Tecnologia: a solução brasileira da Sony para o jornalismo na TV
Produção: as mudanças na direção de arte com a alta definição
JX Plural se reestrutura e parte para a produção de programas independentes
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editorial Seria bom se os problemas brasileiros pudessem ser resolvidos pela promulgação de uma lei. Um deputado bem-intencionado poderia escrever: “Todo sem-teto receberá uma casa com dois quartos, água tratada e energia elétrica”, e pronto, acabou-se o déficit habitacional. É o que parece acontecer com o projeto de regionalização da produção que tramita no Congresso neste inicio de dezembro, o PL nº 256/91, da depu-
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tada Jandira Feghali (PC do B/RJ). A produção regional é tema da maior importância. A pluralidade, a diversidade de visões, opiniões e linguagem é que fazem a riqueza da cultura brasileira. Além disso, é saudável e desejável que cada região reproduza em seus meios de comunicação os costumes, o linguajar, as tradições locais. Mais até: que “exportem” essa linguagem para os outros cantos do País, fortalecendo a integração nacional. Mas da forma com foi colocado, o projeto deixa de lado um dado importante da questão: quem banca tudo isso? A lei cria a obrigação, mas não explica, não dá as condições para que a regionalização se concretize. Produzir custa caro, e não se pode esperar que emissoras de estados mais pobres tenham os recursos, financeiros e humanos, para oferecer jornalismo em larga escala, dramaturgia etc. Talvez uma ou outra tenha condição de cumprir a lei, mas dificilmente ela surtirá o efeito imaginado por seus mentores. Pior: além do projeto ter sido “ressuscitado” de repente (a primeira versão é de 1991 e ele esteve engavetado até este finalzinho de mandato), ainda recebeu pressões e acabou incorporando elementos como a obrigatoriedade de exibição de produção independente e um verdadeiro “corpo estranho”, a proibição de video-on-demand de produtos estrangeiros, válida até mesmo para as empresas de telecomunicações. Tudo isso sem discussões públicas, sem debates no Conselho de Comunicação Social, sem maiores explicações. O PT já deu sinais de que pretende retomar a elaboração da Lei de Comunicação de Massa. Seria, parece, mais sensato discutir a regionalização, bem como outras “colchas de retalho” legais existentes hoje, como a Lei do Cabo, em uma única lei, que incorporasse todas as formas de comunicação e estabelecesse, aí sim, uma política única e sólida para o desenvolvimento do conteúdo nacional. Sem esquecer que hoje existe um descasamento entre a política do audiovisual (capitaneada pela Ancine) e a política de comunicações (TV, TV paga, novas mídias etc), o que precisa ser resolvido urgentemente, como bem mostram os problemas do projeto da deputada.
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CAPA
Ela é do cinema
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Em entrevista exclusiva, Assunção Hernandes, presidente do CBC, fala sobre as perspectivas e as expectativas para a produção nacional.
TECNOLOGIA Solução da Sony para jornalismo
PRODUTORA
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JX Plural abre o leque Sem deixar a publicidade de lado, empresa passa também a investir em produção independente para exportação.
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Baseada no formato DVCAM, o novo sistema trata de todas as etapas da produção de notícias das emissoras de televisão.
produção Mãos à obra em alta definição
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A HDTV provoca mudanças importantes tanto na direção de arte quanto em outros aspectos da produção.
case Santa TV produz futebol com emoção
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O programa “Arte do Futebol” é uma releitura do “Canal 100” em linguagem televisiva.
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De mulher para mulher Está no ar a campanha de Natal das Lojas Marisa, dirigida a todas as “mamães noéis” do Brasil. São quatro filmes, protagonizados pela personagem. A criação é de Carlos Righi, da Giacometti e Associados Comunicação, que explica: “A idéia surgiu para criar um Natal ideal, feminino, com o calor da figura materna e, portanto, mais aconche gante”. A trilha sonora é interpretada por Luiz Melodia e a produção é da Sentimental Filme, com direção de Gustavo Leme.
Nova distribuidora A pós-produtora, finalizadora e exibidora de cinema digital em alta definição TeleImage e a Imovision, distribuidora de filmes estrangeiros no circuito nacio nal, criaram uma nova distribuidora, também voltada para a comercialização de títulos locais. A nova empresa, chamada Telescope, pretende trabalhar também no mercado externo. O investimento no primeiro ano deve ser de US$ 4,2 milhões, sendo US$ 2 milhões apenas na aquisição ou implantação de salas de cinema próprias. Outra meta para o primeiro ano de operação é a seleção de seis filmes brasileiros, que serão distribuídos no Brasil com outros 15 títulos internacionais - cujos direitos já foram adquiridos - como “Salomé”, de Carlos Saura; “Dolls”, de Takeshi Kitano; “Ken Park”, de Larry Clark e Ed Lachman; “O Homem Sem Passa do”, de Aki Kaurismaki; e “Swimming Pool”, de François Ozon.
Pop-rock plástico
Reciclagem total A McCann-Erickson está promovendo uma campanha de reciclagem entre seus funcionários, começando pela coleta seletiva do lixo produzido na agência. O projeto foi iniciado em novembro, com palestras para a equi pe, folhetos explicativos e recipientes para a coleta seletiva. Todo o material arrecadado será doado para o Núcleo Seletivo do Glicério, que atende 197 famílias de catadores de papel.
tela viva dezembro de 2002
Artistas plásticos, fotógrafos, pessoas liga das à publicidade e ao cinema participam da exposição “A Imagem do Som”, em cartaz no Paço Imperial do Rio de Janei ro. Em sua quinta edição, a exposição enfoca o rock-pop brasileiro, com tradu ções artísticas de músicas do gênero. Entre os participantes estão o diretor Andru cha Waddington, da Conspiração Filmes, que representou “Ge ração”, do Legião Urbana, e Cristina Amorim, diretora de criação da Giovanni, FCB. Cristina traduziu “Pro Dia Nascer Feliz”, do Barão Vermelho.
MP 70 com ressalvas A Câmara dos Deputados aprovou no final de novembro o projeto de conversão da Medida Provisória 70, que estabelece as condições para a presença de capital estran geiro em empresas de comunicação e flexi biliza as regras de controle de outorgas de radiodifusão para a participação de inves tidores institucionais. A redação aprovada derrubou o Artigo 9 da MP, que flexibilizava o Decreto-Lei 236/67. Ou seja, ninguém pode ter mais do que cinco outorgas de VHF, cinco UHFs ou mais de duas outorgas no mesmo Estado. O Artigo 10, que flexibiliza o 236/67 para investidores financeiros ou institucionais, foi aprovado, mas a flexibilização é menos ampla do que a prevista. Estes investidores poderão ter até 15% de participação em quantas emissoras quiserem, desde que não tenham vínculo de controle em mais de uma concessão. Além disso, foi modificada a redação do parágrafo 2º do Artigo 2, determinando que o órgão do Poder Executivo definido pelo Presidente da República poderá requisitar informações e documentos para verificar o cumprimento do limite de 30% do capital estrangeiro. Assim, existe a possibilidade de se designar uma agência regula dora para o setor de radiodifusão. O Senado aprovou a MP no dia 4 deste mês, exatamente como che gou da Câmara. Logo que for san cionada sua conversão pela pre sidência, a MP 70, cuja validade está prorrogada pelo Senado até abril, perderá a validade. Se algu ma empresa de comunicação se reestruturou com base na MP 70, essa reestruturação estará válida.
Fotos: Divulgação
TVs educativas fora do cabo A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou, em meados de novembro, o relatório do deputado Nelson Trad (PTB/MS) sobre o projeto 3.398/00, do deputado José Carlos Martinez (PTB/PR). O objetivo do projeto é mudar a Lei do Cabo e obrigar todas as operadoras a retransmi tirem em suas redes inclusive os sinais das retransmissoras comerciais locais. Com isso, por exemplo, a geradora do Estadão em Santa Inês/MA, que tem retransmissão na cidade de São Paulo, deverá ser retransmitida para os assi nantes da cidade de São Paulo. O mesmo vale para o canal Shop Tour, que tem apenas uma retransmissora em São Paulo e hoje, para entrar no cabo, aluga espaço da geradora do canal CNI. O problema é que por um aparente equívoco de redação no projeto, a Lei do Cabo ficará (caso o texto seja aprovado pela Câmara) com a seguinte redação em seu Artigo 23, inciso I alínea a: “canais destinados à distribuição obriga tória, integral e simultânea, sem inserção de qualquer informação, da progra mação das emissoras geradoras comerciais e das retransmissoras locais de radiodifusão, de sons e imagens, em VHF ou UHF, abertos e não codificados, cujo sinal alcance a área do serviço de TV a cabo e apresente nível técnico adequado, conforme padrões estabelecidos pelo Poder Executivo”. Ao pé do texto legal, isso significa que as emissoras geradoras não-comer ciais (educativas), como por exemplo TV Cultura em São Paulo ou TVE no Rio, entre outras, não precisariam ser carregadas pelas operadoras de TV a cabo.
Clorets reposicionado A Adams começou em meados de novembro a veicular uma ampla campanha de mídia nas regiões Sul e Sudeste do País para marcar o novo posicionamento de uma de suas marcas: a goma de mascar Clorets. Os comerciais foram desenvolvidos pela agência Newcom Bates do Brasil e a assinatura da campanha é: “Clorets, deixe sua boca irresistível”. A estratégia inclui a veiculação de dois comerciais — “Entregador de Pizza” e “Pedágio” —, nas versões de 15 e 30 segundos, na Bandeirantes, Globo e SBT. Na opinião de Marcel Sacco, diretor de marketing da Adams, divisão do Pfizer Consumer Group, trata-se de “uma campanha jovem, descontraí da, moderna e bem-humorada”, revela.
Nova produção A produtora Porão Filmes estreou no início de novembro o “BPM Esporte e Aventura”, programa semanal de 30 minutos, que está sendo exibido aos sábados pela TV Millenium. Dirigido por Clausius Steven e apresentado pelo pára-quedista Stélio Andrade, o “BPM” conta sempre com a presença de uma convidada famosa. No dia 30 de novembro, por exemplo, a convidada foi Pietra Ferrari, garota-propaganda da Kaiser. A Porão Filmes decidiu inves tir recursos próprios no primeiro mês, para depois conseguir patrocínio.
Mais atenção à radiodifusão O deputado Walter Pinheiro (PT/BA) afirmou no final de novembro que o governo de Lula deverá regula mentar de maneira mais efetiva o setor de radiodi fusão. “O governo Lula ainda terá a chance de editar uma lei de radiodifusão ou uma agência reguladora para o setor ou até mesmo passar esta incumbência para a Anatel”, completou o deputado.
Programação Regional Deveria ter sido votado no dia 4 deste mês o projeto de lei nº 256/91, da deputada Jandira Feghali (PC do B/RJ). O projeto foi retirado da pauta da Comissão de Comunica ção pelo relator, deputado Marcelo Barbieri (PMDB/ RJ), que reuniu-se com a autora do projeto e representantes do setor para tentar fechar um novo texto consensual entre as partes envolvidas. Outro encontro estava mar cado para o dia 10, e o projeto deveria ser votado na reunião da Comissão do dia 11. O projeto determina que as emissoras de TV, e/ou suas afiliadas, são obrigadas a veicular diariamente, das 7h00 às 23h00, programas produzidos nos estados em que estão localizadas suas sedes, de acordo com os seguintes percentuais: 20% para emissoras que atendem áreas geográficas com mais de 1,5 milhão de domicílios com televisores e 15% para emissoras que atendem áreas com menos de 1,5 milhão de domicílios com televisores. Estes percentuais deverão aumentar para 30% e 20%, respectivamente, ao final de cinco anos. As emissoras também terão que reservar 40% do percentual de programação regional para veiculação de produção independente. Além disso, o projeto estabelece que as empresas de telecomunicações (incluindo TV por assinatura) não poderão oferecer video-on-demand de programação estrangeira e terão que implementar um canal artístico e cultural com produção independente.
HBO busca produção local Cerca de 90% dos custos de programa ção do canal pago HBO no país são cota dos pelo dólar, segundo o diretor geral da HBO Brasil, Eduardo Mendonça. Por isso, a programadora está fazendo reu niões com produtoras brasileiras para a realização de co-produções, tal como a empresa faz em outros mercados. Mas não há nada definido.
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Sesinho no Canal Futura O Canal Futura começou a veicular os seriados educativos com o personagem Sesinho, baseado na revistinha mensal de mesmo nome. São programetes de 1m30s com temas educativos como pre venção contra a dengue, educação no trânsito, reciclagem de lixo, folclore, ecologia etc. A produção é uma parceria entre a agência Exaworld, de Florianópolis, e a produtora paulista HGN Produções, que tem no seu currículo diversas produções em desenho anima do para a Walt Disney Television americana. A animação é similar à dos seriados Disney, mas com acabamento digital utilizando o Softimage Toonz e elementos 3D realizados com o Maya 3D. A pro dução do som é da paulista Mr. Min. Estão sendo produzidos mais 12 episódios, que entrarão no ar em fevereiro de 2003.
Fim das delegacias regionais Publicado no Diário Oficial da União, no dia 19 de novembro, o decreto presidencial nº 4.471/2002 aprova a nova estrutura regimental e o quadro de cargos do Ministério das comunica. A mudança mais significativa é a extinção das 11 delegacias regio nais remanescentes do Minicom. Segundo informações do ministé rio, esta reestruturação teve início em maio de 98, com a extinção de 15 delegacias regionais. Ainda segundo o órgão, a extinção das delegacias regionais está prevista na Lei Geral de Telecomunica ções, como forma de reforçar a função da Anatel de órgão fiscali zador, inclusive de radiodifusão.
Animadores, uni-vos O Centro Cultural Cinema de Animação foi criado para reunir o pessoal que curte e faz anima ção e discutir cultura, pesquisa e educação na área. Dirigido por José Márcio Nicolosi de Melo, Naildo de Brito, Gilberto Caserta, Ana Maria Costa Roxo e Sérgio Martinelli, o Centro pretende promover encontros virtuais e ao vivo com as pes soas que queiram fazer parte do bate-papo. É só acessar o site www.cinemadeanimacao.com.br. O Centro já realizou oficinas de animação para crianças e co-produziu o curta “Terminal”, de Leo Cadaval, que vem angariando prêmios em festivais do mundo todo. O filme conta a história de um espírito que repassa sua vida enquanto espera seu corpo em coma parar de funcionar.
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Z-3000/CR-D10
A Hitachi já está distribuindo a camcorder profissional Z-3000/CR-D10, a primeira capaz de gravar em mídias DVD-RAM. É uma solução que junta dois produtos em um: a camcorder digital Z-3000 e o gravador CR-D10. O gravador registra o material da câmera diretamente em um disco DVD-RAM ou DVD-R no formato de arquivos para serem editados em qualquer computador com um drive de DVD-RAM. Além disso, pode trabalhar com diferentes especificações de compressão do MPEG-2. O gravador custará, nos EUA, US$ 5,99 mil. O sistema completo — formado por câmera, gravador, estojo, microfone, lentes 20:1, drivers USB e uma fita virgem — sairá por US$ 20 mil. www.hitachi.com
Varicam AJ-HDC27F A Panasonic trouxe para o Brasil sua nova câmera voltada para cinema digital, a Varicam AJ-HDC27F. O equipamento trabalha no formato 720p com velocidades entre quatro e 60 quadros por segundo. Além de trabalhar em várias velocidades, a Varicam permite fazer o efeito “rampa” usado nas câmeras de película, ou seja, variar gradualmente a velocidade de gravação de quatro para 60 quadros por segundo numa mesma cena, por exemplo. Além disso, o equipamento aceita, com o uso de adaptador, as lentes de 35 mm das câmeras de película. www.panasonic.com.br
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G4 Dual 1,25 GHz A Apple lançou este ano a estação G4 com dois processadores de 1,25 GHz. Tela Viva testou o equipamento com o sistema operacional OS X Jaguar e o editor não-linear Final Cut Pro 3. O computador veio equipado com 512 Mb de RAM e 2 Mb de memória cache, além do monitor Apple Cinema Display de 23”. Os testes foram feitos com a ajuda do editor André Francioli, que, no último ano, tem se dedicado ao treinamento em edição nas oficinas populares organizadas pela Kinoforum em São Paulo. Logo de cara, Francioli ficou impressionado pelo monitor - tanto pelo tamanho quanto pela proporção 16x9. “Dá para dispor melhor os elementos na área de trabalho. Assim não preciso usar dois monitores, o que é meio incômodo”, disse. A instalação do Final Cut foi muito rápida, apenas 2,5 minutos. A configuração do software consumiu um tempo de 1,5 minuto. Para transferir o conteúdo da câmera para o HD do computador foi necessário apenas conectar os dois equipamentos por meio da porta FireWire (IEEE 1394). O software reconheceu a câmera digital sem a necessidade de instalação de driver adicional e possibilitou controlá-la remotamente. Nos testes de operação do software, Francioli não sentiu diferenças quanto à renderização de efeitos e geração de caracteres. “Parece que levou o mesmo tempo que levaria no modelo O G4, com o Final Cut Pro, não apresenanterior do G4. Se houve tou problemas mesmo alguma diferença, foi muito sutil”, opina o editor. “É uma trabalhando com várias layers. pena, pois a renderização é a parte que mais atrapalha o andamento do trabalho”, completou. Outro teste feito foi o uso de várias pistas do timeline. Usando 12 layers de vídeo, a reprodução do material não ficou irregular, sem mensagens avisando que não foi possível processar o vídeo ou interrupções durante o processo. Após aplicar filtros diferentes em metade das layers, a qualidade da reprodução manteve-se inalterada. www.apple.com/br
CAPTAÇÃO EM DISCO Sony lança no Brasil nova camcorder DVCAM e videodisco que substitui o uso de fitas. A Sony está lançando no País novos equipamentos para a área profissional. Trata-se da camcorder DSR-PDX10 e do videodisco DSR-DU1. A camcorder DSR-PDX10 é uma câmera compacta de três CCDs capaz de gravar nos formatos DV Consumer e DVCAM. Além da porta i.Link (IEEE 1394), ela conta com um terminal USB, que pode transmitir para o computador imagens paradas, no formato JPEG, ou em movimento, em AVI. Os CCDs capturam vídeos com 530 linhas ou imagens paradas de um megapixel, que são gravadas em um cartão Memory Stick de 8 Mb, o qual acompanha a câmera. O monitor LCD da câmera é de 3,5 polegadas, com tecnologia Touch Screen, o que facilita o acesso ao menu de funções e ao ajuste dos níveis de áudio. Entre as funções que podem ser acessadas no monitor estão o ajuste de foco e exposição, zoom de reprodução e os controles do cartão de memória. A DSR-PDX10 conta ainda com lentes fixas, que podem trabalhar no formato
4:3 ou 16:9 (letterbox), e a opção de usar os ajustes manuais de exposição, que através da íris e velocidade do obturador permitem um ajuste individual.
Video Disk Unit O DSR-DU1 pode ser usado para gravar conteúdo de uma A outra novidade que a câmera, com ou sem fitas, ou como VTR. Sony está trazendo para o Brasil é o gravador compacto i.Link compatível. DSR-DU1. Trata-se de uma unidade de disco rígido de 2,5 polegadas e Já a gravação em loop permite armazenar, 40 Gb que substitui as fitas em produções em uma memória interna, sinais de áudio e vídeo de até oito segundos, que são DVCAM. Acoplado às camcorders Sony DVCAM e DV, o gravador compacto pode armazenados quando o botão “Rec” é pressionado, ajudando a evitar perdas de armazenar um sinal contínuo a 25 Mbps por até três horas, o equivalente ao tempo cenas importantes. Pode-se optar pelos padrões NTSC (525) e PAL (625), permáximo de gravação em uma fita DVCAM. Quando a gravação é finalizada, é mitindo gravar e reproduzir em ambos os sistemas de cores. possível retirar da camcorder o DSRO DSR-DU1 também pode ser usado DU1 e fazer a transferência direta para como um VTR, com teclas de operação a ilha de edição. que permitem controles como play, stop, Além disso, através da conexão i.Link, next, previous e recording. Dessa mapode-se gravar simultaneamente no hard neira pode-se usar a unidade como fonte drive da DSR-DU1 e na fita cassete da independente ou apenas para gravação. camcorder. A data de gravação durante a captura Além disso, ele pode ser usado como um HD na ilha de edição, tornando de imagens, com o time desnecessária a transferência de todo code dos pontos inicial e o conteúdo para os discos internos da final é automaticamente ilha para que se possa fazer uma edição armazenado. O i.Link não-linear. suporta dois tipos de Segundo o chefe de marketing da área proprotocolo: o AV/C, usado para transferência contínua fissional da Sony do Brasil, Luis Fernando Fabichak, os equipamentos já estão sendo DVCAM/DV, e o SBP2, que permite a transferência distribuídos pela Sony e seus dealers e contam com garantia de um ano. de imagens como arquivos para sistemas não-lineares, fernandolauterjung equipados com interface Camcorder DSR-PDX10: monitor LCD com touch screen, o que facilita a operação do equipamento.
Fotos: Claudia G.I.P. (André Francioli) e Divulgação
Técnico de som, empresário, engenheiro, pesquisador. Geraldo Ribeiro está envolvido hoje com tudo o que diz respeito a som e acústica.
Formado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da USP, trabalhou cerca de cinco anos em empresas de engenharia. Para se manter durante a faculdade, trabalhava como fotógrafo. Foi nessa época que conheceu o multimídia Hugo Gama, que o introduziu na área de som. O Hugo tinha uma formação estética e cultural tão sólida que para ele não importava a ferramenta — tudo fazia parte de uma coisa maior.
a produção total, da trilha e dos ruídos até a mixagem. O mercado oferecia o privilégio de acompanhar o trabalho até o fim, então a gente tinha mais autocrítica. A gravação era feita com emoção, mas na hora da transcrição a gente podia analisar o trabalho friamente e aprender com os erros.
Daí vem a crítica que faz ao sistema de trabalho de algumas produtoras.
Geraldo Ribeiro
Começou a trabalhar com publicidade, área que aprendeu a gostar e respeitar. Gosto de publicidade, do cinema publicitário, da dinâmica, do critério e do cuidado que se tem.
Apesar de acreditar na democratização dos meios, com a queda de preço de microfones e DATs, o que permitiu a entrada de novos profissionais no mercado, ele sente falta da época em que o técnico de som tinha uma atuação mais global e uma formação mais ampla. No início, quando ainda havia o som óptico, a gente fazia
Daniel Lindenberg deixa a diretoria geral da área de comunicação interativa da agência Publi cisNorton, depois de dois anos e meio, para se dedi car a um projeto solo. Ele abre, em janeiro, uma pro dutora de convergência de mídias, de entreteni mento para TV e Internet, com sede em São Paulo. O foco da nova empresa está no desenvolvimento de conteúdo de TV interativa para os públicos adolescen te e jovem adulto.
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O fotógrafo marca sua luz do lado do colorista, que é um profissional qualificado. No nosso caso, as produtoras têm o famoso ‘menino do som’. Uma pessoa sem nenhuma formação que é responsável por digitalizar o som para o computador. O que antes a gente fazia na transcrição agora é feito sem nenhum critério, sem o entendimento da concepção daquele som. Essa economia que a produtora busca com certeza interfere no resultado final.
Por isso, se preocupa com a formação do profissional. Existe a necessidade de uma escola técnica de cinema e televisão. As escolas de nível universitário formam diretores e fotógrafos, que na hierarquia de uma equipe representam o topo da cadeia alimentar. Não se formam técnicos de som, operadores de câmera, eletricistas e maquinistas. A transmissão do ‘conhecimento’ é em base oral e isto acaba por propagar erros por décadas. Além de melhorar
A Sony Brasil está se despedindo de um dos grandes responsáveis pela presença da área de broadcast da empresa no País. Trata-se do engenheiro Tatsuhiko Takeuchi, que já está há 30 anos na Sony, dos quais 22 dedicados ao desenvolvimento da área de broadcast. Tendo colaborado com o progresso desse campo no mercado brasileiro, Takeuchi-san vai para Vancouver, Canadá, com a família para buscar novos rumos pessoais. Sua função, na Sony Brasil, ficará a cargo do engenheiro Kanat o Yoshida, novo gerente geral de engenharia, a partir de 1º de janeiro. O prêmio dado pelo canal GNT para os projetos de documentários apresentados no Fórum Brasil Documenta, que aconteceu no Rio de Janeiro, foi dividido entre Bebeto Abrantes (“Recife/Sevilha: João Cabral de Melo Neto”) e Fabiano Maciel (“Vaidade”), contemplados com R$ 50 mil cada. O projeto “Serra Pelada”, de Victor Lopes, recebeu um incentivo da Embaixada da França no Brasil.
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Fotos: Gerson Gargalaka (Geraldo Ribeiro) e Divulgação
a qualidade do produto final, isso também levará a uma maior durabilidade dos equipamentos utilizados.
Ao longo de sua carreira, Geraldo participou de curtas, longas e documentários — mas a condição básica era “que lhe dessem tesão”. Fui co-produtor de “Anos JK” e “Jango”, do Silvio Tendler, fiz “Terra Estrangeira”, “Notícias de uma Guerra Particular”, terminei “Durval Discos”. Não fiz muito longa e documentário, mas só os pelos quais me apaixonei. No próximo ano, vou querer trabalhar mais com isso. Fui convidado para fazer “Central do Brasil”. Pensei na minha úlcera, que ia ficar 13 semanas no sertão, longe da minha cama, das minhas filhas e disse não. Arrependo-me profundamente!
Em paralelo, entram em cena o empresário e o engenheiro, “donos” da T-Com Ltda. A empresa vende equipamentos de som e cria projetos de eletroacústica para empresas. Trouxe os equipamentos que achava fundamental ter para trabalhar e que as outras empresas não tinham interesse por causa do custo. Você vê, os técnicos de som brasileiros são a única categoria no cinema que forçosamente devem investir em seu próprio equipamento, totalmente importado. Apesar de existir mecanismos de financiamento e apoio à produção, não existem recursos para o aparelhamento de profissionais. Não existem sequer mecanismos de isenção fiscal — como os que contemplam a televisão — para podermos comprar equipamentos a preços mais compatíveis com o nosso pauperismo.
Há cerca de cinco anos, depois de 30 anos afastado de sua formação original, começou a desenvolver projetos eletroacústicos para empresas, salas culturais e auditórios. Agora está preparando sua tese de doutorado sobre um tema que o preocupa demais: a acústica das salas de aula.
Protagonizado por Gracin do Jr., estreou em dezem bro o curta “Carro-Forte”, de Mário Diamante, dentro da Mostra Curta Cinema do Rio de Janeiro. O roteiro, premia do pelo Projeto Petrobras de Curta-metragem de 35 mm, conta a história de quatro homens confinados em um carro-forte durante um assal to. Cerca de 90% do filme foi rodado dentro do veículo em movimento e por isso o dire tor optou por filmar em 16 mm para posterior ampliação. Para reduzir o “sacolejo” den tro do veículo, a câmera ficou o tempo todo no steadycam.
A produtora paulistana JX Plu ral contratou a mexicana Irma Palma, a Jimmy, que assume o cargo de direto ra geral da pro dutora. Jimmy tem um currícu lo de 15 anos com passagens pelo SBT (onde foi produtora executiva do pro grama “Casa dos Artistas”), pelo grupo mexicano Televisa, Noble/ DMB&B, entre outros.
O diretor Carlos Cortez aguarda para janeiro o resultado do concur so de roteiros Sundance NHK Award, promovido pelo Festival de Sundance e pela emissora japonesa NHK. Seu roteiro “Querô, uma Reportagem Mal dita”, foi selecionado entre os três concorrentes da América Latina. A história — adaptada do livro homôni mo de Plínio Marcos — do garoto Querô, filho trágico de uma prostituta de Santos, concorre com os roteiros do argentino Jorge Gaggero e dos uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll. A produção é da Gullane Filmes, de Caio e Fabian o Gullane.
A educação é fundamental para passar valores e conceitos fundamentais, como higiene, saúde, sociabilidade. Assusta muito a despreocupação arquitetônica com o espaço da sala de aula. Em maus ambientes, as pessoas não entendem, há casos em que cinco de cada dez palavras são perdidas. Não é à toa que a ‘turma do fundão’ vai mal. O diretor e articulista José Roberto Torero assina a direção do documentário “O Vai mal porque não ouve. Mundo Cabe numa Cadeira de Barbeiro”. O filme é uma co-produção entre a TV
A produtora cario ca TV Zero é a responsável pelos novos filmes criados pela Giovanni, FCB para a Rede Globo. Com o tema “Ética”, os filmes mostram profissionais reconhe cidos testemunhan do a importância de atitudes éticas em suas profissões. O juiz de futebol Arnald o Cezar Coelho, o jornalista Arnald o Jabor e o ator Milt on Gonçalves (foto) são os protagonistas da campanha. A criação é de Fern and o Cam pos, Adils on Xavier e Crist in a Amorim.
Cultura, a STV e a produtora Superfilmes, de Zita Carvalhosa. A partir do acervo do Museu da Pessoa, foram localizadas personagens de várias origens, que representam as principais correntes migratórias de São Paulo e são entrevistadas numa cadeira de barbeiro. Outros cinco documentários já foram realizados a partir dessa parceria, sendo apresentados simultaneamente nas duas emissoras. O filme é pontuado por narrações bem-humoradas de Paulo José e Paulo César Pereio. A cineasta Suzana Amaral foi à Espanha receber v ários prêmios da 28 Edición Del Festival de Cine Iberoamericano de Huelva. Dos nove prêmios, seis foram trazidos para o Brasil. Suzana ficou com o Prê mio Especial do Júri por seu filme “Uma Vida em Segredo”. Pelo mesmo filme, Suzana levou o prêmio de melhor direção e Sabrin a Greve com o de melhor atriz. O também brasileiro “Madame Satã”, de Karim Aïnauz, ganhou como melhor longa-metragem; melhor ator (Lázar o Ramos); e melhor fotografia (Walter Carvalho). Entre os cinco prêmios paralelos, “Madame Satã” ainda ganhou o Prêmio Manuel Barba da Associação de Imprensa de Huelva, como o melhor roteiro.
Ela é do cinema Assunção Hernandes fala sobre cota de tela, espaço na TV e as perspectivas para a produção nacional.
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Dedicação integral ao cinema nacional. Este seria um bom slogan para definir a presidente do CBC (Congresso Brasileiro de Cinema), Assunção Hernandes. Afinal, além do cargo na entidade, ela acumula ainda as funções de pre sidente do Sicesp (o sindicato do setor no Estado de São Paulo), de diretora-suplente na Fiesp e representante da sociedade civil no Conselho de Comunicação Social (como suplente). Tudo isso sem descuidar de sua Raíz Produções, que no início de novembro havia acabado de rodar o longa “De Passagem”, do estreante Ricardo Elias, e estava editan do o longa “A Ilha do Terrível Rapaterra” e o documentá rio “Mulheres Pescadoras”. No final de outubro, o CBC, apresentou, durante o Festival de Brasília, uma carta à equipe de transição do PT com pro postas para a implementação de uma política audiovisual no novo governo. O texto propõe 13 pontos referentes ao cinema e ao audiovisual nacional. Entre outros assuntos, o CBC pede que a Ancine tenha condições para tornar-se efetivamente uma entidade pública reguladora, fiscalizadora e fomenta dora da atividade audiovisual, incluindo a TV, tal como foi originalmente concebida pelo Gedic. Os cineastas também pedem a regulamentação e fiscalização do acesso do cinema e da produção audiovisual brasileira independente à progra mação das emissoras e a ampliação da disponibilidade dos recursos públicos federais no fomento à realização de filmes e programas televisivos de produção independente. Além disso, a carta pede maior firmeza por parte do gover no federal na defesa do produto audiovisual brasileiro através de regulamentação específica para preservar sua competitividade em relação ao produto norte-americano no mercado interno (sugerindo ainda uma eventual limi tação da importação de títulos e número de cópias de filmes destinados à distribuição) e o desenvolvimento de uma política externa visando a inserção internacional do cinema brasileiro. No fechamento desta edição, Assunção travava mais uma
batalha: a votação do projeto de lei da deputada Jandira Feghali (PC do B/RJ), que impõe um mínimo de produção regional para as emissoras de TV. Neste caso, a luta é para inserir a produção independente dentro desta cota. A produtora executiva de alguns dos mais importantes filmes da cinematografia nacional, como “O Homem que Virou Suco”, de João Batista de Andrade, e “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral (de quem também produziu o recente “Uma Vida em Segredo”), recebeu Tela Viva para esta conversa sobre política audiovisual e as perspectivas para o cinema brasileiro. Tela Viva: Como você avalia a Ancine até agora? Assunção Hernandes: A agência ainda está se montan
do, com dificuldade. Está mais devagar do que desejávamos, mas isso não surpreende. É um órgão fundamental. Não gos taria de abrir mão dela, a não ser que no processo houvesse outra coisa no lugar. Nesse momento vemos a Ancine como indispensável. E o conflito entre a agência e o MinC?
Acredito que este conflito seja temporário, é uma espécie de “divórcio”, que deve ser resolvido na próxima gestão. O MinC participou de todo o processo (de criação da agência), deveria estar dando força, mas está atrapalhando em tudo o que pode. É surpreendente, ainda mais considerando que o ministério e a Secretaria do Audiovisual foram ocupados por dois intelectuais (N.R.: o ministro Francisco Weffort e o secretário José Álvaro Moisés). Qual deve ser o papel de cada um, Ancine e MinC, no incentivo ao cinema?
Acho que um modelo dividido é o adequado. O ministério deve continuar respondendo pelo cinema experimental, pela revelação de talentos, conservação, estudos, eventos. É uma questão de Estado, pois 92% da população é excluída do Fotos: Marcelo Rudini
andrémermelstein andre@telaviva.com.br
o papel da agência neste momento é o cinema organizado. Mas queremos que ela seja vista por toda a sociedade, intelectuais etc. Quando fazemos a defesa da agência, não é para a nossa sobrevivência. Vamos na direção de um cinema que tenha a ver com a sociedade brasileira como um todo. Não de uma forma subserviente, como muitos programas da televisão e alguns filmes, feitos para ficar no ponto onde está aquela população, ou muitas vezes até abai xo deste ponto. Mas a população não tem alternativa e isso acaba sendo a coisa mais fácil dela digerir. Então a sociedade tem cinema. Isso não é somente uma questão que estar mais presente, e para isso têm da indústria, é uma questão de identidade que haver mais canais de comunicação. cultural. Já o papel da Ancine é defender a indústria cinematográfica brasileira. Como anda, a seu ver, a presença da
produção nacional na TV? Você faz então uma distinção entre Um dos pontos fundamentais é o seguin um cinema mais “cultural” e um mais te: o conteúdo brasileiro é importante, é “comercial”? necessário e é bom. O único canal que
Sim, faço essa diferença. Ambos deverão existir. Um deles já existe há muitos anos, que é esse que o ministério, se tivesse se “antenado”, saberia que é o trabalho deles: as estréias, o experimental, que se arrisca mais e que eventualmente pode vir a ser até um grande blockbuster. Mas quem vai cuidar disso não será a indústria. E nesse modelo a Ancine deveria des tinar dinheiro também para a constru ção de salas, promoção etc? Ou estas seriam funções do MinC?
Muitas coisas convivem, podem ser com plementares, se houver harmonia na atua ção. Não tem porque ficar dois órgãos públicos brigando entre si ou empurran do a responsabilidade.
produz hoje é a TV Globo. Os demais pra ticamente não têm nada, ou passam bem longe deste conteúdo. Os outros deveriam resolver como vão oferecer conteúdo brasi leiro, até porque é bom para os negócios. É inadequado todo o conteúdo nacional ficar dentro de um único canal, que ainda por cima produz quase tudo internamente. Não é democrático. A riqueza justamente está nos olhares diversos dos criadores. Há uma resistência violenta de quem não tem conteúdo brasileiro em buscar este con teúdo. E quem tem, mas só usa a própria produção, resiste em diversificar. É uma questão que temos que enfrentar. Pode demorar um pouco mais ou um pouco menos, mas é a pauta prioritária.
Qual é o pleito do cinema neste senti Quem deve fazer a fiscalização da Anci do? O caminho é uma imposição legal ne, dialogar com a agência? (de exibição deste conteúdo) ou criar A interlocução da agência é a sociedade bra condições de mercado para que isso sileira, ela é feita para atender a sociedade. mude sozinho?
O segmento organizado que vê claramente São os dois caminhos. Vou dar um exem
plo com o que acontece em nossas reuniões com os exibidores de cinema. Sempre houve uma resistência à cota de tela; uma época tinha até mandato de segurança para impedir de passar os filmes. Hoje estamos em negocia ções, todo ano avançamos alguma coisa. Achá vamos a cota de 28 dias/ano muito pequena, e que no fim acabava se cumprindo “sozinha”, sem precisar da obrigação, com filmes tipo “Xuxa” etc. No fim, chegamos a uma solução de que a cota não pode ser cumprida com um só título, há uma tabela em que, dependendo do número de salas, o exibidor é obrigado a passar mais filmes brasileiros. O importante é que há negociação. Com a televisão nós que remos isso, queremos conversar. Numa demo cracia essa prepotência não pode sobreviver. Qual seria o “mundo ideal” com a TV? Transpor esse modelo de cotas usado nas salas de exibição?
Nesse caso minha posição quanto às cotas é até contraditória. Eu acho que as cotas deveriam existir para a importação, e não o nosso mer cado ter cotas para o produto nacional. É uma impropriedade. Você já ouviu dizer que tem cota para o aço americano nos EUA? Ou a cota é para o aço brasileiro? Mas isso é lá para fren te. Na situação atual, é preciso sim haver cotas para o produto brasileiro na TV. Não como um favor, mas como contrapartida pela concessão do canal, que é pública. E, se conseguissem essa cota, ela seria para quê? Apenas longas?
Não! Longas, curtas, documentário... Produzidos por quem? Como garantir que será independente?
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Bom, aí não dá pra ficar botando “laranja” e dizendo que é produção independente. Nós vamos fiscalizar. Já aconteceu de uma produ tora se apresentar como independente, mas
que ficava num imóvel do canal de TV e era administrada pela TV. Quando foi pro curada, disse que só a TV podia se pronun ciar… Que as TVs escolham produtoras independentes para fazer co-produção, aí tudo bem. Inclusive eles escolhem bem, as empresas que escolheram até hoje são competentes. Mas a janela para exibição (de conteúdo nacional) não é só para coprodução. Isso é um negócio que as TVs estão fazendo porque interessa, porque eventualmente dá lucro e é mais barato do que fazer interno. Essas co-produções passam pelo crivo da emissora, então não é mais produção independente. Como assim?
É como se a Ecovias (concessionária de estradas no Estado de São Paulo) dissesse que nas estradas dela só pode passar carro da Ford, ou que os pneus têm que ter uma faixa branca. Ora, na TV podem passar os “carros da Ecovias”, podem passar os seus “terceirizados” também (co-produção), mas tem que passar os filmes da sociedade como um todo, democraticamente aberta. Eles têm 24 horas. É claro que eu não vou que rer o horário nobre, mas queremos um horá rio bom, ser tratados como gente grande. Tem que ficar muito claro que não é deles o canal, é uma concessão. Como você viu a edição da MP 70 (depois convertida em lei), que regulamentou a entrada de capital estrangeiro da radiodifusão?
A Abert conseguiu isso no apagar das luzes do governo FHC, sem ao menos passar pelo Conselho de Comunicação Social, que é um órgão assessor do Congresso. Isso é uma aberração! Foi uma briga violenta, porque estávamos contra o Executivo e pergunta mos ao Conselho: “afinal, onde é que nós estamos?” No fim descobrimos que o Exe cutivo tinha feito porque representantes do próprio CCS tinham ido lá para conseguir isso, ou seja, uma aberração maior ainda, uma coisa escandalosa. É o uso indevido do poder, ignorando o resto da nação e os segmentos que são e poderiam ser mais parceiros. A produção nacional pode ser uma solução econômica para as TVs?
Nossos filmes são baratos para eles. Não cobramos, não fazemos aqueles tipos de “tabelas”, porque queremos que o filme vá. É lógico que eles têm que pagar, mas tudo
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no Legislativo pedindo isso, isenção para os equipamentos de cinema. Qual é o papel do CBC? Quais são as linhas de atuação hoje?
“Queremos um horário bom, ser tratados como gente grande. Tem que ficar muito claro que não é deles o canal, é uma con cessão.”
o que a gente quer é o espaço a que temos direito, queremos iniciar negociações. Isso será via CCS, que está discutindo a produ ção regionalizada e a presença da produção brasileira na TV aberta, e nós temos a nossa organização também. Há casos, como “Cidade de Deus”, de produções brasileiras que não precisam dessa defesa, que acon tecem “sozinhas”, não?
Veja, conheço os produtores, sei da impor tância do filme. Mas a Globo é sócia, tive ram 40 chamadas em horário nobre, que custariam R$ 1,5 milhão. Se sou contra? De jeito nenhum! Além disso, tem a “cross media”, que foi usada à exaustão. Graças a Deus, coisa maravilhosa, sou a favor. Cus tou R$ 500 mil. O “Auto da Compadecida”, um grande filme também, teve 30 chamadas e uma “carreira” anterior na TV. Então não digo, e nem poderia dizer, que “Cidade” não teria tido esse êxito. Eu quero que o filme brasileiro vá bem, mas quero isonomia. Por que o filme que tem socieda de da Globo tem 40 chamadas, sendo a TV uma concessão pública, e o meu não tem? Não quero ser chata, ainda bem que o filme fez sucesso, mas eu quero que mais filmes façam também. Se “O Invasor” (de Beto Brant) tivesse tido o mesmo tratamento, poderia chegar a 800 mil espectadores, 700 mil a mais do que teve. Mas não contou com essa mídia “gratuita”, que no fim é paga pelo contribuinte. Além disso, os filmes produzidos pela TV e que vão para o cinema têm mais uma vantagem: os equipamentos para TV, usados na sua pro dução, têm isenção de impostos, enquanto os do cinema não têm. Então é mais um caso no qual queremos isonomia, e já temos até um projeto de lei para tramitar
O papel é de congregar, unir todas as enti dades do cinema no Brasil, inclusive os exi bidores, Cinemark, UCI... Então a função é negociar. Quando fomos discutir as cotas de tela na Ancine, por exemplo, estávamos eu de um lado e os exibidores de outro. Mas dentro do CBC já tínhamos discutido as questões, pra não chegarmos lá nos baten do. Por exemplo, agora criamos dentro do CBC um grupo com produtores, exibidores e distribuidores. Nós dizemos pra eles que o filme brasileiro tem que ter tratamento diferente, que o americano já vem pra cá pago, e em pacotes. Então sentamos para ver como tratar o filme médio brasileiro, porque o grande já tá meio resolvido, as pró prias “majors” pegam. Mas não se faz uma indústria só de blockbusters. Existe uma produção de filmes médios que garantem a continuidade da indústria. Que outros grupos funcionam hoje?
Há uma comissão que cuida da relação cinema-TV, que tem três membros do CCS (Assunção; Berenice Mendes, da TVE Para ná; e Geraldo Santos Pereira, do STIC); há a comissão do cinema cultural, que está prepa rando-se para trabalhar com o novo MinC, com representantes de escolas, da ABD, das entidades de preservação e outras enti dades. Um outro grupo estuda a legislação trabalhista do audiovisual, e há ainda uma comissão sobre preservação de filmes. Há também uma comissão para a promoção do cinema brasileiro no exterior, que trabalha com as entidades que promovem o cinema independente no mundo. Quais são as iniciativas em âmbito internacional?
Estamos nos organizando ao lado do cinema independente de todo o mundo, da Itália, da França... Teve um encontro na África para discutir isso, para o qual foram duas pessoas do Brasil, e isso vai ser discutido no primeiro Fórum do Audiovisual, durante o Fórum Social Global, em Porto Alegre. É o embrião de um circuito internacional onde circulem os cinemas nacionais independentes, como um contraponto ao cinema hege mônico de Hollywood.
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Pílulas para exportação
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Com o final de seu processo de reestruturação, que começou há cerca de um ano e meio (veja box na página ao lado), a JX Plural vem investindo na produção audiovisual independente e na exportação de seus pro dutos. Em outubro deste ano, a produtora paulistana levou para a Mipcom (maior feira de entretenimento do mundo, que acontece em Cannes, França) cinco curtas-metragens da série “Pílulas de Amor”, produzi da em parceria com a empresa Asas da Imaginação. A série está sendo negociada com a distribuidora francesa Queen Bee Interactive para ser veiculada na Europa e em alguns países da África e do Oriente Médio. Além disso, o curta “Dercy Beaucoup”, que tem produção da JX e direção de Paula Trabulsi, estreou no dia 1º de dezembro durante a 12ª Mostra Curta Cinema — 8º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro. O foco principal da JX continua sendo a publicida de, mas a empresa se abre para produções audiovisuais em todas as áreas. Neste último ano, a JX Plural não só produziu curtas-metragens como foi responsável pelos videoclipes “Xote da Alegria”, do grupo Falamansa (indicado para o prêmio de melhor clipe de MPB no VMB/MTV 2002), e “Dor de Cotovelo”, de Elza Soa res. Para 2003, a empresa já está com projetos para documentários, produções para a televisão e outros curtas-metragens, incluindo mais capítulos da série “Pílulas de Amor”.
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Cara nova Somando mais mudanças à sua reestruturação, a JX Plural contratou uma nova diretora geral em novem bro. A mexicana Irma Palma chegou à empresa com a promessa de usar sua experiência na América Latina para “abrir mais espaços internacionais, reforçar e agregar a atuação internacional que a JX já tem”. Há quatro anos no Brasil, Irma é mais conhecida como Jimmy. Quanto ao apelido pouco convencional, ela conta que ganhou “quando criança, da minha babá. Depois, em qualquer lugar que passava, sempre
JX Plural termina reestruturação e investe em produção independente.
Com direção de Paula Trabulsi, “Dercy Beaucoup” faz parte da 12ª Mostra Curta Cinema.
encontrava alguém que me conhecia por esse apelido e acabou ficando”. Jimmy começou sua carreira com produção audiovi sual em 1987, na rede Televisa, do México. Ainda por lá, trabalhou na agência de propaganda Noble/DMB&B e na produtora Toma Uno S. A., uma das maiores daque le país. Ela conta que veio para o Brasil porque ele “se destaca como um país que tem muita criatividade. E isso é reconhecido mundialmente. Eu o enxerguei como um país em que eu gostaria muito de aprender”. Já no Brasil, Jimmy trabalhou na JX, desenvol vendo campanhas publicitárias. Mas ficou afastada temporariamente da produtora. Nesse período, foi convidada por Paula Cavalcante, diretora geral de pro dução do SBT, para participar da concepção da “Casa dos Artistas”, trabalhando depois como diretora exe cutiva do programa.
Fotos: Divulgação
paulacristinasato telaviva@telaviva.com.br
“Pílulas de Amor”: cinco filmes, da série de 30, estão prontos e foram levados ao MipCom.
Amor O pacote completo das “Pílulas” prevê 30 capítulos, com a participação de vários diretores. Cinco curtas já estão prontos e foram apresentados na Mip com. Dois estão em fase de finalização. O projeto surgiu da parceria entre a JX Plural, que cuidou da produção, e a Asas da Imaginação, responsável pela concep ção. Cada curta da série tem entre um e quatro minutos e aborda um aspecto do amor. Segundo Jimmy, o público-alvo é bem abrangente, pois “amor é o tema, mas os curtas tratam dele em suas diver sas demonstrações”. Apesar de “Pílulas de Amor” já estar sendo negociada inter nacionalmente, ainda não há previsão para a série ser veiculada no Brasil. Os curtas foram levados primeiro para o exterior porque “o projeto ficou pronto
bem a tempo de ir para a Mip com. Como a feira é anual, se a gente perdesse essa oportuni dade, perderia um ano”, conta Onara Baldissarini, diretora de comunicação e atendimento da empresa. Agora, a JX Plural e a Asas da Imaginação estão nego ciando a série com a TV a cabo e salas de cinema brasileiras. Jimmy afirma que a JX Plural vai começar a investir cada vez mais em produção de videoclipes, curtas e outros tipos de material audiovi sual. A empresa pretende aproveitar as novas tecnologias para fazer o que chama de “conteúdo de entretenimen to” e se inserir em todas as mídias. “As peças audiovisuais podem ir para a TV, o cinema ou a Internet. Há espa ço nesses veículos para qualquer peça, não importa o tipo, o gênero, nem a duração.” A JX também não pretende produzir apenas para o mercado bra sileiro. Ela aposta na boa recepção de seus produtos pelo mercado internacio nal não só pelas experiências de suces so que já teve, mas também porque,
Nova estrutura Com a reestruturação, a JX Filmes — que só trabalhava com campanhas publicitárias — transformou-se na JX Plural, uma “holding”, que congrega três núcleos de produção audiovisual e um de investigação comportamental. O grupo reúne a JX Filmes (com os diretores Julio Xavier, Paula Trabulsi e Walter Carvalho), a JX Gama (criada a partir da associação com a Gama Filmes, de Paulo Gama), a JX Mais (núcleo de novos diretores, que inclui Homero Oliveto, Marcus Vinícius Baldini e João Araujo, em conjunto com a “veterana” Ana Sardinha) e a JX Orbitas (departamento de investigação comportamental, sob direção de Roberto Straub).
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segundo Jimmy, “o Brasil se distingue dos outros países da América Latina pois abraça a nova tecnologia e desen volve produtos muito rápido. O País
Campanha para Dove (esq.) foi veiculada por toda a América Latina. Abaixo, filme da Vésper.
está bastante adiantado em relação ao restante da América Latina”. Este ano a empresa comprou os equipamentos necessários para se ade quar à digitalização da TV, antecipan do-se à chegada do sistema ao Brasil. “Tecnologicamente, a gente já está se preparando. Queremos atender a todos os nichos que estão surgindo.” Para exportação Não é de hoje que a JX Plural exporta suas produções. Na área de criação publicitária, a empresa já fez trabalhos para diversos países da América Latina e teve suas propagandas veiculadas até no Oriente Médio. Neste último ano, o filme produzi do para o lançamento do xampu Dove tornou-se referência internacional. Além da propaganda para o Brasil, a Unilever (fabricante do produto) enco mendou à JX os comerciais que iriam para o México e o Chile. A produtora, então, trouxe atores desses países ao Brasil, para que fossem feitos filmes que se adequassem ao lugar em que
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s eriam exibidos. O resultado foi aprova do e essas mesmas propagandas foram exibidas no Paraguai, Uruguai e outros países da América Latina onde o produ to foi lançado. A JX Plural também já foi contrata da para produzir propagandas apenas para o exterior. É o caso da campanha do emagrecedor Slim Fast, feita só para o México. Assim como no caso de Dove, o filme foi rodado no Brasil, mas o elenco era todo mexicano. Irma diz que uma empresa escolhe produzir a campanha no Brasil e não no seu país de origem pelo know-how brasileiro, que é reconhecido internacionalmente. “Esse projeto veio direto pra cá porque
uma das agências mexicanas conhecia o trabalho que a JX estava fazendo no Brasil e quis fazer sua campanha aqui.” Também já aconteceu de a JX Plu ral produzir uma campanha voltada para o público brasileiro e o resultado ser tão bom que a mesma propaganda foi exportada para outros países. É o caso do comercial do sabão em pó Omo, que foi veiculado na República Tcheca, na Romênia, na China e nos Emirados Árabes.
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Uma solução nipo-tupiniquim
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Em um trabalho exclusivo para o mercado brasileiro, a Sony desenvolveu uma solução baseada no formato DVCAM voltada para os departamentos de jornalismo das emissoras de televisão locais. O sistema é respon sável por todas as etapas da produção de notícias do canal - desde a captação de imagens até a exibição, passando pela edição, pós-produção e arquivo. A meta assumida pelo departamento de engenharia da empre sa era fazer uma plataforma completa, rápida, de baixo custo e capaz de atender às peculiaridades do mercado nacional. Segundo o chefe de produto da Sony Brasil, o enge nheiro Miguel Augusto da Silva Filho, a peculiaridade no modo como se faz jornalismo televisivo no Brasil é a agilidade dos noticiários. “Aqui o roteiro de um noticiário muda enquanto ele é exibido. Sempre há mudanças de última hora, mudanças de rotei ro ou até de edição”, explica o engenheiro. Por isso, um sistema com transporte rápido de conteúdo na rede era funda mental. Para formar a solução montou-se uma infra-estrutura baseada em equipamentos de produção da linha DVCAM, redes Gigabit Ethernet e produ tos da linha TI da Sony. Com isto, proporcionou-se um tráfego de arquivos de áudio e vídeo com compressão de 25 Mbps em alta velocidade, via rede Gigabit Ethernet, que usa cabos de par trançado de baixo custo, sem qualquer tipo de recompressão ou degradação da qualidade original do material. O sistema apresenta ainda, segundo o fabri cante, uma alta expansibilidade, facilidade operacional e uma arquitetura totalmente aberta, compatível com vários tipos de arquivos de áudio e vídeo usados por outros sistemas não-lineares. Outro benefício é a facili dade de compartilhamento de arquivos entre os periféri cos conectados na rede.
Sony desenvolve no Brasil solução completa para o jornalismo das emissoras locais de televisão.
Conexões Em um switch Gigabit Ethernet baseado no chaveamento layer 2/3 estão ligados o servidor, as unidades de entrada e saída, as ilhas de edição e uma casseteira de fitas de dados. Pode-se ainda ligar na rede outro servidor espelhado ao primeiro para criar um sistema de redundância. Todas as interligações entre os módulos do sistema podem ser feitas usando cabos de par trançado CAT-5 (até 100 metros) ou fibra óptica (até 2 km), dependendo do modelo do switch uti lizado. Também pode-se criar uma redundância das interligações de rede, através da duplicação do switch e suas respectivas conexões. O servidor é o DV server, desenvolvido especialmente para este sistema. Nele fica armazenado e compartilhado o material DVCAM a 25 Mbps, na forma de arquivos DV. O tráfego na rede com essa com pressão permite uma transferên cia dos arquivos num tempo até quatro vezes menor que a duração do material. Além da opção espelhada, o servidor conta com redundância em uma unidade de discos RAID e com fontes de alimentação redun dantes. É também o servidor que fica responsável também pelo gerenciamento do conteúdo — através de um sistema de HSM (Hierarchical Storage Manager) — e o controle da casseteira robotizada. “A escolha pela rede Gigabit Ether net foi porque ela é mais acessível e menos complexa do que a Fibre Channel”, conta o engenheiro. A casseteira, também desenvolvida pela Sony, é uma
fernandolauterjung fernando@telaviva.com.br
AIT-3 (Advanced Inteligent Tape). Tratase de um padrão mundial adotado por grandes empresas do mercado de TI para armazenamento de dados. A casseteira tem duas unidades de altura (no padrão rack) e conta com 4,16 Tb (terabytes, equivalente a 1000 Gb) de espaço, o que pode abrigar até 260 horas de material. Como ela trabalha com dados, o servidor é quem determina em que formato os arquivos são gravados, portanto os arquivos são DV, exatamente como no servidor. O controle da casseteira robotizada também é feito através de um HSM, que gerencia a quantidade de espaço dispo nível nas unidades de disco do servidor, de maneira que, quando se atinge um determinado nível de espaço ocupado nes tas unidades, o sistema automaticamente transfere o material armazenado das unida
des de disco para as fitas AIT-3. Assim o gerenciamento de grandes capacidades de armazenamento torna-se muito fácil, sem necessidade de intervenções do operador. In and Out A inserção de conteúdo no sistema é feita pelas unidades de entrada e saída. O número de unidades é opcional e pode crescer conforme a necessidade da emisso ra — quanto maior a necessidade, maior o número de operações simultâneas de entrada e saída de áudio e vídeo. Nelas estão incorporados os softwares de exibi ção (playout), edição simples (cut), cap tura ao vivo (ingest), captura assistida controlando um VTR ou disk unit, catalo gação e resgate de matérias. As interfaces de vídeo composto, Y/C e Firewire estão
DVCAM em Rede Gigabit Ethernet
disponíveis, enquanto as interfaces SDI e vídeo componente são opcionais. O material capturado através das entradas de vídeo e áudio nestes módulos é armaze nado com compressão de 25 Mbps no DV server via rede Ethernet, possibilitando o múltiplo acesso, edição ou pós-produção do material. A catalogação do material inserido por estes módulos é feita diretamente no servi dor, onde são criados metadados, thumb nails e uma versão em baixa resolução do material, para posterior busca, análise e resgate. O material pode ser arquivado bruto, já editado ou das duas maneiras. Para busca de matérias no arquivo, serão usadas ferramentas nas quais estarão dis poníveis os metadados, thumbnails e um preview do material em baixa resolução, permitindo uma facilidade na seleção e res
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gate parcial de matérias arquivadas. Estas matérias resgatadas poderão ser reeditadas, exibidas ou convertidas para outro formato de vídeo, como avi, mov, MPEG-2, stream para Internet etc. Com o preview em baixa resolução, pode-se visualizar uma matéria e selecionar um trecho dela para ser usado na ilha de edi ção. Dessa maneira não é necessário trans ferir todo o arquivo, deixando o tráfego da rede mais livre. Matérias no arquivo já existentes em formatos analógicos também poderão ser catalogadas usando um VTR conectado diretamente em um dos módulos de entra da. Além disso, o material em alta resolu ção já catalogado, será então transferido automaticamente para o Tape Library, após um determinado período pré-determinado. Ponta da edição Os módulos de edição não-linear, disponí veis na versão desktop e laptop, são basea dos na plataforma Vaio. A quantidade de módulos de edição instalados é opcional e expansível. Com o software Pinnacle Pur ple 4.0, incluído nas ilhas, pode-se editar diretamente da fita para o disco, o que agiliza o processo, principalmente para edição de matérias de jornalismo. Cada módulo está equipado com múltiplas inter faces Firewire, que possibilitam conectar periféricos de áudio e vídeo convencio nais, como VTRs e camcorders DVCAM, e o novo disk unit DSR-DU1 (leia Upgra de na pág. 12), o que possibilita um acesso mais rápido ao material gravado na exter na. Também podem ser conectados vários discos externos Firewire. Para economizar o tráfego na rede, as matérias que chegam das externas podem ser descarregadas e armazenadas nas ilhas de edição. Assim, o material só é transferi do para o servidor quando já está pronto. Já as matérias de estúdio podem ser arma zenadas ao vivo no servidor, para só então serem editadas nas ilhas. Além das ferramentas de edição, as ilhas contam com softwares de finalização, geração de caracteres, autoração de DVDs e composição, como o Commotion. Na versão desktop estão disponíveis dois drives, um leitor de CD e um gravador de CD e DVD, tornando-se possível gravar as matérias em DVD usando o software de autoração já incluído no sistema.
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m aking of C O M U N I C A ÇÃO N O S A R E S Para explicar o novo serviço híbrido de telefonia celular da BCP, agência e produtora desenvolveram um filme de aventura, em que toda a explicação sobre seu funcio namento acontece durante um salto de pára-quedas. O telefone é uma combinação de pós e pré-pago. O usuário paga uma mensalidade que dá direito a uma quantida de determinada de minutos e vários serviços. Quando esses créditos acabam, o usuário pode comprar créditos
como os de um celular pré-pago. “Conseguimos fazer um demo de produto que demonstra exa tamente como o celular funciona. E de uma forma que chama a atenção”, explica Eric Sulzer, diretor de arte da Ogilvy & Mather. “A idéia surgiu na própria reunião, quando o cliente nos mostrou o sistema do produto. Pensamos que seria como uma coisa boa que fazemos e de repente acaba, mas ainda temos direito a um ‘chorinho’.”
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icha técnica fCliente BCP S/A • Produto BCP Mix • Agência Ogilvy & Mather • Produtora Academia de Filmes • Direção Hugo Prata • Direção de Fotografia Adriano Goldman • Direção de Arte Hugo Prata • Montagem Marcio Soares • Finalização Academia de Filmes (Nilton César) • Trilha Play it Again
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A demonstração toda acontece no ar, em plena Chapada Diamantina. Com muito poucos efeitos especiais, a pro dução exigiu uma logística complexa, e profissionais de pára-quedismo dispostos a realizar saltos ousados. O filme contou com três protagonistas — o ator Diego Cristo, o pára-quedista e dublê Guto e Sabiá, o craque que serviu de consultor e cameraman. “Fizemos testes com os dublês, pois precisávamos de alguém que saltasse e ainda tivesse um sorriso parecido ao do ator, que não salta de quatro mil metros de altura”, conta o dire tor Hugo Prata. “Então encontramos o Guto, que foi perfeito ao dizer as falas lá em cima, em queda livre, e segurando o aparelho!”O roteiro não especificava o local onde o filme deveria ser rodado, apenas indicava que o visual teria de ser deslumbrante e que proporcionasse a possibilidade de contar a histó ria do filme, ou seja, que permitisse dois saltos de alturas diferentes. Não poderia ser outro lugar além da Chapada. Só que para acontecer tudo isso, a operação foi muito mais complicada. “Cada pára-quedista tem sua própria técnica para dobrar o pára-quedas e isso leva mais de uma hora. O aeroporto fica a meia hora de Lençóis (BA), onde nos hospedamos, e outra meia hora do morro Pai Iná cio, onde filmamos. Para repetir uma cena, precisávamos contar com todo esse tempo. Por isso, não dava para repetir o mesmo salto no mesmo dia”, diz Hugo.
lizandradealmeida lizandra@telaviva.com.br
A construção da cena O primeiro salto foi feito de um avião, para que a queda fosse sobre o morro, de onde ocorreria o outro salto. A cena foi construída com o ator, o dublê e o câmera. O ator foi filmado no chão, em fundo verde, para a cena anterior ao momento de saltar. Já no avião, foi feita a cena em que se prepara para saltar. O dublê salta e ao mesmo tempo salta o câmera. Sabiá levava uma câme ra 16 mm A-Minima Aaton presa a um capacete, com uma lente de 8 mm. Com os equipamentos apropria dos, controlava seu vôo para se man ter em frente ao outro pára-quedista, que fala o texto ao vivo, no ar. Em outra seqüência, o protagonista pousa no morro e a cena é filmada de longe, de outra câmera 16 mm colocada no chão, a 50 minutos de distância. Nesse caso, o pouso foi feito por Sabiá, pois exigia o máximo de perícia. Também foi Sabiá quem saltou de cima do morro, em uma manobra chamada de base jump. As cenas em queda livre foram filmadas a 24 quadros ou a 48 quadros. O chassis da câmera tem autonomia de cinco minutos de captação, mesmo tempo que dura o salto.
Tudo pela s e g u r a n ç a Para facilitar o transporte, a produção alugou um avião de 13 lugares em São Paulo e voou direto para a Chapada. “Precisávamos usar o avião para o salto, então decidimos ir direto daqui”, diz Hugo. Foram quatro dias de filmagem, com tudo absolutamente ensaiado em terra firme. O processo todo foi acompanhado por grupos de resgate especializados, que atuam normalmente na Chapada. Em todos os momentos, os procedimentos de segurança foram seguidos à risca. “Dentro do avião com as portas aber tas, tínhamos que ficar amarrados. No alto do morro, quando tínhamos de chegar à beira da pedra, para o segundo salto, também. Em um dos planos, em que filmávamos o dublê caindo com o cenário da Chapada no fundo, tive que ficar em um platô menor, do tama nho de uma mesa comum”, completa o diretor. O preparo dos pára-quedistas também foi fundamental para manter a segurança em toda a fil magem. “Parece ser coisa de uns aventureiros loucos, mas o pára-quedismo é um esporte de alta precisão, sem um pingo de loucura. Tudo tem seu ritual. De cima do morro, o Sabiá jogava pedaços de mato para sentir a direção e a intensidade do vento. Tudo é calculado para que não haja riscos e para chegar no lugar certo”, afirma Hugo.
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Futebol com emoção a produtora Santa TV conseguiu atrair, com um compacto semanal,
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um pÚblico não fanático pelo esporte.
A equipe da Santa TV está satisfeita com os resultados fanáticos por futebol, é a proximidade com o jogo e do programa “Arte do Futebol”, que começou a ser pro com a torcida. Para isso, Alê Primo, de dentro de uma duzido em março do ano passado. As comemorações unidade móvel, dirige quatro câmeras exclusivas, que são pela Silver World Medal, conquistada no último são colocadas no gramado. Com lentes teleobjetivas de The New York Festivals, onde a produtora concor 33 mm, as câmeras captam lances exclusivos e são as reu com programas finalistas das redes americanas responsáveis pela “inclusão” do programa na partida. MetroTV e CBS Sports e a australiana ABC. O progra “Muitas vezes o operador fica deitado no gramado, ma quase coloca o telespectador para dentro do campo, com a câmera no chão. Assim pegamos de perto algu como se fizesse parte do jogo. “Recebemos a proposta mas pancadas, os passes em close, a expressão dos do Sportv de fazer uma espécie de ‘Canal 100’, mas com jogadores, o juiz suando. Dá até para ver a imagem da uma linguagem televisiva”, conta Alê Primo, que, em torcida chorando ou comemorando”, conta Primo. conjunto com Fábio Weber, é responsá Além das câmeras vel pela direção do programa. exclusivas, a Santa TV usa A Santa TV foi criada há sete anos, o material captado pelas quando foi fechada parceria com o canal oito câmeras da Globo e de TV por assinatura Sportv para a pro do Sportv. E juntar todo dução do programa “Tá na Área”, que esse material foi o primei é exibido até hoje com apresentação da ro grande desafio da equi atriz Beth Goffman. Desde então, a pro pe da produtora. “Todas dutora se especializou em programas as 12 câmeras precisam relacionados simultaneamente ao espor estar com os time-codes te e à cultura. Também para o canal perfeitamente sincroni de esportes da Globosat, a produtora zados. Se não, perdemos Alê Primo e Fábio Weber, diretores de fez em 1998 o programa “Operação toda a lógica da jogada”, “Arte do Futebol”, uma releitura do “Canal França” e, neste ano, o “Conexão Orien explica Primo. “Parece 100” para a TV. te”. Ambos abordando futebol com um simples, mas fizemos qua “mix de variedades e cultura” sobre os tro pilotos antes de perce países da Copa do Mundo. Também em ber que o time-code era a 2002, a Santa TV fez uma cobertura de peça-chave”, completa. um dos campeonatos mais inusitados O desafio seguinte foi do País, o Campeonato Indígena. editar todo esse material, Ainda misturando futebol e cultu cerca de dez horas de gra ra, a produtora criou o website “Fute vação. Na mesma noite do bol Pop”. O site conta com uma linha jogo, Fábio Weber passa o do tempo, onde pode-se pesquisar sobre a literatura, o conteúdo de todas as fitas para o HD da ilha de edi cinema, a música, a TV e o rádio, a moda e a história ção Avid, e já vai marcando as jogadas que podem ser de cada década, tudo relacionado ao futebol. usadas no compacto. Cabe a Weber fazer a edição do Com uma linguagem importada dos videoclipes, material, o que toma mais várias horas de trabalho. o “Arte do Futebol”, que vai ao ar às quartas, é um Com as jogadas escolhidas para montar o compacto, compacto de 25 minutos do jogo do sábado ou domin Weber seleciona as câmeras que têm as imagens mais go anterior. O que chama a atenção no programa, e interessantes. É aí que está a “alma” do programa. O faz com que ele seja assistido por aqueles que não são mais importante não é mostrar toda a jogada, mas a Fotos: Divulgação
A marca de “Arte do Futebol” é a proximidade do espectador com o campo e a torcida.
sensação que ela causou. Por isso a imagem usada pode ser um close do passe, a expressão do juiz ao api tar uma falta, a reação do público em grupo ou de um único torcedor, os gestos do técnico ou, até mesmo, tudo junto. Gritos da galera Para amarrar as jogadas, Primo e Weber optaram por usar a narração original transmitida no jogo ao vivo. “Assim a nar ração fica mais emocionante do que um offline ensaiado”, diz Primo. Mesmo assim é feita uma locução em off para a abertura
e chamando para o segundo tempo, feita pelo próprio narrador logo após o jogo. A trilha sonora do programa é original, composta por José Lourenço. Os sons do estádio são complemento final ao áudio. Assim como na captação das imagens, a Santa TV conta com um áudio que não aparece na exibi ção ao vivo da partida. Os sons que vêm do campo, dos jogadores e do juiz juntam-se aos gritos do treinador e da torcida. Boa parte do emocional do compacto está aí. A mixagem deixa “a vibração da galera” mais aparente do que nas transmissões tradicionais, pouco abaixo da narração. No final, a Santa TV entrega o videotape com o compacto para o Sportv, poucas horas antes de o programa ser veiculado. “A vida dos profissionais da empresa mudou muito. Quando mais se trabalha aqui é justamente nos finais-de-semana, que é quando acontecem os jogos”, conclui Alê Primo.
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fernandolauterjung
produção
O que muda com a alta definição
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A TV e o cinema estão diante de uma revolução tecnoló gica, com as câmeras de vídeo de alta definição trazendo um novo potencial para as produções. No caminho para o digital, a vantagem de se esperar um futuro barateamento dos custos de produção e obter uma rapidez na análise do material captado passam por algumas mudanças e adap tações no método de trabalho de toda a equipe envolvida na produção, como cenógrafos, maquiadores, fotógrafos, cabeleireiros e engenheiros. A TV Globo do Rio de Janeiro, por exemplo, adotou várias alterações técnicas e artísticas, envolvendo ilu minação, lentes, cenário e filtros, em algumas de suas produções. Celso Araújo, engenheiro da TV Globo/Globo Filmes e membro da Associação Brasileira de Cinemato grafia e da SET, explica algumas destas mudanças. Produção em HD A primeira grande alteração é a relação de aspecto da HDTV, de 16:9, similar à das telas de cinema, enquanto a televisão convencional apresenta uma relação de 4:3. Esta relação é o resultado entre a medida de largura da tela pela medida da altura. Em termos da dinâmica da imagem, a HDTV permite que a composição e a edição sejam mais “contemplativas”, justamente devido à expansão da imagem para 16:9 (veja comparação abaixo). Aqueles grandes planos gerais e cor
Devido à expansão da imagem para 16:9, a composição e a
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edição em HDTV podem ser mais “ contemplativas”.
As mudanças importantes que a hd traz na direção de arte e em outros aspectos da produção.
tes contínuos para close ou close-up — tradicionais na TV convencional — tornam-se inadequados na HDTV. Para se obter um enquadramento correto, então, é indispensável a utilização de um monitor de vídeo HD, além dos cuidados com a conformação das duas rela ções de aspecto. Esse monitor deverá ter várias opções de “áreas de segurança”. Cuidado com cenários Outra alteração é a maior resolução da HDTV, de 1920 pixels x 1080 linhas ativas, isto é, seis vezes mais informa ções que a TV convencional. Isso exige cuidados diferen ciados nos projetos dos cenários, pois os detalhes passam a ser mais perceptíveis. A falta de um parafuso, por exem plo, foi sentida durante a captação de uma minissérie em high definition na TV Globo. É bom lembrar que o standard definition não alcança este tipo de detalhe. Detalhes que antes eram “suportá veis” tornam-se aparentes na alta definição, mesmo nos planos intermediários ou de fundo. Tanto o cuidado com os detalhes mais finos das com posições (acabamentos, pinturas e suportes) quanto com a profundidade de campo (a decisão técnico-artística na escolha das lentes) ganham mais importância. Direção de arte Do ponto de vista da direção de arte, trabalhar com HDTV tem sido um desafio. Cenário, figu rino e maquiagem devem agora ser repensados já que os detalhes serão muito mais visíveis, exigin do um melhor acabamento. Nas experiências feitas pela Globo Filmes, tanto a maquiagem quanto o cenário mostraram-se
Fotos: Divulgação
alessandrameleiro telaviva@telaviva.com.br
Quando uma imagem em proporção 16:9 é veiculada em monitor 4:3, as chamadas “letterbox” são usadas para completar a parte não usada da tela.
problemáticos, conta Araújo: metade do que foi feito se perdeu. No standard defi nition, trabalha-se a base da maquiagem em tons mais azulados no exterior e mais amarelados no estúdio. A passagem de um ator de um ambiente externo para o estúdio sem a mudança da base não se faz notar no formato atual, mas o HD “entrega” a tonalidade diferenciada. A base da maquiagem, seja para interior ou exterior, deve ser mais uniforme e sutil. Quando se aplicam as novas lentes projetadas para HD, principalmente as Prime Lens (veja box), o estilo e a pro porção das formas e dos contornos nos rostos precisam ser suavizados. Esse é um dos grandes desafios: obter essa textura exige encontrar novos limi tes e dimensões.
a fotografia trabalhou com exposições de 9 stops. O vídeo standard não registra isso. Essa escolha foi estética, devida à tensão dramática imaginada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho. As baixas luzes, próximas ao preto e ao cinza escuro, tiveram um bom registro. As sensações psicofísicas geradas pela profundidade e pelos contrastes simultâneos, já que há agora uma maior “acuidade”, enriquecem naturalmente o senso de realidade. No vídeo SD, trabalha-se com 5 de relação de contraste e tem-se como média uma luz 5.6 (permitindo que o fotógrafo trabalhe 2 stops para cima e 3 para baixo). Em HD, as diferenças entre “média” para “baixa luz” e “média” para a “alta luz” permitem uma maior
Iluminação No aspecto da iluminação, mais mudan ças, conta o engenheiro. No standard definition de 525 ou 625 linhas, traba lha-se com uma latitude de exposição de 4 a 5 stops (pontos do diafragma). Aqui é comum a prática em dramaturgia de dar “um bafo” de luz na cena para regis trar as baixas luzes (próximas ao preto ou cinza mais escuro). Caso contrário, obtém-se uma imagem ruidosa e difusa. No HD, que tem uma maior relação de contraste (range dinâmico), conseguese excursionar de 7 a 8 stops. Assim, é possível obter as transições de baixas luzes, ou seja, regiões mais críticas. Na minissérie “Os Maias”, da Globo,
Quando se usam as Prime Lenses (de campo focal fixo e que possuem uma maior profundidade de modulação e uma menor profundidade de campo), há a necessidade de serem aplica dos todos os recursos empregados hoje em cinema, como Matte-Box, Follow-Focus, Motorização da Íris, bem como de um operador de foco — Focus Pulle. O melhor desempe nho dessas lentes para cinematogra fia digital está na região entre T 2,8 e T 5,6 (as lentes das câmeras atuais para SD possuem a sua melhor per formance entre f 5,6 e f 8,0).
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Prime Lenses
A textura da película, formada por grãos de cor dispersos aleatoriamente,
mantidas as emulações pratica das atualmente, porque o resul tado será igual ou melhor do que na TV. Deve-se enunciar corretamente essas dificulda des para os produtores, já que em muitos casos não se tem uma visão antecipada das alter nativas de exibição.
é mais…
percepção de contraste. Este contraste é intermediário entre o vídeo standard e as emulsões cinematográficas. A foto metragem no set ocorre exatamente da mesma forma que no cinema. Emulação Quando a captação é feita com o objeti vo de distribuir o produto HD em duas mídias — TV e cinema —, é preciso considerar algumas variáveis impor tantes: as soluções até hoje admitidas como adequadas no ambiente do vídeo para se obter o film look não são apro priadas quando é feito o transfer de HD para 35 mm. Quando projetado em tela grande, tem-se uma diminuição do brilho, e a imagem torna-se opaca. Então, é necessário encontrar uma nova emulação das câmeras, nas fil tragens, na iluminação e nas texturas para essa condição. Se o vídeo for projetado nas gran des salas — D-Cinema —, podem ser
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Paleta de cor As cores também devem ser testadas antes do início da captação. Em “Os Normais”, “Caramuru — A Invenção do Brasil” e “O Auto da Compadecida”, houve necessidade de uma maior precisão no controle dos volumes e contrastes obtidos a partir da iluminação em relação à TV convencional. Para explorar o comportamento da ima gem, foram feitos testes de pale ta de cor, envolvendo maquiagem, equipe de cenário, figurino, cabelo e fotografia. Após esses testes é que se pôde emular o setup da câmera (através do técnico/operador de vídeo), ou seja, as variáveis adequa das a cada situação, a cada ambien te, a cada look desejado. Em “Caramuru”, exploraram-se os núcleos Brasil e europeu. A paleta de cores do núcleo Brasil vinha com uma vibração cromática maior e a euro péia era dessaturada. Esse resultado foi conseguido pela câmera HD (as câmeras de standard definition não oferecem essa opção), pelo figurino e pelo cenário. No cenário Brasil, foi utilizada uma matriz que trazia uma
maior vibração cromática, contraria mente aos cenários da Europa. Filtros da HD Segundo Araújo, com a percepção de contrastes, brilhos e sombras sendo mais intensa, uma nova relação com os filtros também ocorre. A partir dos estudos feitos pela Globo Filmes, os fil tros para manuseio de textura devem ter baixíssima densidade. Isto porque o compromisso de se adequar a imagem captada para várias mídias — VHS, DVD, TV aberta, TV por assinatura e cinema — exige que se trabalhe com pouca filtragem na frente da lente para a manipulação de textura.
…agradável à visão do que os pixels alinhados da imagem digital.
Os comportamentos dos filtros de “correção de temperatura de cor” e “den sidades neutras” são os mesmos das câmeras atuais. A atmosfera desejada, ou HD video look, é conseguida levando-se em conta o maior range dinâmico, a maior vibração cro mática e as opções de matrizes previamente disponibilizadas. A engenharia passa a ser uma importante ferramenta para a constru ção do efeito estético.
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dezembro 11 a 13 — Curso: TV Digital - Prin cípios e Visão Geral (ênfase em TV Digital Via Satélite). Salvador, BA. Fone: (21) 2625-4126 / 2533-9540. E-mail: treinamento@unisat.com.br Inter net: www.unisat.com.br
2003 janeiro [ cinema & tv ] A Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro lançou o primeiro curso brasi leiro de formação executiva em cinema e televisão, o Film & Television Busi ness. A coordenação é de Leonardo Monteiro de Barros, sócio-diretor da Conspiração Filmes. O curso de especia lização visa a formação de profissionais capacitados a atuar nas diversas áreas da indústria de cinema e TV. O curso começa em janeiro de 2003 e dura oito meses. Informações pelo tele fone (21) 2559-5902. 6 a 17 — Curso: Direção de Atores. Escuela Internacional de Cine y TV, Cuba. Informações no Projeto Proarte Brasil. Fones: (22) 2629-1493 / 9217-1620. E-mail: alfrec@uol.com.br / patriciamartin@uol.com.br 15 a 17 — Curso: Banda Larga, Mul timídia e Internet — Via Terrestre e Via Satélite. Rio de Janeiro, RJ. Fones: (21) 2625-4126 / 2533-9540. E-mail: treinamento@unisat.com.br Internet: www.unisat.com.br 20 a 23 — Natpe 2003. Ernest M. Memorial Convention Center, New Orleans, EUA. Fone: (1-310) 453-4440. Fax: (1-310) 453-5258. Internet: www.natpe.org 20 a 31 — Curso: Roteiro Cinema tográfico. Escuela Internacional de Cine y TV, Cuba. Informações no Projeto Proarte Brasil. Fones: (22) 2629-1493 / 9217-1620. E-mail: alfrec@uol.com.br / patriciamartin@uol.com.br 24 a 01/02 — VI Mostra de Cinema de Tiradentes. Tiradentes, MG. Fone: (31) 3282-2366.
Fax: (31) 3282-2342. E-mail: mostratira dentes@universoproducao.com.br Internet: www.mostratiradentes.com.br
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Proarte Brasil.
da Fotografia. Escuela Internacional de Cine y TV, Cuba. Informações no Projeto Fones: (22) 2629-1493 / 9217-1620. E-mail: alfrec@uol.com.br / patriciamartin@uol.com.br
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10 a 28 — Curso: Escrevendo para Atores, Atuando para Escritores. Escuela Internacional de Cine y TV, Cuba. Informações no Projeto Proarte Brasil. Fones: (22) 2629-1493 / 9217-1620. E-mail: alfrec@uol.com.br / patriciamartin@uol.com.br
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março 03 a 14 — Curso: Iniciação ao Audiovisual. Escuela Internacional de Cine y TV, Cuba. Informações no Projeto Proarte Brasil. Fones: (22) 2629-1493 / 9217-1620. E-mail: alfrec@uol.com.br / patriciamartin@uol.com.br
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[ nab 2003 ] A NAB (National Association of Broad casters) abriu as inscrições para a NAB 2003, que acontece em Las Vegas entre os dias 5 e 10 de abril de 2003. Os pre
03 a 21 — Curso: Final Cut Pro. Escuela Internacional de Cine y TV, Cuba. Informações no Projeto Proarte Brasil. Fones: (22) 2629-1493 / 9217-1620. E-mail: alfrec@uol.com.br / patriciamartin@uol.com.br
ços, promocionais até o dia 28 de feverei
22 a 23 — MipCom 2003. Palais des Festivals. Cannes, França. Fone: (33-1) 4190-4456. Fax: (33-1) 4190-4558. E-mail: caroline.danaux@reedmidem.com Internet: www.mipcom.com
e US$ 235.
24 a 28 — MipTV 2003. Palais des Festivals. Cannes, França. Fone: (33-1) 4190-4456. Fax: (33-1) 4190-4558. E-mail: caroline.danaux@reedmidem.com Internet: www.miptv.com
ro, variam conforme o pacote escolhido. A associação também está recebendo reservas para alguns hotéis com preços promocionais para participantes do even to. O valor das diárias varia entre US$ 45 Mais informações: Fone (202) 429-5429; E-mail: kanderson@nab.org; Internet: www.nab.org
julho 27 a 31 — SIGGRAPH 2003. San Diego Convention Center, San Diego, USA. Fone: (1- 719) 599-3734. E-mail: cmg@siggraph.org Internet: www.siggraph.org
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