Crypto valor SETEMBRO / 2021
Criptomoedas, investimentos e economia digital
Crypto valor
REPÓRTERES Felipe Oliver, Ingredi Brunato, Fernanda Valente, Enrico Benevenutti e Anna Capelli
EDITORES Maria Laura Saraiva, Isabela Barreiros, Helena Leite, Pedro Ferri e Erich Mafra
SETEMBRO / 2021
EDITORA-CHEFE e EDITORA DE ARTE Helena Cardoso
O que é?
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Futebol e criptomoedas Empresas e criptos
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Moda e criptos Pág. 12
Crypto Entrevista
Conversa com o investidor Gabriel di Genova
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Cripto mania
Conheça o universo por trás do dinheiro que está conquistando o mercado
Por FELIPE OLIVER E MARIA LAURA SARAIVA
Todos sabemos o que é dinheiro — ou pelo menos achamos que sim. Trata-se de uma commodity, isto é, um produto que pode ser estocado, e serve como instrumento de troca. Mas, afinal, o que ele significa? Na obra “A Igreja e o mercado”, o economista norte-americano Thomas E. Woods explica que a moeda funciona como um comprovante equivalente a um serviço prestado para a sociedade. Ou seja, vende-se algo para depois conseguir comprar. Assim, nenhum homem se satisfaz com moedas, mas por aquilo que
O que são? A criptomoeda nada mais é do que dinheiro eletrônico criptografado, ou seja, uma representação digital da moeda que utiliza tecnologia blockchain (“cadeia de blocos”) para garantir transações seguras. O funcionamento é simples: a ferramenta registra as informações com uma criptografia que depende do bloco anterior. Dessa forma, qualquer alteração causa uma falha em toda a cadeia, facilitando a identificação de fraudes. Você deve ter ouvido falar delas em 2017. Na época, os sortudos que haviam aportado US$ 1,00 em Bitcoins seis anos antes receberam o equivalente a US$ 3 milhões. Desde então, elas ocupam na mídia um espaço cada vez mais semelhante aos das moedas mais relevantes do mundo, como o dólar e o euro. A primeira criptomoeda foi o Bitcoin, criada em 2009. Hoje, já existem ao menos 10.810 moedas listadas, de acordo com os números da agregadora de dados CoinMarketCap. Entre elas a Litecoin (2011), Namecoin (2011), Peercoin (2012), Nxt (2013), NEO (2014), Floki Inu (2021), etc.
pode adquirir com elas. A criação desse sistema de troca data de incríveis 2500 a.C. Nesse período, segundo os historiadores, os povos neolíticos praticam escambo entre indivíduos e tribos utilizando caças e ferramentas como moeda. Já por volta dos anos 615 a.C., na Turquia, surgiram as primeiras pratas cunhadas com fim de mediar acordos comerciais. Hoje, no entanto, a humanidade assiste à ascensão de um novo tipo de dinheiro: as criptomoedas.
Inflação É consequência de um aumento na quantidade de dinheiro em circulação, sem um aumento equivalente de dinheiro-mercadoria, é o aumento de bilhetes não-lastreados. No entanto, uma vez que os clientes podem resgatar papel sem valor, eliminou-se o freio crucial da expansão. O ouro tem a vantagem de ser finito em quantidade e impossível de falsificar. As criptomoedas podem resgatar o papel antes ocupado pelo lastro em ouro.
O QUE É?
5 FOTO: REPRODUÇÃO | PEXELS
Por que fazem tanto sucesso?
Sua principal vantagem é o sistema de segurança e privacidade. Além disso, sua taxa de conversão é baixíssima, uma vez que ela pode ser utilizada em todos os países. Outro ponto a ser levado em consideração é que as criptomoedas não são emitidas por nenhum governo, mantendo seu sistema de controle descentralizado — atributo que impede a formação de cartel de bancos concorrentes por meio do Banco Central. Por isso, elas também não estão sujeitas a inflação em decorrência de emissão de dinheiro pelo BC. Por outro lado, seu valor é determinado pela oferta e demanda, cujo valor tem se mostrado extremamente volátil nos últimos anos. São, portanto, um investimento de risco elevado uma excelente oportunidade para enriquecer — ou falir.
Regulamentação Vs. Mercado Atual No início de agosto, o presidente da agência federal norte-americana Securities and Exchange Commission, Gary Gensler, reclamou publicamente sobre a falta de regularização das criptomoedas, apelidando as negociações de “Velho Oeste”. Essa, segundo o doutor em economia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Armando Martins, é a principal queixa do mercado atual. “Muitos países adotam apenas regras tributárias do mercado, sem abordar outros tipos de questões. Apenas uma maioria já legislou a respeito das criptomoedas como um todo”, diz. Para alguns, o processo de regulamentação das criptomoedas ressuscita disputas antigas entre instituições jurídicas e tecnologias. Nesse sentido, Armando compara o caso à disseminação dos downloads ilegais de
músicas em MP3 no início dos anos 2000. “Uma vez que as regulações não conseguiram inibir ou disciplinar o uso destas novas tecnologias, a solução encontrada foi das instituições buscarem se adaptar à nova realidade, no caso da música, com plataformas como o Spotify.” De fato, o mercado das criptomoedas parece ter vida própria. Na última semana, por exemplo, a recém-criada Floki Inu apresentou alta de 108% após o bilionário Elon Musk publicar uma foto do seu cachorro - que também chama Floki - no Twitter. A partir disso, impedir ou conter o avanço das moedas digitais seria um esforço contra a correnteza - pior, contra o futuro, alerta Martins. “Os esforços políticos devem ser voltados para o acolhimento e para a adaptação das instituições, não o contrário”.
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FOTO: REPRODUÇÃO | REUTERS - DADO RUVIC
Elas vieram para ficar? Veja que empresas já estão apostando em criptomoedas, do Brasil ao Vale do Silício
Por INGREDI BRUNATO E
ISABELA BARREIROS
Bitcoins em frente ao logotipo da Tesla
Há apenas alguns anos, a ideia de moedas digitais ainda era um conceito de filme futurista de ficção científica. Hoje, porém, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar, no mínimo, sobre o Bitcoins, as mais famosas criptomoedas da atualidade. Embora, a princípio, as cifras virtuais tenham sido encaradas com desconfiança pelo mercado financeiro tradicional, com o passar do tempo, elas mostraram que vieram para ficar, e, nos últimos tempos, já é possível encontrar, inclusive, megaempresas internacionais aderindo ao conceito. Os ativos digitais têm recebido grande valorização externa, mas também no mercado nacional. Isso tem incentivado companhias a diversificarem seus portfólios e modernizarem seu entendimento sobre o mercado financeiro, que passa a ser, em grande parte, digital. Tesla, a automotiva gigante do bilionário Elon Musk, é um exemplo de companhia que passou a investir em bitcoins. Conforme divulgado pelo Estadão neste ano de 2021, o ricaço colocou 1,5 bilhões de dólares no mercado da criptomoeda. Existem ainda marcas que estão diretamente relacionadas com transações financeiras e passaram a permitir que seus clientes usem suas cifras virtuais para realizarem pagamentos. Neste grupo, podemos citar Visa e Paypal.
Todos esses acontecimentos, todavia, não significam que os ativos digitais são considerados hoje investimentos seguros. É importante destacar que as criptomoedas são, ainda, altamente voláteis. Os empreendedores de Wall Street, contudo, nunca foram conhecidos por evitar assumir riscos. Caso sejam capazes de apostar em um criptoativo que acaba sendo valorizado, afinal de contas, os lucros podem ser rápidos e volumosos. E não é apenas no Vale do Silício que as cifras digitais estão se popularizando: a tendência também já chegou ao Brasil. De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que foi realizada no primeiro semestre de 2021, o Bitcoin já se tornou o terceiro tipo de investimento mais comum entre brasileiros. E os estabelecimentos também estão se adaptando a isso: hotéis como o Nobile Plaza e JS Hostel, assim como construtoras e até pet shops já aceitam pagamentos com cifras digitais. “Acredito que as criptomoedas já saíram da zona cinzenta há um tempo, temos a IN 1888 da Receita Federal desde 2019, o ofício 4081/2020 do Ministério da Economia autorizando a integralização do capital social com criptomoedas, a CVM autorizando ETFs de Bitcoin, etc”, afirmou Rafael Izidoro, CEO da agência de empréstimos Rispar.
NEGÓCIOS
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FOTO: REPRODUÇÃO | FACEBOOK
“Todas essas iniciativas fomentam o crescimento exponencial no investimento deste tipo de ativo no Brasil”, concluiu o empreendedor, como repercutido pelo Jornal Contábil. O grupo que é mais engajado com esse mercado, é a Geração Z, dos nativos digitais, o que não chega a ser uma surpresa, uma vez que os jovens são mais acostumados — e entusiasmados — com as inovações tecnológicas. A informação vem de um levantamento da rede social Yubo, que descobriu que 35% das pessoas nesta faixa etária mais jovem investem em criptomoedas. O estudo também descobriu que 45% deles pensam que, no futuro, as moedas estatais deixarão de existir, e todas as transações serão feitas se utilizando de ativos virtuais. E eles não são os únicos a fazer esta previsão: os Estados Unidos e a União Europeia já acreditam que é só “uma questão de tempo” até que os dólares, euros, ienes e reais desapareçam, restando apenas as moedas controladas por algoritmos, conforme revelado pela Istoé Dinheiro. O governo da China, por exemplo, já está se adiantando nesse processo, e lançou sua própria criptomoeda estatal. E assim, o futuro que pensávamos apenas existir em filmes sci-fi vai se aproximando cada vez mais da nossa realidade cotidiana.
De cima para baixo: Nobile Plaza Hotel; Pet Strelow em Vila Velha (ES), que aceita bitcoins; e ilustração da Visa e criptomoedas.
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Arte atrás da tela
Acima, artigos de moda para avatares da Auroboros. Na outra página, tênis em NFT da RTFKT.
Entenda como os criptoativos estão transformando a arte e a moda ao redor do mundo Por FERNANDA VALENTE E HELENA LEITE
Você já ouviu falar dos NFTs? Os chamados “tokens não-fungíveis” se tornaram uma das maiores tendências dos criptoativos em 2021, com um aumento de 55% nas vendas em relação a 2020, conforme informações do jornal Exame. Apesar de terem crescido consideravelmente nos últimos anos, os NFTs existem desde 2012, quando o conceito de moedas coloridas de bitcoin surgiu pela primeira vez. Na época, essas moedas eram usadas principalmente para negociar trabalhos artísticos no universo digital. De maneira simplificada, esses NFTs consistem basicamente em uma sequência única de números, que se configura em algo que pode ser utilizado apenas pelo usuário que o comprou. Desse modo, funciona como uma forma de registrar qualquer tipo de arquivo digital. Um NFT nunca é igual ao outro, tanto no valor como nas propriedades do próprio token. Essa característica permite que NFTs atuem como uma prova de origem. Existe cada vez mais reconhecimento de que existe valor em provar a proprieda-
de e autenticidade de propriedades intelectuais, como obras de arte e tokens dentro de jogos. A especificidade de cada NTF é o que os diferencia de criptomoedas como o Bitcoin. Se um Bitcoin pode ser trocado por outro sem problemas, como o dinheiro, os NFTs são diferentes entre si, como uma figurinha rara ou uma bolsa de designer, por exemplo. Com o passar do tempo, esses criptoativos evoluíram e passaram a entrar no mundo da moda e da arte, à medida que marcas e personalidades começaram a criar peças disponíveis exclusivamente no ambiente ditgital. Um exemplo disso são as roupas criadas pela Gucci, Louis Vuitton, Burberry e muitas outras, que não existem na vida real, apenas no mundo online. Para muito além de roupas, os NFTs podem representar virtualmente qualquer tipo de item, seja ele real ou intangível, incluindo trabalhos artísticos, gifs, memes, tweets,itens virtuais dentro de videogames, como skins, moedas digitais, armas e avatares, música, itens co-
lecionáveis, ativos do mundo real tokenizados, desde imóveis e carros a cavalos de corrida e tênis de marcas famosas, terrenos virtuais, vídeos de momentos icônicos do esporte, ou qualquer outro tipo de informação. As possibilidades são infinitas!
Museu virtual Após a chegada da pandemia, a compra e venda de arte sofreu quedas drásticas. Com a falta do presencial, as produções artísticas em NFT despontaram. A plataforma de negociação de artes digitais OpenSea, uma das maiores do mundo, registrou de janeiro até agosto de 2021 mais de US$ 4 bilhões nas vendas anuais de NFTs. O movimento é tão grande que até a Visa adquiriu uma obra de arte digital. Em agosto, a companhia anunciou em seu perfil do Twitter a compra do CryptoPunk número #7610 por US$ 150 mil, ou seja mais de 770 mil reais mil na cotação atual.
MODA
9 FOTO: REPRODUÇÃO | REUTERS
Cripto Fashion Além das obras de arte digitais, o mundo da moda também chegou ao cenário virtual. Roupas e calçados para
avatares podem ser vendidos como NFT. Um dos primeiros experimentos que uniu os dois universos foi a venda de um vestido digital no valor de 9.500 dólares, em 2019. O leilão da peça foi organizado pelo DapperLabs, criador do Top Shot e dos CryptoKitties, em parceria com a marca digital The Fabricant. A ascensão dos NFTs possibilitou o surgimento de marketplaces como o The Dematerialised, voltado para a venda de peças digitais nesse formato. As peças compradas na plataforma podem ser vestidas dentro de metaversos, tanto de jogos como em ambientes sociais baseados em realidade virtual, ou seja quem usa as peças são os avatares dos compradores. A maior potência da cripto fashion está justamente na integração das marcas com os games. O objetivo final é tornar as compras dentro de um jogo uma posse real do usuário. Ao comprar uma skin nesse formato seria possível utilizá-la em uma série de outros espaços virtuais, se tornando verdadeiramente dono do
item. Atualmente as peças tendem a ser exclusivas de cada plataforma e desaparecem com o desligamento da mesma. Outro modelo que anda chamando atenção das marcas que investem em NTFs são as redes sociais, principalmente o Instagram e o Snapchat. Um caso com grande repercussão foi o da empresa de tênis virtual RTFKT que cria filtros de tênis limitados para serem usados apenas no universo digital. A empresa registrou vendas de US$ 7 milhões, com tênis de edição limitada sendo vendidos em leilões por US$ 10.000 a US$ 60.000. Os NFTs do RTFKT também podem ser usados como token para obter uma versão física gratuita do calçado, mas um em cada 20 clientes não resgata esse token.
FOTO: REPRODUÇÃO | RTFKT INC
O mercado de criptoartes brasileiro não fica para trás! A atriz Vera Fischer leiloou uma foto antiga dela, o SBT colocou à venda momentos marcantes do apresentador Silvio Santos e a artista e programadora nacional Monica Rizzolli arrecadou cerca de US$ 5,38 milhões em um leilão de NFTs feito na plataforma Artblocks. A artista plástica Efe Godoy vê essa nova possibilidade com bons olhos. “Isso é fantástico para nós artistas, porque a gente tem a possibilidade de vender um trabalho que pode voltar para a gente o tempo todo. Essa moeda é a grande revolução da nossa época, pois está sempre girando e gerando lucro”, se anima. Já a artista Nina Satie acredita que o modelo virtual é mais uma forma de transformar arte em mercadoria. “É só uma atualização do mercado. Dizem que o artista vai ter mais liberdade e autonomia sobre os próprios direitos sobre seu trabalho, como é vendido e quem ele alcança. Mas, para mim, é como um esquema de pirâmide: se você é um artista que não tem um reconhecimento e for para esse mercado, vai acabar gastando mais dinheiro do que lucrando.”
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FOTO: DIVULGAÇÃO | SOCIOS.COM
Fan Tokens As criptomoedas dos clubes de futebol possuem preço inicial fixado pelos times, rendem experiências exclusivas aos torcedores e podem auxiliar na contratação de novos jogadores
Por ENRICO BENEVENUTTI E PEDRO FERRI
Atlético de Madrid, Barcelona, Galatasaray, Juventus, Manchester City, Milan, Paris Saint-Germain e Roma. Esses são alguns dos clubes europeus que já mergulharam de cabeça no mercado dos fan tokens (FTOs). Percebendo esse movimento e visando à criação de novas receitas, Atlético-MG e Corinthians associaram suas marcas à Socios.com, empresa especializada no ramo das criptomoedas, e lançaram o “$GALO” e o “$SCCP”. O Flamengo também contará com o seu próprio ativo digital, apesar de até agora não haver uma data estipulada para o lançamento. Segundo informações do jornalista Gilmar Ferreira, o vínculo com a Socios.com garantirá ao mínimo R$ 153 milhões aos cofres Rubro-Negros até dezembro de 2025. “São moedas digitais criadas para os torcedores. Funcionam como uma espécie de passe para engajamento. Quando adquiridas, concedem diversos benefícios como, por exemplo, acesso a conteúdos e x -
clusivos, itens promocionais ou, até, a compra antecipada de ingressos. As recompensas variam e são definidas pelos clubes.”, explica João Jacetti, especialista em mercado financeiro e ex-gerente da OKEX. Jacetti ainda aponta que uma estratégia bastante utilizada é a inclusão dos torcedores em algumas escolhas. “Quem tem FTOs possui o direito de votar em decisões internas. Por exemplo: Qual será a frase estampada no ônibus da equipe? O terceiro uniforme usado ao longo da temporada? A braçadeira que o capitão do time usará?.” Foi justamente esse atrativo que levou o corinthiano Matheus Magossi, 22, a comprar fan tokens. Ele revela que essas contrapartidas servem como uma espécie de “ponte”, que o aproxima de seu clube de coração. “Vivo no interior, em uma cidade chamada Borborema, há mais de 400 quilômetros de São Paulo. Não vou aos jogos, nunca fui a nenhum. Para torcedores como eu, poder escolher o próximo ídolo a ser homenageado com um busto no Parque São Jorge e ajudar a definir a nova frase que ficará estampada no túnel de acesso da Neo Química Arena é uma maneira de compensar a distância”, diz, citando as duas únicas votações disponibilizadas para a torcida até o momento. “Votei no Basílio, o pé de anjo, e na frase ‘Eu nunca vou te abandonar”, completa. Anunciado em 1º de setembro, data que marcou os 111 anos do Corinthians, o primeiro dia de vendas do $SSCP foi um sucesso. Em menos de duas horas, todas as 850 mil unidades disponibiliza-
das pela Socios.com foram comercializadas, quebrando recorde de vendas nacional e fazendo o sistema da empresa sair do ar pelo tamanho da demanda. “Toda a oferta inicial se esgotou rapidamente”, disse José Colagrossi Neto, superintendente de marketing do Corinthians, em vídeo divulgado nas redes sociais do clube. Conforme divulgado oficialmente pelo clube, 50% dos FTOs foram negociados no exterior, em 150 países diferentes. Cada unidade foi vendida a 2 dólares (cerca de R$ 10). Assim, a arrecadação na oferta inicial foi de 1,7 milhão de dólares (ou R$ 8,7 milhões). Embora os detalhes do acordo entre o Corinthians e a Socios.com não tenham sido revelados, a expectativa é que, assim como o Atlético-MG, o Timão fique com 50% do valor gerado pelas vendas. Atualmente, o $SCCP está sendo negociado por 2,71 dólares (cerca de R$ 15 reais), enquanto o $GALO está saindo 2 dólares (R$ 10 reais). Apesar de não saber a parte correspondente ao clube, Gabriel Henrique, 25, decidiu abrir o bolso para “ajudar” a instuituição. “O momento financeiro do Corinthians é delicado. Então, tento contribuir consumindo o máximo de produtos possíveis. Gastei pouco mais de R$ 40 reais em 4 fan tokens”, diz Gabriel, que revelou ainda que foi um dos milhares afetados pela queda do sistema da plataforma. De acordo com o balanço financeiro de 2020, a dívida total do Corinthians é de R$ 956, 9 milhões - o montante não engloba os valores relacionados a Neo Química Arena.
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FOTO: DIVULGAÇÃO | SAMBA DIGITAL
FOTO: REPRODUÇÃO | PSG
ESPORTE
Na outra página, fan token do Corinthians. Nesta página, à esquerda, ranking de interação nas redes divulgado pela Samba; à direita, Messi
Como os valores são determinados?
Messi e as “luvas” digitais
Fato é que a parceira viabilizou a principal contratação do Corinthians na temporada. O retorno, após 14 anos, de Willian ao clube que o projetou para o futebol mundial só foi possível por conta dos fan tokens. “A Socios.com nos ajudou na chegada do Willian”, revelou o presidente Duílio Monteiro Alves, em entrevista do programa “Jogo Aberto”, do Grupo Bandeirantes. “Como qualquer outra moeda digital, os fan tokens também possuem um valor, determinado pelas variações do mercado. Essas variações estão relacionadas basicamente com o momento dos clubes. Se um clube está bem, o seu fan token valoriza; se está mal, desvaloriza. E isso não tem haver apenas com o momento da equipe dentro de campo. Fatores como as interações dos torcedores nas redes sociais, grandes contratações ou baixas significativas também impactam diretamente os valores dos fan tokens”, explica Jacetti. Devido as ações envolvendo tanto o aniversário do clube quanto as chegadas de Willian e Róger Guedes, entre os dias 1º e 7 de setembro, o Corinthians foi o clube brasileiro com mais interações nas redes sociais, com 16, 9 milhões. Não à toa, durante esse período, o $SCCP registrou uma valorização superior a 100%. Até o momento da publicação desta matéria, o fan token Alvinegro está sendo comercializado por 2,66 dólares (R$ 13,96).
A contratação de Lionel Messi pelo PSG abalou as estruturas do mundo do futebol e, também, o mercado financeiro: foi a primeira grande negociação com pagamentos a partir de criptoativos. “Essa iniciativa posiciona ainda mais o Paris Saint-Germain como uma das marcas esportivas mais inovadoras e vanguardistas do mundo”, afirmou o clube, em nota. A quantia exata não foi divulgada, mas, segundo o clube francês, o astro recebeu “um significativo número de tokens PSG” como parte das “luvas” – nome dado ao pagamento realizado pelo clube ao jogador no momento da assinatura do contrato. De acordo com o site britânico The Athletic, Messi embolsou 25 milhões de euros (mais de R$ 150 milhões). Leo desembarcou na capital da França no dia 10 de agosto. Nos sete dias que sucederam sua chegada, o fan token do PSG valorizou 150%, saltando de 22 para 55 dólares (cerca de R$ 290). Nesse período, conforme revelado pelo clube, foram negociados mais de 1,2 bilhão de dólares em criptoativos. No momento, o token está sendo negociado por 32 dólares (R$ 174). “Graças aos FTOs do PSG, fomos capazes de engajar uma nova audência global, criando um fluxo de receita digital bastante significativo”, disse Marc Armstrong, diretor do clube francês.
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Crypto Entrevista Investidor descreve sua experiência aplicando em moedas digitais
Por ANNA CAPELLI E ERICH MAFRA
A ideia de começar a investir pode parecer assustadora no início, mas apenas a experiência com algum tipo de ativo pode ensinar, de fato, como funciona o mundo dos investimentos. Dentro deste universo de possibilidades, a criptomoeda virou centro de discussões como um dos tipos de aplicações rentáveis - em parte por sua alta volatilidade e pela criação de novos bilionários. Embora este mercado só tenha surgido no Brasil em 2013, com a fundação da corretora Mercado Bitcoin, as moedas digitais têm conquistado o coração (e as carteiras de investimentos) dos brasileiros. Prova disso é o volume de reais que uma corretora consegue movimentar dentro deste mercado: a Binance, principal do Brasil em 2021, chegou a fazer girar mais de R$174 bilhões em 24 horas na última segunda-feira (20), e conta com mais de 28 milhões de acessos semanais. Foi seguindo essa tendência que o universitário e técnico de suporte Gabriel Di Genova, que, aos 23 anos, já investia em outros ativos, percebeu o valor do mercado de criptomoedas
e decidiu criar uma conta na corretora/banco digital NovaDAX. Como resultado, após seis meses, multiplicou o valor que investiu em mais de 60 vezes, mas ciente do risco causado pela alta volatilidade deste mercado que diversas vezes é reconhecido como uma possível “bolha”. Para saber mais sobre sua experiência e entender o funcionamento das criptomoedas na mente de um investidor iniciante, conversamos com Gabriel. Confira na entrevista a seguir o relato completo de sua experiência:
ENTREVISTA
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Cryptovalor: Como foi sua experiência investindo em criptomoedas? Quais as vantagens e desvantagens que você pôde perceber? Gabriel di Genova: Foi boa, mas totalmente por coincidência. Eu investi pouco e sem nenhuma ganância, apenas pela experiência, e acabei multiplicando a grana que investi em cerca de 60 vezes. Em termos de vantagens e desvantagens, o lado positivo é que, na pequena chance de que você acerte a hora de investir, o lucro pode ser gigantesco. Já o negativo, além de ser muito complicado de entrar no mercado na média, a volatilidade é absurda — e isso pode ser estressante para iniciantes e ainda induzir ao erro. C: Como funciona o investimento em criptomoedas? G: No geral você abre uma conta numa corretora (eu abri numa chamada NovaDAX, que inclui conta de banco digital também), deposita dinheiro nela e a partir daí compra as criptomoedas que quiser. C: Por que você escolheu essa forma de investimento em vez de outras? G: Na verdade, o pouco que eu investi em criptomoedas foi por apreciação à comunidade e sem intenção nenhuma de lucro. Outros tipos de investimento não costumam ter esse fator de identidade da moeda. C: Você já usou outras formas de investimento (aplicações de renda fixa, ações na bolsa de valores ou fundos imobiliários)? Qual a diferença desses métodos mais “comuns” comparados às criptomoedas? G: Sim! Além de criptomoedas, investi em fundos imobiliários. As grandes diferenças são a confiança no lucro e a metodologia. O investimento na criptomoeda é muito, muito incerto e, por consequência, só se investe em criptomoeda assumindo que se pode perder quase tudo que foi aplicado. Em outros tipos de investimento você tem muito mais segurança dos seus ativos e pode tratar como um “depósito” de certa forma — de maneira que, mesmo que se perca um pouco, raramente você vai perder quantias muito grandes de dinheiro em períodos muito curtos de tempo. O lucro, porém, costuma ser menor quanto menor o risco. Então, é uma via de mão dupla... C. Você voltaria a investir em criptomoedas? Por quê? G: Sim! Sobrando um pouco de dinheiro, com certeza investiria mais em cripto, simplesmente porque tem um potencial bom de crescimento. Mas sempre em conjunto com outras formas mais seguras de investimento. C. Algumas pessoas ainda são céticas quanto ao investimento em algo totalmente digital. Você recomendaria o investimento em criptos? G: Recomendaria, sim! No mínimo pela experiência de saber como é, e para tentar se acostumar com a volatilidade absurda desse mercado.
Crypto valor SETEMBRO / 2021 4JOA