Terra Livre 55

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 55

MARÇO DE 2013

ILICH e a ESCOLA

CAUTELA E ROSNAY

A água a referendo

PELO FIM DOS SUBSÍDOS ÀS Touradas


NOTÍCIAS DA GUERRA ECOLÓGICA: A ECOLOGIA ORDINÁRIA DE JOEL DE ROSNAY(*) ciência e sua proliferação até ao infinito ... [(*)Este texto de Afonso Cautela ficou inédito, graças a Deus, e pode ser datado do ano 1977, atendendo ao livro que comenta (*) Comenta-se neste artigo o livro de Joel de Rosnay, O Macroscópio - Para Uma Visão Global, Ed. Arcádia, 1977]

microscópico.

Propõe uma visão macroscópica, portanto, por contraste à subdivisão ou atomização verificada na ciência analítica e que se generalizou

Fora do M.I.T. não há salvação... É mais ou menos esta a moralidade a retirar de livros como o de Joel de Rosnay, que

a

sociedade

todos

os

recantos

industrializada

da e

tecnologicamente refinada.

depois de criticar severamente a ciência pré-M-I-T., preconiza evidentemente a salvação no seio dos pressupostos e das teses dele (Instituto de Tecnologia de Massachusetts ) emanadas. O

famoso

relatório

"Os

Limites

do

Crescimento" foi, à laia de manifesto, o primeiro convite para que todo o Mundo entrasse na solução proposta. À parte as distorções que jornalistas desatentos fizeram da tese fundamental do

Joel de Rosnay, aliás, sabe que vem na

M.I.T., - o "crescimento zero" ainda hoje

onda, sabe-se embalado numa vaga de

retine como a mais polémica – é evidente

fundo que por toda a parte se verifica, como

que o relatório seria suscetível de críticas

reacção àquela atomização: por toda a parte

que nunca se fizeram porque relevavam de

se

um salto "qualitativo" entre dois padrões de

procurando, de uma maneira ou de outra,

cultura (ou de ciência), ultrapassando,

combater

assim

análise

e obviar às mais fortes e chocantes

economicista entre diferentes ideologias e

contradições a que a pulverização dos

políticas económicas.

conhecimentos científicos conduz:

Fazendo-se eco, tal como o relatório do

"Fala-se hoje muito da importância de uma

M.I.T., do desencanto que as limitações

"visão de conjunto" e de um "esforço de

cada vez mais reconhecidas pela ciência

síntese". Atitudes consideradas necessárias

vieram instalar entre os próprios cientistas,

para superar os grandes problemas do

o autor de O Macroscópio (*) propõe uma

mundo moderno. Infelizmente, não nos

revisão da metodologia que tem presidido à

parece que a educação que recebemos nos

e,

portanto,

a

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mera

"montam

serviços

de

incêndio"

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tivesse preparado para tal. Basta passar os

instituições - como Wilhelm Reich e Ivan

olhos

disciplinas

Illich, mas a sua argumentação repousa,

universitárias: fragmentam a natureza em

evidentemente, sobre os seus mestres do

outros tantos compartimentos estanques... "

M.I.T.,

(pg. 10/11 da obra citada)

Matthews, de onde retira os fundamentos

Neste sentido, a abordagem "macroscópica"

religiosos da sua "ruptura" aparente com o

- ou sistémica, como diz o autor puxando à

sistema.

sua nomenclaturazinha tecno-arrevesada -

Para este tipo de eco-reformismo tem

tem

e

Michel Bosquet um epíteto nada meigo:

abordagem

Bosquet lança-lhes o rótulo de eco-

pela

muitos

semelhança

lista

das

pontos quer

de

com

contacto a

principalmente

Meadows

e

ecológica, quer com a análise energética,

fascismo, soma e segue.

quer

a

Não sei se é caso para tal violência de

informática, pois, tal como estas, também

epíteto mas é evidente que se não trata em

procura relacionar e religar as partes e / ao

Rosnay de Ecologia no sentido selvagem,

todo, o todo às partes e as partes entre si...

militante e prático mas de uma Ecologia

É o que se chama, nos meios universitários,

com canudo, de uma nova arquitetura ou

um esforço interdisciplinar.

engenharia extraordinariamente sofisticadas

É o que se chama, nos meios proletários, a

e que na cibernética, na Informática e na

quadratura

Sofística vão repousar.

com

do

círculo...,

É o que se chama, entre ecologistas do centro, um projecto de síntese. Consiga ou não o seu desideratum, na prática, e quer o macroscópio seja mais um instrumento lendário de ciência-ficção ou uma realidade corrente dos laboratórios do futuro, fica a crítica que o autor realiza a um sistema científico sem futuro, cujas aberrações já não é possível ocultar e que os próprios funcionários, devidamente bem pagos, se estão especializando em contestar. Como Joel de Rosnay. Para recuperar de novo o sistema... Para dar o tom subversivo que sempre agrada às massas, não deixa o autor de ter

Em autores como Rosnay, a crítica da

sobre alguns críticos radicais da ciência -

ciência ordinária não vai dar à ciência

instituição paradigmática entre todas as

iniciática mas vai contribuir para refinar,

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sofisticar e remitificar a tecnologia que os

ingredientes mais comuns, o paternalismo

induz àquela crítica.

misto de safardanice mafiosa envolta em

Como diz o autor:

palavrinhas doces com estricnina dentro.

" Esta crítica fundamental dirige-se hoje de

Metendo a ciência iniciática no saco das

maneira difusa, ao progresso técnico - às

"religiões", o autor finge ignorar que não há

finalidades

do

só uma ciência mas que as práticas e

crescimento. De onde essa atitude extrema,

ciências de raiz iniciática, como o yoga, as

anti-ciência, anti-tecnologia, anti-racional,

artes marciais, o zen, o tao, a macrobiótica,

que

etc., não só se apoiam na mais rigorosa

se

da

encontra

investigação

em

tantos

ou

campus

universitários.

"ordem do universo", numa poderosa

" Uma tal crítica da razão conduz muitas

cosmologia, numa recriação monista do

vezes a atitudes extremistas ou ingénuas.

ecossistema, não só dispensam totalmente a

Mas estas atitudes denotam uma vontade de

ciência ordinária e constituam para ela a

abertura ao subjetivo. É aquilo que os

única alternativa possível e capaz, como são

observadores traduzem por vezes por

cientificamente superiores trinta vezes a

"fuga" para o irracional ou para o

esta ciência ordinária dos rosnantes Rosnay.

misticismo. A inclinação pelas religiões

Como dizia André Breton da literatura, não

orientais, pela astrologia e pela magia, a

há dúvida que a Ecologia leva a tudo.

redescoberta de Jesus, e até mesmo uma

----

espécie de panteísmo ecológico que termina

(*) Este texto de Afonso Cautela ficou

num "eco-culto" - devoção pelos grandes

inédito, graças a Deus, e pode ser datado

ciclos naturais."

do ano 1977, atendendo ao livro que comenta

(*) Comenta-se neste artigo o livro de Joel de Rosnay, O Macroscópio - Para Uma Visão Global, Ed. Arcádia, 1977 Fonte: http://www.catbox.info/catbooks/rosnay-13.htm

Se este discurso não é eco-fascista como não hesitaria em considerá-lo Michel Bosquet, tem pelo menos um dos seus

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IVAN ILLICH E A ESCOLA oportunidades escolares para todos”. Ivan “Espero que os vossos netos hão-de viver

Illich, Libertar o futuro

numa ilha onde já não será necessário ir à

“Hoje em dia uma boa planificação da

escola como hoje [é] ir à missa”. Ivan Illich

instrução deveria ter três objetivos:

(na cerimónia de encerramento do ano

1. Todos os interessados em aprender

lectivo da Universidade Católica de Ponce

deviam ter, em cada época da sua vida,

(Porto Rico), em 1969).

acesso a todos os meios de aprendizagem

“Não é possível uma educação universal

disponíveis.

através da escola. Seria mais factível se

2. Todos os que quisessem transmitir o seu

fosse tentada por outras instituições (...). A

saber deviam poder encontrar-se com

atual procura de novas saídas educacionais

outros que quisessem aprender alguma

deve

coisa.

virar

institucional:

procura

de

a

educacional

inverso que

3. Todos os que quisessem demonstrar

aumenta a oportunidade de cada um de

publicamente o resultado do seu estudo

transformar todo o instante da sua vida num

deviam ter ocasião e oportunidade de o

instante de aprendizagem (...). Ivan Illich

fazer. Um sistema como este exigiria

(em 1970 no prefácio de Deschooling

verdadeiras garantias constitucionais para

society)

as oportunidades de formação. Aqueles que

“(...) o ideal da escola para todos foi uma

tivessem interesse em aprender não deviam

utopia criadora. (...) Mas aquela mesma

ser obrigados a submeter-se a um plano fixo

escola que trabalhou no século passado para

e rígido. Também não deviam ser vítimas

derrubar o feudalismo tornou-se agora um

da discriminação que provém de uma

ídolo opressor que só

absoluta

protege aqueles que já educou. As escolas

escolares. Também não se deveria obrigar o

qualificam e, portanto, desqualificam. E

público a manter, mediante um sistema de

elas fazem o desqualificado aceitar a sua

impostos (...), um aparato gigantesco de

própria sujeição. A categoria social é

profissões, de educadores e de edifícios

concedida de acordo com o nível de

que, na realidade, não fazem mais do que

educação escolar alcançado. Por toda a

limitar as oportunidades de aprender aos

parte, na América Latina, mais dinheiro

serviços que um professorado instalado

para as escolas significa mais privilégio

julga conveniente levar ao mercado.

para uns poucos à custa de muitos, e este

Fonte:

patrocínio de um escol é justificado como

http://home.dpe.uevora.pt/~casimiro/cppc-

um ideal político. Este ideal está escrito nas

semana8.pdf

leis

que

teia

seu

estabelecem

aquilo

que

confiança

nas

qualificações

é

claramente impossível: a igualdade de

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PETIÇÃO: ÁGUA A REFERENDO

com base na obtenção de lucros e maisvalias. Acresce que o fornecimento deste bem deve ser Universal, não podendo mais uma vez estar sujeito a cálculos ou premissas de cariz financeiro. Nesse sentido, vimos desta forma solicitar que o controlo da gestão da água e respetiva rede de abastecimento seja garantido pelo Estado, dotando as autarquias locais, ou outra entidade central de financiamento que permita a manutenção da distribuição, de forma a garantir a sua Universalidade e qualidade,

Para: Exmº Srº Presidente da República; Exmº Srº Presidente da Assembleia da

mediante um preço justo, devendo este ser calculado em função do consumo e sua

República; Exmº Srº Primeiro-Ministro; Grupo Parlamentar do P.S.D; Grupo

tipologia, nunca tendo por base localização geográfica dos cidadãos.

C.D.S./P.P; Grupo Parlamentar do P.C.P;

Considerando ser esta uma decisão que afeta diretamente os Direitos

Parlamentar de Os Verdes

fundamentais, vimos propor que seja realizado um referendo nacional com vista

A água é parte constituinte do planeta

a garantir a legitimidade de uma medida desta natureza em prol da Democracia e

Parlamentar do P.S; Grupo Parlamentar do Grupo Parlamentar do B.E; Grupo

Terra, como qualquer recurso, apresenta valores muito escassos e face a esse facto a sua gestão indispensável. Com

o

torna-se

exponencial

premente

crescimento

a

da Cidadania.

e

da

população humana e com a tipologia de vida que a Humanidade tem vindo a

Assine aqui: http://www.peticaopublica.com/PeticaoAss inar.aspx?pi=P2011N11644

desenvolver, a pressão sobre a água doce disponível tem vindo a acentuar-se.

Links de interesse

O Homem, como todos os seres vivos tem

Página no FaceBook

a necessidade deste bem para a sua sobrevivência. Estes fatores obrigam a que a gestão deste bem seja feita com a maior cautela.

http://www.facebook.com/MovimentoPelaAgua

Blogue - http://www.movimento-pela-agua.pt/

Desse modo, consideramos que algo tão fundamental não deve e não pode ser alvo de uma gestão privatizada que naturalmente visaria a lógica empresarial

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PELO FIM DOS SUBSÍDOS PÚBLICOS À TAUROMAQUIA NOS AÇORES O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) condena a rejeição por parte dos partidos da maioria da petição pública “Pelo fim dos subsídios públicos à tauromaquia nos Açores”, apresentada na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) e discutida em sessão plenária no passado dia 22 de fevereiro. O MCATA lamenta igualmente que a maior petição pública apresentada até o momento na região, com quase 2.500 assinaturas, tenha sido ignorada durante meses, discutida em plenário

sem

conhecimento

dos

A ALRAA não pode agora olhar para o outro lado e ignorar o tema dos subsídios públicos dados à tauromaquia precisamente quando o número de touradas realizadas na região duplicou nas duas últimas décadas devido ao número crescente de apoios públicos dados a esta actividade pelo governo regional e pelas autarquias. Se durante muitos anos sobrou tanto dinheiro público

para

oferecer

à

industria

tauromáquica, agora, num momento de tantas dificuldades para a região, parece ser

de

elementar

justiça

cortar

definitivamente com esses apoios.

primeiros peticionários, e finalmente rejeitada com base em argumentos falsos e despropositados. Com esta atitude a Assembleia e os partidos mais votados fizeram um fraco serviço à democracia

e

à

tão

desejada

participação pública da cidadania nos assuntos que lhe dizem respeito.

Não é eticamente aceitável que todos os cidadãos açorianos estejam a pagar através dos seus impostos a manutenção da actividade tauromáquica quando a grande maioria deles mostra uma profunda aversão contra a realização destas práticas

cruéis

e violentas,

proibidas na maioria dos países e que só O MCATA quer manifestar a sua indignação por alguns argumentos e atitudes

utilizados

no plenário

da

ALRAA, e assim gostava de salientar que:

continuam Portugal

a

estar

devido

a

permitidas uma

em

absurda

excepção introduzida nas leis vigentes. Nenhuns contribuintes podem estar obrigados a pagar para a realização duma actividade anacrónica, violenta e minoritária, quando ao mesmo tempo

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estão a passar por tantas dificuldades

são respeitados nas touradas, que as

económicas e estão a lutar diariamente

touradas são essenciais para o turismo

para manter os seus direitos mais

da região, que têm retorno para o bem-

básicos, como são a alimentação, a

estar social, ou que são um contributo

habitação, a saúde ou a educação.

para a manutenção dos ecossistemas naturais.

Achamos

que

todos

os

Os deputados da ALRAA têm todas as

peticionários e a sua proposta mereciam

competências necessárias em matéria de

mais respeito por parte deste deputado.

política educativa e cultural para decidir que

actividades

não

O MCATA manifesta que vai continuar

Queremos

a lutar pelo fim dos subsídios públicos à

relembrar que estes subsídios têm-se

tauromaquia nos Açores, fim que

traduzido

em

considera justo e legítimo, mediante a

quantidades muito elevadas, como por

realização de novas acções e campanhas

exemplo os 69.850 euros atribuídos a

(http://iniciativa-de-

fundo perdido por parte da Secretaria

cidadaos.blogspot.pt).

subsídios

recebem

regionais.

nos

últimos

ou

anos

Regional da Agricultura e Florestas em 2009 ou os 75.000 euros atribuídos pelo

Açores, 3 de Março de 2013

Governo Regional para a realização dum Fórum tauromáquico em 2012.

A Equipa do MCATA

Mas também têm-se traduzido em quantidades pequenas e muito regulares, como demonstra o facto de só nos últimos meses terem sido já atribuídos mais 22.700 euros.

O MCATA quer ainda denunciar as tristes

declarações

proferidas

na

ALRAA pelo deputado Luís Rendeiro, do PSD, a propósito desta Petição. Só podemos

qualificar

como

completamente disparatadas, ou mesmo cómicas, afirmações como que os touros Terra Livre nº 55 ◊ Março de 2013

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