Antero de Quental

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Teรณfilo Soares de Braga

ANTERO DE QUENTAL

Pico da Pedra, 20 de julho de 2018

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ANTERO DE QUENTAL, ESSE DESCONHECIDO «Não é lisonjeando o mau gosto e as péssimas ideias das maiorias, indo atrás delas, tomando por guia a ignorância e a vulgaridade, que se hão-de produzir as ideias, as ciências, as crenças, os sentimentos de que a humanidade contemporânea precisa» Antero de Quental Foi através da minha professora de Português no Externato de Vila Franca, Laura de Araújo Pimentel, que pela primeira vez ouvi falar em Antero de Quental. Mais tarde, logo depois do 25 de Abril de 1974, tive a oportunidade de ler o livro “O Socialismo de Antero”, de Ângelo Raposo Marques, que me foi oferecido pelo emigrante nos Estados Unidos da América, natural da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, Manuel de Amaral Brum. Mas quem foi Antero de Quental? Que aspetos da sua vida são menos conhecidos? Antero de Quental, o Santo Antero, é conhecido pela maior parte das pessoas como um grande poeta português, mas é quase ignorado, pelo menos pelo cidadão comum, o seu talento como ensaísta e a sua experiência de trabalho como operário. Aos vinte e quatro anos, Antero de Quental, que nasceu em Ponta Delgada, foi viver para Lisboa onde trabalhou como tipógrafo, tendo também exercido a mesma profissão em Paris, em janeiro e fevereiro de 1867. Em alguns ensaios, Antero de Quental, tal como outros seus companheiros da chamada geração de 70, denunciou as taras da classe dirigente e da igreja portuguesa do seu tempo. De acordo com Raposo Marques, Antero, que distinguia o cristianismo que vivia “da fé e da inspiração” do catolicismo que vivia do “dogma e da disciplina”, era tal como Proudhon, apologista do “ateísmo social que quer reconstruir o “mundo humano sobre as bases eternas da Justiça, da Razão e da Verdade”, com exclusão dos Deuses e das religiões “inúteis e ilusórias”; e adepto da “anarquia individual que exclui dessa “reconstrução”, “os reis, e os governos tirânicos”. Quase desconhecida, pelo menos pelas gerações mais novas, é a sua ligação ao socialismo, que nada tem a ver com a adulteração do mesmo pelos partidos políticos atuais. Antero de Quental foi, segundo alguns, o primeiro tradutor de Proudhon em português e um dos fundadores do primeiro núcleo da AIT- Associação Internacional dos Trabalhadores, em Portugal. 2


A propósito de partidos, vejamos o que diz Antero num texto intitulado “A indiferença em política”: “Um partido é sempre uma memória que pugna por um interesse particular; um povo, a maioria que caminha nas vias do interesse geral. Já daqui vedes que entre um partido e um povo pouco pode haver de comum. A nação segue a bandeira nacional; o partido a bandeira da sua cor.” No que diz respeito à AIT, Antero de Quental foi o autor de um opúsculo intitulado “O que é A Internacional?”, que foi publicado em 1871. Nessa publicação escreve Antero, a dado passo: “O programa político das classes trabalhadoras, segundo o Socialismo, cifra-se em uma só palavra: abstenção. Deixemos que esse mundo velho se desorganize, apodreça, se esfacele, por si, pelo efeito do vírus interior que o mina. No dia da decomposição final, nós cá estaremos então, com a nossa energia e virtude conservadas puras e vivas longe dos focos de infeção desta sociedade condenada.” A leitura do livro, de Gabriel Rui Silva, “ Manuel Ribeiro, o romance da fé” sobre a vida e a obra de Manuel Ribeiro (1878-1941), o autor mais lido na década de vinte do século passado que, depois de ter sido fundador do Partido Comunista Português converteu-se ao catolicismo, tendo em algumas das suas obras procurado uma aliança entre católicos e comunistas, despertou-me a atenção para a coerência que muitas vezes não existe entre o que se diz e o que se faz. Para Gabriel Silva, falando na geração de 70, “muitos daqueles que pretendiam limpar o mundo pela afirmação moral, não deixam, neste capítulo, de mostrar uma ambiguidade que pouco tem a ver com o escrúpulo de Antero”. Ainda sobre o assunto, aquele autor, considerando sempre que Antero foi exceção, menciona o facto de uma geração que foi de “socialistas, ferozmente aguerridos face ao poder e à presença clerical…arautos exemplares do novo que avança e da degenerescência ou decadência nacionais, cosmopolitas da tradição da sátira e do maldizer …se transformam em monárquicos, católicos e nacionalistas depois de jantados e Vencidos da Vida.”

(Correio dos Açores, 26 de setembro de 2012) 3


ANTERO DE QUENTAL IA À TERCEIRA PARA VER TOURADAS? O senhor Francisco Coelho, que já foi presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, num texto intitulado “Sanjoaninas”, publicado no jornal Açoriano Oriental, no passado dia 30 de junho, escreveu o seguinte: “De referir também, a receção efusiva, agradecida e alegre com que os angrenses, uma vez mais, receberam as três marchas de S. Miguel, um hábito que já não se dispensa e que começa a ser encarado como presença obrigatória. Com alegria e divertimentos mútuos, numa manifestação natural e espontânea da unidade do povo açoriano. Pois se no Séc. XIX já Antero vinha à Terceira ver touradas…”

Não discutindo aqui gostos, por mais bizarros que eles sejam, como no caso em apreço pela tourada, que de acordo com Peter Singer “é um anacronismo, um resquício do passado, de uma era mais bruta, cruel e bárbara, poder-se-ia dizer, quando as pessoas se deleitavam assistindo ao sofrimento dos animais”, a afirmação de que “no Séc. XIX já Antero vinha à Terceira ver touradas…” se não for devidamente comprovada é no mínimo abusiva.

Do que já li de e sobre Antero de Quental até ao momento apenas tenho conhecimento de uma sua deslocação à ilha Terceira a 22 de junho de 1874 para consultas de homeopatia com um médico local, tendo regressado a São Miguel a 26 de agosto do referido ano.

Antero de Quental esteve na Terceira em 1874, ano em que a sua doença atingiu proporções assustadoras, privando-o de movimentos e incapacitando-o de fazer qualquer esforço. Se Antero foi ou não a touradas desconheço. Se gostava ou não de touradas também desconheço. Mas uma coisa é ir a uma tourada, outra coisa, muito diferente é ter interesse por elas ou mesmo gostar das mesmas.

Na sua ânsia de as divulgar, os aficionados terceirenses tudo fazem para que qualquer visitante vá assistir a touradas, quer de praça quer à corda. A título de exemplo, posso referir o caso de Alice Moderno que as odiava e que era “forçada” a lá ir para não ser antipática com os seus amigos.

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Sobre as touradas Alice Moderno escreveu: “E esta fera [touro], pobre animal, também, foi arrancada ao sossego do seu pasto, para ir servir de divertimento a uma multidão ociosa e cruel, em cujo número me incluo! (…) Entrará assim em várias toiradas, em que será barbaramente farpeada até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se, arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere. Depois de reconhecida como matreira, tornada velhaca pelo convívio do homem, será mutilada”. Eu mesmo, quando vivi na Terceira fui a algumas touradas à corda a convite de amigos e colegas de trabalho e a uma de praça de onde saí horrorizado com a malvadez a que assisti.

Nos escritos de Antero de Quental ainda não encontrei qualquer apologia das touradas ou mesmo qualquer referência às mesmas. Paulo Borges, professor da Universidade de Lisboa, que tem estudado com profundidade a sua vida e obra, questionado por mim sobre o assunto escreveu: “não me recordo de qualquer texto onde ele mostre esse interesse. Pelo contrário, tudo o que sei dele, incluindo o amor que na sua poesia expressa pelos animais e por todas as formas de vida, deixam-me convicto que as touradas lhe repugnariam absolutamente”.

Invocar nomes de grandes vultos das ciências e das letras que foram fervorosos adeptos da tauromaquia é um dos argumentos mais usados para convencer os mais distraídos. Contudo, este argumento é facilmente rebatido pois existem outros tantos que consideram as touradas um espetáculo absurdo e horroroso.

No caso presente, só se poderá afirmar que Antero ia à Terceira ver touradas se o mesmo o fizesse com frequência e se as idas à referida ilha tivessem como objetivo principal assistir às mesmas. Continuo à procura de provas…

(Correio dos Açores, nº 2841, 10 de julho de 2013, p.13)

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ANTERO DE QUENTAL E O PRIMEIRO DE MAIO EM SÃO MIGUEL

Como tive a oportunidade de escrever num número anterior do Correio dos Açores, a primeira comemoração do dia do trabalhador, na ilha de São Miguel, terá ocorrido no ano de 1897, por iniciativa de Alfredo da Câmara.

No ano seguinte, voltou a comemorar-se a data, constando do vasto programa um cortejo para visita aos túmulos de Antero de Quental e de José Pereira Botelho, “grandes propagadores das ideias socialistas”, o qual não se realizou devido ao mau tempo.

As comemorações do 1º de maio realizadas entre 1897 e 1904, promovidas pelo jornal O Repórter e por Alfredo da Câmara, foram alvo de dura critica por parte dos responsáveis do jornal “Vida Nova que as classificaram como “pseudas e irrisórias festas do trabalho” e o seu organizador alvo de censura por ser “um ferrenho influente eleitoral do partido regenerador” que “não podia continuar à frente deste movimento com o pseudónimo sempre falso de socialista, defendendo as 8 horas de trabalho que ele próprio não compreendia nem podia falar sobre tal assunto”.

Em 1905, Francisco Soares Silva e os restantes colaboradores do Vida Nova, organizaram um primeiro de maio semelhante ao que então se fazia em Lisboa com alguns carros alegóricos devidamente ornamentados. A iniciativa não se repetiu em anos posteriores porque era muito dispendioso contratar filarmónicas de fora de Ponta Delgada pois “as da cidade, compostas dos nossos camaradas não queriam acompanhar-nos”.

Em 1908, os responsáveis do Vida Nova cientes de que não eram com festas que se resolviam os problemas sociais optaram, por um lado, por apelar aos operários micaelenses para se unirem, “criando as suas associações sindicais, abrindo escolas para se educarem, e então, unidos em um só pensamento e firmes numa só ideia, conquistarem uma Vida Nova e uma Sociedade Nova onde não se cometam infâmias e crimes como os de Chicago, em 11 de novembro de 1887” e, por outro lado, não esquecer a data, organizando uma romagem ao túmulo de Antero de Quental e uma conferência.

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Assim, no dia mencionado realizou-se uma marcha que se iniciou na rua do Gaspar até ao cemitério, onde foi depositada uma “coroa de flores sobre o túmulo do primeiro filósofo português, do poeta dos sonetos, do socialista imaculado e do livre-pensador Antero de Quental”.

Na ocasião, Francisco Soares Silva, junto ao túmulo de Antero, pronunciou um discurso, onde depois de mencionar alguns aspetos da vida do escritor, como o de ter trabalhado como operário e de afirmar que, por isso, “Antero conhecia como nenhum outro escritor a vida desgraçada do operariado” terminou dizendo o seguinte: “Antero viveu com o povo e morreu com o povo. Por isso os homens que defendem com tanto amor e lealdade as vítimas do trabalho, só têm jus às nossas sinceras homenagens e a que lhes desfolhemos flores sobre as suas campas”.

À noite, houve uma muito concorrida conferência na escola União dos Operários a que se seguiu um momento musical que contou com a colaboração de Gabriel de Sousa que tocou bandolim e Mariano Medeiros que tocou violão. Na conferência falou Francisco Soares Silva que pediu a união de todos os operários e apelou a “que frequentassem aquela escola a fim de se instruírem e serem operários, agradecendo a todos os que cooperaram para o bom êxito da manifestação”. No ano seguinte, Francisco Soares Silva, em texto publicado no Vida Nova, volta a lembrar que “no 1º de maio nenhum operário deve trabalhar”, sendo um dia de “recordações e de luta”. Insiste que no referido dia “nada de festas, nada de músicas, isso só serve para distrair e para nos iludir”. No mesmo texto, dá a conhecer que “ao meio dia partiremos silenciosamente para o cemitério a desfolhar sobre a campa de Antero de Quental, o poeta dos sonetos, o orador eloquente das conferências do casino de Lisboa, o espírito revolucionário e finalmente o operário tipógrafo” e que “haverá duas pequenas alusões relativas a Antero e ao dia primeiro de maio”. O discurso sobre Antero foi proferido por João H. Anglin, então “uma criança que apenas conta 14 anos de idade” que “está no segundo ano do liceu e no pouco tempo que lhe resta das suas obrigações, estuda a “grande questão social”, no que convictamente vai abraçando de dia para dia com mais amor e crença o sublime ideal libertário”.

(Correio dos Açores, 30618, 29 de abril de 2015, p.14)

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INSÍGNIAS, PANTEÃO E ANTERO DE QUENTAL Tem surgido na comunicação social e nas redes sociais alguma controvérsia sobre alguns dos nomes indicados para serem distinguidos pela Assembleia Legislativa Regional. Dizem uns que determinadas personalidades tiveram um papel na história recente dos Açores que, independentemente das ideologias ou ideias defendidas, deviam ver o seu mérito ser reconhecido, argumentam outros que há feridas na sociedade açoriana que ainda não estão saradas pelo que alguns nomes deverão aguardar por outros tempos.

Pensamos que o facto de uma determinada personalidade ou instituição não ter sido escolhida pelo parlamento açoriano pouco significado tem, atendendo a que aquela “obrigação” anual já se banalizou de tal modo que muito haveria a dizer sobre os ou alguns dos escolhidos.

Por outro lado, que importância tem determinada pessoa, normalmente a título póstumo, ou instituição estar entre os eleitos pelo consenso dos deputados quando o que ela sempre defendeu em vida é espezinhado diariamente pela maioria daqueles?

Sobre os reconhecimentos feitos pelas mais diversas instituições, oficiais ou outras, a seguinte frase de Mark Twain não precisa de mais comentários: “É melhor merecer honrarias e não recebê-las do que recebê-las sem as merecer.”

A nível nacional, a situação não difere da que acontece nos Açores, aliás alguns açorianos são bons a copiar o que de mal feito se faz noutras paragens, de tal modo que muitos são os escolhidos e muitos mais são os ignorados pelos detentores do poder que sobretudo não perdoam a quem tem uma vida independente, não se curvando perante os diversos grupos de pressão e interesses instalados.

Em Portugal continental, há a acrescentar a moda das idas dos restos mortais para o Panteão Nacional que a mim pouco diz.

O mais recente caso, que levantou alguma, pouca, polémica foi o do futebolista Eusébio da Silva Ferreira, cuja ida para o Panteão foi aprovada por unanimidade na Assembleia da República. Quanto a mim, embora preferisse que Eusébio estivesse ainda entre nós, 8


mas ninguém pode contrariar a lei da vida, o seu verdadeiro panteão é o Estádio da Luz e todos os estádios, campos, ruas, canadas, etc., onde esteja alguém a praticar futebol.

No que respeita a Antero de Quental, em 1921, o jornal Correio dos Açores deu voz a várias personalidades que se manifestaram contra a trasladação das cinzas de Antero de Quental para o panteão.

Humberto de Bettencourt, no dia 20 de fevereiro de 1921, depois de referir a existência de uma comissão para tratar da “trasladação solene das cinzas d’Antero de Quental para o Panteon dos Jerónimos, a realizar em abril próximo, na data aniversaria do nascimento do Poeta”, a dado passo do seu artigo pede à referida comissão para desistir do seu intento e termina-o com as seguintes palavras: “As cinzas do grande Poeta são um inestimável tesouro para nós. Queremo-las aqui sempre connosco, como objecto d’enternecida veneração e acendrado culto, e não sairão d’esta Ilha sem o meu mais veemente protesto”.

Sobre o mesmo assunto, Luís Ribeiro, a 1 de maio do mencionado ano, escreveu o seguinte: “mas não me sofre o ânimo vê-lo assim levar para longe de nós, para o confuso turbilhão da capital, em obediência ao prurido centralistas de riquezas e glórias, que encerra na prisão dourada das Janelas Verdes os nossos melhores tesouros artísticos, espalhados por toda a parte, nas poeirentas gavetas da Torre do Tombo os documentos históricos das mais distantes localidades, ou na nave sumptuosa dos Jerónimos as carcaças dos nossos homens”.

Numa carta dirigida a Aristides da Mota, publicada no Correio dos Açores a 19 de junho do mesmo ano, o Dr. Luís de Magalhães escreveu o seguinte: “Não Micaelenses, não deixeis que vos despojem disso que é legitimamente vosso, d’esses restos que foram um legado da grande alma que outrora os animou. Defendei a última vontade do vosso ilustre patrício. Está onde queria estar”.

Venerado na Primeira República, idolatrada pelo menos uma parte da sua obra no Estado Novo, Antero de Quental quase caia no esquecimento não fosse a recente exposição "Antero- para além dos sonetos", louvável iniciativa da Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira da Lagoa.

(Correio dos Açores, 30623, 6 de maio de 2015, p.19) 9


ANTERO DE QUENTAL E O SEU ATIVISMO SOCIALISTA

Antero de Quental (1842-1891) muito conhecido, entre nós, sobretudo pela sua poesia, sendo considerado um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos, esteve ligado ao movimento socialista, tendo pertencido a várias organizações de tendência socialista e ao Partido Socialista, o qual nada tem a ver com as várias organizações socialistas que surgiram durante o Estado Novo nem com o atual partido que ostenta o mesmo nome.

Antero de Quental pertenceu ao Centro Promotor - Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, fundado em 1852, e onde coabitavam liberais, republicanos, socialistas e maçons. Em 1872, o Centro Promotor opta pelo socialismo, tendo publicado um manifesto onde “aconselha os trabalhadores dos campos e das cidades que se abracem fraternalmente e que se constituam numa sociedade nacional como solidariedade das classes; que se formem cooperativas de consumo e de produção; que se ilustrem pelo trabalho e desenvolvimento da inteligência; que se regenerem pela sua economia e pelos seus próprios esforços, fundando a iniciativa na moral, na verdade e na justiça”.

Entre os pontos constantes do novo Programa do Centro Promotor, destacamos os seguintes: a- Suspensão do exército permanente e a sua substituição pelo armamento geral da população; b- Ensino primário gratuito e obrigatório; c- Expropriação dos terrenos incultos e sua integração nos municípios que serão obrigados a cultiva-los e a empregar os produtos em utilidade pública; d- Troca de serviços e produtos entre sociedades, evitando-se nela o uso da moeda.

Com o desaparecimento do Centro Promotor, em 1872, surgem a APTN- Associação Promotora do Trabalho Nacional e a Fraternidade Operária, duas organizações de que Antero de Quental foi um dos fundadores. De acordo com os seus estatutos, os fins da Fraternidade Operária eram “socorrer-se e auxiliar-se criando para isso, por meio de quotização, um fundo monetário” e “tratar, 10


por meio da cooperação, dos desenvolvimentos intelectuais e morais das classes operárias”.

Antero de Quental esteve também ligado à secção Portuguesa da AIT- Associação Internacional dos Trabalhadores, que teve como primeiro secretário José Nobre França, tendo sido da sua autoria do opúsculo “O que é a Internacional”, cuja primeira edição foi da Typographia do Futuro, em 1871, sem indicação do autor.

Ao contrário do que é afirmado por algumas pessoas que insistem que Antero de Quental foi um dos fundadores do Partido Socialista, a sua adesão formal àquele partido, segundo Maria Filomena Mónica e Fernando Catroga, só ocorreu em 1877, dois anos depois da sua fundação. Dos seus principais dirigentes destacaram-se Nobre França que redigiu o primeiro programa do partido e José Fontana, que terá sido um dos principais dinamizadores do movimento operário em Portugal, tendo estado ligado ao Centro Promotor e à Federação de Lisboa da Associação Internacional dos Trabalhadores, tendo posteriormente sido expulso desta organização.

Em 1878, o Partido Socialista muda de nome após fundir-se com as associações sindicais da AIT, passando a designar-se POSP- Partido dos Operários Socialistas de Portugal. Antero de Quental, depois de algum afastamento das associações socialistas, adere ao POSP, tendo sido várias vezes seu candidato a deputado.

Sobre o objetivo da sua participação nas eleições, em 1879. Antero de Quental foi claro quando escreveu: “Não pretendo ser deputado…A candidatura, neste caso, é apenas um pretexto, uma ocasião”.

(Correio dos Açores, 30937, 19 de maio de 2016, p.14)

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JOAQUIM DE ARAÚJO, ALICE MODERNO E ANTERO DE QUENTAL

Joaquim António Araújo e Castro nasceu, em Penafiel, no dia 16 de julho de 1858 e faleceu na Casa de Saúde do Telhal, em Lisboa, a 11 de maio de 1917.

Joaquim de Araújo foi Cônsul de Portugal em Génova, onde exerceu uma atividade cultural de relevo a nível internacional, tendo divulgado em vários países os maiores escritores portugueses, como o Padre António Vieira, Luís de Camões, João de Deus, Almeida Garrett, Eça de Queirós e Antero de Quental. Joaquim de Araújo que, de acordo com Xavier Coutinho, foi um “bibliógrafo, bibliófilo e escritor benemérito” esteve de algum modo ligado aos Açores, através de Alice Moderno e de Antero de Quental.

No que diz respeito a Alice Moderno, Joaquim de Araújo manteve com ela correspondência e foi seu noivo, tendo estado na ilha de São Miguel, de outubro a dezembro de 1893.

De acordo com Ana Maria Almeida Martins, foi Joaquim de Araújo que pediu a Luís de Magalhães, o organizador do livro “Antero de Quental- In Memoriam” que incluísse um texto de Alice Moderno, alegando que “ela pertencia à melhor sociedade micaelense, era amiga da família Quental e carteara-se com Antero”, omitindo a principal razão, o seu noivado com aquela.

Com pequenas inexatidões o contributo de Joaquim de Araújo para o referido livro intitulado “Ensaio de Bibliografia Anteriana” foi, segundo Ana Martins, “um extraordinário trabalho de investigação” e um “subsídio indispensável para o estudo da vida e obra de Antero”.

Antero de Quental, desde muito cedo, conviveu com Joaquim de Araújo, tendo, segundo este, sido uma das pessoas que o confortou aquando da morte do pai, como se pode ler

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numa das cartas dirigidas a Alice Moderno: “Foi ele que me acompanhou na noite da morte de meu Pai, beijando as minhas lágrimas como ninguém as beijará mais.”

Ainda sobre a forte ligação entre os dois, pode ler-se numa carta de Joaquim de Araújo a Teófilo Braga: “…nunca pedi dinheiro emprestado a ninguém senão a Antero, que me emprestou três libras quando eu precisava apenas de duas.”

A notícia da morte de Antero para além de surpreender vários dos seus amigos, deixou alguns deles bastante abalados, como foi o caso de Joaquim de Araújo que em carta a Alice Moderno escreveu: “Quando Antero morreu, eu fiquei numa exasperação extraordinária. Estava eu num hotel no Porto com o J. Dias Ferreira, nessa ocasião; e deixei-o abruptamente. Lembro-me que assobiava ao sair do hotel. Fui à minha pobre casa, de que te falei já. Eu tive sempre um grande espírito económico. Tinha 15 ou 16 libras. Tomei-as e segui num dos comboios: fui a Braga, a Amarante, a Penafiel, a Guimarães. Como a morte do meu grande amigo chocara em toda a parte, todos me falavam do Augusto suicida. Eu fugia. Cheguei a casa quatro dias depois.”

No seu testamento feito em Itália, datado de 24 de agosto de 1903, Joaquim de Araújo voltou a mostrar a sua ligação a Antero. Assim, entre os legatários figuraram Teófilo Braga e Ana Quental, irmã de Antero de Quental. A Teófilo Braga, Joaquim de Araújo deixou “seis volumes dos mais preciosos” que possuía, sendo os restantes para a Biblioteca de São Marcos de Veneza, ficando Ana Quental com todos os seus objetos de prata.

(Correio dos Açores, 31120, 4 de janeiro de 2017, p. 16)

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ANTERO DE QUENTAL; LASSALE E PROUDHON “Os grandes só nos parecem grandes porque estamos de joelhos. Levantemo-nos.” (Proudhon) Antero de Quental, segundo Alberto Sampaio, no período mais “belo da sua vida”, “desprezando altivamente as grandezas e honras oficiais, que com tanta facilidade conseguiria, continua ao lado do povo, combatendo agora pelos seus direitos, pela renovação social que tinha sido e era ainda o seu ideal”. Sobre este período, o próprio Antero de Quental escreveu: “Ao mesmo tempo que conspirava a favor da União Ibérica, fundava com outra mão sociedades operárias e introduzia, adepto de Marx e Engels, em Portugal a Associação Internacional dos Trabalhadores. Fui durante 7 ou 8 anos uma espécie de pequeno Lassale…”

Neste texto, procurarei apresentar algumas ideias de Antero de Quental que normalmente são voluntariamente esquecidas por quem devia ter a obrigação de, querendo dar a conhecer o Maior dos açorianos, não omitir nenhum dos aspetos da sua vida e da sua obra. De relance, também, farei referência a alguns dois vultos que terão sido referência para Antero ou foram por ele mencionados. Embora muitas vezes o seu pensamento seja, por ignorância ou por má-fé, deturpado, não farei qualquer menção a Marx e Engels por serem os mais conhecidos e considerados os pais do socialismo real ou comunismo que deturpados acabaram por não passar de uma miragem.

De acordo com vários autores, o socialismo que Antero de Quental preconizou pouco tinha a ver com o defendido pelos criadores do chamado socialismo científico já referidos, Marx e Engels. Pelo contrário, o próprio Antero de Quental mencionou que foi fortemente influenciado pelo filósofo Pierre-Joseph Proudhon, considerado, por alguns, o fundador do movimento anarquista. João Príncipe, num texto publicado no Jornal “A Batalha”, de novembro-dezembro de 2013, escreve que foi muito grande a influência de Proudhon em Antero de Quental nomeadamente nas Odes Modernas ou no texto de 1871, “O que é a Internacional”.

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De acordo com o referido autor, para Antero de Quental “a questão social era mais importante que a questão política” e na sociedade por ele preconizada era admitida “a propriedade individual e a liberdade de trabalho” e preconizada “a constituição de corporações livres, possuidoras dos instrumentos de trabalho que devem ser postos ao dispor dos seus membros. Estas coletividades entendem-se fraternalmente, concedendose mutuamente crédito, trocam diretamente os produtos, suprimindo os intermediários, estabelecendo federações e um sistema universal de bancos e de circulação e troca (…). Por esta via elimina-se simultaneamente o capitalismo e o Estado…” Sobre o filósofo francês, num texto intitulado “O Socialismo e a moral”, Antero escreveu o seguinte: “O grande Proudhon, depois de 30 anos de trabalho e martírio, desenganado da política das revoluções, chegava finalmente, numa das últimas páginas que escreveu, a esta conclusão: “O mundo só pela moral será libertado e salvo””.

Ferdinand Lassale, referido por Antero de Quental, foi um advogado alemão que se inspirou em Karl Marx e também contatou com Proudhon. Apesar de conhecer bem as ideias de Marx e de ter convivido com ele, o seu pensamento divergia do de Marx, pois era fortemente nacionalista e defendia a ação política para mudar o sistema e não a via revolucionária.

Lassale foi um grande agitador, tendo participado ativamente na revolução alemã de 1848, onde foi preso. Foi, também, um grande organizador do movimento operário alemão, tendo fundado um partido político de orientação socialista.

(Correio dos Açores, 31132, 18 de janeiro de 2017, p. 16)

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OLIVEIRA SAN-BENTO, SOCIALISMO

ANTERO

DE

QUENTAL

E

O

José de Oliveira San-Bento foi um advogado natural da Ribeira Grande que se distinguiu como poeta, jornalista e ativista político. Com o fim da Primeira República aderiu ao Estado Novo, tendo antes sido membro do Partido Republicano Português e do Partido Socialista Português.

Enquanto filiado no Partido Socialista Português, colaborou no seu órgão central, o jornal “O Combate”. O jornal “O Protesto”, órgão e propriedade do Centro Socialista “Antero de Quental”, de Ponta Delgada, dirigido por Augusto César, transcreveu o poema “Bandeira Vermelha” que foi publicado no referido jornal partidário e que damos a conhecer aos leitores do Correio dos Açores:

Bandeira Vermelha AO POVO Ei-los que passam, com a fronte erguida, Carro do triunfo, os vencedores: E vivem lautamente toda a vida E as mulheres atiram-lhes flores!

E passam os vencidos, em seguida, Os escravos, joguetes dos senhores; Pisam-nos os cavalos de corrida, São a rapina, os outros os condutores!

Na vida não há pobres, há vencidos! Sois o número, a força, e só defronte Estão tiranos sobre vós subidos…

Vencidos que passais, erguei a fronte, Altivos, revoltados, redimidos: Vai rasgar-se p’ra vós novo horizonte!... 16


Algum tempo depois, “O Protesto” voltou a referir-se a José Oliveira San-Bento e a transcrever um soneto, incluído no seu livro “Poema do Atlântico”, com o qual o autor “concorreu ao prémio da Liga Micaelense d’Instrução Pública, “Jácome Correia”, obtendo-o assim mais uma vez”. Aqui o reproduzimos:

ANTERO DO QUENTAL Vou, muita vez, à tarde, ao cemitério A ver esse gigante onde repoisa: E as violetas, cheias de Mistério, Falam-me dele, sobre a sua loisa… Ouço-as, atento e triste… e a cada coisa Que elas me dizem, vejo um vulto aéreo Vaguear, por entre as campas onde poisa… Depois, desfaz-se, como um sonho etéreo!

E a alma do Poeta, toda Graça, Suavemente, num sereno adejo, Se esvai em Cor e some-se nas flores…

Murmura um nome a brisa que perpassa, Chamando Antero… e, ao ouvi-lo, ei vejo Crescer, subir a terra dos Açores! Cemitério de São Joaquim – Ponta Delgada, novembro de 1917

Quando escreveu este texto, Oliveira San-Bento já se havia desvinculado do Partido Socialista Português. Com efeito, na nota do jornal “O Protesto”, o autor refere-se a ele como “prezado amigo e ex-camarada” e, sem rancor, congratula-se “com a distinção concedida” e acrescenta o seguinte: “com pesar nosso, desertou das fileiras do P.S.P. onde estava filiado, para o “Integralismo Lusitano”, pesar porque sempre nele reconhecemos testemunhos de boa amizade, sinceridade e provas de lúcida inteligência e talento”.

(Correio dos Açores, 31156, 15 de fevereiro de 2017, p.14) 17


ANTERO DE QUENTAL E O ANARQUISMO

Em 1864 foi criada em Londres a AIT-Associação Internacional dos Trabalhadores no seio da qual existiam diversas tendências socialistas que coexistiram no seu seio durante pouco tempo.

Alguns autores, como César de Oliveira e António Ventura, apontam como a data mais importante para a implantação do anarquismo em Portugal o ano de 1871, quando uma delegação espanhola da AIT, constituída por Anselmo Lorenzo, Francisco Mora e Tomaz Gonzalez Morago, se reuniu em Lisboa com José Fontana, operário nascido na Suíça, mais tarde caixeiro e sócio-gerente da Livraria Bertrand, e o poeta açoriano Antero de Quental.

Depois de um primeiro encontro em casa de Antero de Quental, houve algumas reuniões com outros jovens, entre os quais Jaime Batalha Reis, a bordo de um bote cacilheiro, no rio Tejo. Batalha Reis, depois de lembrar que a ideia do encontro fora de José Fontana que desconfiava que estava a ser seguido pela polícia, escreveu o seguinte: “Nessa mesma noite fomos ao Aterro, o Antero e eu, pagámos a um barqueiro para nos deixar remar sozinhos no seu bote e fizemo-nos ao largo. A uma hora combinada aproximamo-nos dum outro cais onde o José Fontana nos esperava com os internacionalistas. E durante horas, nessa noite e nas seguintes, sobre o Tejo, enquanto eu remava, o Antero discutia, com os emissários socialistas, a revolução operária que já lavrava na Europa”.

Sobre Antero de Quental, o socialista espanhol Anselmo Lorenzo, cujas ideias eram mais próximas das do russo Mikhail Bakunine do que das do alemão Karl Marx, escreveu, no seu livro “El Proletariado Militante”, o seguinte: “…Quental pareceu-me mais velho e de aspecto não menos simpático e atraente; tinha residido muitos anos em Paris dedicado ao estudo das ciências e tinha uma ilustração vastíssima e um carácter franco e leal que o levava a adoptar os radicalismos que logicamente lhe impunham os seus extensos conhecimentos”.

Os objetivos das reuniões eram divulgar os objetivos da AIT e criar uma secção em Portugal, tarefa que ficou a cargo de José Fontana e de Antero de Quental. 18


No mesmo ano, é publicada, sem a indicação do autor, a brochura de Antero de Quental, “O que é a Internacional”, onde aquele, segundo Fernando Catroga defende ideias muito próximas das de Proudhon como a abstenção, a mutualidade de serviços e o crédito gratuito.

Antero de Quental, em carta dirigida a Teófilo Braga, confirma a sua pertença à Internacional e em carta a Oliveira Martins confirma nos seguintes termos a autoria do opúsculo “O que é a Internacional”: “Aí vai o primeiro folheto de Propaganda. Não sei se conhecerá que foi escrito por mim, por isso lho declaro (debaixo de sigilo Internacional!). V. sabe das minhas pretensões a Economista – por isso escusado é dizerlhe a importância que dou às primeiras 20 páginas.”.

Antero de Quental distanciou-se das posições abstencionistas iniciais, tendo apelado à formação de um partido político e sido candidato em vários atos eleitorais, embora tenha declarado que não pretendia ser deputado.

Se é verdade que, numa carta dirigida a W. Storck, Antero de Quental desvalorizou as suas posições políticas anteriores, considerando-as «mistérios da incoerência da mocidade» também não é menos verdade que dois anos antes de morrer, escreveu um texto intitulado “O socialismo e a moral” onde reafirmou a sua concordância com o lema da Internacional “A emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos mesmos trabalhadores”, tendo acrescentado que “o problema do Socialismo é essencialmente o problema da organização do trabalho: ora a organização do trabalho depende antes de tudo da capacidade moral dos trabalhadores, isto é, da sua capacidade de ordem, disciplina e justiça”. Sobre o percurso de Antero, enquanto o anarquista português Júlio Carrapato escreveu: “depois do entusiasmo inicial pela Associação Internacional dos Trabalhadores e da aventura parisiense, resvalou para o reformismo socialista e para um pessimismo místico e bipolar”, Anselmo Lorenzo, considerado "o avô do anarquismo espanhol", escreveu: “Daqueles dois jovens, mortos há já bastantes anos, conservo carinhosas recordações (...). Tenho ideia que os anarquistas portugueses inscrevem os nomes de Fontana e de Quental no catálogo dos bons.”.

(Correio dos Açores, 31276, 12 de julho de 2017, p.16)

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ANTERO DE QUENTAL E OS ANIMAIS

Muito se tem escrito sobre Antero de Quental, um dos maiores açorianos de todos os tempos, algumas vezes sem ter lido os seus escritos ou a vasta bibliografia que sobre ele já se publicou.

Há algum tempo, houve, até, quem tivesse o descaramento de, para defender a indefensável tortura de bovinos, escrevesse, sem qualquer fundamento, que Antero de Quental ia à Terceira para ver touradas.

Na minha incessante procura de melhor conhecer o açoriano discípulo do filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon, deparei-me com uma informação preciosa que ilustra bem o pensamento e ação de Antero de Quental em relação aos animais, a qual pode ser

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consultada no livro “Antero de Quental, subsídios para a sua biografia”, volume II, da autoria de José Bruno Carreiro.

Depois de relatar o excelente relacionamento de Antero de Quental com as crianças, Luís de Magalhães, sobre a sua relação com os animais escreveu o seguinte: “Noutra ocasião fui dar com ele a prodigalizar os maiores cuidados a um pobre passarinho implume, a que dera por homenagem a sua mesa de jantar e que, por sua mão, alimentava com sopas de leite. O pássaro, já familiarizado, voltava-se para ele de biquito aberto, como se pedisse de comer à própria mãe…O que transformara o poeta num criador de passarinhos? Fora isto: arrebatara aquele pássaro das mãos de uns garotos que o torturavam. E como ele ainda não voasse, estava-o criando para depois lhe dar a liberdade. E contou.me que já mais vezes assim fizera a outras avezitas, por ele libertas das garras do rapazio. Dizei-me se não há nisto um traço profundo da bondade do Poverello, do seu amor pelos animais, que como criaturas de Deus, ele considerava seus irmãos.”

Termino com um extrato de uma carta que dirigiu, em 1889, ao poeta e ensaísta Jaime Magalhães Lima: “Ninguém salvo os monstros, está fora da humanidade, e os mais perfeitos, longe de condenarem os menos perfeitos, verão neles ao menos a possibilidade de perfeição, como nós vemos aos animais uma espécie de rudimento da humanidade, e , sem nos confundirmos com eles, não nos sentimos todavia absolutamente distintos deles, antes a eles nos sentimos ligados por uma íntima piedade.”

Teófilo Braga

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