O futuro passará pela profissionalização dos agricultores

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30 anos de Agromais

“O futuro passará muito pela profissionalização dos agricultores”

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Sara Pelicano Jornalista

Jorge Neves, diretor-geral da Agromais – Entreposto Comercial Agrícola faz um balanço positivo destes 30 anos da empresa. Em entrevista, garante que a missão inicial – apoiar os agricultores – se mantém como pilar estruturante. O futuro passará por culturas mais rentáveis, maior profissionalização do agricultor e o setor mais tecnológico. AGROTEJO união agrícola do norte do vale do tejo

| Revista Agrotejo (RA) - Qual o balanço destas três décadas de Agromais? Jorge Neves (JN) - Claramente um balanço positivo. Ao fim de três décadas, a Agromais continua a exercer um papel fundamental não só na região do Norte do Vale do Tejo, onde iniciou a sua atividade, como também na zona de influência do Alqueva, onde já temos operações com alguma relevância. Apostámos no Alqueva porque neste momento é uma zona com um potencial de crescimento, em termos agrícolas, enormíssima. Portanto, a Agromais teria de ter uma posição nessa região agrícola. RA - Passados 30 anos, a Agromais está onde queria? JN - Eu posso responder pelos últimos 18 anos, o tempo que estou na Agromais. As decisões não são fáceis, mas a Agromais caracteriza-se por tomar decisões e a pior coisa que há é não tomar decisões. Tivemos circunstâncias em que as coisas podem não ter corrido como previsto, mas globalmente tenho a certeza de que a Agromais está posicionada no sítio em que a sua direção e os seus agricultores entenderam posicioná-la. RA - Em 30 anos, muita coisa mudou na região. O que destaca nesse sentido?

JN - O que destaco fundamentalmente é a grande evolução tecnológica. O que aconteceu nestes anos foi uma verdadeira profissionalização e especialização dos agricultores. Esta é a grande alteração entre aquilo que era a agricultura há 30 anos e aquilo que é hoje. A capacitação dos agricultores e o conjunto de ferramentas que atualmente estão à sua disposição fazem claramente a diferença nestas três décadas. RA - Qual o futuro da empresa? JN - O futuro da Agromais tem de passar sempre por continuar a apoiar os agricultores. Essa é a grande missão da Agromais: dar condições aos agricultores para prosseguirem a sua atividade. Uma atividade com cada vez mais dificuldades, cada vez mais concorrencial. O grande papel da Agromais vai ser continuar a trabalhar para os agricultores continuarem a sua atividade, melhorarem as suas produções, disponibilizar melhores acessos ao mercado, mais valorização dos seus produtos. O futuro passará muito pela profissionalização dos agricultores. Não podemos esquecer que, hoje em dia, o nível etário dos agricultores é muito elevado e isso vai obrigar a alguma reflexão de como será o futuro da agricultura nesta região. Se os agricultores têm ou


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não seguidores e se têm seguidores se estes têm os mesmos objetivos que os seus antecessores. O importante é: manter os valores que sempre estiveram por detrás do funcionamento desta organização, ou seja, haver objetivos comuns e os agricultores entenderem a importância de estarem organizados e adaptar-se áquilo que é o futuro, mais concorrencial e tecnológico. Os que não se adaptarem correm o risco de desaparecer. RA - A concentração da oferta desempenha um papel essencial nesse futuro? JN - A concentração da oferta foi desde sempre o grande objetivo da Agromais e vai continuar a ser. Nas diferentes áreas de atuação e mercados onde estamos, verificamos que existe uma grande concentração da procura, quer do lado da indústria de transformação, seja de cereais ou de vegetais, quer do lado da grande distribuição. O que faz sentido para nós é cada vez mais haver concentração da oferta e os nossos agricultores estão conscientes disso. Só assim é que temos armas para podermos estar num nível suficientemente elevado nas negociações com os clientes. RA - A Agromais tem incentivado o cultivo de um milho de qualidade. Esta é

uma aposta ganha? JN - Considero que essa é uma aposta ganha. O posicionamento da Agromais sempre foi esse. O que temos verificado nos últimos anos é que existem dois mercados distintos. O mercado da alimentação animal, que infelizmente não distingue o milho nacional do importado, embora todos reconheçam que o milho nacional é de melhor qualidade face ao importado. No entanto, no final o que comanda a decisão é o preço. Neste momento, assistimos a uma situação de abundância de stock a nível mundial quer de milho, quer de outros cereais. Portanto os preços estão em baixa. A Europa tem sido um dos principais importadores de milho de origens como a Argentina, o Brasil e os paí-

“A capacitação dos agricultores e o conjunto de ferramentas que atualmente estão à sua disposição fazem claramente a diferença nestas três décadas.”

ses do mar Negro. Têm uma oferta fortíssima e a preços muito concorrenciais. A única via para contrariarmos de alguma maneira esta situação é virarmo-nos para o mercado mais especializado, ou seja o mercado da alimentação humana, que tem exigências completamente diferentes. No entanto, garante uma continuidade e uma regularidade de consumo que nos permite projetar a nossa produção a mais longo prazo e criar parcerias e estratégias de longo prazo com os clientes. RA - Ao milho juntam-se as horto-industriais. Ainda há espaço para crescer? JN - Há sempre espaço para crescimento desde que também haja obviamente um aumento na parte do consumo. Hoje em dia os consumidores estão muito mais alertados para o benefício do consumo de vegetais e por essa via penso que a transformação aumentará. Estamos a falar fundamentalmente de produto transformado. Com o aumento da transformação por via do aumento do consumo, haverá, claramente, condições para aumentar a produção. RA - No caso específico do tomate para indústria, o que diferencia a Agromais? JN - O tomate para indústria em Portugal tem como finalidade a produção de

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cimento de mercado. Entendemos que era o momento de alterar um pouco o paradigma da região e voltar a cultivos permanentes. A Agromais, durante este período, irá apoiar tecnicamente os produtores na instalação da cultura e na sua condução. Daqui por cinco, seis anos, o momento em que pomares entram em produção, a Agromais tem prevista a instalação de uma central de receção, secagem e transformação da noz para comercialização no mercado.

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concentrado. São duas coisas que fundamentalmente tem diferenciado a produção dos produtores da Agromais: primeiro, trata-se de um grupo de agricultores altamente profissionais e especializados – passámos, nos últimos 20 anos, de cerca de 120 produtores para 15 ou 16, mas que fazem quase quatro vezes mais área e produção do que se fazia naquela altura. Temos aqui uma mais-valia muito grande; em segundo lugar, são agricultores que, na sua maioria, são proprietários de terra, o que lhes permite cuidar da cultura e olhar para a mesma numa perspetiva de sustentabilidade de médio e longo prazo. E isso reflete-se na qualidade do produto que sai destas explorações. RA - Uma das apostas recentes é a plantação de nogueiras. Qual o papel da Agromais? JN - A Agromais verificou que muitas áreas de produção, em tempos idos, tinham sido de olivais e passaram milho, embora com produtividades mais baixas porque estamos a falar em cotas mais AGROTEJO união agrícola do norte do vale do tejo

elevadas, menos aptas para produção de milho. As baixas produtividades e os atuais preços, em baixa, tornam a cultura pouco interessante. Face a esta conjuntura e tendo em conta o crescimento do consumo de frutos secos em Portugal e no mundo, a Agromais identificou as nogueiras como um cultivo permanente e estratégico para esta região.

“A concentração da oferta foi desde sempre o grande objetivo da Agromais e vai continuar a ser.” Estas árvores sempre fizeram parte da paisagem do campo porque todas as propriedades tinham, perto de um poço ou de um furo, uma nogueira, o que é sinal de que as nogueiras se dão muitíssimo bem nesta zona. Aquilo que mais nos entusiasma é o potencial de cres-

RA - A produção de milho pipoca tornou-se um projeto emblemático. Como foi este trabalho? JN - É um projeto interessantíssimo em termos da sua execução. O início foi em 2012 e resulta de um somatório de interesses de vários intervenientes, um deles a cadeia de cinemas NOS. Queriam que uma organização em Portugal produzisse milho de pipoca. Fomos abordados, através de uma empresa de consultoria, e delineamos um projeto para produção de milho pipoca em Portugal. Iniciámos com campos de ensaio, nos quais semeámos variedades que na altura não eram produzidas em Portugal. Com o conhecimento que temos na produção de milho, facilmente identificámos as melhores variedades para o milho pipoca. Passados dois anos, em 2014, já estávamos como fornecedores exclusivos da NOS Portugal. Hoje em dia continuamos a ser fornecedores exclusivos e já estamos a abastecer empresas que transformam milho pipoca em Portugal para a grande distribuição. O próximo passo é a internacionalização porque achamos que o produto é diferenciado pelas condições de clima e de sol que temos em Portugal. Todos os testes feitos ao longo destes anos mostram sempre que o nosso milho tem características diferenciadoras relativamente ao que é produzido noutras regiões do mundo. Participámos numa feira internacional, mais concretamente numa convenção de cinema em Barcelona, onde estavam reunidas as grandes cadeias de cinema europeias. Esta presença provou-nos que há boa recetividade e um potencial enormíssimo para conseguirmos abastecer outros países. É esse o nosso objetivo: dar passos em concreto para


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podermos incrementar a nossa produção. Neste momento, produzimos cerca de 700 toneladas de milho, mas temos condições para duplicar, ou mesmo triplicar, a produção sem qualquer problema. Seguramente, é isso que vamos fazer. RA - Qual a importância que este projeto aporta para a região e para a empresa? JN - Para nós é extremamente importante porque é mais uma alternativa para os agricultores. Se no milho convencional já procuramos especialidade, o projeto de milho pipoca é exatamente a mesma coisa, permitir que os nossos agricultores tenham mais uma alternativa numa especialidade. Embora com plantas mais exigentes que o milho convencional e com uma produção por hectare bastante menor, tem mais-valias. Isto é o que nos interessa: abrir mercados e criar novas alternativas aos agricultores.

RA - A Agromais tem um carácter social muito vincado, participando e organizando diversas atividades. Qual a relevância da responsabilidade social para uma empresa como a vossa? JN - Qualquer empresa tem de ter essa preocupação. Dentro daquilo que é possível fazer e no enquadramento em que estamos, entendemos que havia mar-

“A Agromais tem prevista a instalação de uma central de receção, secagem e transformação da noz para comercialização no mercado.”

gem para fazer qualquer coisa. E mais uma vez os agricultores são uma peça fundamental neste projeto porque é a partir dos campos dos agricultores que avançámos com a iniciativa Restolho – Um segunda colheita. Trabalhadores de empresas, de várias áreas de atuação e locais do país, voluntariam-se para colher o que fica no campo por não cumprir as especificações estabelecidas pela indústria de transformação, mas que é válido para consumo. Os voluntários organizam-se, fazem um dia de campanha no campo no qual recolhem o produto – batata, cebola, pimentos, brócolos… a cultura que estiver nessa data disponível para ser colhida – e a Agromais trata da logística de entregar a colheita nos bancos alimentares da região. Todos os anos conseguimos mobilizar centenas de voluntários e colhemos umas toneladas de produto que vão minorar as carências de algumas famílias.

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