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AINFORMAÇÃO NO CATIVEIRO

Logo que as redes sociais ‘explodiram’ no Brasil, via expansão gigantesca da Internet, mostrou-se óbvio que a credibilidade da informação sofreria um grande baque. De toda sorte – ou azar – não se imaginava que assumiria proporção tão avassaladora como os anos seguintes viriam a demonstrar.

Devemos, entretanto, dar o crédito àqueles poucos que, de visão bem mais aguçada que a maioria de ‘nós todos’, pobres mortais, alertaram que a euforia tecnológica cobraria seu preço. Pois é... cobrou!

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A mais enfática das advertências veio do filósofo e escritor Umberto Eco, que em 2015, na cerimônia de outorga do tí- tulo doutor honoris causa em Comunicação e Cultura na Universidade de Turim (Itália), disse que “a Internet deu voz a uma legião de imbecis”.

O também teórico da literatura iria ainda mais longe, em sua avaliação profética, ao dizer que as redes sociais haviam dado voz a imbecis, “antes restrita a um bar e depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade”.

Qualidade zero – As declarações de Umberto Eco, à época polêmicas, não pouparam outros setores por ele citados e que hoje se veem confirmadas. “A internet não seleciona a informação. Ela ainda é um mundo selvagem e perigoso.

Tudo chega, abruptamente, sem hierarquia”.

Dizia o filósofo, ainda, que “a imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar”.

Mau jornalismo – Para Eco, a Internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo. Neste particular, vemos outro acerto visionário do escritor. “Se você sabe que está lendo um jornal como El País, La Repubblica, Il Corriere della Sera…, pode pensar que existe um certo controle da notícia e confia. Por outro lado, se você lê um jornal como aqueles vespertinos ingleses, sensacionalistas, não confia.”

Narrativa única; atores de seus próprios palcos

Nem sempre por má-fé –alguns posts são pura ignorância – mas, ainda assim, geram distúrbio

O aumento das fakes nos últimos anos preocupa e pode levar a uma insegurança imprevisível

A política é o segmento mais afetado quando a notícia não contempla a realidade dos fatos Toda a sociedade se vê refém da prática que pode trazer risco institucional

Difícil acrescentar à matéria observações outras depois de reproduzir falas –ainda que uma pequena parte – do que dissera o autor de “O nome da rosa”, com a genialidade que o caracterizava.

Seja como for, não é demais acrescentar que sendo uma grande parte dos usuários de rede social atores de seus próprios palcos, onde destilam narrativas como se fossem verdades únicas, a qualidade da notícia e da análise despencaram com a mesma velocidade que o desclassificado, o falso, o enganoso e o odioso subiram.

Não se trata, apenas, do mais rudimentar amadorismo. Trata-se da desinformação meteórica; da repugnante fake news que traz a agenda da instabilidade e desordem no ofício de informar. Trocando em miúdos, praticamente ninguém acredita em mais nada que lê. Fato e versão, mentira e verdade, se unem e de braços dados geram a desinformação.

Modalidades – Editando vídeos com logomarcas falsas; usando a imagem de alguém para adulterar suas falas... enfim, vestindo o falso como se verdadeiro fosse, é a função da fake, que ‘constrói mentira mais convincente que a própria verdade.

Para concluir, vale citar: nos anos 1930, dez aspirantes a ator fizeram teste para que um estúdio cinematográfico escolhesse qual deles mais se parecia com Charles Chaplin. O próprio Chaplin estava entre os que disputavam a vaga, mas foi dispensado. Motivo: quatro outros se passaram por Charlie mais que o próprio Carlitos. Sem comentário!

O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Conhecer é cortar, é selecionar

A Internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo

Na internet, os idiotas têm a mesma voz do que um Prêmio Nobel.

A internet não seleciona a Informação. Tudo chega, abruptamente, sem hierarquia.

UMBERTO ECO, escritor italiano – jornalista, filósofo e linguista – doutor honoris causa em Comunicação, disse, em 2015, que “a Internet deu voz a uma legião de idiotas”.

Autor de “O nome da Rosa”,projetou seu nome como um dos mais respeitados no mundo da cultura e pelo estilo franco e objetivo.

Morreu em 2016, aos 84 anos.

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