O potencial florestal no norte do vale do tejo

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JOAQUIM Pais de Azevedo EMPRESÁRIO AGRÍCOLA

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| Sendo esta área maioritariamente de Charneca, interessa realçar a espécie mais nobre e que encontra aqui o seu habitat de excelência - o Sobreiro. Portugal é o país detentor da maior área a nível mundial de sobreiro e o maior produtor de cortiça, onde o binómio quantidade e qualidade é elevadíssimo. Os montados são, hoje em dia, muito mais do que meros produtores de cortiça, apesar de ser esta a sua vocação principal e até natural. São povoamentos de uma enorme biodiversidade, com uma fauna e flora de características mediterrânicas. É um sistema caracterizado pela sua multifuncionalidade, que associa de forma harmoniosa as produções arbórea, pastoril em sub coberto, numa conjugação quase perfeita, desde que se promova o equilíbrio entre elas. Estas atividades, fixam gentes nos Montes e tor-

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O Norte do Vale do Tejo tem um elevado potencial florestal nas espécies mais representativas do nosso País, como é o caso do Sobreiro, Eucalipto, Pinheiro manso e Pinheiro bravo.

nam a floresta mais humana, o que revela de extrema importância na situação atual. Nunca é de mais alertar, para a manutenção do equilíbrio neste sistema, sob pena de, por destruição do suporte principal, o sobreiro, danificar-mos o próprio sistema.

SOBREIRO Excessiva proteção legislativa trava investimento Nas últimas duas décadas tem-se verificado uma intensificação desta produção, na tentativa de aumentar, não só, quantidades, como, qualidades, recorrendo a novas técnicas culturais tais como: o aumento de densidades, fertilização, formação das árvores futuras, controlo da vegetação espontânea com recurso a alfaias que não mobilizem o solo, promovendo uma maior


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conservação do mesmo e instalação de pastagens bio diversas, que são simultaneamente incrementadoras da fertilidade dos solos e sequestrastes do carbono. Contudo, apesar destas técnicas promotoras de um bom e são montado, tem-se verificado uma evolução negativa, em área, no período de 1995- 2010, mesmo com uma legislação que a protege. Esta excessiva proteção poderá ser a causa pela qual um gestor florestal não investe em novas áreas. Logo que a terra seja classificada em montado e, enquanto a atual legislação se mantiver, não mais se poderá efetuar a sua reconversão, ficando “ hipotecada “ para uso de outras produções. Como defensores do Montado de sobro, preocupa-nos a atual regulamentação. O montado de sobro terá sempre lugar, em situações onde os solos permitam produzir cortiça de qualidade superior e não condicionem a sua vida produtiva.

EUCALIPTO investimento de recuperação rápida e procura crescente Outra espécie de elevado potencial nesta área é sem sombra de dúvidas o Eucalipto. Esta espécie proporciona rendimentos por hectare em áreas onde as restantes opções florestais não são capazes de a suplantar. Longe vão os tempos em que o Eucalipto tinha uma imagem nefasta e negativa, apontado como responsável por degradar os solos e destruir os recursos hídricos. Hoje em dia essa ideia está ideia completamente a abandonada, sendo o Eucalipto uma espécie em expansão, devido à sua elevada rentabilidade e procura no mercado, apesar de uma legislação restritiva. O nosso eucalipto (Eucalyptus globulus) está na origem de uma das melhores pastas de papel do mundo, em condições edafoclimáticas adequadas à sua produção, tendo para o efeito e, a jusante, uma indústria de pasta de papel dotada de técnicas de topo e com dimensão para absorver toda a madeira produzida a partir do Eucalipto em Portugal. Portugal é deficitário nesta matéria-prima, obrigando a indústria de papel a importá-la, muitas vezes de qualidade inferior e a preços superiores. Na nossa área de influência, temos possibilidade de aumentos de produção e expansão de áreas, através do crescimento das produtividades nas áreas instaladas e pelo aproveitamento de áreas incultas, contribuindo para o aumento da rentabilidade das explorações e diminuição o peso das importações.

«O montado de sobro terá sempre lugar em SITUAÇÕES ONDE os solos permitam produzir cortiça de qualidade superior e não condicionem a sua vida produtiva»

O eucalipto, quando comparado com as outras espécies aqui tratadas, é aquela que melhor rentabilidade pode dar ao gestor florestal e cuja recuperação do capital é mais rápido. A indústria que está por detrás desta espécie, com as suas políticas de I & D, tem contribuído para uma melhoria no potencial produtivo das plantas utilizadas que, associado a novas técnicas culturais, se traduzem em superiores rendimentos por hectare. É uma espécie que reage muito bem a regas localizadas (gota-a-gota), podendo ser uma opção para situações pontuais, como por exemplo sistemas de rega já instalados ou aproveitamento de águas da chuva quando armazenada (barragens). Com a ajuda da rega e fertirrigação, as produções podem duplicar e as rotações serem mais curtas. No entanto, a água como recurso natural, devera ser utilizada com regra e eficiência.

PINHEIRO MANSO pinhão com elevado valor de mercado A espécie que sofreu um crescimento notável em área foi o Pinheiro manso. Dada a sua plasticidade, rusticidade e adaptabilidade a diferentes tipos de solo, bem como às elevadas características nutricionais do nosso miolo de pinhão (Pinos pínea), que se traduz em elevados preços de mercado, esta é uma espécie de excelência a ter em consideração para esta área. Com a utilização de recentes técnicas culturais, como a enxertia, consegue-se antecipar a entra-

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da em produção das árvores, diminuindo o período de recuperação do capital investido, podendo, ao fim 6-10 anos de idade, começar a produzir. Contudo, ainda não se conseguiu anular os anos de safra e contra safra, que se traduzem em irregulares produções e consequentes irregulares rentabilidades. Mais recentemente, o inseto sugador Leptoglossus occidentalis tem sido responsável por quebras de rendimento de pinha em miolo de pinhão. Estas duas condicionantes deverão ser objeto de estudo e investigação, de modo a que no futuro se consiga minimizar ou anular o seu impacto negativo.

Também aqui, a rega localizada, poderá ser um fator diferenciador, contribuindo, tal como noutras culturas florestais para melhores e mais uniformes produções. Ainda não existem dados científicos que provem esta teoria, estando neste momento a serem realizados ensaios de campo. A recente candidatura a uma denominação de origem protegida (DOP) do Pinhão de Alcácer leva a crer ser mais um fator diferenciador do nosso pinhão, protegendo-o e valorizando-o.

«O eucalipto é a espécie que melhor rentabilidade pode dar ao gestor florestal e cuja recuperação do capital é mais rápido»

PINHEIRO BRAVO minifundio e nemátodo condicionam investimento Por fim, o Pinheiro bravo, que ocupa fundamentalmente a área a norte do rio Tejo. Aqui, prolifera o minifúndio, que se traduz numa condicionante à sua gestão, provocando inúmeras vezes, o abandono das explorações. Esta realidade tem contribuído para a expansão do nemátodo, associado a um elevado risco de incêndio. Em nossa opinião e, enquanto estas condições não forem invertidas, o Pinheiro bravo é a espécie com potencial inferior.

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ESPAÇO PARA GRÁFICA PERSISTENTE

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Estes factos estão espelhados na evolução desta espécie no período entre 1995-2010, onde se verificou uma quebra de cerca de 27 % em área. Os Sistemas Agroflorestais também podem ter aqui um papel importante, contribuindo, simultaneamente, para produções diversas, enobrecendo as paisagens e ambientes envolventes.

Certificação Florestal – privilegiada no PDR 2020 Não podemos terminar, sem abordar o Sistema de Certificação Florestal, transversal a todas estas produções. Dignifica o sistema produtivo, contribuindo para a sua sustentabilidade, tem elevadas preocupações e responsabilidades nos campos sociais e ambientais. O Grupo Achar Sgf, cuja entidade gestora é a Achar, Associação de Agricultores da Charneca, é responsável por uma área certificada de cerca de 30 147 ha, distribuídos por 64 % de Montado de Sobro; 14 % de Eucalipto; 5,5 % de Pinheiro manso; 4,5 % de Pinheiro bravo e 7,8 % de outras espécies. A certificação florestal confere uma abordagem ao mercado num patamar superior, com valori-

«A certificação florestal confere uma abordagem ao mercado num patamar superior »

zação dos produtos, promovendo uma imagem de gestão responsável. Cada vez mais este sistema é diferenciador, assistindo-se a uma procura crescente para produtos certificados, sendo um sistema privilegiado no atual PDR 2020. É, por assim dizer, um sistema a ter em consideração na produção florestal. FONTES: Unac- União da Floresta Mediterrânica; Rita Costa e Isabel Evaristo (INIAV), apresentação no Seminário Valorização da Fileira da Pinha/Pinhão (UNAC-Alcácer do Sal, 28 de Março de 2014); Achar – Associação da Charneca; Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação.

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