Terra Livre 21 Junho de 2010

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 21JUNHO DE 2010

- EM DEFESA DO MU DO RURAL? - GRA DEZAS E LIMITES DA ECOLOGIA

- ÃO PERMITA QUE DI HEIROS DA EU SEJAM USADOS PARA PAGAR TOURADAS


EM DEFESA DO MUNDO RURAL?

efeito, de acordo com notícias e reportagens publicadas na imprensa regional, as fábricas de lacticínios do Corvo e do Faial estão longe de ser rentáveis, em São Jorge as cooperativas estão sempre em dificuldades, em todas as ilhas há lavradores que devido à não actualização do preço do leite e à necessidade de adquirir alimento para o gado no exterior (30 a 50% do mesmo é importado) encontram-se em situação crítica e estariam na falência não fora o apoio comunitário. Gasta, por abuso, a moda de praticar as mais

Além disso, como também já foi publicado e não

diversificadas

da

desmentido, quando acabar o regime de quotas

construção da Estrada para a Fajã do Calhau para

leiteiras apenas algumas explorações em São

combater as plantas infestantes?) em nome do

Miguel e na Terceira serão viáveis.

barbaridades

(lembram-se

desenvolvimento sustentável, já que capitalismo e uma sociedade mais justa, limpa e pacífica são incompatíveis, chegou aos Açores a moda de tudo fazer invocando a defesa do mundo rural.

Apresentada como uma grande conquista da modernidade, a redução do número de activos, na agricultura,

sem

a

criação

de

quaisquer

alternativas viáveis a longo prazo, traduz-se na desertificação humana das zonas rurais e no abandono da produção agrícola, mesmo a de autosubsistência. Com efeito, hoje, nos Açores, das

É

neste

contexto

que,

culturas industriais, não falando no chá que é

incompetência governamental, se tem assistido à

muito localizada e quase peça de museu, persistem

realização de um conjunto de concursos e feiras e

apenas e a muito custo a beterraba e o tabaco,

festivais

ambas subsidiadas.

dinamizar o sector, que contam sempre com a

pretensamente

para

esconder

organizados

a

para

presença dos actuais responsáveis máximos pela O que enche de orgulho os nossos governantes é

degradação

outro sector ligado à terra, a pecuária. Mas,

Rodrigues, Secretário Regional da Agricultura e

mesmo este não navega em mar de rosas. Com

da

agricultura

regional,

Noé


Florestas, e Joaquim Pires, Director Regional do

haver cortes noutras iniciativas, como o Angra

Desenvolvimento Agrário.

Rock, mas as touradas de praça são intocáveis).

Face a esta situação, não se compreende a passividade de uma população que está a passar por dificuldades em virtude da crise que abala o sistema capitalista mundial e muito menos se percebe

(ou

percebe-se?)

o

silêncio

comprometedor de associações ambientalistas e da esmagadora maiores dos defensores do ambiente e dos direitos /bem-estar animal.

Um dos últimos eventos, o IX Concurso

É caso para dizer que Marx estava errado, o

Micaelense da Raça Holstein Frísia, promovido

problema não é da religião, o ópio do povo são as

(com apoio público?) pela Associação Agrícola de

touradas.

São Miguel, terminou com muita comida e bebida

Açores, 30 de Maio de 2010

oferecida aos presentes e com uma (não

Mariano Soares

tradicional) tourada à corda, apresentada como promoção do mundo rural.

São precisamente as touradas à corda, em locais onde não são tradicionais, como na ilha de São Miguel e em zonas piscatórias como é o Porto da Lagoa ou a Caloura, pagas com dinheiros públicos o único indicador de “sucesso” do pretenso desenvolvimento agrário e rural.

Como se tal não bastasse, e como não fosse demasiado o apoio da UE recebido pelos ganadeiros para a criação de gado bravo, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo propõese, em nome da dinamização do mundo rural, abocanhar verbas do programa LIDER para ajudar a pagar a feira taurina das Sanjoaninas, deste ano, cujo custo ronda os 400 mil euros (interessante é


GRANDEZAS E LIMITES DA ECOLOGIA Por Michael Löwy* trará uma resposta a todos os problemas A grande contribuição da ecologia foi e continua

econômicos e sociais.

sendo nos fazer tomar consciência dos perigos que ameaçam o planeta como consequência do atual modelo de produção e consumo. O crescimento exponencial das agressões ao meio ambiente e a ameaça crescente de uma ruptura do equilíbrio ecológico configuram um quadro catastrófico que coloca em questão a própria sobrevivência da vida humana. Estamos diante de uma crise de civilização

que

exige

mudanças

radicais.

Os ecologistas se enganam se crêem poder abrir mão da crítica marxiana do capitalismo: uma ecologia que não leve em conta a relação entre

O ecossocialismo

“produtivismo” e lógica do lucro está destinada ao fracasso – ou pior, à sua recuperação pelo sistema. Os exemplos não faltam… A ausência de uma postura anticapitalista coerente levou a maior parte dos partidos verde europeus – França, Alemanha, Itália, Bélgica – a tornar-se simples

O que é então o ecossocialismo? Trata-se de uma corrente de pensamento e ação ecológicos que toma como suas as aquisições fundamentais do marxismo – ao mesmo tempo que se livra de seus entulhos produtivistas.

parceiro “ecoreformista” da gestão social-liberal

Para os ecossocialistas a lógica do mercado e do

do capitalismo pelos governos de centro-esquerda.

lucro – bem como aquela do defunto do

Considerando os trabalhadores irremediavelmente

autoritarismo burocrático, o “socialismo real” –

destinados ao produtivismo, alguns ecologistas

são

ignoram/descartam o movimento operário e

preservação do meio ambiente. Ao mesmo tempo

inscrevem em suas bandeiras: “nem esquerda,

que criticam a ideologia das correntes dominantes

nem direita”.

do movimento operário, eles sabem que os

Ex-marxistas convertidos à ecologia declaram apressadamente “adeus à classe operária” (André Gorz), enquanto outros autores (Alain Lipietz) insistem

na

necessidade

de

abandonar

o

incompatíveis

com

as

exigências

de

trabalhadores e suas organizações são uma força essencial para uma transformação radical do sistema e para a construção de uma nova sociedade socialista e ecológica.

“vermelho” – isto é, o marxismo ou o socialismo

Essa corrente está longe de ser politicamente

– para aderir ao “verde”, novo paradigma que

homogênea,

mas

a

maior

parte

de

seus


representantes

compartilha

alguns

temas.

Rompendo com a ideologia produtivista do

e agravamento da desigualdade entre o Norte e o Sul;

progresso – em sua forma capitalista e/ou burocrática – e oposta à expansão ao infinito de um modo de produção e consumo destruidor da natureza,

o

ecossocialismo

tentativa

original

de

representa

articular

as

uma ideias

fundamentais do socialismo marxista com as contribuições da crítica ecológica.

2) de qualquer maneira, a continuidade do “progresso” capitalista e a expansão da civilização fundada na economia de mercado – até mesmo sob esta forma brutalmente desigual – ameaça diretamente, a médio prazo (toda previsão seria arriscada), a própria sobrevivência da espécie humana, em especial por causa das consequências catastróficas da mudança climática. A racionalidade limitada do mercado capitalista, com seu cálculo imediatista das perdas e lucros, é intrinsecamente

contraditória

com

uma

racionalidade ecológica, que leve em conta a temporalidade longa dos ciclos naturais. Não se trata de opor os “maus” capitalistas ecocidas aos “bons” capitalistas verdes: é o próprio

sistema,

fundado

na

competição

impiedosa, nas exigências de rentabilidade, na O raciocínio ecossocialista se apoia em dois argumentos essenciais:

corrida pelo lucro rápido, que é destruidor dos equilíbrios naturais. O pretenso capitalismo verde não passa de uma manobra publicitária, uma

1) o modo de produção e consumo atual dos

etiqueta buscando vender uma mercadoria, ou, no

países capitalistas avançados, fundado sobre uma

melhor dos casos, uma iniciativa local equivalente

lógica de acumulação ilimitada (do capital, dos

a uma gota-d’água sobre o solo árido do deserto

lucros, das mercadorias), desperdício de recursos,

capitalista.

consumo ostentatório e destruição acelerada do meio ambiente, não pode de forma alguma ser estendido para o conjunto do planeta, sob pena de uma crise ecológica maior. Segundo cálculos recentes, se o consumo médio de energia dos EUA fosse generalizado para o conjunto da população mundial, as reservas conhecidas de petróleo seriam esgotadas em 19 dias. Esse sistema está, portanto, necessariamente fundado na manutenção

Contra

o

fetichismo

autonomização

reificada

da

mercadoria

da

e

economia

a

pelo

neoliberalismo, o que está em jogo no futuro para os ecossocialistas é pôr em prática uma “economia moral” no sentido dado por Edward P. Thompson a este termo, isto é, uma política econômica fundada

em

critérios

extraeconômicos:

em

não

monetários

e

outras

palavras,

a


reconciliação do econômico no ecológico, no

favorável aos transportes coletivos é importante;

social e no político.

não somente porque retarda a corrida em direção ao abismo, mas porque permite às pessoas, aos

As reformas parciais são totalmente insuficientes: é preciso substituir a microrracionalidade do lucro pela macrorracionalidade social e ecológica, algo que exige uma verdadeira mudança de civilização . Isso é impossível sem uma profunda reorientação

trabalhadores, aos indivíduos se organizar, lutar e tomar consciência do que está em jogo nesse combate, de compreender, por sua experiência coletiva, a falência do sistema capitalista e a necessidade de uma mudança de civilização.

tecnológica, visando a substituição das fontes atuais de energia por outras não poluentes e renováveis, como a eólica ou solar . A primeira questão colocada é, portanto, a do controle sobre os meios de produção e, principalmente, sobre as decisões

de

investimento

e

transformação

tecnológica, que devem ser arrancados dos bancos e empresas capitalistas para tornarem-se um bem comum da sociedade. Certamente, a mudança radical se relaciona não só com a produção, mas também com o consumo.

É nesse espírito que as forças mais ativas da

Entretanto, o problema da civilização burguês-

ecologia estão engajadas, desde o início, no

industrial não é – como muitas vezes os

movimento altermundialista. Tal engajamento

ecologistas argumentam – “o consumo excessivo”

corresponde à tomada de consciência de que os

pela população e a solução não é uma “limitação”

grandes embates da crise ecológica são planetários

geral

e, portanto, só podem ser enfrentados por uma

do

consumo,

sobretudo

nos

países

capitalistas avançados. É o tipo de consumo atual,

démarche

fundado na ostentação, no desperdício, na

supranacional,

alienação mercantil, na obsessão acumuladora,

altermundialista é sem dúvida o mais importante

que deve ser colocado em questão.

fenômeno de resistência antisistêmica do início do

Ecologia e altermundialismo Sim, nos responderão, é simpática essa utopia, mas por enquanto é preciso ficar de braços cruzados? Certamente não! É preciso lutar por cada avanço, cada medida de regulamentação, cada ação de defesa do meio ambiente. Cada quilômetro de estrada bloqueado, cada medida

resolutamente mundial.

cosmopolítica, O

movimento

século XXI. Essa vasta nebulosa, espécie de “movimento dos movimentos” que se manifesta de forma visível nos Fóruns Sociais – regionais e mundiais – e nas grandes manifestações de protesto – contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G8 ou a guerra imperial no Iraque – não corresponde às formas habituais de ação social ou política.


Ampla rede descentralizada, ele é múltiplo,

instituições: o FMI, o Banco Mundial, a OMC, o

diverso e heterogêneo, associando sindicatos

G8; 2) um conjunto de medidas concretas,

operários e movimentos camponeses, ONGs e

propostas passíveis de serem imediatamente

organizações indígenas, movimentos de mulheres

realizadas: a taxação dos capitais financeiros, a

e associações ecológicas, intelectuais e jovens

supressão da dívida do Terceiro Mundo, o fim das

ativistas. Longe de ser uma fraqueza, essa

guerras imperialistas; 3) a utopia de um “outro

pluralidade é uma das fontes da força, crescente e

mundo possível”, fundado sobre valores comuns

expansiva, do movimento.

como liberdade, democracia participativa, justiça social e defesa do meio ambiente.

Pode-se afirmar que o ato de nascimento do altermundialismo foi a grande manifestação

A dimensão ecológica está presente nesses três

popular que fez fracassar a reunião da OMC em

momentos: ela inspira tanto a revolta contra um

Seattle, em 1999. A cabeça visível desse combate

sistema que conduz a humanidade a um trágico

era a convergência surpreendente de duas forças:

impasse, quanto um conjunto de propostas

turtles and teamsters, ecologistas vestidos de

precisas – moratória sobre os OGMs (Organismos

tartarugas (espécie ameaçada de extinção) e

Geneticamente Modificados), desenvolvimento de

sindicalistas do setor de transportes. Portanto, a

transportes coletivos gratuitos –, bem como a

questão ecológica estava presente, desde o início,

utopia de uma sociedade vivendo em harmonia

no coração das mobilizações contra a globalização

com os ecossistemas, esboçada pelos documentos

capitalista neoliberal. A palavra de ordem central

do movimento. Isso não quer dizer que não

desse movimento,

existam contradições, fruto tanto da resistência de

“o

mundo

não

é uma

mercadoria”, visa também, evidentemente, o ar, a

setores

do

sindicalismo

às

reivindicações

água, a terra, isto é, o ambiente natural, cada vez

ecológicas, percebidas como uma “ameaça ao

mais submetido aos ditames do capital.

emprego”, quanto da natureza míope e pouco social de algumas organizações ecológicas. Mas uma das características mais positivas dos Fóruns Sociais, e do altermundialismo em seu conjunto, é a possibilidade do encontro, debate, diálogo e da aprendizagem recíproca de diferentes tipos de movimentos. É preciso acrescentar que o próprio movimento ecológico está longe de ser homogêneo: é muito diverso e contem um espectro que vai desde ONGs moderadas habituadas ao lobby como

Podemos

afirmar

que

o

altermundialismo

forma de pressão, até os movimentos combativos

comporta três momentos: 1) o protesto radical

inseridos num trabalho de base militante; da

contra a ordem existente e suas sinistras

gestão “realista” do Estado (no nível local ou


nacional) às lutas que colocam em questão a

aniversário do movimento, no Rio de Janeiro em

lógica do sistema; da correção dos “excessos” da

2005, o documento dos organizadores declarava:

economia de mercado às iniciativas de orientação

nosso sonho de “um mundo igualitário, que

ecossocialista.

socialize as riquezas materiais e culturais”, um novo caminho para a sociedade, “fundado na

Essa heterogeneidade caracteriza, diga-se de passagem, todo o movimento altermundialista, mesmo

com

sensibilidade

a

predominância

anticapitalista,

de

igualdade entre os seres humanos e nos princípios ecológicos”.

uma

sobretudo

na

América Latina. É a razão pela qual o Fórum Social Mundial, precioso lugar de encontro – como explica tão bem nosso amigo Chico Whitaker – onde diferentes iniciativas podem fincar raízes, não pode se tornar um movimento sociopolítico

estruturado,

com

uma

“linha”

comum, resoluções adotadas por maioria etc. É importante sublinhar que a presença da ecologia no “movimento dos movimentos” não se limita às

Isto se traduziu nas ações – por diversas vezes à

organizações ecológicas – Greenpeace, WWF,

margem da “legalidade” – do MST contra os

entre outras. Ela se torna cada vez mais uma

OGMs, o que é tanto um combate contra a

dimensão levada em conta, na ação e reflexão, por

tentativa

diferentes

camponeses,

Syngenta – de controlar totalmente as sementes,

indígenas, feministas, religiosos (Teologia da

submetendo os camponeses à sua dominação,

Libertação).

como uma luta contra um fator de poluição e

movimentos

sociais,

Um exemplo impressionante dessa integração “orgânica” das questões ecológicas por outros movimentos é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que, com seus camaradas da rede internacional Via Campesina, é um dos pilares do Fórum Social Mundial e do movimento altermundialista. Hostil desde sua origem ao capitalismo e sua expressão rural, o agronegócio, o MST integrou cada vez mais a dimensão ecológica no seu combate por uma reforma agrária radical e um outro modelo de agricultura. Durante a celebração do vigésimo

das

multinacionais

Monsanto,

contaminação incontrolável do campo. Assim, graças a uma ocupação “selvagem”, o MST obteve em 2006 a expropriação do campo de milho e soja transgênicos da Syngenta Seeds no Estado do Paraná, que se tornou o assentamento camponês Terra Livre. É preciso mencionar também seu enfrentamento às multinacionais de celulose que multiplicam, sobre centenas de milhares

de

hectares,

verdadeiros

“desertos

verdes”, florestas de eucaliptos (monocultura) que secam todas as fontes d’água e destroem toda a biodiversidade. Esses combates são inseparáveis,


para os quadros e ativistas do MST, de uma

tinha dúvidas, a incapacidade de governos à

perspectiva anticapitalista radical.

serviço dos interesses do capital em enfrentar o problema. Em vez de um acordo internacional

As cooperativas agrícolas do MST desenvolvem, cada vez mais, uma agricultura biologicamente preocupada com a biodiversidade e com o meio ambiente em geral, constituindo assim exemplos concretos de uma forma de produção alternativa. Em julho de 2007, o MST e seus parceiros do movimento Via Campesina organizaram em Curitiba uma Jornada de Agroecologia, com a presença de centenas de delegados, engenheiros agrônomos, universitários e teólogos da libertação

obrigatório,

com

reduções

substanciais

de

emissões de gazes com efeito estufa nos países industrializados – um mínimo de 40% seria necessário – seguida de medidas mais modestas nos países emergentes (China, Índia, Brasil), os Estados Unidos impuseram, com o apoio da Europa e a cumplicidade da China, uma “declaração” completamente vazia, que faz senão reiterar o óbvio : precisamos impedir que a temperatura do planeta suba mais de 2°C.

(Leonardo Boff, Frei Betto). A única esperança é o movimento social, Naturalmente, essas experiências de luta não se limitam ao Brasil, sendo encontradas sob formas diferentes em muitos outros países, não apenas no Terceiro Mundo, constituindo-se numa parte significativa

do

arsenal

combativo

do

altermundialismo e da nova cultura cosmopolítica da qual ele é um dos portadores.

altermundialista e ecológico, que se expressou em Copenhagen numa grande manifestação de rua – 100 mil pessoas – com o apoio de Evo Morales, cujas

declarações

anticapitalistas

sem

ambiguidades foram uma das poucas expressões criticas na conferencia “oficial”. Os manifestantes, assim como o Fórum alternativo KlimaForum, levantaram a palavra de ordem “Mudemos o sistema, não o clima!” Evo Morales convocou um encontro de governos progressistas e movimentos sociais em Cochabamba (abril de 2010) com o objetivo de organizar a luta para salvar a MãeTerra, a Pacha-Mama, da destruição capitalista. *Michael

Löwy

é

um

pensador

marxista,

professor de sociologia, nascido em São Paulo e radicado na França ***

Artigo originalmente publicado na websfera em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materia

O fracasso retumbante da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, de dezembro de 2009, confirma mais uma vez, para quem ainda

Mostrar.cfm?materia_id=16632


NUNCA CONFIEI EM CAPITALISTAS, TAMPOUCO EM HUMANISTAS E SOCIALISTAS QUE NÃO ENXERGAM PARA ALÉM DE SUAS ESPÉCIES Tempos atrás estava na parada em frente minha casa esperando o C2 (ônibus) passar, do outro lado da via uma jovem alimentava um cão de rua,

fator mutável, pode-se mudar os números das variáveis. Mas e as variáveis?

ao meu lado um senhor murmurou: “em vez dela alimentar uma criança”, retruquei: “quem tem

A vida num sentido amplo é bem mais complexa

preocupação com outras espécies provavelmente

que números variáveis de desenvolvimento e

tem mais sensibilidade com seus iguais que

crescimento, equilíbrio no acesso a bens e direitos

aqueles indiferentes com os animais”, a conversa

na democracia, a abundância a todos(as) poderá

ficou por ai. Nunca confiei em capitalistas, mas

não demonstrar-se uma equação sustentável,

também não em humanistas e socialistas que não

geradora de felicidade e consciência inter-

enxergam para além de suas espécies.

espécies.

Ainda

assim

uma

possibilidade

(limitada) no horizonte das capacidades e lutas humanas contemporâneas. Viveiros de Castro diz que “a suficiência é uma relação mais livre que a necessidade”, mas ainda não entendemos isso. Mas e as espécies que não contam com a possibilidade de insurgência. Intermináveis cidades materializam-se em frente a inúmeras animais que não encontram nela espaço para viver, o que podem esses fazer? Fora das A desigualdade social entre os humanos (na

áreas

urbanas

indústrias

definidas

como

moderna democracia) é definida por “n” variáveis

agronegócio são erguidas, cercadas, higienizadas

econômicas, políticas e culturais que determinam

para tirar do solo e da vida ali confinada o

o papel de cada um na vida em sociedade,

máximo possível. O que os seres vivos não

definindo o que cada um contribui e recebe do (e

humanos podem fazer?

no) todo social. A divisão de classe é um dado incontestável que assemelha-se as concepções de Castas da antiga Índia, a diferença é que se na sociedade de castas (antiga) a posição era definitiva, na democracia esta garantido o ambiente de insurgência, rebeldia e luta social dos marginalizados(as). A realidade social é assim um

O cão e a jovem (1º parágrafo) tratam disso, tratam dessa percepção e necessidade que uma sociedade deveria (deverá) gerar respostas para todas as espécies, porém a dialética de uma nova sociedade geradora de novos homens e mulheres precisa ter esses novos (as) para brotar, um


“novo” não nascera com os “atrasados”. A construção não é apenas de uma nova sociedade, mas também de homens e mulheres em suas individualidades, que geram respostas concretas e práticas para aqueles que não tem a luta social como possibilidade, aos animais vem restando apenas a auto-defesa da vida física, carregam inconscientes uma tarjeta na testa de mais um “recurso natural”. Até quando? (Lucio Uberdan). Fonte: http://www.brasilautogestionario.org/

PROTESTE: NÃO PERMITA QUE DINHEIROS DA EU SEJAM USADOS PARA PAGAR AS TOURADAS DAS SANJOANINAS

e cópia para: acoresmelhores@gmail.com Exmo Senhor Comissário da Agricultura e Desenvolvimento Rural (c/c ao Presidente do Governo Regional dos Açores e à Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heróismo) Como é do conhecimento público, a Câmara Fonte: http://carlesmarco.blogspot.com/2010/05/bellezaestetica-arte-y-cultura.html

Municipal de Angra do Heroísmo (ou a empresa Municipal Culturangra) possui uma dívida que ascende a mais de 1,5 milhões de euros, a maior

Envie mails de protesto, com o texto abaixo ou outro que achar mais adequado para o seguinte endereço:

parte desta quantia destinada ao pagamento das

dacian.ciolos@ec.europa.eu

anos aquando das Sanjoaninas.

com conhecimento a:

Recentemente a comunicação social dos Açores

roger.waite@ec.europa.eu, angra@cm-ah.pt, presidencia@azores.gov.pt

informou que a próxima feira taurina, a ocorrer

touradas de praça que se têm realizado nos últimos

em Junho, irá custar cerca de 380 mil euros, sendo


os prejuízos, com a mesma, avaliados em cerca 149 mil euros.

Frederico Lopes (João Ilhéu e as Touradas)

Através de notícia do Diário Insular, do passado dia 20 de Maio, foi divulgada a intenção da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo de recorrer a fundos europeus para suportar os prejuízos. Vimos, junto de V. Exª denunciar esta situação e solicitar a intervenção de V. Exª. No sentido de impedir que as touradas inseridas na referida feira taurina ou outras sejam financiadas com fundos europeus, nomeadamente do programa LIDER, em nome de um pretenso desenvolvimento rural. Com os melhores cumprimentos (Nome) (Localidade para os residentes em Portugal ou País)

Fonte: http://www.bparah.azores.gov.pt/IMAGENS/Frederi coLopesJr3smll.jpg “Estes divertimentos tinham muito de barbarismo, pois as rezes eram espicaçadas com fortes aguilhões usados nas extremidades dos varapaus (bordões) de que quase todos os homens iam munidos para sua defesa. “Corridas trauliteiras ou touradas de pau e corda” lhes chamou José Pedro do Carmo no seu livro “Touros”, após ter transcrito parte da descrição que delas faz Maximiliano de Azevedo em “Histórias das Ilhas”. Alfredo da Silva Sampaio, na “Memória sobre a ilha Terceira” também se insurge contra tais barbarismos (pág. 360). Felizmente, essas práticas forma postas de lado, para o que muito concorreram as restrições legais impostas ao uso do aguilhão, não só pelas razões apontadas, mas ainda pelo dano causado nas peles destinadas à cortimenta. A Reforma das Posturas do Concelho de Angra em 1655, insere já várias disposições relativas à repressão desses abusos, nomeadamente a nº 21 que diz: “ enhuma pessoa traga consigo aguilhada que passe o aguilhão de uma polegada, e quem a trouxer pagará de couma outo sentos reis”. Hoje, graças à legislação em vigor, pode bem dizerse que as touradas à corda são muito mais humanas que as de praça, onde continua o uso das bandarilhas e do estoque.” (página 329)


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