nossa experiência com esta temática constatou que é possível utilizar o livro didático na educação de Jovens e Adultos. Mas o professor deve aprofundar os conteúdos e analisar criticamente os temas relacionados a cultura afro-brasileira e Africana. Além disso é necessário desencadear debates sobre o preconceito, discriminação, racismo e estereótipos em relação a diversidade humana. O professor deve proporcionar diálogos com a memória dos familiares dos alunos: por meio de fotos, depoimentos orais e história de vida. Estes diálogos são fundamentais para que possamos discutir sobre a formação histórica do povo brasileiro. E o aluno não pode ficar fora destas discussões pois o mesmo também faz parte das diversas etnias e culturas existente na sociedade brasileira. Consideramos que a Internet poderá ser uma ferramenta de apoio para o professor e o aluno na disciplina de história em função da diversidade de materiais, vídeos, imagens contribuindo assim para a implementação da lei 10639/03 no chão da escola. Concluímos que este artigo é o resultado de um processo que iniciou com um projeto que apresentou alguns questionamentos, apontamentos e sugestões para trabalhar o ensino da história e da cultura afro-brasileira mediados pelas tecnologias (internet). Consideramos que o PDE possibilitou a pesquisa e a autoria do pensamento. Que resultaram na produção de materiais com uma fundamentação teórica sobre como trabalhar em sala de aula com a diversidade étnico- racial, atendendo assim a lei 10639/03. Acreditamos que o caminho é este pois não adianta apenas criar a lei é preciso envolver o professor nesta discussão. E principalmente possibilitar a produção de conhecimentos científicos. E neste sentido foi fundamental o papel da Universidade (Unioeste). Onde o professor pode contar com o apoio de um


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orientador (professor da universidade) no sentido de somar conhecimentos sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana mediados pelas tecnologias. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afrobrasileira e africana. Brasília: MEC/SECAD, 2004. HELLER, A. O cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. LIMA, H. P. A desconstrução da discriminação do negro no livro didático. In: MUNANGA, K. (org.) Superando o racismo na escola. 2.ed. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação e Diversidade, 2008. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4575.pdf>. Acesso em: maio. 2012. MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000. OAKSHOTT, M. Sobre a história e outros ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003. p. 105. SÁ, C. N. Quadro feitor castigando escravos de Debret: uma proposta de estudo de ensino. Disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb= professores&id=31>. Acesso em: maio 2012. SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Caderno de orientações didáticas para EJA História: etapas complementar e final. São Paulo: SME / DOT, 2010. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 8.ed. São Paulo: Contexto, 2003. SILVA, A. C. A desconstrução da discriminação do negro no livro didático. In: MUNANGA, K. Superando o racismo na escola. Brasília: Secretaria de Educação e Diversidade; Ministério da Educação, 2008. SILVA, E. A.; MELO, J. W. EJA 8º ano. 2. ed. São Paulo: IBEP, 2009. v. 3 (Coleção Tempo de Aprender). SILVA, M. D. V. Entre a luz e a sombra: a questão afro-brasileira e a Lei 10.639/03 no contexto escolar. Umuarama, 2009. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2674.pdf?PHPSESSID= 2009050410452273>. Acesso em: maio. 2012. VALENTE, J. A. Mudanças na sociedade, mudanças na educação: O fazer e o compreender. In: VALENTE, J. A. O computador na sociedade do conhecimento. Campinas, SP: Nied, 2002.


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