Terra livre 76 setembro outubro de 2015

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 76

SETEMBRO/OUTUBRO DE 2015

A FARRA DO BOI LAJES DO PICO A SAQUE O DRAMA DOS REFUGIADOS RETROCESSO?


JOSÉ ANDRADE E A FARRA DO BOI Depois de uma descrição edílica da tourada à corda, que como sabemos não maltrata os animais, embora muitos são feridos ou morrem durante as mesmas, nem causam qualquer dano nas pessoas, esquecendo-se das centenas de feridos anuais e dos mortos entre as pessoas participantes nas ditas cujas, o ilustre deputado escreve sobre a farra do boi também dourando a pílula, à semelhança do que faz com os seus livros pretensamente sobre a história dos Açores. Com efeito, segundo ele na farrado boi este “é solto pelas ruas da cidade e os populares brincam com ele e correm com ele”.

José Andrade que não exercita o cérebro, pois não dá explicações, termina dizendo que apesar da tradição ter mais de 250 anos é ilegal desde 1997.

Para quem não está por dentro das citadas brincadeiras com os touros aqui vai uma descrição das torturas que ele sofre, da autoria de Thais Pacievitch, publicada no

site

Info

Escola

(http://www.infoescola.com/folclore/farra-do-boi/) que poderá ajudar a perceber a sua proibição. Fonte: Atlântico Expresso 24 de agosto de 2015

“A Farra do Boi é uma festa de origem cultural. É muito popular no estado de Santa

O senhor deputado José Andrade andou pelo Brasil a ensinar o padre-nosso ao vigário. Com efeito, num texto publicado no Atlântico Expresso intitulado “Tradições Culturais das Dez ilhas açorianas (2). O

Catarina, e segundo historiadores, foi trazida ao Brasil há cerca de 200 anos, por descendentes de açorianos.

arquipélago Transatlântico”, que transcreve o conteúdo

Desde 1997, a Farra do Boi foi proibida em

das suas “palestras” realizadas no Brasil, o deputado

todo o estado de Santa Catarina, após

discorre sobre a farra-do-boi.

inúmeras denúncias e uma grande campanha de conscientização por partes dos ecologistas e da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, na sigla em inglês). O argumento dos participantes da festa foi o de que a Farra


acontecia para manter a cultura e o folclore

Algumas vezes, o boi é perseguido até

da região.

encontrar o mar e atira-se, onde morre afogado. Quando isso não acontece, a tortura pode durar até três dias, mesmo porque os “farristas” tomam “cuidado” para que a farra dure mais. Somente ao perceber que o boi está próximo de morrer, os “farristas” o matam e dividem a

Farra

do

boi

carne. A crueldade costuma acabar com um

(Fonte:

churrasco.

https://defensoresdosanimais.wordpress.com/public acoes/textos/da-farra-de-homens-mal-acostumadoscontra-bois-indefesos/)

Mas, se o senhor José Andrade soubesse que cultura A festa acontecia frequentemente na época da

que não rima com tortura podia muito bem dissertar

Páscoa, quando centenas de bois eram

sobre

torturados e mortos, em um martírio que

(http://www.guiafloripa.com.br/cultura/folclore/brinca

começa dias antes.

deira-boi-de-mamao), que segundo alguns autores é

o

boi-de-mamão

uma das brincadeiras de maior atração popular do A tortura começa alguns dias antes da festa,

folclore catarinense onde há teatro, música e dança e

quando o boi é isolado e deixa de ser

não há qualquer necessidade de desrespeitar animais.

alimentado. Quando o animal está a dias sem comer, são colocados comida e água próximos a ele, de forma que ele possa ver mas não possa alcançar, ficando desesperado. No dia da Farra, o boi é solto pelas ruas, onde as pessoas aguardam portando os mais variados instrumentos para ferir o boi, como por exemplo, pedaços de pau, pedras, chicotes, facas, cordas e lanças. Outras formas utilizadas pelos “farristas” para ferir o boi são: cortar o rabo do boi, quebrar suas patas e cornos, jogar pimenta

Boi-de-mamão (Fonte: http://www.clickgratis.com.br/fotosimagens/boi-mamao/

nos olhos dos boi, arrancar os olhos, introduzir um pedaço de madeira ou vidro em seu ânus, banhá-lo em óleo quente ou ainda encharcá-los de combustível e atear fogo.

1 de Setembro de 2015 José Ormonde


DA FARRA DE HOMENS MAL ACOSTUMADOS CONTRA BOIS INDEFESOS mais

objetivo

se

apresenta

aos sapiens, como

indicadores da constituição vulnerável do bovino. Por natureza, esse animal não é de corrida, muito menos, de luta. Ele não tem garras nem presas. Não ataca a não ser em legítima defesa, não morde, nem fere, se deixado em paz. O volume de seu corpo, porém, excita os machos que fazem uma farra. Confrontar-se com tal volume parece propiciar-lhes o que lhes falta: virilidade. E esta não se mostra boacoisa. É bruta. Machuca e mata.

Investir contra os que o atacam, nem sempre resulta eficaz, para o boi. Para poder investir com sucesso, Do boi e do homem voltamos sempre a falar, no Estado de Santa Catarina, a cada ano, com a aproximação das festas da ressurreição. Sempre a pretexto

de

se

preservar

a cultura e

a

tradição açorianas, trazidas para a Ilha de Santa Catarina,

aficionados

cidadãos,

rasgando

a

Constituição e ridicularizando a ética e a justiça, reúne-se,

levando

suas

próprias

crianças,

tão

vulneráveis à violência e à morte como o boi, para correr atrás de bois, em estado de pânico. Parece muito inocente, essa farra que mata jovens e meninos, todos os anos, erroneamente denominada de a farra do boi, pois, a bem da verdade, ela é simplesmente a farra de alguns poucos homens, com gosto de sangue a lhes anuviar o sabor da própria vida.

faltam-lhe os músculos típicos do arranque veloz e da corrida-de-fundo.

Falta-lhe,

ainda,

treinador,

massagista, fisioterapeuta, benesses dos reais lutadores humanos, que sobem às arenas do boxe, e das demais lutas nas quais homens confrontam-se fisicamente. Mas, não se trata apenas da constituição anatômica e fisiológica do animal, também de sua constituição psíquica. O boi investe contra esse outro animal que o provoca, não porque ache isso uma delícia de brincadeira. Ele o faz, tentando demover o agressor de aproximar-se demasiadamente do seu corpo. Afinal, um corpo enorme, pesando mais de meia tonelada, sustentado e transportado por quatro pernas pequenas e finas, com músculos impróprios para a luta, é tudo o que o animal tem, para mostrar ao homem que se excita em sua presença, que essa tradição não apenas é

O boi corre, exausto, faz investidas contra os que o maltratam, estaca, senta-se, bufa, as narinas dilatadas, o pulmão em sufoco, o coração em disparada, um toco ensanguentado no lugar da cauda. Coração, pulmões, músculos, e a desproporção entre a estrutura muscular de suas pernas e o volume do corpo, obrigado pela multidão a mover-se com velocidade, são o que de

de pouco bom-gosto, mas cruel em sua origem, pois parte do suposto de que os animais são objetos da diversão de homens entediados. Bois são lentos ao caminhar. Grande é a queima de oxigênio para mover seu corpo, por isso ele se move com lentidão. Falta-lhe oxigênio.


O mesmo nos acontece. Sofremos quando temos de

em que não havia mais nada para distrair a multidão

nos deslocar em velocidade superior à da reposição de

aborrecida, a não ser os rituais religiosos. A farra é um

oxigênio. Por essa razão, comemoramos tanto o

ato não-religioso, fere os princípios mais básicos da

velocista olímpico, o maratonista. Pois o atleta força

moralidade humana, o sentido de justiça e o próprio

sua natureza a superar-se. A diferença é que ele

conceito de humanidade que a tanto custo se tem

escolhe o desafio e o custo de romper seus próprios

procurado construir na natureza dos animais dotados

limites biológicos. O boi não tem escolha. É

de razão e sensibilidade.

simplesmente forçado a compor uma cena que jamais poderá lhe propiciar qualquer benefício. Enquanto os

Os animais sensíveis não sentem apenas a dor, têm

atletas treinam anos a fio sua fisiologia, para superar a

consciência e angústia do limite de seu corpo. A

condição natural e competir com seus iguais, na arte

crueldade contra eles expressa simplesmente o nível de

treinada, a maioria dos seres humanos não se dedica a

crueldade da qual o homem é capaz, contra os seres de

nada disso, pois não vê benefício algum em gastar

sua própria espécie.

tanta energia, para compor a cena final da competição, e servir de espetáculo para os sedentários.

Um país que vilipendia sua própria Constituição, que deixa os policiais observando as práticas de crueldade

Somos como os bois. Sem treino para o jogo. Qualquer

contra os bois sem levar preso quem farreia, julga-se

esforço sobre músculos do nosso corpo, não utilizados

acima da moralidade humana, acima dos padrões

nas atividades sedentárias diárias, resulta em falta de

internacionais de civilidade, acima do dever de

ar, pulsação acelerada, perda de líquido, dores

compaixão e de justiça.

horríveis durante o esforço desmesurado e no dia seguinte. Em nosso psiquismo a reação que se esboça é

Nesse país, por conta de sua tradição hipócrita e

a de uma profunda angústia, medo de parada cardíaca,

indiferente ao sofrimento de quem sofre a crueldade,

medo de sufocar, medo da dor. Sentamos na calçada,

exatamente, perecem meninos, vítimas dessa farra

ofegantes. Mas, ninguém nos dá cutucadas nem chutes

contra vida, que, hoje, ao redor do planeta, só no Brasil

para que prossigamos.

se pratica com desdém, pois em outros lugares a morte vem pela mão do inimigo, não do que está próximo.

Tudo o que mais abominariam, caso alguém se

No Brasil, há uma farra contra a vida dos seres

atrevesse a fazer contra seus corpos, na farra-do-

vulneráveis à brutalidade alheia, que se estabelece a

boi, esses homens fazem contra o animal. Toda a

cada dia. Ora o boi é usado como arma para matar a

crueldade é praticada em nome da tradição, como se a

criança, ora o automóvel, ou o hábito de consumir

defesa de um costume fosse um valor absoluto, mesmo

drogas fornecidas por um mercado de violência e

quando o costume aparece aos olhos de todos os

morte.

demais como brutal, violento, inútil, injusto, expressão de um atraso moral inqualificável, pois não faltam

Em uma região apenas, de Santa Catarina, temos essa

argumentos contrários aos mesmos, na mídia impressa,

farra repulsiva, a repetir-se cada ano. O povo do resto

escrita e televisionada.

do Estado envergonha-se de encabeçar, na quaresma, a lista dos mais violadores dos direitos animais, ao redor

Os açorianos, caso algum dia tenham brincado com

do planeta. Mas, a matriz cognitiva e moral da

bois soltos nas ruas, certamente o fizeram num tempo

violência é de uma mesma natureza: sua matança em


massa, nos centros de confinamento dos animais para o

cruelmente de nós. O modo como toleramos a

abate, e pela tortura contra os bois escolhidos para a

crueldade e extermínio de animais não-sapiens revela,

farra dos mal-acostumados a uma tradição que apenas

lamentavelmente, o quanto toleramos a crueldade

nos achincalha, nosso Estado está batendo todos os

contra adolescentes nas ruas, negros, homossexuais,

recordes internacionais de maldade contra os animais.

mulheres, idosos, pobres e sem-teto. Para mudarmos

Há alguém que sente orgulho disso?

nossa relação com esses últimos, urge que nos demos conta do que fazemos a todos os seres que julgamos

Jamais presenciamos qualquer animal praticando atos

inferiores a nós.

que excedam sua capacidade física natural. E, menos ainda, o fazem contra nós. Sempre que presenciamos

Ilha de Santa Catarina, 21 de março de 2006

uma cena dessas, esses animais estão em nosso poder e são forçados, por medo de chibatadas, medo da morte

Autora: Sônia T. Felipe– Doutora em Teoria Políticae

ou angústia artificialmente produzida, a fazerem o que,

Filosofia Moral, Cofundadora do Núcleo de Estudos

por livre e espontânea vontade jamais fariam.

Interdisciplinares sobre a Violência; voluntária do Centro de Direitos Humanos da Grande Florianópolis

A farra dos homens contra o boi é uma farra andro-

(1997-2001); coautora de, A violência das mortes por

chauvinista, exclusiva do homem. Emoções fortes é o

decreto; O corpo violentado; Justiça como Equidade,

que esse procura, ao colocar um boi na jogada. As

Por

mesmas emoções, com nenhum prejuízo ético, esse

Laboratório de Ética Prática, do Departamento de

homem pode conseguir correndo colina acima, para

Filosofia da UFSC, professora e pesquisadora dos

chegar por primeiro. Imagine se um boi o perseguisse

Programas de graduação e pós-graduação em Filosofia,

colina acima! Farra, na qual uma das partes nada ganha

e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas,

e tudo perde, e outra se regozija é gozo, não é

da UFSC, autora de dezenas de artigos em coletâneas

brincadeira. A perversão moral leva o homem a julgar

nacionais e internacionais sobre ética animal, Membro

que deve preservar a tradição que lhe assegura o

Permanente do Centro de Filosofia da Universidade de

privilégio de gozar às custas da dor e do sofrimento

Lisboa e do Bioethics Institute da Fundação Luso-

alheios. O estupro é uma prática sexual tradicional. A

americana para o Desenvolvimento, Lisboa.

violência contra as mulheres, também. Não por

Artigo publicado no site É O

coincidência, ambas são práticas tradicionais de

BICHO! (www.eobicho.org) em 27 de março de 2006.

uma

questão

de

princípios.

Coordena

o

homens, contra seres vulneráveis. Fonte: Se seres superiores a nós em inteligência nos

https://defensoresdosanimais.wordpress.com/publicaco

capturassem e nos levassem em gaiolas para seus

es/textos/da-farra-de-homens-mal-acostumados-contra-

territórios,

bois-indefesos/

nos

usassem

em brincadeiras aterrorizantes, incompreensíveis para nosso intelecto, certamente não expressaríamos em sua língua o sofrimento ao qual nos sujeitariam, mas, estarrecidos, constataríamos a existência de seres capazes da maldade, resultante do uso de sua superioridade intelectual e racional para troçar


LAJES DO PICO A SAQUE

As “obras” da Câmara Municipal das Lajes do Pico realizadas com a bênção do Governo Regional dos Açores com vista à instalação de uma tenda a ser usada durante a semana dos

Abaixo, transcreve-se o texto da responsabilidade da referida associação publicado na sua página Web (http://speaacores.blogspot.pt/2015/08/speadiscorda-de-intervencoes-em-area.html)

baleeiros foram alvo de contestação numa das redes sociais e na comunicação social por se realizarem numa área protegida e porem em causa o património natural da ilha do Pico e dos Açores

Na carta enviada, também com conhecimento para as Direções Regionais do Ambiente e dos Assuntos do Mar, a SPEA refere a importância do local a nível regional, nacional e europeu, que

Este caso é um dos exemplos que o desnorte e a falta de sensibilidade governativa e autárquica estão a comandar as decisões que só se justificam

levou à sua inclusão nas redes de áreas importantes para as aves, parques naturais e Rede Natura 2000.

pela ânsia de sacar dinheiro a todo o custo ou ganhar votos sem olhar a meios.

A

área tem um

fácil

acesso

e

elevada

vulnerabilidade, especialmente devido à forte Sobre o assunto a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) enviou uma carta à Câmara Municipal das Lajes do Pico.

pressão urbanística e humana a que está sujeita. No entender da associação, deverá ser preservada na sua totalidade e, pelo menos, recuperados, o mais rápido possível, os locais dentro da área que num passado recente foram degradados ou destruídos,

de

resistência destes

modo a aumentar habitats

a

naturais à

perturbação que possa ocorrer. Também deverão ser implementadas medidas de salvaguarda da área impedindo a sua degradação e reduzindo os impactos sobre a fauna e flora.

Este é um sítio de importância para várias espécies de aves, tanto para as nidificantes como para as migratórias. As aves que nidificam nas zonas costeiras adjacentes, nomeadamente Calonectris borealis (cagarro), Sterna

dougallii (garajau-

rosado), Sterna hirundo (garajau-comum), usam


esta área como zona de repouso e alimentação. No

da Spergularia azorica e de Juncus sp. por esta

outono e inverno, esta área representa um ponto

razão, esta área está também classificada como

de passagem e descanso de aves migratórias e

Sítio de Interesse de Conservação (SIC) também

acidentais, provenientes dos continentes europeu e

integrado

americano, sendo importante no contexto regional

(http://natura2000.eea.europa.eu/Natura2000/SDF.

para diversas espécies de limícolas, patos e garças

aspx?site=PTPIC0011). São habitats propícios ao

durante a época de migração pós-nupcial (a qual

desenvolvimento de espécies vegetais protegidas

começa em Julho para algumas espécies de

costeiras de valor natural e interpretativo elevado.

na

Rede

Natura

2000

limícolas) e ao longo da época de invernada.

Em resultado do seu valor para as aves e características naturais únicas esta área está classificada como Zona de Proteção Especial (ZPE) (http://www.horta.uac.pt/projectos/macmar/ogamp /azpepico3.html) incluída na Rede Natura 2000 (http://natura2000.eea.europa.eu/Natura2000/SDF. aspx?site=PTZPE0024) e na rede de IBAs

Para Luis Costa, Director executivo da SPEA, “a

nacionais (Zonas importantes para as Aves -

importância desta área deveria ser aproveitada

http://ibas-terrestres.spea.pt/pt/mapa-ibas-

pelo município das Lajes do Pico como uma mais-

terrestres/). Faz igualmente parte do Parque

valia e não como um obstáculo ao seu

Natural de Ilha do Pico com a classificação de

desenvolvimento. Se os valores naturais podem

Área Protegida para a Gestão de Habitats ou

ser por vezes mal compreendidos pela população,

Espécies

(PICO07),

é essencial um trabalho de sensibilização a vários

constituindo parte importante de uma rede de

níveis para reverter essa situação”. Mesmo a nível

zonas de protecção nos Açores que inclui

económico, a recuperação e conservação deste

importantes comunidades de aves.

local poderá ser mais um motivo de visita para o

das

Lajes

do

Pico

município e contribuirá na promoção de uma A SPEA refere ainda que para além da

imagem de sustentabilidade para quem nos visita,

importância para as aves, esta área apresenta

capitalizando a imagem de Natureza associada ao

também outras espécies e habitats de elevada

Pico e aos Açores em geral. A ocorrência durante

relevância (uma das razões para ser importante em

o Inverno de aves pouco comuns na Europa é já

termos de avifauna) sendo as suas características

um atrativo para muitos observadores de aves que

únicas

se deslocam aos Açores.

no

contexto

macaronésico.

Neste

regional local

e

mesmo

encontram-se

comunidades de flora extremamente vulneráveis e

Para a SPEA, sendo a Semana dos Baleeiros um

de

evento que celebra uma atividade tão importante

difícil

recuperação

como

é

o

caso


para o concelho, e que tem sido apontado como

Tendo em conta o referido a SPEA solicitou à

exemplo de passagem de uma atividade de grande

CMLP:

impacto, como a caça à baleia, para uma atividade

- a mudança do evento previsto para outra área e a

de maior sustentabilidade ambiental com a sua

imediata minimização dos impactos causados;

observação, esta seria uma ocasião excelente para

- a garantia de salvaguarda desta área de eventuais

promover um trabalho de sensibilização e

planos futuros que possam aumentar a sua

divulgação deste outro valor das Lajes do Pico,

degradação;

quer junto da população local quer junto dos

- o desenvolvimento e implementação de um

muito visitantes que aí ocorrem nesta semana.

plano de recuperação destes habitats, com maior urgência nas áreas degradadas por ação humana nos últimos anos.

A

SPEA indicou ainda

a total disponibilidade

para, dentro das suas capacidades, colaborar da melhor forma possível na identificação de medidas

que

possam

permitir

não

a

conservação e recuperação desta importante área, mas também contribuir para a sua divulgação e Porém, parece que a opção foi desvalorizar a

promoção, bem como para o usufruto deste local

componente natural única do local em favor de

pela população e visitantes de uma forma

uma componente das

sustentável e sem impactos para os importantes

festas completamente

vulgar, sem tradição, que se pode encontrar por múltiplos locais em todo o país nesta altura do ano, e que poderia ser localizada em outros locais onde não tivesse o mesmo impacto. Refere na carta Luis Costa que “por 3 dias de utilização que ninguém se lembrará ao fim de muito pouco tempo, opta-se por aumentar o impacto numa zona sensível de características únicas na ilha e na Região, dificultando cada vez mais a sua recuperação e adiando o trabalho urgente de sensibilização de quem utiliza ou pretende utilizar aquela área para fins contrários à manutenção dos seus valores naturais”.

valores naturais presentes.


O DRAMA DOS REFUGIADOS

Estes não são seres humanos, nossos irmãos e

“O continente europeu é portador de civilização,

irmãs?

que seus habitantes a habitaram desde o início da

03/09/2015

humanidade em sucessivas etapas e que no

O grau de civilização e de espírito humanitário de

decorrer dos séculos desenvolveram valores, base

uma sociedade se mede pela forma como ela

para o humanismo: igualdade dos seres humanos,

acolhe e convive com os diferentes. Sob este

liberdade e o valor da razão…”

aspecto a Europa nos oferece um exemplo lastimável que beira à barbárie. O menino sírio de

Esta visão é somente em parte verdadeira. Ela

3-4 anos afogado na praia da Turquia simboliza o

esquece as frequentes violações destes direitos, as

naufrágio da própria Europa. Ela sempre teve

catástrofes que criou com ideologias totalitárias,

dificuldades de aceitar e de conviover com os

guerras devastadoras, colonialismo impiedoso e

“outros”.

imperialismo

feroz

que

subjugaram

e

inviabilizaram inteiras culturas na Africa e na Geralmente a estratégia era e continua sendo esta:

América Latina em contraste frontal com os

ou marginaliza o outro, ou o submete ou o

valores que proclama. A situação dramática do

incorpora ou o destrói. Assim ocorreu no processo

mundo atual e as levas de refugiados vindos dos

de expansão colonial na Africa, na Asia e

países mediterrâneos se deve, em grande parte, ao

principalmente na América Latina. Chegou a

tipo de globalização que ela apoia, pois configura,

destruir etnias inteiras como aquela do Haiti e no

em

México.

ocidentalização tardia do mundo, muito mais que

termos

concretos,

uma

espécie

de

uma verdadeira planetização. O limite maior da cultura européia ocidental é sua arrogância que se revela na pretensão de ser a mais elevada do mundo, de ter a melhor forma de governo (a democracia), a melhor consciência dos direitos, a criadora da filosofia e da tecnociência e, como se isso não bastasse, ser a portadora da única

religião

verdadeira:

o

cristianismo.

Resquícios desta soberba aparece ainda no Preâmbulo da Constituição da União Européia. Aí se afirma singelamente:

Este é o pano de fundo que nos permite entender as ambiguidades e as resistências da maioria dos países europeus em acolher os refugiados e imigrantes que vêm dos países do norte da Africa e do Oriente Médio, fugindo do terror da guerra, em grande parte, provocada pelas intervenções


dos ocidentais (NATO) e especialmente pela

Orbán da Hungria declarou guerra aos refugiados.

política imperial norte-americana.

Tomou uma medida de grande barbárie: mandou construir uma cerca de arame farpado de quatro

Segundo dados do Alto Comissariado das Nações

metros altura ao longo de toda fronteira com a

Unidas para os Refugiados (ACNUR) somente

Sérbia, para impedir a chegada dos que vêm do

neste ano 60 milhões de pessoas se viram forçadas

Oriente Médio. Os governos da Eslováquia e da

a abandonar seus lares. Só o conflito sírio

Polônia declararam que somente aceitariam

provocou 4 milhões de desalojados. Os países que

refugiados cristãos.

mais acolhem estas vítimas são o Líbano com mais de um milhão de pessoas (1,1 milhão) e a

Estas são medidas criminosas. Todos estes

Turquia (1,8 milhões).

sofredores não são humanos, não são nossos irmãos e irmãs? Kant foi um dos primeiros a

Agora esses milhares buscam um pouco de paz na

propor uma República Mundial (Weltrepublik) em

Europa.

o

seu último livro A paz perpétua. Dizia que a

Mediterrâneo cerca de 300.000 pessoas entre

primeira virtude desta república deveria ser a

imigrantes e refugiados. E o número cresce dia a

hospitalidade como direito de todos e dever para

dia. A recepção é carregada de má vontade,

todos, pois todos somos filhos da Terra.

Somente

despertando

na

neste

ano

população

cruzaram

de

ideologias

fascistóides e xenófobas, manifestações que

Ora, isso está sendo negado vergonhosamente

revelam grande insensibilidade e até inumanidade.

pelos membros da Comunidade Européia. A

Foi somente depois da tragédia da ilha de

tradição judeo-cristã sempre afirmou: quem

Lampedusa, ao sul da Itália, quando se afogaram

acolhe

700 pessoas em abril de 2014 que se colocou em

anonimamente Deus. Valham as palavras da física

marcha uma operação Mare Nostrum com a

quântica que melhor escreveu sobre a inteligência

missão de rastrear possíveis naufrágios.

espiritual – Danah Zohar: ” A verdade é que nós e

o

estrangeiro,

está

hospedando

os outros somos um só, que não há separatividade, que nós e o ‘estranho’ somos aspectos da única e mesma vida”(QS:consciência espiritual, Record 2002, p. 219). Como seria diferente o trágico destino dos refugiados se estas palavras fossem vividas com paixão e compaixão. A acolhida é cheia de percalços, especialmente,

Leonardo Boff escreveu Hospitalidade:direito e

por parte da Espanha e da Inglaterra. A mais

dever de todos, Vozes 2005.

aberta e hospitaleira, apesar dos ataques que se

Fonte:

fazem aos acampamentos dos refugiados, tem sido

https://leonardoboff.wordpress.com/2015/09/03/estes-nao-

a Alemanha. O governo filo-fascista de Viktor

sao-seres-humanos-nossos-irmaos-e-irmas/


RETROCESSO ?

Se o fascismo acabou com as veleidades Não sei se é correto falarmos em retrocesso quando nunca avançamos muito em termos de construção de uns Açores mais justos, limpos e

autonomistas não acabou com as desigualdades sociais e para garantir a sua sobrevivência uma grande parte dos açorianos teve que emigrar.

pacíficos. Com efeito, desde sempre na sociedade açoriana a diferença entre ricos e pobres foi abismal, os problemas ambientais não pararam de se agravar, aliados ao consumismo e à alienação dos cidadãos, e a paz existente é uma paz podre pois assenta na manipulação de uma sociedade

Com o 25 de abril de 1974, os defensores do antigo regime adaptaram-se e infiltraram-se nos partidos então criados e continuaram a comandar uma região que nunca foi solidária, pois não foram banidas as injustiças sociais existentes.

alienada pelas esmolas, pelos espetáculos musicais pimbas, pelo futebol, por uma religião chefiada por hipócritas e pelo lóbi das touradas.

Com as alterações entretanto ocorridas a nível de desenvolvimento tecnológico e da imposição do consumo, os problemas ambientais foram-se agravando e as respostas mesmo as curativas foram tardando pois sempre se quis tapar o sol com uma peneira alegando que os Açores eram um paraíso. Foram as lagoas que se foram degradando, foram as infestantes que se foram espalhando, foram os resíduos que não pararam de crescer, foi a educação dos cidadãos que foi descurada, foi a conservação da natureza que pouco passou do papel.

Ao longo da história dos Açores, os movimentos

Hoje, assiste-se ao descalabro total. A título de

autonomistas nunca tiveram grandes preocupações

exemplo, é autorizado o abate de espécies da

sociais, apenas se preocuparam em pagar menos

avifauna endémica dos Açores, é autorizada uma

impostos (muitas vezes injustos face ao todo

intervenção numa área protegida no Pico para

nacional) com vista a aumentar a riqueza das

instalação de uma tenda e está em curso a

classes mais favorecidas deixando o povo a

instalação de duas incineradoras que sairão caro a

sobreviver com muito custo.

todos os açorianos, em termos de saúde e de degradação ambiental. J.S.


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