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Mulheres precisam de tempo para se cuidar
Cumprindo jornadas duplas e até triplas, elas são pressionadas pelo aumento do trabalho na pandemia
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Millena Soares
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Filhas, irmãs, mães, esposas, amigas, estudantes, profissionais, chefes de família, empreendedoras. Às vezes, tudo ao mesmo tempo. Mulheres de diferentes tempos e diferentes lugares compartilham hoje a experiência de viver em uma sociedade que lança sobre elas todo tipo de expectativas. Cumprindo duplas, às vezes triplas jornadas, submetidas ao home office, ao ensino remoto, a uma nova rotina doméstica, elas se viram especialmente afetadas pela pandemia do novo coronavírus. E, enquanto cuidam de todos, devem ter cuidado para não se esquecerem de si mesmas, alertam especialistas. Pesquisa divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em maio de 2020 apontou que as mulheres foram mais afetadas que os homens pelo aumento de trabalho: 26,4% delas afirmam que o trabalho doméstico cresceu muito. O percentual é mais de duas vezes maior que o dos homens, 13,1%. O estudo ouviu 40 mil pessoas por meio de um questionário online. Outra pesquisa, feita entre maio e junho de 2020, com três mil voluntários de várias regiões do país, dimensionou o impacto psicológico da pandemia sobre as mulheres. Conduzido pela equipe do neuropsicólogo Antônio de Pádua Serafim, do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o estudo concluiu que elas respondem por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. Tantas dificuldades, porém, serviram para introduzir no debate público o conceito de autocuidado, que, segun-
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Foto: Divulgação
Ginecologista | Manuella Azevedo diz que é preciso pensar em si Psicóloga | Izabelle Menezes destaca efeitos nocivos do estresse
do o Instituto de Psiquiatria Paulista, contempla um “conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo”. O Jornal Terceira Via ouviu especialistas, que listaram formas de colocar a ideia em prática.
Efeitos da sobrecarga
A psicóloga Izabelle Menezes explica que, em uma situação como a enfrentada durante a pandemia do novo coronavírus, as pessoas tendem a ficar mais suscetíveis a mudanças físicas, cognitivas, comportamentais e emocionais, o que pode ter impacto direto em sua saúde mental e emocional. “As mulheres com perfil multitarefa acumulam muitas funções no dia-a-dia e isso faz com que o estresse e os transtornos de ansiedade atinjam boa parte desse grupo. Em geral, os sintomas começam repentinamente, por volta dos 25 anos. Mas, hoje, já temos índices de adolescentes iniciando processos terapêuticos por conta desses transtornos. A mulher ansiosa e sob estresse se preocupa com coisas que ainda não aconteceram, com rotinas, com o tempo corrido”, enumera. Izabelle lista sintomas comuns da sobrecarga emocional e física a que muitas mulheres estão submetidas atualmente. “Isso pode levá-las a uma preocupação exagerada com dinheiro, família ou trabalho, falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitudes, dificuldade de concentração, fadiga e irritabilidade. Em casos mais graves, pode aparecer a chamada síndrome do pânico, insônia, queda de cabelo, acne e irregularidades na menstruação. E não podemos esquecer das alterações no metabolismo, como ganho ou perda de peso, da diminuição da fertilidade e do desejo sexual e do risco de doença cardíaca ou acidente vascular cerebral”, alerta.
Cuidado pessoal deve ser constante
Segundo a médica ginecologista Manuella Azevedo, a saúde depende do equilíbrio entre um conjunto de fatores, e, para mantê-la em dia, é preciso que as mulheres estejam atentas à importância de tirar reservarem um tempo para se cuidarem. “A saúde é resultado da soma do bem-estar físico, mental e emocional. Então, temos que pensar nesse conjunto. Ver como estão as emoções, os sentimentos e o físico também. Quando algum desses fatores não anda bem, contribui para o aparecimento de doenças e problemas que podem tornar a rotina mais pesada”, avalia. A especialista aponta, ainda, que o autocuidado é fruto de um exercício constante do zelo pessoal. “Todos nós temos que ter uma rotina de cuidados e isso vai desde a nossa alimentação até a prática de atividade física, suplementação adequada e um sono de qualidade. É importante que as mulheres tirem um tempo para se ouvir, ir ao salão de beleza e até tomar um café com as amigas, momentos em que a tensão e estresse do dia a dia possam ser esquecidos”, aconselha.
Atenção ao sistema nervoso
De acordo com a psicóloga Izabelle Menezes, é preciso atenção, também, ao equilíbrio do sistema nervoso autônomo. Para isso, mais uma vez, as mulheres devem se cuidar. “Uma crescente parcela da população feminina está envolvida em atividades que antigamente não faziam parte da sua vida. Um número cada vez maior delas estuda, trabalha, fuma, dirige um carro no tráfego intenso de grandes cidades, têm uma vida social intensa, o que provoca uma série de distúrbios que antes elas não tinham. Então, a dica é realizar psicoterapia, atividades físicas e ter momentos de relaxamento, o que ajuda a cultivar maior estabilidade emocional e fisiológica, tornando a mulher, como consequência, mais resiliente”, finaliza.
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