Terra Livre nº 25

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 25 OUTUBRO DE 2010

- Agriculturas e crise climática

- Entra em acção: Salve um cagarro


Agriculturas e crise climática

FERNANDO PEREIRA MORTO À BOMBA PELO ESTADO FRANCÊS HÁ 25 A

Sílvia Ribeiro, 14 de Agosto de 2010

fonte, mas coincidem em assinalar a

A agricultura e o sistema alimentar industrial são a principal causa do aquecimento global e da crise climática. Em

contraste,

as

agriculturas

camponesas e indígenas, biodiversas e descentralizadas, são o factor mais importante para enfrentar esta crise e sair

dela,

para

além

do

facto

fundamental de serem as que alimentam

agricultura industrial como uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa, juntamente com a geração de energia e transportes baseados em combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão).

As

actividades

agrícolas

aparecem como responsáveis por entre 11 e 15 por cento das emissões. Embora este dado já seja grave, apresentá-lo desagregado das emissões da cadeia

a maior parte da humanidade.

agro-alimentar industrial oculta uma Apesar disto, a visão que predomina nas

realidade muito pior quanto à sua

negociações

o

responsabilidade pela crise climática. Se

das

se considerarem juntos a agricultura

clima

internacionais

recolhe

os

sobre

interesses

empresas contra os e as camponesas. A

industrial

tentativa agora é integrar a agricultura e

industrial a que está necessariamente

os solos no comércio de créditos de

ligada, há que atribuir-lhes uma parte

carbono, o que significaria um novo

significativa

das

subsídio

transportes;

outra

às

transnacionais

de

e

o

sistema

alimentar

emissões

dos

percentagem

por

a

deflorestação e mudança de uso do solo

agricultura industrial e maior despojo às

(em avanço de fronteira agrícola e em

formas de vida camponesas.

uso de papel: aproximadamente 75 por

agronegócios,

favorecendo

mais

cento do papel que se produz é para propaganda e embalagens, que são somente exigência das grandes cadeias de vendas), e a quase totalidade do metano que as lixeiras emitem devido à putrefacção de lixo orgânico, que na sua maioria são restos de alimentos que se deitam fora nas cidades. Os

dados

sobre

as

fontes

do

aquecimento global variam segundo a

Segundo

o

excelente

trabalho

da

GRAIN, “La crisis climática es una


na

actualmente na atmosfera. Mas esta

análise de dezenas de relatórios, a

forma de cuidar o solo só é possível

agricultura

mediante a agricultura camponesa e

crisis

alimentaria” [1],

e

o

baseado

sistema

alimentar

industrial são responsáveis por entre 44

familiar,

e 57 por cento das emissões globais de

descentralizada e diversa, adaptada a

gases de efeito estufa.

cada local [2].

Chegam a esta conclusão agregando os

No

seguintes

pretendem

dados:

as

actividades

livre

entanto,

de

interesses agora

tóxicos,

industriais

explorar

essa

agrícolas representam de 11 a 15 por

capacidade do solo para absorver e reter

cento das emissões; a mudança de uso

carbono

de solos, desmonte e deflorestação

carbono”,

causam de 15 a 18 por cento adicionais;

escoadouro. Por exemplo, as indústrias

o processamento, empacotamento e

que promovem o chamado biochar

transporte de alimentos provoca 15 a 20

(carvão vegetal). Trata-se de semear

por cento, e a decomposição de lixo

extensas áreas de monocultivos de

orgânico de 3 a 4 por cento.

árvores para queimá-los, convertendo-

para

cobrar

usando

“créditos

o

solo

de

como

os em carvão negro, e depois enterrá-lo, Por outro lado, a GRAIN também faz um cálculo cuidadoso do papel dos

teoricamente para “sequestrar” carbono e aumentar a fertilidade do solo.

solos na crise climática: enquanto a sua degradação é fonte de emissões, se o solo estiver vivo, com matéria orgânica viva e natural que não é eliminada por fertilizantes sintéticos e agrotóxicos e se se cuidar segundo as diversas condições locais,

com

uma

combinação

de

diversidade e rotação de cultivos, incorporação de matéria orgânica e outras, em poucas décadas poder-se-ia

Segundo

devolver aos solos a sua capacidade

indústrias que aspiram a fazer grandes

natural de reter carbono, e absorver

lucros –, é também uma forma de geo-

quase dois terços do excesso de gases

engenharia, porque com 500 milhões de

de

hectares ou mais poder-se-ia esfriar o

efeito

estufa

que

existem

os

seus

proponentes


planeta. Cinicamente dizem que é uma

adaptado a cada região, a diferentes

tecnologia indígena amazónica. Mas o

solos e a trabalhar respeitando as

biochar e as formas indígenas de

condições naturais da cada local, de

queimar e enterrar são extremamente

cada solo.

diferentes. No primeiro caso trata-se de exercer violência sobre o solo, primeiro com grandes plantações e agrotóxicos, depois enterrando carvão de forma súbita e massiva, que segundo estudos inclusive poderia desequilibrar mais o solo e libertar o carbono retido de forma natural. Além disso, parte do pó de carvão negro liberta-se para a atmosfera no processo e tem um efeito estufa maior que o dióxido de carbono, pelo que outros estudos avaliam que até

Há mais propostas da indústria para transformar

a

agricultura

e

a

alimentação no seu campo de lucro particular enquanto o planeta frita e aumenta a fome. Por isso, a Via Campesina apelou, face à cimeira climática que se realizará em Dezembro em Cancún, a denunciar aí e em cada lugar onde estejamos ditas propostas, e a mostrar as verdadeiras alternativas camponesas, tarefa urgente que nos incumbe a todos.

poderia aumentar as emissões.

[1] GRAIN, “La crisis climática es una crisis

alimentaria:

La

agricultura

campesina puede enfriar el planeta”, em Crisis climática: falsos remedios y soluciones verdaderas, págs. 25-33, 2010. [2] Camila Montecinos, Cuidar el suelo. Devastar milhões de hectares com

Fonte: La Jornada

plantações e agrotóxicos para depois queimá-las soa realmente enfermiço. Ao

Extraído de:

invés, a forma indígena baseia-se em

http://infoalternativa.org/spip.php?article18

milhares

60

acumulada

de de

anos

de

manejo

sabedoria diverso

e


Entra em Acção: Salve um cagarro

• Liberte o cagarro na manhã seguinte, junto ao mar, pousando-o com cuidado no chão. Não se preocupe se a ave levar algum tempo a reagir e a voar para o mar, pois ela continuará a sua viagem quando se sentir preparada.

Em Outubro ou Novembro os jovens cagarros iniciam a sua migração e orientam-se aparentemente pelas estrelas, mas ao iniciarem o seu primeiro voo, principalmente em noites nubladas, são atraídos e encadeados pelas luzes das povoações e automóveis sendo muitos mortos por colisão e atropelamento. Outro factor que pode ser perigoso para esta espécie está relacionado com as marés vivas que, aliadas aos ventos frescos, podem fazer com que uma ave excepcionalmente dotada para a vida marinha, possa encontrar no mar, um dos seus obstáculos na sua tentativa de migração. O que deve fazer se encontrar um cagarro: • Aproxime-se lentamente do cagarro, usando luvas; • Com calma e segurança cubra o corpo do cagarro com um casaco, uma manta ou uma toalha; • Sem o magoar, segure o cagarro pelo pescoço e pela cauda, de forma a envolver todo o seu corpo; • Coloque-o numa caixa de cartão, com cuidado; • Mantenha-o na caixa durante a noite, em local tranquilo e escuro;

O que não deve fazer: • Não se aproxime da ave quando não sabe exactamente como proceder; • Não segure a ave por uma asa ou por ambas as asas, nem permita que ela abra as asas enquanto a manipula, pois esta ficará cada vez mais agitada; • Não dê água, alimentos ou medicamentos; • Não atire a ave ao mar, pois ela não voará imediatamente quando for lançada, podendo ficar incapacitada de voar; • Nunca force a ave a ir para o mar, ela seguirá a sua viagem quando se sentir em condições." Para saber mais: http://terralivreacores.blogspot.com/sear ch/label/cagarro


O Saber não Ocupa Lugar

Para uma Tecnologia Libertadora

Sociedade e Território Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado Editado pela Profedições, em 2006, neste

livro,

o

seu

autor,

Jacinto

Rodrigues, para além de fazer uma reflexão

sobre

a

problemática

da

ecologia, explicita perspectivas para um desenvolvimento

ecologicamente

sustentado e expõe processos que promovem

um

decrescimento

sustentável em relação às necessidades artificialmente criadas pela sociedade de consumo.

Editado pela Via Editora, Lda., em 1976, este livro contém reflexões de Murray Bookchin sobre o sentido a dar ao progresso tecnológico de forma a acentuar-se o seu potencial libertador promovendo, ao mesmo tempo, o equilíbrio com a natureza.


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