A produção e distribuição do cinema nacional dão a pauta do Festival do Rio
Como os fabricantes de negativos para cinema enfrentam a digitalização
Canal 21 amplia alcance e quer ser rede nacional com perfil segmentado
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Ajuda, mas não resolve Mesmo com regras mais flexíveis, mídia precisará do PT em 2003 ano11nº122NOVEMbro2002
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editorial Passada a eleição, e com ela o tal período de “incerteza” que tanto sacudiu os mercados, tem início no País um novo ciclo político e econômico. A chegada do PT e seus aliados ao poder central se deu sob a promessa do crescimento e do desenvolvimento. O novo presidente e sua equipe têm em uma das mãos um dos maiores cacifes eleitorais da história, e na outra o desafio de
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promover a retomada econômica sem o descontrole inflacionário. Não será fácil,
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mas os 52 milhões de votos e a expressiva bancada parlamentar devem dar ao mandatário a força política necessária para tentar. O setor de mídia vem sendo um dos mais afetados, não só no Brasil mas em todo o mundo, pela estagnação econômica. A recente reestruturação da dívida da Globopar, no final de outubro, é o exemplo mais eloqüente desta situação. Mas a crise não é exclusividade de um único grupo. Praticamente todas as televisões enfrentam hoje um momento difícil, para não falar em segmentos ainda mais sensíveis, como a imprensa e a TV por assinatura. Tanto o atual governo quanto o próximo já demonstraram disposição para ajudar estas empresas, das mais variadas formas. Fernando Henrique editou, ao final do seu mandato, a MP 70, que abre as empresas para o capital estrangeiro e ainda mexe nos limites de propriedade de emissoras, em uma medida que contrariou o próprio acordo feito com o Congresso para a alteração do artigo 222 da Constituição. O PT, através de seu presidente, José Dirceu, já deu a entender que não deixará que as empresas quebrem de vez. Basta assistir a televisão estes dias para ver que o namoro entre o broadcast e o novo governo já começou. Mas deixadas de lado estas aproximações, muito questionáveis do ponto-de-vista da democratização das comunicações, o que o PT pode fazer de melhor para ajudar a mídia é cumprir o compromisso assumido com o eleitorado. A retomada do crescimento econômico é o ponto fundamental, a condição necessária para a recuperação do setor. Com a reativação da economia, os negócios voltam a andar, as contas voltam a ser pagas, os créditos ressurgem e as verbas de publicidade crescem. É disso efetivamente que as indústrias de televisão e audiovisual como um todo precisam. Esta é nossa esperança, e a de todos os brasileiros.
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CAPA
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Xadrez na mídia MP 70 ajuda, mas broadcasters dependerão do novo governo para sair do buraco
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tecnologia
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A digitalização do acervo da Globo
Em 2003, a Central Globo de Engenharia dá início ao processo, que prevê converter todas as imagens jornalísticas e esportivas
televisÃo
Um novo Canal 21
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artigo
Novidades na programação, formatos diferenciados para anunciantes e expansão para fora de São Paulo são as marcas do canal agora
As possibilidades do WM9 na era digital
Paulo Cesar dos Santos, da Microsoft, detalha o Windows Media 9 Series, que consumiu US$ 500 milhões em três anos de pesquisas
cinema A produção audiovisual em pauta
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produtos
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As películas que vão brigar com o cinema digital
Grandes nomes nacionais e internacionais se reuniram no Festival do Rio BR 2002 para discutir o produto latino-americano
SCANNER
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Kodak e Fuji concentram esforços para abrir o leque de opções no mercado de negativos
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Como fica a agência? Impasse burocrático lguns produtores audiovisuais estão recla A mando do impasse criado neste final de governo entre Ancine e Ministério da Cul tura (MinC) em relação à aprovação dos projetos de incentivo audiovisual. Existem empresas dispostas a investir ainda no exer cício fiscal de 2002, os projetos estão pron Augusto Sevá tos, mas não conseguem ser enquadrados nas políticas de incentivo. Segundo apurou Tela Viva, a situação de impasse entre o MinC e a agência, que já vem de muito tempo, está ainda mais crítica porque não existe uma centrali zação nesse trabalho e nem vontade política do ministério de resolver as pendências em fim de mandato. Mas há quem aposte que o MinC já esteja limpando as gavetas. Durante o Congresso ABTA 2002, em outubro, o diretor da Ancine August o Sevá anunciou que a agência será, em breve, responsável pela aprovação de projetos para a Lei do Audiovisual e para parte da Lei Rouanet. O que seria uma solução para o impasse e ainda agilizaria os processos burocráticos, porque os requisitos para produção com recursos da Condecine e da Lei do Audiovisual são os mesmos. Quanto à Lei Rouanet, a Ancine julgaria somen te os projetos referentes à produção audiovisual.
Independentes iniciam negociação As produtoras independentes de televisão, representadas pela ABPI-TV, e as programadoras internacionais, representadas pela TAP, tiveram em outubro seu primeiro encontro institucional. Segundo o presidente da ABPI-TV, Marco Altberg, o resultado foi muito positivo e as programado ras mostraram-se interessadas e dispostas a começar a produzir local mente ainda este ano. “Os canais aceitam inclusive abrir suas grades de programação para inserir a produção nacional”, conta. O maior problema, explica, ainda são as dúvidas em relação aos deta lhes de funcionamento das co-pro duções, do uso dos recursos etc. Por isso, as associações elaborarão Marca na pele listas com as principais dúvidas para serem encaminhadas à Anci Criada por Claudia Issa, com ne. Está prevista nova reunião neste direção de arte de Juliana Issa mês de novembro. e de Luciano Zuffo — um dos
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Com a troca de governo, a Ancine passa por uma situação complicada. Primeiro por que parte de suas atribuições ainda precisa ser transferida do MinC, o que teria que ser feito por decreto presidencial. Depois, porque há um conflito evidente entre produ tores independentes, grandes produtores de cinema nacional e estúdios estrangei ros; conflito esse que se materializou em um grande mal-estar entre Gustavo Dahl, presidente da Ancine, e Luiz Carlos Barreto em reunião realizada no mês passado para discutir questões do mercado cinematográ fico, envolvendo exibidores, distribuidores e produtores. Os produtores estão insatisfei tos com a Ancine, mas sabem que ela é a única ferramenta de que dispõem. Mais que isso, a Ancine precisa se posicionar diante das perspectivas políticas para 2003. Trata-se de uma agência que se viabilizou graças ao trabalho do Gedic mas, sobretudo, ao apoio pessoal do presidente Fernando Henrique Cardoso. Não foi uma agência dis cutida pelo Congresso e que, portanto, tende a se enfraquecer no próximo governo. Além disso, o programa de cultura do PT não dá ao cinema comercial o mesmo peso dado pela Política Nacional de Cinema estabeleci da por FHC.
s ócios da Sentimental Filme —, a marca da produtora paulista é uma tatuagem em forma de coração. O tatuador Leds fez o desenho no braço de um dos funcionários da agência de design Issa.D/A. A marca foi fotografada e foi mantido o fundo, ou seja, a pele.
Fotos: Gerson Gargalaka (Augusto Sevá) e divulgação
Tecnologia em crise A 5D, desenvolvedora de softwares de correção de cores e composição, fechou suas portas no final do mês de outubro. A empresa tinha 50 funcioná rios em Londres e Los Angeles, e era a responsável pelo software de composi ção Cyborg HD, que está na versão 2.5. Ainda não se sabe se outra empresa comprará os direitos do produto. Outra que encontra problemas é a Media 100. A empresa foi notificada pela bolsa eletrônica norte-americana Nasdaq que suas ações preferenciais com pletaram mais de 30 dias consecutivos abaixo do valor mínimo de US$ 1,00 por ação, requerido pela Nasdaq para que a empresa possa ser negociada em seus pregões. Pelas regras, a Media 100 precisa recuperar o preço mínimo até o dia 31 de dezem bro e se manter assim por, no mínimo, dez dias para que possa continuar na bolsa. Caso contrário, a empresa terá que transferir suas ações para o SmallCap Market da Nasdaq, onde terá até o dia 29 de setembro do próximo ano para recuperar o valor mínimo de US$ 1,00 por ação e se manter por 30 dias consecutivos para poder voltar aos pregões da Nasdaq National Market.
Cultura audiovisual
Mentira virtual Para divulgar o novo recurso dos celulares Nokia — que captam e transmitem imagens — a Lew, Lara criou um filme “pegadinha”. Um cara está no trabalho, tira a camisa, põe os óculos escuros e vai até a sacada, fingindo que está na praia. Tira uma foto com o celular e envia para outro amigo. Para não ficar para trás, o amigo fica em frente a um pôster de Nova York e devolve a mentira. Com criação de Carlos Nunes e Rodrigo Pinto, o filme foi produzido pela Cia. de Cinema e dirigido por Rodolfo Vanni.
A Pinnacle inaugurou o Centro Cultu ral Pinnacle Home, um espaço aber to ao público voltado à popularização das tecnologias de produção audiovi sual através de cursos, workshops e treinamentos. O local tem auditório com capacidade para 40 pessoas e deve receber cerca de sete mil alu nos ao ano. Conta com estações de edição de vídeo não-linear e outros equipamentos e softwares profissionais e semiprofissionais. A previsão é que em breve o centro seja ampliado com equi pamentos da linha broadcast para transmissão de imagens ao vivo. A Pinnacle já fechou acordo com a Pioneer e a JVC para a doação de equipa mentos para o local. A Pionner doará gravadores de DVD de mesa e para micro computadores e a JVC contribuirá com filmadoras digitais semiprofissionais, além Relações manuais de câmeras internas e externas da linha profissional. O Centro Cultural Pinnacle A diretora da Film Planet Ivy Abujamra assina, pelo segundo ano Home fica na Rua Serra do Jairé, 663, no consecutivo, a criação e direção de uma das vinhetas de abertura bairro do Belém, em São Paulo. do Mix Brasil 10 — 10º Festival da Diversidade Sexual. O filme está sendo exibido em salas de cinema e na MTV. A vinheta, ilus trada com faixas nas cores da bandeira do movimento gay, mostra uma série de gestos feitos com as mãos representando relações sexuais. “Trabalhamos com os efeitos de várias máqui nas diferentes para produzir os fotogramas. Durante cer ca de um mês digitalizamos nossas mãos em scanner, montamos as cenas no Fla me e depois animamos no Inferno”, explica Ivy. Correção: Estava incorreta a informação divulgada pela assessoria de imprensa da Innova Produções sobre a organização do ResFest, publicada na página 10 da edição de outubro de Tela Viva. O festival não deve mais acontecer no Brasil.
cleaner
PRV-9000 Pro A Pioneer lançou o gravador de DVD PRV-9000 Pro. Voltado para o mercado profissional, o equipamento é uma unidade única de desktop que edita e grava vídeos em mídias graváveis e regraváveis (DVD-R e DVD-RW). Além disso, pode gerar até 99 títulos no menu. O PRV-9000 conta com porta de comunicação no padrão IEEE 1394 (FireWire) e com entradas e saídas analógicas e digitais, o que possibilita sua conexão com outros equipamentos de vídeo, incluindo os que trabalham no formato Component Betacam, possibilitando a transformação de um padrão para outro em um apertar de botão. www.pioneer.com.br
Effect Essentials A Buena Software anunciou o Effect Essentials, um pacote com dez plug-ins de efeitos para o Final Cut Pro. Entre os plug-ins estão corretores de cor com ajuste de curva RGB e HSV (Hue-Saturation-Value) e vários efeitos visuais. Os plug-ins estão à venda por US$ 249 no site da empresa, que também tem uma versão demo. Os softwares rodam em Final Cut Pro 3.0, ou mais recente, nos sistemas MacOS 9 e MacOS X. www.buena.com
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A Discreet colocou no mercado a sexta versão do cleaner para Macintosh, software de codificação de vídeo. Trata-se de um complemento para aplicações de edição como o Final Cut Pro, Premiere e Avid Xpress DV. O cleaner é capaz de codificar o sinal de vídeo em vários formatos. Dá suporte ao MPEG-4 e compressão de áudio Advanced Audio Coding (AAC) através do QuickTime 6, conta com a tecnologia VBR (variable bit rate) para compressão em MPEG-2. Também codifica para os players RealMedia, Windows Media e Kinoma (formato popular para dispositivos handheld). Além disso conta com 150 préconfigurações de codificação, mais de 50 filtros e ferramentas de correção e suporta micros G4 com dois processadores. O preço é de US$ 599 nos EUA. O upgrade já pode ser feito por US$ 179 no site da empresa. www.discreet.com
DVCPRO A Panasonic anunciou nos EUA uma nova linha de produtos DVCPRO. A família é formada pelos VTRs de edição AJ-SD955A e AJ-SD930 e a camcorder AJSDC915. Todos os equipamentos trabalham a 25 Mbps e 50 Mbps. Ambos os modelos de VTR podem gravar 92 minutos no modo 50 Mbps 4:2:2 ou 184 minutos no modo clássico 25 Mbps 4:1:1. Para fazer o playback, eles detectam automaticamente AJ-SD955A entre os formatos DVCPRO50, DVCPRO, DVCAM e DV; para o formato Mini-DV é necessário um adaptador. Além disso, existe uma placa IEEE-1394 (FireWire) opcional, para comunicação com PCs. O AJ-SD955A também pode gravar em formato PAL AJ-SD930 (625 linhas) e conta com um painel de edição frontal capaz de controlar até duas máquinas simultaneamente. A camcorder AJ-SDC915 trabalha nos aspectos 16:9 e 4:3, tem como opcional o adaptador de áudio AJ-CA910 para gravar até quatro canais independentes de áudio e trabalha com iluminação mínima de 0,11 lux em F1.4. Os VTRs AJSD930 e AJ-SD955A estão à venda nos EUA por US$ 14.995 e US$ 19.995, respectivamente, e a camcorder AJ-SDC915 por US$ 18,9 mil. www.panasonic.com
AJ-SDC915
Tamanho É documento aircam desenvolve grua de 15 metros, a maior da américa latina, e traz para o brasil equipamento de US$ 155 mil. A Aircam Sistemas Especiais Cine e TV lançou no final de outubro a maior grua da América Latina. O equipamento, batizado com o nome nada singelo de Monster, chega a 15 m de altura quando está na posição vertical. Para criar o “monstro”, a equipe da Aircam gastou três anos e meio em pesquisa e desenvolvimento. “Talvez fosse mais barato trazer uma grua de fora, mas agora temos um know-how que não tem preço”, diz Homero Martins, sócio da Aircam. Quando Martins resolveu desenvolver e fabricar a grua, foi para os Estados Unidos e, na NAB de 1998, fotografou e gravou em vídeo todas as gruas que Monster — equipamento consumiu 3,5 anos estavam lá. “Todo tipo de material de em pesquisa e desenvolvimento.
A cabeça HotHead II permite infinitas rotações.
pesquisa era bem-vindo”, explica. Naquela época, a maior grua no mercado brasileiro tinha 8,5 m e nos EUA era de 12 m. “Não quis fabricar algo que já existisse, então pedi para dois engenheiros, um mecânico e outro aeronáutico, começarem a estudar a viabilidade de uma grua de 15 m”, lembra Martins. Na Aircam, que iniciou no mercado brasileiro com um side mount para helicópteros, costuma-se dizer que “o helicóptero voa e a grua não. Mas a Monster chega perto”. A estrutura do equipamento é de duralumínio e aço inox, o que proporciona leveza e robustez, com um fator de segurança muito acima do exigido pela ABNT. A grua pode ser montada com plataforma para dois técnicos, suportando 260 kg e atingindo 9,5 m; para um técnico, com peso máximo de 160 kg e atingindo 9,5 m ou 12,5 m; e com cabeça remota, suportando 90 kg e atingindo
12 m ou 15 m. O equipamento pesa (incluindo os contrapesos) 1,6 toneladas e consome cerca de 1h30 na montagem e no balanceamento. Cabeça giratória Como opção no uso da Monster, a Aircam importou uma cabeça HotHead II, da Egripment Support Systems. Usando um sistema no qual os cabos de controle da câmera são conectados ao eixo de suporte da cabeça e os cabos da câmera na própria cabeça, o equipamento permite infinitas rotações para movimentos de Pan e Tilt. Está previsto para janeiro do próximo ano um terceiro eixo, para que a cabeça possa fazer movimentos Dutch. O controle do equipamento pode ser feito por manivelas (Crank Wheels) ou C.A.T. (Pan Bar), o que permite controlar os movimentos de maneira familiar ao operador. Além disso, a cabeça é uma das mais leves do mercado, pesando apenas 24 kg, e suporta cargas de até 70 kg. Podem ser usadas câmeras de 35 mm, 16 mm ou vídeo. Para controlar a câmera, a Aircam trouxe o FI+Z, da Preston. O equipamento, que trabalha por controle remoto usando freqüências de microondas, permite comandos de disparo da câmera e regulagem do foco, da íris e do zoom. Além da facilidade de operação, o controle remoto trabalha a uma distância de até 1,5 mil metros da câmera. O investimento na importação dos dois equipamentos (HotHead II e FI+Z) foi de US$ 155 mil. www.aircam.com.br fernandolauterjung
Fotos: Gerson Gargalaka (grua) e divulgação
Em sua nova sala de montagem instalada na produtora paulista Movi&Art, diante de um Avid de última geração, o montador Umberto Martins não se esconde. Sua espontaneidade se revela na fala rápida e debochada de carioca, e na empolgação que tem pelo trabalho. Mas o pseudocarioca na verdade é mineiro de Nova Era (cidade vizinha a Itabira, terra de Carlos Drummond de Andrade, de quem é até meio parente). Saiu de casa em 1964, com 14 anos, e foi para o Rio. Sua irmã já morava por lá, casada com Moisés Kendler, jornalista e assistente de Glauber Rocha em “Terra em Transe”, numa casa que respirava cinema. Por isso foi trabalhar no Museu de Arte Moderna como projecio nista. Assist i todos os filmes do Cinema Novo e da Nouvelle Vague. Nessa época, até dirigiu um curta — “Tempo Integral (Pare de Reclamar)”. O encontro com a publicidade surgiu em 72, quando a Lynx Film abriu uma filial no Rio. Era uma das maiores produtoras e fazia muitos filmes de cigarro. Eu era assistente de mon tagem de Alzira Cohen, até que ela encheu o saco e desis tiu. Daí comecei a montar os filmes.
Umberto Martins
Em 1980 recebeu um convite da Blow Up, outra produtora que tinha aberto filial no Rio. Foi aí que começou a freqüentar a ponte aérea, viajando sempre para São Paulo. Eu morava no Leme, odiava São Paulo. Um pouco depois, porém, ele se mudou definitivamen te para São Paulo, para trabalhar com João Daniel Tikhomiroff, na Jodaf, para onde voltou depois de uma breve passagem pela Chroma. A publicidade brasileira estava em uma fase boa, ganhando prêmios pelo mundo. Fizem os os primeiros clipes do Hollywood nessa época, aqueles com músicas famosas. Em 86, Umberto foi trabalhar na TVC de Dodi Taterka, montando o comercial “Soccer Faces”, para a Coca-Cola. A campanha mundial tinha mais de cinco horas de material e o diretor não gostou da ver são feita pela matriz da agência nos EUA.
2 A Movi&Art está cheia de novida des. Trouxe para seu staff dois novos diretores — Gugu Seppi (1) e Marcel Guariglia (2), vindos respectivamente da Lowe (onde era RTV) e da Casablan ca. Os dois foram parceiros na produção 1 de filmes para marcas como Nestlé, Uni lever e Johnson&Johnson’s, além de diri girem clipes. Depois de trabalharem juntos em alguns proje tos, surgiu a idéia de consolidar a parceria. Agora, os dois poderão exercer sua ousadia na Movi&Art. Além da dupla, a
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produtora paulistana agora conta com mais uma profissional em seu atendimento. Quem assume a função é Cani Sahm, que foi RTV da Talent e atendimento da O2. A produtora também fechou um acordo de representação comercial com a Copacabana Filmes, de Carla Camuratti. Por esse acordo, a produtora carioca passa a vender os direitos da Movi&Art no Rio. A parceria abre a possibilidade de novos vôos conjuntos, mas por enquanto as produto ras fazem suspense.
Fotos: Gerson Gargalaka (Umberto Martins) e divulgação
Nessa época começaram as mudanças de tecnologia. Surgiram as primeiras ilhas de edição. Eu que sempre tinha usado a moviola tive que começar a montar naquelas ilhas lineares U-Matic. Era um saco. Eu era muito bom na moviola, minha máquina tinha duas telas e a sala era cheia de negatoscópios onde eu colocava as figurinhas e podia analisar tudo. Depois de uma breve sociedade na Best Filmes, Umberto começou a trabalhar como frila. Até que sur giu o Avid, uma verdadeira moviola eletrônica, com a mesma maneira de pensar. E a Mega me ofereceu a Sala Garimpo, com um Avid e todos os recursos.
Umberto ficou nos EstúdiosMega até meados deste ano, quando o amigo Paulo Dantas — hoje um dos sócios da Movi&Art — propôs que assumisse a parte de monta gem da produtora. Ele ampliou tudo e me chamou para ficar aqui, fixo. Topei, mas resolvi mudar o acordo. Não quis ficar totalmente comprometi do. Além disso, gosto de ter assistentes, alguém para discutir. Meu trabalho não é solitário. Digo que sou um semibárbaro, um afegão médio. Não falo inglês, mexo no computador, sei operar, mas me canso logo. Gosto mesmo das figurinhas.
As figurinhas são os fotogramas, aos quais se dedica de corpo e alma. Em uma montagem, assiste a todo o material, sem exceção — às vezes, aproveita até o que aparentemen te tinha defeitos. Quando se empolga, põe-se a falar sobre seus dois assuntos favoritos: ele mesmo e a montagem. Tenho fama de chato e ranzinza, mas acho que a classe dos montadores é pouco privilegia da no Brasil. Além da falta de liberdade, a gente tem que fazer a versão do diretor, a da criação e a do cliente, tudo pelo mesmo preço. Para mim a montagem não é tarefa, é missão. Sou uma pes soa vaidosa e meu maior prazer é surpreender o cliente. Por isso, preciso trabalhar com liber dade. Eu gosto da propaganda, foi ela que me permitiu aprender.
O diretor de fotografia
Affonso Beato — conheci do internacionalmente pela fotografia primorosa dos últi mos filmes do diretor Pedro Almodóvar — é um dos mais novos membros da American Society of Cinematographers, a associação que reúne os dire tores de fotografia norte-ameri canos. Dividindo-se entre Bra sil e EUA, quando não está na Espanha filmando com Almo dóvar, Beato assina também a fotografia do novo filme de Bruno Barreto, “A View From the Top”. É o primeiro brasileiro a assinar as iniciais ASC ao lado do seu nome.
O produtor José Zimmerman assumiu no final de setembro a ouvidoria da Ancine. O ouvidor geral da agência diz estar “anali sando todas as formas de atendi mento ao setor audiovisual” e que a página da agência na Internet (www.ancine.gov.br) deverá ter um link para comunicação com a ouvidoria ainda este mês. Zimmer man disse que estará pronto para responder perguntas corriqueiras e que questões mais específicas serão repassadas aos respectivos departamentos da agência. “Esta mos definindo os prazos que deve rão ser obedecidos para que as questões sejam respondidas o mais rápido possível.”
O diretor Jeff Chies está de volta à Cia. de Cinema. Depois de dois anos trabalhando em várias produtoras do mercado paulista, Chies aceitou o convite dos sócios Maninho e Rodolfo Vanni para voltar à exclusividade na Cia. de Cinema. “Na Cia. de Cinema consigo juntar o prazer de trabalhar com as condições ideais de produção”, afirma.
Patricia Viotti de Andrade, sócia-diretora da Conspiração Filmes desde 1997, está deixando a casa. Segundo comunicado divulgado pela produ tora, Patrícia tomou a decisão baseada em motivos de natureza particular. Anádia Oliveira é a nova profis sional no time de atendimento da produtora Innova. Anádia já trabalhou na Sam Studio, Twis ter Studio e CaradeCão Filmes. Na Innova, além do atendimento, cuidará também da divulgação e venda de projetos e da estrutura da produtora para os mercados publicitário e corporativo.
Vinda da Cia Ilustrada, onde trabalhou por 4,5 anos como finalizadora e assistente de direção, Andréia de Souza Figuei redo acabou de assumir a coordenação de finalização da Mr. Magoo, em São Paulo. O investimento na profissional é fruto de um esforço da produtora para fortalecer seu braço paulistano.
A produtora carioca CaradeCão assina a produção dos novos filmes que a agência Contemporânea criou para o Canal Futura. Os filmes de divulgação do canal educativo são protagonizados por apresentado res do canal, como Serginho Groisman e Giovanna Antonelli. A campanha tem exibição prevista para os canais da Globosat, além da própria TV Globo. O compositor e produtor Diogo Whitaker Poças, que era sócio da produtora multimídia Bros, partiu para projeto solo. Poças abriu a produtora de áudio Plugin que, em apenas três meses, já tem trabalhos de desta que no currículo, como os jingles para rádio e TV da campanha nacional da Penalty e da campanha em TV da rede de lanchonetes Habib’s. A produtora também conta com a ajuda do maestro Edgard Poças, pai de Diogo.
Xadrez da mídia Mesmo com a publicação da polêmica MP 70, setor dependerá do futuro governo para se levantar.
A
A tempestade nas empresas de comunicação parece que anunciou o default). não vai passar tão cedo. O cenário é complexo e cheio de Em política, nada é por detalhes. A transição política para o governo Lula marca, acaso. A Globo, que fez a cober também, um momento de mudança crucial para as empresas tura jornalística do processo eleito de TV, rádios, jornais e revistas. Em outubro, durante as elei ral mais ampla de sua história, não ções, aconteceram dois fatos que entrarão para a história das manifestou nenhum viés que pudesse comunicações no Brasil: a Globo anunciou a incapacidade interferir na votação, e isso foi encarado de pagar suas dívidas e a necessidade imediata de se reestru por setores do PT como um sinal de que a turar, e o governo decidiu regulamentar a entrada de capital maior empresa de mídia do País não estava dis estrangeiro em empresas de mídia por meio de uma medida posta a comprar briga com quem quer que fosse o provisória - e de quebra flexibilizou as regras de concentra presidente. Pelo contrário, queria se aproximar. ção de outorgas de radiodifusão. Já o governo FHC publicou, no início de outu As empresas de comunicação do País estão em apuros bro, a Medida Provisória 70, que regulamenta a entrada financeiros, e disso ninguém duvida. O fato de a Globopar de capital estrangeiro em empresas de comunicação e, de (holding da família Marinho para os investimentos em TV quebra, rompe alguns limites à concentração das outor paga, gráficas e Internet) ter anunciado no final do mês pas gas de televisão. Esta MP, ainda que fosse interessante à sado que não conseguirá pagar sem renegociar seus compro Globo, não era sua prioridade, segundo fontes bem infor missos de US$ 1,2 bilhão diretos, ou US$ 1,61 bilhão se con madas. Em nenhum momento a empresa defendeu a regu tadas as dívidas das subsidiárias, foi sintomático. O deputado lamentação do capital estrangeiro por meio de medida eleito José Dirceu (PT/SP), um dos principais articuladores provisória, muito menos apoiou a idéia de, nessa mesma da campanha de Lula e provavelmente do próximo governo, MP, flexibilizar as regras de concentração. Isso porque deixou claro em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV sabia que era o seu bom relacionamento com o PT que Cultura: a saúde financeira das empresas de estava em jogo, já que parte das negocia comunicação será, no governo Lula, “assun ções para a mudança da Constituição em to de Estado”. É uma posição que o partido seu Artigo 222 passou pelo diálogo entre a já vinha manifestando em outros momentos oposição e a cúpula da Globo. O processo e por outros interlocutores, e que coincide de regulamentação da Constituição seria com uma política de boa-vizinhança com a feito por lei, disse Walter Pinheiro, do PT/ mídia em geral promovida pelo PT ao longo BA, que era líder da oposição na Câmara da campanha. A Globo recebeu tratamento durante a negociação. especial nessa política: foi agraciada pelo A Globo sabe que não é bom ter um rela PT com o debate do segundo turno, deu a cionamento tumultuado com o PT, principal primeira entrevista exclusiva de Lula após a mente porque além da máquina do governo eleição, concedida ao “Fantástico”; e a segun Juarez Quadros: publicação o partido terá grande força no Congresso. E o da exclusiva ainda foi ao “Jornal Nacional”, da MP deveu-se a “pressões Congresso poderá, se quiser, discutir o proje no dia 28 de outubro (dia em que a Globopar do mercado”. to de Lei de Comunicação de Massa que será
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Fotos: Arquivo
a carloseduardozanatta | samuelpossebon de Brasília zanatta@paytv.com.br | samuca@paytv.com.br
deixado ao novo ministro das comunicações por Juarez Quadros, atual titular da pasta. Segundo declarou Quadros a esta reportagem, “se houver a transferência da radiodifusão para uma agência reguladora, a minha reco mendação ao novo governo é que seja para a Anatel”. É uma idéia que sempre causou arrepios aos radiodifusores. O PT assume o governo em 1º de janeiro e pode simplesmente engavetar o projeto de Lei de Comunicação de Quadros. Mas o docu mento estará pronto, em cima da mesa do novo ministro, que pode resolver cumprir as promessas históricas do PT e de fato mandar ao Congresso a discussão de uma lei para as comunicações. É, no mínimo, um momento de apreensão para os donos de televisões. MP 70 A mudança mais significativa que o novo governo deve enfrentar fica mesmo por conta
da Medida Provisória 70. Indo além da regulamentação do capital externo, contudo, a medida buscou alterar pon tos cruciais da regulamentação do setor de comunicação. Tornou-se uma tábua de salvação para as empresas de mídia ao per mitir, por exemplo, a reestruturação admi nistrativa dos grupos driblando as regras de concentração existentes há mais de 30 anos e garantir a presença de fundos de pensão e órgãos de financiamento público como o BNDES ou a Caixa Econômica em seu capi tal. E, mais grave do que isso, a MP parece ter sido “projetada” para se enquadrar em um cronograma em que o Congresso dificil mente teria condições e tempo de discutir seu conteúdo até que uma situação “de fato” estivesse criada. A decisão de publicá-la contrariou frontalmente o acordo firmado com os partidos de oposição (especialmente o PT) por ocasião da tramitação da emenda do Artigo 222. Foi também uma mudança de última hora, em sentido contrário ao traba lho do próprio Minicom. O ministro das comunicações, Juarez Quadros, havia colocado em consulta públi ca um documento que seria o projeto de lei que regulamentaria a emenda constitucio nal. O andar da carruagem indicava que o texto seria encaminhado ao Congresso
como um projeto do Executivo para tra mitação normal. De acordo com o próprio ministro, o encaminhamento por MP se deveu às “pressões do mercado”, que não podia esperar uma tramitação que poderia levar muito tempo para viabilizar a entra da de capital. Além de regulamentar a participação do capital estrangeiro, a MP foi bem mais longe. As mudanças mais importantes estão relacionadas com as alterações rea lizadas no Decreto-Lei 236, de 1967, que limita, no caso da TV aberta, a concen tração de concessões a cinco outorgas de VHF por grupo, não mais que duas em um mesmo Estado. B Foi alterado o parágrafo 3º do Artigo
12 (que limita o número de operadoras de radiodifusão para um mesmo proprietário) do 236/67. Isso foi feito para permitir que uma pessoa física ou jurídica, desde que possua menos de 20% do capital de uma empresa, possa ter igual ou menor partici pação em outras empresas de radiodifusão (tantas quantas desejar). B Os investimentos de carteira de ações,
desde que o seu titular não controle (ou seja coligado a) mais de uma empresa de radiodifusão ou ainda indique administra dor em mais de uma empresa, também não precisam seguir os limites do Decreto 236/67. O limite que caracteriza controle ou coligação é acima de 20% do capital. Quadros argumentou que as mudanças no Decreto 236 tiveram o objetivo de aca bar com eventuais “contratos de gaveta” existentes. Mais do que “contratos de gave ta”, o que se observa no setor é o descumpri mento formal dos dispositivos do 236/67. O problema é que tratar desse assunto em uma regulamentação que não tinha esse
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objetivo acabou criando a figura do “tijolaço” ou “corpo estranho”, no jargão parlamentar. Trata-se de uma prática condenada por parlamentares inclusive em projetos de lei comuns, quanto mais numa MP. “É incompreensível a edição desta medida num momento em que a elei ção está em curso, o governo está no final, o Congresso Nacional não foi ouvido, sem respeitar o Congresso eleito e sem que o Conselho de Comu nicação Social (CCS) tenha sido acionado. Se não houve má intenção, pelo menos houve má condução”, cri ticava no final de outubro o deputado Walter Pinheiro, ex-líder da bancada petista na Câmara e um dos princi pais formuladores do partido para a área de comunicações. O PT não ratificou inteiramente a iniciativa de Pinheiro, possivelmente pelo medo de comprar uma briga com os grupos de mídia em pleno período eleitoral. Passadas as eleições, contudo, as dis cussões sobre a MP 70 podem ganhar um rumo diferente. Entre as mudan ças propostas por Walter Pinheiro na medida provisória estão:
B Fazer com que o Mini
radiodifusores). B Substituição da expres são “órgão competente do Poder Executivo” (para realizar a fiscalização) pela expressão “órgão regula dor”. O partido propôs tam bém uma emenda prevendo que, enquanto não for defi nido este órgão, estas fun ções sejam exercidas pelo
com realize em 90 dias a contar da publicação da MP um recadastramento das composições socie tárias das empresas de radiodifusão de acordo com a situação vigente Pinheiro: “Se não houve em 30 de setembro de má intenção, pelo menos 2002 (antes da publica houve má condução”. ção da MP) e envie uma Minicom. cópia da documentação ao CCS. B Reduzir dos 20% propostos para 5% B Encaminhar ao CCS as diversas comuni (percentual igual ao admitido pela FCC cações de alteração de controle societário nos EUA para o mesmo tipo de participa previstas para encaminhamento ao Con ção) o limite de participação societária até gresso Nacional. o qual se dispensa a aplicação dos limites de propriedade do Decreto-Lei 236 para Tramitação os investidores em carteiras de ações. Uma MP tem força de lei e vale até que Neste caso específico, a preocupação do seja votada. As regras para a tramitação PT é o poder econômico indireto que das MPs impõem ao Congresso prazos esses investidores possam exercer sobre muito curtos. Após a publicação da MP 70, não houve tempo para que o Congres as empresas de radiodifusão. B Exclusão do Artigo 10 da MP 70, so sequer se organizasse para discutir a que permite a participação ilimitada de medida em comissão. Também venceu o qualquer pessoa física ou jurídica em prazo para que a Câmara pudesse votar empresas de radiodifusão, desde que com a MP antes do Senado começar a discu menos de 20% do capital (o tal artigo ti-la. A partir de agora, qualquer uma que “regularizaria” a situação de diversos das duas casas do Congresso (Câmara
TV digital e Ancine: mais desafios A questão da TV digital também entra na pauta de discussões com a mudança no poder central. No segundo semestre de 2002, o governo publicou, por decreto, suas políticas sobre o tema: mobilidade, alta definição, múltiplos canais, tudo o que os radiodifusores pediram está lá. Mas trata-se apenas de um decreto. “A política de TV digital é prerrogativa de governo, que poderá reeditá-la em um novo decreto se assim decidir”, lembrou Quadros ao ser questionado se em sua proposta de projeto de Lei de Comuni cação seria contemplada a política de FHC para TV digital. “Não entendo que possamos alçar ao nível de lei algo que é política de governo.” Outro ponto complicado que envolve o setor de comunicação é a questão da Ancine, um órgão autônomo, mas que no governo FHC ficou vinculado à Presi
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dência da República, por meio da Casa Civil. Salvo alguma canetada em sentido contrário, a partir do dia 31 de dezembro a Ancine ficará vinculada politicamen te ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Como a agência foi um projeto pessoal do presi dente FHC, criada por medida provisória e com pouca participação do Congresso, seu futuro no governo Lula ainda é incer to. A agência está pouco estruturada e falta a ela receber algumas atribuições que por divergências políticas ainda não saíram do MinC. Em um ambiente em que o futuro governo pode resolver discutir um arcabouço legal mais consis tente para as comunicações como um todo, a Ancine pode entrar em um limbo político complicado. O único indício do que poderá acontecer é o programa do PT para a área de cultura, bastante
diferente da política cultural de FHC: o PT quer que os investimentos públicos (mesmo aqueles resultantes de renúncia fiscal) fiquem sob a responsabilidade do Estado, e não das empresas privadas. Também não são privilegiadas apenas as alternativas comerciais de cultura, como o cinema. Ou seja, o presidente da Ancine e sua equipe precisarão agir rápido para encontrar o espaço político da agência no futuro governo. Há ainda as questões relacionadas ao conteúdo das redes de TV, como a polí tica de classificação indicativa, hoje res ponsabilidade do Ministério da Justiça. Todas estas questões são extremamente complexas e não foram definidas no pro grama de governo do PT, que cautelosa mente evitou, em sua estratégia eleitoral, colocar qualquer coisa que pudesse ren der atritos com as redes de televisão.
OUTRAS novidades da medida provisória Além dos pontos polêmicos (flexibilização dos limites do Decreto 236/67), a Medida Provisó ria 70 estabelece algumas outras regras importantes para os grupos de mídia que buscam se reestruturar societária e financeiramente. Entre as principais alterações estão:
• Para evitar participação de estrangeiros acima dos 30% previstos na Constitui ção, a MP criou um novo conceito que considera o possível encadeamento de propriedade de estrangeiros em diversas empresas. • Para controlar esta participação, o poder Executivo estabeleceu uma prerrogativa de requisitar as informações necessárias das empresas e dos órgãos de registro comercial ou de registro civil. • As alterações no controle das empresas de mídia serão comunicadas ao Con gresso pelas próprias empresas, no caso de empresas jornalísticas, e pelo órgão
ou Senado) pode começar a discutir em plenário a medida. E votá-la. Se no dia 13 de novembro nada for votado, a medida passa a vigorar sob o regime de urgência, ficando as pautas de votações condicio
competente do poder Executivo no caso das empresas de radiodifusão. • Uma vez por ano as empresas jornalísti cas deverão comunicar, aos órgãos de registro comercial ou de registro civil, a sua composição acionária e os nomes de seus diretores. • Os pedidos de registro comercial ou civil não serão aceitos caso infrinjam o percentual previsto na Constituição para o capital estrangeiro. E se mesmo assim forem feitos, serão considerados nulos. Também serão nulos os acordos de qual quer tipo que contrariem o disposto na Constituição.
nadas à votação das MPs. Ao final de outubro, a Câmara tinha pelo menos 35 MPs trancando a pauta, o que já estaria exigindo um esforço concentrado dos par lamentares em final de mandato.
Se em 1º de dezembro a MP 70 for vota da, será automaticamente prorrogada por mais 60 dias, ainda trancando a pauta. Os prazos de tramitação da MP ficam suspensos entre 15 de dezembro e 15 de fevereiro. Ou seja, caso seja prorrogada em 13 de novembro e não seja votada após isso, a MP 70 pode valer até o dia 2 de abril de 2003. Depois disso, caso não tenha sido apreciada, ela perde o valor e o Congresso tem que “disciplinar as rela ções jurídicas decorrentes da vigência da MP”. Ou seja, deve dizer se os negócios fechados com base na MP valeram ou não. Se não o fizer em até 60 dias, tudo o que foi feito durante a vigência da MP automaticamente vale. Segundo apurou Tela Viva, a Globo não vai usar a MP 70 como base jurídica para nenhum de seus negócios, para não correr o risco de criar atritos políticos. Esperará a conversão da MP em lei. A RBS, que também teria interesse em acer tar a situação das suas diversas concessões nos estados do Sul por meio da MP 70, tam bém avaliou melhor e não vai fazer nada enquanto a medida não for lei.
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televisão
Canal 21quer ampliar horizontes
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Com novidades na programação,
O Canal 21, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, incluindo co-produções, o canal começa pisa no freio e prepara-se para uma grande mudança. a formatar a criação da sua rede. Comemorando seis anos no ar - foi lançado oficialmen te em 21 de outubro de 1996 -, o canal aberto em UHF começa a reformular sua programação, de olho em um de seus principais objetivos: o de se tornar uma rede de qualificada, voltada para jornalismo e entretenimento”, televisão. Uma mudança e tanto para o canal que surgiu pontua Baccei, que faz questão de frisar que a programa para ter “a cara de São Paulo”. Ao mesmo tempo, quer ção não muda, mas será acrescentada. Para isso, a emis se posicionar para o mercado que está entre as emisso sora está buscando parcerias de co-produção. ras broadcast e os canais da TV por assinatura. Para comandar todas as mudanças, que serão implementadas Mudanças aos poucos e que devem se estender pelo ano 2003, E há muita novidade vindo por aí. Apresentado por volta para casa Mario Baccei, executivo que participou Eduardo Castro, o “Jornal 10”, exibido diariamente às da criação do Canal 21 e que acaba de assumir sua dire 22h, sofrerá alterações no conteúdo das pautas — um ção geral. bom exemplo é a criação de um espaço de entrevistas De acordo com Baccei, os formadores de opinião, que com publicitários — e contará com mais equipes de valorizam a programação plasticamente bonita, das clas reportagem. Em seguida, das 22h30 às 23h30, volta a ses A, B e C, acima de 20 anos, são o público-alvo. “Para ser exibido o “Cara a Cara”, cujo apresentador ainda grandes audiências, é preciso popularizar. Não é isso o estava sendo selecionado no final de outubro. que buscamos. Queremos audiência qualificada”, diz ele. No dia 18 de novembro, estréia “A Casa”, das 16h Para Marcelo Meira, vice-presidente de rede do Canal 21, às 17h30. Co-produzido com a brasileira DVT, o pro há um “espaço entre a TV paga e o broadcast, no aspecto grama será uma espécie de reality show que mostra o mercadológico”. De acordo com o VP, as emissoras broad dia-a-dia da mulher com sua empregada doméstica. “A cast estão todas bastante populares: “Ou Casa”, apresentado por Virgínia Novik, já eram ou se tornaram assim”. terá cunho social, de prestação de servi O primeiro passo para alçar vôo além ços, pretendendo dar dicas úteis para as da fronteira paulistana é a reformulação mulheres. da programação, que foi mantida estável Outra co-produção estava sendo acerta - ou “blindada” como os executivos pre da, no final de outubro, com a carioca KN. ferem defini-la - no último ano. Para o Sem data prevista ou nome definido, o pro telespectador brasileiro, em geral, não vai grama de ação e aventura irá mostrar o Bra interessar especificamente o buraco que sil, com um enfoque em esportes radicais. acaba de abrir em algum ponto da cidade Ainda neste mês de novembro, estréia de São Paulo. Por outro lado, São Paulo na grade “Larry King Live”, o programa de é uma grande metrópole e seus aspectos entrevistas que é sucesso nos Estados Uni gerais atraem a atenção de todo brasileiro. dos. O programa será veiculado de segunda “O Canal 21 está amadurecendo e, na sua “O canal está amadurecen a sexta-feira com áudio em inglês e legen nova postura, busca ampliar o mercado e do e busca ampliar o mer das em português (feitas no Brasil). “Chega ser competitivo”, analisa Marcelo Meira. mos a um acordo com a CNN — através da cado.” “Vamos buscar uma programação Bandeirantes —, que vai nos disponibilizar Marcelo Meira, do Canal 21
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sandrareginasilva sandra@telaviva.com.br
as séries históricas do Larry King, além de novos programas”, afirma vice-presidente Marcelo Meira. O diferencial estará por conta de uma apresentadora brasileira (ainda não escolhida) que irá apresentar a “história” do programa que será exibido em seguida, com o intuito de “posicionar” o telespectador para o que vai assistir. O Canal 21 vai reservar para a faixa das 19h às 20h a exibição de séries cults, que foram famosas nos anos 80 — ainda em negociação. O restante da grade, conta Baccei, será ocupada por filmes. Toda essa programação é de segunda a sexta-feira. Nos finais de semana, estão programados especiais musicais recentes, longa-metra gens e séries. “A grade vai ser lapidada. Já no segundo turno das eleições estaremos mostrando a nossa vocação. Na verdade, a grade vai ser móvel e, ao acontecer um grande fato, o Canal 21 estará lá para cobrir”, completa o novo diretor geral. Quanto aos espaços locados para os serviços de televendas, “serão mantidos, mas organizados. Dá para se ter anúncios classificados com qualidade. Um exemplo é a Vejinha”, opina Baccei. A idéia, para esses espaços locados, é criar uma espécie de roteiro de serviços. Em rede Paralelamente, a equipe da emissora está formatando a rede, que levará o sinal do canal para os principais mercados brasi leiros. Inicialmente, o sinal será levado para Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte, provavelmente ainda em 2002. Em seguida, o canal entra em mais 11 capitais. “Em alguns casos, como em Salvador, são repetidoras próprias do 21; enquanto em outros estamos fazendo parcerias”, explica Marcelo Meira, com pletando que as retransmissoras terão espaço para inserir programação local
em suas praças. Além disso, o Canal 21 continuará a fazer parte do line-up das operadoras TVA e Net, em São Paulo; na DirecTV (DTH, nacional); além da TV Cidade (em Salvador, Niterói, Baixada Fluminense, entre outras). Publicidade A nova postura do 21 também inclui uma atenção especial ao anunciante. “Estamos criando novos formatos de espaços publicitários, fazendo associa ção da marca do anunciante à marca do canal”, afirma Baccei. Uma das novida des poderá ser conferida no programa “A Casa”. “Será diferente. Vamos traba lhar a essência do merchandising, numa forma pouco explorada atualmente”, adianta o diretor geral, sem entrar em mais detalhes. E a busca por uma progra mação de qualidade, na sua opinião, irá de encontro ao desejo do anunciante. Apenas com as pinceladas das novida des que vêm por aí, o Canal 21 já fechou novos contratos de patrocínio. Na cober tura das eleições, que teve inclusive um programa especial, o canal contou com o patrocínio da Honda. A Mastercard, por sua vez, é a nova patrocinadora do “Jor nal 10”. Além desses, foi feito um acordo com a Peugeot para a cobertura do Salão do Automóvel, que aconteceu em outu bro em São Paulo. Durante os dez dias do evento, o canal exibiu a “TV Peugeot”, destacando os lançamentos da montado ra e as novidades da feira. “Ao colocar o novo conceito ao mercado, atraímos novos anunciantes”, conta Baccei. O diretor geral também está conside rando o outro lado da moeda e pretende contratar uma agência de publicidade, depois de dois anos sem ter uma, para fincar de vez a sua bandeira. “A marca é forte. O logo também tem força. Então devemos apenas modernizá-los.” Nos pla nos, estão campanhas para TV, rádio e jornal, mas a intenção é entrar forte em campanhas de iniciativas comunitárias. “Afinal, o papel da televisão é social tam bém”, conclui Baccei.
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tecnologia
Globo planeja digitalizar seu acervo
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Ao todo, são 65 mil horas: essa é a soma da duração das ima O trabalho deve ser iniciado em 2003 gens contidas no acervo de jornalismo e de esportes da TV e vai englobar todas as imagens Globo. Atualmente, todo esse material está guardado em um sistema analógico, mas a Central Globo de Engenharia do jornalismo e de esportes. elabora um projeto para iniciar sua digitalização no primei ro semestre de 2003. A escolha pelos acervos de jornalismo e de esportes espécie de backup ou se seria jogado fora, o executivo respon se deve à grande demanda dessas duas áreas por agili deu que os conteúdos serão analisados “caso a caso”. dade na busca de imagens de arquivo. “Em jornalismo A parte do acervo que está em U-Matic será a primei e em esportes a pesquisa no acervo é freqüente e muito ra a ser digitalizada. As imagens gravadas nesse formato dinâmica, o que justifica esse projeto de digitalização”, cobrem um período importante da história recente do País, explica José Manuel Mariño, diretor da Divisão de Proje de 1978 a 1986. Cenas como os comícios das Diretas Já e a to e Integração de Sistemas de TV (Dipi) da TV Globo e posse do primeiro presidente civil após a ditadura militar responsável pelos planos de digitalização. estão contidas na parte em U-Matic do acervo da Globo. Serão feitas duas cópias para cada “Escolhemos começar pelo catálogo em Uconteúdo do acervo: uma em alta e Matic exatamente por causa do seu valor outra em baixa resolução. As cópias em histórico”, relata Mariño. O material data baixa resolução serão armazenadas em do de antes de 1978 está todo em filme. Já discos rígidos e estarão disponíveis para as gravações feitas após 1986 estão em Beta acesso através da rede interna de compu SP e, mais recentemente, em Beta SX. Hoje tadores da emissora. em dia 70% do material produzido nas As cópias em alta resolução, por sua áreas de jornalismo e de esportes já estão vez, ficarão guardadas em fitas de dados, em formatos digitais. Não há uma previsão que serão manipuladas por um sistema de quando todas as 65 mil horas do acervo robotizado, cujos testes começam neste estarão digitalizadas. mês de novembro. O nome do fornece Quanto ao armazenamento de conteúdo dor desse sistema e mais especificações produzido em high definition, Mariño não Comício das Diretas e posse do sobre as fitas de dados a serem usadas sabe ainda se serão utilizadas as mesmas primeiro presidente civil estão ainda não podem ser revelados. Mariño fitas de dados e o mesmo sistema robotiza entre os primeiros materiais, explica que a opção pelas fitas de dados do. “Precisaremos fazer alguns testes no conta Mariño. se deve à boa relação custo/benefício e à futuro para decidir isso. Sabemos apenas grande diversidade de padrões e taxas de que o software de busca será o mesmo que compressão possíveis na gravação dos arquivos. As cópias estamos desenvolvendo no momento”, diz o executivo. Por em alta e baixa resoluções usarão arquivos com extensões enquanto, o material que é gravado em high definiton per MPEG. Sobre a compressão, Mariño informou que será utili manece armazenado em seu formato original. zada uma taxa de 25 Mbps para as cópias em alta resolução. Os comerciais continuarão armazenados em alta resolu O orçamento do projeto não pode ser revelado. ção nos próprios discos rígidos, devido à sua grande rotativi Considerando-se apenas as cópias em alta resolução do dade e à grande freqüência com que são veiculados. acervo U-Matic, a uma taxa de 25 Mbps, serão necessários em torno de 172 terabytes em fitas de dados, na avaliação Busca rápida de José Manuel Mariño. Uma das grandes vantagens decorrentes da digitalização Questionado se o acervo antigo seria mantido como uma será facilitar o trabalho dos editores de imagens. Atualmen Foto: TV Globo / Renato Rocha Miranda
fernandopaiva
do Rio de Janeiro fernando.paiva@teletime.com.br
te, a pesquisa no acervo é feita através de palavras-chave, o que não permite ver de imediato quais foram os trechos selecio nados pelo software de busca. Ou seja: os editores precisam pegar no acervo o mate rial indicado pelo software de busca para em seguida analisar suas imagens. Com a digitalização, haverá grande economia de tempo nessa tarefa, graças às cópias em baixa resolução de todo o acervo que estarão disponíveis nos discos rígidos dos computadores da Globo. Os editores poderão ver em suas telas os trechos sele cionados pelo software de busca antes de mandar o sistema robotizado buscar os arquivos em alta resolução. O novo soft ware de busca que passará a ser utilizado com a digitalização do acervo está sendo desenvolvido pelos próprios engenheiros da TV Globo. Vale lembrar que todo o conteúdo do acervo da Globo já está catalogado. A emissora conta com uma equipe de pesquisadores que classifica os vídeos e define quais devem e quais não devem ser guardados. Em seguida, um grupo de bibliotecários atribui pala vras-chave para cada conteúdo. Impacto Para exemplificar o ganho em agilida de que a digitalização trará, Mariño cita a transmissão de jogos de futebol. Ao longo de uma partida será possível gravar e indexar todos os lances e joga das importantes. Os clipes poderão ser usados durante a transmissão para ilus trar os comentários e, ao fim do jogo, a Globo irá arquivá-los, permitindo que sejam acessados através da base de dados e reutilizados a qualquer momen to. “Isso causará um impacto real e imediato nas operações do dia-a-dia”, comenta o executivo. Por enquanto não há planos para se transpor os acervos de ficção e entreteni mento da emissora para fitas de dados. A maior parte do acervo das áreas de ficção e entretenimento encontra-se em vídeo. Cerca de 90% do conteúdo produ zido por esses departamentos atualmen te está em formato digital.
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artigo
Windows Media 9 Series e a década digital
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A evolução da nova plataforma da Microsoft vai além da oferta e consumo
Temos observado ao nosso redor com certo espanto e satisfação a transição do mundo analógico para o digital. Hoje já se vendem mais câmeras fotográficas digitais que convencionais e mais CDs graváveis que CDs de música. Rádios e emissoras de TV em alguns países estão se ajustando a esta nova realidade, viabilizando transmissões digitais. Vivemos, portanto, em uma déca da digital em que o afloramento de diversas tecnologias tem sido fundamental para esta arrancada. A Internet largou na frente em termos de produção e oferta de conteúdo digital de áudio e vídeo. Recentemen te a Microsoft realizou o pré-lançamento da nova versão de sua plataforma, o Windows Media 9 Series, depois de investir US$ 500 milhões em três anos. A evolução da nova plataforma possibilita muito mais que a oferta e consumo de áudio e vídeo pela Internet. As novas carac terísticas viabilizam sua aceitação em mundos anterior mente impossíveis em função de suas altas exigências, como o do broadcast, cinema e outros. Vamos conside rar algumas destas novas características:
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Eliminação de buffering Esta nova capacidade, chamada fast strea ming, possibilita que o áudio ou o vídeo comecem a tocar imediatamente depois de selecionado, viabilizando uma experiência como a de TV para usuários broadband. Esta experiência se acentua quando temos diver sos canais de áudio ou vídeo e navegamos entre eles. Este recurso, além de aproximar a forma de se consumir áudio e vídeo na Inter net àquilo a que estamos acostumados como usuários de TV, também possibilita a inserção de comerciais de uma forma tão simples quan to adicionar o streaming do comercial numa playlist. A eliminação de buffering viabilizará a reprodução do arquivo logo após o encerra mento do conteúdo anterior. Mas quando eliminamos o buffering esta
de áudio e vídeo pela Internet. É indicada também para broadcast, cinema e outros.
mos basicamente eliminando uma proteção para que, em havendo variações na rede, o conteúdo continue tocando, certo? Como o sistema passa então a suportar estas variações? A resposta é simples: imaginem um usuário conectado a 200 kbps e consumindo um vídeo que está sendo transmitido a 150 kbps. O que o sistema faz é “puxar” o vídeo mais rápido do que ele está sendo consumido e armazenar isto num cache temporário, cria do no hard disk do usuário. Qualquer variação ou breve interrupção da rede faz com que a fonte do conteúdo seja desviada para este cache, mantendo a qualidade de serviço. Alta qualidade Os novos codecs são responsáveis por um dos grandes
O WM9 Player pode reproduzir arquivos da Internet sem a necessidade de buffering.
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paulocesardossantos* telaviva@telaviva.com.br
saltos de qualidade da nova plataforma. O aumento de qualidade do áudio foi de cerca de 20%, sendo possível agora gerar arquivos em 5.1 ou 7.1 (seis ou oito canais, respectivamente). Para vídeo, o incremento de qualidade foi da ordem de 20% a 50%, dependendo do bit rate. Comparado com o MPEG-4, um arqui vo típico do WM9 (Windows Media 9 Series) terá a metade do tamanho, com qualidade equivalente. Proteção aos direitos autorais A Internet mudou radicalmente a forma de se distribuir e consumir con teúdo rico como música, filmes, livros etc. Mas se por um lado este conceito ganhou grande aceitação, ele trouxe con sigo o terror dos produtores de conteúdo em relação às copias não autorizadas. Um dos elementos que compõem o WM9 é o DRM (Digital Rights Manage ment), a solução da Microsoft para pro teção aos direitos autorais. Este produto já tem atendido a grandes players do mercado de música e vídeo como EMI, BMG, Warner e outros por mais de dois anos. Sua mecânica é bem simples: o arquivo digital é criptografado e neste momento recebe as diretrizes de como poderá ser consumido: quantas vezes poderá ser visualizado, por quantos dias estará licenciado, se poderá ser transfe rido para um ou mais devices (dispositi vos) ou ainda se poderá ser transferido para um CD ou DVD. Quem não obtiver o licenciamento, que poderá ser pago ou não, não terá como acessar o conteúdo. A novíssima característica que este produto trás com o WM9 é a validação de conteúdo ao vivo, possibilitando modelos de pay-per-view, além do pay-per-down load, já disponível anteriormente. Conceitos como estes ampliam os hori zontes dos broadcasters, possibilitando, por exemplo, a contribuição de conteúdo de uma forma segura entre afiliadas e cabeças-de-rede ou até mesmo a criação
de produtos inovadores a serem distribuí dos por mídia física. Mídia física Uma das grandes novidades neste sen tido é a adoção quase que em massa por parte da indústria de eletroeletrônicos de característica de leitura de arquivos WM aos novos modelos de CD e DVD players. Empresas como Toshiba, Shinco, Ken wood, Aiwa, Blaupunkt e Pioneer estão largando na frente. Esta característica possibilita por exem plo que cerca de três ou quatro longametragens possam ser acondicionados em um único DVD, inclusive com áudio em 5.1. Se o conteúdo for música, em um único CD pode-se oferecer até 20 horas de material. Se usarmos um DVD, cerca de duas mil músicas podem ser gravadas. Do ponto de vista dos broadcasters, o empacotamento de minisseries e outros produtos premium passa a ser facilitado e barateado, possibilitando a criação de novos produtos. No Brasil a oferta de CD e DVD pla yers com esta característica já se dá pela disponibilização de produtos importados, e muito rapidamente através de produtos fabricados aqui mesmo. Novos mercados Quando os codecs atingem certo nível de qualidade e se adicionam a eles elemen tos complementares como proteção aos direitos autorais, áudio em seis ou oito canais e alianças estratégicas com fabri cantes de aparelhos e desenvolvedores de software, alguns mercados antes inima gináveis se tornam realidade. Podemos referenciar alguns deles: Cinema digital — Hoje já é pos sível digitalizar um longa-metra gem e viabilizar sua projeção com quali dade total em 720p (resolução de 1280 x 720) e muito brevemente em 1080i (1920 x 1080). Quando consideramos as necessidades de infra-estrutura para o
*Paulo Cesar dos Santos é business development manager South America da Microsoft.
cinema convencional, as vantagens são inúmeras: um sistema aberto composto por um PC bi-processado com uma boa placa de vídeo e de áudio 5.1 são sufi cientes para entregar para um projetor digital de alta capacidade um filme no qual o espectador mediano não consiga distinguir se a projeção foi a partir de película ou em formato digital. O arquivo gerado também é muito menor do que em outras tecnologias. Pode-se armazenar um longa-metragem em uma mídia DVD, o que facilita sobre maneira o processo de distribuição quer física, quer por outros meios como saté lite, ADSL etc. O DRM vai ser responsável pelo licen ciamento por número de exibições ou outro modelo de negócio. A facilidade de aquisição de conteúdo possibilitaria que o exibidor tivesse uma grade de programação bem mais rica, permitindo o retorno das saudosas mati nês, por exemplo, ou mesmo a utilização da sala de exibição em outros negócios, como eventos corporativos, educacionais etc., sem contar os altos custos de copia gem dos filmes, que praticamente deixam de existir.
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Broadcast — Novamente, a capaci dade dos codecs é um elemento fundamental para que a plataforma WM9 entre em um broadcaster. Hoje é possível
com esta tecnologia movimentar chips DirectXVA de empresas como internamente ou entre afiliadas ATI e NVIDIA, possibilitando play um conteúdo em “Composite back de conteúdo em 720p e 1080p Video Quality”, em uma fração num PC equivalente a um Pentium da banda originalmente necessá 4. Brevemente, o encoder também ria em satélite ou outra forma de estará disponível em chip, possibili transmissão. Isto significa uma tando que equipamentos como economia radical. câmeras possam trabalhar nativa A ida dos encoders e deco mente o formato WM. ders para o chip possibilitará muito brevemente uma nova Encoder do WM9 compacta vídeo com metade do TV sobre ADSL — Desde experiência na qual toda uma tamanho de um MPEG-4. que foi lançada, a TV passou cadeia de valores possa ser dis por uma série de transformações em ponibilizada para uma emisso sua forma de ser transmissão e ra. As fases de captação, edição, arma devices — O novo encoder possibilita recepção. Freqüência, satélite, cabo; uma zenamento e distribuição poderão também o controle de devices e câmeras busca constante com o objetivo de atingir se valer de um formato muito mais padrão IEEE 1394. Isto significa que, de mais usuários e gerar modelos comerciais sus leve e eficiente, especialmente quan dentro do software, pode-se iniciar o pro tentáveis. do se conta ainda com o DRM para cesso de gravação, playback, fast for Para as operações de cabo, cada vez mais, proteger o conteúdo quando neces ward e rewind. Esta característica é fun o grande desafio é o de ampliar a malha sário. Parceiros como Adobe, Avid, damental especialmente para “2-pass de cobertura de forma a ampliar o numero Discreet, Tandberg, Àccom e outros encoding”, quando o encoder precisa de usuários e a receita por conseqüência. estão trabalhando para anunciar em capturar e analisar o conteúdo no primei Mesmo uma legislação que determina o per breve sistemas que suportarão WM9. ro passo e então realizar o segundo centual de cobertura da malha dentro da con Mas não precisamos esperar por passo a partir da cópia em disco, poden cessão não é suficiente para garantir isto. O estes lançamentos para comprovar do fazer isto agora sem a intervenção do investimento em dólar e antecipado torna a eficiência da nova versão do WM. usuário. qualquer expansão um grande desafio. Uma atividade crucial pode ser facili Esta característica também torna pos Do outro lado temos as teles, que já fize tada imediatamente pelo uso desta tec sível a criação de uma Edit Decision List ram um grande investimento em infra-estru nologia: a contribuição jornalística. (EDL) que especifica segmentos de uma tura, chegando ao lar de milhões e milhões O dinamismo de um broadcaster fita para encoding. de brasileiros e que estão ansiosas por ofere exige que a comunicação entre afilia cer novos serviços a seus assinantes e ocu das e cabeça-de-rede ocorra com gran Source Switching para eventos ao par seu backbone, muitas vezes ocioso. de freqüência e alta eficiência. Esta vivo — Possibilita um ótimo con O WM9 passa a ser exatamente o elo comunicação por parte das afiliadas trole sobre a produção de um evento ao entre estes players. envolve muitas vezes contribuição jor vivo dando ao operador a capacidade de A democratização de tecnologias de distri nalística ou de outros conteúdos. transição entre conteúdo ao vivo (várias buição como o ADSL somada à grande eficiên Viabilizar estas transmissões em câmeras) ou pré-gravado. cia dos novos codecs e sistema de proteção a uma infra-estrutura ADSL, por exem direitos autorais (DRM) podem contribuir plo, pode significar a transferência de Time Code — O WM9 captura o para a geração de novos modelos de negócios streaming num padrão broadcast em time code original facilitando a em TV. Em conexões abaixo de 1 Mbps podetaxas próximas a 1 Mbps, ou conteúdo recuperação posterior do conteúdo de inte se oferecer uma qualidade de imagem muito para download a taxas menores. resse ou mesmo uma edição no formato próxima a de DVD, e áudio em 5.1. Pelo menos dois testes estão sendo WM. Viabilizar novos modelos de negócios conduzidos neste momento por emisso neste mercado é um grande desafio, conside ras distintas. Aceleração por hardware — rando sua complexidade, por isto queremos Embora uma das grandes caracte limitar nosso papel ao de disponibilizar tecno Controle de câmeras e outros rísticas da nova plataforma seja viabili logia que possa fomentar estes novos modelos zar encoding de alta qualidade por soft através de players do mercado. Entendemos ware, várias aplicações podem demandar que os objetivos e conceitos legais, especial PARA SABER MAIS uma performance mais rigorosa. Objeti mente os relacionados a concessões, devem Windows Media Web Site vando atender a esta demanda, num ser totalmente respeitados. Daí a importância www.microsoft.com/windowsmedia futuro próximo, a aceleração por hard de envolver os players corretos no estabeleci Windows Media Developer Center ware para o WM9 decoder será disponi mento de parcerias de maneira a não ferir as msdn.microsoft.com/windowsmedia bilizada em placas gráficas incorporando regras deste mercado.
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artigo
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N達o disponivel
m aking of A c r obacia , si n ô n im o d e e le g â ncia Bem distante dos tradicionais filmes da indústria auto mobilística, que costumam focar no desempenho dos car ros, o comercial de lançamento da nova versão do Astra lançou mão de acrobatas de circo para sugerir um ar de elegância. O foco, neste caso, foram os detalhes do mode lo atualizado do Astra, como faróis, frente, traseira. “A cada novo lançamento, temos que apresentar esses mes mos detalhes. Esta foi a forma que encontramos para dra matizar as mudanças desse modelo”, explica o diretor de criação Marcelo Lucato. Surgiu então a idéia dos acrobatas. “Já tínhamos traba lhado com o Ricardo Carvalho em outra campanha da
GM e gostamos da pesquisa de casting que ele nos apresen tou e de sua verve. Então apostamos nele para resolver esse filme”, acrescenta. A principal referência estética do filme, segundo o assisten te de direção Marcelo Cordeiro, foi o espetáculo Dralion, da companhia canadense Cirque du Soleil, inspirado na antiga tradição chinesa do circo. O figurino é semelhante, com malhas coladas e uma tonalidade forte de azul. “Nosso figuri no foi pensado para que tivesse algum brilho mas, ao mesmo tempo, não chamasse mais atenção do que o carro. O mesmo vale para a maquiagem e cabelo”, conta Marcelo.
f icha técnica
E l e n c o e s p e c i a l
Originalmente, pensou-se em dois artistas e no final, quatro foram chamados. “A produtora saiu à caça de pessoas de circo e nos trou xe uma série de testes, com mais de 30 pessoas”, explica Lucato. “Precisávamos de um elenco especial, portanto fizemos teste de VT com acrobatas e ginastas, usando um trampolim e col chões para vermos os saltos que eles poderiam fazer. Escolhe mos quatro. Dois do grupo Fractons, um da Nau de Ícaros e um de circo”, conta Marcelo.
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Título Acrobatas • Cliente Gene ral Motors • Produto Novo Astra • Agência McCann-Erickson • Criação Maneco Pires e Cilene Gonzalez • Direção de Criação Marcelo Lucato • Produtora Cia. Ilustrada • Direção Ricardo Car valho • Fotografia Fernando de Oliveira e Marcelo Rocha • Mon tagem Sérgio Glasberg • Finali zação Cia. Ilustrada • Trilha Dr. DD, Raw
lizandradealmeida lizandra@telaviva.com.br
P e r f o r m a n c e s o b r e o c a rr o Ao desenvolver o roteiro, a agência propôs que o carro fosse usado como a base da performance dos acrobatas. Todas as cenas envolvendo os acrobatas foram feitas em estúdio, apenas com o uso de equipamen tos de circo e com o carro como apoio. “O carro foi estudado para que a lataria não fosse amassada, então os movimentos foram programados para que o apoio fosse sobre as estruturas do carro”, explica Lucato. De maneira geral, a produção conseguiu resolver tudo na filmagem, quase sem utilizar recursos de pós-produção. O planejamento partiu de um layout com três ginastas, que serviu de base para a decupagem prévia e a previsão de possíveis dificuldades. “Nosso maior problema seria o plano em que os dois personagens passam dentro do carro, por causa das portas e dos bancos”, diz Marcelo. Neste plano, os acrobatas pularam realmente por dentro do carro. “Por motivo de segurança, tivemos de retirar as portas e os bancos, que foram filmados em separado (com câmera fixa) e depois aplica dos na pós-produção”, acrescenta.
Sem fundo de recorte Para as demais cenas, que mostram os acroba tas saltando sobre e ao redor do carro, foram utilizados dois tipos de equipamentos: um trampolim (chamado minitramp), usado na maioria das cenas de saltos por sobre o carro, e uma maca russa (uma espécie de balanço com prancha) que serviu para lançar um dos atores, ultrapassando todo carro. Em outro plano, um dos personagens dá uma pirueta na lateral do carro. Neste caso, nenhum equipamento foi utilizado, ou seja, o acrobata fez o salto com seu pró prio impulso, subindo pela lateral e dando a pirueta. Nenhuma das cenas exigiu fundo de recorte. “Só tivemos de apagar digitalmente o minitramp, a maca russa e os colchões de segurança”, revela Marcelo. “Para completar o truque, a montagem transformou os movimentos dos acrobatas em um verdadeiro balé”, diz Lucato. A trilha sonora, baseada em forte percussão e pon tuada por tambores, agregou ainda mais ao clima mágico da produção.
cinema
Produção sob a ótica internacional
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Festival do Rio BR 2002 e Rio Screening & Seminars reúnem grandes nomes do mercado audiovisual para
O Festival do Rio BR, maior do gênero cinematográfi discutir o produto latino-americano. co no País com a apresentação de mais de 400 filmes, consolida-se a cada ano que passa como vitrine para o cinema feito no Brasil e na América Latina. E o evento Sérgio Thompson Flores, CEO da World Invest paralelo, o Rio Screening & Seminars, mostra-se como Brasil, ressaltou que o conteúdo será o principal um importante fórum para a discussão sobre os negó campo de batalha na guerra por fatias da audiência cios na área do audiovisual. em um mercado cada vez mais competitivo — o que Neste ano, o Copacabana Palace emprestou seu gla abre grandes oportunidades para os produtores inde mour, entre os dias 30 de setembro e 8 de outubro, para pendentes com visão empresarial que souberem fazer os seminários dedicados à discussão de novas estratégias parcerias com os programadores. para venda, co-produção, produção e distribuição de fil mes. Os organizadores da edição 2002 do evento, Grupo Exibição Estação e Cima (Centro de Cultura, Informação e Meio Os seminários voltados à discussão sobre os mercados Ambiente), trouxeram 65 palestrantes para a participação norte-americano e latino-americano para os filmes em 15 painéis, workshops e palestras. Muitos desses pales produzidos na América Latina trantes, boa parte estrangeiros, começaram com Steve Solot, deram o tom dos negócios fecha vice-presidente sênior da MPA dos nos dez dias do festival. (Motion Picture Association) O painel que abriu os semi para a América Latina e Bra nários focou as parcerias entre sil. Ele ressaltou as limitações produtores independentes e a encontradas pelos filmes do televisão. Siegfried Braun, pro continente no mercado de salas dutor e editor geral da ZDF, de cinema dos Estados Unidos. maior rede de televisão pública Ainda que os hispânicos sejam da Europa, relatou que 100% o grupo étnico que mais vai ao da programação de ficção exi Os alemães Jurgen Biefang, da Smallfish cinema nos EUA, a penetração bida pela emissora é comprada Productions, e Sigfried Braun, da ZDF. dos filmes produzidos na Améri de terceiros — um cenário que, ca Latina não se relaciona neces segundo Dorien Sutherland, sariamente com o potencial de diretor geral da Sony Pictures consumo de produtos de entretenimento dessa popula Television Internacional, será difícil de se repetir no ção (a quarta nas Américas, maior que a população da Brasil “enquanto o horário nobre da televisão aberta Venezuela). Solot mostrou que dos 25 filmes de língua brasileira estiver ocupado pelas telenovelas”. Apesar estrangeira que mais faturaram no mercado latino-ame da observação de Sutherland, os palestrantes mostra ricano em todos os tempos apenas um foi de língua espa ram-se otimistas quanto à maior presença da produção nhola (“Como Água para Chocolate”). independente na televisão brasileira, mesmo que uma Contudo, os representantes das majors que atuam regulamentação mais efetiva com relação à questão não nos mercados latino-americanos de salas de exibição venha a ser implementada.
Fotos: divulgação
alexpatezgalvão do Rio de Janeiro telaviva@telaviva.com.br
r egião, viu a quantidade dos filmes pro duzidos cair para apenas seis ao ano em função da inexistência de mecanismos de financiamento à produção tais como os existentes na Argentina e no Brasil. Mercado europeu Nos seminários direcionados ao merca do europeu para o filme latino-ameri cano, os palestrantes, todos envolvidos com distribuição de filmes na Europa, relataram os recentes casos de sucesso de crítica e público da cinematogra fia latina no continente, em especial os filmes argentinos e mexicanos. Ida “Eu, Tu, Eles”, lançado no mercado alemão pela Columbia em circuito Martins, CEO da Media Luna Enter blockbuster, teve público de 5 mil espectadores. Na França, com a tainment, distribuidora internacional ajuda de uma pequena distribuidora, teve 80 mil espectadores. de filmes sediada em Colônia, relatou destacaram firmemente a disposição de diatos. Já Rodrigo Saturnino, da Sony do que os filmes latino-americanos falados produzir e de fazer circular os filmes Brasil, vê as dificuldades do cinema latino em espanhol têm conseguido médias de latinos no continente e no mercado muito mais ligadas ao âmbito da produção. público maiores do que os filmes bra norte-americano. Um importante inves Segundo ele, a quantidade de filmes pro sileiros, principalmente na Alemanha. timento nesse sentido foi feito recente duzidos na região ainda é Como uma das causas, mente pela Disney, em parceria com a pequena para incutir no Ida Martins e Meinholf Telefónica, na Miravista, companhia consumidor o hábito de Zurhost, produtor da ZDF pan-regional que objetiva gerar filmes ver os poucos filmes pro para a América Latina, res de qualidade para que possam ser distri duzidos da região. saltaram a dificuldade em buídos em todo o mundo. Esse foi justamen se encontrar o distribuidor O fortalecimento dos laços entre os te o tema abordado por mais adequado para cada países latino-americanos é o caminho a ser Mathias Ehrenberg, pro filme. seguido, segundo Martin Iraola, vice-presi dutor da mexicana Titán De acordo com Zurhost, dente da Buena Vista Latin America. Ele Producciones. Mesmo filmes brasileiros como defendeu o aporte eventual de recursos com vários sucessos de Ida Martins, da Media Luna: “Eu, Tu, Eles” foram lan estatais ou privados na distribuição e pro bilheteria nos últimos filmes em espanhol têm mais çados no mercado alemão moção dos filmes latinos no continente, anos, o México, maior público que os brasileiros na por grandes distribuidoras mesmo que os retornos não sejam ime mercado exibidor da Europa. (no caso, a Columbia) em
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financiamento à produção e a busca por projetos originais brasileiros. Jurgen Biefang, da produtora alemã Smallfish Productions, lembrou que grande parte dos filmes reali zados não consegue receitas suficientes que cubram seus orçamentos. Mesmo assim, Biefang frisou que existe certo consenso na Europa “Central do Brasil”, mesmo com um Urso de que, ainda que não dêem de Prata no Festival de Berlim, não saiu-se retorno, alguns projetos e cer bem no mercado germânico. tas histórias devem chegar ao mercado. Para tanto, existem um circuito mais acostumado a exi muitos mecanismos de financiamento, bir blockbusters norte-americanos. O boa parte proveniente das taxas de filme de Andrucha Waddington fez ape licenciamento pagas pelos telespectado nas cinco mil espectadores no mercado res europeus para o sustento das redes alemão. Outros filmes como “Tieta”, públicas de televisão. “Abril Despedaçado” e até “Central do Wolfgang Brehm, advogado da Brasil”, que ganhou o Urso de Prata no Brehm & Moers, escritório especializa Festival de Berlim, também não foram do no mercado cinematográfico, também bem no mercado de língua germânica. defendeu a regulamentação dos mercados Na França, ao contrário, “Eu, Tu, Eles” audiovisuais: os mecanismos de financia vendeu cerca de 80 mil ingressos ao ser mento cruzado na indústria audiovisual distribuído pela ID Distribution, peque (envolvendo o dinheiro da televisão) e na distribuidora francesa. a proteção do mercado, disse ele, “têm Isabelle Dubar, representante da ID, feito com que os produtores franceses relatou que o filme, produzido no Brasil sejam os únicos que realmente ganham pela Conspiração Filmes, foi exibido em dinheiro na Europa, o que prova que, um circuito específico, distante da reali fora dos Estados Unidos, todos os países dade de multiplex e mais voltado para a precisam de alguma forma de apoio esta veiculação de filmes independentes. No tal”. Brehm explicou que os incentivos entanto, Isabelle pontuou que, mesmo (federal e estaduais) de seu país estão com o sucesso nas bilheterias, o filme disponíveis para projetos de co-produção apenas trouxe retornos significativos ao com o Brasil, desde que envolvam profis ser vendido também para a televisão. É sionais alemães, assim como locações na por esse motivo que as distribuidoras Alemanha. européias preferem adquirir os direitos Os palestrantes alemães recomenda dos filmes para todas a janelas de exibi ram que os produtores brasileiros evi ção — como disseram Alain de la Mata, tem a apresentação de projetos para os da Wild Bunch (ligada ao Canal +), e eventuais interessados europeus sem Luis Bordallo, da Lusomundo, maior dis que antes tenham captado recursos no tribuidora de filmes em Portugal. Brasil. “Enquanto a captação de recur sos para a produção na Alemanha é, em Incentivos média, de cerca de cinco meses, os pro As possibilidades de parcerias na área jetos no Brasil demoram cerca de dois cinematográfica entre o Brasil e a Ale anos para conseguir recursos, o que mui manha, país homenageado no Festival tas vezes atrapalha o ritmo das negocia do Rio BR 2002 com uma mostra ções de co-produção”, pontuou Phoebe de filmes específica, foram o tema Clark, da produtora alemã Magnatel. de uma mesa redonda cujos aspec tos mais ressaltados referiram-se às Financiamento peculiaridades dos mecanismos euro No painel sobre as formas de financia peus — em especial alemães — de mento disponíveis para os filmes lati nos nos mercados local e internacional,
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Francisco Feitosa, diretor geral da War ner Brothers Brasil, e Marcos Oliveira, diretor geral da 20th Century Fox Film Brasil, demonstraram a disposição de suas empresas em investir no cinema nacional através dos mecanismos de financiamento dispostos no Artigo 3 da Lei do Audiovisual. De acordo com os executivos, as duas empresas estão envolvidas em vários projetos nos pró ximos 18 meses. Feitosa relatou que ainda não existe um departamento específico para seleção de projetos bra sileiros na Warner Brasil — um comitê recentemente organizado nos Estados Unidos está assumindo essa tarefa. Apesar de voltado para o financia mento da produção, as questões ligadas à distribuição foram retomadas nesse pai nel. Jorge Peregrino, vice-presidente para a América Latina e Caribe da UIP/Brasil, afirmou ser financeiramente compensa dor para o produtor ter seu filme comer cializado por uma das majors (grandes distribuidoras norte-americanas), pois estas têm maior estrutura e poder de negociação para conseguir negócios mais vantajosos nas diferentes janelas de exi bição. A vantagem da integração vertical foi, no entanto, questionada por Pablo Iraola, da Patagonik, grande produtora argentina de filmes. Apesar de fazer parte de uma empresa que tem entre seus acionistas a Disney (e também a Telefóni ca), Iraola acredita que, com uma média de 40 filmes norte-americanos para lan çar todos os anos nos mercados em que atuam, as majors podem não dispensar a devida atenção ao distribuir as produ ções locais. Mudança de hábito As possibilidades do mercado de home entertainment foram tema de dois pai néis no Rio Screening & Seminars. Representantes das quatro grandes distri buidoras brasileiras de vídeo doméstico falaram das transformações no mercado em decorrência da introdução do DVD e das dificuldades de distribuição do filme brasileiro em vídeo. Historicamente volta do para as locadoras, o mercado de home entertainment do Brasil figura entre os cinco maiores do mundo e está em pro cesso de mudança com a difusão, entre os consumidores, do hábito de comprar DVDs para se ter os filmes em casa.
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Mesmo no mercado de locação, o cinema nacional ainda precisa romper a barreira que o separa do público. Segundo Marcos Rosset, diretor geral da Disney Home Entertainment do Brasil, apesar do sucesso de alguns filmes brasileiros nas telas grandes, muitos não encontram público nas locadoras, o que acaba prejudicando a venda e a distribuição do produto nacional. A causa principal apontada pelos palestrantes foi a falta de investi mento dos produtores na divulgação e na distribuição voltadas exclusivamen te para esta janela. Dílson Santos, diretor geral da 20th Century Fox Home Entertainment Bra sil, chamou a atenção para o tratamen to dispensado pelo produtor brasileiro ao mercado de vídeo doméstico que, segundo o executivo, é a principal fonte de receita dos grandes estúdios de Holly wood, correspondendo a cerca de 40% de tudo o que faturam. “O vídeo tem uma importância que ainda não foi per cebida pelos produtores. Eles só vêem o glamour do cinema”, afirmou Santos ao sugerir que os produtores fechem contratos com o casting levando em conta o compromisso dos atores na pro moção dos filmes brasileiros em lojas que comercializam vídeos e DVDs e também nas locadoras. Um exemplo colocado no debate foi o filme “Avassaladoras”, produção da Total Filmes. Fred Botelho, presidente da 2001 Vídeo Brasil, locadora e varejis ta de VHS e DVD paulista, acredita que o filme tem feito uma boa trajetória no mercado de homevideo devido à boa divulgação feita à época do seu lança mento nas salas de cinema. De acordo com Dílson Santos, da Fox, até agora o filme vendeu 10.248 cópias para o mercado de locadoras (rental) e 3.983 cópias para o mercado varejista (sellthrough). Segundo Walkiria Barbosa, da Total Filmes, a base instalada de apare lhos VHS e DVD e o número de loca doras no País justificam um trabalho de divulgação que contemple, na época de lançamento dos filmes nas salas de cinema, os representantes do mercado de home entertainment, incluindo os donos de locadoras.
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Para Costa-Gavras, “assim como polícias, exércitos e moedas, cinema é questão de Estado”.
Preservação Apesar de focar os negócios na área de cinema, um dia inteiro dos seminários do Festival do Rio BR foi dedicado às discussões em torno da preservação de filmes. “Os diretores e realizadores de cinema deveriam se reunir para tentar convencer o governo da necessidade de se preservar a memória cinematográfica do País”. Foi esse o recado de Konstan tin Costa-Gavras, que foi presidente
por seis anos da Cinemateca Francesa. “Assim como polícias, exércitos e moe das, cinema é questão de Estado”, arre matou o diretor greco-francês ao defen der políticas direcionadas à área. Membros do Centro de Pesquisa do Cinema Brasileiro (CPCB) relataram seus esforços na preservação de obras nacionais importantes como “Aviso aos Navegantes”, clássico brasileiro de 1950, e “Menino de Engenho”, de Wal ter Lima Jr. A restauração do primeiro filme custou R$ 70 mil. O segundo, em fase final de processo de restaura ção, custou até agora R$ 120 mil. Tais valores referem-se apenas às despesas de laboratório. Segundo Marília Fran co, professora da ECA-USP, os gastos de pesquisa que geralmente antecedem o restauro de um filme podem corres ponder a mais que o dobro do total das despesas com laboratório. O processo de deterioração sofrido pelas matrizes de filmes brasileiros antigos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, assim como o recente
Balcão de negócios Progressivamente, o Festival do Rio BR firma-se também como um balcão para os projetos cinematográ ficos latino-americanos. Neste ano foram exibi dos mais de cem títulos nacionais e latino-americanos para críticos de cine ma, produtores e distribuidores interna cionais. Alguns deles estarão nos pró ximos festivais de Sundance, Roterdan, Locarno e Sarajevo. Os representantes desses festivais e outros “olheiros” internacionais tiveram o trabalho faci litado pelo showcase e o video scree nings montados em uma sala no Hotel Copacabana Palace, reservada exclusi vamente para a apreciação da cinema tografia brasileira e latina recente. Os organizadores do evento ainda não conseguiram quantificar os valores que são negociados durante o even to — informações tidas como “confi
denciais” pelos produtores. Iafa Britz, uma das diretoras do festival e organizadora dos seminários, acredi ta que as somas têm crescido, uma vez que os “olheiros” estrangeiros que estive ram nos anos anteriores garantiram vaga no evento deste ano. A intenção para os próximos anos é o lançamento de uma bolsa de negó cios — uma espécie de leilão de filmes latino-americanos que se encontrem ainda abertos a potenciais co-produ tores estrangeiros. Denominado Cine Market, o programa prevê a captação de investimentos em qualquer fase do filme: desde o desenvolvimento de pro jetos até a distribuição. Os eventuais investidores escolherão onde investir a partir de um leque de projetos cujo critério de seleção deve girar em torno do potencial para venda.
“despejo” desse material, foi trazido à tona por João Luiz Vieira, professor da Universidade Federal Fluminense. Vieira ressaltou que a mobilização em torno da conservação dessas matrizes no Rio de Janeiro trouxe uma nova consciência para a questão da preserva ção do cinema nacional. Cerca de 4,9 mil assinaturas foram colhidas em um abaixo-assinado defendendo a perma nência das matrizes no Rio de Janeiro. A articulação de várias entidades liga das ao cinema (Associação Brasileira de Cineastas, Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica, Associação dos Críticos de Cinema do RJ, entre outras), resultou na promessa da prefei tura do Rio de Janeiro em alocar R$ 3 milhões para que o Arquivo Nacional possa se adaptar para receber esse mate rial. Esta instituição, sediada no Rio, e mais a Cinemateca Brasileira em São Paulo, estão recebendo, em proporções iguais, os 45 mil rolos (cerca de nove mil títulos) de filmes que estavam no MAM-RJ. A necessidade de boas matrizes para
se passar para o digital, discussões sobre preser a obsolescência constan vação, foram oferecidas te das novas tecnologias três oficinas sobre rotei e a falta de padrões para ro, organizadas pela se armazenar e con empresa inglesa The servar os filmes em Script Factory, especiali novos formatos foram zada em inserir roteiris os motivos colocados tas novatos no mercado por Martin Koerber, de cinema. Nas oficinas preservacionista da estiveram presentes os Cinemateca de Berlim, alemães Tom Tykwer ao mostrar-se cético à (diretor de “Corra, Lola, John Maden, diretor de respeito dos processos Corra”) e Karl Baumgar “Shakespeare Apaixonado” de restauração digital. ten (produtor de “Simples “Se você tem um filme um dos presentes nas oficinas mente Martha”), além do do The Script Factory. a restaurar, espere o britânico John Madden máximo que puder, (diretor de “Shakespeare desde que ele não esteja se deteriorando”, Apaixonado”). Um workshop sobre como disse Koerber, que fez uma palestra espe a formação do elenco pode contribuir para cífica sobre os processos técnicos envolvi o sucesso de um filme também fez parte dos na restauração (orçado inicialmente da programação. Nesse workshop, John em Ä200 mil) de “Metropolis”, de Fritz Lyons, produtor americano dos bem-suce Lang, e outros filmes. didos “Boogie Nights” e “Austin Powers in Goldmember”, relatou os custos e os Workshops benefícios de se ter a presença de um astro Os seminários do Festival do Rio BR não como Tom Cruise (ainda que por alguns trataram apenas de cifras. Além das minutos) em um filme.
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A película contra-ataca
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Fabricantes apostam nos novos
Nos últimos dois anos, os maiores fabricantes mun negativos para a atual realidade diais de película para cinema, Kodak e Fuji, têm se digital do cinema. dedicado a abrir o leque de opções para o mercado de negativos. Em 2001, surgiram os negativos Vision Expression 500T (5284/7284), da Kodak, e F-400, da Fuji. Neste ano, a Kodak lançou o Vision 5263/7263 tabela de cinzas, o preto e o branco são os limites da 500T, enquanto a Fuji colocou no mercado o Reala latitude do vídeo, enquanto a película consegue trazer 500D. Os lançamentos chegam em um momento em detalhes nessas regiões. que setores da indústria e da mídia anunciam a morte iminente da película como suporte para a captação de Definição imagens, com sua substituição pelos formatos digitais A definição é outro desafio. “É um princípio físico: os — onde a high definition ocuparia papel central. Mas, grãos do negativo captam a imagem em modo bastante na guerra entre cinema óptico e cinema digital, Kodak similar ao olho humano, de maneira aleatória; enquan e Fuji estão apostando na bandeira branca: um cinema to isso, a captação em pixels, feita pelo vídeo, tem uma misto, onde a película continua predominan estrutura celular, diferente da de nosso olho. Por isso, te no momento da captação, o processo imagens muito detalhadas, como folhagens, ou de finalização acontece no meio irregulares, como a superfície do mar, não eletrônico e a mídia final inclui ficam com a mesma nitidez no vídeo que tanto a velha película para exibi têm quando captadas por película. O rosto ção em salas tradicionais como humano é outro problema: reparem nos o formato digital para veicu cílios dos atores — se vocês não conse lação nas novíssimas salas de guem ver detalhes é porque foi usado um projeção digital — configura negativo de grãos maiores ou a imagem ção que já começa a ser comum foi gravada em vídeo”, explica Barbosa. também no cinema brasileiro. Todos os novos negativos lançados Os novos negativos também estão também apostam na alta sensibilidade, de olho no mercado publicitário e uma das pontas de lança do exército digital, na produção de telefilmes em supor que permite trabalhar com menor quantidade Reala 500D, da Fuji: inédites tradicionais. de luz, com considerável economia no orça ta tecnologia da “quarta “Um dos problemas principais mento e maior agilidade nas filmagens. Um dos suportes digitais é a latitude. camada de cor”. dos problemas enfrentados pela indústria de Eles têm pouca capacidade de reter películas é que, quanto mais sensível o nega informações nas altas e baixas luzes. tivo, maiores são os grãos. Há algum tempo, Todos os testes de alta definição que são mostrados, porém, os fabricantes têm conseguido trabalhar pelícu com ótimos resultados, acontecem em situações ideais las mais sensíveis com grãos pequenos, sintetizando de luz. Para altas e baixas luzes, esses meios ainda não partículas planas em vez de utilizar grãos naturais. conseguem reter as mesmas informações que a película. A nova linha de negativos da Kodak vem complementar E é nisso que os novos lançamentos, em geral, apostam, o já bastante conhecido Kodak Vision 500T 5279 / 7259. trabalhando com menos contraste e maior latitude”, O modelo Expression (5284/7284) tem 17% menos con afirma o diretor de fotografia Alziro Barbosa. Numa traste que este, já o 5263/7263 tem 22% menos contraste. Fotos: divulgação
pauloboccato
paulo@telaviva.com.br
Ambos, portanto, podem para um estudo compa ser melhor trabalhados no rativo entre os negati telecine do que o tradicio vos 79 e 84 realizado nal 5279/7259. “O que vi por Alziro Barbosa e do material no C-Reality pela técnica do labora foi muito mais interessante tório Megacolor, Mar do que o esperado: o 84 tha Reis, e publicado tem um grão finíssimo e é no site www.abcine. impressionante a quantida org.br, da Associação de de informação captura Brasileira de Cinemato da na imagem, tanto nas grafia. altas como, principalmente, O grande desafio nas baixas luzes. Confesso de “Viva São João!” que foi a primeira vez que, — rodado em 16 mm, mais do que ficar olhando “O mercado publicitário com blow-up eletrônico para um 16 mm e pensan começa a despertar para para 35 mm — era que do que parecia 35 mm, eu negativos do tipo 84”. a maior parte das cenas simplesmente esqueci que Marcelo Capobianco, da Kodak ocorreria à noite, com era 16 mm. Pensei: puxa! muitas cenas em bailes Isto realmente vê mais que de forró e shows, onde a visão humana! Não me as condições de ilumi lembro de ter visto tudo aquilo na hora nação são adversas. “Apesar de promete da filmagem. Mas agora estou vendo e gos rem que eu poderia iluminar, e que tudo tando muito, e isso só acontece por ser em bem, até seria legal se tivesse certo grão, filme!”, diz o diretor de fotografia Marcelo sabia que o problema não era estético, mas Dürst, do documentário “Viva São João!”, da essência do documentário: a busca de de Andrucha Waddington, em depoimento informações, que, no campo visual, impli
ca em ‘informação fotográfica’. Num filme onde o mais importante acontece à noite e o mais interessante aconteceria justo onde e quando eu não pudesse iluminar, a questão não seria o grão ou a baixíssima luminosidade, mas acima de tudo a neces sidade de obter o máximo de informação visual nas diversas situações de luz e con traste que a noite nos impõe”, conta Dürst em seu depoimento. Cultura do contraste Negativos de baixo contraste não são a menina dos olhos de fotógrafos brasilei ros: nossa luz natural e nossa própria cultura audiovisual privilegiam o oposto. A grande aposta do 84, porém, é que, em casos onde a intermediação eletrônica entra em cena, o mais importante é reter o máximo de informações para serem trabalhadas no telecine. Barbosa compa ra: “Se você tem um filme onde não há intermediação eletrônica prevista, como ocorre na maioria dos curtas e em filmes de baixo orçamento, o 84 não é uma boa
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serem trabalhadas no telecine. Barbosa compara: “Se você tem um filme onde não há intermediação eletrônica previs ta, como ocorre na maioria dos curtas e em filmes de baixo orçamento, o 84 não é uma boa opção, pois a tendência é que a cópia final fique meio ‘chocha’, sem o contraste que o 79 pode propiciar. Se, mesmo assim, o fotógrafo optar pelo 84, é importante que o positivo seja mais contrastado, daí a Kodak ter cria do também o Kodak Vision Premier Color Print, para situações como essa. Com os positivos tradicionais e sem a intermediação eletrônica, é melhor ficar com negativos como o 79 ou o 48”, afirma. “Foi uma surpresa a receptividade que o 84 encontrou no mercado brasilei ro. Em pouco mais de um ano de exis tência, ele já chega a 40% das vendas locais de negativos do tipo 500 — os outros 60% ficam com o 79. Já o 63 não tem tido o mesmo sucesso”, diz Marcelo Capobianco, do Departamento de Produ tos Profissionais para Cinema da Kodak brasileira. Segundo Capobianco, a razão é que o baixíssimo contraste do 63 foi pensado principalmente para os merca dos europeu e asiático, que privilegiam os tons pastéis e cor da pele mais amarelada, características do cinema dessas regiões. “O 63 é muito próximo do Vision 320T (5277/7277), muito usado na Europa e pouco comum aqui. Nem temos trabalha do comercialmente esse novo negativo no Brasil”, diz Capobianco. De toda a venda
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novembro de 2002
de negativos do tipo melho. Portanto, essa 84 no País, 70% têm faixa de onda não pode ido para o cinema ser suprida apenas pela de longa-metragem, presença das três cores mostrando que o básicas. Normalmente, caminho da inter os fabricantes utilizam mediação eletrônica a tecnologia de desviar começa a crescer no a sensibilidade espec Brasil. “Mas o mer Muitas cenas de “Viva São João!” tral do vermelho para cado publicitário já foram captadas à noite. o lado de onda mais começa a despertar curta para suprir essa para essa emulsão e as vendas nesse setor deficiência, o que gera um efeito na têm crescido”, explica Capobianco. adaptabilidade em imagens feitas sob luz fluorescente. Mas a tecnologia da quar Quarta camada ta camada cria uma região sensível ao As novas linhas de negativos da Fuji ciano, buscando uma reprodução mais trabalham em duas vertentes: o F-400 fiel ao que o olho humano vê. (tungstênio) busca o mesmo espaço dos Em termos práticos, o Reala 500D novos negativos da Kodak, trabalhando propicia ótimo rendimento para situa com baixo contraste, grande latitude e ções em que há mistura de diferentes sensibilidade; enquanto o Reala 500D temperaturas de cor. “Esse negativo aposta na versatilidade e agilidade no responde bem quando o diretor de foto momento de filmar. Esse negativo tem grafia tem que registrar cenas em que se a inédita tecnologia da “quarta camada misturam interiores e luz natural, por de cor” — desenvolvida no final dos exemplo, ou quando a cena exige uma anos 80 para os negativos fotográficos passagem de um ambiente exterior da Fuji. para interiores”, diz Flávio Takeda, A física clássica — a começar por gerente de vendas de produtos profis Isaac Newton —, que norteia todos os sionais da Fuji no Brasil. O diretor de preceitos da ciência fotográfica, diz que fotografia Alziro Barbosa tem a mesma todas as cores do espectro podem ser opinião: “O Reala soluciona situações reproduzidas a partir das três cores bási nas quais você tem interiores com cas (azul, verde e vermelho). Pesquisas pouca iluminação artificial e entrada recentes, porém, detectaram que cores de luz do dia, barateando o custo de como o ciano — comprimento de onda produção ao agilizar a montagem do set próximo de 520 nanômetros (nm), e poupar equipamentos de iluminação”, dentro do espectro visível — compri afirma. Já o F-400 tem sido bastante utili mento de onda entre 400 nm e 700 nm zado para dramas e videoclipes. “É o nega —, são capturadas pelo sistema nervoso tivo com a melhor reprodução de tons de humano para suprir o componente ver pele já lançado pela Fuji”, diz Takeda.
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