Terra Livre 51

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 51

NOVEMBRO DE 2012

VERDE, mas pouco Ideias- Chave do realismo ecologista Balanço de uma época de tortura Entra em Ação: Vacada na Lagoa

Lagoa (eutrofizada) das Furnas, Agosto de 2011


VERDE, MAS POUCO

A leitura do livro “Do campo para a mesa”,

ou naqueles que vão mudando de cor,

coordenado por Esther Vivas e Xavier

adaptando-se às circunstâncias, não dizem é

Montagut, veio reavivar a ideia de que uma

que como a área agrícola é limitada a

coisa são os “rótulos” e outra coisa é a

produção

realidade. Muitas das marcas, projetos ou

compatível com a produção de alimentos. E

programas que se apresentam como verdes

também não dizem que há países que ao

pouco ou nada têm a ver com tal, não

subsidiarem algumas culturas (cereais)

passando muitas vezes de pura propaganda

usadas para a obtenção de biocombustíveis

para enganar ou convencer os mais

fazem com que estes cultivos se tornem

incautos.

mais lucrativos do que os destinados à

de

agrocombustíveis

não

é

alimentação, o que tem levado ao aumento Embora exagerando, diria, como diz o meu

do preço dos cereais.

amigo António Serpa, que o único verde em que se pode confiar é o do Sporting Clube de Portugal.

A moda verde mais recente, se não estou em erro, é a dos combustíveis verdes. Face a estes, alguns ambientalistas serôdios, ou a 5%, como muito bem escreveu o meu amigo Raimundo Quintal, têm ao longo dos últimos anos vindo a anunciá-los como uma

Na década de 60 do século passado, sempre

das melhores alternativas à escassez do

em nome de acabar com o flagelo da fome

petróleo. Espero que os ambientalistas do

no mundo, algumas instituições decidiram

governo dos Açores, do atual ou do que

que era necessário varrer do mapa a

está para vir, não se lembrem de que será

agricultura tradicional e dar início à sua

uma boa ideia para a região o cultivo de

modernização, sobretudo nos países não ou

qualquer espécie de crescimento rápido

pouco industrializados.

para colmatar a falta de lixos que irá alimentar a comilona incineradora que de

As boas intenções, como é usual, não

verde nada tem, antes pelo contrário.

passaram disso mesmo. Com efeito, de acordo com os autores referidos, se é certo

Toda esta leva de ambientalistas, já não falo

que, a curto prazo, houve aumento de

nos capitalistas verdes ou laranjas ou rosas

produção, não é menos verdade que o

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número de pessoas subnutridas não parou

Tudo balelas, pois o que se pretende é

de crescer. A chamada revolução verde o

aumentar a concentração de toda a cadeia

que acabou por fazer foi aumentar “o poder

de produção nas grandes corporações que

das empresas agroindustriais” e “provocou

controlam todo o sistema alimentar, como a

a perda de 90% da agro e da biodiversidade,

produção e comercialização de sementes,

reduziu dramaticamente o nível dos lençóis

pesticidas,

freáticos, aumentou a salinização e a erosão

distribuição de alimentos.

dos solos, provocou o êxodo rural de

Quanto à fome no mundo, é bom que fique

milhões de agricultores e trabalhadores do

bem

setor alimentar tradicional, os garantes da

alimentos, o que existe é a impossibilidade

segurança alimentar”.

dos pobres pagarem por eles.

Um

claro

máquinas

que

relatório

agrícolas

nunca

elaborado

houve

por

e

a

tantos

diversas

instituições, entre as quais o insuspeito (?) Banco Mundial concluiu que “a produção agroecológica consegue fornecer alimentos e rendimentos monetários para os mais pobres…e garante uma melhor segurança alimentar do que a produção transgénica”.

Como a revolução verde não foi capaz de acabar com a fome, algumas cabeças iluminadas encontraram a alternativa, a

Nos Açores, desmantelada que foi a

produção transgénica, e vai daí, ainda e

agricultura tradicional, perdidos muitos

sempre com a preocupação com o bem

saberes das pessoas ligadas à terra, a

comum, decidiram anunciar que, só com a

agricultura parece continuar a ser a parente

utilização de OGM, as produções agrícolas

pobre das políticas governamentais. Por

podiam aumentar, evitar-se-ia o uso de

falta de convicção dos governantes, por

pesticidas e acabar-se-ia com a fome no

seguidismo em relação a políticas exógenas,

mundo.

por submissão aos interesses dos grandes produtores e distribuidores? Teófilo Braga

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MEMÓRIA ECOLÓGCA: IDEIAS - CHAVE DO REALISMO ECOLOGISTA apostar nas TA : cada TA (tecnologia Ainda que não pareça mas tenho uma

apropriada) construída e a funcionar são

visão tranquila e nada pânica nem

cinco dias que o Apocalipse fica adiado.

dramática do futuro: acredito que os

Como em Portugal, por exemplo,

mais graves e complicados problemas

esperamos há 10 anos a concretização

só continuam por resolver porque

de meia dúzia de TA's (projectos de

enormes

empresários

energias renováveis, por exemplo) só aí

continuam lucrando com a existência

já vão uns bons 30 dias de atraso, ou

desses problemas, para os quais a

seja, de antecipação do Apocalipse.

ciência e as tecnologias selectivas

Gostaria, sinceramente, que não me

(apropriadas) há muito que encontraram

rotulassem de «pessimista» ou de

soluções perfeitas.

«optimista»:

interesses

de

se

esforço

houve

e

constante, foi de realismo, dentro do que é possível nesta redoma fechada de mitos,

fantasmas,

idealismos

ideológicos. Por isso defini, para uso pessoal, ecologia como um esforço indignado para ver claro no nevoeiro dos sebastianismos ideológicos. Declaro que não existe, embora possa parecer, deliberado propósito em moralizar seja quem for e sobre que matéria for, adoptando o princípio soberano «todos temos o que merecemos» ou «o mundo não quer ser salvo e as pessoas que se lixem».

Em

tempo

de

acelerada

entropia, não há, a meu ver, lugar para A esse respeito tenho uma visão ainda

nenhuma

mais optimista do que Buckminster

qualquer ética ou mesmo de qualquer

Fuller ou Robert Anton Wilson (este

moral, sistema ou teoria. Admito que

último,

e

nem sempre tivesse conseguido a

divertidíssima «O Livro dos Illuminati»,

desejada neutralidade : mas asseguro

editado no Porto pela editora Via

que a intenção foi sempre a de guardar a

Óptima). É só questão de ver claro e

maior

nessa

obra

aliciante

proposta

de

neutralidade

valores,

de

possível 4


relativamente ao dramatismo de tantos

Não creio que tenha abusado da palavra

crimes.

«sistema», nem creio que ela seja um bordão de uso fácil. A proliferação da

Guardo-me também o direito de «não querer salvar o mundo» e sentiria como uma enorme injustiça que alguém pensasse, um só momento, que ele tem qualquer propósito de salvar o mundo: afirmo que não foi nunca a minha intenção, embora os mal intencionados não poucas vezes me acusassem disso, troçando dos meus ideais humanitários. Tiveram sempre os meus textos um objectivo simples e claro: tentar detectar as

constantes

que

regulam

o

funcionamento do sistema, com o intuito de chegar a um entendimento objectivo

e

completamente

des-

dramatizado da crise planetária, da tragédia humana, do «apocalipse» em curso.

palavra corresponde mesmo à sua real proliferação. O sistema que vive de ir matando os ecossistemas não é uma ficção nem uma excepção. É a realidade omnipresente, omnipotente e quer-se mesmo, com a ajuda de cientistas subsidiados, omnisciente. Não abusei da palavra «sistema»: a palavra é que abusa de nós. E foi isso, com os «quando», os «como», os «porquê», que eu

quis

solenemente

dizer. que

Quero os

afirmar

meus

textos,

inéditos ou publicados, não têm nem querem ter mais consequências do que uma colecção de selos ou de borboletas. Se há quem se divirta a espetá-los na cortiça, porque não terei eu o direito de analisar, como um bando de borboletas ou de pulgas, ou de baratas, ou de ratos, os acontecimentos da chamada «crise planetária». E a comparação - note-se a ser ofensiva, é-o para os ratos.■ Texto de Afonso Cautela [13/Setembro/1987] Fonte: http://myweb26.home.sapo.pt/ideias1.ht m

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BALANÇO DE UMA ÉPOCA DE TORTURA vulgo touradas, vacadas ou afins. Tal

2012, ANO DE SUCESSO PARA A

acontece numa altura em que as paróquias

TAUROMAQUIA NOS AÇORES:

passam por dificuldades e a diocese anda de

PELO MENOS DOIS MORTES, UM

rastos, de tal modo que vai despedir

NÚMERO

DESCONHECIDO

DE

FERIDOS, MILHARES DE EUROS ESBANJADOS E A REVELAÇÃO DA INSENSATEZ E IGNORÂNCIA DE ALGUNS POLÍTICOS

trabalhadores do órgão de comunicação social referido e de que é proprietária.

Foi precisamente numa tourada integrada numa festa religiosa que na ilha do Pico, morreu (foi assassinado pela ignorância ou pela indústria tauromáquica) estupidamente

Acabada a época tauromáquica, é tempo de

uma pessoa. A propósito, para além daquela

fazer

preliminar,

morte as touradas à corda também foram

necessariamente muito incompleto, pois o

responsáveis pela morte de um homem, em

que é transmitido pela comunicação social

São

aficionada ou pelos “especialistas” em

desconhecendo-se se houve mais alguma

tortura animal, mais ou menos suave, é

morte, pois mortes e feridos em touradas

apenas a parte mais “cor-de-rosa” da

são mais do que segredo de estado.

um

balanço

impropriamente

denominada

festa

Bento,

na

Ilha

Terceira,

dos

touros.

Tal como não há isenção jornalística (nalguns casos, interesse) para divulgar o

Esta

época

vai

pelo

número de mortes e de feridos em touradas,

desaparecimento de um jornal da Igreja

o hospital de Santo Espírito da Terceira,

Católica, A União, cujo diretor, o padre

também dá uma ajuda preciosa à falta de

Marco

pelo

transparência, não divulgando qualquer

divertimento à custa do sofrimento dos

informação, mesmo quando solicitado para

touros e cavalos, tendo dado a voz aos

o efeito.

Gomes,

ficar

tomou

marcada

partido

adeptos das touradas, mesmo das mais cruéis e bárbaras, como as picadas e

Aproveitando

ignorado as associações que defendem os

eleitoral, a maioria dos políticos dos

animais e que consideram anacrónicas as

Açores, sem qualquer estatura moral para o

touradas ditas artísticas ou populares.

exercício de qualquer cargo público ignorou

a

época

de

campanha

o bárbaro “espetáculo” que podia ser Este ano, também, vai ficar marcado pela

cultural na era da escravatura humana mas

continuação da integração nos programas

que hoje é anacrónico ou, pior, pronunciou-

das festas religiosas de algumas freguesias

se, revelando a sua ignorância ou a sua

da aberração que é a da tortura animal,

baixeza moral e ética.

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Limitando-me

aos

três

partidos

mais

acham injustificado o sofrimento animal

votados, diria que não vale a pena gastar o

para divertimento de uns poucos, por mais

teclado do computador para escrever muitas

pequeno que seja, a seguinte afirmação:

linhas sobre o líder do CDS-PP pois o

“Um açoriano que se preze gosta de tourada

mesmo, como um dos votantes a favor da

à corda”. Um vómito!

legalização da sorte de varas, é um adepto confesso da tortura em grau mais elevado.

Em termos de dinheiros públicos para a tauromaquia, em 2012, continuamos a não

A

líder

do

PSD

foi

uma

surpresa

saber

quanto

dos

nossos

impostos

desagradável para todos os simpatizantes do

continuou a ser usado para a alimentar a

seu partido que acreditavam na sua

indústria da deseducação e do sofrimento

compaixão para com os animais. Com

animal.

efeito, numa declaração à RTP - Açores, a Drª Berta Cabral afirmou que aprendeu a gostar de touradas à corda, que não reconhece

qualquer

violência

nessas

touradas e foi mais longe ao dizer que a tourada à corda é uma brincadeira em que quem leva a melhor é o touro. Destas declarações posso concluir que a senhora ou não

está

bem

informada

ou

virou

fundamentalista. Com isto quero dizer que ela deve rejubilar sempre que uma pessoa vai para o cemitério ou quando alguém vai para ao hospital. Por outro lado, a ex-líder do PSD não sabe, ou finge não saber que, tal como os seres humanos, os touros têm a capacidade de sentirem sofrimento físico e psicológico e que na tourada à corda alguns touros também morrem, ficam feridos, ficam exaustos, sofrem susto e ansiedade. Se Berta Cabral surpreendeu alguns, Carlos César foi uma revelação, pois para além do elogio à tourada à corda, não se cansou de dar loas ao quinto touro (o álcool associado à tourada). Assim, foi por demais infeliz e

Mas, uma coisa é certa, a hipócrita da União Europeia continuou a financiar as touradas, com o argumento de que não se pronuncia sobre as práticas “culturais” de um país quando é capaz de impor regras para o tamanho dos pepinos e os governos e as autarquias continuam a financiar, direta ou indiretamente, através do apoio às festas locais, as touradas. Mesmo assim, não andaremos longe da verdade se dissermos que o dinheiro dos nossos impostos que foi transferido para aos bolsos de alguns terá no mínimo sido superior a quatrocentos mil euros. Manuel Oliveira

afrontosa para todos os açorianos que

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ENTRA EM AÇÃO

Pelos Açores, por um mundo

próximo dia 10 de Novembro, uma

Melhor, entre em ação para

vacada

evitar a realização de uma

manifestar o meu total repúdio por tal

vacada na Lagoa (Açores)

e

venho

por

este

meio

acontecimento, uma vez que as vacadas, contribuem para insensibilizar, habituar e

A todas as pessoas singulares

até viciar crianças e adultos no abuso cruel

ou coletivas, solicita-se o envio

exercido sobre animais.

do e-mail, abaixo dirigido ao

Sabemos que Vossa Exª, como pessoa

presidente da Câmara Municipal

culta, tolerante e defensora do bem-estar

da Lagoa (São Miguel – Açores)

animal, irá rever a sua posição anterior

a solicitar o não apoio e a não

de

autorização da vacada que está

convencendo os promotores, que já

marcada para o próximo dia 10

pediram autorização à autarquia, a

de Novembro.

desistir da realização do evento.

Muito obrigado

Como autarca respeitador da lei, que

apoiar

eventos

desta

natureza,

infelizmente não é a melhor em termos de proteção dos animais, estamos certos que V. Exª não permitirá que a vacada ocorra pois a realização da mesma em domínio público marítimo e na data referida

é

contrária

à

legislação,

violando o regulamento respetivo a Enviar para: gabpres-cml@mail.telepac.pt , matp.acores@gmail.com,

acoresmelhores@gmail.com

eventos como o referido. Com os melhores cumprimentos Nome

Ex. Senhor Presidente da Câmara Municipal da Lagoa Tomei conhecimento de que se irá realizar na Freguesia de Santa Cruz, no 8


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