A Ordem especial especial
Fundação Paz na Terra Ano XLV - Edição especial Natal-RN / Outubro de 2017
Santos Mártires do Brasil
a ordem especial | Assunto
2 | Outubro de 2017
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 3
a ordem especial | Assunto
4 | Outubro de 2017
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 5
a ordem especial | Editorial
11
História dos primeiros Mártires do Brasil
28
Robério Nogueira: um milagre dos Mártires
32
Dom Cláudio Hummes lembra que os Mártires eram pessoas simples
Expediente especial Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689
6 | Outubro de 2017
Conselho curador: Pe. Charles Dickson Macena Vital Bezerra de Oliveira Fernando Antônio Bezerra Conselho editorial: Pe. Rodrigo Paiva Pe. Júlio César Pe. Antônio Roberto Pe. José Pereira Neto Cacilda Medeiros Luiza Gualberto Edvanilson Lima Rivaldo Júnior
“Não” ao mundo
“Não vos conformeis com este mundo” é o título do livro do Prof. Felipe Aquino, no qual ele escreve sobre o martírio de cristãos. Ele afirma que “muitos cristãos, em todos os tempos, deram a vida pelo Evangelho e pelo Reino de Deus, imitando o próprio Cristo, que se entregou para a salvação do mundo” (Prof. Felipe Aquino). Na verdade, o título é a primeira parte do versículo 2, da carta aos Romanos 12, e a sequência do versículo é: “... mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito”. No artigo, o Professor Aquino afirma que “o cristianismo venceu o Império Romano somente depois que os mártires derramaram seu sangue como tributo da implantação do Evangelho na Roma pagã”. A decisão de “perder” a vida para manter a fé, na verdade, é o seguimento do que Jesus Cristo ensinou. “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna” (cf Jo 12,25). O martírio desses cristãos, de certa forma, também venceu o paganismo na disputa pelo poder em terras potiguares. O testemunho de Mateus Moreira ao ser martirizado é marcante – “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Edição e Redação: Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) FOTO DA CAPA: L’Osservatore Romano Revisão: Milton Dantas (LP 3.501/RN) Colaboradores: Diác. José Bezerra Auricéia Lima Irmã Vilma Lúcia Pe. Murilo Paiva Pe. José Pereira Neto Vital Bezerra
Comercial: RN Editora Idalécio Rêgo (84) 98889-4001 Projeto e diagramação: Terceirize Editora (84) 3211-5075 www.terceirize.com Impressão: Gráfica Sul Tiragem: 5.000 exemplares
GratidĂŁo Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 7
a ordem especial | A Voz do Pastor
Os Santos Protomártires do Brasil Queridos irmãos e irmãs! “Sangue de mártires, semente de cristãos”! A Igreja do Rio Grande do Norte é uma Igreja banhada pelo sangue dos mártires. Ainda na primeira metade do século XVII (1645), vários cristãos, sacerdotes e leigos, homens e mulheres, jovens e meninos, foram mortos pelo ódio daqueles que naquele tempo dominavam a região do Rio Grande do Norte. O ódio à fé levou alguns a massacrarem os católicos nas nossas terras potiguares: em 16 de julho, o morticínio de Cunhaú, no município de Canguaretama, onde o Pe. André de Soveral, após a elevação do Corpo e Sangue de Cristo, com as portas da capela de Nossa Senhora das Candeias, trancadas, foi morto, com cenas de violência, intolerância e atrocidade. Em 3 de outubro foi a vez do morticínio de Uruaçu, nas proximidades de São Gonçalo do Amarante. Ali, entre tantos que foram mortos, estão o Pe. Ambrósio Francisco Ferro e o leigo Mateus Moreira, que exclamou, com o coração arrancado: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. A memória do Martírio de Cunhaú e Uruaçu sempre esteve presente na Igreja de Natal. Mas, somente em 1988 com a vinda de Dom Alair Vilar para Arcebispo de Natal, foi aberto o Processo de Beatificação dos Mártires, tendo como postulador o Mons. Francisco de Assis Pereira, já falecido. Em 5 de março de 2000, o Papa São João Paulo II, beatificou os mártires do Rio Grande do Norte, chamando-os de “Protomártires do Brasil” e estabelecendo a data de comemoração para o dia 3 de outubro. Para a Igreja de Natal e de todo o Rio Grande do Norte, foi uma alegria imensa e suscitou o aumento da devoção aos mártires. Agora, 8 | Outubro de 2017
Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal
com a Canonização realizada no último dia 15 de outubro deste, a Igreja do Rio Grande do Norte vive as alegrias de ter trinta (30) santos. Além das Paróquias dedicadas a Santo André de Soveral, em Emaús, a Santo Ambrósio Francisco Ferro, no Planalto e a São Mateus Moreira, em Cidade Verde, a nossa Igreja conta com os três santuários dedicados aos Santos Mártires: em Cunhaú, no município de Canguaretama, em Uruaçu, no município de São Gonçalo do Amarante, e em Natal, no bairro de Nazaré. A Igreja de Natal sente satisfação e alegria pelo testemunho dos Santos Mártires. De fato, nosso desejo é que aumente cada vez mais a devoção e, sobretudo, a vontade de testemunhar a fé em Jesus Cristo. Eles lembram a todos que nunca devemos nos sentir sozinhos na missão que Deus nos confiou. Não criamos nós a missão, ela é dada pelo próprio Senhor, e isto significa que Ele mesmo está presente, sustentando e animando a nossa caminhada. Os mártires são exemplo disso. Uma terra banhada pelo sangue de tão valiosas testemunhas da fé, é um solo fecundo de santidade e de missão. Os Mártires sejam lembrados e venerados por nós, católicos potiguares, como exemplo de fidelidade ao Mestre, o Crucificado e Ressuscitado, Força e Salvação de nossa vida. Eles se unem à multidão de homens e mulheres que deram a vida pela fé no Cordeiro de Deus, Imolado por nós para a remissão dos pecados. Que a sua festa, em 3 de outubro, seja a celebração de nossa fé, do senhorio de Cristo e de seu poder que vence sempre, trazendo paz e alegria aos nossos corações. A Igreja canta os seus hinos e eleva uma prece ao bom Deus para que todos sejamos firmes na fé e na caridade.
GratidĂŁo | a ordem especial
Outubro de 2017 | 9
a ordem especial | Histรณria
10 | Outubro de 2017
História | a ordem especial
História dos primeiros
Mártires do Brasil Por Pe. José Pereira Neto Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Canguaretama (RN) Em 1633, os holandeses chegaram ao Rio Grande (nome primitivo do estado do Rio Grande do Norte), com o desejo de posse da economia, bem como, a grande produção agrícola, sobretudo, do cultivo da cana de açúcar. Os flamengos (nome usado para identificar os invasores), para lutar, contaram com a ajuda dos índios Tapuias e Potiguares. Antes de percorremos a história, gostaria de relatar o porquê da ajuda indígena, como força para a invasão holandesa. Os índios que habitavam a região se sentiam feridos, de forma invasiva, pelas imposições portuguesas, ferindo a sua liberdade, cultura e culto a divindade, que, por vezes, tem uma forma diversa da qual era imposta pelos colonos. Na primeira oportunidade que tiveram de dar uma resposta aos colonizadores, deram se unindo ao projeto dos holandeses de retirar os portugueses do território local. No fundo, mais uma vez, os nossos índios foram usados pelos poderes externos, para tentar uma suposta dominação. As investidas tomaram forma. No Rio Grande, existiam dois grandes centros econômicos, que, na época, aconteciam em dois engenhos: o do Potengi e o do Cunhaú. Neles, havia a criação do gado, que abastecia toda a região, o cultivo do milho e da mandioca. O que mais chamava a atenção dos flamengos, era o do Vale do Cunhaú, irrigado por um rio perene com o mesmo nome, com um lindo campo verdejante de canaviais, sendo o maior produtor de cana de açúcar do estado, produzindo cerca de 6 a 7 mil arroubas. A primeira investida de dominação dos holandeses se deu no ano 1634. Onze anos depois,
ARTE: Pe. Eládio L’Eraistre Monteiro, em 1999
Ilustração do massacre ocorrido em Cunhaú
em 1645, a vida do Vale do Cunhaú parecia voltar tudo à normalidade. Em volta da Capela de Nossa Senhora das Candeias, residia em torno de 70 pessoas, dedicadas aos trabalhos da lavoura e moagem da cana. Sinais de tempestades se davam no horizonte. Em Pernambuco, as investidas holandesas se instauravam, mas, na capitania do Rio Grande tudo parecia tranquilo. Repentinamente, o clima tornou-se tenso com a chegada de Jacó Rabi, a serviço da coroa holandesa, em 15 de julho de 1645. Ele, juntamente com os índios Tapuias e Potiguares, trazia uma mensagem do Supremo Conselho Holandês de Recife, gerando nos nativos, suspeitas e medo do que pudesse acontecer. Outubro de 2017 | 11
a ordem especial | História
Ilustração do massacre ocorrido em Uruaçu
12 | Outubro de 2017
ARTE: Pe. Eládio L’Eraistre Monteiro, em 1999
No outro dia, 16 de julho, domingo e festa de Nossa Senhora do Carmo, aproveitando que na hora da missa se reuniriam os colonos e o pároco, Padre André de Soveral, Jacó Rabi iria ser o portador de uma mensagem do Supremo Conselho Holandês de Recife aos moradores do Cunhaú. Sem ter mais o que fazer para garantir a dominação, a última investida, agora, seria pela religião; a imposição seria a profissão de fé ao Calvinismo, tornando, assim, mais fácil a posse da terra, dos benefícios do poder e da economia. A hora da missa chegou, os fiéis se dirigiam à capelinha, motivados apenas pelo desejo de cumprir os deveres cristãos, de participar da missa dominical; não carregavam armas, a não ser o desejo de se encontrar com Jesus na Santíssima Eucaristia. O padre André começou a missa e, na hora da elevação do cálice, erguendo o corpo de Jesus, a um sinal de Jacó, as portas se fecharam e começou, então, ao massacre do Cunhaú. Grande terror tomava conta naquele momento. Os índios canibais, convocados pelos holandeses, sem nenhuma reserva, começaram o massacre pelo padre André de Soveral, e não privaram em nada sua condição de clérigo, tamanha crueldade, fazendo-os em pedaços. Mesmo assim, ele convidava a comunidade a rezar o ofício da agonia, se entregando a Jesus, pedindo perdão pelos seus pecados e perdoando a quem os tirava a vida. Morreram por Jesus, pela Igreja e pela pátria.
arquivo Arquidiocese
História | a ordem especial
Ruínas da capela de Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú, antes de passar pela restauração, em 1986
As investidas continuavam. Em Natal, o Padre Ambrósio Francisco Ferro (pároco de Natal), foi levado com outro grupo de fiéis para o Forte dos Reis Magos (fortaleza utilizada para se proteger da guerra), pelo mesmo mandatário holandês - Jacob Rabi, com a mesma motivação do contexto de Cunhaú. Foram dias de grande tensão, tendo em vista o que tinha acontecido no Vale do Cunhaú. O Padre Ambrósio e os seus fiéis deixaram o Forte e, chegando ao Campo de Uruaçu, em torno de 150 pessoas, foram massacradas, a mandado do governo holandês, em 3 de outubro de 1645. Cenas de crueldades se davam no campo.
Um cronista da época relata: “Começaram... a darão atrozes tormentos aos homens, e tão desumanos, que já muitos dos que o padeciam, tomavam por mercê a morte; mas usaram os holandeses da última crueldade, dilatando a pena, e depois de cansados de darem tão aspérrimos tormentos aos homens, os entregaram aos Tapuias e Potiguares, que, ainda vivos os foram fazendo em pedaços, e nos corpos fizeram tais anatomias que são incríveis; arrancando a uns os olhos e tirando a outros as línguas e cortando as partes verendas...” (SANTIAGO, p. 346) Outubro de 2017 | 13
a ordem especial | História
Em meio às controvérsias dos historiadores, sobre o acontecimento ou não do martírio, há um conjunto de fatos que atestam um verdadeiro martírio no sentido cristão: a atenção dos perseguidores em matar um grupo de católicos, penitentes e sem nenhuma defesa, durante a missa (Cunhaú), não houve ação de defesa das vítimas, entregando-se livremente ao sacrifício, no momento último recitaram orações de súplicas de misericórdia a Deus para eles e seus agressores.
Por fim, algo semelhante aconteceu com o Padre Ambrósio, que, vendo o testemunho do seu irmão no sacerdócio, o Padre André, também motivou seu grupo a se entregar pela causa do Evangelho, destacando-se desse grupo, o leigo Mateus Moreira, que na hora da sua morte, quando o coração lhe era arrancado pelas costas, gritou seu amor a Jesus na Hóstia Santa: ‘Louvado seja o Santíssimo Sacramento’. Esta foi a fundamentação que garantiu o reconhecimento de santidade dos mártires de Cunhaú e Uruaçu.
O caminho do Martírio: dade de Pedro Velho. Seguidos três quilômetros, entra-se à esquerda, numa via pavimentada que vai até a Capela do Martírio. É construção datada de 1604, considerada a Igreja católica mais antiga do Estado, construída em área rural. Nas proximidades, encontramos o Santuário da Chama de Amor e dos Mártires de Cunhaú, maior santuário mariano do estado. Rivaldo Júnior
Rivaldo Jr.
É o local sagrado onde o martírio do Santo André de Soveral (sacerdote), São Domingos de Carvalho e dos fiéis reunidos na capela para a Santa Missa dominical, em 16 de julho de 1645. O acesso se dá pela rodovia federal BR 101. Ao chegar a Canguaretama, primeira cidade do Rio Grande do Norte para os que vêm da Paraíba, pega se a rodovia estadual RN 269, sentido a ci-
Pe. José Pereira Neto, pároco de Canguaretama capela de Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú, após restauração
14 | Outubro de 2017
História | a ordem especial
Monumento aos Mártires de Uruaçu Ao chegar a Natal, toma-se a ponte de Igapó sobre o rio Potengi e se segue pela rodovia estadual RN 160 até a cidade de São Gonçalo do Amarante. Na mesma estrada, poucos quilômetros depois atravessa-se a ponte São Gonçalo-Macaíba, toma-se à esquerda, numa estrada asfaltada, com a placa indicativa “Monumento de Uruaçu” até o local do martírio. Teotonio Roque
É o local do martírio do Santo Ambrósio Francisco Ferro (sacerdote), São Mateus Moreira, leigo e seus companheiros, no dia 3 de outubro de 1645. Os mártires foram massacrados ao ar livre, num lugar deserto, longe da cidade. Logo após a beatificação, foi construído, no mesmo local, um monumento aos mártires de Uruaçu e Cunhaú, sendo um espaço para grandes celebrações.
Monumento dos mártires, na comunidade de Uruaçu, em são gonçalo do amarante
Horário de missas Cunhaú – Mensalmente, sempre no primeiro domingo, às 10h, há celebração de missa pedindo a intercessão dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Santuário Chama de Amor, localizado na RN 269, no município de Canguaretama. Já no segundo, terceiro e quarto domingo, às 10h30, a celebração acontece na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, também no município de Canguaretama. Uruaçu – Todo domingo, às 10h30, há celebração de missa no Monumento dos Mártires, na comunidade de Uruaçu, no município de São Gonçalo do Amarante, localizado na região metropolitana de Natal. Lá, há celebração eucarística todo dia 3, às 16 horas.
Contatos Para agendar encontros, retiros, celebrações, os contatos são: . Cunhaú (84) 2341-2577 . Uruaçu (84) 3272-0447
Outubro de 2017 | 15
Rivaldo Jr.
a ordem especial | Paróquia
Santo Ambrósio Francisco Ferro:
uma Paróquia que evoluiu com o bairro Fundado no ano de 1998, pela lei municipal 151, o bairro Planalto, situado na zona oeste de Natal, traz características da vida interiorana e pacata. No período de sua fundação, a população estimada era de 30 mil habitantes. Desde o início, a religiosidade foi marca predominante dos moradores da comunidade. É o que afirma o padre Valdemar Fernandes, que acompanhou de perto o crescimento do conjunto, quando ainda não era oficializado como bairro. Segundo o livro “Paróquias potiguares – uma história”, de autoria do Pe. Normando Pignataro Delgado (in memoriam), entre os anos de 1984 e 1995, o padre José Sianko, sacerdote polonês da Congregação dos Salesianos, que desenvolvia um trabalho missionário na Arquidiocese
16 | Outubro de 2017
de Natal, construiu no Planalto uma Igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Recém-aposentado dos serviços às forças armadas, o padre Valdemar foi designado pelo Arcebispo Metropolitano da época, que era Dom Nivaldo Monte, para auxiliar nos trabalhos da Paróquia de Nossa Senhora Auxiliadora, em Felipe Camarão, da qual a comunidade do Planalto fazia parte. “Vim auxiliar nos trabalhos desenvolvidos na Paróquia e minha função foi a de conduzir os trabalhos na Capela do Sagrado Coração de Jesus, no Planalto. Na época, o padre Talvaci era o responsável pela Paróquia de Felipe Camarão e a comunidade do Planalto estava se expandindo. Então, vim pra cá e assumi esta função”, conta.
Paróquia | a ordem especial
Imagem do padroeiro Por ocasião da canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, recentemente a Paróquia ganhou uma escultura da imagem do padroeiro, entalhada em madeira, que foi confeccionada pelo jovem artesão João Evangelista, da cidade de Passa e Fica, no interior do estado. A imagem conta com aproximadamente um metro de altura e está exposta no altar da Igreja matriz. Além da imagem, a Paróquia ganhou um hino dedicado ao padroeiro, composto pela paroquiana Andreza Alves. Para desenvolver a canção, Andreza recebeu melodia e arranjos dos músicos do Ministério Imagem e Semelhança, que anima as missas da comunidade. Na letra da música, são lembradas as características de força e resistência de fé do mártir, que se tornou exemplo, através do seu testemunho. A Igreja matriz está situada na Rua Miramangue, 91, no bairro Planalto e todo dia 03 de cada mês, é celebrada missa votiva aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. A celebração acontece às 19h30. Caso o dia 03 caia no sábado ou domingo, a missa é realizada é antecipada para às 19h. “Vemos a canonização dos mártires com um sentimento de alegria. Fico feliz, porque acompanhei toda a evolução da Paróquia. A canonização representa uma riqueza para a Igreja, porque os santos servem para conduzir o povo com seu exemplo de vida e os santos potiguares tem um exemplo belíssimo, porque deram à vida pelo que acreditavam”, comemora o Pe. Valdemar.
Pe. José Moreira de Lima
Rivaldo Jr.
Expansão da comunidade Com a criação da Paróquia, a comunidade paroquial se expandiu e, hoje, além da Igreja matriz, conta com duas capelas, uma dedicada a São José e outra a Nossa Senhora das Graças. Além disso, a comunidade conta com os trabalhos da comunidade católica Shalom, que desenvolve uma missão de evangelização, principalmente com crianças, jovens e casais. “No início do bairro Planalto, tínhamos aproximadamente 30 mil habitantes e hoje são em torno de 120 mil. As casas foram substituídas por prédios e o comércio se expandiu bastante, ganhando um novo rosto. Infelizmente, no que diz respeito à infraestrutura, nosso bairro ainda não evoluiu”, analisa o padre Valdemar. Em 2016, o padre Valdemar se tornou pároco emérito e quem assumiu os trabalhos paroquiais foi o padre José Moreira de Lima. O Pe. Valdemar continua desenvolvendo sua missão junto à comunidade Shalom.
José Bezerra
Criação da Paróquia No dia 05 de março de 2000, os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, além de Mateus Moreira e 27 companheiros leigos, foram beatificados pelo então papa João Paulo II, no Vaticano. Como marco deste acontecimento, na Arquidiocese de Natal, quatro paróquias foram dedicadas aos padroeiros do Estado, entre elas, a comunidade do Planalto. No dia 01 de novembro de 2003, o Arcebispo Metropolitano da época, Dom Heitor de Araújo Sales, criou a então Paróquia do Beato, hoje Santo Ambrósio Francisco Ferro e nomeou o padre Valdemar Fernandes como primeiro pároco.
Pe. Valdemar Fernandes, pároco emérito
Outubro de 2017 | 17
a ordem especial | Paróquia
Devoção a Santo André de Soveral cresce no Jardim Aeroporto Jardim Aeroporto, Parque Industrial, Parque das Orquídeas e Emaús compõem a paróquia dedicada a santo André de Soveral Em 3 de novembro de 2003, o então Arcebispo de Natal, Dom Heitor de Araújo Sales, criou a Paróquia de Santo André de Soveral, desmembrando-a da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Parnamirim. A Paróquia dedicada a Santo André de Soveral é formada pelas comunidades do Jardim Aeroporto (sede), Parque Industrial, Parque das Orquídeas e Emaús. Na
Igreja Matriz do Beato André de Soveral
18 | Outubro de 2017
época da criação, na comunidade do Jardim Aeroporto havia uma igreja dedicada à Mãe Rainha, que foi transformada em Igreja Matriz. Inicialmente, a Paróquia teve como administrador o Padre Valdir Cândido de Morais. Ele foi sucedido pelo Padre Marcelo Cezarino Cruz. Há quatro anos, o Padre Abelardo de Freitas Barros Neto é o pároco.
Cacilda Medeiros
Paróquia | a ordem especial
Rivaldo Júnior
Pe. Abelardo Neto, pároco
Devoção ao padroeiro De acordo com o pároco, fomentar a devoção ao padroeiro, Santo André de Soveral, não é tarefa fácil. “No mundo urbano, não é muito fácil trabalhar a devoção a um padroeiro. Depois, em nosso caso, a escolha do padroeiro não foi da comunidade. Foi uma ideia da Arquidiocese, para difundir a devoção aos Mártires”, explica Padre Abelardo. Ele, porém, ressalta que nos últimos anos, a Paróquia tem realizado iniciativas para fomentar essa devoção. “Mandamos confeccionar ‘santinhos’ com a imagem do padroeiro; produzimos e apresentamos encenações teatrais; confeccionamos mais de 50 imagens do Santo, que visitam as residências dos fiéis; cada comunidade da paróquia possui uma imagem do padroeiro...”, enumera as iniciativas. Segundo o pároco, nos últimos dois anos, a festa do Santo André de Soveral também tem crescido, em termos de participação popular. “É notável que há uma ligação maior da comunidade com o exemplo e o testemunho dele”, enfatiza. A festa é celebrada entre 10 e 20 de setembro. Paróquia setorizada Conforme o Padre Abelardo, a Paróquia do Santo André de Soveral prima pela setorização, para o melhor desenvolvimento do trabalho pastoral e evangelizador. “Cada uma das quatro comunidades está dividida em quatro setores. Além disso, também temos os setores pastorais, que é a junção de pastorais afins. Graças a Deus, a partir dessa setorização territorial e pastoral, estamos conseguindo articular bem a paróquia”, explica o pároco. Igreja Matriz Localizada na Rua Aeroporto de Petrolina, nº 01, no bairro Jardim Aeroporto, a Igreja Matriz do Santo André de Soveral é aberta para visitação dos fiéis e devotos de terça a sábado, das 8 às 12 horas e das 16h às 20 horas. Lá, há celebração eucarística de terça a sexta, às 18 horas, e, aos domingos, às 7h e às 19 horas. Quem quiser obter mais informações sobre o funcionamento da paróquia, pode ligar para o (84) 3643-1355 ou acessar a página www.facebook.com/paroquiadosoveral. Outubro de 2017 | 19
José Bezerra
a ordem especial | Paróquia
Igreja do Beato Mateus Moreira, em Cidade Verde
Mateus Moreira
é patrono dos Ministros e padroeiro de Cidade Verde Em 3 de outubro de 2003, três anos após a beatificação dos Protomártires do Brasil, o então Arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Matias Patrício de Macêdo, assinou decreto criando uma paróquia dedicada a São Mateus Moreira, na comunidade de Cidade Verde, em Parnamirim. Seria desmembrada da Paróquia de Nossa 20 | Outubro de 2017
Senhora da Conceição, em Nova Parnamirim. A instalação se deu em 17 de novembro do mesmo ano. Nos dois primeiros meses, a nova paróquia teve como pároco, o Padre Alcimário Pereira de Oliveira. Ele foi sucedido pelo Padre Tomás Silveira Neto, que está à frente da paróquia até os dias atuais.
Paróquia | a ordem especial
Setorização Na Arquidiocese de Natal, a Paróquia de São Mateus Moreira se destaca pelo trabalho pastoral realizado por meio da setorização. Nesse processo, a paróquia foi dividida em
quatro comunidades e cada uma delas é responsável, durante uma semana, pelas celebrações na Igreja Matriz. “Não costumamos dizer que temos Matriz. Temos uma rede de comunidades”, ressalta o pároco. “Cada comunidade, dividimos em mais quatro. Assim, aumentamos o espaço de participação das pessoas nas atividades. Com isso, também evitamos os líderes centralizadores”, acrescenta. Igreja Matriz A Igreja de São Mateus Moreira fica localizada na Av. dos Eucaliptos, 101, no bairro de Cidade Verde, em Parnamirim (RN). É aberta de terça-feira a domingo, das 8 às 22 horas. De quarta a sábado, há celebração de missa, às 19 horas. Aos domingos, há missa às 8h e às 19 horas. Quem desejar conhecer mais sobre a paróquia, pode acessar a página www.facebook.com/ ParoquiaMateusMoreira. O telefone de contato é o (84) 3615-2837. Cacilda Medeiros
Devoção crescente De acordo com o Padre Tomás, a devoção aos Mártires, sobretudo a São Mateus Moreira, tem sido alimentada junto aos fiéis ao longo dos anos. “Nós alimentamos essa devoção, especialmente durante um tríduo de preparação à solenidade de Corpus Christi. Como Mateus Moreira é o patrono da Eucaristia, durante o tríduo os Ministros Extraordinários da Eucaristia saem em missão, visitando residências. São mais de cem ruas visitadas a cada noite, encerrando sempre com a bênção do Santíssimo Sacramento, na Igreja, às 10 horas da noite”, comenta o pároco. Outro momento forte vivido na paróquia é a festa do padroeiro, tradicionalmente encerrada no último domingo do mês de setembro. Para difundir a história do martírio e a devoção aos Protomártires, Padre Tomás montou uma peça teatral cujo roteiro é de sua autoria. Essa peça, com mais de 300 personagens, é apresentada durante a festa do padroeiro, assim como já foi apresentada para outras cerca de 30 paróquias. O autor do texto conta que a peça é dividida em dez cenas, retratando vários aspectos, como: realidade sócio-política e econômica de Cunhaú e Uruaçu; o massacre na capela de Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú; o refúgio das autoridades no Forte dos Reis Magos; construção da cerca, em Uruaçu; o massacre, em Uruaçu; a morte do leigo Mateus Moreira, entre outros temas. “A encenação é concluída com uma grande manifestação de alegria”, conta o Padre. A respeito do exemplo dado pelo leigo Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas costas, no momento do massacre, e em meio à dor, exclamou: “louvado seja o Santíssimo Sacramento”, Padre Tomás ressalta: “com esse gesto, ele nos ensina a abrir o coração para o irmão, para a comunidade e fazer a doação plena do seu ser.”
Padre Tomás Neto, pároco
Outubro de 2017 | 21
Rodrigo Galvão
a ordem especial | Santuário
Interior do Santuário dos Mártires
Um Santuário dedicado aos
Protomártires do Brasil
Na capital potiguar, a Arquidiocese de Natal criou um Santuário dedicado aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, situado no bairro Nazaré. A Paróquia do Santuário dos Mártires foi criada no dia 12 de outubro de 2009, pelo então arcebispo da época, Dom Matias Patrício de Macedo. Atualmente, a comunidade paroquial tem como pároco, o padre Fábio Pinheiro. Segundo o sacerdote, estar numa paróquia dedicada aos santos potiguares é motivo de alegria e graça. “Como sacerdotes, em tão pouco tempo aqui, é motivo de glória. Sinto um orgulho santo, em ser testemunha de algo tão importante, que marca a fé do povo católico potiguar. É uma alegria que extravasa o nosso coração, principalmente em poder ajudar a difundir a devoção aos Protomártires do Brasil”, celebra. 22 | Outubro de 2017
O SANTUÁRIO Conhecido como uma das maiores Igrejas do Rio Grande do Norte, o Santuário dos Mártires tem estrutura para abrigar até 700 pessoas sentadas. Uma peculiaridade do local é que lá se encontra a ilustração original do morticínio de Cunhaú e Uruaçu, pintada pelo artista plástico Gilvan Lira, que mostra os principais personagens do martírio. A pintura encontra-se fixada na parede do centro do altar. No dia 03 de março de 2000, a imagem foi usada durante o anúncio oficial do então papa, hoje São João Paulo II, o qual proclamou os mártires como bem-aventurados. A solenidade foi realizada na Praça São Pedro, no Vaticano. O padre Agustin Calatayud y Salon, pároco emérito da Paróquia de Nossa Senhora da Esperança, da qual a Paróquia do Santuário foi desmembra-
Santuário | a ordem especial Rivaldo Júnior
da, idealizou o espaço de devoção. As obras iniciaram no ano de 2005 e foram concluídas em 2009. A Paróquia integra o roteiro do turismo religioso do estado para quem deseja conhecer a história dos mártires. Além de visitar a capela de Cunhaú, no município de Canguaretama e o monumento em Uruaçu, distrito de São Gonçalo do Amarante, o fiel pode conhecer o Santuário, que se encontra central a essas duas localidades, tornando-se um espaço para oração e reflexão.
Pe. Fábio Pinheiro, pároco
SAIBA MAIS O Santuário dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu está situado na avenida Miguel Castro, 1002, no bairro Nazaré, na capital potiguar. O contato da Paróquia é: (84) 3646-3189. O Santuário também está presente nas redes sociais: Site: www.psmartires.com.br Facebook: Santuário dos Mártires Twitter: @psmartires Youtube: Santuário dos Mártires
Luiz Fotógrafo
ATIVIDADES DEVOCIONAIS Todos os dias o Santuário dos Mártires está aberto para acolher os peregrinos e devotos. Diariamente, às 09h, acontece recitação do Terço de Mateus Moreira. Todo dia 03 de cada mês, a Paróquia celebra uma missa votiva na intenção dos Mártires, às 19h. No mês em que o dia 03 cai em um domingo, a celebração acontece às 17h. De terça a sexta-feira, acontece missa no Santuário, às 19h. Aos domingos, a celebração é realizada às 07h e às 17h. A Paróquia também realiza missa com oração de cura e libertação, toda 1ª sexta de cada mês, às 19h. “O Santuário promove estes momentos devocionais para que nós tenhamos, através do testemunho dos mártires, coragem e amor, para que possamos conduzir o reino de Deus, olhando para Jesus, assim como eles fizeram”, reforça Pe. Fábio. Os festejos em honra ao Mártires, na Paróquia, acontece no período de 23 de setembro a 03 de outubro.
Santuário dos Mártires, no bairro Nazaré
Outubro de 2017 | 23
a ordem especial | Artigo
Devoção aos Mártires Na Igreja, o que é novo, quase sempre nasce do passado, e seus fundamentos estão na Sagrada Escritura e na Tradição. Já dizia o Pastor de Ermas “a Igreja é uma Senhora idosa que sempre se rejuvenesce”. Em Natal, a nossa Igreja Particular continua este rejuvenescimento, no que agora vive diante da culminância do Processo de Beatificação com a Canonização dos Protomártires do Brasil: André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, presbíteros, Mateus Moreira e seus 27 companheiros, que morreram por e como Jesus, nos idos de 1645, em Cunhaú e Uruaçu. Eles são testemunhas de Jesus e de certa forma, morreram pelas mesmas razões d’ELE (SOBRINO, 1999 pp 241-242). A História deste martírio é uma das mais ricas e comoventes páginas da nossa Tradição Religiosa (Mon. Assis, Protomártires do Brasil, 1999). Aqui, vamos nos deter, apenas, a uma sintética fundamentação histórica da devoção aos mártires, num contexto mais amplo. Evocando um legado O martírio Uruaçu e Cunhaú evoca um legado profético de uma religiosidade, que perdura na memória de boa parte da Comunidade Eclesial potiguar. É sinal de uma devoção que suscita um retorno às fontes originantes do cristianismo. Provoca uma nova compreensão dos relatos que são memórias vivas do pecado estrutural, que ainda perdura na desumanidade que se instaura em nossa sociedade, convocando a Igreja para um novo tempo de profecia. São fatos que nos remetem aos inícios da nossa evangelização e nos ajudam à necessária volta ao Mártir Jesus.
24 | Outubro de 2017
Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC Doutora em história da Igreja e coordenadora do arquivo da Arquidiocese de Natal
Provocando um retorno às fontes Historicamente, a primeira Fonte desta devoção é a Bíblia. Antes de Jesus, João Batista, o grande profeta, é martirizado. O seu martírio profetiza o martírio de Jesus e sinaliza a Igreja dos Mártires. Nos capítulos sexto e sétimo, dos Atos dos Apóstolos, lemos o relato sobre o martírio de Estêvão, um dos sete primeiros Diáconos. Neste trecho, Santo Estêvão é chamado de “Protomártir”, ou seja, ele é o “primeiro mártir” de toda a história da Igreja. E era muito comum que se comemorasse o dia de morte de um mártir. Um dos primeiros exemplos que encontramos é a história de Policarpo (69 dc - †159 dc), Bispo de Esmirna, quando a Igreja oficializa a veneração aos mártires. Desta forma, o martírio foi assumido como a primeira forma de santidade a ser venerada na Igreja, por ser considerado como o sofrimento que mais se identifica com o Cristo Crucificado. Do terceiro século em diante é constatado um crescente número de mártires, por causa das grandes perseguições provocadas pelos imperadores romanos. Neste tempo, os cristãos começaram a venerar também os “confessores”, ou seja, aqueles que diante das autoridades proclamaram a fé, mas, por alguma circunstância, não foram martirizados. E ao mesmo tempo se desenvolvia uma sensível devoção às pessoas que morriam por causa de Jesus. Mais tarde, a partir do quinto século, o calendário dos santos foi cada vez mais enriquecido com muitos nomes, sobretudo com o dos que viviam o Evangelho e praticavam as virtudes de modo heroico, especialmente, a Fé, a Esperança e a Caridade. Por causa do número crescente de mártires da
Artigo | a ordem especial
devoção tanto aos mártires quanto aos confessores, a Igreja precisou estabelecer alguns critérios para definir quem poderia ser cultuado e em que consistia este culto e/ou veneração. Assim, o martírio se estabeleceu como a primeira forma de santidade a ser venerada pela Igreja e na forma como atesta a Tradição. A Tradição à qual aqui nos referimos é a que vem dos Apóstolos (CIC n.83). Por isto a ela sempre retornamos, porque as suas provocações não deixam a memória ficar confinada em repetições alienantes e nem permitem que os significativos testemunhos caiam no vazio perdendo o seu sentido maior. Desta Tradição extraímos dois esclarecedores trechos dos sermões de Santo Agostinho (354 – †430). O primeiro: “não erguemos altares a nenhum mártir, mas só ao Deus dos mártires, ainda que em memória deles. Veneramos, portanto, os mártires com um culto de amor e de comunhão, semelhante ao que dedicamos nesta vida, aos santos homens de Deus, cujo coração sabemos estar já disposto ao martírio, em testemunho da verdade do Evangelho. Mas, o culto que consiste na adoração devida à divindade, reservamo-lo só a Deus e não o prestamos aos mártires e nem ensinamos que se lhes deve prestar (Contra Fausto, Livro XX, 21). O segundo trecho é o sermão da Festa de São Cipriano, ensinando ao seu rebanho, o como se deve venerar a São Cipriano: “(...). No entanto, louvai-o mais com devoção do que com eloquência; melhor, louvado seja o Senhor nele: o Senhor nele, e ele no Senhor. (...) Com efeito, não levantamos um altar a Cipriano, como a um deus, mas temos feito de Cipriano um altar para o verdadeiro Deus. (...) (Sermão 313, Festa de São Cipriano). Nisto consiste o culto e a devoção aos mártires. São exemplos que nos ajudam a não perdermos de vista as razões, o sentido e a forma da devoção e/ou do culto aos nossos Protomártires do Brasil.
Convocando e Concluindo Legado e devoção convocam-nos, também, a vermos no crucificado, no mártir e no perseguido de hoje o lugar teológico e pastoral da nossa Igreja Particular. Explicita, portanto, os fundamentos da dimensão histórico-libertadora da fé cristã do povo potiguar; impulsionando-a a novas práticas pastorais, em favor das vítimas crucificadas da atualidade. Evoca a transcendência do sentido de um museu-santuário e de uma vitrine de lembranças para novas leituras históricas. Provoca a abertura de um leque de significados, que não pode ser compreendido, apenas como um espaço de visita ou um objeto de consumo devocional e/ou turístico. Suscita novos marcos interpretativos a partir da realidade em que vivemos, aqui e agora, trazendo para a Igreja um “novo” vigor missionário. Convoca-nos, portanto, a reler as tão antigas quanto novas provocações. Faz a nossa Igreja chegar à sua maioridade na fé, na experiência comunitária do martírio sangrento, no Gólgota de Cunhaú e Uruaçu e inspira o seu ser todo Eucarístico e Mariano. Como cristãos e cristãs sabemos e acreditamos, que a nossa história está intimamente ligada à história da salvação. Os Protomártires do Brasil, por sua vez, são mais um capítulo desta história. Eles são testemunhas de Jesus e foram mortos por e como Jesus. Regaram as nossas raízes históricas pelo sangue identificando-se com a Eucaristia. Aliás, são Eucaristia com Cristo (Bento XVI Sacramentum Caritatis,2007, 85) e com a Corredentora, a Padroeira das primeiras comunidades eclesiais de base, as células iniciais de estruturação eclesial (Medellin, 15,10), aqui constituídas, nos idos de 1645. Que ela, a Nossa Senhora da Apresentação e os Santos Protomártires do Brasil intercedam por nós, para levarmos a efeito a militância da Revolução da Cruz.
Outubro de 2017 | 25
a ordem especial | Testemunho
26 | Outubro de 2017
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 27
Rivaldo Júnior
a ordem especial | Testemunho
Sônia Amaral e Robério Nogueira, uma história de devoção aos Protomártires
Robério Nogueira:
um milagre dos Mártires A história que envolve o militar da reserva, José Robério Nogueira e Silva, e sua esposa, Sônia Amaral Nogueira, residentes em Natal, e os Mártires de Cunhaú e Uruaçu, começou antes mesmo da beatificação dos Protomártires. “Minha devoção aos Mártires começou em 1998, quando, nos domingos, a gente rezava uma novena, na capelinha de Nazaré. Foi também nessa época que eu conheci os Mártires de Cunhaú e Uruaçu”, conta Sônia. Ela e família residem no bairro Nazaré, na zona oeste da capital potiguar. Em fevereiro de 2002, Robério, até então uma pessoa saudável, sofreu uma forte dor de cabeça, acompanhada de convulsão. Em abril do mesmo ano, foi diagnosticado com um glioblastoma multiforme (tumor maligno no cérebro). A espo28 | Outubro de 2017
sa conta que, diante da gravidade da doença, ela rezava incessantemente. Um certo dia, enquanto recitava o Terço da Misericórdia, sentiu um desejo no coração de rezar a novena dos Mártires, pedindo a intercessão deles na cura do marido. Num momento de repouso espiritual, ela apresentou o pedido da cura pela intercessão dos Protomártires e confiou na graça divina. “Quando Robério fez a cirurgia e soubemos da gravidade da doença, não foi fácil para a família. Porém, a nossa fé nos Mártires e em Deus, superava nosso medo”, testemunha. Em 2005, o militar enfartou, o câncer voltou a aparecer e ele precisou se submeter novamente a outra cirurgia. Devido a isso, passou dez anos em tratamento quimioterápico, além das sessões da radioterapia.
Testemunho | a ordem especial
Sônia relata que, segundo os médicos que acompanharam a doença do seu esposo, uma pessoa acometida de glioblastoma multiforme teria uma sobrevida de, no máximo, um ano. O fato é que já se passaram 15 anos depois que Robério foi diagnosticado com o tumor e ele continua vivo, em casa, junto à família. “Esse é o milagre que atribuo à intercessão dos Mártires. Durante os dez anos de quimioterapia, ele não apresentou nenhum efeito colateral grave e nem deu entrada em Pronto Socorro. O Doutor Eduardo Ernesto, que cuidou dele, dizia: não há explicação para a medicina. É um milagre”, destaca a esposa. Sônia Amaral, como devota, acompanhou e colaborou com a construção do Santuário dos Mártires, situado na Av. Miguel Castro, no bairro de Nazaré, inaugurado no ano de 2009. Ainda hoje ela é engajada nas atividades da Paróquia do Santuário dos Mártires.
Cacilda Medeiros
Relatos para a canonização O milagre testemunhado por Sônia Amaral foi um dos três relatos incluídos no processo
para a canonização dos Protomártires do Brasil. Embora o Papa Francisco tenha dispensado a necessidade da comprovação do milagre. Outra graça testemunhada e que acompanhou o processo é da Madre Madalena de Figueiredo, fundadora da Congregação do Bom Conselho, no Rio de Janeiro. Em 12 de março de 2003, ela sofreu uma queda e teve lesões graves na perna esquerda, com corte de grande extensão (25 a 30 cm), agravada pelo fato de tratar-se de uma paciente já idosa e com problemas circulatórios nos membros inferiores. O tratamento médico foi previsto para três etapas, com cirurgia corretiva e/ou enxerto, o que duraria cerca de um ano. A religiosa pediu a intercessão dos Mártires e, após três dias, teve alta hospitalar com prescrição e orientação médica. O fato surpreendeu a equipe médica que acompanhou a paciente. Atualmente, é fácil encontrar, especialmente no território da Arquidiocese de Natal, pessoas que afirmam a devoção aos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Essa devoção tende a aumentar, após a canonização.
Fiéis devotos rendem louvores aos Mártires, em Uruaçu Outubro de 2017 | 29
Rivaldo Júnior
a ordem especial | Entrevista
“Os Mártires eram pessoas simples” Por Luiza Gualberto Responsável por apresentar ao Papa Francisco o pedido da canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, o Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, esteve em Natal, no mês de maio deste ano e, na ocasião, visitou os locais onde ocorreram os morticínios no ano
32 | Outubro de 2017
de 1645: Uruaçu, no município de São Gonçalo do Amarante e Cunhaú, em Canguaretama. Nestes locais, ele pode conhecer mais sobre a devoção aos Protomártires do Brasil. “Era gente muito simples. Era gente que vivia sua vida familiar, sua vida de trabalho, que ia aos domingos na Igreja. Pessoas simples que viveram o martírio”, enfatiza.
Entrevista | a ordem especial A Ordem: Como se deu sua relação com os Mártires de Cunhaú e Uruaçu? Dom Cláudio: Esta ligação com os Mártires aqui é bastante recente. Lá pelo sul, não tínhamos conhecimento dos mártires aqui do Rio Grande do Norte. Eu fui descobrindo aos poucos essa devoção. Durante o Congresso Eucarístico de Brasília, no ano de 2008, eu me lembrei de falar na homilia dos Mártires daqui. Na medida em que eu conhecia a história deles, ficava cada vez mais emocionado, porque, de fato, são os primeiros mártires, aqui dessa terra, evangelizados, missionários; e esses dois padres que estavam aqui, o Padre André e o Padre Ambrósio. Padre André que veio lá de São Vicente, em São Paulo, eu não sabia. Padre Ambrósio, português que estava aqui nessas regiões. Aqui nós tínhamos esse grupo tão grande e tão bonito, porque era gente muito simples. Era gente que vivia sua vida familiar, a sua vida de trabalho, que ia aos domingos na Igreja, que ensinavam seus filhos a fazer o sinal da cruz, a rezar uma Ave Maria. Pessoas simples que viveram o martírio. Naquele momento, Deus deu a eles essa grande graça, que ao mesmo tempo é uma grande graça para o nosso Brasil e para a nossa Igreja. Essa graça de poder dar a vida de ter a coragem de dar vida pela fé. A Ordem: O que o motivou a visitar os locais de devoção aos mártires potiguares? Dom Cláudio: Certamente poder visitar os locais de devoção aos Protomártires do Brasil foi uma das coisas que mais me atraiu para vir pra cá, principalmente pela importância, porque foi aqui que o sangue de mártires foi derramado e santificou o solo brasileiro, que morreram pela sua fé em Jesus Cristo. É muito comovente, quando se conhece a história, como isso, de fato, ocorreu aqui. A Ordem: Por que apresentar ao Papa Francisco o pedido de canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu? A Ordem: Eu tive a oportunidade de estar com ele, assim como em outras vezes e, na ocasião, me lembrei de falar ao papa sobre os Mártires do Rio Grande do Norte, principalmente porque ele tinha mostrado interesse em canonizar
alguns beatos antigos, que tinham ficado na história. Os Mártires de Cunhaú e Uruaçu são do século XVII, então não há muita coisa a acrescentar. Eu lembrei isso ao Papa, que tínhamos esses Protomártires e que tinham sido beatificados pelo Papa João Paulo II. O Papa imediatamente se entusiasmou e me pediu para falar com o prefeito da congregação da causa dos santos. O Espírito Santo conduziu todo este momento, assim como a oração de vocês do Rio Grande do Norte. A Ordem: Após a canonização, na sua visão, o que é que muda na fé do povo potiguar? Dom Cláudio: A gente espera e sabe que, certamente, a devoção aos Mártires vai se expandir, uma vez que eles foram canonizados. Eles são de toda a Igreja, porque a canonização apresenta esses santos ao mundo inteiro. Aqui e pelo Brasil afora, espero que essa devoção se difunda e que se tenha um maior conhecimento. Que eles possam ser um encorajamento na fé, porque na situação atual do mundo, muito secularizado, a fé exige muita convicção e o martírio é o maior testemunho de convicção. Ninguém dá a vida por aquilo que não está verdadeiramente convicto. Essa coragem, essa convicção dos Mártires, são um estímulo e um exemplo para nosso Brasil. Os Mártires de Cunhaú e Uruaçu rezarão por nós e pelo nosso país, porque eles são os primeiros e mais significativos Mártires que temos. A Ordem: A Igreja Católica é conhecida como uma Igreja de mártires? O que isso representa nos dias de hoje? Dom Cláudio: Representa justamente o grande testemunho da fé, porque o martírio é conhecido como o sinal mais forte de evangelização. Se você sabe que alguém morreu por uma causa, não há como não se questionar sobre o valor daquele gesto de doar a vida. A evangelização tem sua força muito grande no martírio e aquilo que se diz desde antigamente, no tempo dos primeiros cristãos, que o sangue de mártires é semente de novos cristãos. A Igreja cresce então por atração, porque atrai essa coragem, esse amor a Deus, o amor ao próximo, pelo qual a gente morre.
Outubro de 2017 | 33
a ordem especial | Processo
Da beatificação à canonização A pesquisa foi iniciada em 1988, a beatificação ocorreu no ano 2000, e a canonização, em 2017 Em 15 de maio de 1988, Dom Alair Vilar tomou posse como terceiro arcebispo da Arquidiocese de Natal. Na missa da posse, durante a homilia, ele disse que seu grande projeto frente à Arquidiocese seria resgatar a memória dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Logo no início do seu governo, instalou um tribunal especial e nomeou o Monsenhor Francisco de Assis Pereira
como postulador da causa. “Monsenhor Assis fez inúmeras pesquisas no Brasil, em Natal, em Recife e em Salvador, e, também, na Torre do Tombo, em Portugal, na Holanda e nos arquivos do Vaticano, buscando um conhecimento profundo sobre a história dos Mártires”, conta o Vigário Judicial da Arquidiocese, Padre Júlio César Souza Cavalcante. Arquivo Arquidiocese
Da esq.: Mons. Jaime Vieira, Mons. Agnello Barreto e Dom Heitor Sales, no encerramento da fase arquidiocesana do processo de beatificação, para ser enviado a Roma, em 1994 34 | Outubro de 2017
Processo | a ordem especial
L’Oservatore Romano
Mons. Assis Pereira com o Papa João Paulo II, na celebração da beatificação, em 5 de março de 2000 Segundo Padre Júlio, depois foi instalada uma comissão arquidiocesana, com representantes dos Institutos Históricos do Rio Grande do Norte e de Pernambuco, que deram a comprovação histórica dos fatos que narram o massacre, ocorrido em 1645. “A partir daí, começou a fase de interrogação prévia, com interrogatórios e sessões. O já então Arcebispo, Dom Heitor de Araújo Sales, instalou um tribunal, que funcionava no Centro Pastoral Pio X – subsolo da Catedral. Depois que foi encerrada essa fase de investigação, o Monsenhor Assis Pereira elaborou a positio, que é o relatório final, enviando-o
à Congregação da Causa dos Santos, em Roma”, explica o Vigário Judicial. Como eram mártires, não foi exigida a comprovação de um milagre para a beatificação. O Papa João Paulo II, ao visitar Natal, em outubro de 1991, por ocasião do encerramento do 11º Congresso Eucarístico Nacional, chamou os mártires de ‘testemunhas da fé, do Rio Grande do Norte’. A beatificação ocorreu em 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Santo Padre, João Paulo II, proclamou-os Bem Aventurados Mártires de Cunhaú e Uruaçu, os Protomártires do Brasil.
Outubro de 2017 | 35
L’Oservatore Romano
a ordem especial | Processo
Reunião de Dom Jaime com o Papa Francisco e o Cardeal Dom Cláudio Hummes, em setembro de 2016, para tratar da canonização Processo da canonização Logo após a beatificação, Dom Heitor Sales renomeou o Monsenhor Francisco de Assis Pereira para dar início ao processo de canonização dos Mártires. “Monsenhor Assis se dedicou intensamente a esse trabalho. Só que agora existia outro detalhe: era preciso a comprovação de um milagre por intercessão dos Mártires. Ele começou um trabalho de divulgação da devoção aos Mártires, para que as pessoas que alcançassem graças pudessem comunicá-las à Arquidiocese de Natal e, assim, ser buscado esse milagre,” relata Padre Júlio César. O processo se desenvolveu na Congregação da Causa dos Santos, em Roma. Monsenhor Assis faleceu em dezembro de 2011. O novo arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, nomeou o Cônego José Mário de Medeiros, como postulador para a causa dos Mártires. “Numa conversa com o Papa Francisco, o cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, falou para o Santo Padre sobre os nossos mártires, enfatizando que mesmo sendo eles do século XVII, ainda mantinha a tradição e a devoção, nesse recanto do Nordeste do Brasil. O Papa Francisco ficou profundamente interessado e enviou uma determinação à Congregação da Causa dos Santos de que desse prioridade ao processo dos Mártires brasileiros,” conta o Vigário Judicial da Arquidiocese de Natal. 36 | Outubro de 2017
Foi, então, nomeado o Padre Giovanni Califano, da Ordem dos Frades Menores, residente em Roma, para acompanhar o processo na Congregação para a Causa dos Santos. Em nível arquidiocesano, Dom Jaime nomeou o Padre Júlio César Souza Cavalcante para colaborar com o Padre Califano. “Neste período, de 2015 até agora, o Padre Califano foi nos orientando como deveríamos agir. Começamos a produzir material em vídeo e em fotos em busca dos milagres que haviam sido relatados. Três milagres foram fundamentais para essa história: de um fiel do Santuário dos Mártires, no bairro de Nazaré, em Natal; outro da Paróquia do Beato Mateus Moreira, em Cidade Verde, Parnamirim, e o outro era da madre fundadora da Congregação do Bom Conselho, no Rio de Janeiro. Todo esse material foi enviado a Roma e foi elaborada uma nova positio, que foi analisada e aprovada pela Congregação para a Causa dos Santos, especialmente pelo Colégio de Cardeais. O Papa Francisco dispensou a necessidade da comprovação do milagre. Foi, realmente, comprovado que os mártires eram homens e mulheres, jovens e meninos, que deram sua vida pelo Evangelho,” detalha Padre Júlio César. Em 20 de abril de 2017, o Papa Francisco presidiu o Consistório Ordinário Público, no Vaticano, e definiu a data da canonização dos Protomártires do Brasil: 15 de outubro deste ano, na Praça de São Pedro.
Nordeste | a ordem especial
Outubro de 2017 | 37
L’Osservatore Romano
a ordem especial | Galeria
Beatificação dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu Celebração presidida pelo Papa João Paulo II, dia 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano
L’Osservatore Romano
São João Paulo II
Momento em que Dom Heitor Sales, então Arcebispo de Natal, fez o pedido ao Santo Padre, para que em nome da Igreja , declarasse Bem Aventurados os Mártires de Cunhaú e Uruaçu 38 | Outubro de 2017
L’Osservatore Romano
L’Osservatore Romano
Galeria | a ordem especial
L’Osservatore Romano
de Natal, proclamou Irmã Lúcia Montenegro, da Arquidiocese teceu a beatificação a leitura, na missa durante a qual acon
L’Osservatore Romano
Após o Santo Padre proclamar Beatos, o painel com a imagem dos Mártires foi descerrado na fachada da Basílica Vaticana
Centenas de brasileiros participaram da celebração, na Praça de São Pedro
Praça de São Pedro, lotada de fiéis, na celebração de beatificação dos Protomártires do Brasil
Outubro de 2017 | 39
Fotos: L’Osservatore Romano
a ordem especial | Canonização
Brasil ganha os primeiros Santos Mártires Os Mártires de Cunhaú e Uruaçu foram canonizados pelo Papa Francisco dia 15 de outubro
Por Cacilda Medeiros Alegria e emoção. Dois sentimentos que contagiaram os fiéis católicos brasileiros, especialmente os norteriograndenses, por ocasião da canonização dos Protomártires do Brasil. E para os 40 | Outubro de 2017
que tiveram a oportunidade de ir a Roma, para a celebração, os sentimentos de alegria, expectativa, ansiedade e emoção foram ainda mais fortes. A cada encontro de potiguares na Praça de São Pedro, havia uma explosão de contentamento.
Canonização | a ordem especial
Preparação O Arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, chegou à capital italiana com alguns dias de antecedência à canonização, onde cumpriu uma agenda de compromissos. Um deles foi uma entrevista nos estúdios da Rádio Vaticano, acompanhado do Padre Júlio César Souza Cavalcante e do Padre Murilo Paiva, respectivamente vice-postulador e capelão dos Mártires. Na entrevista, o arcebispo afirmou que a canonização significa um momento de bênção para o povo brasileiro, ocasião de recomeço e de renovação do entusiasmo de ser cristãos. A conversa, conduzida pela jornalista Cristiane Muray, foi veiculada, posteriormente, na íntegra, na Rádio Rural de Natal. Na sexta-feira, 13, quem chegou à Praça de São Pedro teve a surpresa de já ver afixados na fachada da Basílica Vaticana os painéis com as imagens dos Mártires brasileiros, bem como dos três adolescentes mexicanos, conhecidos como Mártires de Tlaxcala; do espanhol Faustino Miguez, fundador do Instituto Calasâncio Filhas da Divina Pastoral, e do sacerdote franciscano italiano, Luca Antonio Falcone.
Fórmula da canonização, lida pelo Papa Francisco Outubro de 2017 | 41
a ordem especial | Canonização
Fotos: L’Osservatore Romano
Na manhã deste mesmo dia, aconteceu uma coletiva, na sala de imprensa da Santa Sé, sobre a celebração de canonização. O Arcebispo, Dom Jaime; o vice-postulador, Padre Júlio César, e o Padre Flávio Medeiros, do clero da Arquidiocese de Natal, residente em Roma e que atua na equipe de cerimoniários da Basílica Vaticana, atenderam a jornalistas do Brasil, Itália, França e Espanha para falar sobre os Mártires de Cunhaú e Uruaçu. No sábado, 14, ao meio dia, Dom Jaime presidiu a celebração eucarística, no altar da cátedra, na Basílica Vaticana. Os cantos da celebração foram entoados pela Camerata de Vozes, ligada à Fundação José Augusto, do governo do Estado. A camerata, cujo regente é o Monsenhor Pedro Ferreira, da Arquidiocese de Natal, também fez uma apresentação, no domingo, na Praça de São Pedro, antes do início da celebração de canonização. Outro momento de preparação foi a oração das vésperas, no final da tarde do sábado, 14, na capela de Nossa Senhora Aparecida, no
Camerata de Vozes, na Basílica Vaticana, durante missa, no dia 14 Outubro de 2017 de 2017 42 | Abril
Colégio Pio Brasileiro, em Roma, e que contou com a participação de autoridades civis, bispos, padres, religiosos e dezenas de fiéis leigos brasileiros, especialmente potiguares. Entre as autoridades, a advogada geral da União, Grace Medonça. A celebração foi dirigida pelo Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira, e os cantos animados pela Camerata de Vozes. Dom Edilson Nobre, atual bispo da Diocese de Oeiras (PI), participou do momento oracional, e afirmou a alegria de estar em Roma para participar da celebração, na qual os Protomártires do Brasil foram elevados aos altares de todo o mundo como santos. “Como potiguar, agradeço muito a Deus pelo sentimento de alegria e pela oportunidade que Ele me proporcionou de participar desse evento. Eu estava como dirigente espiritual de uma peregrinação, organizada desde o ano passado, e pela Providência Divina está acontecendo dentro deste calendário, vivido em Roma, nestes dias”, disse Dom Edilson.
Canonização | a ordem especial
Fachada da Basílica Vaticana Celebração Uma manhã de domingo, com céu limpo e sol forte. Aos poucos, a Praça de São Pedro, no Vaticano, foi ficando repleta de fiéis de várias partes do mundo. Foram cerca de 35 mil pessoas que participaram da celebração presidida pelo Papa Francisco, às 10 horas, no dia 15 de outubro de 2017. E entre essa multidão, mais de 400 pessoas potiguares, que viajaram até Roma, para participar da celebração de canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. No início do ritual litúrgico, o prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Cardeal Ângelo Amato, fez o pedido ao Santo Padre para que os 35 beatos (30 brasileiros, três mexicanos, um italiano e um espanhol) fossem inscritos no livro dos Santos. Logo após, foi feita a leitura de suas biografias e a recitação da ladainha dos santos. A fórmula de canonização foi lida pelo Papa: “Em honra da Santíssima Trindade, para exaltação da fé católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, depois de termos longamente refletido, implorado várias vezes o auxílio divino e ouvido o parecer de muitos irmãos nossos no episco-
pado, declaramos e definimos como Santos os Beatos: André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira e seus 27 companheiros; Cristóvão, Antônio e João; Faustino Miguez; Ângelo D’Acri e inscrevemo-los no Catálogo dos Santos, estabelecendo que, em toda a Igreja, sejam devotamente honrados entre os Santos. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Durante a celebração, que foi concluída ao meio dia, com a tradicional oração do Angelus, era visível a emoção estampada no rosto dos norteriograndenses que se encontravam na Praça de São Pedro. “É um momento único vivido em nossa Arquidiocese. Estou muito feliz por ter tido o privilégio de estar na missa na qual o Papa confirmou o testemunho daqueles que deram seu sangue pela fé católica”, disse Flávio Guedes, funcionário da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, na Cidade Alta, em Natal. “Que a graça dos Santos Mártires renove a nossa vida, nos traga esperança e que sejamos corresponsáveis pela vida uns dos outros. Lembremo-nos de que os Mártires, agora, são santos e intercedem a Deus por todos nós brasileiros”, comentou o Arcebispo de Natal, em frente à Basílica Vaticana, logo após a celebração. Outubro Abril de 2017 | 43
Fotos: L’Osservatore Romano
a ordem especial | Canonização
Cacilda Medeiros
Dom Jaime com o Papa Francisco, por ocasião da audiência geral, dia 18
Grupo de potiguares,na Praça de São Pedro
44 | Outubro de 2017
Canonização | a ordem especial
Ação de graças Na segunda-feira, 16, às 11 horas, no altar de cátedra, na Basílica de São Pedro, foi celebrada missa em ação de graças pela canonização, presidida pelo Cardeal Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira; o arcebispo emérito, Dom Heitor Sales; outros bispos brasileiros, vários sacerdotes, diáconos e dezenas de fiéis leigos, participaram da celebração eucarística. “O louvor a Deus manifestado na santa missa de canonização continua a ecoar nesta Basílica tão amada, no Rio Grande do Norte e em todo o Brasil. Em nome da Igreja, no Brasil, manifestamos nossa sincera gratidão ao Papa Francisco, assim como a todos aqueles que se empenharam no processo de canonização dos Santos Mártires”, destacou o cardeal, durante a homilia. No final da celebração, Dom Jaime fez uma saudação, durante a qual evocou a lembrança de três pessoas, já falecidas, e que tiveram papel importante para a canonização. “Foram três grandes baluartes da causa dos Mártires. Dom Eugênio Sales, incentivador e batalhador incansável até os últimos dias de sua vida para que os Mártires fossem elevados aos altares. Dom Alair Vilar, terceiro arcebispo de Natal, impulsionador já desde a sua homilia de posse para que fosse realizada a causa de Beatificação. E o Monsenhor Francisco de As-
sis Pereira, que não mediu esforços, não limitou o tempo e nem o espaço, andou pelo mundo – Holanda, Portugal, Vaticano, Brasil – pesquisando e escrevendo a história dos Mártires”, destacou. Na ocasião, Dom Jaime denominou o Cardeal Dom Cláudio Hummes de ‘Padrinho dos Mártires’. “Dom Cláudio levou o assunto ao Papa Francisco, apresentou a história dos Mártires ao Romano Pontífice, buscou estar sempre acompanhando o processo na Congregação para a Causa dos Santos.” Ao Papa Francisco, Dom Jaime manifestou a gratidão pela firme decisão de canonizar os primeiros Santos Mártires do Brasil. “Obrigado aos nossos Mártires. Tudo isso hoje acontece porque, em 1645, eles tiveram coragem de dizer sim à fé, a Cristo e à Igreja”, concluiu o Arcebispo. Audiência geral O último evento relacionado à programação da canonização, em Roma, foi a participação do Arcebispo, Dom Jaime, algumas autoridades e peregrinos, na audiência geral do Papa Francisco, realizada na manhã da quarta-feira, 18 de outubro, na Praça de São Pedro. No início da audiência, o Papa saudou especialmente os grupos vindos do Brasil, em particular os fiéis da Arquidiocese de Natal, acompanhados do Arcebispo, Dom Jaime. O Santo Padre convidou a todos a permanecer fiéis a Cristo Jesus, como os Protomártires do Brasil.
Missa em ação de graças, no dia 16, na Basílica Vaticana
Outubro de 2017 | 45
a ordem especial | Encontro com Papas
46 | Abril de 2017
Encontro com Papas | a ordem especial
Outubro de 2017 | 47
a ordem especial | Monumento
Padre Antônio Murilo de Paiva Capelão dos Mártires
Monumento dos Mártires, em Uruaçu
48 | Outubro de 2017
Cacilda Medeiros
Monumento | a ordem especial
Da devoção ao Santuário O Papa Francisco anunciou para os quatro cantos do mundo: “dia 15 de outubro é a data da festa da canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu”. Transborda de alegria o povo potiguar. Transborda de alegria o povo brasileiro. E quem disse que os episódios de Cunhaú e Uruaçu não tiveram motivação religiosa e, sim, política? Que pena que fazem uma leitura da história de forma fragmentária. Onde foi que uma cena religiosa não foi também política? Muitas cenas políticas foram por demais religiosas. Quer um puro exemplo? A morte de Jesus. A morte do salvador da humanidade foi exclusivamente religiosa? Quem disse? Do jeito que foi pela via religiosa, foi muito mais pela via política. Sempre o pano de fundo do martírio é político, quando não explícito. Em Cunhaú e Uruaçu, a principal vertente foi religiosa: os que brigavam na Holanda, política e religiosamente, buscavam um lugar onde fosse somente calvinista. Só que vieram para um país em descobrimento, que não havia calvinistas até então. Para constituir um país apenas calvinista teriam dois caminhos: converter quem era católico ou matá-los. Eles optaram pela segunda via quando não conseguiam a primeira. O poder político e econômico estava em segundo lugar, mesmo sendo o primeiro e o segundo, mesmo sendo o segundo, teria que ser o primeiro. Massacrar pela força para dominar, quem já estava dominado. Mártires da fé Mártires. Nós cantamos de forma redundante: Mártires da fé. E o poeta Monsenhor Francisco de Assis Pereira, fez a toponímia: “Filhos do Rio Grande!” Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu: rogai por nós! Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu: livrai-nos da fome, da sede, da peste! Para abrigar tamanha devoção é preciso dotar os lugares santos de uma infraestrutura capaz de acolher e bem os devotos que acorrem a esses lugares. É bem verdade que somos um Estado pobre economicamente e sem muita expressão política no cenário nacional, até por isso, Deus escolheu esse pedaço de Brasil
Outubro de 2017 | 49
a ordem especial | Monumento
para ser a terra dos mártires, e como bem proclamou São João Paulo II, Protomártires do Brasil, por ocasião da celebração da beatificação, acontecida na Praça de São Pedro, em 5 de março de 2000. A Igreja de Natal não ficou parada no tempo e no espaço; buscou muitos caminhos e parcerias para efetivar acomodação a essa devoção, à época, tendo como Arcebispo Dom Heitor de Araújo Sales; como postulador da causa dos Mártires, o saudoso Mons. Francisco de Assis Pereira, e o próprio capelão Padre Antônio Murilo. A parceria com o Governo do Estado, tendo a frente o governador Garibaldi Alves Filho e os proprietários da Fazenda Carnaubinha, surtiu muitos frutos. Daí aconteceu a doação do terreno reconhecido como o verdadeiro local do morticínio de Uruaçu e, em seguida, a construção do Monumento aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, neste dito local. A bem da verdade, é bom não esquecer ninguém nessa grande tessitura. Lembro-me que em uma reunião do Vicariato Urbano, cujo Vigário Episcopal era o Monsenhor Lucas Batista Neto, na Paróquia de São Sebastião, no Alecrim, solicitamos que fossem dadas sugestões de como deveria ser essa construção. O Padre José de Freitas Campos sugeriu que fosse uma espécie de tenda para recordar a peregrinação do povo eleito em busca da terra prometida. Pessoalmente, levei a sugestão ao arquiteto Francisco Soares Júnior, que colocou no papel e, em seguida, construída a concha litúrgica de Uruaçu. A sua inauguração era prevista para a páscoa de 2000, quando haveria a grande celebração de ação de graças pela beatificação dos nossos Mártires, o que não ocorreu e, por isso, esta celebração aconteceu no pátio da Capela de Nossa Senhora das Candeias, no engenho Cunhaú, em Canguaretama. Uma grande multidão - mais de 50 mil pessoas ali presentes cantavam e bem diziam a Deus pelo feito extraordinário da beatificação. A emoção era tanta que os devotos olhavam uns para outros e não acreditavam no que estavam vivenciando. Nossos antepassados agora são considerados Mártires da fé.
50 | Outubro de 2017
Arquivo Arquidiocese
Comissão avaliando o projeto arquitetônico do Monumento A inauguração do Monumento aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu somente seria no dia 5 de dezembro de 2000. Outra tarde memorável – que multidão! Com certeza, mais de 80 mil pessoas se aglomeravam para celebrar um passo decisivo na história dessa devoção. A benção foi oficiada pelo então Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales, seguida da celebração eucarística. Aquela tarde nunca mais saiu da minha memória. Mais de 50 bispos e arcebispos, mais de duzentos padres, diáconos e a multidão de fiéis devotos. Era um sonho que se realizava e os olhos de Dom Heitor, de Mons. Assis e por que não dizer, os meus, brilhavam. Depois de tanto trabalho, chegávamos ao tão sonhado dia da inauguração da primeira grande obra de estrutura de concreto armado dedicada aos Beatos Mártires do Rio Grande. Daí em diante, a obra somente aumentava com tantos devotos para rezar, agradecer, pedir a intercessão dos Beatos Mártires. Agora o que bom ficou melhor – a canonização. O povo potiguar prepara uma grande festa para celebrar esse feito extraordinário para nossa fé e para nossa Igreja. Minhas felicitações especiais ao nosso querido Arcebispo Dom Jaime Vieira Rocha que recebe em suas mãos, essa tamanha graça. Parabéns, Dom Jaime!
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 51
Karol Duarte
a ordem especial | Homenagem
16 de julho:
uma escola cinquentenária Na cidade de Canguaretama (RN), um estabelecimento escolar recebe o nome de Escola Municipal 16 de Julho, em homenagem aos Mártires, fazendo menção à data do massacre ocorrido naquele município: 16 de julho de 1645. A escola municipal de ensino fundamental foi fundada em 10 de fevereiro de 1967. De início, foi filiada à Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC), instituição filantrópica sem fins lucrativos. Na época, o estabelecimento surgiu diante de uma necessidade na cidade de ter um ensino mais elevado, uma vez que só havia escolas da primeira a quarta série. As pessoas que tinham condições de prosseguir com os estudos, preci-
52 | Outubro de 2017
savam se deslocar para a capital. A iniciativa de fundar a escola partiu de um grupo de voluntários canguaretamenses aliado a pessoas que, na época, prestavam serviços à comunidade. Quando fundada, recebeu o nome de Colégio Imaculada Conceição, em homenagem à padroeira do município. Mas, como havia outro educandário com o mesmo nome, na cidade, em 1969, passou a se chamar Ginásio 16 de Julho. Atualmente, a Escola Municipal 16 de Julho conta com, aproximadamente, 245 alunos, do primeiro ao quinto ano, do ensino fundamental, 12 funcionários, 15 professores e tem como diretora Neusa Clarice da Conceição Delgado Vieira.
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 53
a ordem especial | Homenagem
Escola com nome de Mártir A Escola Ambulatório Matias Moreira foi criada em 16 de dezembro de 1963 e tem sede na rua São Sebastião, s/n, na Vila Dom Eugênio Sales, no bairro de Dix-Sept Rosado, zona oeste de Natal. O estabelecimento foi criado para ministrar instrução primária às crianças e jovens do bairro, prestando-lhes também assistência médica e dentária. Desde a origem, a Escola é vinculada ao Setor Social da Arquidiocese de Natal. Seus primeiros dirigentes foram: Mons. Alair Vilar Fernandes de Melo – Vigário Geral; Pe. João Begon, Vigário da Paróquia de São Sebastião; Cleomar de Araújo Sales – representante do SAAS; Teresinha Bezerra Neto - Diretora; Otomar Lopes Cardoso – Secretário, e Dívia Divan Bezerra – Tesoureira. O estabelecimento foi estadualizado na década de 90 e passou a se chamar Escola Estadual Ambulatório Matias Moreira. Para isso, o
Rivaldo Júnior
Escola Ambulatório Matias Moreira prédio foi cedido em comodato à Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte. Contudo, a pessoa jurídica original não foi extinta e ainda existe nos dias atuais. *Antes da beatificação, havia uma ambiguidade em relação ao nome do Mártir Matias ou Mateus Moreira. Por ocasião da beatificação, no ano 2000, foi oficializado o nome Mateus Moreira.
Vila tem capela dedicada a Mateus Moreira Há cerca de 15 anos, a comunidade da Vila de Ponta Negra, em Natal, começou a construir um salão pastoral, que recebeu o nome de Mateus Moreira. O terreno foi doado por Francisco Anastácio do Nascimento. A aposentada Francisca Vicente de Lima, residente na comunidade, conta que ajudou nas campanhas para angariar fundos para a construção do salão, que fica na Rua Francisco Simplício. “Desde o início, o salão servia para reuniões, catequese e para missas”, diz. Em 2005, a Vila de Ponta Negra passou a ser Área Pastoral de São João Batista, transformada, posteriormente, em paróquia. O responsável pela Área Pastoral e, depois, Paróquia, Padre João Farias, aos poucos, foi transformando o salão pastoral em Capela Mateus Moreira. Todos os sábados, às 17h, e aos domingos, às 54 | Outubro de 2017
Rivaldo Júnior
Capela de Mateus Moreira, na Vila de Ponta Negra 8h e às 17 horas, há celebração eucarística. Além das missas, funcionam turmas de catequese nos sábados, às 15h, e segundas, às 19h; nas quintas, 17h, há adoração ao Santíssimo Sacramento, e, nas sextas-feiras, às 19h, formação litúrgica.
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 55
a ordem especial | Artigo
Auricéia Antunes de Lima Jornalista
Reflexões sobre os massacres de Cunhaú e Uruaçu “(...) Sede santos , porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo.” (Lev 19,2; ver, também,Lev 11,44.) Admirável história multissecular de santidade, apresentando exemplos de caridade, fé cristã e piedade, ocorreu em 1645, no Rio Grande do Norte, quando fiéis católicos foram martirizados no Engenho de Cunhaú (no atual município de Canguaretama) e no local denominado de Uruaçu (no atual município de São Gonçalo do Amarante), lugares ricos em história. Essas veneráveis vítimas viveram radicalmente o Evangelho, ao darem suas vidas por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Sua Igreja. Naquele tempo, o Nordeste do Brasil havia sido invadido por holandeses (que já tinham ocupado a Bahia, de 1624 a 1625), e aí permaneceram de 1630 a 1654, por longos 24 anos. Eles invadiram o Rio Grande do Norte, em dezembro de 1633, e, em, poucos dias, tomaram a Fortaleza dos Reis Magos. Os invasores eram protestantes calvinistas (nome devido a João Calvino, fundador desse ramo do protestantismo) e trouxeram pastores para difundir sua religião entre os habitantes: portugueses, índios, africanos etc e respectivos descendentes. Os fatos havidos manifestam a intransigência religiosa dos intrusos e consequentes tragédias.
56 | Outubro de 2017
Os portugueses professavam (e professam) a fé católica e já haviam catequizado muitos nativos. Era a época da Evangelização Católica do Novo Mundo, quando sobressaíram as figuras de grandes e dedicados missionários a anunciar a Boa Nova da Salvação. Na verdade, pessoas e povos são chamados ao Batismo e a uma vida de santidade, a uma vida no Senhor, para que Deus seja tudo em todos e, assim, haja uma vida de “íntima união com Deus e de unidade de todo o gênero humano”, no dizer do Papa São João Paulo II. Em 2017, já no século XXI, 372 anos após os massacres de Cunhaú e Uruaçu, permanece, e para sempre, o digno exemplo dos sacrificados, que escreveram uma página luminosa na História e no livro da vida. Na realidade, os fatos ocorridos em 1645, a 16 de julho, no Engenho de Cunhaú - em sua Capela de Nossa Senhora das Candeias e imediações -, e, a 3 de outubro, em Uruaçu, às margens do Rio Potengi, expressam diferentes religiões, tradições e culturas em geral. De qualquer forma, o testemunho de fé dos que ali foram martirizados permanece atual. Também em nossos dias, a intolerância e o fanatismo têm levado ao assassinato de numerosos cristãos´.
Artigo | a ordem especial
Por isso, julgamos ser legítimo dizer que, nesse mundo de vertiginosas mudanças, é imprescindível agir com determinação e rigor para coibir as atrocidades e flagelos impostos a milhões de crianças que morrem de inanição, aos imigrantes expulsos de seu chão devido às atrocidades das guerras. Com efeito, é preciso alargar as nossas vistas para mais longe, realizar esforços na edificação de uma sociedade mais humana, justa e fraterna. Que as mudanças da pós modernidade não enfraqueçam os valores familiares fundamentais. É essencial abominar a exclusão social e estar atento aos mártires de hoje, vítimas de diversas formas de violência, inclusive, a renúncia de sua própria identidade. Aliás, também têm severas contas a prestar a Deus os autores diretos e indiretos do verdadeiro genocídio que vem sendo feito de milhares de crianças que ainda não nasceram, e que não somente não podem fugir como não podem sequer gritar por socorro. O sagrado direito à vida é, não somente um princípio da ética cristã, mas, antes disso, é um princípio da ética natural e do direito natural e que, portanto, deve ser respeitado por pessoas pertencentes a qualquer religião, por pessoas sem religião e, mesmo, por ateus. Pela ética e direito naturais é sempre gravissimamente imoral matar diretamente o inocente, seja ele nascido ou ainda não nascido, adulto ou criança, velho ou jovem, sadio ou doente (seja a doença curável ou incurável, dolorosa ou não). Conquanto os dois massacres acima referidos tenham ocorrido no século XVII, o modelo de santidade exemplificado pelos Bem-Aventurados Pe. André de Soveral, Domingos Carvalho, Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira, e 26 companheiros é sempre atual. Ou seja, continuam vivos o sentido de justiça e o zelo pela fé cristã, refletindo ainda o amor incondicional a Deus, vivido por todas as Vítimas dos mencionados morticínios.
“
Exemplos eloquentes de santidade, os Mártires de Cunhaú e Uruaçu preferiram morrer a negar a fé católica.” Exemplos eloquentes de santidade, os Mártires de Cunhaú e Uruaçu preferiram morrer a negar a fé católica. Séculos depois, no tempo de Deus, seu sacrifício tem eminente reconhecimento da Santa Igreja. Após minucioso estudo, a Sagrada Congregação das Causas dos Santos, da Santa Sé, baseada em sólidas razões, concluiu ter havido, no caso deles, “verdadeiro martírio pela causa da fé”, conforme diz Nota de 25 de junho de 1998, assinada por Mons. Agnelo Dantas Barretto, então Vigário Geral da Arquidiocese de Natal. O Postulador da Causa de Canonização desses Mártires, da Arquidiocese de Natal, foi o Mons. Dr. Francisco de Assis Pereira. Nessa trajetória, a 21 de dezembro de 1998, o Papa São João Paulo II assinou o Decreto de Beatificação. A 5 de março de 2000, em um histórico domingo, o mesmo pontífice beatificou os mencionados Mártires, em Missa Solene, na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano. Finalmente, no domingo 15 de outubro de 2017, o Papa Francisco os canonizou. Podem eles agora ser venerados como Santos nos altares dos templos católicos no mundo inteiro.
Outubro de 2017 | 57
a ordem especial | Artigo
58 | Outubro de 2017
Assunto | a ordem especial
Outubro de 2017 | 59
a ordem especial | Assunto
60 | Outubro de 2017