Natal por canindé soares net

Page 1

Natal Por CanindĂŠ Soares


Natal Por Canindé Soares III edição - 2013


Agradecimento Agradeço e ofereço esse livro primeiramente a Deus, à minha mãe Terezinha Soares, ao meu pai Valdemar Pinheiro, às minhas Irmãs Valéria e Marluce, aos meus filhos Renato e Thiago e aos meus netos Larissa e João Henrique. Agradecimento especial à minha esposa Deborah Kaline


4

C a n i n d é

S o a r e s


Fotografia / photograph Canindé Soares Design Terceirize Editora Crônicas / Chronics Diógenes da Cunha Lima Vicente Serejo Câmara Cascudo Pedrinho Mendes Cassiano Arruda Câmara Manoel Onofre Júnior Ana Maria Cascudo Flávio Resende Elias Medeiros


Amigos parceiros Para realização dos sonhos, primeiro temos que sonhar, acreditar, trabalhar e fazer amigos. Meu agradecimento a todos que viabilizaram este projeto.

6

Abdo Farret Adilene Brandão Adrovando Claro Aida Peres Aila Cortez Airene José Amaral de Paiva Albert Dickson Alberto Cícero Aldair Dantas Alderi Dantas Alessandro Saldanha Alexandre Santana Alex Gurgel Alexandre Mulatinho Alexandre Santana Alinne Boa Ventura Aluísio Alves de Andrade Alvares Otero Amaury Júnior Ana Almeida Ana Clara Lopes Leão Ana Maria Bezerra Ana Morena Tavares Andrea M. Aladim de Araujo Anderson Christian André Arruda André Freire Lamartine André Othon André Rockert Angélica Grafith

C a n i n d é

S o a r e s

Anna Fernandêz Antonio Augusto Medeiros Antônio Leite Antônio Roberto Rocha Arilza Soares Arturo Arruda Assis Oliveira Augusto Maranhão Augusto Ratis Augusta Tavares de Lima Aurino Galvão Arthur Madruga M. Florêncio Bertone Marinho Bira Carratur Bruno Giovanni Bruno Oliveira Bruno Ricardo de Souza Lima Caio Augusto Canindé Alves Camila Furukava Camilo Sobrinho Cayla Santos Rodrigues Carlinhos Grafith Carlos Alberto Marinho Carlos Alberto Vieira Carlos Eduardo Alves Carlos Eufrásio Carlos Magno Rodrigues das Chagas Carlos Marinho Carlos Roberto Pinto Lopes

Carlos Volu Castelo Casado Célia Albuquerque Callado Celso Amâncio Cezar Alves Cibele Silveira Cid Bezerra Neto Claudia Maria Case de Brito Cláudia Santa Rosa Cláudio Menezes Cláudio Porpino Cleber Ribeiro da Silva Cleudia Bezerra Pacheco Clotilde Tavares Conceição Almeia Cristina Lira Daliana Janine P. Dantas de Araújo Daniele Xavier Daniel Motta Danyel Azevedo Decca Bolonha Dickson M. Fonsêca Dickson Nasser Júnior Diego Breno Douglas Brandão Edilson de Oliveira Junior Edivânio Câmara Edmundo Eugênio Dantas Filho Eduardo Torres Elson de Almeida Fernandes

Emídia Felipe Erick Gurgel Eri Duarte Evilanildes Fernandes Costa Ezequiel Ferreira Elias Medeiros Fátima Andrade Felipe Maia Fernanda Costa Bezerra Fernando Antônio Fernando Bezerril Fernando Luiz Tavares Fernando Mineiro Fernando Moura Flávia Urbano Flávio Rezende Flávio Sales Francisca Lopes da Silva Francisco Alves Francisco Canindé de Araújo Fred Alecrim Fulvio Saulo Mafaldo Garibaldi Alves Filho Gesane Borges Marinho Dantas George Câmara George Soares Geovanne M Pinheiro Geraldo Alves Filho Gileude Peixoto Gilneide Peixoto

Gleydson Batalha Gustavo Farache Gustavo Rocha Gutemberg Costa Habib Chalita Haroldo Azevedo Filho Haroldo Fernandes Ribeiro Dantas Haroldo Ferreira da Mota Heitor Gregório Hélio Moraes Heloisa Guimarães Henrique Eduardo Alves Herivelto Moreira Hermano Morais Heverton Santos Freitas Hudson Helder Silva Hugo Manso Humberto Azevedo Humberto Lopes Ismaelson Rêgo Ivanez Terceiro Jabes Soares Lima Jacó Jácome Jacson Damasceno Jaécio Carlos Jailson Fernandes Jaime Seguier Janaina Mulatinho Jánio Vidal Janilson S. C. Damasceno


Janisera Monica Butka Jean Fernandes Jean Rocha Jean Valério Jerônimo Pereira Gurgel João Bastos João Batista Freitas João Ferreira João Marcos Costa João Maria Medeiros João Maria Vilela Cid Joãozinho Batista Joãozinho Grafith Joaquim Jr. Jonatas Barbalho Jorge Rezende José Agripino Maia José Aldenir José Carlos Martins Nery José Marcelo Costa José Vanderley Soares Silva José Zilmar Jotha Júnior Jovinho Júlia Arruda Júlio Protásio Juliska Azevedo Júnior Grafith Júnior Barreto Kaká Grafith Kaleb Freire Kallyna Kelly A. M. Rocha de Alencar

Kamilo Marinho Kelps Lima Kennedy Diniz Larissa Borges Laurita Arruda Lavoisier Maia Sobrinho Leila Tinoco da Cunha Lima Almeida Leonardo Rocha Lígia Rodrigues Luana Vanessa Santana Campelo Luciana de Lima Andrade Figueredo Luciano Flôr Luciano Oliveira de Faria Lúcia Santos Lucildo Hildegardes Câmara Luís Benício Luiz Almir David Luiz Magna Letícia A. Lopes Câmara Maira Klingenfuss Beda Manoel Augusto do Nascimento Filho Manoel Onofre Neto Marcelo Alecrim Marcelo Antunes Marcel Vital Márcia Maia Marciano Furukava Márcio Furukava Marcio Guedes Márcio Sá Marcondi de Oliveira Lima Marcos Antonio Fernandes da Silva

Marcus Baby Maria da Penha de Oliveira Carvalho Maria de Fátima Borges Marinho Maria Rafaela Marinho Maria Rivania de Lima Cabral Marília Borges R. de Melo Marina Elali Melissa Furtado Midiã Machado da Silva Augusto Miguel Josino Moacir Jr Moises Lustosa Neiwaldo Guedes Nelly Carlos Maia Nelson Freire Nelter Queiroz Nenel Paiva Ney Douglas Ney Lopes Jr. Nicolau Frederico de Souza Nilson Brasil Leite Nilza Carvalho Nivaldon Cleber de Lima Ocimar Damásio Odemar Neto Orismar de Almeida Octávio Santiago Neto Paulo Araújo Paulo Braz Paulo Cesar D. Fernandes Paulo Oliveira Pedro Cavalcanti

Pedro Henrique de Carvalho Pedro Lins Roberto Sérgio Ribeiro Linhares Rafael Motta Rafaela Sales Raniére Castro de Andrade Raphael Campos Furtado Renata Silveira Renato Gomes Netto René Abe Ricardo Couto e Silva Ricardo Motta Ricardo Rosado Ridalvo Felipe Rildo Guerra Rivanna Lucena Robinson Faria Robson Carvalho Rodrigo Loureiro Rodrigo Klyngerr Rogério Marinho Rô Medeiros Rominna Jácome Rosalba Ciarlini Rosely Araújo Ryana Suhr Sabrina Flôr Samira Khelili Sandra Elali Sedna Guerra Silvestre Furtado Simone Farret

Simone Queiroz Simone Silva Socorro Pontes Suelen Lobato Suerda Medeiros Suynne Lettier Damásio Taciana Chiquetti Tarcísio Gurgel Tarcisio Trajano Junior Tertuliano Pinheiro Thaisa Galvão Thaisa Mendonça Toinho Silveira Tomba Farias Ubaldo Fernandes Vagner Araujo Valdeci de Oliveira Lima Valeria Cavalcanti Vidalvo Dadá Costa Vivi Viana Waldenice Cardoso Matoso Walter Alves Wanderley Adams Walmir Queiroz Walter Leite Washington Rodrigues Welington Luís de Oliveira Wellington Fugisse Wellington Lima Wellington Paim Wilma Maria de Faria Yure Richard

C a n i n d é

S o a r e s

7


8


Empresas parceiras ABIH-RN

Faz Propaganda

A Carta Comunicação

Formule - Farmácia de Manipulação

Adega São Cristovão

Jiqui Country Club

Aquário Natal

Joaquim Tur

Associação dos Funcionários Aposentados do Banco do

Jornal O Público

Brasil - AFABB-RN

Maxmeio

Asssociação Potiguar de Fotografia - APHOTO

Mesa Anexa

Art & C

Millennium Locações

Banda Grafith

Mixmídia

Blog do BG

Naldo Fotografias

Braz Impressões

Mulheres no FDS

Carratu Publicidade

Ocimar Damásio - Feira e Negócios

Casa Talento - Centro Suzuki Natal

Procuradoria de Imóveis

Clínica Pedro Cavalcanti

Restaurante Travessia

Cricricell

Revista Deguste

ECO Propaganda

SOS Parachoques Serviços Automotivos

Espacial Eventos

Versailles

Escoteiros do RN

C a n i n d é

S o a r e s

9



Patrocinadores 2º Ofício de Notas Capuche NET Potiguar Turismo Sistema FAERN/SENAR Ster Bom Governo do RN Assembléia Legislativa do RN Câmara Municipal de Natal Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Natal Secretaria de Comunicação da Prefeitura do Natal


12

C a n i n d é

S o a r e s


13

C a n i n d é

S o a r e s


Abrindo as portas Natal nasceu cidade. Nunca foi arrabalde, vila, aglomeração. Nasceu no dia do nascimento de Cristo, daí o seu nome. Tem uma história simples, porque foi mais uma designação política ao seu nascimento do que uma necessidade topográfica. Assim, tem uma história simples e emocional. A sua paisagem garante a imutabilidade do afeto. De um lado, o rio perene; do outro, a cinta dos morros verdes que até 1915 eram completamente desertos. Na minha meninice, Natal era uma cidade de 30 mil habitantes, iluminada por 90 candeeiros de querosene, sem transportes, dividida em dois grandes bairros: a Cidade Alta e a Cidade Baixa, ou seja, a Cidade Alta e a Ribeira. Os habitantes da Cidade Alta eram os xarias, os moradores da Cidade Baixa eram canguleiros. Eu sou canguleiro. Como ainda pertenço ao século XIX, sou testemunha do desenvolvimento muito rápido da cidade, especialmente depois de 1930, quando foi chamada de “Cais da Europa”. Natal era o ponto mais perto do continente europeu, daí a necessidade militar de defendê-la. Povoou-se de soldados, marinheiros e aviadores. Nessa época estavam por aqui Gustavo Cordeiro de Faria, no Exército; Ari Parreiras, na Marinha; Eduardo Gomes, na Aeronáutica. Mas em 1911 já tinha luz elétrica, telefone, bondes elétricos e oito bondes puxados a burro. A cidade foi se multiplicando com duas escolas, três, hoje, uma Uni-

C a n i n d é

S o a r e s

versidade com 50 cursos povoam-na de uma euforia de conhecimentos. Logo em Lagoa Nova, onde eu caçava nambus com Flaubert, quando não havia nada naquela zona. Natal. Chamo-a Noiva do Sol, cidade sem tempestades. Cidade clara e simpática. Monteiro Lobato me dizia: “Sua felicidade é ter nascido numa cidade pequena, que cresceu com você, e daí o seu amor”. Quem nasce numa cidade grande, como o Rio de Janeiro, Paris, Londres, Berlim, não pode ter uma recordação como quem tem numa cidade pequena. Os lugares onde dancei, hoje são arranha-céus. O lugar mais alto de Natal, o ponto mais alto no meu tempo, era a Torre da Matriz, onde eu via o alvissareiro com as bandeirinhas azul e vermelha avisando a vinda dos navios do Norte e do Sul. Natal, Noivado Sol, minha cidade querida, deu-me o que sempre esperei: a tranquilidade do espírito, a paz do coração, o amor pelas coisas humildes do mundo, no meio das quais sempre vivi. Por amor à cidade, eu nada quis ser. Nem mesmo senador, como Getúlio Vargas me queria fazer. Nem Reitor da Universidade de Brasília, como Juscelino Kubistchek pensava. Fiquei em Natal, só, pobre e feliz. Sou o que Diógenes da Cunha Lima me chamou: um brasileiro feliz. Luís da Câmara Cascudo


15

C a n i n d é

S o a r e s


Linda Baby Sempre que estiveste por aqui Não observaste o nosso ser Nem aproveitaste o lindo olhar ao céu Venha pois não dá prá dizer tudo no papel Curte-se aqui ao natural A natureza espalha o nosso chão Estou cantando a terra que é o meu viver E acontece que eu estou cansado de dizer

16

Que aqui não tem avenida São João Nem o mesmo padrão que se tem por aí Coisas que não tem em todo o canto não se deve exigir Isso é Natal, ninguém se dá muito mal Como dizem pessoas quase sem se sentir Linda baby, baby linda, volte sempre aqui. Pedrinho Mendes

C a n i n d é

S o a r e s


17

C a n i n d é

S o a r e s


Cascudo & a Cidade do Natal

18

O aniversário da cidade do Natal coincide com o nascimento de Jesus, daí sua beleza incomensurável e eterna. Natal, inicialmente a Povoação dos Reis Magos, está permanentemente abençoada graças à vizinhança divina. Sendo de 25 de dezembro de 1599, tem, portanto, joviais quatrocentos e quatorze anos. Luis da Câmara Cascudo era um amante dedicado ao seu torrão original. Diariamente, ao entardecer, solitariamente ou na companhia do amigo Silvio Pedrosa, percorria ruas, escolhia locais para se embevecer com um dos mais lindos espetáculos celestiais, até eleger o mais bonito: a visão da Pedra do Rosário, onde Nossa Senhora aportou. Daí o titulo de um dos livros da minha autoria, “O Colecionador dos Crepúsculos”, Gráfica do Senado Federal, 2004. O Forte dos Reis Magos também foi cantado amorosamente por Cascudo. Dizia que o Forte era um milagre de localização: se erguia a setecentos e cinquenta metros da barra, em cima do arrecife, ilhado nas marés altas. É lugar melhor e mais lógico, anunciando e defendendo a cidade. Sua forma é a clássica do Forte marítimo, afetando o modelo de polígono estrelado. Hoje reconhecido como uma das joias históricas brasileiras.

C a n i n d é

S o a r e s

O chão elevado e firme à margem direita do lindo rio que os portugueses chamavam rio grande e os potiguares Potengi transformou-se numa capital dotada de um encanto diferenciado. A cidade do Natal sempre se chamou assim? O Auto de Repartição das Terras, de fevereiro de 1614, declara que era “a cidade do Natal do Rio Grande”. Os holandeses falam na aldeia ou cidade do Natal. A carta geográfica de Marcgrave registou Natal assim como os mapas de Johannes Vingboons, autoridades decisivas. Nomes anteriores deixando vestígios na História e cartografia erudita. Cidade dos Reis. Também apareceu Cidade Nova, Cidade de Santiago. Durante o domínio holandês, Nova Amsterdam. Outra descoberta, Natalópolis. Mas Cascudo não se limitou a buscar nossa documentação primária. Como um autentico mago, decifrou os temperos do caldeirão de influências luso-brasileiras, acrescentando uma pitada forte africana, tudo reunido graças a colher ameríndia. Natal é rica em conteúdo popular, temos danças, folguedos, cantos, gestos, mitos, lendas, estórias. Atento obser vador do cotidiano, timoneiro brasileiro, sua obra gigantesca filtra sua visão do mundo


decifrando o calidoscópio inspirador da província. Pensar o antigo de um jeito novo foi um exercício democrático que ele me ensinou. Natal não é imune aos seus habitantes, e assim mescla encantos mundiais; franceses, italianos, portugueses, alemães, holandeses, formam e acrescentam muito da nossa cultura nordestina. Acolheu os norte-americanos, sendo denominada “O Trampolim da Vitória” pela sua importância geográfica, durante a segunda guerra mundial, mas – segundo o historiador Fred Nicolau – quando eles saíram, deixaram em terras de Poti muito do seu coração. Inúmeros romances e casamentos atestam o quão foram fascinados pela nossa gente. Seus descendentes engrossam as fileiras dos natalenses ou vivem nos States. Natal também atesta, orgulhosamente, seu pioneirismo feminino, seu papel decisivo na abolição da escravatura. Foi de uma importância total desbravando fronteiras aéreas. O papel dos militares na cidade mereceu um trabalho da minha autoria, intitulado “Sinfonia de Cristal”, 2010. O Exercito, a Marinha, a Aeronáutica, servindo no nosso Estado, se tornaram partícipes da nossa vida social. Alguns teimam em acusar os potiguares de valorizar aquilo que vem além das fronteiras. Mas é preciso definir o feitiço, o encantamento que os militares sentem pela nossa terra e nossa gente. Uma linha imaginária amorosa liga nossa cidade e suas lembranças, quando

se afastam, e por ela os sonhos caminham e as saudades rolam como pedras soltas no leito do rio do bem-querer. Em toda a cidade saboreamos a peculiar culinária, peixe frito ou cozido, camarão preparado de inúmeras maneiras, tapioca, com ginga ou com feijão verde e macaxeira, cuscuz, frutos do mar, galinha à cabidela. Centros de referência culturais, como o Instituto Histórico e Geográfico, a Biblioteca Câmara Cascudo, o Teatro Alberto Maranhão, a Capitania das Artes. O Instituto Câmara Cascudo – Ludovicus – preserva e divulga o patrimônio cultural de Luis da Câmara Cascudo, sendo visitado por figuras locais e personagens internacionais. Mas ainda podemos ver e ouvir o Bumba-Meu-Boi, as Ararunas, os Pastoris, as quadrilhas matutas ou estilizadas, mantendo a essência do nosso rico folclore. Relógios vivos marcando a tradição são as feiras, do Alecrim e das Rocas, dentre muitas, deliciosas. Movimentando-se entre feirantes e compradores, abecedários de mercadorias eternas se revitalizam ao som dos cantadores ou do mais recente lançamento virtual... Natal é um manto colorido, agora se verticalizando, mas o sorriso dos potiguares permanece regendo a melodia gloriosa da sua vida. Anna Maria Cascudo Barreto, escritora, acadêmica, Presidente do Instituto Câmara Cascudo

C a n i n d é

S o a r e s

19


Dia claro e leve brisa

20

Ser natalense é um dom de Deus.Minha cidade, eleita, não é feita de pedra e cal, tijolos vermelhos e barros salitrados. Antes, tem o braço das dunas do Tirol que se alonga buscando o mar de Ponta Negra. É uma cidade oferecida à sensibilidade dos olhos e da pele, muitas ternuras, recebendo presentes diários dos Reis Magos que vieram para ficar. O Forte, visto do alto, tem forma de estrela. Uma lembrança feita de lutas e desassossegos, história de uma vigília, vigia. O claro cotidiano da cidade Natal teve nomes sonoros de presenças antigas. Foi Cidade dos Reis. Ainda no domínio espanhol sobre Portugal, Natal los Reys. Os holandeses a denominaram Amsterdã ou, repetindo o nome dado à grande cidade do Norte, Nova Amsterdã. Os nomes não acrescentam qualidade, mas Natal apascenta a gente. Os verdes do Potengi são carregadas águas marinhas, manchadas de mangue e lodo e, talvez, da vida pobre da beira do rio. As margens do Potengi são vidas descoloridas. O Norte, margem esquerda, é conquistado no esforço da força operária. Segue a tendência brasileira de urbanização. Natal é onde o amor toma partido, as mulheres têm olhos de espera e há um sentimento de que qualquer coisa de bom está para acontecer.

C a n i n d é

S o a r e s

O tempo é decisivo para descobrir as suas várias belezas. A cidade respira pelas ruas largas e arborizadas, pelas árvores de quintal – mais cajueiros e mangueiras – e pelos pequenos jardins. É preciso buscar os horizontes. A necessidade fez a cidade apontar para o alto nos edifícios de apartamentos. Tantos espaços horizontais a conquistar e os homens fechados em apartamentos. Até a classe rica despreza os horizontes. Aqui é o nascer dos filhos, o meu ancoradouro, chão definitivo, encanto jovem, a marca tranquilizadora na maturação da idade. Muitas coisas, de bom e de ruim, acontecem primeiro aqui, na cidade aberta a mudanças. É preciso, pois, ter paciência com a cidade, com suas agressões, maldades grandes e miúdas. Afinal, ela não pode ser culpada pela violência e pelo mal do mundo. É preciso amar a cidade com seus mistérios e sortilégios, esta cidade musical, de compositores e intérpretes, de ritmistas nos bares e botequins, da noite prolongada. Natal é ainda cidade de gente boa que busca ser e fazer feliz. Natal é também dia claro e leve brisa. Diógenes da Cunha Lima, repórter e advogado.


21

C a n i n d é

S o a r e s


22

C a n i n d é

S o a r e s


23

C a n i n d é

S o a r e s


24

C a n i n d é

S o a r e s


25

C a n i n d é

S o a r e s


26

C a n i n d é

S o a r e s


27

C a n i n d é

S o a r e s


28

C a n i n d é

S o a r e s


29

C a n i n d é

S o a r e s


Sol e Cascata

30

Quem, como eu, é obrigado por dever de ofício, já há dez anos, a cometer um comentário diário sobre esta cidade (seus reclamos, problemas, incertezas) e até apreciar o comportamento do seu povo (“aqui se gastam 200 para impedir que o vizinho ganhe 20”), esta é a oportunidade de relatar, em vez de comentar. Por isso conto uma pequena história. História com agá. Tudo porque já ouvi muita estória tentando explicar a origem da legenda Natal, Cidade do Sol, usada para propagar aqui e alhures os seus encantos. Justificativas arrancadas a fórceps. Da antiguidade às nossas origens indígenas. Só cascata. Minha história tem 16 anos. Ocorreu em l967, quando já se anunciava o Plano Diretor e a valorização de “nossas potencialidades turísticas”. Argumentos aproveitados na época pelo pessoal da Manchete para vender uma reportagem à Prefeitura (um caderno colorido de 16 páginas na Fatos & Fotos). Tarefa entregue a Sebastião Barbosa, que tinha a primeira oportunidade de revelar seu enorme talento de fotógrafo. E a mim mesmo, encarregado do texto. Foram trinta dias de batalhas em busca de ângulos fotogênicos de Natal, Natal dos anos 60 (praias, coqueiros e umas poucas menininhas de biquíni, assim mesmo à custa de muita persuasão). E fomos

C a n i n d é

S o a r e s

nós para o Rio de Janeiro concluir a missão. Logo no primeiro dia, na sede da Editora Bloch (então na Rua Frei Caneca, vizinho ao presídio), a primeira desconfiança em torno do aproveitamento do nosso trabalho veio do próprio Adolpho Bloch, dono daquilo tudo: - Dezesseis páginas sobre Natal, na minha revista? Nem pagas! Conheço aquilo. Passei lá uma noite, na época da Guerra. É uma droga! As excelentes fotos de Tião garantiram não somente a publicação. Valeram um aumento de salário para o autor, concedido pelo próprio Adolpho. A explicação real para o uso da legenda Natal, Cidade do Sol está no titulo da reportagem. Título em tipos fortes e cor laranja sobre os coqueiros de Pirangi, o principal da edição. A reportagem virou caderno isolado, distribuído em Natal anos a fio. A edição mereceu festas e até um lançamento com coquetel e tudo no Hotel dos Reis Magos. Da badalação ficou uma legenda, uma marca, uma definição para Natal. Só depois começou o “folquilore” em torno do assunto. Cassiano Arruda Câmara é jornalista e publicitário


31

C a n i n d é

31

S o a r e s


32

C a n i n d é

S o a r e s


33

C a n i n d é

S o a r e s


Natalense, patrimônio imaterial do Brasil

34

Quem gravita em torno de trabalhos universitários de pós-graduação em especializações, mestrados e doutorados, sabe que tudo gira em torno de uma hipótese. Os escritos opinativos, muitos deles, também trabalham com este aspecto, mas, em algumas situações, depois de se construir toda uma teoria em torno do objeto do estudo, as pesquisas de campo ou os experimentos, podem caminhar no sentido da negação da hipótese, criando-se a partir dai, um problema. Parto da hipótese de que o natalense é simpático, é legal, é gente boa, como popularmente costumamos definir nosso próprio conceito. As pesquisas devem ser feitas, as entrevistas realizadas e, já tendo 51 verões de andanças por esta bela cidade do sol, posso dar meu testemunho de que o potiguar realmente apresenta em sua essência, comportamento que expressa estima, encantamento, benevolência, fraternidade, ternura e boa vontade para com o próximo e, principalmente, com o turista que nos visita. Acessando imagens do passado tendo como referência coisas afins ao aqui tratado, lembro que certa vez fui realizar exame de sangue logo cedo e, ao sair, estando parado com a moto num sinal de trânsito, fui perguntando por um casal visitante no interior do veículo que detinham posse, sobre o caminho que os levassem a praia da Redinha. Como a Ponte de Todos ainda não existia, a rota seria complicada

C a n i n d é

S o a r e s

de explicar, dai, num segundo, minha criação trouxe a tona o DNA da cidade e, simplesmente disse: sigam-me! E assim somos, dispostos a conversa fácil, a parada para ouvir e explicar, a tentativa de descobrir pela terceirização da pergunta, mesmo que não saibamos concretamente a resposta da questão, tornando essa nossa forma de comportamento, um tipo de patrimônio imaterial que nos eleva a um patamar positivo no ranking das índoles dos povos mundiais. O patrimônio imaterial de uma nação é àquele que não é formado por prédios históricos, ele é um bem intangível, abstrato, como as formas de expressão, os modos e os saberes, então, neste sentido, a simpatia do potiguar, sua disponibilização para a informação ao turista, para o papear, o sorriso fácil, a amizade rápida e descompromissada de algo anterior, nos posiciona muito bem entre todos os outros povos que, abertos ao novo, renovam no cotidiano o gostoso e necessário prazer de viver em harmonia com os que chegam para conhecer nossas belezas naturais. Se continuarmos agindo assim, quem por aqui pousa, voará com belas imagens nos olhos e, gratidão no coração por nossa forma de recebê-los bem. Flávio Rezende é escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN


35

C a n i n d é

S o a r e s

35


36

C a n i n d é

S o a r e s


37

C a n i n d é

S o a r e s


Toda cidade é terra natal

38

Viva e porque é viva, uma cidade precisa muito mais do que a administração de suas ruas e praças, becos e avenidas, pontes e viadutos. Uma cidade viva, muito viva, há de precisar de alguém que administre as praças dos que nascem, os bairros dos que vivem, os esquecidos subúrbios dos que morrem. Viva e porque é viva, uma cidade precisa também de um administrador de sonhos, de um agricultor de paisagens, de um ourives para a restauração de suas joias públicas que são seus relógios, suas torres, seus arabescos das fachadas antigas. De um historiador não oficial para escrever a história dos simples. Viva e porque é viva, uma cidade precisa de alguém que seja capaz de planejar suas tristezas, projetar seus desejos. E sobretudo de alguém que seja capaz de levar adiante um grande programa de alegrias. De candidatos à vida e não a cargos, de secretários sem pastas para assuntos de tranquilidade. Viva e porque é viva, uma cidade precisa de fiscais em suas praças, alguém especializado na recuperação das flores, na restauração de bancos e de jardins. De alguém altamente treinado para atendimento de urgência das árvores envelhecidas.

C a n i n d é

S o a r e s

Viva e porque é viva, uma cidade precisa ir além dos desejos simples de ruas pavimentadas e iluminadas, de calçadão imitando o progresso, de luminárias modernizando a pobreza. Ora, uma cidade viva precisa de especialistas em ociosidade, de técnicos em segredos, de coordenadores dos ventos e das ondas. Viva e porque é viva, uma cidade precisa ser feita de pedra, cal e carne. De homens privados, de mulheres desconhecidas, de crianças feias. Ora, é preciso que a cidade tenha seus colecionadores de segredos, seus bêbados inconvenientes, seus boêmios silenciosos, dos bares familiares e daqueles profundamente suspeitos. Viva, porque é viva, uma cidade precisa de suas pensões mentirosas que anunciam ser familiares. De seus lugares que nada avisam e são perigosos. Viva, porque é viva, uma cidade precisa de poetas, de executivos e de noivos. De líricos e trágicos. Viva, porque é viva, uma cidade precisa de rio e de mar, de riomar. Do encontro manso das águas doces e salgadas. Como quem quer amar. Viva, porque é viva, toda cidade é terra Natal. Vicente Serejo é jornalista e professor da UFRN


39

C a n i n d é

S o a r e s


40

C a n i n d é

S o a r e s


41

C a n i n d é

S o a r e s


42

C a n i n d é

S o a r e s


43

C a n i n d é

S o a r e s


44

C a n i n d é

S o a r e s


45

C a n i n d é

S o a r e s


Minha Natal de ontem 46

Natal da minha juventude, por volta dos anos 6O, era uma cidade tranquila e provinciana, que crescia, lentamente,na horizontal. Cerca de 160.000 habitantes. Raros prédios com mais de quatro andares. O clima era bom, ninguém reclamava do calor.Podia-se andar, com absoluta segurança, em qualquer parte, a toda hora, e as casas não tinham grades nas portas e janelas. A programação cultural deixava a desejar. Por exemplo: os cinemas - Nordeste, Rex e Rio Grande, os melhores - exibiam bons filmes, porém muito tempo após o lançamento nacional. Havia pouquíssimos aparelhos de televisão, se bem me lembro. Nunca me liguei em televisão. Supermercados? Nem um sequer. A Livraria Universitária, de Walter Pereira, era uma espécie de templo da cultura, onde intelectuais se encontravam para bater papo, com frequência. Câmara Cascudo dominava a cena literária, com a sua presença exuberante, mas,

C a n i n d é

S o a r e s

ao que me consta, não era habitué da Universitária. Todo dia, de tardezinha, meio mundo acorria ao Grande Ponto, espécie de centro de convivência, em plena Rua João Pessoa, entre a Princesa Isabel e a Av. Rio Branco. As rodas de conversa iam noite adentro. Falava-se de política, de futebol - ABC e América -, da vida alheia... Mulheres não frequentavam aquelas ilhas infestadas de piratas; passavam, como já disse numa crônica, velas pandas ao vento, em direção às lojas da moda - “A Formosa Síria”, “O Novo Continente”,“Quatro e Quatrocentos”-, aos cinemas Rex e Nordeste, à sorveteria 0ásis... No Grande Ponto realizaram-se grandes comícios e - houve um tempo era ali a bem dizer o epicentro do carnaval de rua. Se me perguntassem qual a Natal que eu prefiro - a de ontem ou a de hoje - responderia: a de ontem. Sem nostalgia. Manoel Onofre Jr.


47

C a n i n d é

S o a r e s


48

Fauna and Flora

C a n i n d ĂŠ

S o a r e s


49

C a n i n d é

S o a r e s

49


50

C a n i n d é

S o a r e s


51

C a n i n d é

S o a r e s


52

C a n i n d é

S o a r e s


53

C a n i n d é

S o a r e s


54

C a n i n d é

S o a r e s


55

C a n i n d é

S o a r e s


56

C a n i n d é

S o a r e s


57

C a n i n d é

S o a r e s

57


58

C a n i n d é

S o a r e s


59

C a n i n d é

S o a r e s


60

C a n i n d é

S o a r e s


C a n i n d é

S o a r e s


62

C a n i n d é

S o a r e s


63

C a n i n d é

S o a r e s


64

C a n i n d é

S o a r e s


65

C a n i n d é

S o a r e s


66

C a n i n d é

S o a r e s


67

C a n i n d é

S o a r e s


68

C a n i n d é

S o a r e s


69

C a n i n d é

S o a r e s


70

C a n i n d é

S o a r e s


71

C a n i n d é

S o a r e s


72

C a n i n d é

S o a r e s


73

C a n i n d é

S o a r e s


74

C a n i n d é

S o a r e s


das luzes

75

C a n i n d ĂŠ

S o a r e s


76

C a n i n d é

S o a r e s


77

C a n i n d é

S o a r e s


78

C a n i n d é

S o a r e s


79

C a n i n d é

S o a r e s


80

C a n i n d é

S o a r e s


81

C a n i n d é

S o a r e s


82

C a n i n d é

S o a r e s


83

C a n i n d é

S o a r e s


84

C a n i n d é

S o a r e s


85

C a n i n d é

S o a r e s


86

C a n i n d é

S o a r e s


87

C a n i n d é

S o a r e s


88

C a n i n d é

S o a r e s


89

C a n i n d é

S o a r e s


90

C a n i n d é

S o a r e s


91

C a n i n d é

S o a r e s


92

C a n i n d é

S o a r e s


93

C a n i n d é

S o a r e s


94

C a n i n d é

S o a r e s


95

C a n i n d é

S o a r e s


96

C a n i n d é

S o a r e s


97

C a n i n d é

S o a r e s


98

C a n i n d é

S o a r e s


99

C a n i n d é

S o a r e s


C a n i n d é

S o a r e s


101

C a n i n d é

S o a r e s



www.canindesoares.com www.csfotojornalismo.net facebook.com/canindesoares twitter.com/canindesoares instagram.com/canindesoares



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.