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Combate à violência contra a mulher ainda é um desafio
from J3NEWS EDIÇÃO 328
by terceiravia
No ano passada uma mulher foi assassinada a cada seis horas no Brasil; Só no RJ foram 110 feminicídios zada de Atendimento à Mulher (DEAM), Madeleine Dykeman relata que, ao assumir a unidade, em novembro de 2022, percebeu a necessidade imediata de ampliar o número de atendimentos e também de resolução dos casos. “Nós conseguimos dobrar nossa capacidade de atendimento. Nos dois primeiros meses do ano passado, a delegacia fez 242 atendimentos; no mesmo período deste ano, já atendemos 468 casos”, conta a delegada. mulheres acabem deixando de denunciar os agressores, mas existem equipamentos para o amparo dessas mulheres que precisam sair de casa e recomeçar suas vidas. Campos possui uma rede de proteção à mulher que inclui a Casa Benta Pereira, de acolhimento institucional e sigiloso para mulheres em situação de violência. Em casos onde há necessidade de a vítima não retornar à casa, a equipe cuida, inclusive, dos documentos e da capacitação profissional dessa mulher, para que ela possa recomeçar, futuramente, em outro local.
Dois feminicídios e um caso que por pouco não terminou em morte, em Campos, acenderam o alerta da sociedade para o combate à violência contra a mulher. Um crime muitas vezes silencioso, que ocorre todos os dias dentro de alguns lares, ganhou protagonismo no mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. O assassinato das jovens Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, que estava grávida de oito meses, e de Flaviana Lima Muniz, de 23 anos, que deixou um filho de seis, além do caso do homem que vinha espancando a esposa há dias e estuprou as filhas, uma delas, uma adolescente de 12 anos, chocaram a população da cidade. Os números são alarmantes: no ano passado, 110 mulheres foram assassinadas no Estado do Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Em todo o Brasil, foram 1.400 mulheres assassinadas, uma a cada seis horas, segundo levantamento do Monitor da Violência.
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Em Campos, sete feminicídios foram registrados em 2022, sendo quatro na área da 134ª DP (Centro) e três na área da 146ª DP (Guarus). Os dados foram informados pela delegada titular da 146ª DP, Pollyana Henriques. Em fevereiro do ano passado, a professora Luanda Bittencourt, de 46 anos, foi morta pelo ex-marido. Ela estava em um estacionamento, que fica na Rua 13 de Maio, no Centro de Campos, quando o homem fez três disparos contra ela, que foi atingida no tórax, abdome e uma das pernas. Ela ficou mais de três semanas internada e morreu no dia 27 do mesmo mês. O acusado ainda não foi julgado.
Devido ao grande número de registros de abusos sexuais e estupros, também foi criado o Núcleo de Crimes Sexuais. “O estupro é um crime de difícil prevenção, porque 95% deles ocorre no seio familiar. Muitas mulheres não denunciam o marido que abusa dos próprios filhos, por medo. Há também os casos em que os filhos relatam os abusos e a mãe desacredita o que a criança conta”, diz.
E completa:“Eu entendo que passar pela porta da DEAM é romper uma barreira muito grande, é preciso muita coragem dessa mulher, que sabe que isso significa pôr fim ao casamento. Muitas vezes ela depende economicamente desse homem, mas a mulher precisa saber que ela não está sozinha, uma vez feita a denúncia, ela passa a contar com o amparo da Polícia e de outros órgãos, parceiros, como o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), para que ela possa recomeçar. Continuar ao lado do agressor pode ser uma ameaça à vida dela”, alerta Madeleine.
O que acontece após a denúncia?
O medo de não ter para onde ir e a dependência econômica são motivos fortes para que as
O município também conta com o CEAM Mercedes Baptista, inaugurado em 2021 e, desde então, já realizou mais de mil atendimentos. “É bom lembrar que a subsecretaria trabalha com a mulher em sua totalidade, independente de ser vítima de violência doméstica. Entendemos que é importante que ela esteja no mercado de trabalho para sair do ciclo de violência porque muitas se mantêm nesta condição pela dependência financeira. Somos referência para encaminhamento e orientação para as mulheres que precisam de nosso apoio, seja na área da saúde, qualificação ou jurídico”, informa a subsecretária de Políticas para Mulheres, Josiane Viana. Por entender a necessidade de conscientizar adolescentes sobre os tipos de violência que ocorrem, muitas vezes, no ambiente familiar, a Subsecretaria também criou o projeto Maria da Penha vai às escolas. “É uma ótima oportunidade para falarmos sobre esse tema que, muitas vezes, está no dia a dia desses adolescentes, mas nem sempre é possível identificar. Queremos prevenir namoros abusivos e relacionamentos tóxicos que venham se transformar em estatísticas de violência”, disse Josiane. Por meio de parceria com o Governo do Estado, Campos também recebeu um polo do Programa Empoderadas, que oferece aulas de defesa pessoal através das artes marciais. O polo funciona na Vila Olímpica Lulu Beda, no Jardim Carioca. A advogada Kelly Viter, integrante da Comissão de Direitos trabalho... são controles que ele disfarça como ciúmes e a mulher aceita, porque pensa estar sendo amada, pois o homem sente ciúmes dela. Só que esse comportamento vai piorando, até que em uma briga ele dá um empurrão, um tapa, e depois pede desculpas, diz que ama. É aquela lua de mel, até acontecer de novo, e em muitos casos o nível da violência só vai piorando. Qualquer ato de violência precisa ser registrado”, ressalta a delegada, acrescentando que uma denúncia, que vai gerar uma medida protetiva, pode ser a salvação da vida dessa mulher. As mulheres que se sentirem ameaçadas, seja em sua integridade física ou psicológica, devem imediatamente buscar ajuda nos órgãos competentes. capazes por um filho. Eu, em determinado momento, quase perdi minha filha e eu não tenho como não me comover em um caso como esses”, disse a delegada, emocionada.
Humanos da OAB, diz que ainda são necessários muitos avanços, mas que hoje o município já deu largos passos, criando a Subsecretaria de Políticas para as Mulheres, que é pasta exclusiva para desenvolver políticas para o público feminino, e com a criação do CEAM. “O CEAM é a porta de entrada para atender a mulher em situação de violência. No Centro são elaborados diagnósticos preliminares da situação concreta de violência, encaminham à Rede de Serviços, acompanham o atendimento e oferecem orientações gerais, bem como atendimentos psicológico, social e jurídico à mulher vítima de violência”, destaca.
Casos brutais
Grávida de 8 meses, Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, foi assassinada na noite do dia 2 de março. O crime aconteceu na rua Simeão Scheremeth, no Parque Aurora, em Campos, e foi registrado por uma câmera de segurança. O vídeo mostra Letycia na direção de um carro estacionado na porta de casa, sendo surpreendida por duas pessoas em uma moto, que abriram fogo. Ela foi atingida na face, duas vezes no tórax, no ombro e na mão esquerda. A mãe da vítima, Cíntia Fonseca, que estava fora do veículo, ainda tentou segurar a moto e acabou sendo baleada na perna e caindo. O bebê, que recebeu o nome de Hugo, morreu na manhã do dia seguinte, no Hospital da Beneficência Portuguesa, em Campos. Cinco pessoas foram presas por suspeita de envolvimento no crime, incluindo o professor e empresário Diogo Viola de Nadai, que seria pai da criança.
Ele não vai mudar
A delegada Madeleine Dykeman explica que a raiz da violência contra a mulher é o machismo e que, aos primeiros sinais, a mulher precisa ficar alerta para não progredir em uma relação abusiva que pode culminar em feminicídio. “O ‘start’ é tênue. Ele começa principalmente com mensagens machistas. O homem começa a controlar o tipo de roupa que a mulher veste. Ele começa controlando o tipo de coisa que ela fala e com quem ela fala. Controla as redes sociais, começa a pedir a senha, afasta as pessoas que ela gosta, começa a reclamar do horário que ela chega à casa do
Delega se emociona
Na última quarta-feira (8), durante a cerimônia em celebração ao Dia Internacional da Mulher, que ocorreu no pátio da delegacia, a delegada titular da 134ª DP, Natália Patrão, se emocionou ao falar sobre o caso de Letycia, a gestante assassinada em Campos. “Eu quero me desculpar com a mãe da Letycia, porque não fui eu quem fez a oitiva com ela, mas eu precisava me manter um pouco distante para ter a clareza necessária para agir, porque eu já estava movida por uma emoção muito grande e eu precisava manter o foco na solução do crime”, disse a delegada, que após a cerimônia foi abraçar Cintia, que está em uma cadeira de rodas, após levar um tiro ao tentar segurar o homem que atirou na filha.
“Eu estou há 13 anos na Polícia e é comum que dentro do trabalho a gente vá perdendo a sensibilidade com relação aos casos comuns da delegacia, mas eu sou mulher, sou mãe, só nós sabemos do que nós somos
Já Flaviana Teixeira de Lima, de 23 anos, foi morta a facadas, no dia 4 deste mês, no distrito de Travessão. A jovem foi morta atrás do balcão do bar em que era proprietária. O autor não teve o nome divulgado pelas autoridades, foi preso. Segundo a Polícia Militar, o crime ocorreu na Rua Nossa Senhora da Conceição, por volta das 19h30. O suspeito chegou ao local de em um Gol preto, que foi estacionado na rua dos fundos do estabelecimento. A vítima, que levou cinco facadas, chegou a ser socorrida por frequentadores do bar, mas não resistiu aos ferimentos.