A Ordem especial especial
Fundação Paz na Terra Ano XLV - Edição especial Natal-RN / Abril de 2017
Dom Jaime 70 anos
a ordem especial | Editorial
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No Seridó, propôs uma Igreja preferencialmente dos mais pobres
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Na Rainha da Borborema, fincou os pés e fez história
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Encontro com os Papas: três momentos de graças
Expediente
Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689
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Conselho curador: Pe. Charles Dickson Macena Vital Bezerra de Oliveira Fernando Antônio Bezerra Conselho editorial: Pe. Júlio César S.Cavalcante Pe. Paulo Henrique da Silva Luiza Gualberto Adriano Charles Cruz, OFS Cione Cruz Hevérton Freitas Josineide Silveira Vicente Neto
A “menina dos olhos”
O ser humano é, com certeza, a mais importante de todas as criaturas de Deus. Foi ao ser humano que Deus dedicou maior atenção, dotando-o de inteligência e de poder diante das demais criaturas. Mesmo assim, como que para advertir o ser humano, Deus demonstra a própria grandeza e atemporalidade como Criador, como poetiza o salmista - “Mil anos para vós são como ontem, qual vigília de uma noite que passou”(Sl 89,4) e a pequenez e temporalidade humana como criatura de vida breve – “Voltai ao pó, filhos de Adão”(Sl 89,3). O Salmista ainda adverte que pela ira de Deus a criatura pode perecer e lembra a brevidade da vida humana. “Pode durar 70 anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a 80” (cf.Sl 89,10). Ora, se assim é a criatura humana, celebrar 70 anos é uma dádiva divina. É, pois, tempo de exaltar o Criador pelos bens que cada criatura alcança diante de Deus. É tempo de tomar nas mãos o Projeto de Vida com que foi contemplado pelo Criador e pedir: “Alegrai-nos pelos dias que sofremos (...), manifestai a vossa obra a vossos servos e a seus filhos revelai a vossa glória (...). Tornai fecundo, ò Senhor, nosso trabalho, fazei dar frutos o labor de nossas mãos”(cf. Sl 89,15-17). Parabéns, Dom Jaime. Que o senhor e sua vocação sejam “a menina dos Olhos” de Deus!
Edição e Redação: Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) FOTO DA CAPA: Brunno Antunes Revisão: Milton Dantas (LP 3.501/RN) Colaboradores: Diác. José Bezerra Diác. Willian Bruno Pe. Júlio César Josineide Silveira Idalécio Rêgo
Projeto e diagramação: Terceirize Editora (84) 3211-5075 www.terceirize.com Impressão: Gráfica Sul Tiragem: 1.000 exemplares
Cacilda Medeiros
Gratidão Assunto | a ordem especial
Comemoração dos 70 anos de vida, dia 30 de março deste ano
Vida vivida para viver “Tangará me gerou! Natal me formou! Caicó e Campina Grande me abraçaram! E agora Natal me possui! “ Sei em quem acreditei! (2Tim 1, 12) Parafraseando Ovídio, o grande poeta latino, cujos poemas tive oportunidade de conhecer durante os estudos de humanidades no Seminário Menor de São Pedro, em Natal, inicio estas palavras de gratidão pelos 70 anos de vida que Deus me concedeu até aqui. “Que poderei retribuir ao Senhor por o todo bem que Ele me fez? Erguerei o cálice da salvação invocando o nome santo do Senhor” (Sal 115). Recordo que, quando celebrei os meus 60 anos, ainda na Diocese de Campina Grande, refleti sobre a minha vida e fiquei à procura de palavras ou frases que pudessem traduzir
a riqueza de dons, de sentimentos e a profundidade e mistério da existência humana por mim experimentados até ali, e encontrei esta síntese através da expressão “Vida vivida para viver”. O meu lema episcopal: Sei em quem acreditei, escolhi, quando da minha eleição para Bispo de Caicó, pois traduz a minha vida em relação à vivência do Evangelho e minha admiração pelo entusiasmo e coragem do grande Apóstolo Paulo em anunciar o nome de Jesus a todas as gentes e a construção do seu Reino enfrentando todo tipo de sofrimento e desafio. Abril de 2017 | 3
Cedida
a ordem especial | Gratidão
Dom Jaime (o primeiro, à esquerda) com a família, na Fazenda Cruzeiro
A minha vida, a minha existência, que, segundo o salmista, atinge a idade bíblica dos 70 anos, tem uma base referencial muito forte e decisiva que é a Vocação para o Sacerdócio. Assim sendo, recordo na memória algumas referências muito profundas e sagradas que tenho a graça e a feliz oportunidade de compartilhar com todos aqueles ou aquelas que, no ontem ou no hoje da minha vida, marcaram o meu ser e a minha existência. 4 | Abril de 2017
Nasci na Fazenda Cruzeiro, município de Tangará, onde vivi até os quatorze anos contemplando a paisagem bucólica dos campos verdejantes banhados pelas águas do Rio Trairi e dos animais que neles harmoniosamente pastavam. No dia 29 de dezembro de 1956, minha mãe – D. Nini – escreveu na folhinha do calendário do Sagrado Coração de Jesus: “Hoje Jaime deu o primeiro passo para o Seminário”. Depois de seu falecimento, em 1992, encontrei dentro do seu
Gratidão | a ordem especial
Adoremos – livro de oração – esta anotação que muito me comoveu e que conservo em um pequeno quadro na minha sala de trabalho como sinal de amor e devoção filial. Naquele dia ela me levou a Santa Cruz, onde existia a grande experiência vocacional com o Pré-Seminário da Paróquia de Santa Rita dirigido e coordenado pelo Mons. Emerson Negreiros. Comecei a convivência com o Mons. Emerson, que sempre se dedicou a salvar a vida de
centenas de crianças recém-nascidas, aplicando-lhes soro fisiológico na barriga, e assim, promovendo a sua sobrevivência. Ainda não havia a experiência da Pastoral da Criança. Chamava-me a atenção aquela permanente ação de promoção e defesa da vida que se desenrolava na casa paroquial diuturnamente. Muitas vezes fui chamado para ajudá-lo neste procedimento, segurando as crianças em cima da mesa do jantar enquanto ele realizava a aplicação do soro. Uma vez, o vi trazer para dentro de sua casa e colocar em uma de suas dependências um homem cometido de tétano, a quem se dedicou com todo o esforço, dando os primeiros socorros e encaminhando para Natal com urgência, a ponto de mandar quebrar o cadeado da maternidade pública, pois a ambulância estava presa, e autorizar o motorista a conduzir o paciente para Natal. Ele era pároco e era médico. Curava corpo e alma. Todo sábado, dia da feira da cidade, ele proporcionava o trabalho do Dr. Eurides, dentista, que passava todo o dia atendendo feirantes que vinham das comunidades rurais e precisavam extrair dentes, pois o Mons. Emerson entendia que dentes estragados eram fator sério de comprometimento da saúde. Recebi a influência do Mons. Emerson, um homem enérgico, corajoso e inteiramente dedicado à vida de seu povo e, certamente por isso, eu, desde o primeiro tempo de padre, na Paróquia de Pendências, “já era identificado ontologicamente com as questões sociais”, segundo a expressão usada por Josineide Silveira, leiga engajada naquela Paróquia de Pendências quando eu era pároco ali, através do grupo de jovens e da liturgia, por ocasião da Missa de Ação de Graças pelos meus setenta anos. Alguns outros sacerdotes também me marcaram como exemplo de vida e discorro sobre eles. Primeiro, o Mons. Honório, de Macau, que conheci, na década de 60, no Seminário, já doente. Era um homem santo, que cuidava dos pobres, a ponto de, já idoso, com erisipela, ser levado num carro de mão para atender os doentes e conceder-lhes a unção. É venerado até hoje como o Santo de Macau. Abril de 2017 | 5
a ordem especial | Gratidão Outro marco é o Mons. Expedito, com o seu testemunho de pobreza, simplicidade e despojamento, empenhando-se em abrir a consciência das pessoas para compreenderem a cidadania e a importância de aprender a escolher os seus governantes. Era bastante dedicado à organização da Festa do Agricultor, onde aproveitava também para levar aos mais simples a formação política e social. Sempre lutando pela cidadania e formação de seu povo para construção de uma nova realidade foi o grande batalhador na luta das adutoras; por isso é perpetuada a sua memória como Profeta das Águas. O empreendedorismo do Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, através do Movimento de Natal, com a participação de padres, religiosas e leigos engajados, que com ele exerciam a missão de resgate da vida dos pobres, da educação para a cidadania com as escolas radiofônicas e o sindicato dos trabalhadores rurais. Eram eles, entre outros: Dom Nivaldo, Dom Alair, Mons. Expedito, Mons. Pedro Moura, Dom Tavares, Mons. Armando, Mons. Lucena, Mons. Penha, Madre Fidelis, Ir. Dolores, Teresinha Vilar, Otomar Lopes Cardoso, Otto Santana, Felipe Neri, Ulisses de Góis, Manoel Chaparro, José dos Santos, José Rodrigues, Teresinha Porpino e tantos mais que nem me é possível elencar diante da amplitude e abrangência do que foi o Movimento de Natal, mas que recomendo e guardo no coração sob o olhar de Nossa Senhora da Apresentação. Todos empenhados pela educação e o desenvolvimento da juventude, a valorização dos leigos e a promoção humana. Movido pela sensibilidade pelo social, escolhi fazer o Curso superior de Sociologia e Política, num período em que sentimos a realidade da exceção do regime militar, quando foram acontecendo os diversos passos de endurecimento: em 1968 o AI-5 até a experiência vivida em São Paulo na década de 70, no auge da repressão e da censura à imprensa, quando as páginas dos jornais iam sendo preenchidas por receitas ou tarjas pretas para indicar que algo não podia ser publicado. Lembro que até o nome de D. Helder Câmara era proibido de ser pronunciado. No Seminário, quando ingressei em 61, vivi um pouco da transição da Igreja saindo da força 6 | Abril de 2017
e da atuação da ação católica, com a sua penetração em todas as categorias sociais, com os grupos de Juventude (Agrária, Estudantil, Independente, Operária, Universitária) Católica. Começava a surgir a Sociologia do Desenvolvimento com o Padre Lebret. No Brasil havia referência de grandes sociólogos católicos como os Padres Bastos D’Ávila e Caldeirão Beltrão. Foi a época da criação do IBRADES que promovia cursos sobre a realidade brasileira para padres e leigos e eu tive a oportunidade de participar deste curso em 1987. Como padre recém-ordenado, vivi a transição do Concílio, às vezes um pouco traumática. Tivemos a reforma da liturgia, com a Missa em língua vernácula, a supressão do uso da batina e a atualização da Igreja para o Século XX, com as grandes referências como Povo de Deus (Lumen Gentium), da Liturgia com a participação do povo (Sacrosanctum Concilium) e da relação da Igreja com a sociedade em um processo transformador (Gaudium et Spes). A renovação conciliar possibilitou à Igreja o protagonismo dos leigos, especialmente das mulheres que se destacaram como grandes intelectuais, Safira Fernandes, Lourdes Santos, Conceição Simineia, Margarida Filgueira e tantas outras que influenciaram a Academia e o ensino do Serviço Social a partir da Igreja. Pela falta e carência de padres, algumas Paróquias foram assumidas na pastoral e trabalhadas administrativamente pelas Irmãs Vigárias das Congregações das Missionárias de Jesus Crucificado, das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, das Filhas do Amor Divino, das Irmãs de Maria Auxiliadora, das Irmãs da Divina Providência, das Irmãs Ursulinas. Daí surgiram as comunidades inseridas que auxiliavam na vida pastoral. Foram várias paróquias que se enriqueceram com esta missão: Nísia Floresta, Caiçara do Rio dos Ventos, Taipu, João Câmara, São Gonçalo, Coronel Ezequiel, São Paulo do Potengi, São Tomé, Ipanguaçu, Touros. Carrego comigo profunda sensibilidade pela natureza, as flores e a caatinga, a beleza do verde que renasce com a chuva, a região salineira e o vale do Assu, a lua e as estrelas, o sol e o mar. Tudo isso me completa e me fortalece como ser
Gratidão | a ordem especial humano, na grandeza do Criador e na relação com Deus que me faz buscar a sua graça e a sua força para ser sinal da sua presença no meio dos homens e da sociedade. Em Chico Martins, perto de Barreiras, contemplar as galáxias me ajuda a renovar e restaurar as forças durante o período de férias, fortalecendo a minha espiritualida-
de na relação sempre profunda da criatura com o Criador numa atitude de permanência diante de Deus, agradecendo, suplicando e confiando. Por tudo isto, e muito mais que, certamente, compõe a graça e a riqueza desta existência de setenta anos, só tenho a dizer: OBRIGADO, SENHOR! EIS-ME AQUI! BASTA-ME A TUA GRAÇA! LOservatore Romano
Dom Jaime com o Papa Francisco, em Roma Abril de 2017 | 7
a ordem especial | Artigo
Pe. Paulo Henrique da Silva Vigário Geral da Arquidiocese de Natal
O reitor Quando eu entrei no Seminário de São Pedro, em 13 de fevereiro de 1991, Dom Jaime era o Reitor. Éramos sete seminaristas, todos estão ordenados padres. O Seminário funcionava na Rua Mipibu, pois o prédio da Campos Sales estava alugado ao TRE. Eu lembro muito bem do modo como dom Jaime nos formava. Em primeiro lugar, estava a sua bondade, simplicidade, disponibilidade. Sempre preocupado com a nossa reta intenção, agiu de tal modo, possibilitando que os seminaristas participássemos de tudo o que o Seminário proporcionava. Nunca tomava decisão sobre o andamento das coisas na casa sem conversar com toda a comunidade. A experiência do meu tempo de Seminário (19911995), foi marcada pela confiança que ele depositava em mim e nos outros. Uma confiança que me valeu a ida a Roma, em 1995, para continuar os estudos teológicos e fazer o Mestrado em Teologia. Outro aspecto marcante de Dom Jaime era a sua preocupação social, o que ainda permanece como forte em seu pensamento. Não escondia de ninguém a sua tristeza, quando via alguém que se mostrava “burguês”, isto é, mais inclinado às pompas, ao brilho, ao triunfalismo. Neste sentido, recordo-me muito bem das aulas de “Teologia da América Latina”, onde a reflexão histórica e teológica abria as nossas mentes para aquilo que, mais tarde, viria a ser um tema fundamental da Igreja Latino-americana: a conversão pastoral. E isso, sem ser ideológico, 8 | Abril de 2017
ou seja, marcadamente cristocêntrico, pois antes, ele lecionou para nós uma disciplina fundamental: “Introdução ao Mistério de Cristo”, onde o seu refrão era: “o centro de tudo é Jesus Cristo”. E, por causa desse centro, a atenção de Dom Jaime às pessoas e, de modo especial,
Cedida
Artigo | a ordem especial
Dom Jaime, como reitor, com um grupo de seminaristas, em 1991
aos idosos, aos sacerdotes idosos, era passada para nós como elemento importante para a nossa formação: era quase uma veneração pelos testemunhos dos sacerdotes idosos, testemunho esse que fazia dom Jaime ir às paróquias celebrar as missas do Natal, da noite do dua 24 até o raiar do dia 24 de dezembro.
Por fim, quando da escolha de dois seminaristas para estudar em Roma, confidenciou-me que se preocupava em que não perdêssemos as raízes. Agradeço até hoje essa preocupação, pois o seu exemplo de vida, tornou-se grande estímulo e inspiração. Parabéns e ad multos annos. Abril de 2017 | 9
cedida
a ordem especial | O Pároco
Celebração da missa em ação de graças pelos 21 de emancipação do município de Alto do Rodrigues, em 1984
Dom Jaime em Alto do Rodrigues 10 | Abril de 2017
O Pároco | a ordem especial
Por Norma Rodrigues Padre Jaime Vieira Rocha chegou a Alto do Rodrigues, em fevereiro de 1975, logo depois de ordenado sacerdote, junto com o padre Campos, para uma reunião com a comunidade cristã, na igreja de Nossa Senhora do Rosário. Naquela ocasião, perguntávamos: qual dos dois será o nosso padre? Naquela época a comunidade católica de Alto do Rodrigues era Capela da Paróquia de São João Batista na cidade de Pendências. Ganhamos um prêmio: padre Jaime foi nomeado vigário administrativo, no dia 08 de março de 1975. Sua posse no cargo ocorreu no dia 24 de março do mesmo ano, pelo então bispo auxiliar Dom Antônio Soares Costa, e, em seguida, nomeado por Dom Nivaldo Monte. Tivemos o privilégio de conviver com padre Jaime por 12 anos, com muitas bênçãos e incentivos que fizeram crescer a nossa fé. Com seu carisma os fiéis começaram a participar mais ativamente das atividades da igreja, em nossa cidade. Muitos jovens procuravam realizar o sacramento do matrimônio. Constatou-se o aumento significativo do número de batizados, primeira eucaristia e crisma. Na mesma época, fomos convidados para participar de um encontro na cidade de Macau, e para muitos outros em Natal, no Centro de Treinamento de Ponta Negra, para preparação de formação de grupos e movimentos. O que estava adormecido renasceu... Grupos de casais, mães, crianças e o surgimento do JUCAR ( juventude unida cristã de Alto do Rodrigues), que tinha como slogan: “Cristo conta com você”. Com a comunidade cristã despertando para participação na missão de evangelização, atitude e ação nos movimentos da igreja, deu-se também, início a preparação sistemática do batismo. As atividades religiosas e culturais desenvolvidas eram realizadas no Centro Social, localizado ao lado da igreja.
Na década de 80, foi realizada uma reunião para definir o serviço de ampliação da igreja de Nossa Senhora do Rosário. Para melhor mobilizar a comunidade, padre Jaime trouxe à cidade o missionário Frei Damião, que, na ocasião, fez um apelo à população de Alto do Rodrigues para reconstruir nosso templo o mais breve possível. Foi um tempo de graça, de crescimento na fé. Em 1987, padre Jaime nos deixou triste com sua saída da paróquia de são João Batista para ir para o Seminário São Pedro em Natal, mas logo entendemos a importância de seu serviço no Seminário, dando tantos exemplos bons aos seminaristas, ensinando a seguir, servir e ser fiel a Deus. Mais que Pastor, esse homem de Deus tornou-se nosso amigo. Tivemos a alegria de vê-lo tornar-se bispo e o privilégio de participar da posse na cidade de Caicó, como Pastor maior da Diocese de Sant’Ana. Tempos depois, testemunhamos com alegria sua chegada para o pastoreio em Campina Grande, no estado da Paraíba. Mesmo com tantos compromissos, dom Jaime nunca deixou de se comunicar com a nossa comunidade e nos incentivar na fé. Então, questionávamos, por que não em Natal? E, finalmente, nosso sonho se realizou. Dom Jaime, tornou-se Arcebispo da Arquidiocese de Natal, nosso pastor, nosso orientador espiritual, que nos agraciou com a criação da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Alto do Rodrigues. Hoje, a igreja colhe os frutos das sementes plantadas por Dom Jaime. Quem atuava no grupo de jovens ou de mães, alguns ainda continuam na pastoral familiar, no apostolado da oração, no terço dos homens ou como ministro da eucaristia. Parabéns, Dom Jaime, pelo seu nascimento, porque o senhor existe. Que Deus continue iluminando e abençoando sua vida e lhe concedendo muitos anos de vida com saúde e paz. Em nome de todos os altorodriguenses, feliz aniversário! Abril de 2017 | 11
a ordem especial | Bispo de Caicó
Entrar na vida cotidiana dos outros Diác. Francisco Teixeira, assessor jurídico da Arquidiocese de Natal
Raimundo Melo
Os padres conciliares refletindo sobre a Missão da Igreja, no Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral “Gaudium Spes”, nº 1, proclamaram: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração...”. Verdade assumida e gestada na grande opção do Concílio, pela pessoa humana, na perspectiva do Evangelho. Assim, o Concílio recorda à Igreja sua verdadeira vocação: servir e voltar-se para cada ser humano, situado em sua realidade histórica e cultural, em sua integralidade, enquanto corpo, alma, coração, consciência, inteligência e vontade,
No açude Riacho do Logradouro, no município de Caicó, em 1999
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com todo o seu potencial e todas as suas relações. Servimo-nos de tão eloquente chamado para contar o traço mais singular e proeminente que caracteriza a vida e o ministério de Dom Jaime Vieira Rocha, atual arcebispo de Natal. Desejo partilhar com os leitores desta revista o tempo de Dom Jaime como o 5º Bispo da Diocese de Caicó, por nove anos. Sucessor de Dom Heitor de Araújo Sales, na grei do Seridó, Dom Jaime recebeu um legado de uma Igreja viva, atuante, plasmada na fé, na esperança e na caridade de um povo fiel, que confia e espera na ação e na bondade de Deus. Um povo piedoso, firmado nas tradições e valores religiosos, aguerridos na labuta diária para viver com dignidade. Um povo que tira do chão cálido seridoense a seiva da Vida em abundância, de uma terra fertilizada também pelo suor escorrido do rosto de mulheres e homens que ali habitam e teimam em permanecer no semiárido
Bispo de Caicó | a ordem especial potiguar. Tornando-se Pastor daquela Igreja jovem, alinhada com as perspectivas do Concílio, com uma excelente infraestrutura pastoral e material, adequadas às atuais exigências pastorais para a Igreja do tempo presente, Dom Jaime logo apontou para a direção que todos deveriam tomar desde então: servir ao ser humano, em todas as circunstâncias da vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades. Como o Bom Pastor, propôs-se fazer da Igreja do Seridó, de seus ministros ordenados e fiéis batizados, servidores incansáveis do povo seridoense, preferencialmente, dos mais pobres e dos que sofrem, atualizando essa opção nos novos contextos e novos tempos, a fim de praticar um amor de proximidade com o povo e com cada pessoa humana, preferencialmente as mais vulneráveis, empobrecidas, excluídas e sofredoras. Esse intento encontrou eco no engajamento em algumas ações pastorais empreendidas na época, não apenas no território da Diocese de Caicó, mas que se espraiou para todo o Estado do Rio Grande do Norte, e além de suas fronteiras. Falo da Pastoral da Criança e do Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos (SEAPAC), e da Coordenação Estadual do Conselho Estadual para a elaboração dos Planos de Desenvolvimento Regionais, dentre os quais, o do Seridó. Este último, Dom Jaime reuniu um seleto e qualificado corpo técnico, multidisciplinar, apoiado por um conjunto de organismos públicos e privados, articulando da classe política às organizações da sociedade civil, atuantes no Estado potiguar. Sem sombra de dúvidas aquela foi a maior mobilização feita nos últimos tempos em nosso Estado em prol do desenvolvimento sustentável de cada região. Esse processo levou as organizações públicas e privadas, as pessoas ocupantes de alguma responsabilidade pública ou privada, e homens e mulheres de boa vontade, a se debruçarem não somente sobre os desafios que nos interpelam por respostas concretas. Respostas que irrompem das oportunidades que cada região do Estado e, principalmente, o seu Povo, nos oferecem como alternativas de soluções às demandas recorrentes de políticas públicas de saúde, educação, segurança, moradia, de trabalho e renda, entre outras. A metodologia adotada - e magistralmente coordenada por
Arquivo da Diocese de Caicó
Inauguração do açude da comunidade Miguel, no município de Caicó, em 2 de abril de 2000
Dom Jaime - convidava a todos a “entrar na vida cotidiana dos outros com proximidade e, se for necessário, abaixar-se até a humilhação, para assumir a vida humana e tocar a carne sofredora de Cristo no povo” (EG,20). O resultado deste esforço coletivo, assumido por Dom Jaime, em nome da Igreja Católica no Rio Grande do Norte, além de ter se constituído num importante serviço à sociedade e ao Estado potiguar, tornou-se também, e acima de tudo, num belo testemunho da Igreja, transfigurado no martírio dos primeiros cristãos, porque fizeram da fé cristã a religião da fraternidade, da proximidade, do perdão e da compaixão. Dom Jaime, como presente pela passagem de seus setenta anos de vida, oferecemos-lhe o testemunho do que vimos, ouvimos e presenciamos, como colaboradores de seu pastoreio: o seu coração de pastor e irmão na fé em Cristo, transborda em bondade, compaixão e misericórdia em favor dos mais fracos e empobrecidos. E, assim, a exemplo de Irineu de Lyon, martirizado no ano de 202, pode rezar e proclamar que: “A glória de Deus consiste em que o homem viva, mas a vida do homem é a visão de Deus”. Glorificado seja o nosso Bom Deus pelo dom de sua Vida. Parabéns! Abril de 2017 | 13
a ordem especial | Campina Grande
Na Rainha da Borborema, fincou os pés e fez história Jornalista Márcia Marques, Diocese de Campina Grande
Fotos: Cedida
Era o dia 16 de fevereiro de 2005. Após o maior tempo de vacância ao longo da história da Diocese de Campina Grande, 1 ano e 2 meses, o povo daquela Igreja Particular recebia a notícia da nomeação de Dom Jaime Vieira Rocha como seu 6º Bispo Diocesano. Em 23 de abril daquele ano Dom Jaime tomava posse na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, passando então a pastorear o povo da serra da Borborema, cativando sua gente e dando início a um novo tempo. Em Campina Grande, Dom Jaime chegou a ordenar 35 novos padres. A formação no seminário era uma das prioridades do Bispo, que percebia a necessidade de sacerdotes para as Paróquias existentes. Ao mesmo tempo, criou também 16 novas Paróquias, para que a Diocese fosse melhor dividida, passando a ter, até 2012, 50 Paróquias em 61 municípios.
Dom Jaime em visita pastoral, em Campina Grande
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A expansão e organização da Diocese foi marcante no pastoreio de Dom Jaime, como lembra Pe. Márcio Henrique. “Dom Jaime sempre foi muito zeloso com nossa Igreja Particular de Campina Grande. Priorizou a formação no seminário, criou paróquias, descentralizou as coordenações e ampliou a participação das pessoas na vida diocesana. Era o jeito dele de articular e dinamizar a vida pastoral da Igreja”, lembra. Pe Márcio foi Vigário Geral da Diocese de Campina Grande durante a maior parte do pastoreio de Dom Jaime. “Ele era um homem de muito diálogo, só tomava decisões em conjunto, porque tinha a preocupação de agradar a todos. Sou muito grato a ele pelo tempo de convivência e da relação de confiança que construímos”, conclui. Dom Jaime também ficou marcado em Campina grande pela capacidade de diálogo com os vários segmentos da sociedade. Passeava pela vida política, econômica e social com postura firme, levando a posição da Igreja onde quer que fosse preciso. “Em várias entrevistas, programas ou atos públicos, Dom Jaime foi convidado a fazer o uso da palavra e eu jamais precisei me preocupar, pois ele sempre foi muito ponderado e sabia exatamente o que devia ou podia falar em cada ocasião. Uma liderança respeitada e admirada por muitos”, relata Márcia Marques, que foi assessora de comunicação de Dom Jaime entre 2010 até o dia da transferência. No campo da comunicação ele foi um visionário. Tinha clareza de que este setor não podia ser deixado em segundo plano na Igreja e tratou de organizar a sua equipe de Pastoral da Comunicação. Investiu na contratação de assessoria e capacitou os agentes da Pascom para que pu-
Campina Grande | a ordem especial
dessem desenvolver suas atividades de forma eficaz. Explicava aos padres a importância de ter Pascom nas Paróquias e que a comunicação era aquela que daria corpo ao projeto de uma pastoral de conjuunto na Igreja. Em 2010 a Diocese realizou o primeiro Mutirão de Comunicação e ali nascia, oficialmente, a Pascom na Diocese de Campina Grande. Capaz de reunir em uma mesma mesa lados opostos da política paraibana e promover um diálogo social para o bem comum. Essa característica forte ficou marcada com a realização do evento “Seminário Regional: A dinâmica socioeconômica do Brasil e as alternativas para o Nordeste”, em novembro de 2011. Na ocasião, Dom Jaime rememorava o Encontro dos bispos do Nordeste, realizado em Campina Grande em maio de 1950. A ideia principal do evento, liderado por Dom Jaime, era reunir governos, empresários, movimentos sociais e populares para analisar o atual processo e propor mudanças e alternativas para o Nordeste com um olhar especial sobre a região paraibana do compartimento da Borborema. O Pe. Antônio Nelson foi o Chanceler do Bispado e trabalhava diariamente na Cúria Diocesana. Ele relata o cuidado que Dom Jaime tinha com as pessoas que o procuravam. “Dom Jaime sempre se mostrou sensível às necessidades do povo. De maneira incansável, atendia a todos que o procuravam para aconselhamento ou ajuda material, cotidianamente”, recorda. O Chanceler também fala do zelo de Dom Jaime com o caminhar da vida pastoral da Igreja. “No seu legado pastoral na diocese podemos destacar o projeto AME (Ação Missionária Evangelizadora) e as Santas Missões Populares, que tiveram forte adesão popular e do clero, todos em prol da evangelização”, pontuou. Naqueles que trabalhavam na Cúria Diocesana também falam do respeito e do carinho com que Dom Jaime tratava a todos. Delicadezas ou detalhes na rotina que o tornaram inesquecível, deixando saudade. Andréa Brito, secretária da Cúria, lembra que ele fazia questão de celebrar
Anualmente, na Quaresma, a Diocese de Campina Grande realiza uma caminhada penitencial
todos os momentos com os funcionários. “Aniversários não passavam em branco. As datas comemorativas do calendário sazonal, as festas da Igreja... tudo era motivo para ele celebrar a vida conosco. Sempre muito atencioso, nos tratava como amigos e sempre agradecia pelas coisas que fazíamos, mesmo sabendo que era nosso dever. Seu jeitão de ‘pai” nos marcou profundamente e, hoje, o que temos é grande admiração e saudade.” No dia 21 de dezembro de 2011 o Papa Bento XVI nomeou Dom Jaime Arcebispo de Natal. Campina Grande iniciava ali uma despedida num misto de alegria pela graça e tristeza pela “perda”. E, em demonstração de gratidão e carinho com seu pastor, uma multidão se fez presente na posse em Natal, no dia 26 de fevereiro de 2012. E se iniciou um tempo de saudade e vacância, à espera daquele que havia de chegar para pastorear o povo da Borborema. Abril de 2017 | 15
a ordem Arcebispo em Natal especial | Assunto
Pastoreio em Natal Pe. Júlio César Souza Cavalcante Vigário Judicial da Arquidiocese No dia 21 de dezembro de 2011, o povo de Deus que está na Arquidiocese de Natal recebeu uma alegre e esperançosa notícia: Habemus Episcopum. Dom Matias, então Arcebispo de Natal, havia renunciado no mês de abril por atingir a idade prevista no Código de Direito Canônico de 75 anos. Durante oito meses, os fiéis esperaram e rezaram pedindo a Deus um novo Pastor. Naquela manhã, acompanhado do Vigário Geral, Padre Aerton Sales, e do Chanceler, Padre Júlio César, Dom Matias dirigiu-se à Rádio Rural e anunciou que o então bispo de Campina 16 | Abril de 2017
Grande, Dom Jaime Vieira Rocha, fora escolhido pelo Papa Bento XVI para conduzir a Igreja de Deus que está em Natal, como seu legítimo Pastor. A notícia logo se espalhou e dos mais variados recantos da Arquidiocese a alegria era anunciada e proclamada por todos. No dia 26 de fevereiro de 2012, em solene concelebração, na Catedral Metropolitana, Dom Jaime iniciava o seu pastoreio na Arquidiocese de Natal, sendo acolhido por caravanas das várias paróquias da capital e do interior. A Catedral foi literalmente invadida por um mar de gente que exultava de alegria pelo Pastor que o Senhor lhe confiou e pedia a Deus que o seu ministério fosse um grande retrato de presença e de serviço.
Cacilda Medeiros
Assunto Arcebispo em Natal | a ordem especial
Posse de Dom Jaime, em Natal, dia 26 de fevereiro de 2012
Agora, quando Dom Jaime celebra os seus setenta anos de vida, olhamos para estes cinco anos de seu pastoreio e vemos quanto bem já foi feito e quanta semente já foi lançada. Neste período, foram ordenados 24 sacerdotes, 19 diáconos permanentes, criadas 12 paróquias e 04 áreas pastorais. Na dimensão social, a Arquidiocese deu um grande salto em vista da promoção da vida e da dignidade humana (assunto abordado em outras páginas desta revista). Entre os grandes frutos deste tempo, destaca-se a criação do Setor de Comunicação, com o objetivo de aproximar a Igreja da sociedade, apresentando o rosto misericordioso de Cristo,
através das ações que a Arquidiocese desenvolve e que muitas vezes não são conhecidas por falta de divulgação. A Revista A Ordem e a migração da Rádio Rural de AM para FM são sementes lançadas pelo nosso Arcebispo em vista de um futuro próximo podermos levar ainda mais longe e ao mesmo tempo chegar mais perto do povo que compõe o rebanho da Igreja particular de Natal. Hoje, elevando a Deus nossos votos de alegria e felicidade pelos setenta anos de Dom Jaime, nosso Pai e Pastor, pedimos que Nossa Senhora da Apresentação continue protegendo e guiando seus caminhos e fazendo com que sejamos filhos que cuidam e rezam pelo seu Bispo. Abril de 2017 | 17
Serviço Fotográfico do Vaticano
a ordem especial | Família
Dom Jaime com alguns familiares e São João Paulo II, por ocasião da ordenação episcopal, em janeiro de 1996
“Aonde ele chega, chega o amor com ele” Por Zélia Vieira, irmã de Dom Jaime Jaime é aquele irmão, tio, cunhado presente em nossa família. Seja em momentos de alegria, seja em momentos difíceis, sempre contamos com sua presença, participação, seu apoio, seu discernimento e, se necessá18 | Abril de 2017
rio, sua opinião final. Com todas suas atribuições, atividades inerentes a seu ofício nunca deixou de visitar, se um de nós se encontrar doente, levando seu carinho, sua palavra de fé. Também, quando possível, (e é lembrado) em aniversários natalícios, independente de comemoração festiva.
Família | a ordem especial
Nossa convivência é bastante harmoniosa, acolhedora, com respeito mútuo. Com nossos sobrinhos, que não são poucos, embora, às vezes, confunda os nomes, ele os trata com carinho todo especial e sempre demonstra preocupação com o futuro de cada
um. Gosta de os chamar sempre pelo diminutivo. Nas reuniões de família procura sempre ressaltar a Família, a necessidade dos mais novos em manter os princípios e a tradição que nos acompanha. Aonde ele chega, chega o amor com ele.
irmãos
sobrinhos Abril de 2017 | 19
a ordem especial | Paróquias
Dom Jaime Vieira Rocha 30/03/1947 Nasce na Fazenda Cruzeiro, em Tangará. 1947 Batizado na Capelinha de Tangará, pelo então vigário de Santa Cruz, o Padre Alair Vilar.
1957 Recebe a Primeira Eucaristia, na Capela do Orfanato Padre João Maria. 1
Fevereiro de 1961 Ingressa no Seminário de São Pedro, em Natal, onde fez o ginásio e o clássico.
1958 Recebe o Sacramento da Crisma, por Dom Eugênio de Araújo Sales, em Tangará.
1968 Ingressa no Curso de Sociologia Política, na Fundação José Augusto, em Natal.
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06/01/1996 Ordenado bispo, na Basílica Vaticana de São Pedro, em Roma, pelo Papa João Paulo II. 4 04/02/1996 Toma posse como o 5º Bispo de Caicó. 5 1997 a 2001 Bispo responsável pela Pastoral Familiar no Regional Nordeste II, da CNBB.
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05/03/2000 Participa da Beatificação dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, na Praça de São Pedro, em Roma. 1999 a 2000 Coordena a elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, em Caicó. Outubro de 2000 Participa do Jubileu dos Bispos, em Roma.
16/02/2005 Nomeado Bispo de Campina Grande (PB). 23/04/2005 Posse como o 6º Bispo da Diocese de Campina Grande (PB). 6
Paróquias | a ordem especial 1972 a 1974 Estudos teológicos, na Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Janeiro de 1974 Ordenado Diácono, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Serra Caiada, pelo então Arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte. 01/02/1975 Ordenado Presbítero, no Ginásio Poliesportivo do SESC, em Natal, por Dom Nivaldo Monte. 2
24/03/1975 Acolhido na Paróquia de São João Batista, em Pendências, como pároco, onde permaneceu durante por Macau. 01/02/1987 Assume a reitoria do Seminário de São Pedro. 3
19/11/1991 Nomeado Monsenhor pelo Papa João Paulo II. 1994 Vigário Episcopal para a Pastoral Social, da Arquidiocese de Natal. 29/11/1995 Eleito Bispo de Caicó, pelo Papa João Paulo II.
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02/02/2007 a 31/08/2008 Administrador Apostólico da Diocese de Guarabira (PB). 2010 a 2012 Cursa Mestrado em Ciências da Religião, na Universidade Católica de Pernambuco.
Novembro de 2011 Cria e preside o Observatório Social do Nordeste, com sede em Campina Grande (PB). 21/12/2011 Nomeado Arcebispo de Natal, pelo Papa Bento XVI.
26/02/2012 Posse como 6º Arcebispo Metropolitano de Natal. 29/06/2012 Recebe o Pálio Arquiepiscopal das mãos do Papa Bento XVI, na Basílica de São Pedro, Roma. 7
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Fotos: Cacilda Medeiros
a ordem especial | Visitas pastoriais
Dom Jaime com padres e diáconos do 4º Zonal, no encerramento da visita pastoral, em setembro de 2015
Visitas pastorais para fortalecer os zonais Em quase 7 anos Dom Jaime marcou sua passagem pela diocese paraibana com forte personalidade e grande coração Por Pe. Francisco das Chagas de Souza, pró-vigário geral Acompanhei o processo de preparação para as Visitas Pastorais. Recordo-me que, a partir das colocações feitas nas reuniões da Coordenação Pastoral, e do Conselho Pastoral da Arquidiocese, onde vivíamos as alegrias da Jornada Mundial da Juventude, Dom Jaime, nessas reuniões teve em primeiro lugar uma preocupação em focar na sua visita ao setor de juventude e de 22 | Abril de 2017
uma maneira inovadora ver a realidade pastoral do zonal. Sua preocupação era e é fortificar o zonal como um espaço de uma vivência eclesial. Outra preocupação de Dom Jaime era que não fosse uma visita marcada por pompas, mas sim, um encontro simples onde ele pudesse ver a verdadeira realidade pastoral dos zonais. Foi assim que nasceu o esquema da visita pastoral que teve como programação três grandes momentos: o primeiro, a meu ver, foi de uma grande sabedoria. Após a acolhida feita por
Visitas pastoriais | a ordem especial uma das paróquias do zonal, acontecia um encontro fraterno entre o bispo, padres e os diáconos do zonal, marcado sempre por um jantar. Em seguida, ele falava ao clero suas preocupações e ouvia o que cada um tinha a dizer. Foi uma troca de experiência muito bonita. Vejo aí a preocupação do pastor em unir o rebanho a partir daqueles que estão à frente das comunidades em seu nome. Creio que sem essa colaboração dos padres e dos diáconos, a pastoral caminha com mais dificuldades. Ainda nesta noite, aconteciam debates, desabafos... Mas tudo visando sempre como se poderia trabalhar a comunhão no zonal, diante dos desafios existentes em cada realidade. No dia seguinte, portanto, o sábado, o encontro era dedicado ao bispo e às juventudes. Com raras exceções do Vicariato Urbano, pois alguns zonais desse vicariato inovaram fazendo da manhã do sábado, o encontro do pastor com algumas instituições do zonal que precisavam ser contempladas pelo mesmo, sendo este o segundo grande momento. Como exemplo o 4º zonal, que tinha uma Casa de Menores Infratores (CEDUC), no bairro de Nazaré. Dom Jaime, então, teve contato com esses jovens onde deixou sua mensagem de esperança e depois escutou o clamor e a dedicação dos funcionários que ali
trabalham. À tarde, sempre tínhamos a grande Assembleia das Juventudes, onde o setor de juventude da Arquidiocese encaminhava o primeiro momento refletindo os documentos da igreja sobre as juventudes, e em seguida, Dom Jaime dava a sua mensagem e escutava as colocações dos jovens respondendo as suas inquietações, realizando-se, assim, um diálogo entre o pastor e os jovens. Um terceiro momento foi o encontro de Dom Jaime com os agentes de pastoral, onde cada paróquia apresentou uma síntese dos seus trabalhos pastorais, possibilitando ter uma visão de cada ação pastoral vivida nas paróquias, e observando se estavam ou não em conformidade com o Plano Arquidiocesano de Pastoral. Tivemos também grandes momentos de celebrações, e a visita se encerrava no final da manhã do domingo com a Eucaristia. Creio que Dom Jaime ao celebrar os seus setenta anos aqui na nossa Arquidiocese, é uma alegria para nós que pertencemos a ela, e para ele deve ser um momento de felicidade, pois suas preocupações têm sempre algo de novo para o bem de todos. Parabéns, Dom Jaime, pelo aniversário e pela coragem de inovar no estilo de ir ao encontro de seu rebanho.
Dom Jaime com jovens do 8º Zonal, durante visita pastoral, em maio de 2015, na cidade de Nova Cruz Abril de 2017 | 23
a ordem especial | Mestrado
Aluno no mestrado em Ciências da Religião Por Prof. Dr. Newton Darwin de Andrade Cabral, Coordenador do PPGCR-UNICAP Em janeiro de 2010, então membro da comissão que selecionava os candidatos ao Mestrado em Ciências da Religião, na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), embora já tivesse identificado, pelo nome, de quem se tratava, fui surpreendido, no momento da entrevista, quando, ao adentrar na sala, ele exclamou: “vocês devem estar se perguntando o que um Senhor, com os cabelos já tão brancos, faz, ainda querendo aprender”. Era Dom Jaime Vieira Rocha, na época, Bispo de Campina Grande (PB), dispondo-se a fazer estudos pós-graduados stricto sensu. Aprovado, cumpriu todas as exigências acadêmicas e se afirmou como mais um discente, pois, embora fosse uma autoridade no mundo católico, não se colocava a partir de tal posição. Caracterizava-se, sobretudo, pelo interesse em aprofundar formas de entendimento do fenômeno religioso, no Brasil, em suas interfaces com a cultura e a sociedade. Apresentou, como proposta inicial de pesquisa, o desejo de investigar e, assim, guardar a memória de dois encontros de bispos, realizados nos anos 1950, na Diocese de Campina Grande e na Arquidiocese de Natal, nos quais foram debatidas a ‘Questão Nordeste’ e a busca de soluções para seus problemas, notadamente o da seca.
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Em conversas com o orientador – coube a mim a alegria de tal tarefa – novo tema brotou e a questão das estiagens recorrentes foi abordada a partir de outra vertente: a análise da atuação do “arauto da dignidade humana no sertão potiguar, Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros”, o grande apóstolo das águas que, exercendo seu ministério na Arquidiocese de Natal, a partir dela era exemplo de uma pastoral renovada e em sintonia com a realidade de populações escravizadas às intempéries e à falta de vontade política para enfrentá-las. E é interessante assinalar que, antes da conclusão do Mestrado, Dom Jaime foi transferido de Campina Grande para Natal. Entre tantos aspectos merecedores de registro acerca de sua experiência em nosso Mestrado, destaco a emoção que lhe embargou a voz quando rememorou, no Ato da Defesa Pública, a ida do Monsenhor Expedito, em 1958, com um grupo de padres e seu bispo auxiliar, em visita às obras de um açude no vale do Açu e, na ocasião, um dos trabalhadores suplicou, referindo-se a tamanha desolação e flagelo: “Seu vigário, tire nós desse inferno, pelo amor de Deus!” Desejo que os ecos daquele clamor de vida sejam também alento e reforço na renovação de sonhos e esperanças requerida a cada aniversário. Parabéns, Dom Jaime! Na celebração dos seus 70 anos, receba o abraço e o reconhecimento de todos os que fazemos o PPG em Ciências da Religião, da UNICAP.
Mestrado | a ordem especial
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a ordem especial | Nordeste
70 anos: ReuniĂŁo do OBSERNE, realizada no gabinete de Dom Jaime, em 11 de outubro de 2016
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Vida, Caminhada e Nordeste
Nordeste | a ordem especial Fotos: Cacilda Medeiros
Por Roberto Jéfferson Diretor executivo do Observatório Social do Nordeste Caminhar é viver e viver é celebrar! Dom Jaime Vieira Rocha, vive um momento de dádiva, pelos 70 anos de vida, marcados pela coragem e pela esperança. Coragem para viver o Evangelho pela via altruísta da opção pelos pobres; esperança na ação transformadora de homens e
mulheres que munidos dos princípios evangélicos lutam pela evidência de uma sociedade onde todos tenham “vez e voz”. Esse bispo nordestino seduzido pelo espírito do Concílio Vaticano II, influenciado pelas Conferências de Medelín e Puebla, reafirma cotidianamente seu compromisso com os pobres por meio de ações e iniciativas que favoreçam a dimensão sociotransformadora da realidade. Atento aos “clamores” de seu rebanho, Dom Jaime abre as portas da Igreja para o diálogo com as várias instânciais sociais com vistas à dignidade da vida. Quero aqui destacar uma ação sua que nasceu da sua passagem pela diocese de Campina Grande: o Observatório Social do Nordeste – OBSERNE. Para entender o que é o OBSERNE, é preciso compreender o compromisso de Dom Jaime com o Nordeste, em favor do Nordeste, do seu Povo, do Semiárido, da água e da vida do homem e da mulher do campo e da cidade. Ele segue o testemunho e a tradição dos bispos dessa porção do Brasil que no período pré-concílio Vaticano II articularam um grande movimento em favor do Nordeste que teve como ponto de partida a realização do I Encontro dos Bispos do Nordeste acontecido em maio de 1956 em Campina Grande. Este Encontro proporcionou o diálogo mais intenso entre a Igreja, sociedade e Poder Púbico, basta lembrar que o então Presidente Juscelino Kubistchek participou daquele evento e assinou vários decretos de ações importantes para a região nordestina. Naquela ocasião foi criado um Grupo de Trabalho pelo Desenvolvimento do Nordeste – GTDN que coordenou um amplo debate e articulações, culminando no II Encontro dos Bispos do Nordeste na criação da SUDENE, em Natal, no ano de 1959. Posso dizer que os anos de 1956 até 1959, foram anos de muita efervescência, articulações e debates. O Nordeste não era problema e, sim, solução. Isso se deve à ação dos bispos liderados por Dom Hélder Câmara e com a grande contribuição do Celso Furtado, economista e responsável da parte do Governo Abril de 2017 | 27
a ordem especial | Nordeste
Reunião do OBSERNE, realizada na Universidade Estadual de Campina Grande, em maio de 2016
pelas ações. Dom Jaime chega a Campina Grande justamente às vésperas dos 50 anos daquele acontecimento e logo provocou o Regional NE 2 da CNBB para celebrar este cinquentenário, olhando o significado e as consequências daqueles Encontros, mas, sobretudo aproveitando para pensar o Nordeste de hoje e de amanhã. O Encontro dos 50 anos realizado em novembro de 2006, em Campina Grande, foi um bom momento de diálogo entre a Igreja, as diversas organizações da sociedade civil, acadêmica e o Poder Público. A preocupação de Dom Jaime era o que ficaria depois do Encontro. Uma das iniciativas foi a formação de um grupo com pessoas das Pastorais Sociais, da Universidade e ONGs. Este grupo ficou responsável por dar continuidade à discussão do que ficaria como fruto do Encontro dos 50 anos. Depois de muitas análises verificou-se a quantidade de ações, organizações, grupos acadêmicos que refletiam ou desenvolviam iniciativas concretas que estavam mudando a face do NE. Para articular tais ações surgiu a ideia de criar um Observatório 28 | Abril de 2017
que fosse um espaço de diálogo e que deveria funcionar em Rede, identificar os vários grupos, pesquisadores e movimentos em torno do tema do desenvolvimento do Nordeste e buscar ações conjuntas, dialogar, parceria. Assim foi nascendo o OBSERNE. O Observatório guarda o espírito e significado dos Encontros dos bispos de 1956 e 1959, com a missão de continuar o debate, atualizar o olhar e refletir o futuro. OBSERNE se articula com várias universidades, instituições de pesquisas, organizações da sociedade civil, pastorais sociais. Realiza sua missão em Rede e promove momentos de reflexão, publicações e estudos. Sua principal tarefa é articular, estudos sobre a realidade e colocar a disposição dos movimentos, organizações e pessoas interessadas com o permanente debate sobre o Nordeste. O OBSERNE mantém uma agenda aberta com muitos encontros e seminários promovidos dentro e fora da Igreja. Uma das grandes realizações do OBSERNE foi o Seminário Regional “Nordeste, 60 anos depois: Mudanças e Permanências”, em maio de 2015, na cidade de
Nordeste | a ordem especial Natal, em parceria com Universidades, Institutos Federais, Fundações e ONGs. Tal seminário contou com a participação de ministros e secretários de Estado, governadores, senadores, deputados e prefeitos da região. O evento ensejou um intenso debate e permitiu o lançamento dos Anais dos Encontros de 1956/1959, cujo título: “Sob os signos da esperança e da responsabilidade social”, teve a Organização de Dom Jaime. Respeitado e reconhecido em vários setores da sociedade civil, no mundo acadêmico, nos movimentos populares, entre políticos, empresários e intelectuais, esse bispo nordestino, reafirma seu compromissado com a construção de uma região sem desigualdades e com oportunidades para todas e todos. Um pastor que conhece profundamente a realidade de seu povo; que reconhece as potencialidades da terra e da
gente nordestina; que luta para construir uma economia ecologicamente sustentável e uma sociedade democraticamente participativa. Claro, uma vida de 70 anos tem muito o que comemorar agradecer, festejar e celebrar. Também a oportunidade para avaliar, mas, sobretudo, é tempo para semear esperança, traçar novos projetos e abrir novas possibilidades. Há muito pela frente ainda. Seu ministério se conecta com as atuais inspirações do Papa Francisco, pois bem sabe acolher, dialogar e viver a misericórdia. Parabéns, Dom Jaime! Agradeço ao Deus da vida por sua vida e caminhada. Que este chão do Nordeste seja fecundo com mais discípulos/as missionários/as cheios de nordestinidade e compromissados com a transformação da realidade em uma realidade nova, sinal do reino de Deus. Dom Jaime, vida longa e viva a vida!
Seminário Regional “Nordeste, 60 anos depois: Mudanças e Permanências”, em maio de 2015, na cidade de Natal Abril de 2017 | 29
Fotos: Cacilda Medeiros
a ordem Assunto especial | Transposição
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Transposição do rio São Francisco, o empenho de Dom Jaime
Transposição Assunto | a ordem especial
Por Otto Santana O comprometimento com o povo nordestino fundamentou a iniciativa dos bispos potiguares de organizar a 1ª Caravana Socioambiental ao encontro das águas do Rio São Francisco, realizada no início de março de 2016. Ela retoma uma salutar tradição da Igreja de atender aos clamores do seu povo e comprometer sua credibilidade na procura de alternativas estruturantes. Assim o fez quando do 1º Encontro dos Bispos com o Presidente Juscelino Kubitschek, em 1956, do qual resultou a criação da SUDENE, marco referencial no desenvolvimento da
região. Assim o faz, tornando-se porta-voz dos sem vez, sem voz, sem terra, sem representantes, sem nada. Dom Jaime Vieira Rocha lidera este esforço coerente com sua história de vida. O fato de ter cursado a Faculdade de Sociologia e Política antes de frequentar o Curso de Teologia influenciou sua formação, levando-o a fazer da vida do povo a razão de sua vida sacerdotal. Criou o hábito de relacionar a inspiração das disciplinas teológicas com as vivências do cotidiano das pessoas. O diálogo entre a fé e a vida. O desafio de comprometer o Povo de Deus com as realidades terrenas, tornando-o “sal da terra e luz do mundo”.
Fotos: Cacilda Medeiros
Primeira estação de bombeamento das águas do São Francisco
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a ordem especial | Transposição A Caravana Socioambiental firmou posições e abriu caminhos. Coerente com a eclesiologia do Papa Francisco, (Evangelii Gaudium Nº 222 a 225) ocupou-se “mais com iniciar processos do que conquistar espaços.” Ou seja, privilegiou a geração de movimentos à obtenção de possíveis respostas emergenciais. A Caravana tinha plena consciência de que as águas do São Francisco devem promover uma revolução na convivência com o semiárido. O modelo das “obras contra a seca” já se exauriu e provou que beneficia mais os gestores inescrupulosos do que o povo necessitado. Urge disseminar as práticas de convivência com o bioma Caatinga, como, de modo exemplar, a praticam centenas de sertanejos corajosos e inovadores. Para tanto, os beneficiários preferenciais do desenvolvimento provocado pela chegada da água devem ser os que, há séculos, vivem da agricultura familiar, assegurando-lhes, além da água, a reforma agrária, a educação, a assistência técnico-financeira, o saneamento básico, a agroecologia,
a assistência social, a economia solidária, o cooperativismo, as tecnologias populares, a organização dos grupos e comunidades, o fortalecimento dos municípios e tantos quantos outros programas necessários às mudanças pretendidas. Sem esquecer a preservação e aperfeiçoamento das políticas já existentes como a Aposentadoria Rural, o Bolsa Família e demais conquistas dos últimos anos. Nenhum direito a menos. A Caravana se chocou com o empobrecimento do sertão. O flagelo da estiagem. As perdas na atividade agrícola, na pecuária e no comércio representam anos e anos de retrocesso. Será necessário extenuante trabalho para voltar ao patamar anterior aos anos de seca. Uma desolação. Só não se repetem os saques às feiras e os fluxos migratórios para os centros urbanos, como no passado, em razão das políticas de distribuição de renda: o Bolsa Família, a Aposentadoria rural e outras. Evidenciou-se como lamentável a ausência dos responsáveis pelo bem comum, os elei-
Dom Jaime entre bispos e o administrador diocesano de Cajazeiras, na parede na barragem Engenheiro Ávidos, no município de Cajazeiras (PB), durante a Caravana 32 | Abril de 2017
Transposição | a ordem especial tos para cuidar do povo. A desculpa da crise e da falta de recursos acoberta descaso e incompetência. Nenhuma iniciativa inovadora. Nenhuma presença significativa. Assim, compreende-se a desolação do povo. Sente-se como rebanho sem pastor. Nos políticos ninguém confia. Os partidos viraram “sepulcros caiados...”, “um covil de ladrões”, nas expressões bíblicas. Como se não bastassem os escândalos de roubalheira que os desmoralizam, os senadores e deputados federais se preparam para votar a retirada de direitos previdenciários e trabalhistas conquistados pelo povo, há anos e anos. Uma vergonha! Cuidem-se! Quem votar pela supressão de direitos não merecerá nosso voto nas eleições de 2018! A Igreja prossegue na sua luta pela transformação do sertão. A bandeira das mudanças estruturais pelo uso das terras e da água vai continuar desfraldada. Já se prepara a 2ª Caravana ao São Francisco. Desta vez, com maior tempo de preparação. Deseja-se contar com ampla
participação do clero, com o envolvimento da sociedade civil organizada e com estratégico engajamento dos municípios. Serão solicitadas às Prefeituras e Câmaras de Vereadores situadas ao longo dos canais de transposição das águas as propostas de implantação das mudanças necessárias. O povo será convocado a bater às portas das autoridades municipais exigindo as políticas próprias do bioma semiárido e com elas se comprometendo. A Igreja reafirma seu propósito de demonstrar a todos sua disposição de estar junto, de dar as mãos na construção desta transformação cultural e ambiental, dom de Deus em benefício de todos. Parabéns, Dom Jaime, pelos seus 70 anos de existência. Parabéns, sobretudo, por se comprometer com as causas do desenvolvimento da região. A exemplo do Papa Francisco, faça sempre mais do seu múnus episcopal um serviço aos mais pobres deste mundo e que são, ao mesmo tempo, os privilegiados do Senhor Jesus.
Integrantes da Caravana, às margens do Rio São Francisco, no município de Cabrobó, (PE), no entardecer do dia 2 de março de 2016 Abril de 2017 | 33
a ordem especial | Encontro com Papas
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Encontro com Papas | a ordem especial
Três momentos de graças “Estava no lugar certo, na hora certa” Por Pe. Valdir Cândido de Morais, Vigário Episcopal para a Administração Vivendo as alegrias dos 70 anos de vida do nosso Arcebispo Dom Jaime, toca a mim escrever nessas poucas linhas a experiência vivida nos três maiores momentos da minha vida como seminarista e padre. Tive a graça de conhecer o nosso amado pastor, Dom Jaime ainda, quando era militar da Força Aérea Brasileira por um convite de um amigo para participar de um encontro vocacional no então Seminário de São Pedro, na rua Mipibu, e, aí, conheci o então reitor do Seminário Mons. Jaime com seu espírito acolhedor. Nada acontece por acaso em nossa vida. Assim entendo aquele encontro vocacional, pois a partir daí minha vida tomou um rumo totalmente diferente daquela que eu tinha. Foi neste encontro sobre a orientação de Mons. Jaime que a minha vocação começava a despertar rumo ao sacerdócio o “DOM” mais precioso da minha vida. Mesmo tendo tido pouco tempo para aproveitar a convivência com o Mons. Jaime como reitor no Seminário de São Pedro, pois Deus a ele reservava a grande missão de ser Bispo da Igreja. Deus também me concedeu três grandes momentos na minha vida vocacional com este servo. Em novembro de 1995 Mons. Jaime foi nomeado pelo então Papa João Paulo II para bispo da Diocese de Caicó. Isso todo mundo já esperava. Foi uma grande festa no Seminário de São Pedro. Depois da nomeação vem uma outra grande notícia. Entre tantos bispos nomeados no mundo inteiro entre os meses de novembro e dezembro de 1995,
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a ordem especial | Encontro com Papas
Dom Jaime recebe a notícia de que seria Sagrado Bispo pelo Papa João Paulo II na festa da Epifania de 1996. Eu era apenas um seminarista que terminava a experiência do propedêutico, mas como guardava uma pequena economia do meu tempo de Força Aérea, perguntei a Dom Jaime se eu poderia acompanhá-lo nessa viagem, pois tinha um grande interesse de conhecer a Cidade Eterna como qualquer candidato ao sacerdócio. Pensei que não receberia um sim, pois apenas iniciava a minha caminhada vocacional, mas, para a minha surpresa, Dom Jaime permitiu que eu o acompanhasse nesse momento tão importante de sua vida. Foi aí onde aconteceu o primeiro momento de graça na minha vida vocacional. Além de ter tido a graça de acompanhar Dom Jaime em todos os momentos de preparação para a sua sagração, Deus me concedeu a graça de participar naquele inesquecível 06 de janeiro de 1996, na Basílica de São Pedro, em Roma, de sua ordenação episcopal, acompanhado de seus familiares e amigos mais próximos. Só que as emoções não paravam por aí. Estava prevista uma audiência com o Papa no Palácio Apostólico, só que tinha sido cancelada por motivo de agenda do Papa, mas Deus agiu mais uma vez. Na tarde véspera de nosso retorno ao Brasil, Dom Jaime recebe um comunicado que o Santo Padre o receberia com os seus familiares na noite daquele dia. Foi uma correria só. Deixamos de arrumar as malas e fomos apressadamente ao encontro do Papa. E assim terminava a nossa estadia em Roma com as bênçãos do hoje São João Paulo II, aquele que nomeou e ordenou Dom Jaime Bispo para a Igreja. Como diz nosso estimado pastor, Dom Jaime, “tudo é graça”. Contudo, as emoções não paravam por aí. O tempo passou, Dom Jaime cumpriu sua missão em Caicó e foi transferido para a Diocese de Campina Grande. O tempo também passou em minha vida e neste percusso fui ordenado padre. “Cumprida a tradição”, no dia 21 de dezembro de 2011, Dom Jaime é nomeado pelo Papa Bento XVI para a missão de Arcebispo de Natal. Eu me encontrava nesse momento mais uma vez em Roma onde concluía o mestrado em Matrimônio e Família. Como membro do clero de Natal, mais uma vez Deus me concede a graça de preparar e acolher na Cidade Eterna o nosso Arcebispo e toda 36 | Abril de 2017
Encontro com Papas | a ordem especial
comitiva que o acompanhava para a solenidade de entrega do Pálio, insígnia própria dos Arcebispos conferida pelo Papa. Coube a mim acompanhar o nosso Arcebispo Dom Jaime aos momentos que antecediam a cerimônia de entrega do Pálio. Apenas tinha concluído o mestrado e, como presente de Deus, acompanhei Dom Jaime na audiência com o Papa Bento XVI que recebeu todos os Arcebispos depois da Solenidade do Apóstolo São Pedro. “Como poderei retribuir ao Senhor Deus por tantas graças”. O tempo urge a história. Quem diria que o então reitor do Seminário São Pedro, hoje seria o nosso amado Pastor? Já são cinco anos de seu pastoreio na nossa Igreja de Natal. Como membro do seu presbitério e colaborador do seu pastoreio, tenho vários motivos de expressar aqui a minha gratidão pela presença de Dom Jaime na minha caminhada vocacional. Ainda como colaborador do seu ministério episcopal Dom Jaime me concedeu a terceira grande graça em minha vida. Em setembro de 2016, mais uma vez acompanhei Dom Jaime à Cidade Eterna, Roma, dessa vez para tratar junto aos dicastérios da Cúria Romana sobre a causa de canonização dos nossos mártires de Cunhaú e Uruaçu. Foi uma viagem de trabalho, dessa vez acompanhado também pelo padre Júlio César e Padre Flávio Medeiros. Depois de passar pela Congregação da Causa dos Santos e pelo postulador da causa dos mártires, terminamos a viagem de trabalho sendo recebido pelo Santo Padre o Papa Francisco. Como disse no início, “tudo é graça” e tenho a certeza que nada disso seria possível sem a ação de Deus na minha vida, mas também se não tivesse a graça de ter Dom Jaime em minha vida como pai espiritual e um BOM AMIGO. Sei que “estava no lugar certo e na hora certa”. Pergunto-me as vezes o porque de tantas graças ao rever as fotos. Poderia ser outro mas foi a mim que foi concedida esta grande graça de ter tido a oportunidade de beijar o anel de três Papas: São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco. Por isso, quero terminar agradecendo ao nosso pastor Dom Jaime pelos seus 70 anos de vida bem vividos, e por ter me concedido tantas alegrias ao longo do meu caminho vocacional. Que a Virgem da Apresentação te cubra com o seu manto maternal nessa missão de ser Pai e Pastor da nossa Igreja de Natal. Tanti Auguri Dom Jaime! Abril de 2017 | 37
a ordem especial | Social
O sociรณlogo que habita o Arcebispo de Natal 38 | Abril de 2017
Cacilda Medeiros
Social | a ordem especial
Por Maria da Conceição de Almeida Professora Titular da UFRN Conheci o então seminarista Jaime Viera Rocha no final dos anos 60, após o Golpe Militar. Nesse tempo sombrio da história do nosso país, no qual a liberdade de expressão era cerceada, escolhemos, ele e eu, uma profissão de risco – sociologia e política. Ele se tornou sociólogo em 1971, um ano antes de mim, mas nossos caminhos se mantinham entrelaçados uma vez que os ideais humanistas e libertários que nos ligavam já haviam se consolidado muito antes, por meio de nossa inserção na Igreja de Natal. Ele, trabalhando na Cúria Metropolitana, eu, na Secretaria de Opinião Publica da Arquidiocese de Natal e depois no Movimento de Educação de Base. Marcado pela parcimônia, mas também pela obstinação, já naquela época Jaime Rocha expressava sua preferência pelos excluídos do perverso sistema econômico. Seu engajamento nas ações sociais da Igreja, sua dedicação aos mais pobres, e sua atuação nas pastorais rurais demonstravam que é possível uma fé e um evangelho de mãos dadas com o espírito de justiça social. Mesmo por vezes distantes um do outro, pude eu acompanhar seus projetos, suas inquietações, suas investidas numa Igreja atada visceralmente ao mundo. Já como Bispo ele me recebeu numa visita à Diocese de Caicó para dialogar sobre os desafios que se colocam na relação “Fé e Política”. Nossos diálogos não pararam aí. Eles se expandiram por meio de eventos, de artigos acadêmicos compartilhados, ou quando sentimos que nossa formação comum em duas “universidades” – na Fundação José Augusto e na Igreja do Movimento de Natal – nos cobra, sem trégua, uma reflexão corajosa e clara sobre o papel da Igreja de Francisco no mundo de hoje. Saúdo o Arcebispo Dom Jaime Vieira Rocha, nos setenta anos, desejando que o fervor e a boa e justa indignação do seminarista Jaime se mantenham em plena ebulição.
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