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Jorge Durão Neves diretor geral da Agromais
Agromais expande negócio para novas áreas e culturas
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A Agromais ainda mantém a sua principal missão de agregador de produtores da região da Golegã. Mas perto de completar 30 anos, a Agromais assume que hoje há vida para além do milho a cultura que serviu de base aquando do seu nascimento. O diretor-geral da empresa afirma que a aposta em termos de produtos é mais abrangente e prepara-se para novos voos com a entrada na produção de culturas permanentes.
maria lopes jornalista
| A Agromais nasceu há quase 30 anos – aniversário que completa em 2017 – com o objetivo de concentrar a produção de milho dos agricultores associados da Agrotejo, a par de fazer a programação e prestar assistência a todas as culturas que são produzidas. O papel agregador e de estabelecimento de estratégias quer de produção quer comerciais para maximizar o rendimento dos produtores continuam a nortear a atividade da empresa. No entanto, se há 30 anos foi criada a pensar na principal cultura existente na região da Golegã hoje o diretor-geral da empresa, Jorge Durão Neves, conclui sem a menor dúvida que “na Agromais há vida para além do milho”. Não só porque entretanto alargou a atividade com a criação de novas áreas de negócio como a venda de fatores de produção, através da Agromais Plus,
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como também replicou a organização existente na Golegã no Alentejo – operação que deu os primeiros passos em 2012 – na vertente de produção e agregação de agricultores e na comercialização de fatores de produção. Atualmente a Agromais já faz uma aposta bastante mais abrangente em termos de culturas porque “se concluiu na altura que o milho, por redução dos apoios comunitários, e hoje devido aos preços mundiais, tem um horizonte no médio prazo complicado”. Perante este cenário, Jorge Neves salienta que a Agromais introduziu a cultura da batata para a indústria “em que conquistou um peso muito grande na produção. Apostou na cultura da cebola para comercialização junto da grande distribuição, em que já é o maior operador nacional em Portugal”. No terreno estão ain-
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da outras culturas, sobretudo horto-industriais para transformação industrial, em que se destaca, por exemplo o tomate. Perto de completar os 30 anos, a entidade está a preparar-se para novos voos. De acordo com Jorge Neves, para que a Agromais “continue numa estratégia de não dependência de uma ou duas culturas está a olhar para as zonas agrícolas que detém na região, que são mais marginais, e onde a produção de milho possa ser menos rentável face aos preços atuais”. Por essa razão, a Agromais está “a dar os primeiros passos na introdução de culturas permanentes, isto é, na área dos frutos secos”, revela a mesma fonte. A justificação para esta aposta é simples: “É uma produção, que de acordo com todas as opiniões e estudos a nível mundial, pode ser um negócio bastan-
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te interessante para os agricultores da região nos próximos anos”, garante o diretor-geral da Agromais. Sobre o ‘timing’ para desenvolver esta nova aposta, Jorge Neves salienta que já “se passou a fase de estudo e está-se agora a trabalhar para introduzir as primeiras plantas, ou instalação de pomar, em terrenos de agricultores associados à Agromais no início do próximo ano”. Quanto ao tipo de culturas, a mesma fonte sublinha que serão, sobretudo, nogueiras. Jorge Neves explicou que ainda não está definida uma área muito grande para esta nova cultura, “até porque, neste momento, os apoios ao investimento estão suspensos. Houve uma procura bastante grande de apoios comunitários para investimento em 2014 e 2015, pelo que o corrente ano está a sofrer um pouco com o que se passou atrás”. Apesar de admitir que “há algum impasse em termos de decisão para novos investimentos, o que retrai o esforço dos agricultores”, Jorge Neves acredita que “irá haver condições nos próximos anos o que poderá ser um empurrão importante para o investimento nesta área”. Mais uma vez, nesta nova atividade, a Agromais seguirá o mesmo modelo de atuação. De acordo com Jorge Neves, a empresa “vai fomentar e investir na aquisição de equipamentos comuns para os agricultores, nomeadamente de colheita”. Depois e a seu tempo – porque os pomares só começarão a entrar em produção no fim do quinto ou sexto ano –, a Agromais já tem previsto efetuar investimentos na área da concentração e preparação do produto. “No fundo investirá numa central para a recolha e processamento da produção dos agricultores”, esclarece o mesmo responsável. Além da entrada neste novo negócio, Jorge Neves lembra que, o Alqueva com as quantidades de água e consequente capacidade de rega foi identificado como a região por excelência para exportar o modelo que a Agromais já gere no Ribatejo. “Estamos habituados à agricultura de regadio, por isso identificamos dentro de Portugal o Alqueva como uma zona com potencial enorme para desenvolver culturas de regadio”, garante a mesma fonte. Para garantir esta presença no Baixo Alentejo, direta e indiretamente, a Agromais já investiu perto dos 10 milhões de euros, sendo que alguns dos investimentos são feitos também com parceiros.
ainda não está definida uma área muito grande para esta nova cultura, “até porque, neste momento, os apoios ao investimento estão suspensos. Houve uma procura bastante grande de apoios comunitários para investimento em 2014 e 2015, pelo que o corrente ano está a sofrer um pouco com o que se passou atrás”.
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Jorge Durão Neves diretor geral da Agromais
“Ser menos dependente em termos de fatura energética, rentabilizando o consumo que é bastante elevado. E também para a Agromais dar o contributo em termos ambientais através de uma produção que é amiga do ambiente”
Perante a situação edafoclimática um pouco diferente da existente na Golegã, Jorge Neves antecipa que “há culturas que se sabe de antemão que não funcionam no Alqueva”, mas “há outras que, com a experiência que já tem, darão melhor no Alqueva”. É o caso da cebola em que a Agromais percebeu que as condições no Alqueva são bastante mais favoráveis do que na Golegã com resultados não só ao nível de produção por hectare, mas também pela qualidade do produto. Os novos projetos da Agromais passam também por garantir a eficiência em termos energéticos, sendo que avançou com investimentos na área da produção elétrica fotovoltaica. De acordo com Jorge Neves, a empresa instalou duas centrais, em que uma delas servirá para autoconsumo e a outra para injeção total de energia na rede. Isto para se atingir dois objetivos: “Ser menos dependente em termos de fatura energética, rentabilizando o consumo que é bastante elevado. E também para a Agromais dar o contributo em termos ambientais através de uma produção que é amiga do ambiente”. Para este projeto foram canalizados cerca de meio milhão de euros. Sobre como é que a Agromais tem feito a diferença ao longo dos anos, o mesmo responsável sublinha que o “modelo de organização é bastante singular, sem esquecer nesta estratégia o trabalho que é feito pela Agrotejo, à qual a
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empresa está “umbilicalmente ligada desde o início”. Jorge Neves não tem dúvidas que a oferta integrada de soluções para os agricultores e a preocupação em definir uma estratégia para uma região e para um conjunto de produtores é que tem feito a diferença da Agromais face a outras organizações. Existe uma estratégia, uma oferta de serviços e de soluções de produção integrada e um apoio constante ao agricultor. E realça que a preocupação da Agromais é que o agricultor se concentre naquilo que é a sua missão: produzir bem, nas melhores condições, ao mais baixo custo e com maior produtividade e qualidade possível. O resto cabe à Agromais. Ou seja, organizar a produção, dar assistência aos agricultores, dar as melhores condições em termos de ’inputs’ para as suas culturas e no final garantir a colocação da sua produção ao melhor preço do mercado. “Tem sido uma solução ganhadora”, conclui Jorge Neves. Sobre como se consegue financiamento para desenvolver os projetos, o diretor-geral da Agromais salienta que a empresa “tem conseguido fazer até hoje a quadratura do círculo. É uma cooperativa que tem tido a preocupação de obter resultados positivos”. E garante que se tem conseguido que os agricultores ganhem dinheiro, o que considera uma premissa fundamental para o êxito deste projeto. Isto sem esquecer que também a Agromais está a ganhar dinheiro para conseguir crescer em termos de expansão do volume de negócios e da sua capacidade produtiva. Em termos de futuro próximo Jorge Neves destaca o grande projeto de emparcelamento da região – uma das bandeiras defendidas pela Agrotejo –, cuja portaria já foi publicada, assim como, o aviso de concurso para ser submetida a candidatura. Neste momento, o diretor-geral da Agromais acredita estarem reunidas as condições para que durante o ano de 2017 se arranque com a obra. A mesma fonte antecipa uma “revolução na região” graças ao projeto de emparcelamento, já que vai permitir aos agricultores agregarem muito daquilo que são as suas parcelas de exploração agrícola, trará uma nova configuração dessas parcelas o que vai facilitar a mecanização das culturas existentes. Com as obras de drenagem previstas vai criar novas condições de acesso às terras em épocas mais complicadas o que permite alguma precocidade nas produções, o que implica melhores preços. A mesma fonte revela que tudo aquilo que se investiu até hoje – que já ultrapassa os 15 milhões de euros – tem permitido que a Agromais
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Jorge Durão Neves diretor geral da Agromais
“Hoje substituiu-se totalmente as importações e a ‘NOS’ abastece-se em exclusivo do milho produzido pelos agricultores da Agromais”
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consiga ter meios para dar resposta aos agricultores e aos sucessivos reptos que se tem feito aos mesmos em termos de novas produções. No que se refere a desafios, Jorge Neves não esconde o orgulho face a alguns exemplos de inovação que se foi introduzindo na região. E destaca o caso da cebola em relação à qual havia alguma tradição de produção de uma forma mais artesanal na Golegã e a Agromais conseguiu introduzir uma forma mais sistemática e industrial em termos de dimensão e organização deste negócio. Outro exemplo de inovação tem a ver com o fato de nos últimos três anos os agricultores estarem a produzir milho para pipocas em Portugal. Produção que surgiu de um desafio lançado pela operadora de telecomunicações NOS para suprir essa necessidade já que importavam a totalidade do produto que servia os cinemas. “Hoje substituiu-se totalmente as importações e a ‘NOS’ abastece-se em exclusivo do milho produzido pelos agricultores da Agromais”, realça. Atualmente a produção de milho para pipocas ronda as 600 toneladas, mas há
um objetivo de crescimento bastante ambicioso que vai depender de se conseguir dar o próximo passo que é entrar na exportação. Jorge Neves adianta que já estão a ser avaliados os mercados que poderão receber o produto, sendo que a ideia é vender a cadeias de distribuição de filmes como já acontece em Portugal. Na mira estão a Europa e talvez África em que há a possibilidade de entrada nos PALOP. “A ligação com a NOS tem algum peso nesta estratégia” destaca Jorge Neves que lembra que a operadora de telecomunicações já está presente em Angola e Moçambique. O volume de negócios consolidado do grupo, em 2015, ultrapassou os 48 milhões de euros, sendo que só a atividade da Agromais representa cerca de 36 milhões, enquanto a Agromais Plus, especializada em fatores de produção, contribuiu com cerca de 12 milhões. A perspetiva para 2016 será de um valor um pouco menor, isto porque terá um menor contributo de quantidades de milho além de o preço ser também estar mais baixo.