Jornal Terceira Via 187

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CAMPOS DOS GOYTACAZES, RIO DE JANEIRO • 24 A 30 DE MAIO DE 2020

Nas bancas por R$ 1,50

NÚMERO 187 Fotos: Carlos Grevi

Primeiro dia | Cena do principal ponto do Centro da cidade em pleno lockdown

O lockdown funcionou?

Terceira Via acompanhou o dia a dia da cidade durante o bloqueio que tentou diminuir aglomeração

Goytacazes

Pelinca

Centro

PÁGINAS 08 - 09

Rodoviária

Câmara sem ação nos últimos 60 dias Apesar de alguns esforços para reuniões virtuais, nenhuma votação importante aconteceu ´PÁGINA 03

Legislativo Municipal em stand by

Maio Roxo alerta para risco do lúpus

dançar Nascido para

Doença autoimune tem que ser diagnósticada rápida e paciente precisa conviver com ela

José Fernando Rodrigues planeja livro e usa a dança para superar depressão e preconceitos

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Maurício Xexéo e Marina Costa convivem com Lúpus

Usuário reclama da falta de ônibus Com o isolamento social mais forte empresas retiram parte de sua frota de bairros da cidade

CAPA

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Passageiros à espera de transporte público

AloysioBalbi Querido Gil

O deputado estadual Gil Vianna que infelizmente já é saudade, prova que era uma unanimidade. Recebeu pesar de todos os lados e como ele nunca negara, tornou-se amigo do hoje senador Flávio Bolsonaro, que postou o pêsame na rede social.

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Os fios da esperança

É praticamente impossível enganar o tempo. Preciso vivê-lo, assim como teço cada ponto, um por um, sem perder uma laçada. É um ritual também de oração calma, silenciosa, profunda, sentida e urgente. PÁGINA 04

Médico avalia Campos e Brasil em relação à Covid

Domingo passado foi publicada a primeira parte da entrevista com o infectologista Nélio Artiles, oportunidade em que o médico abordou as várias faces da pandemia. Nesta edição, a parte final, com breve consideração sobre os procedimentos adotados no município. PÁGINA 05



Política As ações da Câmara na pandemia PÁGINA

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24 A 30 DE MAIO DE 2020

Enquanto cresce número de mortos por covid-19 em Campos, Casa se permite não Legislar durante 60 dias

Página em Branco | O Jornal Terceira Via deixa esse espaço vazio como resposta a ausência de ações do Legislativo Municipal durante esse período em que Campos passa pela maior crise dos últimos anos

Opinião O país está diante de um momento dramático. Os números de casos e mortes por covid-19 aumentam em ritmo alarmante. A trajetória ascendente do gráfico de confirmações ilustra o momento mais difícil da doença, causada pelo novo coronavírus. Há estados em que o cenário é de guerra. Hospitais lotados, rede de Saúde em colapso, sistema funerário sobrecarregado, cemitérios fazendo o dobro do total habitual de enterros diários. No Rio de Janeiro, a quantidade de mortes cresceu oito vezes nos últimos 30 dias. Campos, que contava 48 casos confirmados no último dia 24 de abril, assiste hoje, um mês depois, a dezenas de pacientes testarem positivo todos os dias. Enquanto a população luta para sobreviver diante do coma da máquina pública, que precisa de decisão judicial para ofertar aquilo que os governos Estadual e Municipal previram em seus próprios

planos de contingência, a Câmara de Vereadores de Campos se permite um apagão de dois meses. Sem votar qualquer projeto de interesse público desde o dia 20 de março, a Casa de Leis mostra incapacidade de agir sob a urgência que o momento impõe. Em um tempo em que, mesmo antes da pandemia, tudo convergia para o digital, o Legislativo Municipal levou 60 dias para viabilizar mudanças no regimento e um sistema que permitissem a realização de sessões por meio de videoconferência. No mesmo dia em que a Câmara de Vereadores de Campos suspendia suas atividades presenciais, a Câmara dos Deputados, em Brasília, publicava no Diário Oficial da União ato que regulamentava seu sistema de deliberação remota. Cinco dias mais tarde, a ferramenta era colocada em uso pela primeira vez. No país, no Estado e mesmo na região, Casas de Leis mantiveram-se atuantes e tomaram decisões para ate-

nuar os efeitos sociais e econômicos da pandemia, criando linhas de crédito e auxílios pecuniários; estabelecendo isenções e descontos para serviços; prorrogando vencimentos e parcelando contas e tributos; suspendendo multas e proibindo ações que fragilizem social e financeiramente cidadãos que tiveram suas rendas afetadas. A Câmara de Campos provou, enquanto isso, que pertence a outro tempo, e que não compreende nem a emergência sanitária e econômica em que vivemos, nem o conceito de governança digital e a velocidade que rege nossa época. Sob o peso da história que construiu para si, a Casa de Leis paralisa quando o momento exige que se adapte e aja. Porém, mais grave que a inércia diante do quadro de calamidade que se apresenta é a sensação de que ausência tão prolongada sequer tenha sido notada pela população.


AloysioBalbi Com Girlane Rodrigues

Um segredo da irmã Suraya O cérebro da Irmã Suraya Chalube, além de privilegiado, guarda alguns segredos de bastidores sobre a história recente de Campos. Deveria ter escrito um livro. Para esse colunista, revelou recentemente quando provocada, que a decisão de sediar a Petrobras há mais de 40 anos em Macaé foi do então ministro da Fazenda, Delfim Neto, pressionado pelos usineiros de Campos na época. A opção por Macaé era atribuída ao seu irmão, general Chalube. “Mas ouvi dele a afirmação que Delfin Neto interferiu pressionado pelos usineiros de Campos que não queriam a Petrobras aqui. A sede da Bacia de Campos era realmente para ser aqui”. Certamente Campos seria outra coisa. Jejum e orações A prefeita de Bom Jesus do Itabapoana, Francimara Azeredo da Silva Barbosa Lemos bombou nas redes sociais ao decretar um “Dia de Jejum e de Orações” por causa do coronavírus. É algo inusitado, mas ela teve o cuidado de observar no decreto que vivemos em um estado laico e desta forma esse foi um apelo ecumênico. Orar faz bem à alma, a mesmo para os de pouca fé, um dia de jejum pode até fazer bem à saúde. Rica História A diretora do museu Histórico de Campos, Graziela Escocard recebeu duas obras que vão integrar o legado histórico de Campos e região, pelo projeto Leituras Históricas. O livro “O arquivo negro de Campos” e “São Francisco de Itabapoana” foram enviados direto do historiador Mário Barreto Menezes, de 94 anos, autor do material. Por falar em Graziela, ela tem participado de muitas lives nas redes sociais com grande audiência. Jornalista A jornalista Talia Santos – que já trabalhou na TV Record em Campos - está agora de casa nova. Segura o microfone da emissora SBT, em Brasília. Talentosa, já passou também pelas afiliadas da TV Globo pelo Brasil a fora. Por aqui, a gente acompanha o trabalho dela pelas redes sociais.

Opinião

Plataforma inteligente O novo presidente da CDL de Campos, José Francisco Rodrigues, revelou para a coluna que a entidade já trabalha em um projeto revolucionário para o comércio quando iniciar o processo de flexibilização da atividade. Está sendo desenvolvido um portal inteligente que vai revolucionar a relação entre os consumidores e os lojistas. Garante que será uma ferramenta inovadora como se requer no pós-pandemia. É o canal A médica campista Cláudia Jacyntho, uma das mais conceituadas médicas de sua especialidade no país, com livros publicados até na França, se uniu à grande obstetra carioca Juliana Zimmermmann e, em tempo de pandemia, montaram um canal do youtube batizado de GINECOPOINT. O objetivo é passar informações genéricas em Ginecologia/Obstetrícia para leigos. O canal tem tudo para ser um sucesso, principalmente entre as mulheres. Hospital sem campanha O vereador Cláudio Andrade, membro da CCJ, oficiou a Comissão de Saúde da Alerj, presidida pela deputada e delegada de Polícia Civil, Martha Rocha, acerca da prorrogação do prazo de abertura do hospital de campanha. A última notícia é que o hospital pode ser desmontado no município e a informação foi passada pelo próprio secretário de saúde do estado, o Fernando Ferry. Se o governo queria fazer campanha com o hospital.. babau... Querido Gil O deputado estadual Gil Vianna que infelizmente já é saudade, prova que era uma unanimidade. Recebeu pesar de todos os lados e como ele nunca negara, tornou-se amigo do hoje senador Flávio Bolsonaro. Tanto que o senador em sua rede social postou seus pêsames e pediu a Deus que conforte a família do deputado. Política à parte, um gesto digno de registro.

Um vídeo sem grandes novidades

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liberação pública do vídeo filmado na reunião ministerial em 22 de abril, no Palácio do Planalto, cujo conteúdo foi arrolado pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, como prova de intervenção do Presidente Bolsonaro, surpreendeu muito pouco. Se fosse um filme, e o cinema estivesse lotado, o famoso bonequinho do jornal O Globo teria duas atitudes, ou seja: os bonequinhos que apoiam Bolsonaro iriam aplaudir de pé, e os contra sairiam do cinema, falando horrores. O conteúdo do vídeo tem alguns pontos aparentemente não republicanos, e o mais grave deles é a questão exatamente que envolve Sérgio Moro, pois o Presidente Bolsonaro deixa claro que iria intervir em qualquer ministério. A Polícia Federal, com o passar do tempo, passou a ser uma polícia judiciária, que não se reporta a Presidência da República e sim ao juízo ou ao MP. Neste caso, o vídeo não surpreende, pois isso já tinha vazado.

Chama a atenção o demasiado excesso de palavrões, quase todos proferidos pelo Presidente, que nunca escondeu sua opção por esse tipo de linguagem, o que é deselegante, mas não constitui nenhum crime. Retoricamente, o ministro da Educação utilizou um recorte pesado ao dizer que se dependesse dele, os membros do STF estariam todos presos, e esse é outro ponto não republicano. As narrativas que se seguem têm a orelha de Bolsonaro, o nariz de Bolsonaro, os olhos de Bolsonaro e principalmente a língua de Bolsonaro, ou seja, não decepcionou seus eleitores, pois foi autêntico e nem escandalizou a oposição. Se o Procurador Geral da Justiça estivesse apurando palavrões, certamente ofereceria denúncia. Se estiver apurando o que disse o ex-ministro Moro, tem um razoável material na mão, mas é preciso prudência. O resumo do vídeo: é fraco e cheira arquivamento.

Os fios da esperança

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stou tecendo uma colcha. Pacientemente, ponto por ponto, vou seguindo o ritual do crochê. Muitos fios, muitas cores e a impressão de nunca acabar. Não tenho pressa. É praticamente impossível enganar o tempo. Preciso vivê-lo, assim como teço cada ponto, um por um, sem perder uma laçada. É um ritual também de oração calma, silenciosa, profunda, sentida e urgente. A colcha não é urgente, urgente é a oração por todos nós que atravessamos esses tempos sombrios de pandemia. Mais de mil mortes de uma doença desconhecida, num período de vinte e quatro horas, uma doença para a qual não há remédio que cure, não há vacina que previna e com contágio galopante. O tempo passa, as teias vão se formando. A teia que formará o cobre leito e a teia da doença. Esta mescla outras linhas de tons escuros, sombrios, diferentes daquelas linhas que guardo carinhosamente numa caixinha de bordados. Estas são linhas de vidas interrompidas, de sonhos que não se realizarão, de amores que ficarão esperando no cais até a próxima partida para o reencontro na eternidade. Quando lá chegam, esses amores já partiram. Não há despedida. É um adeus que fica perdido na imaginação. Como dói! Muitas vezes, lágrimas molham meu trabalho, salgam meus pontos, escurecem meus olhos. Lágrimas de tristeza e de perplexidade. É impossível não sentir essa dor. Uma dor profunda e coletiva. Dor maior, justamente por ser coletiva. As dores das mães, dos pais, dos filhos órfãos, dos enamorados, dos que sofrem por que os outros sofrem... dores da incerteza da cura... Não sei quando minha colcha ficará pronta. Sei que ela será testemunha de um tempo de sofrimento, de insegurança, mas também de esperança. Tudo vai passar um dia. Ela ficará pronta. Perdida entre os fios, lembro-me de uma lenda grega. Conta a história que Ariadne, filha do rei de Creta, se apaixonou perdidamente por Teseu. Ele foi mandado em sacrifício a um labirinto onde se encontrava um temível minotauro, metade homem, metade touro. Era um labirinto tão bem construído, que dificilmente alguém conseguiria encontrar a saída. O oráculo lhe avisou que só o amor o salvaria dessa terrível empreitada. Ariadne, então, disse que ajudaria o amado, se ele se casasse com ela. Por isso, ela lhe deu uma espada e um novelo de lã para que ele encontrasse o caminho de volta. Ariadne ficou do lado de fora do labirinto segurando uma das pontas do fio e ele ía desenrolando-o, à medida que avançava nos corredores do labirinto. Para retornar, após matar o monstro, era só seguir o fio. Teseu saiu vitorioso, matou o minotauro e partiu com Ariadne. Os fios da construção da colcha, o fio providencial de Ariadne são fios de crença na vitória. Fios de esperança! Venceremos a COVID19! E assim vou desfiando as horas, os dias, nessa quarentena, entre as colinas das Minas Gerais.

A morte de João Pedro Cláudio Andrade - Vereador de Campos dos Goytacazes

João Pedro Matos Pinto, um adolescente de 14 anos foi baleado na última segunda-feira, 19, dentro da casa de seu tio, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, durante uma operação conjunta das polícias Federal, Civil e Militar. Parentes e amigos dizem que João Pedro Matos Pinto brincava com os primos quando os agentes invadiram o imóvel e atiraram em sua barriga. Já as polícias alegam que o adolescente foi atingido durante um confronto com bandidos que pularam o muro da casa. Mais uma vez a moldura do quadro é a mesma. Preto, jovem, morador de localidade mais vulnerável e assassinado pelo Estado. Sim, isso mesmo, o Estado do Rio de Janeiro com apoio da União matou um jovem que sonhava em ser advogado. Esse mesmo estado genocida que frequenta as áreas mais carentes como um leão africano é o mesmo que na zona sul carioca atua como gato domesticado em colo de madame. Pior é constatar que apesar da morte ser claramente fruto de mais uma ação desordenada, João Pedro ainda vai ser fruto

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de infinitas insinuações. O menino que carrega o nome de dois apóstolos em sua certidão de nascimento, agora de óbito, será chamado de delinquente e alguma situação pregressa de sua vida será inventada para justificar a morte e, quem sabe, amenizar a indenização. João é mais um que se vai, pois comunidade carente e bairros de periferia são laboratórios, verdadeiros estandes de tiro ao alvo, um açougue a céu aberto onde a carne de primeira não é comprada nos supermercados da Barra da Tijuca e sim, recolhidas, mal passadas e perfuradas nos asfaltos ou dentro de suas próprias residências. A ideia do estado é antiga e se mantém até hoje sem planejamento. Onde o estado não chega com saúde, educação e segurança verdadeira a ordem é fazer estatísticas. Nesse contexto não vale o número de alunos alfabetizados, de crianças vacinadas ou de esgoto tratado. Isso custa caro! O que vale é vender a horrenda imagem de combate à violência

e a forma mais contundente de vender a imagem de um estado forte é empilhando traficantes e, juntos a eles, por que não, inocentes. Esses coitados, apenas contabilizados como meros erros de cálculo. Muito podem dizer que esse texto é hipócrita, pois entrar em uma comunidade carente e ser recebido a tiros não é uma coisa simples. Vão dizer também para eu sair do conforto desse computador e ir para a pista. Ora! Não é preciso ir para o asfalto para saber distinguir bandidos de mocinhos. Basta inteligência, combate à corrupção, valorização dos agentes de segurança de bem e respeito aos cidadãos negros da periferia. Uma turma de cor que não mede esforços para ser alguém na vida e que deveria poder ser parado em uma blitz sem ser confundido com o vapor do morro, aquele que vende drogas para os brancos lustrados da classe média alta.

Expediente: Fundador Herbert Sidney Neves - Direção Executiva Martha Henriques - Diretor Geral Fábio Paes Diretor de Jornalismo Aloysio Balbi Chefes de Reportagem Girlane Rodrigues e Roberta Barcelos - Projeto Gráfico Estúdio Ideia Diagramação Elton Nunes - Departamento Comercial (22) 2738-2700 Rua Gov. Theotonio Ferreira de Araújo, 36 - Centro - Campos dos Goytacazes - RJ Impressão: Parque Gráfico do Jornal O Globo. Tel: (21) 2534-9579/ comercialpg@infoglobo.com.br


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Não fosse o STF ter conferido aos estados autonomia para os procedimentos de combate à pandemia, e o Brasil não teria isolamento algum, tendo em vista o “entendimento” do presidente. Da saída do ministro Madetta para cá, as mortes, até então na faixa de 200, saltaram para 400, 600, 800 e seguem acelerando com mais de mil por dia. Há duas semanas pesquisadores da USP simularam que os óbitos podem dobrar em 20 dias e que o país chegaria a 400 mil casos até 5 de junho. O senhor acredita que essa dificuldade de gestão foi crucial para o crescimento do número de infectados? Ou seja: brasileiros estão morrendo por falta de gestão? O agravamento do quadro eu penso ser multifatorial. Pela agressividade desse vírus, como aconteceu em todos os países, essa curva ascendente era previsível. Logo no início foi dito que os números seriam bem cruéis, como agora estamos vendo. O que se pode discutir é se a curva poderia ser menos ou mais acentuada. O vírus se espalhou por todo planeta e aqui não seria diferente. Mas é preciso considerar o que era o Brasil antes da epidemia chegar, como estava difícil nossa saúde pública, como era complicado a questão dos hospitais, etc. Então, surge uma doença com tamanha agressividade em cima de uma situação deficitária e por aí adiante. Para ser combatida, precisa de uma estrutura adequada, de uma quantidade de leito de CTI, etc. E a questão da gestão também agrava, nos parece confusa, porque ao invés uniformizar as atitudes na hora certa, temos um exemplo negativo... é complicado. O Ministério da Saúde caminha de uma forma, enquanto o presidente se coloca de maneira diferente do que a ciência preconiza e as pessoas acabam não respeitando o que está sendo recomendado. O resultado é que a taxa de distanciamento está sempre abaixo, sempre aquém, o que é muito ruim. No final das contas todos somos corresponsáveis, porque a gestão é apenas um dos fatores, mas tem a responsabilidade individual de cada um. O distanciamento é fundamental e o aumento da disseminação reflete o que aconteceu nos últimos 15/21 dias.

FIOCRUZ ASSUSTA

Relatório da Fiocruz enviado ao governo do Rio de Janeiro sobre o afrouxamento nas medidas de isolamento foi assustador e sombrio: “A adoção tardia de lockdown resultaria em uma catástrofe humana de proporções inimagináveis para um país da dimensão do Brasil” – afiançou, de forma dura e direta. Que comentário o senhor pode fazer sobre a observação da Fundação? Conheço a Fiocruz, participei de atividades na Fundação e sei que a comunidade científica lá é excepcional, como tal reconhecida mundialmente. Não consigo ver a politização colocada em cima da Fiocruz, como se fosse de esquerda ou coisa que o valha. São extremamente sérios, trabalham com alta qualificação técnica, e essa projeção não é absurda. Infelizmente poderemos ter, sim, uma proporção catastrófica. A colocação da Fiocruz é técnica. Não se trata de assustar, mas de dizer a verdade. É para isso é que serve a sociedade científica. Estamos falando de comunidades carentes espalhadas por um país continental. Regiões sem um mínimo de infraestrutura, sem esgoto e até sem água. Isso sem falar na dificuldade de leitos, que é antiga e nos impõe sofrimento há décadas. O atraso vai resultar em mortes. Espero que, em favor de um bem maior, o lockdown seja adotado, ao menos, nas cidades onde a incidência esteja em nível muito elevado. Vamos torcer para que os órgãos públicos to-

COVID-19

AGRAVAMENTO DO QUADRO

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Agravamento, gestão, pico e prevenção

ema por demais vasto e exaustivo, a entrevista do infectologista Nélio Artiles sobre as várias faces da Covid-19 precisou ser dividida em duas publicações, sendo esta a parte final da matéria. Na edição de 17 de maio – reproduzida na versão online ao longo da semana – o conceituado médico discorreu sobre lockdown; fez reflexões acerca de alas inteiras de hospitais que estão desativadas relativamente à construção de unidades de campanha, que não deixam legado; considerou especulativas as frequentes estiPÁGINA

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mativas de mortes e analisou comparações da gripe espanhola com a Covid-19 – entre outros temas. Necessário salientar que num cenário que muda a cada dia, com iniciativas que tentam barrar o coronavírus, as considerações do infectologista remetem a perguntas formuladas há uma semana. Nesta oportunidade, Nélio Artiles fala do agravamento da pandemia, das projeções da Fiocruz e de pesquisadores da USP, do SUS, do Pico e reforça as medidas de prevenção, particularmente de isolamento. Para ele, todos continuarão sob risco até que chegue a vacina.

Covid-19 avança (I) surto de febre amarela, antecipou-se afirmando que todos deveriam, sim, “fazer a vacina contra a doença, porque havia risco de aparecimento na área urbana”. Bem, o que o infectologista campista adiantou foi simplesmente o que o Brasil uniformizou como protocolo duas semanas depois, quando deixou de cuidar a questão de forma pontual, mas abrangente. Agora, num cenário mais sombrio, a página ouve, em entrevista dividida em duas partes (a segunda irá sair no domingo, 22) o renomado médico, que faz um apanhado geral sobre as várias faces da pandemia, consequências imediatas e expectativas. Avalanche de informações Além das ‘fakes’, a enxurrada de notícias contraditórias, ditas na rapidez dos telejornais e de forma muito técnica, ajuda a confundir a população. Quem não se lembra do vídeo do médico Dráuzio Varela, minimizando os efeitos da Covid-19, que ele mesmo precisou corrigir. Mas, até que o fizesse, muita gen-

Brasil vive um turbilhão de notícias que mistura o verdadeiro com o falso HOSPITAL DE CAMPANHA X LEITOS EXISTENTES Antes de ingressar nos aspectos preventivos da doença, existe uma questão operacional aparentemente conflitante: aguardados com grande expectativa, os hospitais de campanha surgem como o melhor dos mundos para evitar o colapso no sistema de Saúde. Em Campos, o que está projetado para funcionar na área da antiga Vasa, deveria ter sido entregue no final de abril. Enquanto isso, a Santa Casa tem centenas de leitos desativados. Pergunta-se: não seria mais fácil, rápido e barato equipar esses leitos ao invés de se partir do zero num terreno baldio? Vivemos uma pandemia de dimensão inimaginável e há que se avaliar que toda rede de saúde tem uma estimativa e um quantitativo de leitos que não se pode considerar como que esteja sobrando, porque existe a demanda cotidiana. Em geral, vivemos um sistema de saúde em que não há sobra de leitos. Logo, face à sobrecarga da pandemia, os hospitais de campanha precisam ser criados porque as outras doenças continuam existindo. Contudo, concordo que existem espaços ociosos, não só em Campos, mas em diversas cidades. Infelizmente, os hospitais passaram a viver com grandes dificuldades, e fecharam... fecharam alas, enfermarias e até mesmo CTIs. Penso que, a despeito das dificuldades de adaptação, a rede poderia estar recebendo investimentos de estrutura, até para deixar um legado. Então, a gente não entende essas prioridades, até porque quando terminar a epidemia, vão desmontar ali e levar embora, quando poderia ser colocado nos hospitais e reestruturar a rede. Agora, eu não tenho como responder o porquê não se faz o aproveitamento da rede existente ao invés da construção de novos espaços.

Tanta informação ao mesmo tempo dificulta entendimento do povo

ckdown em pauta. (É possível, até, que no momento em que esta matéria está sendo construída, a medida tenha entrado em vigor). A despeito da complexidade, no seu entender o lockdown seria prematuro, deve ser visto de forma pontual, ou cabe ser adotado com urgência? É uma questão complexa que deve ser vista sob vários ângulos, levando em conta a consequência econômica do lugar associada à sobrecarga hospitalar. Então, se você tem 80% a 85% dos leitos ocupados e a situação econômico-político-social permite, deve-se fazer o lockdown, que em como finalidade principal diminuir o número de pessoas infectadas. São Paulo e Rio vivem situações caóticas. O Rio tem filas de mais de mil pessoas esperando leitos. A contenção precisa ser mais rígida. Não basta ter o CTI, tem que ser um CTI com boa qualidade, com equipes adequadas, que vão fazer os procedimentos no momento certo, o suporte de oxigênio na dose certa, vão iniciar o anticoagulante na hora certa, as medicações, etc. Isso é um diferencial no índice de mortalidade. LOCKDOWN/CAMPOS O espalhamento do vírus no interior fluminense cresceu sobremaneira nas duas últimas semanas. Apesar de não registrar números tão dramáticos, Campos adiantou-se e optou por adotar o lockdown já para o dia 18. O governo justificou que 100% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus estão ocupados. Qual o seu comentário? Bem, estamos tendo a notícia no meio da entrevista. Na região, o crescimento é exponencial sim e aqui em Campos os números é que determinam as ações. É preciso lembrar que não é só a rede pública, mas a privada também. Enfim, o governo deve ter considerado a taxa de ocupação. Essa taxa de ocupação é mandatória.

(*) Com 35 anos de profissão, Nélio Artiles é formado em Clínica Médica, com residência no Hospital dos Servidores do RJ e especialização em Infectologia pela UFRJ. Especialista pela Sociedade Brasileira de Infectologia, foi um dos responsáveis para que no município fosse criado o Centro do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Ferreira Machado, hoje referência no Estado do Rio, atendendo pacientes com quadros de tuberculose, meningite, Aids e entre outras. É membro-fundador da Sociedade Brasileira de Imunização e professor de várias cadeiras da Faculdades de Medicina de Campos – além de outras atividades do segmento médico onde empresta sua valiosa colaboração.

te seguiu sua orientação. O próprio ex-ministro Mandetta repetiu diversas vezes que só os profissionais que estavam na linha de frente contra a doença deveriam usar máscara. Depois, realinhou, recomendando o uso de máscaras em aglomerações. Agora, todos estão obrigados a usá-la. Também foi dito que o pico da pandemia seria abril. Depois maio. Agora ninguém sabe. Na Europa, já se fala em dois anos. E o lockdown, antes descartado, passou a ser considerado, com Campos adotando a medida a partir de segunda-feira, dia 18. Assim, diante de tantas controvérsias e ajustes, vamos ao que é possível analisar, considerando que nada é seguro diante do desconhecido.

Eu penso que a Secretaria de Saúde estava atenta a isso e avaliou o lockdown como necessário. Ao adotar o fechamento total – cujo preço é alto e eleva sobremaneira o sacrifício econômico – como fica a questão de algumas cidades vizinhas que sequer cobram rigor ao isolamento? O resultado não pode ser comprometido em função do deslocamento frequente entre pessoas daqui e de municípios próximos? Isso infelizmente acontece. O nosso município sempre abraçou as cidades de seu entorno. Os hospitais daqui passaram a ser referência e atendemos pacientes de toda região. Agora, quanto ao isolamento, se aqui a gente adota um tipo de procedimento e outros não fazem, isso traz repercussões negativas. O ideal é que fosse combinado com a região. O fechamento é uma questão difícil, tendo em vista os danos econômicos. Enfim, é uma atitude racional, de bom senso e de observar a relação possibilidade x necessidade, porque as pessoas precisam trabalhar e a fome também mata. UM MILHÃO DE MORTES? Estimativas sobre vários aspectos relacionados à Covid-19 tem sido frequentemente divulgadas. Recentemente, estudo levantado por um desses grupos especializados em cálculos admite que 1% da população brasileira seja contaminada e, desse percentual, 50% iria a óbito. Estaríamos, então, a falar de algo nas fronteiras de 1 milhão de mortes no Brasil. O sr. considera a possibilidade de que tenhamos números tão drásticos? (No início de março, o The NY Times publicou matéria com a mesma projeção em relação aos EUA). Essa matemática de estimativa é sempre muito especulativa. E tudo é relativo. A realidade de países da

Falas muito técnicas e pouco unificadas deixa população sem norte

Europa é bem diferente da nossa. Se considerar, por exemplo, Itália, França, Espanha... a pirâmide populacional desses países é distinta da nossa. Lá vemos um predomínio de pessoas idosas, enquanto o Brasil é um país mais jovem. Aqui, a faixa etária mais acometida está em torno de 30/60 anos, que ainda não é a pessoa mais idosa, e justamente os idosos é que acabam morrendo mais, infelizmente. Em qualquer epidemia, para que a curva chegue ao ápice, precisa alcançar 40% a 60% da população, configurando-se o que se chama ‘imunidade de rebanho’. Então, se dessa fatia entre 40% a 60%, você considerar que 80% não sente nada ou tem um quadro muito simples, e que 15% vá precisar de cuidado hospitalar, e os restantes 5% evoluam para uma forma mais grave, precisando de CTI, – verifica-se que é muito difícil fazer uma projeção. Numa avaliação genérica, o que se pode estimar é uma mortalidade, no pior cenário, de 3% (não da população, mas de 40% da população, mas eu acredito que seja menos). Então, vamos lá: em cima de uma população comprometida (40%), poderíamos ter 3% de óbitos – uma projeção caótica, complicada e que remete a um quantitativo enorme que viria a óbito. Mas como tudo é muito novo, é uma estatística complexa.

involuiu; ou, então, que as doenças estão cada vez mais difíceis de combater? Não soa como paradoxo para um século 21 altamente tecnológico? Enquanto a Gripe Espanhola (1918) perdurou por alguns anos, matando muita gente, agora, em relação à Covid – uma doença nova – de 4 a 5 meses de existência, já foi possível fazer pesquisa de diagnóstico, colocar em desenvolvimento estudos de medicamentos bastante promissores e, principalmente, a vacina, com perspectiva ainda para este ano – o que seria um recorde absurdo se isso realmente acontecer –, talvez dezembro. Isso faz um diferencial enorme. Vale lembrar que este vírus morre com sabão. Então ele é bem frágil fora do corpo, só que ele usa uma inteligência biológica impressionante. O vírus é um conjunto de proteína que precisa de uma célula para viver. Ele depende de um ser humano para se multiplicar, passando para outro ser humano. Então, se você consegue uma dificuldade para essa transmissão, ele não vai adiante. Por outro lado, quando o indivíduo fala, espirra, tosse – principalmente a pessoa gripada – ele se aproveita disso para sobreviver, inclusive desafiando o aparato tecnológico que o homem usa para combatê-lo. Enfim, é um inimigo para se respeitar, que vem se beneficiando, ainda, de interferências políticas inapropriadas. Nossa parte é promover o isolamento de forma técnica, correta e o setor público abrandar o prejuízo econômico. Temos que entender que a abertura, que o retorno das atividades, precisa de regras. O vírus se transmite por gotículas, ele não fica no ar muito tempo. Ele não se multiplica no ar. Inclusive a evidência mais concreta é que se transmite pela ponta do dedo e pela respiração muito próxima. No mais, uso de máscara e lavar a mão a todo momento. A gente precisa parar de ouvir fake-news, parar de inventar medicamento ou tratamento e nos basear nas evidência.

mem as medidas corretas e evitem a catástrofe.

FRASE

LOCKDOWN O Rio e São Paulo colocaram o lo-

GRIPE ESPANHOLA De acordo com especialistas, há 100 anos a Gripe Espanhola infectou 500 milhões de pessoas em todos os continentes (27% da população mundial) podendo ter matado entre 1% e 6% de pessoas no planeta. No Brasil, cuja população0 era de 30 milhões, morreram 35 mil pessoas, o que corresponde a 0,1.1% da população da época: cerca de 10% de 1% – para explicar melhor. Só que o mesmo percentual, trazido para hoje, daria algo em torno de 220/230 mil óbitos. Sobre essa ótica, não estaríamos a constatar que a ciência

Em se tratando de um vírus desconhecido e de propagação meteórica, o renomado psiquiatra Daniel Martins Barros fez a seguinte reflexão: “Só o medo pode nos salvar”. O senhor também tem essa impressão? O medo é uma reação normal e fisiológica do corpo. O medo salva sim, claro. Imagina se todos nós não tivéssemos receio algum, de nada. Ter medo não é ruim, faz parte. Só não podemos deixar o medo influenciar em nossas reações, decisões e bom senso. Uma vez perguntaram se eu não tinha medo de tratar as doenças que trato. Quando somos médicos, não é apenas pelo juramento que fazemos no final da formatura. É porque temos a inclinação de preservar vidas. Eu tenho medo sim, mas de não ter condições estruturais de tratar pessoas, por falta de material, de leitos, de medicação. Isso me dá medo. Agora de meningite, de Aids, de H1N1, não. Nossa missão é salvar vidas. Como o policial, o bombeiro e tantas outras atividades, usamos a técnica, a estratégica, para que possamos nos preservar. Então o medo, todos temos. Mas de forma racional

SUS

Inspirado no sistema de Saúde da Inglaterra – me corrija se estiver errado –, o SUS, lançado há mais de 30 anos, é considerado um dos melhores programas de Saúde Pública do mundo, particularmente pela universalidade que deveria proporcionar. Só que foi aviltado e está sucateado. Na prática, o SUS é o retrato das grandes filas, da falta de profissionais e dos hospitais sem condições. O sr. acre-

dita que se o SUS estivesse operando dentro dos princípios que inspiraram sua criação o Brasil estaria vivendo outra realidade ante a pandemia? Sobre o SUS, apesar de toda situação que vivemos, dos desvios e desrespeito à própria filosofia do SUS, o Brasil ainda tem um fluxo que foi dado pelo SUS que de certa forma nos facilita. Veja a explosão e velocidade de propagação nos EUA, país de potência econômica e tecnologia avançada, onde, apesar de tudo, o cidadão que não paga uma forma de seguro, tem uma dificuldade de acesso à saúde muito grande. Aqui, mesmo com todas as deficiências, a gente tem uma forma de atendimento gratuito à população. Usando Campos como exemplo – e deixo, como ressalva, que não faço parte da gestão política do atual prefeito e tenho toda liberdade para falar – penso que as atitudes tomadas de enfrentamento à pandemia, até o momento, foram técnicas e adequadas, seja no âmbito da Secretaria de Saúde ou pela Vigilância epidemiológica do município. E hoje temos uma estrutura do SUS que é muito boa, oferecendo um bom atendimento à população lá no Centro de Combate montado na Beneficência Portuguesa. Então, é o SUS funcionando e atendendo gratuitamente quem não tem condições financeiras. Em suma, ele trabalha com deficiência – isso vem de longe – mas atende, apesar da precariedade do sistema de saúde como um todo.

PICO

Sabemos que por tratar-se de uma doença nova, predomina o desconhecido. Contudo, especula-se muito sobre quando o vírus deverá atingir o pico – o que ninguém responde com certeza. Ainda assim seria razoável dizer que curva passa a descendente

Máscara. É fato que o nível protetivo oferecido pela máscara vai de 10% a 50%? (Isso porque falar em 10% seria algo bem irrisório). Protege, mas não é seguro fazer essa avaliação percentual. A máscara é apenas um elemento a mais de proteção. A gente tem que ter cuidado de não ficar colocando mão para ajustar a máscara, e depois coçar o nariz, colocar a mão no olho, na boca... Máscara 1. O cidadão sai para trabalhar... ele deve levar 3 ou 4 máscara para trocar a cada duas horas? Deve, sim, levar algumas máscaras de reserva, porque quando ela fica úmida, até facilita a passagem do vírus. Então, depois de 2, 3, 4 horas, ela deve ser retirada com cuidado, guardada num saquinho plástico e, ao chegar em casa, essa máscara precisa ser colocada em água com cloro, ou água sanitária (um colher de sopa para meio litro), deixando de molho por 30 minutos. Depois é só lavar com água e sabão e colocar pra secar, para ser reaproveitada.

17 A 22 DE MAIO DE 2020

m janeiro de 2018, a febre amarela apresentou grande incidência nas regiões de matas e rios do Brasil. Contudo, quando a doença avançou também sobre o estado de São Paulo, houve temor da população que se viu, então, ‘perdida’ ante os anúncios oficiais de que existia vacina de sobra e as grandes filas formadas defronte aos postos de saúde. As autoridades repetiam que não havia surto em centros urbanos e que o alerta se restringia às áreas florestais. Diziam, ainda, que os casos relatados eram de pessoas que estiveram em áreas endêmicas e foram picadas por mosquitos. Assim, a recomendação era para que moradores das áreas atingidas fossem vacinados, sem maior preocupação para populações urbanas. Foi em meio a esse cenário, onde os noticiários se perdem num país continental e a febre amarela era observada pontualmente – e só agora chego ao alvo desta matéria – que entrevistei o médico Nélio Artiles o qual, não obstante reconhecesse que Campos não passava por nenhum

dinário, que morre com água e sabão e que não tem a possibilidade de espontaneamente, sozinho, sair de um ponto para outro. Contudo, ao ser liberado no ar por gotículas – vindas de nossas vias respiratórias – como eles geralmente medem acima de cinco micra, não conseguem ficar no ar, caindo em cima das superfícies. Então caem em cima de mesas, do teclado de computador, de cadeiras, do celular, do corrimão, do piso, e nós transmitimos esse vírus, principalmente, pela ponta dos dedos. Então a máscara é importante, mas protege mais o outro, do que a si mesmo.

Médico Nélio Artiles

quando algo próximo de 50% da população tiver contato com o vírus, significando que aí a pandemia no Brasil estaria controlada? Especulando: dá para ter esperança que isso ocorra em junho? A questão do pico não se pode saber ao certo. Como já mencionei, quando chegar entre 40% e 60% da população, teoricamente a curva começa a ser abrandada e decresce. Mas isso não representa uma unidade para o país. Os ciclos de curvas tendem a variar num país com as dimensões do Brasil. Não existe um padrão. Num determinado estado a curva pode ser aguda em certo momento, e em outro não, que poderá ser daqui a alguns meses. O padrão é a própria irregularidade. Observe: você pode ter um estado em que a curva esteja em queda – porque 40% a 50% da população foi atingida – e, no estado ao lado, ela esteja subindo, e com a migração volte a crescer, observando-se segundas e terceiras ondas por causa disso. Se gente fosse considerar um país do tamanho da Itália, da Espanha ou da França, poder-se-ia estimar um padrão de curva. As prevenções precisam continuar, o isolamento das pessoas idosas ou que tenham histórico de doença, também. A gente vai precisar conviver com isso até que haja a vacina. É um cuidado extra que devemos incluir em nossa rotina.

PREVENÇÃO/MÁSCARA/ SINTOMAS/FUTURO

Afora as noções gerais de todos conhecidas (lavar as mãos com frequência, usar álcool gel, cumprimentos só à distância, tirar a roupa ao chegar em casa... etc) a questão do uso da máscara segue gerando dúvidas, até com algumas resistências. Como é isso? Também já dito, este é um vírus or-

Máscara 2. A pessoa vai ao supermercado... à agência bancária, e como faz ao entrar no carro? Tira a máscara antes para não contaminar o veículo, deixando-a isolada numa sacolinha, por exemplo? Se você vai em vários locais, procure não mexer muito na máscara. Se tiver que tirar ou trocar, tire colocando a mão no elástico, nunca na máscara. Máscara 3. E como fazer no ônibus, no elevador, etc. É verdade que em ambientes fechados a máscara pode aumentar o nível de infecção? Não é bem assim. Olha... a máscara pode aumentar o nível de infecção se você colocar a mão nela. Esse é o problema. Tem que saber usar. Não pode ficar tocando nela. No elevador, aperte o botão indicativo do andar com o cotovelo ou use a mão não dominante. Mas lave a mão logo que possível. As pessoas podem ter uma febre, ou uma gripe, ou uma tosse... e não ser o caso de Covid. Em que fase desses sintomas deve-se, de fato, considerar a possibilidade e ir ao hospital? Quem está em estado gripal, deve ficar em casa. Se está com tosse, espirro, nariz entupido, dor de garganta – e até mesmo com um pouco de cansaço é relativamente normal. Agora, se começa com dificuldade de respirar, deve procurar o hospital. Quem puder, seria bom comprar um oxímetro digital, que avalia a oxigenação do sangue. E o médico, à distância mesmo, pelo telefone, pode avaliar.

(*Nélio Artiles fez ponderações, também, sobre o alto risco de espalhamento entre vulneráveis e nas comunidades carentes. Falou da precariedade, do auxílio emergencial que não chega como deveria e do futuro - de quando a pandemia passar. Essas observações, por limites de espaço, ficaram de fora e estão publicadas na versão online do Terceira Via).



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Saúde

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Como é conviver com o lúpus? Maio Roxo é o nome da campanha de conscientização da doença que é autoimune e não tem cura Fotos: Carlos Grevi

Letícia Nunes Com 150 mil casos por ano, o lúpus é uma doença inflamatória autoimune que atinge muitos brasileiros e não escolhe o paciente. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, raça e sexo, porém, as mulheres são as mais acometidas. Denominado cientificamente como "Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)", pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro. Em casos mais graves, leva à morte. Maio é o mês de conscientização do lúpus. A iniciativa visa disseminar conhecimento sobre sintomas, diagnóstico e tratamento da doença. As doenças autoimunes são aquelas em que o sistema imunológico da pessoa ataca tecidos saudáveis do próprio corpo, por engano. Dentre as mais de 80 manifestações, o Lúpus é uma das mais graves e importantes. O Ministério da Saúde informa que não se sabe ao certo o que causa o Lúpus, no entanto, os estudos apontam que as doenças autoimunes podem ser uma combinação de fatores hormonais, infecciosos, genéticos e ambientais. Convivendo com a doença O jornalista Maurício Xexéo foi diagnosticado com lúpus há 17 anos. A descoberta da doença de forma repentina causou um susto e desde então, ele faz acompanhamento médico e segue um tratamento para con-

Maurício Xexéo | Jornalista recebeu o diagnóstico há 17 anos

Marina Costa | Começou a perceber os primeiros sinais na infância

trole dos sinais. "Certo dia fui trabalhar e senti uma dor no peito e muita dificuldade em respirar. Fui levado ao Hospital Ferreira Machado e inicialmente diagnosticado como infarto. No decorrer dos exames perceberam que não era infarto. Demorou quase um mês para os médicos fecharem um diagnóstico e aí veio a descoberta do lúpus", lembra. Xexéo conta ainda que durante a rotina, ao longo dos anos, alguns sintomas surgem e às vezes eles mudam, mas os medicamentos conseguem controlar o aparecimento desses novos sinais.

desde os 9 anos de idade a conviver pelo resto da vida com lúpus. Inicialmente, o diagnóstico não tinha este nome e até chegar a real descoberta, ela passou por muitos especialistas e fez várias tentativas de tratamento. "Começaram a surgir algumas marcas vermelhas no corpo, fui a vários médicos e todos eles falavam que era alergia de contato. Percebendo que não havia melhora, uma especialista pediu um exame de sangue e viu que as minhas plaquetas estavam muito baixas. Descobrimos que era uma

"O lúpus, como outra doença autoimune, depende de como vai se desenvolver. Conviver com ele é dormir com o inimigo, é seguir com o tratamento, um dia de cada vez. Um recado que eu deixo para quem está descobrindo o diagnóstico recentemente é nunca colocar mais coisas na sua vida, do que a doença já botou. Coragem e confiança. São as duas palavras que fazem a diferença num portador de lúpus", frisa. Um passo de cada vez A fotógrafa e publicitária, Marina Costa, teve que aprender

Ônibus escassos na crise

doença chamada púrpura. Eu era uma criança e tive que parar de ir para escola, não podia correr e meus pais tinham que ficar me vigiando, porque com as plaquetas baixas, qualquer corte ou pancada, eu podia ter uma hemorragia. Comecei a tomar vários remédios, fazia exames e ia ao médico semanalmente, até que finalmente, constatamos que eu estava com lúpus", diz. Marina é acompanhada por uma especialista até hoje e, na época, a médica ficou muito surpresa com os resultados dos exames, pois com tais taxas, era

quase impossível que a paciente ainda estivesse viva. "Iniciei o tratamento para que as plaquetas se estabilizassem e para controlar a doença. Fui melhorando e pude voltar a viver normalmente. O lúpus é uma doença muito silenciosa e do nada surgem outras patologias, porque o seu organismo está muito frágil. Comecei a ter espasmos na mão e no pé. Minha médica investigou e viu que não estava chegando sangue em um local do meu cérebro e isso afetava a minha coordenação motora. Eu comecei a tomar anticoagulante, isso me ajudou, mas com ele vieram as cicatrizes. Na pré-adolescência, as espinhas se transformaram em feridas no corpo e no rosto. Era muita dor física e emocional. E ainda tinha o julgamento das pessoas", comenta. No lugar das feridas, ficaram as cicatrizes, após o tratamento. Hoje, elas dão lugar a várias tatuagens. Uma forma criativa que a fotógrafa encontrou de marcar a sua história. "As cicatrizes contam o que eu vivi. No momento, estou bem. Sigo tomando os medicamentos e fazendo acompanhamento médico, que é para o resto da vida. É uma doença que não tem cura, mas tem tratamento. Aprendi a não me apavorar, a respeitar o meu corpo e o meu tempo, sendo grata por ter acesso a um tratamento adequado e por ter uma família que sempre me deu todo o suporte", ressalta.

Campos

Com a redução de passageiros, empresas diminuem a frota circulante Ulli Marques Não é de hoje que o transporte público é alvo de críticas por parte da população de Campos. Se antes o problema era referente à falta de estrutura e organização — que buscou ser solucionado por meio da implantação de um novo sistema ainda não concluído — agora, diante da pandemia da Covid-19 e dos decretos de isolamento social, aqueles que dependem desse serviço veem-se em ainda pior situação, tendo de esperar pelos ônibus por mais tempo ou rendendo-se ao transporte alternativo. Isso porque a frota de todas as linhas da cidade foi reduzida e o motivo não é principalmente econômico: menos de 30% de passageiros pagantes continuam circulando e essa “queda absurda põe o sistema de xeque”, segundo presidente do Instituto de Trânsito e Transporte (IMTT), Felipe Quintanilha. É certo que 70% dos passageiros que costumavam utilizar os ônibus para se locomover estão, neste momento, em casa, seguindo as recomendações das autoridades médicas. No entanto, a porcentagem restante composta por atendentes de supermercado, de farmácia, profissionais da saúde e demais trabalhadores que atuam em serviços essenciais têm sofrido alguns transtornos para chegarem até os seus postos. Além disso, os idosos e estudantes perderam o direito à gratuidade durante esse período.

Felipe Quintanilha | Presidente do IMTT/Campos

Terminal urbano| Quem precisa de transporte coletivo tem que esperar muito tempo para embarcar

A equipe de reportagem do jornal Terceira Via foi a alguns estabelecimentos desses setores e também fez uma enquete nas redes sociais com o intuito de questionar a população sobre suas opiniões a respeito das recentes adaptações no transporte público municipal. Alguns elogiaram a medida: disseram que, de fato, é necessário reduzir a frota “para não facilitar as pessoas a saírem”. Outros, no entanto, afirmaram que, se o objetivo da redução é evitar a aglomeração, tal medida “não faz sentido” porque, “com menos ônibus circulando, esses tendem a ficar mais cheios”. O cinegrafista André Santo, morador da Pecuária, desistiu do transporte público. Ele, que já tinha dificuldade para se trans-

portar devido à escassez de veículos nas linhas Centro x Pecuária e Nova Brasília x Centro, agora sequer sabe qual o horário em que os ônibus passam. “Percebi que o volume de passageiros diminuiu bastante, mas considero a retirada dos veículos negativa. Antes, sabíamos que poderíamos contar com o transporte para ir e voltar do trabalho, agora os horários estão indefinidos. Quando saio, fico muito tempo exposto na rua, sem saber que horas o ônibus vai passar. Por isso tenho utilizado o transporte alternativo. Tem saído bem mais caro financeiramente, mas é o único jeito”, comentou. Já a atendente de farmácia Bianca Siqueira teve de mudar o horário de entrada no trabalho.

“Chego atrasada todos os dias, já até conversei com meu chefe. Acordo mais cedo, mas de nada adianta por não sei que horas o ônibus vai passar. Às vezes fico 1h30 no ponto e nada”, reclamou. Prefeitura se posiciona Com base nesses depoimentos, a reportagem buscou uma resposta junto ao IMTT. Dentre as perguntas feitas ao órgão estavam: “Quanto por centro do contingente de ônibus diminuiu no município após os decretos de isolamento?”; “Quais linhas foram afetadas pela diminuição?” e “As vans que atendem distritos e localidades também sofreram alterações no contingente e horários?”. Essas perguntas não foram respondidas.

No entanto, segundo o presidente do órgão, Felipe Quintanilha,todas as linhas continuam em funcionamento, mas “com horários e frotas reduzidas para conseguir atender minimamente à população”. “Entendemos que não é o ideal, mas é o factível neste momento de menos de 30% de passageiros pagantes circulando. O planejamento do IMTT é feito de acordo com a demanda de cada região do município”, explicou. Quanto à queda no número de pagantes, fator preponderante para as mudanças no transporte

Mobi Campos | App funciona

municipal, Quintanilha explicou que isso gera, consequentemente, uma queda de 60% a mais de 80% da receita. “O sistema está com dificuldades enormes para se manter, pelo fato de que o custo não diminui em contraponto à queda da arrecadação”, disse. O presidente ressaltou que essa situação caótica ocasionada pela pandemia tem sido vivida por todos os municípios brasileiros: “o sistema está em colapso e é essencial o apoio federal com recursos para o sistema urgente”. Sobre isso, ele também destacou que “o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana têm lutado junto à Frente Nacional dos Prefeitos pela aprovação de ajuda federal para o Sistema de Transporte Coletivo”. Quintanilha disse, por fim, que o canal de comunicação via WhatsApp, o Fale com a Gente do Mobi Campos — pelo número (22) 98152-1116 — continua em funcionamento, “respondendo em tempo real as demandas dos passageiros, de maneira a corrigir eventuais falhas e melhorar o serviço”. O aplicativo Mobi Campos, para Android, também está disponível.


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Bairro Jóquei Clube - Priscilla Alves Com comércio muito ativo, principalmente na Rua Ricardo Quitete, que possui diversos estabelecimentos do ramo de alimentação, o Jóquei Clube é um bairro bastante movimentado. Também no Jóquei fica o Colégio Estadual Constantino Fernandes, que possui cerca de mil alunos. Além deste, há ainda a Escola Municipal Professora Wilmar Cava Barros e outras instituições de ensino particulares. Porém, as ruas movimentadas, principalmente nos horários de pico escolar, deram espaço ao silêncio durante o período de quarentena, que se intensificou neste lockdown. É também o Jóquei o segundo bairro com mais casos de pessoas infectadas com coronavírus em Campos, segundo o Informe Epidemiológico nº 5, divulgado na última semana pela prefeitura. São 19 casos e o bairro fica atrás apenas do Centro, que somava 58. Recentemente, a morte do motorista por aplicativo Ângelo Marcelino Gusmão, deixou os morado-

res do bairro ainda mais apreensivos. Ângelo era morador do Bela Vista, mas viveu por anos no Jóquei, local onde era muito conhecido e que continuava frequentando por manter amigos e familiares. Sobre a rotina em relação ao lockdown, a segunda-feira (18) foi o dia com menos movimento nas ruas do bairro. Embora muitos comércios estivessem autorizados a funcionar (padarias, supermercados, farmácias e outros essenciais), talvez por ser o início da quarentena, foi possível notar as ruas com menos pessoas do que nos dias anteriores. O campo do Campistão e o ‘campinho da beira-valão’, ambos na Rua Júlio Barcelos, são locais comuns de aglomeração de pessoas praticando esportes como caminhada, futebol e crianças soltando pipa. Porém, neste primeiro dia, apenas uma pessoa foi vista caminhando na área. Na terça e na quarta-feira foi possível notar um pequeno aumento na quantidade de pessoas nas ruas. Porém, o movimento visto foi nas proximidades dos pontos comerciais em funcionamento, o que pode ser justificado por uma necessidade de compra de produtos essenciais. Na quinta-feira (21), dia em que as redes sociais e a imprensa divulgaram a morte de Ângelo, a impressão é que as ruas voltaram a ficar menos movimentadas, como se as pessoas tivessem mais noção da “presença” do vírus pelo bairro. Mas a aparente conscientização não durou muito. No dia seguinte, sexta-feira (22), foi possível ver crianças brincando nos dois campinhos, pessoas caminhando e até mesmo idosos sentados na frente de suas casas conversando tranquilamente. A impressão é de que por lá, as pessoas estão se conscientizando aos poucos. É preciso mais.

Diário do L

Os vários olhares sobre a experiência de uma cidade de

O

Terceira Via mobilizou seu time de jornalistas - Ulli Maques, Priscilla Alves, Girlane Rodrigues, Ocinei Trindade, Taysa Assis, Marcos Curvello, Letícia Nunes, Bernado Rust e Mariane Pessanha – para que cada um observasse no curso da semana passada, quando vigorou o Lockdown, o comportamento de pontos diferentes da cidade. São jornalistas com idades entre 20 e 50 anos. Além de enchentes e tragédias ecológicas, eles nunca viram nada igual. Quando o cometa Halley passou pela última vez em 1986, alguns não tinha nascido. O mais velho, era Ocinei, então, um

jovem de apenas 16 anos. Da pest nhola, seus avós apenas ouviram f depressão econômica de 1929 e da Saíram às ruas para observar sob Campos tem se comportado nesta res e percepções, eles certamente retina de cada um registrou de fo comportaram; onde não deveriam visível que estabelece no mundo

Do Pq. Leopoldina à Pecuária - Girlane Rodrigues Os bairros Julião Nogueira, Caju, Parque Leopoldina, Pecuária, Nova Brasília e Esplanada ficam a cerca de 15 minutos do Centro. Cada um deles tem se comportado diferente nesse lockdown. O Julião Nogueira, por exemplo, é marcado por pouca circulação de pessoas nas ruas. É mais residencial. Com pouco comércio, moradores costumam sair de carro para fazer compras. Nesse período foi constatada uma circulação ainda menor de pessoas e até de veículos. Medi isso ao sair de casa ao longo da semana para trabalhar e encontrar o fluxo de veículos menor nos principais acessos do bairro: Avenida Alberto Torres e rua Cora de Alvarenga. Parque Leopoldina, Pecuária e Nova Brasília possuem muitos comércios alimentícios, como padarias, mercearias, mini mercados e supermercados, que estão autorizados a funcionar neste período de isolamento social, o que provoca uma maior circulação de pessoas. Já o bair-

ro do Caju é conhecido pelas instituições que abriga, como escolas, e faculdades próximas, além de igrejas. É marcado também por prédios públicos como a Polícia Técnico-Científica e o Hospital Ferreira Machado, onde a movimentação de pessoas reduziu significativamente em comparação com o período antes do coronavírus. O cemitério do Caju – maior do interior do estado do Rio de Janeiro – costuma atrair grande número de pessoas por enterro, mas, com a proibição das aglomerações, as cerimônias tem sido restritas aos familiares. Visivelmente, o lockdown funcionou.

Bairros de Guarus - Bernardo Rust

Tarcísio Miranda - Ulli Marques Antes mesmo da pandemia, a rotina do bairro em que moro já retratava o que seria uma espécie de “isolamento social”. Prioritariamente residencial, com poucos estabelecimentos comerciais e vizinhança tranquila e discreta, o Parque Tarcísio Miranda sempre foi uma área pouco movimentada da cidade. Era raro ver pessoas sentadas na calçada, por exemplo, ou mesmo na pracinha jogando conversa fora ou praticando atividades físicas. O cenário costumava mudar somente no período da noite, quando os quiosques abriam e chamavam o público. Tanto que essa foi, aliás, a única mudança que notei ao longo dessa semana de lockdown em Campos. Alguns bem que tentaram manter o costume de se reunir na praça após o anoitecer, mas, na quarta-feira (20), foram coibidos por policiais militares que colocaram todos para dentro de suas casas, como manda o decreto municipal. Eu mesma já não costumava circular pelas ruas do bairro em dias “normais” e, justamente por isso, não vi grandes mudanças à luz do dia. Mas conversando com um motorista de transporte de aplicativo que, por acaso, também mora no Tarcísio Miranda, soube que houve quem desafiasse o vírus. Ele me contou que tanto os quiosques da pracinha quanto um trailer na rua Virgílio de

Paula mantinham-se abertos à noite recebendo um grande número de pessoas antes da ação da PM. No dia seguinte, quinta-feira, fui à praça por volta das 20h averiguar se meus vizinhos tinham acatado os policiais e, de fato, os estabelecimentos estavam fechados e os bancos vazios. A Avenida 28 de Março que corta o bairro, no entanto, manteve o intenso fluxo de veículos, independente do dia e do horário. Somente o quantitativo de ônibus diminuiu; o grande número de carros, motos e bicicletas na ciclovia fez com que eu me questionasse se o lockdown estava sendo realmente efetivo. Já em suas demais ruas, ao longo de toda semana, salvo poucas exceções — como alguns jovens soltando pipas e senhoras conversando no portão de suas casas, todos de máscara — o Tarcísio Miranda parecia, mais do que nunca, um bairro fantasma. E, em tempos pandêmicos, isso passou a ser considerado uma qualidade.

O que pôde se ver em Guarus durante a semana de lockdown na cidade de Campos, foi o comércio, quase em sua totalidade, com as portas fechadas. Porém, mesmo com poucas lojas funcionando, foi possível observar um grande número de pessoas circulando pelas ruas, formando filas, principalmente em frente às lotéricas. Observei também idosos conversando em frente às casas como costumam fazer em dias normais. O subdistrito de Guarus registra em toda sua extensão, pelo menos 30 casos de Covid-19 segundo informe epidemiológico do município. Mesmo com os casos espalhados em bairros diferentes, a população parece não temer o mal que o coro-

navírus pode proporcionar. O grupo considerado de risco abrange pessoas com mais de 60 anos, maioria entre os flagrados nas ruas de Guarus.

Parque Rodoviário - Mariane Pessanha Segunda-feira (18) - Voltar para casa à noite e ver a BR 101, no Parque Rodoviário, praticamente vazia, numa segunda-feira, foi uma sensação estranha. Mesmo na pandemia, a rodovia sempre esteve com o trânsito intenso, principalmente de caminhões. A falta de movimentação despertou, em mim, de forma bem concreta, que realmente estamos vivendo dias solitários, sem abraços, companhias e o vai e vem das pessoas e veículos nos principais trechos da cidade, na correria tão característica do dia a dia. Na Avenida XV de Novembro, o silêncio foi ainda maior. A circulação de pessoas e veículos foi rara. Terça-feira (19) – No meu segundo dia de observação, ainda havia pouquíssimos veículos na Avenida XV de Novembro. No terminal, assim como no dia anterior, as chegadas e partidas de coletivos praticamente não aconteceram. Havia apenas três um ônibus parado no terminal. Na BR 101, trânsito um pouco mais intenso de caminhões. Quarta-feira (20) – Pela manhã, por volta de 10h, a quantidade de veículos circulando pela BR 101 me assustou. Caminhões, veículos pequenos e até pedestres caminhando pelo acostamento. Já a Avenida XV de Novembro permaneceu praticamente vazia. Quinta-feira (21) - O trânsito intenso de veículos na BR 101 permaneceu. Mais carros de passeios, caminhões e pedestres na rodovia. Pela manhã, do Parque Rodoviário, onde moro, até a sede da Terceira Via, no Centro, o que vi foi um movimento grande de pedestres nas ruas. Parecia que o lockdown

estava perdendo a força Sexta-feira (22) - No ú tenso na BR 101. Muito segunda-feira, hoje, pa veículos e pessoas nas Na Avenida XV de Novem ção maior de veículos e


Lockdown

ebaixo de um isolamento social mais radical - Aloysio Balbi

te negra (bubônica) à gripe espafalar. Eles estão longe também da as duas grandes guerras mundiais. b ótica crítica, como a cidade de a pandemia. Seguindo seus olhae não enxergaram o vírus. Mas, a orma nítida como as pessoas se m estar diante de um inimigo ino misto de pandemia e "guerra".

Quase todos os países estão unidos contra ela a Covid-19. Com narrativa em primeira pessoa, eles falam de comportamento no lockdown. Verificaram que boa parcela dessa gente era preza fácil para esse vírus, um divisor de águas na história da humanidade. Na sombra desses olhares, foi possível perceber alguns raios de sol ou de luz, não como o cometa Halley, que só dará o ar da graça aos habitantes da Terra em 28 de agosto de 2061. Certamente, o coronavírus será passado. Esperamos que o planeta e sua gente tirem lições da tragédia deste momento. Fotos: Carlos Grevi

Especial Donana e outros cinco bairros - Ocinei Trindade A região de Donana e bairros como Tropical, Varandas do Visconde, Imperial, Santo Antônio e Bela Vista fazem parte da minha paisagem diária, pois ali vivo. Desde o início da quarentena, em março, observo quem cumpre e descumpre o decreto sobre o isolamento social para conter o avanço da Covid-19. Falta mais atitude consciente. Com a adoção do lockdown pelo governo municipal, percebi mudança de comportamento. As ruas ficaram mais desertas ou menos ocupadas. Na segunda-feira (18), às 12h30, em direção ao Centro, verifiquei menos carros na avenida que corta cinco bairros. Na Rua do Ouvidor, poucos carros estacionados, vias quase vazias. No caminho de volta para casa, às 19h30, havia pouquíssimos carros circulando na Formosa. Na ciclovia da Artur Bernardes, contei 12 pessoas fazendo caminhada ou corrida. Na rua onde moro, três mulheres conversavam no portão de uma residência sem máscara. Ainda falta consciência? Noite mais silenciosa com menos veículos circulando. Na terça-feira (19), tive a impressão de ver menos pessoas ainda nas ruas. Apesar de padarias e mercadinhos abertos, os proprietários se protegem com cordão de isolamento, exigem uso de máscaras nos estabelecimentos. Porém, vi meninas adolescentes circulando no bairro sem usarem máscaras de proteção e entrarem em uma quitanda de frutas desse jeito. A comerciante com máscara no rosto, as atendeu mesmo assim.

Volto para casa, caminho pelas ruas centrais à noite. Notei menos pessoas no percurso na quarta-feira (20). Prostitutas e travestis seguem se expondo. Vi menos gente praticando exercícios ao ar livre na Avenida Lourival Martins Beda. O objetivo do lockdown é reduzir a circulação de pessoas nas ruas. Isto parece oscilar nos horários. Pedintes e ambulantes apareceram mais nos cruzamentos onde há sinais de trânsito. Estas impressões se repetiram na quinta-feira (21). Na sexta-feira (22), em mais um dia de lockdown, conversei com moradores do bairro sobre a medida adotada. Há dúvidas sobre a eficácia de isto diminuir os riscos de contaminação pelo novo coronavírus. A morte do deputado estadual Gil Vianna durante a semana causou um espanto, pois é a primeira pessoa de projeção na cidade que perdeu a vida para a Covid-19.

Pelinca e Tamandaré (Letícia Nunes) No primeiro dia de lockdown, na Avenida Pelinca e nas ruas do Parque Tamandaré, percebi que a movimentação de pessoas diminuiu, em relação aos dias anteriores, onde as pessoas estavam mais relaxadas ao isolamento social e circulavam com mais frequência. Com o decreto, pouca gente nas ruas, mas muitos veículos trafegando, principalmente na Rua Conselheiro José Fernandes, justamente por ser uma rota alternativa, pois parte da Avenida Pelinca estava interditada para o trânsito. Muitos carros estacionados ao redor das agências bancárias, mas as filas, tanto nos bancos quanto na casa lotérica, eram pequenas. No segundo dia, a impressão que se tinha era que o movimento estava ainda menor, tanto na circulação de pessoas a pé, quanto de veículos circulando. Foi o dia em que o lockdown fez mais jus a sua definição. À noite, estava tudo completamente vazio, cenário diferente do habitual, onde bares e restaurantes viviam lotados antes da pandemia. O terceiro dia chegou e o movimento começou a querer retomar o fôlego. Muitos carros foram vistos rodando nas ruas próximas, pessoas conversando, carros de som, gente que parecia estar passeando. Porém, a noite o que se via eram trabalhadores voltando para suas casas e a presença expressiva de

Da Lapa ao Centro - Marcos Curvello Resido na curva da Lapa, próximo à Igreja Nossa Senhora da Lapa, e caminho, todos os dias, pouco mais de 10 minutos para chegar à redação do jornal Terceira Via, na rua Governador Teotônio Ferreira de Araújo, no Centro. Desde o início da quarentena, tenho mantido o distanciamento social e só saio para trabalhar, vez que jornalismo é atividade essencial, e comprar alimentos ou remédios. A impressão que tenho, porém, é de que as medidas da prefeitura encontram pouca resposta da população. E isso ficou evidente, para mim, após Rafael Diniz decretar lockdown. Se pensarmos na forma como essas medi-

a. último dia de observação, o movimento continua inos veículos de passeio e caminhões. Ao contrário da arece que o lockdown acabou. A movimentação de ruas dá a impressão de estarmos num dia normal. mbro o cenário não foi muito diferente. Movimentae pessoas.

motoboys e entregadores dos serviços de delivery. O quarto dia amanheceu com movimentação parecida com o dia anterior. Uma fila grande se formava em frente ao banco Itaú. Porém, na agência do Banco do Brasil que fica bem em frente, não havia filas. Este trecho da Avenida Pelinca continuava interditado para veículos. A casa lotérica recebia movimentação e ainda tinha uma quantidade significativa de pessoas circulando nas ruas, a maioria de máscaras. Na sexta-feira, quinto dia, eu pude ver muitos profissionais da saúde caminhando pelas ruas, identificados logo pelas roupas todas brancas. Muitos carros estacionados nas ruas, o que posso atribuir aos profissionais que trabalham nos bancos, farmácias, padarias, que estão funcionando no lockdown. No geral, até aquele momento, os moradores dessa região estavam cumprindo o isolamento.

Do Turfe Clube ao Centro - Thaysa Assis

das foram aplicadas em outros países, fica evidente que há baixa adesão, de um lado, e pouco rigor, do outro. Na segunda-feira, quando o lockdown entrou em vigor, causou-me espanto a pouca diferença que fez na movimentação de veículos e pessoas no trajeto que faço até o trabalho. Havia gente fazendo cooper, fila em casa lotérica e loja de bolos atendendo em meia porta. Na terça, o movimento parecia ainda maior. Uma igreja se mantinha aberta, como se estivesse pronta a receber qualquer quantidade de fieis, sem ninguém para orientar e ajudar quem chegasse a se higienizar. Vi, ainda, uma pequena celebração particular, com pelo menos quatro pessoas compartilhando uma mesa improvisada em uma garagem. Na quarta, as ruas pareceram mais desertas, mas ainda foi possível verificar trânsito de carros e ônibus. À noite, moradores jogavam vôlei na quadra da Praça da Lapa. Na quinta, havia fila para uso de caixa eletrônico em uma agência bancária e aglomeração em uma farmácia. Já na sexta, vi gente nos pontos de ônibus, funcionários de uma loja aglomerados, à espera do início do expediente, e pessoas reunidas na frente de suas casas, confraternizando em torno de música e bebida. No curto espaço que percorro diariamente, o lockdown não foi capaz de mudar de maneira radical a paisagem.

Percorrendo o caminho de todos os dias, 28 de março, Gilberto Cardoso, Saldanha Marinho, Marechal Floriano e 21 de abril, a segunda-feira foi atípica, depois de tanto movimento na cidade, mesmo com o isolamento social. Após o decreto de medidas de lockdown anunciado, a cidade amanheceu vazia. Os efeitos naquele dia já eram nítidos e a palavra conscientização já gritava em forma de alívio para que assim, os casos de coronavírus, pudessem diminuir. Durante todo o primeiro dia das novas restrições, percorremos pontos da cidade e vimos que não havia muitas pessoas circulando. Prova disso, foi o resultado do índice de isolamento social disponibilizado pela prefeitura, que no primeiro dia,

deu o índice de 60 %. Enquanto na última semana estava entre 40 e 45%. Terça-feira / Quarta-feira - Já na terça-feira, o cenário era diferente, assim como na quarta. Mais movimento de veículos nas ruas e pessoas circulando. Algumas até sem utilizar a máscara, equipamento de proteção obrigatório. Ruas em torno do centro e bairros como IPS, Capão, Turfe Clube, a circulação de pessoas também era bem maior. Próximo a rua Dr. Beda, também pude observar que comércios locais estavam funcionando normalmente. Era perceptível que em alguns pontos onde a prefeitura anunciou o bloqueio de ruas e avenidas, além de cruzamentos, alguns trechos não estavam com impedimento da passagem de carros. Em nenhum momento observei fiscalização. Quinta-feira - A equipe do jornal indo fazer uma matéria na Beneficência Portuguesa presenciou uma grande fila e todos os assentos ocupados do Centro de Controle e Combate ao coronavírus, a cena assustou, pois quase todos os dias nossa equipe filma o local para ter sempre imagens atualizadas. E desta vez, chamou atenção. Pessoas em pé, algumas até sentadas no chão do outro lado da rua. O centro da cidade sem movimento. Percorrendo a Avenida 15 de novembro presenciei muitos carros no famoso horário do “rush” entre 17h30 e 18h30. Pela BR 101 altura da UPA, havia blitz da Polícia Rodoviária Federal e também na BR 356, sentido Furnas. Sexta-feira - Bastante carro na rua, fui até o hortifruti, já tinha uma quantidade de pessoas fazendo suas compras para o fim de semana. A movimentação no Centro assustou próximo à Caixa Econômica Federal, uma fila de pessoas aglomeradas aguardando abertura do banco.



a n n a i V l i G Hoje tudo é dor e saudade. Mas sua marca estará sempre presente em nossos corações, motivando o trabalho por uma cidade cada vez melhor.

Homenagem do amigo,

Rafael Diniz




Foto: Arquivo Antônio Cruz



Eliane Siqueira.

Paula S. Boechat e suas filhas AntĂ´nia e Malu

LĂ­via Cunha e sua filha Liz.

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dançar Nascido para

Ocinei Trindade

Historiador e sociólogo, José Fernando Rodrigues planeja relançar livro sobre dança contemporânea

O historiador e bailarino José Fernando Rodrigues é autor do livro "As origens da modern dance", publicado pela Editora Annablume em 2007, 2009 e 2012. Após o período de isolamento social por conta do novo coronavírus, um relançamento da obra está sendo planejado. O profissional reúne também um farto material sobre o ensino e a prática da dança como forma de terapia e tratamento contra a depressão, doença que ele conheceu bem de perto nos últimos anos. Atualmente, dedica-se a palestras e instruções de dança pela internet. Seu livro, que deve ser relançado em breve, discute o rompimento dos paradigmas estabelecidos pelo ballet clássico no início do século passado, nos EUA. “É um entendimento básico para um apaixonado por dança contemporânea brasileira. Pude conhecer, in loco, metodologias várias: Graham, Horton, A. Nicolai, e trazê-las para a contemporaneidade. Tenho escrito sobre dança e saúde mental/ física, estudos de casos”, revela. Há 37 anos, José Fernando Rodrigues se divide entre o magistério e a dança. Aos 54 anos de idade, o bailarino e coreógrafo vive uma fase de recomeços e voluntariado. Ele tem participação em mais de 100 espetáculos. O artista não esconde seu entusiasmo pelas possibilidades do corpo. Desde 2018, ensina dança gratuitamente a pacientes da Unidade Básica de Saúde do Parque Imperial e a estudantes de pedagogia do Isepam. José Fernando não abandonou o magistério, mas deixou para trás o excesso, quotas e metas do setor privado, onde fez carreira. “Voltarei logo ao espaço público. Atualmente, trabalho voluntariamente com pacientes mentais da UBS e alunos do ISEPAM, além de dois estúdios privados e orientação de mestrado e doutorado. Optei por retribuir muito do que a dança me deu: disciplina, equilíbrio, ainda que tênue entre saúde mental e física, e um olhar generosamente pautado pela alteridade”, diz. Depressão e dança Houve um momento em que a depressão trouxe dificuldades ao bailarino. Após a perda da mãe, foi levado por uma amiga até a UBS, onde passou a ser acompanhado pela equipe do programa de saúde mental. “Ofereci meu trabalho de dança, posteriormente, e, fui aceito. Me esforço de forma espartana, todos os dias para ter saúde mental e física, além da vestimenta básica: ser grato. A palavra é ressignificar”, considera. Antes mesmo dos problemas de saúde, José Fernando Rodrigues sempre encarou a dança como algo terapêutico. “Ela cura, salva, devolve eixo e autoestima! Dança educa, regra, vivifica. Sem usar a linguagem oral, a dança permite eixos generosos de conexão, fala , representatividade, estimula e distribui afetos. Falaram que eu estava esquizofrênico, e se fosse? Pratico dança de segunda à sexta. O suposto hobby é hoje razão de uma vida financeiramente menos estável, mas feliz”, afirma. A UBS do Parque Imperial concentra atendimento para saúde mental em Campos. Ali, o coreógrafo trabalha com jovens entre 15 e 30 anos. “Sou um " facilitador " como aprendi com Gabriela Alvarenga, chefe da psicologia local”, destaca. No Isepam, atua com alunos entre 20 e 50 anos do curso de pedagogia. “São estudantes do ensino público, desprovidos de recursos financeiros. Eles se permitem aprender com a prática! Ali, também aprendo muito com a coordenadora do curso, Josete Soares”, elogia.

José Fernando Rodrigues planeja livro e usa a dança para superar depressão e preconceitos

Fotos: Carlos Grevi

Volta aos palcos O preconceito de homens na dança ainda existe, segundo José Fernando. “Às vezes, é segregação. Não podemos fingir para agradar um padrão de família ou sociedade. Quando criança, quis fazer aula de piano. Ouvi de minha grande apoiadora, minha mãe: “calma, vai acontecer”. A música veio pela dança”, conta. José Fernando sente falta dos palcos, para onde pretende sempre voltar. Em 2019, fez três apresentações no ginásio do Isepam com seus alunos. Este ano conta com duas turmas. “Fiz uma apresentação na UBS do Imperial com Paola Rangel, minha aluna, anjo de luz em minha vida. Faremos mais depois da fase de pandemia do novo coronavírus”, planeja. ”É uma vasta vivência. Creio que não preferi a dança contemporânea. Ela me escolheu. Aceito esse chamamento, cabe em mim. Danço desde os meus 17 anos. Amo o palco e ainda extrair o melhor das pessoas. Luz para todos, sem exceção. Dança tem que ser inclusiva”, finaliza.

José Fernando Rodrigues é voluntário na arte de ensinar dança, caminho que usou para recomeçar sua vida.



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@priscylabezerra

INSPIRAÇÃO

MIROSLAVA DUMA A russa mais famosa do street style, que sempre aparece impecável e com looks pra lá de inusitados não poderia passar despercebida por aqui. Inspirem-se nesta mulher, que foge do padrão com seus 1,55 de altura, mas sempre com muita elegância.

DESTAQUE

DE OLHO NELA @ju_ribeiros A delícia de passar pela quarentena com um sorrisão leve e lindo assim ! O melhor ângulo desta musa inspiradora!

INSTAGRAM

@carlosferreirinha

TÁ NA MODA | sorriso de manhã

LIVES | QUEM ESTÁ TOMANDO CONTA DO MOMENTO

@silviabraz

@carvalhando

@camilacoutinho

BELEZA

Não dá para negar: reservar um tempo para cuidar de si mesma pode fazer toda a diferença para a sua saúde física, mental e até mesmo para a pele. Por isso, que tal aproveitar o tempo em casa durante a quarentena para aderir a algumas práticas de self-care e manter o rosto bonito e hidratado? O termo self-care nada mais é do que “autocuidado”, que vem sendo para denominar hábitos saudáveis e ações que proporcionam bem-estar em todas as áreas da vida. Para garantir a eficácia de uma rotina de self-care, o primeiro passo é cuidar da sua saúde mental. A ideia central é estar bem com o seu interior e, depois, se doar de forma mais positiva ao exterior. Por isso, é importante entender que separar um período do seu dia para cuidar de si não é egoísmo. Na verdade, é uma boa maneira de obter sucesso em todos os âmbitos da sua vida. É preciso encontrar as atividades que fortalecem a sua autoestima. Atividades simples podem dar uma forcinha extra, como hidratar os cabelos, fazer as unhas, vestir roupas que nos façam sentir bem, dançar e cantar. Além disso, existem outros hábitos que podem ajudar a cuidar da mente e aliviar o estresse causado pela rotina. Veja 5 práticas de self-care capazes de deixar a pele mais bonita: 1# Crie o hábito de beber água: ingerir água várias vezes ao dia; ela faz bem para a pele e para o organismo como um todo. 2# Invista em máscaras faciais: com elas, é possível cuidar da pele do rosto e garantir bons resultados. 3# Tome banhos de sol diariamente: uma dose diária de vitamina D pode trazer uma série de benefícios para o corpo. Apenas,15 Paula Marsicano minutos de sol, diariamente, nos horários de menor incidência (antes das 10h e depois das 16h) já é o suficiente. Mas lembre-se: use protetor solar! 4# Não descuide do skincare: aproveite este momento para colocar os seus cuidados com a pele em dia! Use os Dermatologia Integrada seus tratamentos indicados pelo dermatologista para deixar a pele impecável. 5# Não esqueça de consumir outras vitaminas: são Rua Voluntários da Pátria 500 sala 108 muitos os nutrientes fundamentais para conquistar uma pele hidratada e saudável, como as vitaminas C, A e E. Por isso, elas podem Ed. Platinum Tel: 22 3026-1819 @paulamarsicano (e devem!) estar presentes na sua alimentação.

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5 PRÁTICAS DE SELF-CARE QUE DEIXAM A PELE MAIS BONITA!


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GENTE BACANA

QUARENTENA VIP

LEONARDO PINHEIRO, atleta "Adoro a liberdade que a bicicleta proporciona, confesso que tenho muita dificuldade em ficar pedalando no memso lugar, mas quero muito agradecer a todos os profissionais de educação física, que estão se reinventando para trazer alguma tranquilodade aos que estão em casa."

VIVIANE MONTEIRO , médica, campista radicada no RJ, com o marido Marcelo e os filhos Pedro e Antônio

"Tenho refletido muito neste período sobre como somos vulneráveis. Que saudade de estar junto, ouvir o outro, abraçar, rir, colocar os pés na areia e deixar a onda vir... amar ainda mais os amigos, a família,... os que são um pedacinho de nós, da nossa verdadeira história, Quero sair melhor dessa fase, por dentro e por fora! Tenho visto Lives de saúde (sem dúvida), de meditação, de empreendedorismo... e comédia! Muitos, muitos e muitos filmes e séries, e trabalhado muitooooo, porque não posso parar, o que tem sido muito bom também em todos os sentidos!

FIQUE EM CASA! A FOTOGRAFIA PELO FACETIME COM FARHAT EM PLENA QUARENTENA.

LOOK NOW LIA MIRIAM AQUINO CRUZ,

estilista, professora de inglês, socialite... Em pleno lockdown, cumprindo fielmente a ordem do "fique em casa", Lia Míriam Aquino Cruz, segue a quarentena de 60 dias isolada em sua casa, para conter o contágio da Covid19, que assola o mundo. Na linha das palavras, plagiando Che Guevara, ela endurece nas regras, sem perder a ternura. Nada a impede de manter a casa em perfeita ordem e progresso, estar sempre com seu alto astral renovado, sob efeito de muita fé e positivismo. Seus cuidados com a estética e físico ela mantém com contatos virtuais em consultas e aulas, na regra do mente sã, corpo são. Então é facil vê-la dando continuidade ao hábito de postar em sua rede social o que está vestindo na data, os chamados "looks do dia", com as próprias peças retiradas de seu closet, incentivando e elevando a auto estima dos seus seguidores e amigos. Bacana!

Lia Miriam mantendo também a culinária da casa com bom gosto e sofisticação

CONTAGIANDO A MODA Em tempo de COVID-19, há também aqueles que têm a coragem de embarcar em novas aventuras. É o caso de Alessandro Vergano, antigo gestor do sector de design e luxo - antigo CEO da Tom Dixon e ex-diretor de Marketing Global da Swarovski -, que decidiu lançar uma nova marca de vestuário de luxo, roupa de praia e acessórios com uma forte pegada verde para a primavera-verão 2020.

Duda Kropf

"Essa quarentena tem me trazido alguns aprendizados, junto a ele, a necessidade de me inovar enquanto profissional e até mesmo mostrar pra mim mesmo que ser artista independe do do equipamento e que na verdade, a "cereja" está no seu olhar e direcionamento. Pensem na alegria em poder criar mesmo a distância, como Por exemplo eu aqui e Fernanda Schneider (uma de minhas convidadas a posar) nos EUA. É literalmente desapegar, desapegar do equipamento, da qualidade, do olho no olho, dos meus costumes. Eu respiro arte e isso está sendo muito legal para meu trabalho e crescimento profissional. Minha outra parceira pra esse projeto, foi a Duda Kropf, que além de ser uma amiga, sempre foi amada por minhas lentes. Espero que gostem, vocês conseguem conferir os clicks também pelo meu instagram: @farhat."

Kampos, é o nome do novo rótulo que deriva do grego clássico hippokampos, cavalo marinho. Oferece uma linha de produtos inteiramente feita em Itália que inclui fatos de banho, camisas, T-shirts, perfumes, óculos de sol, paros e acessórios para homens, mulheres e crianças. Os produtos são fabricados em Econyl, nylon 100% regenerado, algodão orgânico e GOTS (Global Organic Textile Standard) e Newlife, um sistema certificado de fio de poliéster 100% reciclado a partir de garrafas de plástico. Todas as peças de vestuário são, portanto, derivadas da reciclagem de garrafas de plástico, redes de pesca abandonadas no mar, nylon ou tecidos orgânicos e podem ser novamente recicladas após utilização.

Fernanda Schneider

Gabriel Fahrat, Fotógrafo



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Valentina Ca rdoso

Gabriela Ramos

Fantinatti Matheus Pinagé

Marcela Romeu Liang

Ana Laura Rodrigues

Henrique Vasconce llos

Nina Damas

Feliz Aniversário, famosinhos!

Lucas D'Angelo

Pedro Henrique Nogueira Pinto

Alycia Rangel de Almeida

Clara Araújo

Amy Joly Lyrio Barreto Prado

Bento Martins

Anthony Neto


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VIAsaúde



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Reviver... Reviver Trago com muita alegria um pouco da vida dessa mulher que conseguiu enxergar, lá pelos anos 60, a necessidade de Campos viver a arte de maneira mais visível. Vamos desbravar um pouco da história de Neuza Maria da Silva Venâncio Mignot. Casada com Carlinhos Mignot, eles foram pioneiros em decoração de interiores na cidade. Em 1965, eles abrem as portas da própria residência para a inauguração da Boutique Tongim Artesanato, passando-se a chamar, no ano seguinte, Galeria Tongim. Em exposição, podíamos encontrar entre outras coisas, móveis rústicos, peças antigas e objetos de arte. Promoveram várias exposições de artistas plásticos como: Hilda Goltz, Robert Newman e Virgílio Tenório Filho, esse, premiado pintor que deixou um acervo maravilhoso exposto nas casas de muitos campistas.

Espelho, espelho meu! Existe alguém mais forte do que eu?

Neuza e Carlinhos com os pais dela Chico Boa Morte e Anah na década de 70

candinhovasconcellos@gmail.com

Hoje, Neuza conta os dias para toda essa pandemia passar e a vida voltar ao normal para reativar os atendimentos as suas clientes. Neuza é daquelas que não dá importância à idade. Para ela, cuidar da saúde, ter disposição para o trabalho, desfrutar dos ares atafonenses, viajar e manterse atualizada com os noticiários a fazem uma mulher contemporânea, cheia de entusiasmo e desafios que a vida possa vir a impor. “Mamãe sempre foi uma mulher forte. Trabalhou muito e nos criou mostrando a importância da arte. Pintou em tela, em tecido, deu aulas de decapê e implantou, junto com papai, a primeira galeria de artes de Campos. Confeccionou fantasias de carnaval e roupas de couro. Até hoje ela se dedica a sua loja. Como mãe, sempre muito atenta aos nossos anseios, apoiando carinhosamente os projetos dos filhos e netos. Uma guerreira que nos orgulha todos os dias.”

Neuza Mignot expandindo alegria

Neuza também se especializou em pinturas de tecido e promoveu vários cursos de decapê. No quintal da sua casa ela criou um espaço para as alunas. Naquele momento eles passaram a respirar arte. O casal Mignot incentivou vários artistas na época, dentre eles, seu famoso vizinho Ivald Granato. No início da década de 70, com total apoio de Carlinhos, Neuza se associa a Andrey Coutinho inaugurando duas lojas: Karranca Móveis e a Karranca Presentes, todas duas especializadas em objetos de decoração. Com bom gosto e requinte, os campistas passavam a contar com um charmoso endereço para suprir suas necessidades. Ideias fantásticas não faltavam ao casal quando o assunto era trabalho. Já, em 1979, Neuza Mignot se associa a Anamárcia Lysandro Gomes na criação de fantasias de carnaval que ganharam fama em capas e páginas da famosa revista Manchete, de Adolpho Bloch. Nasce assim a Balkão Bis, referência em roupas de couro.

Neuza com as amigas Vânia Cruz e Sonia Barbosa na festa do glorioso São Pedro na fazenda Goiaba

Neuza com as amigas no carnaval do Clube de Regatas Saldanha da Gama no início da década de 50

Dia de seu casamento com Carlinhos Mignot em 23

Martha Mignot Cordeiro de julho de 1953 na igreja São Benedito

“Uma grande amizade por essa mulher guerreira, cheia de vida e de espírito jovem. As peças em couro atemporais idealizadas por Neuza marcaram época pela criatividade e bom gosto.”

Em 2008, com 77 anos, ela vivencia efeitos negativos nos planos econômicos instalados no país, os quais serviram para ela avançar, atitude de pessoas corajosas. Uma coisa era certa, Neuza não pensava em parar. Com apoio dos filhos, Ana Chrystina, Martha, Eneida e Flavio, ela volta a abrir sua loja no coração do comércio campista, no centro da cidade, após revitalização. Nesse mesmo ano é indicada pela CDL à Mãe Lojista.

Sônia Sampaio Barbosa Emoldurada pelos netos em janeiro de 2020

Na inauguração da Galeria Tongim com convidados e o premiado artista plástico Virgílio Tenório Filho

Neuza e Carlinhos no carnaval do Tênis Clube de Campos em 1950

Com Anamarcia Lysandro Gomes na Exposição Agropecuária de 1980 Um dos programas favoritos era curtir a natureza de Atafona 1950 exibindo a arte em couro

Reunida com a família Venâncio na Fazenda Goiaba festejando São Pedro

Neuza e Carlinhos Mignot: amizade, amor, carinho, cumplicidade é muita alegria de viver

Com o consagrado artista plástico Ivald Granato

Com os filhos em Abril de 2019: Ana Chrystina, Eneida, Martha e Flavio


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Juliana Ribeiro @ju_ribeiros

O querido e talentoso ator, Robson Maia, que está fazendo uma temporada nos EUA, registrou um pouco da experiência super bacana pelas highways americanas. Alguns estados já retornaram às atividades comerciais por lá, dando os primeiros e cautelosos passos pós covid-19.

Legal demais ver como alguns casais vivem, de forma leve e gostosa, a quarentena. Lorena Laurindo e Emil Mansur são uma dupla e tanto!

Janine Raposo e sua princesa Branca curtem juntas o combo da quarentena: filme e pipoca!

Precisamos sempre exercitar nosso hábito de elogiar mulheres admiráveis. Livia Motta é guerreira, generosa e muito humana! Sou fã.

O querido Lucas Barbosa mesmo de casa mantém sua visão bem ampla.

TÁ ROLANDO! L

arissa Raposo curte o último mês de gravidez toda boba com o lindo quartinho da sua Laura, assinado por ela com tanto carinho. Ficou super delicado e de extremo bom gosto! Não vejo a hora de conhecer nossa raposinha..

arol Rocha, atualmente residindo C em Floripa, está se preparando para um novo projeto. Mais pra frente

Ricardinho Britto celebrou seu aniversário ao lado de Nicola Muglia e sua cachorrinha Luna. Feliz tudo, amigo querido! Você é one of a kind!

conto melhor..

egal observar a movimentação dos Lpandemia. empreendedores locais diante da Muitos se desdobrando para mapear alternativas comercias diante desse cenário a fim de manter a força da marca e claro, resultar em vendas. Parabéns pela gestão inteligente, Léo Manhães!

doutora Nathália Pessanha se recupera A após passar dias difíceis internada com covid-19. Nat já está em casa e logo em breve pronta para voltar pra batalha.






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