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Pedro Antonio Palazón Monreal Director Técnico, IDEAGRO
Micotoxinas - A ameaça invisível
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| Trata-se de metabolitos secundários tóxicos produzidos por fungos toxicógenos pertencentes na sua maioria aos géneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium. Estas substâncias químicas podem formar-se numa grande variedade de produtos agrícolas e num vasto leque de situações em todo o mundo. A acumulação de micotoxinas nos alimentos e forragens representa uma importante ameaça para a saúde humana e salubridade animal, uma vez que é a causa de intoxicações muito variáveis, tais como, distúrbios gastrointestinais, estrogénicos, urogenitais e renais, nervosos e vasculares. Além disso, o carácter teratogénico, mutagénico e carcinogénico de algumas delas, aumenta a necessidade de vigilância relativamente às suas repercussões na saúde humana. Por outro lado, a maioria provoca imunodepressão diminuindo a resistência dos animais às doenças. Segundo a FAO, 25% da produção mundial de grãos (especialmente milho) podem estar contaminados com micotoxinas. Todavia, este número baseia-se numa visão monotoxina do problema, sendo que até agora os estudos que prevaleciam baseavam-se na pesquisa de um só destes tóxicos. Assim, quando se alarga o espectro e se analisam várias micotoxinas nas mesmas amostras, AGROTEJO união agrícola do norte do vale do tejo
As micotoxinas são objecto de interesse mundial devido às importantes perdas económicas que os seus efeitos acarretam sobre a produtividade animal e o comércio nacional e internacional, bem como as suas repercussões na saúde humana.
constata-se que a visão monotoxina subestima claramente o problema. Num dos últimos trabalhos publicados pela Alltech em Setembro de 2015, realizaram-se amostragens em grãos de 14 países da UE e de diversos estados dos Estados Unidos e Canadá, de acordo com o programa Alltech 37+ (espectrometria de massa que utiliza a elevada sensibilidade e especificidade da cromatografia líquida para melhorar a definição e quantificação de micotoxinas) que analisa 38 micotoxinas em cada amostra. Os resultados de um total de 84 amostras de trigo e 24 de milho analisadas, indicaram que 99% das amostras continham micotoxinas e 83% continham múltiplas micotoxinas. Por conseguinte, as micotoxinas são consideradas como um dos maiores riscos segundo o Sistema de Alerta Rápido para Alimentos para Consumo Humano e Animal da UE (RASFF). O sector agro-pecuário assumiu nos últimos anos a presença e os efeitos prejudiciais das micotoxinas sobre a saúde e produtividade das culturas, mas também dos animais, ao atingir estes através das forragens e pastos, bem como a sua repercussão sobre a segurança alimentar. O problema das micotoxinas afecta todos os elos da cadeia agro-alimentar, e frequentemente, a gestão do problema limita-se à transferência de responsabilidades para outro elo da cadeia; no entanto, deve-se ter em conta que, no final da referida cadeia, está o consumidor. Em todo o caso, o ponto mais fraco corresponde aos agricultores e criadores de gado, porque assumem um risco direto de perda, quer pelas suas colheitas e culturas, quer pelo impacto na saúde dos animais, rentabilidade reprodutiva e/ou segurança dos seus produtos. É importante reforçar que NÃO é possível eliminar as micotoxinas sem desenvolver estratégias para limitar a sua presença e/ou reduzir o impacto negativo sobre as colheitas. Qual a origem das micotoxinas? Para que exista contaminação por micotoxinas, é indispensável a contaminação fúngica prévia e a produção das mesmas por parte dos fungos toxicógenos. As principais espécies de fungos produtores de micotoxinas são: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Claviceps, Alternaria e Stachybotrys, Cladosporium e Dreschler.
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Embora esta contaminação por fungos seja indispensável à formação de micotoxinas, é um erro relacionar directamente a presença ou ausência de fungos com a presença ou ausência de micotoxinas, uma vez que é possível encontrar amostras que apresentem contaminação fúngica mas não apresentem micotoxinas, por não se terem verificado as condições necessárias para o seu desenvolvimento, ou vice-versa. Tal deve-se ao facto de as micotoxinas se formarem quando o fungo não dispõe das condições necessárias para o seu desenvolvimento. Podemos afirmar que se trata de um mecanismo de “defesa”. A importância do fungo produtor traduz-se no facto de a classificação das micotoxinas em função do fungo produtor ser uma das melhor aceites atualmente. Um mesmo tipo de fungo pode ter capacidade de produzir diversos tipos de micotoxinas, pelo que o mais habitual é encontrar uma contaminação múltipla. De um modo geral podemos afirmar que, atualmente, a principal origem de infecção por agentes produtores de micotoxinas é o campo, sendo que o solo é a fonte mais importante de contaminação inicial. Por conseguinte, todos estes fungos estão adaptados a este ecossistema e aí se desenvolvem mais frequentemente do que noutras partes da cadeia. É inevitável a presença destes micro-organismos no campo uma vez que os seus propágulos perduram ano após ano no restolho, no solo ou suspensos no ar, sendo transportados pela água, vento, insectos, etc. Não obstante, para que a infecção fúngica ocorra, e com esta aumentem as probabilidades de crescimento fúngico no campo e posterior produção de micotoxinas, as culturas deverão estar expostas a condições ambientais extremas, tais como: stress térmico ou hídrico, danos físicos provocados por granizo, insectos ou outros factores bióticos, práticas de maneio inapropriadas (datas de sementeira e colheita incorretas, densidade excessiva, controlo de doenças ineficiente, etc.) ou susceptibilidade de origem genética ou morfológica. Devido a tudo isto, a presença de contaminação múltipla por micotoxinas numa mesma amostra é muito habitual e deve sempre considerar-se o efeito somatório, podendo conduzir a erro a valorização de cada uma delas de forma independente. De salientar que, uma vez feita a colheita de uma matéria prima contaminada, apenas se pode evitar a propagação, mas nunca se pode eliminar a toxina. Cada vez é mais aceite a ideia de que os planos de
controlo integrados nos quais estejam envolvidos tanto agricultores como intermediários e fabricantes de forragens, são imprescindíveis para minimizar a presença de micotoxinas em matérias-primas e forragens.
A acumulação de micotoxinas nos alimentos e forragens representa uma importante ameaça para a saúde humana e salubridade animal
Planos de vigilância e controlo de micotoxinas As micotoxinas são provavelmente o problema de maior complexidade e gravidade que se enfrenta no sector agro alimentar em geral, pela elevada probabilidade de ocorrência, efeito direto sobre a saúde e qualidade das culturas e colheitas, matérias-primas e ração; bem como para a saúde e produtividade dos animais e, por conseguinte, para a segurança dos produtos de origem animal, ao que devemos acrescentar a ausência de métodos eficazes de descontaminação, sendo os Planos de vigilância e controlo fundamentais para a prevenção do problema. As atuais técnicas de produção NÃO permitem evitar totalmente a contaminação por fungos e/ ou o aparecimento de micotoxinas mas, mediante a aplicação de boas práticas agrícolas, é possível limitar a sua presença e danos posteriores sobre o rendimento da cultura e a qualidade do grão. É portanto necessário dispor de um sistema adequado de gestão integrada de riscos, que tenha em consideração a gestão prévia da colheita (Boas práticas agrícolas), a gestão durante a colheita e pós-colheita (Boas práticas de produção e armazenamento).
Esquerda: Maçaroca cultura Convencional – Direita: Maçaroca programa ALLTECH
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No que respeita à gestão prévia da colheita, as principais ações são: Preparar as terras de cultura de forma adequada e realizar rotações de culturas. Utilizar variedades com maior resistência à contaminação por fungos, especialmente Aspergillus; Realizar a sementeira em condições em que se evitem situações de stress para a semente, impedindo situações de calor excessivo e/ou de seca; Respeitar as distâncias adequadas entre sementeiras para evitar densidades excessivas que possam conduzir a situações de stress para as plantas.
de humidade, vigiar a incidência de patogénicos e manter os produtos em superfícies limpas e secas. Na produção animal, e dado que atualmente se conhecem cerca de 400 micotoxinas distintas, é impossível realizar determinações analíticas em todas elas e em todas as matérias-primas e forragens. Deste modo, o primeiro passo para a concepção de um plano de vigilância e controlo é estabelecer prioridades. Para tal, o primeiro passo é identificar o perigo (micotoxina), posteriormente os factores de risco, principalmente as matérias-primas ou ração com maior probabilidade de contaminação e os animais mais susceptíveis de sofrer os efeitos tóxicos e finalmente as medidas de vigilância e controlo, que permitam quantificar de modo fiável a exposição e a eficácia das medidas preventivas e corretivas aplicadas. Relativamente à presença de micotoxinas, determinadas colheitas em momentos concretos podem apresentar maior risco de contaminação do que outras, pelo que é essencial ter identificadas estas origens a todo o momento.
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Durante a colheita, o maior problema é o aumento das micotoxinas. As medidas preventivas passam por manter os tempos apropriados de colheita, evitar mais de 15% de humidade e eliminar materiais estranhos às colheitas. Adicionalmente, é necessário: Assegurar que o risco tem uma distribuição uniforme, evitando zonas de encharcamento; Aplicar um programa de fertilização, mediante adubos de elevada assimilação que minimizem o risco de stress para as plantas e que melhorem as condições físico-químicas do solo; Reduzir os fungos fitopatogénicos no solo; Manter sob controlo as ervas daninhas; Minimizar os danos causados por insectos, fundamentalmente a perfuração; Minimizar os danos mecânicos durante a fase de cultivo. Tentar minimizar a quantidade de grãos danificados; Realizar a colheita quando os grãos de milho atinjam a maturidade, excepto nos casos em que as condições de seca ou calor tornem aconselhável uma colheita precoce, sempre com humidade inferior a 15%.
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Na pós-colheita, o problema é o contínuo aumento de micotoxinas, daí que seja necessário proteger os produtos armazenados sob controlo apertado pub.
MICOTOXINAS OCRATOXINA A Penicillium verrucosum
Aspergillus ochraceus
TRICOTECENOS Fusarium sporotrichioides
ZEARALENONAS Fusarium graminearum
FUMONISINA B1 Fusarium moniliforme
AFLATOXINAS Aspergillus parasiticus y A. flavus
Como enfrentar, portanto, o problema das micotoxinas O sector deve trabalhar de forma conjunta para identificar as micotoxinas e matérias-primas que podem constituir um perigo, fixar os níveis máximos permitidos e estabelecer os procedimentos e a frequência para a amostragem e análise. Para ajudar a solucionar este problema e fruto da estratégia de atuação conjunta entre a Alltech e Ideagro, durante os últimos quatro anos desenvolveram-se mais de 45 ensaios em diferentes culturas com diferentes estratégias de atuação e mais de 1.300 análises de micotoxinas em diferentes matrizes, tendo permitido o desenvolvimento de um plano de trabalho designado LOWMYC®, que garante a implantação de um sistema de trabalho e protocolo de cultura sustentável, bem como ações em fase de pós-colheita com o objectivo de reduzir o conteúdo de micotoxinas, aumentar rendimentos de produção e o conteúdo nutricional em cereais.