Educação ambiental psd teófilo braga 3o de maio de 2000

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Teófilo Braga

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Comunicação apresentada na iniciativa do PSD “Ao Encontro dos Açorianos”

Hotel Açores- Atlântico, 30 de Maio de 2000


“A verdadeira educação consiste em invocar dentro de nós mesmos o melhor de nós mesmos. Que livro melhor pode existir que o livro da humanidade? ” Gandhi

Ambiente e a Educação são, nos nossos dias, dois dos temas mais debatidos em todo o mundo. A educação tomou-se paixão para alguns, o ambiente está na moda e a educação ambiental é a panaceia para todos os males, sendo por oportunismo, muitas vezes transformada em

mero acto de propaganda destinado à obtenção de meios

financeiros ou de “bandeiras de qualidade”(Fernandes, 1997).

Afinal, o que é a Educação Ambiental?

1- Alguns marcos históricos

O caminho percorrido pela Educação Ambiental como procura de respostas para os problemas da biosfera, teve início em Junho de 1972, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo. Com efeito, a Declaração sobre o Ambiente Humano, recomenda o estabelecimento de um programa internacional de Educação Ambiental e reconheceu a esta o seu papel crítico para combate à crise ambiental no mundo.

Outro marco histórico de enorme importância para o desenvolvimento da Educação Ambiental, talvez o mais decisivo, foi a Conferência Intergovemamental sobre Educação Ambiental (Conferência de Tbilisi), que se realizou, entre 14 e 26 de Outubro, na Geórgia (Ex-URSS). A Declaração sobre Educação Ambiental, aprovada em Tbilisi, precisou a natureza da educação ambiental, definiu os seus objectivos e as suas características assim como as estratégias para o seu desenvolvimento. O princípio geral da Educação Ambiental aprovado na Declaração de Tbilisi pode ser enunciado do seguinte modo:


Fazer compreender às pessoas e à comunidade a natureza complexa resultante dos factores físicos,

biológicos,

sociais,

económicos e culturais, do ambiente natural e urbano e dar a estas pessoas

ou

comunidades

a

oportunidade

de

adquirir

os

conhecimentos, os valores as atitudes e as aptidões práticas que lhes permitam ajudar de uma maneira responsável e eficaz a prever e resolver os problemas ecológicos e gerir a qualidade do ambiente.

Em Abril de 1987, foi divulgado o relatório da Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (“O Nosso Futuro Comum”), presidida pela primeira ministra da Noruega, Gro Bruntdtland. Neste relatório que chamava a atenção para o importante papel dos formadores são apresentadas, entre outras, de acordo com Fernandes (1992) as seguintes conclusões:

a necessidade da compreensão de que a humanidade existe como uma parte da natureza e deve actuar de acordo com as leis ecológicas; -

a concepção de que critérios novos, éticos e estéticos, devem ganhar peso em relação às considerações utilitaristas e economicistas;

-

a compreensão da necessidade de Ter em conta os efeitos a longo prazo no ambiente natural e humanizado das concepções económicas e das actividaes humanas.

Por último, em Junho de 1992, realiza-se no Rio de Janeiro a Conferência da ONU sobre o Ambiente e Desenvolvimento. Dos vários documentos emanados da Conferência do Rio destaca-se a Agenda 21 que apresenta um plano de acção para o desenvolvimento sustentável a ser adoptado pelos diversos países com base numa nova perspectiva para a cooperação internacional, consagrando o capítulo 36 à promoção da educação, informação, formação e sensibilização do público.

2- Q conceito e alguns princípios básicos


Em 1998 elaborámos e enviámos às 28 escolas dos Segundos e Terceiros Ciclos do Ensino Básico e às do Ensino Secundário da Região um questionário com o objectivo de saber que tipos de acções eram implementadas no sentido de formar cidadãos ambientalmente conscientes, onde eram feitas e quem tomava a iniciativa para a sua realização. Em síntese obtivemos os seguintes resultados: 1-

88% das actividades eram da iniciativa dos conselhos directivos e dos professores, apenas 12% partiam de propostas dos alunos;

2-

cerca de 40% das iniciativas decorriam nas aulas, 31% na Área Escola;

3-

das actividades implementadas destacam-se as visitas de estudo, as exposições e por último as palestras.

Será que o que se faz nas nossas escolas é educação ambiental? A resposta tanto poderá ser sim como não.

Será afirmativa se as actividades que são realizadas contribuírem para grande finalidade da Educação Ambiental que é a de “ formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os seus problemas, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de compromisso que lhe permitam trabalhar individual e colectivamente na resolução das dificuldades actuais, e impedir que elas se apresentem de novo”(Carta de Belgrado,1975).

Para alcançar aquela finalidade, a Educação Ambiental deverá respeitar, entre outros, os seguintes princípios:

considerar o ambiente no seu todo (natural, social, económico, político, moral, estético, histórico- cultural); -

constituir um processo contínuo, iniciando-se ao nível do ensino pré- escolar e prosseguir através de todas a s etapas da educação formal e não- formal; adoptar uma abordagem eminentemente interdisciplinar orientada para a resolução de problemas locais; desenvolver o espírito crítico;

-

procurar a autonomia e a participação dos educandos na organização da


aprendizagem; O facto da maioria das acções decorrerem nas aulas, local onde normalmente se deixa um pouco de lado a perspectiva interdisciplinar, da maioria

das iniciativas

partirem dos conselhos directivos e dos professores e dos meios se cingirem quase a visitas de estudo, muitas delas não passam de meros passeios, a exposições, muitas delas de cartazes e ultimamente de colagens de textos e imagens obtidos via internet e por último as palestras, leva-nos a inferir que muito ainda há a fazer neste campo.

4-

TTma Estratégia Regional Para a Educação Ambiental

Em 1992, subscrito por 34 associações de defesa do ambiente, entre as quais os Amigos dos Açores, foi aprovado em Évora o “ Contributo das Associações de Defesa do Ambiente para uma Estratégia Nacional de Educação Ambiental”. A proposta apresenta o objectivos gerais que por sua vez se desdobram em diversos específicos e o modo como estes objectivos são concretizados em diversas áreas.

Na área do acesso à informação, o objectivo proposto é o da criação de um sistema nacional de informação de Educação Ambiental que assegure a realização, avaliação e melhoria da estratégia e programas de acção de Educação Ambiental que é concretizado através de um serviço de informação em rede e da difusão da informação.

Potenciar a participação das populações locais na Educação Ambiental formal e não formal é o segundo objectivo geral. Para a sua concretização aponta-se a criação de Centros de Iniciação ao Ambiente, bem como de Espaços Educativos de Suporte à Educação Ambiental e o estabelecimento de itinerários de descoberta.

No campo da investigação e experimentação, pretende-se incrementar a investigação e experimentação relativamente aos conteúdos, métodos pedagógicos e estratégias de organização e transmissão de mensagens para a educação ambiental. Os objectivos específicos relacionam-se com a investigação e experimentação sobre novas áreas e conteúdos da educação, a investigação no domínio da concepção, tratamento e difusão da mensagem ambiental e das estratégias adequadas no quadro dos valores e atitudes indispensáveis à respectiva transposição para a acção volitiva e concreta e por


último, a investigação de formas de avaliação sobre as diferentes componentes do processo educativo. Na área dos programas educacionais e materiais didácticos, sugere-se o incremento da Educação Ambiental, mediante a elaboração de programas de estudo e materiais didácticos para o ensino em geral. Para a sua concretização indica-se a necessidade de intercâmbio de informação sobre a elaboração de programas escolares, nomeadamente com outros países, a elaboração de programas escolares piloto e de novos materiais didácticos e a avaliação dos programas escolares e dos materiais didácticos. No que diz respeito à Formação de Formadores, a promoção da sua formação inicial e complementar é outro dos objectivos prioritários, propondo-se a formação inicial e em exercício dos docentes, bem como a sua formação complementar e a formação específica de monitores, animadores juvenis e outros agentes educativos extra-escolares.

Não é descurado o sistema de formação profissional, nesta área é proposta a integração da dimensão ambiental no sistema de formação profissional através da elaboração de programas e materiais de educação e formação, da formação de pessoal docente e monitores, sensibilização dos orientadores de estágio e investigação aplicada.

A intensificação da informação e educação dos cidadãos em matérias relacionadas com o ambiente, através da utilização dos meios de comunicação e das novas tecnologias de comunicação e informação, é destacada. Para tal é proposto a elaboração de programas educativos acerca dos meios de comunicação e sua utilização, a utilização dos novos meios de comunicação e métodos pedagógicos activos, a criação de um banco de programas e materiais audio- visuais, a criação e utilização de exposições, conferências e museus e a formação de jornalistas.

Por último, a integração da dimensão ambiental no ensino universitário, não é esquecida. Assim, pretende-se a sensibilização das cúpulas universitárias, a criação e adaptação de currículos adequados aos objectivos da Educação Ambiental, integrandoos nas mais diversas áreas disciplinares, a reorientação do pessoal docente e formação


de formadores, a cooperação institucional intra e inter- universitária e a intensificação de formas de investigação básica que possam promover a colaboração activa com níveis de ensino anteriores. A nível nacional está constituído um grupo de trabalho composto por personalidades representativas de diversas instituições: do Instituto de Promoção Ambiental, de universidades, organizações não governamentais de ambiente e autarquias. Independentemente da Região vir a ter uma Estratégia própria, achamos que deveria ter uma palavra a dizer na elaboração da Estratégia Nacional e o “Contributo das associações de Defesa do Ambiente para uma Estratégia Nacional de Educação Ambiental deveria ser um dos documentos de referência.

Terminaria, citando um dos princípios do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global:

[a educação ambiental] não é neutra, mas ideológica. E um acto político, baseado em valores para a transformação social, deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão, em todos os níveis e etapas, promovendo o diálogo entre indivíduos e instituições e integrando conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e acções .Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis”

Ou como diz Gutierrez ( citado por Rocha, 1999):

A acção educativa não pode deixar de ser política, da mesma maneira que a política- a boa política- tem de ser pedagógica.


BIBLIOGRAFIA CONTENTE, J., BRAGA, T.(1996), Educação para o Ambiente, polic DIAS, G., (1992), Educação Ambiental: princípios e práticas, São Paulo, Editora Gaia, Ltda. FERNANDES, J., (1992), “Educação Ambiental para um Desenvolvimento Global”, Dirigir, n° 22, pp 9-13. FERNANDES, J. (1997), “Questão de Educação”, in GIORDAN, A., SOUCHON, C., Uma Educação Para o Ambiente, Lisboa, Instituto de Inovação Educacional e Instituto de Promoção Ambiental. MELO, J., (1999), Os 500 Anos do Brasil e a Educação Ambiental, polic. OSTOLAZA, M.(1996), Eco- Auditoria Escolar, Vitória- Gasteiz, Servicio Central de Publicaciones dei Gobierno Vasco ROCHA, P., ( 1999), Arte Educação Ambiental para uma Cidadania PolíticoParticipativa, polic. ------- (1992), Contributo das Associações de Defesa do Ambiente para a Estratégia Nacional de Educação Ambiental, Évora, Centro de Iniciação ao Ambiente- Liga para a Protecção da Natureza


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