TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL
BOLETIM Nº 31
ABRIL DE 2011
35 anos depois de Ferrel, Península Ibérica exige o fim da energia nuclear Não à Energia Nuclear Memória: Sociedade Protectora dos Animais
35 anos depois de Ferrel, Península Ibérica exige o fim da energia nuclear
Há 35 anos atrás, a população de Ferrel
Richter e consequente tsunami. Para
marchou
da
além da significativa perda de vidas
primeira central nuclear em Portugal e
humanas e de bens, as consequências
estabeleceu um marco na rejeição do
podem ser ainda mais graves devido a
nuclear em Portugal. Também em
problemas
Espanha,
nucleares.Esta
contra
nos
a
construção
anos
mobilizações
70,
fortes
registados
nas
situação
centrais
expõe
as
anti-nucleares
fragilidades e os riscos associados ao
10
dos
25
uso da energia nuclear de fissão, não
Contudo,
o
obstante o enorme investimento feito
acidente de Fukushima veio relembrar
em segurança e o discurso tecnocrata de
que os perigos da energia nuclear não
que tudo é controlável.
conseguiram projectos
conhecem
impedir
planeados.
fronteiras.
Organizações Vários especialistas consideram já este
portuguesas e espanholas reclamam como
o
segundo
maior
incidente
agora o encerramento de todas as nuclear da história e não excluem a centrais nucleares em Espanha. hipótese de ultrapassar a gravidade de Chernobil. Há neste momento vários A situação nuclear no Japão
reactores em risco de fusão do núcleo e
No passado dia 11 de Março, o Japão
já ocorreram várias fugas de compostos
foi
de
altamente radioactivas. Uma catástrofe
magnitude 9,0 graus na escala de
ecológica e social é, neste momento,
devastado
por
um
sismo
uma forte possibilidade. A gravidade da 2
catástrofe, não só para o Japão, como
Espanha, que conseguiram impedir a
também para os países vizinhos, será
construção de 15 centrais nucleares no
ditada pelo que se venha a passar com
território espanhol. Como resultado,
os reactores (que continuam a constituir
apenas entraram em funcionamento 10
uma incógnita para os especialistas),
reactores nucleares dos 25 planeados.
bem como pela direcção dos ventos que
Destes dez, um deles foi encerrado após
transportam as nuvens radioactivas.
o acidente de Vandellós em 1979 e a de Zorita encerrou em Junho de 2004. 35 anos depois, é tempo de reavaliar as unidades que se construiram por toda a Europa e, em particular na Península Ibérica, onde Espanha conta com 6 centrais nucleares (8 reactores) em operação,
duas
delas
(Sta.
María
Garoña, perto de Burgos e Cofrentes, Portugal disse não ao nuclear em perto de Valência), utilizando a mesma Ferrel, há 35 anos tecnologia (BWR) que a central de Em 1976 ainda não tinham ocorrido os
Fukushima. A Central Nuclear de
acidentes nucleares mais graves da
Almaraz, junto ao Tejo e a 100km da
história: Three Mile Island (1979),
fronteira portuguesa, já ultrapassou o
Chernobyl (1986) e Fukushima (2011).
período previsto de funcionamento e há
Tal não impediu a população de Ferrel
alguns meses foi decidido prolongar em
(localidade situada numa zona de
10 anos o seu período de actividade.
sismicidade elevada, no concelho de
Este é mais um factor de preocupação
Peniche)
a
para Espanha e para Portugal. Em caso
construção de uma central nuclear na
de um grave acidente nuclear, os
sua terra, a 15 de Março de 1976.
impactos dificilmente ficarão contidos
de
marchar
contra
Também em Espanha se geraram fortes mobilizações
anti-nucleares
nas fronteiras espanholas.
em 3
Pedimos o encerramento faseado das
de alta actividade, que chegariam a
centrais nucleares espanholas
7000 Tm. Com o encerramento faseado
A energia nuclear é prescindível em Espanha, dado que este país exporta energia eléctrica a todos os seus países vizinhos,
incluindo
França.
A
electricidade produzida pelas nucleares pode substituir-se por medidas de poupança e eficiência e por um forte apoio às energias renováveis. Desta forma poderia libertar-se a Península Ibérica
do
risco
que
constitui
o
funcionamento do 8 reactores nucleares, eliminando a possibilidade de desastres
das nucleares, o volume de resíduos nucleares
seria
convenientemente
reduzido. Se
queremos
uma
sociedade
sustentável, não podemos apostar em formas de produzir energia que possam pôr em causa as gerações presentes e as futuras, seja através da exploração do urânio, da ocorrência de acidentes ou através do legado futuro em termos de desmantelamento e deposição final dos resíduos nucleares.
com o de Fukushima, no Japão. Esperamos que a situação se resolva sem danos significativos para as pessoas e para o ambiente, mas o aviso é claro e não pode deixar de ser ouvido por todos aqueles que desejam uma sociedade sustentável organizações
e
com
futuro.
subscritoras
As deste
comunicado, apelam, por isso, ao encerramento de todas as centrais nucleares em Espanha. Além do mais, evita-se a necessidade de
15 de Março de 2011
gestão de resíduos radioactivos que venham a ser produzidos. Actualmente há cerca de 3500 toneladas de resíduos 4
Não à Energia Nuclear
O recente acidente nuclear ocorrido no Japão veio, uma vez mais, colocar na ordem do dia a necessidade do abandono da energia nuclear de fissão para a produção de electricidade. Ao contrário do que diz a propaganda pro-nuclear, a energia nuclear para além de não ser a solução alternativa ao petróleo, também contribui para o aumento do efeito de estufa, é cara para os contribuintes porque em todo o mundo é fortemente subsidiada pelos Estados, cria poucos empregos quando comparada com algumas fontes renováveis e não é segura, quer face a catástrofes naturais quer a eventuais ataques terroristas. Para além do mencionado, se o que se pretende é uma sociedade mais limpa, justa, pacífica e verdadeiramente democrática, não podemos aceitar a opção por esta fonte de energética pois a energia nuclear é antidemocrática. Com efeito, dados os riscos e os negócios envolvidos, a indústria nuclear é por natureza secreta e pouco transparente. Esperando que os impactos negativos para as pessoas e para o ambiente do acidente ocorrido no Japão não atinjam os níveis dos de Chernobil, reafirmamos a nossa recusa à fissão nuclear e a nossa opção pelo uso racional da energia e pelas fontes de produção de electricidade renováveis e descentralizadas.
Nuclear não, obrigado Ó papão mau vai-te embora lá de cima do telhado Deixa dormir o menino um soninho descansado Deixa de ficar à espreita com vontade de assombrar Os que vivem nesta terra com o pesadelo nuclear No olhar de uma criança pode ver-se a luz do mundo Não lhe vamos deixar como herança um planeta moribundo Nuclear não, obrigado Antes ser activo hoje do que radioactivo amanhã Nuclear não, obrigado Se queremos energia sem envenenar o ar Temos o calor do sol o vento e a força do mar Letra de Luís Pedro Fonseca Música de Carlos Fortuna
Açores, 16 de Março de 2011
Álbum Perto de ti, Lena d’ Água 1982
5
A propósito da Energia Nuclear
No passado dia 11, um sismo e o tsunami a ele associado, ocorridos no Japão, fizeram voltar à ordem do dia a questão do uso da energia nuclear de fissão para fins pacíficos, isto é para a
democracias ou ditaduras, pois como temos constatado, nos últimos tempos, os ditadores, enquanto não caem em desgraça, são equiparados a democratas desde que sejam “nossos” amigos.
produção de electricidade. Apresentada como solução para o nosso país
fortemente
dependente
dos
derivados do petróleo, quer para os transportes quer para a produção de electricidade, e como o melhor processo de combater o agravamento do efeito de estufa, a nível mundial, pois segundo os seus defensores seria a verdadeira alternativa aos combustíveis fósseis, a energia nuclear apresenta problemas que são escondidos pelo discurso dos tecnocratas.
Segundo aqueles, o desenvolvimento científico e tecnológico já havia feito com que os riscos associados às centras Não faremos, neste texto, qualquer menção ao seu uso para fins militares pois pensamos ser consensual a sua condenação por parte de todos, embora exista quem se preocupe com o facto de alguns nucleares
países
possuírem
e
verem
não
armas qualquer
inconveniente em outros as terem. Isto independentemente de se tratar de
nucleares se tornassem quase nulos e mesmo
assim
controláveis.
Como
perfeitamente nos
mostra
o
recente acidente ocorrido nas duas centrais
nucleares
japonesas,
as
referidas afirmações não correspondem à verdade nem foi apresentada, até hoje, uma solução segura para o depósito final dos resíduos nucleares.
6
Face
ao
exposto,
não
podemos
eléctrica através das fontes renováveis.
continuar a apostar na energia nuclear
É importante, também, saber se esta
de fissão, vulnerável a catástrofes
produção
naturais e a ataques terroristas, para
interessados
produzir electricidade, mas sim optar
apenas, algum grupo económico e se o
por formas mais limpas e seguras, como
aumento do consumo se traduz em
o são as energias renováveis e, antes
melhor qualidade de vida ou em
disso, apostar na sua utilização racional,
produção de riqueza.
está ou
aberta se
a todos é
os
beneficiado,
pois a energia mais limpa é a que não se produz/consome.
Por último, deixamos aqui uma questão: Será que a ilha de São Miguel precisa da energia eléctrica que pretendem produzir com a queima dos resíduos sólidos urbanos? Ou, em nome do desenvolvimento sustentável, vai ser fomentada, mais do que até aqui, a irresponsabilidade e o desperdício?
Pico da Pedra, 13 de Março de 2011 Teófilo Braga
“Por
que
é
magnífica
que
esta
tecnologia
científica que nos facilita o trabalho e nos torna a vida mais fácil nos trás pouca felicidade? Nos
Açores,
satisfeitos
e
não
podemos
ficar
muito
menos
atirar
“roqueiras” com o aumento que se tem
Porque não aprendemos a usá-la com juízo.” Albert Einstein
verificado na produção de energia 7
Memória: Sociedade Protectora dos Animais Uma das mais manifestas provas da ignorância do nosso povo é a feroz
empregado outros quaisquer esforços para a realização dessa excelente ideia.
brutalidade que usa com os pobres animais
Os órgãos da imprensa local que
que na maioria dos casos lhe são um
tanto alarde fizeram quando se apresentou o
valioso auxílio na luta quotidiana pela vida.
alvitre da fundação de uma Sociedade
Estes repugnantes espectáculos que
Protectora
de
Animais
calaram-se
diariamente se repetem nas ruas desta
misteriosamente sem que até hoje saibamos
cidade nada atestam a favor da nossa boa
o motivo desse súbito silêncio. Do mesmo
terra, antes a desconceituam aos olhos dos
modo o público o desconhece e por isso
estrangeiros que nos visitam os quais nos
pedimos que nos digam qual o fim que
terão na conta de brutos a julgar por essas
levaram os estatutos da Sociedade: se foram
cenas bárbaras de que são vítimas os pobres
dormir o sonho dos justos no cesto dos
animais indefesos.
papéis velhos e inúteis ou se ainda existem
Com isto não queremos dizer que o
para algum dia terem a sua aplicação.
povo seja mau, porque de há muito está provado que não há homens maus. O que há
João H. Anglin
apenas é essa crassa ignorância por cuja perpétua conservação tanto se empenham
Vida Nova, nº 48, p. 1, 15 de Agosto de
os políticos e governantes.
1910
Um
dia
virá
em
que
essas
atrocidades serão por completo eliminadas, mas antes de se chegar a essa época de felicidade era bom que alguma coisa se fizesse no sentido de melhorar a sorte desses pobres seres que tantos serviços prestam ao homem e que em recompensa recebem
forte
pancadaria
quando
porventura se encontram impossibilitados de trabalhar tanto quanto os seus donos exigem. É para evitar estas bestialidades que existem as Sociedades Protectoras de Animais. Na nossa terra já alguém se lembrou de fundar uma sociedade destas e se não nos enganamos chegaram a ser elaborados os estatutos mas até agora não nos consta que além deste se tenham
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