PLANTAS US ADAS Nß M E D I C I N ß POPULAß NO € 0 NC EL HO D fl ß l B E I ß ß GRf i NDE
1 - INTRODUÇÃO
P ere ira p u b lica, no bo letim na 17 da C o m issã o Reguladora des Cereais do Arquipélago dos Açores, um artigo intitulado “Plantas em pregadas na m ed icin a popular nas ilhas dos Açores”. No seu trabalho, Silvano Pereira, ao referir-se às 44 espécies citadas, segue a nomenclatura usada pelo Professor Ruy Telles Palhinha, açoriano que prom oveu im portantes excursões aos Açores, das quais resultou a mais intensa vaga de estudos botânicos por portugueses, da primeira metade do nosso século (Dias, 1988), c a adoptada pelo Professor João C arvalho de V asconcelos, do Instituto S up erio r de A gronom ia, no seu liv ro P la n ta s M e d ic in a is e Aromáticas, editado pela Direcção Geral dos Serviços Agrícolas em 1949. Em 1986, Y olanda C orsépius, no seu livro Algumas Plantas Medicinais dos Açores, apresenta uma co m p ilação de 132 esp c cics, re su ltad o das suas descobertas cm passeios pelo campo e da leitu ra de alguns livros. Nas Primeiras Jornadas Atlânticas de Protecção do Meio Ambiente, a Dra. Maria Helena Ramos Lopes ap resen to u uma co m u n icação in titu lad a “ P la n ta s Medicinais dos Açores”. No seu trabalho é apresentada uma lista “meramente teórica” de 139 espécies. Entusiasmado com a leitura da com unicação atrás referida e seguindo a m etodologia usada pela autora, consulta bibliográfica, elaborámos, cm 1988, uma lista, ainda inédita, de 267 espccics com propriedades medicinais existentes nos Açores. Por sugestão do Dr. Jorge Paiva, do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, nos anos de 1988, 89 c 90 promovemos a realização de um inquérito com o objectivo de indagar quais as plantas usadas actualmente, cm S. Miguel, na medicina popular. Através do inquérito, conseguimos identificar 61 espécies. No âmbiLo do Curso, de Património HistóricoArtístico, Natural e Etnográfico para Professores do Ensino Básico e Secundário,.prom ovido pelo Centro N acional de C ultura, decidim os prosseguir o nosso trabalho, no Concelho da Ribeira Grande, com o apoio de alguns colegas e dos nossos alunos da Escola Secundária da Ribeira Grande. Neste modesto trabalho apresentamos uma lista de 45 espécies usadas nas freguesias rurais do concelho, obtida através da realização de 127 inquéritos (fig. 1).
Não é nossa intenção fazer a história do uso das plantas na m edicina po p u lar nos A çores. C ontudo, achamos por bem apresentar uma breve perspectiva histórica, referindo alguns trabalhos a que através de uma pesquisa, não muito exaustiva, tivemos acesso. É antiquíssimo, perde-se nos tempos, o esforço do homem para compreender e depois usar as plantas como alimento e como medicamento. Os prim eiros povoadores, dos A çores terão trazido consigo o conhecim ento em pírico e a grande m aioria das p lan tas u sad as na m e d ic in a p o p u la r. R efcrindo-se à ilha de S. M aria, G a sp a r F ru tu o so menciona “um João Vaz Melão, que se cham ava das Virtudes, natural de Viseu, donde veio à ilha logo no princípio, depois de ser achada ... onde tinha m uita fazenda e uma grande casa que lhe não servia mais do que dos enfermos que de muita parte o buscavam , os quais ele curava, por am or de Deus, só com ervas c azeite, sem m ais o u tra m ezin h a” . Ao d e sc re v e r a fertilidade da ilha Terceira, menciona a existência de “muito mel e bom pasto para ele, com o é alecrim , rosmaninho, erva ussa, ou timo, queiró, poejos, cubres e muitas flores de árvores diversas, muito género de ervas, de que usam os boticários...”. Adanson, cm 1757, foi o primeiro naturalista a visitar os Açores, ilha do Faial, c a referir-se à sua flora. No seu C atalogas plantarurn horti-botanici m edico-cirurgicae scholae o lisip o n en sis, de 1851, Bernardino & B eirão são os prim eiros n atu ralistas portugueses a estudarem espécies dos Açores. Em 1869, o médico-cirurgião Acúrcio Garcia Ramos publica a sua “Notícia do Arquipélago dos Açores e do que há mais importante na sua História Natural”. Garcia Ramos terá recorrido a Drouet que, em 1866, publicara um “Catalogue de la flore des Iles Açores précédé; de l’itinéraire d ’un voyage dans cet archipel”, para enumerar ura conjunto de “plantas notáveis pelas suas propriedades alimentares ou medicinais, pelo seu emprego nas artes, e pelos materiais que fornecem ao comércio e in d ú s tria ...” . Das espécies cita d a s, 30 apresentam propriedades medicinais. Em 1892, o o u riv es Jo aq u im C ân d id o Abranches, ao tomar conhecimento de uma listagem de 13 plantas medicinais da autoria de Richard J&lcs, inserta no Diário de Anúncios, de 27 de Janeiro, publicou, no mesmo jomal, a 24 de Fevereiro do mesmo ano, “a fim 2 - O INQUÉRITO que se saiba, que a ilha não é pobre em tais plantas”, uma relação de 29 espccics. Dois anos mais tarde, Cândido A branches, na obra in é d ita M e d ic in a P o p u la r Micaelense, desenha 73 estampas c elabora uma lista de O concelho da Ribeira Grande possui cerca de 70 espccics, indicando o fim a que se destinam. 27 mil habitantes, distribuídos por catorze freguesias (fig. Em 1953, o Rcgente-Agrícola Silvano Augusto— 2 >.------
Ramos 1869
Abranches Pereira 1894 1953
Corsépius 1988
Lopes 1988
Braga 1988
Braga 1991
Braga 1992
Fig. 1 - Autores e ne de citações
Fig. 2 - Freguesia da ilha de S. Miguel
Responderam ao inquérito vinte e nove pessoas, moradoras em seis das catorze freguesias do concelho
30
(fig. 3). De entre os inquiridos, mais de 65 % têm idades superiores a 50 anos (fig. 4) e apenas um é do sexo masculino.
5 -r
7
6 5 -4 -3 2 -1 -0 Calhetas
P. Formoso
L. da Maia
P. da Pedra
Maia
Ribeirinha
Fig. 3 - Freguesia e ns de inquiridos C u rio sam en te, ap esar de te r apelado, à colaboração de todos os meus alunos, apenas obtive a colaboração dos provenientes de freguesias rurais, o que poderá significar uma maior abertura e espírito de
participação por parte de quem vive fora da sede do concelho. Em anexo, apresento uma lista das pessoas que responderam a o -in q u é rito e as resp o sta s aos 127 inquéritos realizados.
lllÉ f
5160
>91
Fig. 4 - Idade e ns de inquiridos
31.
3 - LISTA DAS PLANTAS USADAS NA MEDICINA POPULAR NO CONCELHO DA RIBEIRA GRANDE N. CIENTÍFICO
UTILIDADE
Abóbora-menina
Cucurbita máxima Duch. ex Lam
raquitismo
Alecrim
Rosmarinus officinalis L.
reumatismo rouquidão abcessos espíritos maus
Alho
Allium sativum L.
coluna
Arruda
Ruta chalenensis L.
resfriamentos estômago bexiga rilis bruxas
Babosa
Aloe sp.
úlceras
Bananeira
Musa sp.
isepele
Bonina
Calendula officinalis L.
inflamações
Cebola
Allium cena L.
calos
N.
COMUM
Cedro-de-cheiro
Chamaecvnaris lawsoniana ■(A. Murr.) Pari.
tosse
Cenoura
Daucus carota L.
tosse
Cidreira
Melissa officinalis L.
nervos febre coração k$mga(dores)
Crista de galo
?
asma
Erva-férrea
Prunella vulgaris
sangue
Erva-Iuísa
Linnia citriodora (OrL ex Pers.)
estômago nervos coração
Ervas-das-sete sangrias
Lithosnermum diffusum Lap.
Erva-de-São Roberio
Geranium robertianum L.
diabetes
Erva tintureira
Chelidonium m aiusL.
feridas ligeiras
Eucalipto
F.ucalvptus Hobulus T^bbil.
gripe bronquite dor ciática
Fava-da-cova
Parietaria officinalis L.
pés inchados hemorróidas
Funcho
Foeniculum vulpare Mill
diarreia estômago gases
Goiaveiro
Psidium araca Raddi
intestinos
Hortelã-de-sopa
Mentha snicaia I.
lombrigas
Hortelã pimenta
Mentha x pipfirita L.
vóm itos iosse resfriam entos
Laranjeira
Citrus sinensis (I-') Osbeck
nervos constipações
V
*.
alergias estômago
Laranjeira-azeda
Citrus aurantium L. var amara
baixa a tensão
Limoeiro branco
Cífnis limonium L.
constipação febre dor de barriga
Limoeiro galego
Citrus Kmetta Risso
baixa a tensão
Losna
Artemisia absinthium T„
estômago intestinos nervos
Malva
Malva silvestris L.
inflamações dores
Mangericão
O ç m m n ^ a liç g m L .
tose rouquidão estômago febre
•"
Marcela
Anthemis nobiíis L.
estômago intestinos pele(alergia) olhos vómitos
Milho amarelo
Zea mavs L.
rins bexiga
Neveda
Calamintha svlvatica Bromf.
boa disposição
Ourego
Orieanum Virens Link
Constipação rouquidão estômago
Pepino
Cucumis sativus L.
&.
dor de barriga
Poejo y
Rabo de asno
Fouisetum arvensftT-
Rosmaninho
brônquios estômago coração resfriamentos rins bexiga
tosse estômago
Sabugueiro
Sambucus niera L.
febre bronquite infecções diarreia
Saião
Semnervivum teciomm T..
queda de cabelo Caspa borbulhas
Salsapairilha
tensão arterial diarreia
Salva
Salvia officinalis 7..
estômago nervos tosse falta de ar coração
Terlantana
I,antana cam ara T..
tosse
Tília
Tilia cordata Mill
nervos
Tomilho
Thvmus vutaam T..
cérebro friagens rouquidão tosse
4 - CONCLUSOES 0 número de plantas referido neste trabalho, quarenta e cinco, é bastante bom, tendo em atenção o número de inquéritos efectuados. Nenhuma das plantas referidas é endémica dos Açores e um número bastante significativo diz respeito a espécies cultivadas.
O enriquecimento da listagem que apresento neste trabalho requer um a pesquisa mais exaustiva, abrangendo um maior número de pessoas e todas as freguesias do concelho.Q Teófilo Braga (Professor de nomeação definitiva da Escola Secundária das Laranjeiras)
BIBLIOGRAFIA ABRANCHES, J. Cândido (1894). Medicina Popular Michaelense. Ponta Delgada. CORSÉPIUS, Yolanda (1986). Algumas plantas medicinais dos Açores. DIAS, Eduardo (1989). Flora e Vegetação Endémica na Ilha Terceira- Açores. -Univ. Açores Dep. Ciências Agrárias Angra do Heroísmo. LOPES, M. H. Ramos (1991). Plantas Medicinais dos Açores. Comunicações das l*5 Jornadas Atlânticas de Protecção do Meio Ambiente. Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. PEREIRA, Silvano (1953). Plantas empregadas na medicina popular nas ilhas dos Açores. Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores 17:111-117. RAMOS, A. G. (1869). Notícia do Arquipélago dos Açores e do que há mais importante na sua História Natural. Lisboa. N.R.: As fotos deste artigo foram extraídas da História Natural.
PLANTAS USADAS NA MEDICINA POPULAR NO CONCELHO DA RIBEIRA GRANDE Quem respondeu ao inquérito ?
NOME Maria Isabel Pereira Cristina S. Medeiros Deolinda Cordeiro Maria José Alves M3Espírito S. Arruda Mã Bemaldina Moniz Mâ Conceição Cabral Dolira Barbosa MâEstrela Claro M3 Angelina Medeiros M3Eduarda Silva Augusto Vieira Ma Goretti Leite Ms Gilberta Alves Catarina M. Medeiros Laudalino Freitas M3Evarista Labão Mâ Gabriela Oliveira Antónia Tavares Claudete M. Rita ..... -_M1Manuela Tavares M3Teresa Botelho Beatriz Melo Jesuina Raposo Almorinda Janeiro M3 da Graça Raposo Mã do Carmo Barbosa — Cecília-Branco
FREGUESIA
COM QUEM IDADE APRENDEU" (EM 1991 Calhetas pais 69 P. Formoso pais e avós 66 L. da Maia vizinha 49 P. da Pedra pais 46 Maia tias 77 P. da Pedra mãe 63 • 5 Ribeirinha mãe 65 '■ Maia mais velhos 54 P. Formoso avó 35 P. da Pedra pais 49 P. Formoso mãe 37 Maia pai 59 -----Maia* tio 37 P. da Pedra mãe 53 _ L. da Maia 55 _ P. Formoso 68 P. da Pedra mãe •47 Ribeirinha mãe ........ 37 P. Formoso mãe ........... 42 Maia*— mãe 40 _ „ ___ JP._da Pedra___ .. ...... mãe. 52 P. da Pedra mãe 65 _ L. da Maia 39 P. Formoso 92 Calhetas pais 69 P. Formoso ______ avó .43 Maia mãe 89 PrForm oso---mãe"------------ --------- 81 -
NOTA: Assinalado com * a localidade de Lombinha da Maia.
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PLANTAS USADAS NA MEDICINA POPULAR * ^
TNOTJÉRITO
N°
(EM CADA IMPRESSO INDICAR APENAS UMA PLANTA E UM SÓ FIM PARA QUE AQUELA É UTILIZADA) »• .
1 - NOME DA PLANTA:
"■;NOMECIENTÍFICO:
_
2 - PARTE UTILIZADA: 2.1- RAIZ
_ _ _ _ _ _ 2.4-FLORES _
2.2 - CAULE
;
'
2 .5 -FRUTOS
■
•-
2.3 - FOLHAS
: W.2.6-SEMENTES
'3 - COLHEITA: Em que época do ano se fez? (Indicar o mês ou estação)
__________
'
4 - A Planta é usada: 4.1 - VERDE _
_
_
e/ou
4.2 - SECA _________
5 - Como se procede à secagem: 5.1- A O SOL
_________
6 - Como é feita a conservação?
5 .2 - À SOMBRA _________
_______________________________________________ ~
7 - UTILIDADE DA PLANTA: 7.1 - FINS (Doença, etc.)
7.2 - MODO DE EMPREGO (quantidades, modo de aplicação, quantas vezes ao dia, etc.)
8 - NOME D A PES S OA QUE DÁ A INFORMAÇÃO: ___________ ________________________________________
DATA NASC.
MORADA: ____________________________ ;_____________ ___ PESSOA COM QUEM APRENDEU: --------------------------- LOCALIDADE: -----------------------------------9 - NOME DA PESSOA QUE FAZ O INQUÉRITO: ----------------------------------------------------------
MORADA: ------------------------
<b
Os alunos e
Os
Revista de acção educativa Nr 11 - Maio/Agosto T993
Lusíadas