TERRÆ·FORMÆ - a grande escala

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TERRÆ·FORMÆ

fevereiro 2022

grande escala | grande échelle

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Índice Index NO INÍCIO 03 04

Equipa A equipa e agradecimentos Editorial Breves palavras para abertura

CENÁRIOS PÓS-INDUSTRIAIS 04 05 06

Da Outra Margem O cais do Ginjal e o cais da Margueira Minas de S. Domingos Velhas matérias, novos usos Vácuo em Matosinhos O futuro incerto da refinaria

PATRIMÓNIO VIVO 07 08

Mata Nacional dos Sete Montes Lugar dos Sete Montes O Sítio Roberto Burle Marx

PROJETOS NA PAISAGEM 09 10

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Le Parc André-Citroën Paris (fr) (In)conspícua Ensaio sobre a inserção sublime na paisagem


Equipa Equipe Adriana Grifo

(Carvalhal, Grândola) é engenheira agrónoma, licenciada e aluna do Mestrado em Arquitectura Paisagista da Universidade de Évora. Colaborou com alguns projetos na área de produção vitícola e produção de plantas ornamentais. Atualmente colabora num projeto que reúne a produção agrícola em modo de produção biológica e a regeneração de habitats em áreas protegidas, e em projetos de construção e manutenção de jardins.

André Amado Paulo (Póvoa de Varzim, Por-

to) é licenciado em Arquitetura Paisagista pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e frequenta o Mestrado em Arquitetura Paisagista na Universidade de Évora. Foi colaborador do Jardim Botânico do Porto.

António Ribeiro Castro (Felgueiras, Porto)

é licenciado em Arquitectura Paisagista pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e frequenta o Mestrado em Arquitectura Paisagista da Universidade de Évora.

Joana

Morganheira (Montemor-o-Novo, Évora) é licenciada e frequenta atualmente o Mestrado em Arquitetura Paisagista na Universidade de Évora. João Junqueira (Vila Nova de Gaia, Porto) é li-

cenciado em Biologia e Arquitectura Paisagista pela Universidade do Porto. Atualmente aluno do Mestrado em Arquitectura Paisagista da Universidade de Évora. Colaborador do Jardim Botânico do Porto, onde fez divulgação de ciência e voluntariado.

Mathilde Desserez (Mont-de-Marsan, Fran-

ce) actuellement en master de Paysage à Bordeaux et en Erasmus à Évora pendant le premier semestre. Diplomée d’un brevet de technicien supérieur en design d’espace à Toulouse en 2019.

Rita Rebelo

(Alenquer, Lisboa) é licenciada e frequenta atualmente o Mestrado em Arquitectura Paisagista na Universidade de Évora. Estagiou na câmara municipal de Alenquer.

Susana Mendes Silva

(Lisboa) é artista plástica, performer e professora auxiliar na Universidade de Évora/DPAO onde leciona Estudos Visuais no Mestrado em Arquitectura Paisagista. Estudou Escultura na FBAUL e frequentou o programa de doutoramento em Artes Visuais (Studio Based Research) no Goldsmiths College, Londres, tendo sido bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É doutorada em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, com a tese baseada na sua prática performativa – “A performance enquanto encontro íntimo”.

Tarsila Sena (Salvador, Bahia) é arquitecta ur-

banista, especialista na gestão e planeamento de obras, atualmente aluna do Mestrado em Arquitectura Paisagista da Universidade de Évora. Trabalhou na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano na cidade de Salvador, atuando como analista técnica de projetos e legislação para licenciamento urbanístico. De momento presta assessoria para o setor privado.

Leonor Almeida (Lisboa) concluiu a licencia-

tura em Biologia na Universidade de Lisboa e posteriormente um MSc (Master of Science) em Biologia da Conservação na University of Kent, na Cantuária. Fez investigação, trabalhou como assistente e responsável de projetos de ecologia e conservação. Atualmente trabalha como mediadora cultural e frequenta o Mestrado em Arquitectura Paisagista na Universidade de Évora.

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à avó Josefina, pela atenção a tantas linhas e gatafunhos ao Iúri, pelas fotos transatlânticas sobre a lagoa à Susana, pelo convívio e o desafio que foi desenvolver esta revista

aos Leitores, pelo tempo dedicado a cruzar estas páginas

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EDITORIAL TERRÆ FORMÆ surge como resultado do trabalho final da disciplina de Estudos Visuais do Mestrado em Arquitetura Paisagista da Universidade de Évora. Aliámos a todos os processos, para nós até então desconhecidos, da produção de um formato de magazine, as nossas vivências, ideias e apreciação sobre vários locais, obras e paisagens situados maioritariamente em Portugal, mas passando também por França e pelo Brasil. Tomámos como ponto de partida o tema da Grande Escala e das várias formas que esta pode assumir – seja ela a (não) problemática da implantação de edifícios em paisagens monumentais; a evolução e intervenção sobre complexos pós-industriais ou extensas áreas urbanas e o papel central que a sua conversão em espaços verdes assume na cidade onde se encontram. Em suma, debruçámo-nos sobre obras e questões de impacto paisagístico que nos marcaram e chamam a atenção, trabalhos exemplares, inspiradores, mas também situações onde o espaço à espera de intervenção faz imaginar possíveis futuros que lhes façam justiça e que potenciem novas experiências. Vivemos num tempo em que as questões paisagísticas e a forma intrincada como afetam a vida humana e não humana estão cada vez mais em discussão. Importa por isso expor as obras que impactuam positivamente o espaço e que poderão servir de exemplo para as gerações futuras. É de igual importância sensibilizar o leitor para as situações que exigiriam uma reflexão e trabalho mais aprofundado por parte de paisagistas e arquitetos.

Propomo-nos, assim, com os exemplos que selecionámos, a contribuir para uma reflexão por parte do leitor sobre o papel e o impacto da intervenção humana na paisagem à Grande Escala. Terminamos com um agradecimento, pelo tempo dedicado a passar os olhos nesta assemblage de artigos, ensaios e opiniões, e esperamos que, tal como a nós, este passeio o envolva nas suas narrativas e lhe fale, trazendo à luz algumas questões e obras que julgamos merecedoras de contemplação e reflexão.

amavelmente, a equipa

mas mais à Leonor e o João, pelo trabalho hercúleo que foi sumariar habilmente tudo isto

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Da Outra Margem por Rita e Leonor

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O futuro dirá que dinâmicas, impactos e novas oportunidades estes projetos trarão à cidade e às paisagens da margem Sul do Tejo.

Deslocamo-nos no sentido poente nascente na frente ribeirinha da margem Sul do Tejo. Ao longo desta caminhada há elementos inescapáveis, que exigem a nossa atenção pela sua dimensão e beleza. O rio Tejo e a luz que recorta a cidade de Lisboa na margem Norte formam uma paisagem marcante. Falaremos de dois locais específicos da zona ribeirinha da cidade de Almada emblemáticos no imaginário e vivências da “Margem Sul”. São estes o Cais do Ginjal e o Cais da Margueira. Une-os o passado industrial, o presente estado de degradação e o abandono urbanístico. Partilham ainda serem foco de um crescente interesse imobiliário pela sua localização privilegiada, a proximidade da capital e vistas amplas e apetecíveis sobre Lisboa. Tudo indica que, após numerosos compassos de espera, avanços e recuos, os projetos de reabilitação urbanística entraram finalmente em curso. Estes prevêem-se de grande importância para Almada e sua envolvente.

O Cais do Ginjal na primeira metade do século XX - Indústria e travessia do Tejo

Na primeira metade do século XX o Cais do Ginjal funcionava como um importante porto comercial e zona industrial. Indústrias conserveiras, abastecimento de água aos navios, armazéns de vinho, azeite e vinagre e tanoarias davam vida ao Ginjal. Apesar de ter albergado trabalhadores e até alguns artistas da época como foi o caso do dramaturgo almadense Romeu Correia, esta área nunca foi propriamente uma zona habitacional mas sim um local dedicado à indústria e a trocas comerciais Ainda em finais do século XIX, foram, por exigência do Município de Almada, os investidores privados ligados a essas indústrias os responsáveis pela construção do cais em frente aos terrenos onde instalaram as fábricas e armazéns que suportavam as suas atividades.

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(2)Imagem histórica do Cais do Ginjal (3) Armazéns abandonados (4) Pormenor de grafitis num dos armazéns (5) Vista sobre Lisboa


O presente não é feito apenas de abandono Pela sua localização privilegiada, que se estende entre o miradouro de Olho de Boi e o cais de embarque de Cacilhas, no Cais do Ginjal, conseguimos observar todos os monumentos que são também os marcos paisagísticos da cidade de Lisboa. Ao direcionarmos o nosso olhar para Poente vemos a Ponte 25 de Abril que, além de aproximar diariamente a vida das duas margens do rio Tejo, é também moldura da sua foz. Esta vista panorâmica abrange uma larga extensão desde a Torre de Belém até Santa Engrácia, passando pelo Terreiro do Paço e o Castelo de S. Jorge. A nossa imagem coletiva de Lisboa enquanto paisagem está aqui sumarizada, ao longo dos quase mil metros de caminho empedrado percorridos no Cais do Ginjal.

Após o declínio industrial e consequente abandono dos espaços dedicados a estas actividades, esta área foi durante décadas um local de pouca afluência. Este abandono foi apenas atenuado pela atividade de restauração em Cacilhas, a associação “Floresta do Ginjal” (onde existia uma discoteca e também ocorriam bailes) e no extremo oposto do Ginjal, com o restaurante “Atira-te ao Rio”. Encontravam-se nesta altura no Cais do Ginjal transeuntes ocasionais e os poucos pescadores artesanais que persistiram na sua atividade.

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O cenário é hoje diferente. Os edifícios estão há muito devolutos e alguns em risco de derrocada mas, ao longo dos anos, as paredes dos armazéns abandonados encheram-se de grafittis que são motivo de visita. Nos anos recentes o Cais do Ginjal povoou-se de turistas, desportistas amadores e Almadenses. Mesmo num dia de semana já não encontramos um passeio vazio. Apesar do evidente estado de degradação e necessidade de intervenção, inclusive por questões de segurança, o Cais do Ginjal não perdeu encanto. Encontramo-nos num sítio em suspenso, à beira do Tejo, que tal como os últimos pescadores à linha que por aqui se encontram vão resistindo na sua ligação ao rio. 4 5

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Um projeto de requalificação há muito aguardado Após tentativas frustradas, que remontam aos 1990s, de dar início à requalificação do Cais do Ginjal, em Janeiro de 2021 foi finalmente publicado em Diário da República o plano de pormenor para estes mais de 90.000 m2 de área bruta de construção. O plano é da responsabilidade do arquitecto Samuel Torres de Carvalho e afirma ter como objectivo: “a requalificação, recuperação e revitalização do Cais do Ginjal, assente na manutenção do caráter e das particularidades espaciais existentes, nomeadamente as proporções volumétricas da primeira linha de fachada, preservando a sua memória histórica e a sua lógica construtiva, privilegiando a recuperação dos edifícios da frente ribeirinha e favorecendo o usufruto do rio pela população”. Para além da elevação e recuperação do cais que visam fazer cumprir o propósito de lazer e ligação ao rio, o plano determina que todas as construções que constituem a fachada do Ginjal e edificado do século XIX sejam mantidas. Já a área onde se encontravam os edifícios construídos no século XX e que acabaram por ruir será transformada em espaço público. Está ainda projetada uma segunda linha de construção que servirá também a função de estabilização da arriba. Concretamente estão projetados 300 fogos e a construção de um silo de estacionamento para mais de 500 veículos. Relativamente à criação de espaços públicos a requalificação prevê a criação de uma praia, de um jardim e de um miradouro. Pretende-se também instalar a Escola Internacional de Arte na antiga fábrica de óleo de fígado de bacalhau, relocalizar a Casa da Juventude e o Centro Paroquial de Almada para o Ginjal. Finalmente, estão ainda contemplados espaços culturais de restauração e hotelaria. Segundo a atual presidente da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros, a par do desenvolvimento turístico e da dinamização cultural e patrimonial, existe de facto o plano de transformar parte do Ginjal em área de habitação. Coloca-se a questão: quem poderão vir a ser os novos habitantes do Ginjal e de que forma a especulação imobiliária que se faz sentir na vizinha Lisboa influirá neste espaço? Provavelmente, contrastando com os antigos trabalhadores e pescadores locais, estes serão habitantes de classe média alta.

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O Cais da Margueira- Antigos estaleiros da Lisnave

Seguindo para além do cais de embarque da Transtejo em Cacilhas chegamos ao Cais da Margueira. Este local albergou uma das principais empresas nacionais de construção e reparação naval, a Lisnave. Estando a sua origem ligada ao grande grupo industrial da CUF que detinha a concessão do Estaleiro Naval da Administração Geral do Porto de Lisboa, a Lisnave foi constituída em 1961 com o intuito de trazer a Portugal um avanço a nível tecnológico que reforçasse a experiência na construção e reparação naval e permitisse competir no mercado internacional. Em 1971 foi inaugurada a “Doca 13” a maior doca seca do mundo preparada para receber navios de até 1 milhão de toneladas. Aí foi instalado o enorme pórtico vermelho de 300 toneladas e 65 metros de altura, desde então um elemento marcante na paisagem e identidade almadense, assim como das vistas da cidade de Lisboa para a margem Sul.


A empresa foi um fator transformador da cidade de Almada e promotora do seu crescimento tendo chegado a empregar mais de 10 mil trabalhadores, uma das maiores concentrações operárias do país. Foi também palco de inúmeras lutas laborais que marcaram o país no período pós-revolucionário e mais tarde nos anos 1990. Durante mais de 30 anos estes terrenos foram ocupados por um dos mais importantes estaleiros de construção e reparação naval a nível mundial. O Estaleiro da Margueira encerrou no último dia do milénio a 31 de dezembro de 2000 mudando as suas operações para os Estaleiros da Mitrena, em Setúbal.

Vestigios de passado e perspetivas de futuro Passaram 22 anos desde a desativação dos estaleiros da Margueira e os 63 hectares de terreno que durante décadas assistiram ao bulício da construção e reparação de navios estão hoje silenciosos. Nos edifícios e nos cais crescem frestas e ervas daninhas, mas permanece o gigantesco pórtico, símbolo do passado industrial naval e da sua dimensão. O cenário é desolador e antigos trabalhadores não escondem a tristeza que lhes provoca o estado de degradação e abandono do local. Atualmente encontram-se embarcações desativadas da Marinha e naquela que foi a maior doca seca do mundo, a “Doca 13”, apenas atracam alguns dos barcos da Transtejo.

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Mas estes espaços abandonados também se prestam a ser locais onde a criação e a experimentação encontram um palco mais livre de constrangimentos.

(6) Maquete do plano de pormenor do Cais do Ginjal (7) Imagem histórica do Cais da Margueira (8) In‐ terio de armazens da Lisnave (9) Pórtico Doca

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Aqui, para além da arte urbana mais espontânea, já tiveram lugar obras comissionadas de grandes dimensões. Foi este o local escolhido por Alexandre Farto mais conhecido por Vhils para realizar em 2014 um filme de arte, “Raised by Wolves”, encomendado pela banda U2. Nas palavras de Vhils em entrevista ao Diário de Notícias “ ‘Raised by Wolves’ tem muito que ver com a ideia da maneira como tu és afetado pelo meio onde cresces”.E Alexandre Farto cresceu na Margem Sul. Não surpreende então que tenha escolhido a Lisnave e as suas paredes para de forma explosiva retirar camadas e atribuir novos significados à ruína. Aproveitou o potencial deste cenário urbano precisamente por não lhe ser alheio. TERRÆFORMÆ — 9


Almada Almada Lisboa à vista! Apesar das intenções e interesse de vários atores em revitalizar o Cais da Margueira este processo tem-se revelado complicado e moroso. Os constrangimentos são criados por questões administrativas tais como a titularidade dos terrenos e o investimento necessário à eliminação dos passivos históricos ambientais. Promovido pela Baía do Tejo, uma empresa pública criada em 2009 para gestão do Parque Empresarial da Margem Sul, nasceu o projecto Lisbon South Bay. Este conta com o envolvimento das Câmaras Municipais de Almada, Barreiro e Seixal e tem em vista a requalificação, desenvolvimento e promoção de territórios na margem Sul do rio Tejo propondo-se a convertê-los na “Baía Sul de Lisboa”.

Este não constitui o primeiro plano de transformação para os antigos estaleiros, mas sim o terceiro. Entre o projecto de Manuel Graça Dias, apelidado de “Manhattan de Cacilhas” pela estatura dos arranha céus projectados, e a Cidade da Água, houve ainda um projecto da autoria do arquitecto Carlos Ramos. Apesar das diferenças, os planos partilharam a localização da marina, o aproveitamento da “Doca 13” para o terminal multimodal e a manutenção do grande pórtico com a inscrição da Lisnave. No entanto, as mesmas questões levantadas anteriormente voltam a assaltar-nos: que cidade será esta e para quem está a ser projectada? A denominação do projeto “Lisbon South Bay” não nos deixa indiferentes: porquê Lisboa? Se Lisboa fica na Outra Margem?

(10) Imagem do pórtico Lisbon South Bay (11) Pescador no Cais do Ginjal (12) Mural de Vhils na Lisnave

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Este projeto de grande escala propõe-se a requalificar três áreas ribeirinhas dando origem ao Parque Empresarial do Barreiro, ao Parque Empresarial do Seixal e à Cidade da Água em Almada, sendo esta última localizada nos terrenos dos antigos estaleiros da Margueira. O objetivo conjunto destes empreendimentos será o estabelecimento de novas empresas e negócios, estimulando o desenvolvimento económico e trazendo assim mais competitividade à área metropolitana de Lisboa. Especificamente para a Cidade da Água, o plano é ambicioso afirmando-se como um dos maiores projetos de reabilitação urbana na envolvência directa de Lisboa desde a Expo 98. O plano geral prevê a criação de espaços destinados à habitação, estabelecimentos públicos, turismo e serviços. Implicaria a construção de um novo terminal multimodal. Contempla ainda uma marina de recreio, um centro de conferências e um museu. 10 — TERRÆFORMÆ


Paisagens emocionais É inquestionável a importância da revitalização destas áreas urbanas devolutas e que foram em tempos sedes de maior importância e vitalidade para Almada e seus habitantes. A cidade e a sua população devem ser reaproximadas do rio Tejo, pois há já demasiado tempo que o tecido urbano se encontra desarticulado da frente ribeirinha. A transformação das áreas industriais abandonadas constitui uma oportunidade para o fazer. Fica o desejo manifesto de que esta transformação, ao ocorrer, seja acompanhada da sensibilidade necessária para incluir sem ferir a paisagem envolvente. E não esqueçamos que esta paisagem vai muito para além dos elementos naturais que a marcam, ela é indissociável das pessoas que estão na sua génese que, mesmo mudando a forma e o modo, nunca deixaram de a habitar senão física, emocionalmente.

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va para o povoamento de uma das regiões mais remotas e desabitadas do país, conduzindo ao nascimento de várias povoações, de entre as quais se destacam a aldeia de São Domingos, erigida junto à mina, que em poucos anos atingiu uma população de vários milhares de habitantes, e a aldeia do Pomarão, localizada junto ao porto fluvial, construído nas margens do rio Guadiana. Nos dias de hoje, o legado industrial da Mina de São Domingos vai cedendo à erosão do tempo com um impacto na paisagem envolvente, e completamente descontextualizado das típicas planícies alentejanas. Os espaços outrora de produção dão lugar a ru-

Minas de S. Domingos Velhas matérias, novos usos Por Adriana Grifo

Junto às margens do Guadiana, o território de Mértola foi palco de vários ciclos de exploração, entre a ocupação e o abandono. A exploração de minério na Mina de São Domingos remonta aos tempos da ocupação pré-romana e romana (Século I a.C. ao Século IV d.C.). Apenas em 1854 a Mina voltou novamente à atividade através da firma britânica Mason & Barry, e manteve-se ativa até 1966. A Mina de São Domingos constitui o primeiro empreendimento industrial e mineiro de grande dimensão em Portugal, com cerca de 80 hectares. A exploração mineira realizada pela empresa britânica contribuiu de forma decisi12 — TERRÆFORMÆ

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ínas que se vão desintegrando à medida que um novo ciclo se inicia. Ainda assim, a deslumbrante decadência do espaço provoca sensações e pensamentos sobre o que seria aquele lugar no auge da sua atividade. A Mina de São Domingos tem sido palco de diversas ações, nomeadamente a sua

(1)Achada do Gamo, antiga fábrica de enxofre de S. Domingos (2)Indicação de ruínas (3) Vista aérea (4) Casas dos mineiros (5) Corta e lagoa de águas ácidas (6)Pomarão (7) Antigo cais dos minérios

valorização como património mineiro e industrial. Essa valorização surge sob a forma de projetos com base na requalificação ambiental, através da drenagem das águas ácidas das lagoas, como a sua investigação em termos históricos e arqueológicos onde a arqueologia Industrial surge recentemente na busca de informação para dar resposta às questões identitárias de locais pós-industriais. (foto – última com a chaminé). A revitalização da Mina tem um papel fundamental na sociedade local, regional e também nacional porque representa um marco histórico e cultural importante. Como tal deve ser preservado, com o objetivo de dinamizar um território que se encontra desertificado e empobrecido, onde o turismo representa um setor de crescimento e valorização patrimonial com a colaboração de entidades locais, assim como Instituições Estatais relacionadas com o setor. Uma referência ao lugar será sempre indissociável da atividade industrial na sua génese, e a arquitetura subjacente revê-se em vários locais como sinal de mudança, de evolução com características muito próprias que se assemelha à situação presente da Mina de São Domingos. A era industrial foi um marco histórico que ligou vários locais através de uma relação de contemporaneidade, arquitectónica

e material com outros legados industriais por todo o Mundo. Um exemplo será, o Landschaftspark Duisburg-Nord, situado no vale do Ruhr, que emergiu de uma estratégia de revitalização e reestruturação programática e ambiental para a região (colocar vídeo - Landschaftspark Duisburg-Nord - YouTube). A siderúrgica Thyssen em DuisburgMeiderich, construída na escala majestosa da industrialização, viu a produção chegar ao fim em 1985. Ao mesmo tempo, iniciou-se um período de grande desenvolvimento, entre a renovação contínua e a necessidade constante de preservação, um espaço industrial abandonado tornou-se um es6

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paço com características muito próprias com a junção de paisagem natural e artificial. Em 1991, a equipa do arquiteto paisagista Peter Latz ganhou o concurso para o projeto de revitalização das antigas instalações da Thyssen Krupp Stahl. O princípio da sua proposta foi o de manter tanto quanto possível o pré-existente, com uma intervenção mínima. A proposta não procurava restabelecer a natureza pré-industrial, mas sim compreender a essência do lugar, lidando com os problemas in situ, protegendo a memória do passado na construção de um futuro. Não procurou musealizar os equipamentos industriais como relíquias estra-

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nhas e inacessíveis, mas sim salvaguardar o genius loci através da sua integração no esquema funcional do parque. A integração da comunidade teve um papel fundamental na revitalização do sítio, não só pelo apoio voluntário prestado na transformação do areal industrial, como também pela apropriação dos espaços existentes para novos usos. Peter Latz contraria deliberadamente a reação instintiva de criar distanciamento de lugares potencialmente perigosos, construindo uma nova imagem da paisagem pós-industrial. A distinção de outras intervenções análogas, começa com a proximidade entre o público e o património industrial,

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agora revalorizado e com um papel ativo na teia programática do parque. Numa perspetiva de aproximação, Landschaftspark DuisburgNord surge como o exemplo que melhor se relaciona com o contexto atual da Mina de São Domingos. A preservação da identidade do lugar, e a manutenção do préexistente, são pressupostos de grande importância na revitalização de um espaço que se quer valorizar. A minha visão para a revitalização da Mina de São Domingos, é a que preserva, respeita e valoriza enquanto espaço que permite a interação entre o artificial e o natural. A abordagem de Peter Latz lança um novo paradigma na interpretação e de áreas afetadas pela desindustrialização, tornando-as mais interessantes pela valorização e reinterpretação dos espaços para a atualidade em função das necessidades dos seus utilizadores. A sinergia de todos os intervenientes do espaço, quer seja o espaço físico com todas as suas camadas funcionais e de informação, quer sejam as pessoas que o animam e transformam, permite o seu funcionamento como um só organismo o que beneficia várias gerações ao mesmo que as inscreve na sua história. Ainda que o futuro projeto de revitalização da Mina se demore, existem já vários projetos associados ao espaço, salientando a sua energia própria onde se incluem habitantes e visitantes, promovendo assim uma forma de expressão e sensibilidade artística tendo como cenário a própria Mina. MALACATE assume-se como um projeto de intervenção artística multidisciplinar criado especificamente para a Mina de São Domingos promovido pela Companhia Cepa Torta em parceria com a Câmara Municipal de Mértola, ao abrigo do Programa EEA Grants – Connecting Dots – Mobilidade Artística e Desenvolvimento de Públicos.


Ainda associado ao desenvolvimento e promoção cultural e artística existem projetos a decorrer que englobam vários municípios do Baixo Alentejo, Futurama – Ecossistema Cultural e Artístico do Baixo Alentejo é um projeto com o objetivo de promover a coesão territorial, a descentralização da oferta cultural contemporânea, com a intenção de corrigir o desequilíbrio do seu acesso através de uma programação inspirada no capital cultural, natural e humano alentejano (Futurama Alentejo – Ecossistema Cultural e Artístico do Baixo Alentejo (futurama-alentejo.com). A crescente valorização da Mina, seja do ponto de vista ecológico, pelo valor patrimonial, ou pelo seu potencial turístico, representa neste momento uma dinamização à qual não se pode ficar indiferente. O desenvolvimento da região associado à Mina, poderá ser tão importante hoje como foi no passado. Arriscaria a dizer que poderá ser ainda mais… Pela desertificação da região, o projeto de revitalização da Mina, pela sua escala, magnitude e história será possivelmente um dos maiores pontos de interesse turístico, além de promover a valorização ambiental e paisagística do local. O grande contraste que existe entre a arquitetura industrial e a paisagem tipicamente alentejana confere-lhe uma identidade muito própria que não deve ser de todo, dissimulada

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(8)Edifícios em ruína e malacate (9) Antigas oficinas ferroviárias (10) Águas com metais pesados (11) Cais do minério (12) Apresentação do projeto MALACATE

com requalificações sem que tenham respeito pelo que espaço que foi outrora. A tal decadência confere-lhe um carácter especial, tão especial e único que deve ser ele o pressuposto a manter. As Minas provavelmente não voltarão a laborar, então o que nos ficará será toda a imagem que pudermos conservar, para que a história se possa contar sempre que se visitar as Minas de São Domingos, um local de velhas matérias que aguarda novos usos.

12 MALACATE https://www.eeagrants.gov.pt/pt/programas/ cultura/projetos/projetos/malacate/ (eeagrants.gov.pt). http://fundacaoserraomartins.pt/ para agendar visita guiada https://www.youtube.com/ watch?v=tWL-w-IO-hc

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UM VAZIO EM MATOSINHOS Por André Amado Paulo

Em Matosinhos, mais precisamente na freguesia de Leça da Palmeira, podemos encontrar a refinaria que em tempos próximos foi um marco socio-económico para o concelho e também para a área metropolitana do Porto. Esta localização privilegiada pela proximidade do mar é também uma zona bastante populada e que partilha o solo municipal com outros serviços importantes, onde se incluí um hospital. A 21 de dezembro de 2020, a Galp, empresa à qual pertence a refinaria, anunciou o encerramento da mesma, justificando esta decisão na ausência de procura gerada pela pandemia e numa “aceleração” da transição energética. Mais de um ano após esta decisão, a Faculdade de Economia da Universidade

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Enormes estruturas de betão e metal erguem-se no ar, demonstrando a dimensão do complexo fabril. Tudo para lá das vedações parece não pertencer à escala humana, especialmente agora que está desocupado.


do Porto efetuou um estudo acerca dos impactos do fecho da refinaria no tecido socio-económico do território, demonstrando que representa uma queda de cerca de 5 pontos percentuais no PIB1 de Matosinhos e uma redução de 1600 postos de trabalho no concelho, tendo um impacto negativo de 1% no PIB da área metropolitana do Porto, caso não seja dado destino ao complexo petroquímico. Após este período é legítimo questionar o que vai acontecer a este espaço, para o qual, até à data de edição deste artigo, ainda não há uma resposta conclusiva. Este é o novo vazio da região, as possibilidades de futuro são quase infinitas para aquele que era um dos complexos industriais de maior envergadura em Portugal. À primeira vista, a única possi-

bilidade que parece altamente improvável de acontecer é simplesmente apagar todo o equipamento fabril que se encontra naquela área, algo tremendamente custoso, já que o desmantelamento de uma refinaria exige cuidados e procedimentos meticulosos para evitar que a carga poluente se disperse acidentalmente. A solução terá de passar por um plano criativo e engenhoso que integre uma análise da situação existente que vá para lá dos muros da refinaria e tenha em conta a área envolvente, pretendendo uma articulação multifacetada que tencione participar no desenvolvimento da economia regional.

Esta cidade do petróleo conviveu em tempos com a própria cidade, mesmo sabendo que nem sempre a sua relação foi pacífica.

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Mata Nacional dos Sete Montes Lugar dos Sete Montes Por Joana A Mata Nacional dos Sete Montes, vulgarmente conhecida como o pulmão verde da cidade de Tomar, distrito de Santarém, é a antiga sede da Ordem dos Cavaleiros Templários. Um lugar inigualável com cerca de 39 hectares onde se incluem monumentos, jardins e floresta, encontra-se entre o Convento e Castelo de Cristo e a Avenida Dr. Cândido Madureira fazendo ligação com o centro histórico da cidade. Apresenta distintos elementos patrimoniais como o Convento de Cristo e o Castelo de Cristo, a janela do capítulo, o tanque da cadeira D' El Rei, a fonte da Gruta, a fonte dos jardins, a Charolinha, o aqueduto do Convento de Cristo.

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Existem diversos percursos com diferentes características para percorrer este espaço. Em termos de vegetação arbórea caracteriza-se por ser diversificada, constituída maioritariamente por oliveiras centenárias, olaias, carvalhos, pinheiros mansos, pinheiros bravos e ciprestes. Tem tido diversos nomes ao longo da história, inicialmente, denominada como o “lugar de setes montes e sete vales», também já foi chamada de “cerca do convento”, “quinta dos sete montes”, entre outros. Encontramos referências desde o século XIV, em 1490 surge referência aos espaços verdes (matas, vales, olivais e terras agrícolas) que rodeavam o Convento de Cristo, posteriormente,

no século XVI, durante o reinado de D. João III foram compradas. Em 1838 foram adquiridas por António Bernardo da Costa Cabral, Conde de Tomar e Ministro do Reino, depois em 1936 retomaram, por fim, à posse do Estado, sendo aqui transformadas num campo experimental hortícola. Em seguida, em 1938 foi transformada em Parque Nacional. Por fim, em 1986, foi integrada no Serviço Nacional de Parque, Reservas e Conservação da Natureza, passando a ser denominada de «Mata dos Sete Montes» No passado, essencialmente era utilizada pela Ordem de Cristo como um espaço de cultivo e recolhimento. Atualmente, destina-se ao usufruto da população.


Em dezembro de 2010, o concelho de Tomar sofreu consideráveis estragos resultantes de um tornado. Na mata concentraram-se especialmente na vertente poente. Foram realizadas consideráveis restaurações recentemente, nomeadamente, a casa do guarda, as instalações sanitárias e a charolinha. Assim, a casa do guarda passou a ter um lugar de destaque começando a acolher o centro de monitorização e ambiental. A Charolinha, construída no séc. XVI, é elemento marcante da autoria de João de Castilho, autor responsável por diversas obras no Convento de Cristo, foi restaurada recentemente. É um templo de pequena dimensão, composto por uma torre cilíndrica em pedra e rodeada por um tanque circular, que "a faz parecer isolada do mundo" (Barbosa, 2003). 3

Encerram no seu seio, um extenso valado que desce de poente para nascente, até à várzea do rio.

Barbosa, 2003

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A Charolinha foi restaurada, entre Outubro de 2015 e Julho de 2016, no âmbito de um protocolo com o Instituto Politécnico de Tomar, nomeadamente, na área da conservação e restauro. Esta intervenção foi autorizada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, enquadrando-se espacialmente na estratégia do município de valorização do património histórico e paisagístico. O principal objetivo foi cessar os processos de degradação e alteração consequentes do passar do tempo. Esta unidade de Paisagem tão especial é constituída por um maciço montuoso um "sistema de morros colinares de relevo acentuado, que se desenvolvem em forma de ferradura, partindo, junto às várzeas do rio de norte para poente, para depois inflectirem para sul, e virem de novo findar nas várzeas ribeirinhas” (Barbosa, 2003).

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Segundo Barbosa (2003) a mata é «um oásis de verdura» proporcionando ao visitante um contacto íntimo com a natureza. Por se manter o «lugar dos sete montes» mesmo com a transformação que tem existido na paisagem, pela sua densidade e diversidade de vegetação comparativamente à sua envolvente que é composta maioritariamente por culturas de sequeiro. Na minha opinião, a Mata é uma intervenção que valoriza a paisagem e a cidade, juntamente com a forma do rio Nabão e o conjunto de património tornando a cidade única. A casa do guarda apresenta um papel indispensável, pois contém informação his-

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tórica, bem como uma área multifuncional apta a realização de ateliês temáticos, exposições temporárias, entre outros. A mata é um local agradável e com uma localização privilegiada ao centro da cidade, contém diferentes percursos interpretativos e acessíveis aos utilizadores, tais como a Charolinha e a Tapada da Condessa, sendo um local ótimo para praticar exercício físico ou somente contemplar a natureza. No caso das crianças é bastante versátil, pois possui um extraordinário parque infantil, para além da área consideravelmente ampla para brincarem e o possível contacto com animais, tais como esquilos.


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O Sítio Roberto Burle Marx Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro - Brasil Património mundial da unesco Por Tarsila

O SÍTIO Burle Marx mudou a forma como percebemos a paisagem. Se você conhece o Rio de Janeiro, em algum momento já se deparou com seus projetos na cidade, como o Aterro do Flamengo ou o famoso calçadão de Copacabana. Mas nada se compara ao privilégio de conhecer o Sítio Burle Roberto Marx e poder contemplar os exemplares existentes naquele oásis e, com o passar das estações, as alterações naturais que ocorrem no ambiente como todo. Situado na Barra de Guaratiba, o ambicioso projeto Sítio Roberto Burle Marx, com área total de 405.325,63m², reúne uma das mais importantes coleções de plantas tropicais e subtropicais do mundo. Ao todo são mais de 3.500 espécies, dessas, cerca de 50 espécies foram descobertas por Burle Marx e levam seu nome. Originalmente no Sítio havia uma antiga casa de fazenda e uma capela do século XVII dedicada a Santo Antônio de Lisboa. Com o passar do tempo essas construções foram restauradas, a casa passa a ser residência do paisagista, onde viveu por cerca de 21 anos e realizou suas experiências botânicas. Diante da importância paisagística que o Sítio adquiriu ao longo dos anos, Burle Marx decide em 1985 doar o espaço ao governo brasileiro para que este permaneça como centro de pesquisa e disseminação sobre paisagismo, botânica e preservação.

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1 Espelho d’ Água 2 Ateliê de pintura


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Burle Marx, foi visionário, procurou um terreno com características que o permitisse explorar positivamente o solo. O terreno natural apresenta três tipos de vegetação autóctone: o Manguezal na parte mais baixa; a vegetação de Restinga na parte média e a Mata Atlântica na parte mais alta. O terreno é resultado de uma longa procura dos irmãos Roberto e Guilherme Burle Marx para a implantação da coleção botânica do paisagista. Foram observadas características morfológicas como qualidade do solo, cursos d’água, rochas afloradas e o principal, o ambiente deveria ser o mais protegido possível da especulação imobiliária. Naquela época, Burle Marx já expressava sua preo24 — TERRÆFORMÆ

cupação com o desmatamento desenfreado. Ao longo dos anos, com base no conhecimento e através da reprodução dos exemplares coletados, Burle Marx passou a distribuir as espécies pelo terreno aplicando a composição estética natural que ele considerava essencial para projetar os jardins urbanos de acordo com a flora, seus volumes, cores e texturas. Desta forma os jardins foram desenvolvidos organicamente ao longo do terreno.


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Não tenho medo de errar. Erro a gente pode corrigir. Tenho medo é da formula. Se eu fosse tentar fazer uma coisa perfeita, nem tentaria começar. O importante.

Roberto Burle Marx

No Sítio existem sete lagos, no entanto, não são elementos naturais, foram inseridos ao longo do tempo de acordo com a necessidade de novas acomodações para as vegetações, assumindo ainda a função de reservatórios para armazenamento de água e rega dos jardins, assim como os sobrais que se destinam a propagação das pesquisas do paisagista desde o cultivo, aclimatação e a propagação das espécies coletadas. O Sítio conta com edificações destinadas às múltiplas atividades desenvolvidas por Burle Marx, a Casa onde morou, a Loggia, a Capela de Pedra e o Ateliê, todos esses espaços funcionam atualmente como museu aberto para a visitação. Para a diretora do espaço, Claudia Storino, “o Sítio é certamente uma obra de arte, onde as paisagens são o elemento de maior destaque, ligando todo o conjunto com poderosa personalidade” e justamente por isso, em 2021 o Sítio se tornou Patrimônio Mundial da Unesco, reconhecendo a importância e singularidade deste legado deixado por Roberto Burle Marx.

Residência Burle Marx Loggia TERRÆFORMÆ — 25


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“ BIOGRAFIA Nascido em São Paulo no ano de 1909 e falecido em 1994, Roberto Burle Marx apresentou características de um artista multifacetado, atuando como arquiteto paisagista, designer de joias, pintor, desenhista e outras tantas atividades dentro do hall da criação. Ainda na infância teve contato com a arte no período que residiu na Alemanha, demonstrando fascínio ao visitar o Jardim Botânico de Dehlen, onde descobre o interesse pela diversidade da flora brasileira e o gosto conceitual pela paisagem tropical. Podese dizer que esse fora o ponto chave da carreira de Burle Marx, a partir desse momento o artista inicia o processo de experimentação e investigação da vegetação brasileira, através das chamadas expedições botânicas, onde são coletadas e catalogadas espécies de diferentes regiões do país, posteriormente 26 — TERRÆFORMÆ

reunidas no reconhecido e premiado Sítio Burle Marx, seu laboratório vivo. Além da importância que ele exerce, ainda hoje, para o paisagismo Burle Marx liderava o trabalho pioneiro de conscientização e defesa da sustentabilidade e meio ambiente no Brasil. Da mesma forma que um artista escolhe um item para compor sua obra de arte, a magnanimidade tão característica dos projetos idealizados por Burle Marx é marcada pela relevância das peças que os abarcam.

Todas as áreas são importantes para mim: paisagismo, tapeçaria, design de joias, desenho, pintura, botânica. Uso todos como um poeta buscando palavras. E é com isso que me esforço mais. Eu não vou fazer uma pintura que é um jardim. Sem dúvida a pintura e as outras expressões artísticas influenciaram todo meu conceito de arte. Mas eu tento sempre evitar fórmulas. Eu odeio fórmulas. Eu amo os princípios”. Roberto Burle Marx “Não tenho medo de errar. Erro a gente pode corrigir. Tenho medo é da fórmula. Se eu fosse tentar fazer uma coisa perfeita, nem tentaria começar. O importante é ter curiosidade.

Roberto Burle Marx

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R. Burle Marx


Burle Marx demonstra em suas obras a preocupação e cuidados com o uso de variadas escalas, seja vegetal, humana e territorial, ainda que seja perceptível cuidado estético de suas obras, Burle Marx descreve que não buscou originalidade nos seus projetos: “Este conceito, isto é, meu pensamento atual, baseado em uma experiência razoável, não busca nenhuma originalidade, nenhuma descoberta, acima de tudo, porque todo meu trabalho responde por uma razão de curso histórico e uma consideração do ambiente natural.” Burle Marx revolucionou a estética da paisagem, se tornando um marco na era modernista, ele foi o precursor do jardim tropical moderno, até este período os projetos de jardins no Brasil seguiam as referências e ten-

dências inglesas e francesas. Introduziu nos seus projetos plantas que antes nunca foram usadas no paisagismo, através das suas expedições à Amazônia e Cerrado. Para quem se interessar, recomendamos o documentário “Expedições Burle Marx”.

PONTOS POSITIVOS - Criação de um espaço cultural para a cidade, através da intervenção em um ambiente existente; - Preservação ambiental de uma área 405.325,63m² e mais de 3.500 espécies de vegetação nativa; - Possui o maior acervo documental e artístico do Paisagista Roberto Burle Marx; - Abertura de novas possibilidades paisagísticas com vegetações nativas; - Interação do ambiente e das comunidades do entorno; - Atividades socioeducativas para as redes de ensino; - Visitas guiadas e agendadas previamente; - Facilidade de acesso por transporte público (ônibus). PONTOS NEGATIVOS - Ausência de comércios básicos no entorno; - No sítio não há quiosques ou restaurantes para atender os visitantes; - Ausência de bicicletário e pistas que permitam o acesso dos ciclistas; - Não possui acessibilidade para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção.

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Le Parc André-Citroën Un parc contemporain à Paris Par Mathilde Paris, capitale de la France, possède de nombreux parcs et jardins, faisant office de «poumon vert» au milieu de la ville. Le Parc André Citroën est l’un des plus récents parcs de Paris, situé dans l’un des endroits les plus emblématiques de la capitale, au cœur du quartier Javel dans le 15ème arrondissement, à l’emplacement de l’ancienne usine Citroën. Il fait partie des réalisations majeures d’espaces verts à Paris, à la fin du XXème siècle. Ayant définitivement fermé ses portes en 1974, l’usine Citroën a laissé des terrains inoccupés pendant plusieurs années avant de faire l’objet d’un concours en 1986, dans le but de reconfigurer l’espace en jardin public. Et ce sont les paysagistes réputés Gilles Clément et Allain Provost, ainsi que des architectes Patrick Berger, Jean-François Jodry et Jean-Paul Viguier qui ont remporté ce concours. C’est ainsi que le nouveau Parc André Citroën a vu le jour en 1992, 6 ans après le début des travaux et dix ans après l’abandon du lieu par Citroën, pour le plus grand bonheur des Parisiens, qui aiment s’y promener et prendre l’air au calme. Le parc se déploie sur plus de 14 hectares, face à la Seine et aux côtés du nouvel Hôpital Georges Pompidou, de la préfecture de Paris, de Canal +, ou encore de de France Télévisions. Il est ainsi idéalement placé et très populaire auprès des travailleurs, qui sont nombreux à venir s’y reposer ou se retrouver pendant la pause du déjeuner. Il s’organise autour d’un chemin en ligne droite de 800m, qui vient traverser le parc en diagonale et qui descend doucement vers la Seine tout en traversant différents espaces et donc différents paysages. Sa structure globale est très rectiligne: les espaces sont principalement définis en carrés ou rectangles, les buissons soigneusement taillés géométriquement, procurant une ambiance rangée et très contemporaine. Divers plans d’eau viennent également ponctuer le parc: les jets d’eau, fontaines et bassins ont le mérite d’être nombreux dans le parc et d’apporter de la fraîcheur. On regrette cependant qu’ils soient trop souvent vides ou sales. 28 — TERRÆFORMÆ

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3 Gilles Clément et Allain Provost ont imaginé une progression du naturel à l’artificiel en partant de la Seine vers le cœur de la ville. Pour ce qui est du minéral, ils ont fait le choix d’un matériau caractéristique de l’architecture moderne: chemins, esplanades et murets sont parés de dalles en béton. Cependant s’il était populaire à la création du parc, le béton semble avoir mal vieilli et le manque d’entretien se fait ressentir: dalles salles, manquantes ou abîmées viennent assombrir la partie miné-

1. Pelouse central 2. Fontaine 3. Parc André Citroën en automne 4. Parc André Citroën en été

Côté végétal, trois grands espaces structurent le Parc André Citroën: le parc central qui s’étend sur plus de 11 hectares, et deux parcs plus petits, le Jardin Noir au sud composé de deux hectares de pins, de chênes, de rhododendrons, et le Jardin Blanc, un hectare d’anémones et d’ibéris au nord-est, relié au parc central par une passerelle. Sur le parc central se trouve une vaste pelouse de deux hectares entourée d’un bassin, laissant libre cours à toute sorte d’activités: détente, sport, pique nique. Au total, plus de 2500 arbres et 70 000 arbustes ont été plantés dans le parc. Ensuite, le parc est composé de plusieurs jardins à thèmes, les «jardins sériels», chacun représentant un écosystème à part entière et un paysage différent. Au total il y en a sept : le jardin noir, le jardin bleu, le jardin rouge, le jardin vert, le jardin orange, le jardin argenté et le jardin doré. Venez les parcourir en automne, ils vous offriront un magnifique ballet de couleurs. Ainsi dans ces jardins sériels, tout est réuni: formes, couleurs et symboles. Chacun d’entre eux correspond en effet à une couleur, un métal, une planète, un sens et un jour de la semaine; tel un portrait astrologique. Chaque jardin occupe un long rectangle et dévoilent plusieurs perspectives: en direction de la Seine, de la pelouse centrale ou encore le long de l’axe diagonal. D’ici on perçoit aussi les immeubles de la rue d’en face, et les jardins sériels sont cadencés en harmonie avec ces façades, en ouverture vers l’extérieur. A l’intérieur de chaque jardin, des différences de niveaux aident à créer différents itinéraires. TERRÆFORMÆ — 29


Deux grandes serres, créées par l’architecte Patrick Berger, ont pour fonction initiale d’abriter des plantes exotiques et méditerranéennes. Ces édifices de verre d’une hauteur de 15m et une longueur de 45m chacun donnent une touche moderne à l’ensemble et viennent s’accorder parfaitement avec les lignes géométriques des jardins. Elles abritaient à l’origine pour l’une une orangerie, et pour l’autre, un jardin austral. Cependant, cela fait maintenant plusieurs années qu’elles sont vides et fermées au public, pour la plus grande déception des visiteurs. Nous trouvons également 6 autres petites serres, une par jardin thématique. Elles viennent rythmer la promenade dans les jardins sériels mais les vitres manquantes ou brisées font ressentir une fois de plus le manque d’entretien.

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5. 6. 7.

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Serres du parc Ballon d’hélium Gilles Clément

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Pour ce qui est du loisir, si l’on trouve toute sortes d’activités comme une aire de jeux de ballon, de tables de pingpong, de jeux à ressorts et de toboggans, on trouve une autre particularité quand on vient au Parc André Citroën. Il est difficile de passer à côté, il suffit de lever la tête en direction du ciel: le grand ballon d’Air de Paris vole au beau milieu du jardin central. Ce ballon d’hélium est une référence au passé aéronautique du quartier, où les pionniers des ballons dirigeables venaient s’exercer. Aujourd’hui, il indique la pollution de l’air et est une attraction très prisée des visiteurs du parc qui font la queue pendant une heure pour pouvoir s’élever à 150m au-dessus du sol, offrant ainsi un panorama unique sur Paris.


“ 7 Gilles Clément et André Provost, paysagistes concepteurs du parc, ont décidé que la base de la conception du parc et l’argument principal serait le nouveau regard de l’Homme sur la nature et la nouvelle position de l’Homme face à la nature. Dans cette optique, en direction de la Seine, Gilles Clément a introduit son concept de « jardin en mouvement ». “Observer plus pour intervenir moins”, voici les maître-mots du concept de jardin en mouvement créé par Gilles Clément. Cette théorie consiste d’une certaine manière à laisser entrer la nature, le sauvage dans le jardin, puis de l’entretenir en se laissant guider par la nature, en accentuant le côté graphique de tel arbuste par la taille, en favorisant les semis de telle ou telle espèce. Ainsi, le dessin du jardin, changeant au fil du temps, dépend de celui qui entretient, il ne résulte pas d’une conception préalable. L’objectif de ce concept? Ils sont multiples: maintenir et accroître la diversité biologique, maintenir et accroître la qualité biologique des substrats (eau, terre, air) ou encore intervenir avec la plus grande économie de moyens en limitant les intrants, les dépenses d’eau et le passage des machines. Ayant commencé à expérimenter cette pratique à partir de 1977 dans son propre jardin, il poursuit cette expérience pendant 8 ans, avant de mettre son concept en place sur une parcelle du Parc André Citroën en 1992.

Etant donné que ces herbes -bonnes ou mauvaises- se côtoient et s’entrecroisent, c’est le mode biologique de ces plantes qui va déterminer l’emplacement et la forme des masses fleuries. Et, comme ce mode biologique est très variable en fonction des espèces et du temps, les masses fleuries en question suivent toutes sortes de mouvements. [...] C’est la perpétuelle modification des espaces de circulation et de végétation qui justifie le terme de mouvement, et c’est le fait de gérer ce mouvement qui justifie le terme de jardin. Gilles Clément

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C’est le parc André Citroën qui a réellement permis à Gilles Clément de développer son concept. S’il n’a obtenu qu’une surface assez petite, il était question au départ de réaliser l’expérience sur la totalité de ce qui est aujourd’hui la pelouse centrale de ce parc. Mais, bien que la ville cherchait de la nouveauté, avoir une friche en plein Paris l’a effrayé. Un choix que nous pouvons comprendre mais la capitale française a peut-être laissé échapper justement l’occasion de formuler plus clairement des choix décisifs: le Parc André Citroën s’est construit un siècle après d’autres grands parcs parisiens, il a donc une valeur claire dans l’histoire de l’urbanisme parisien. Toujours étant, dans le jardin en mouvement du parc Citroën nous avons l’impression le temps d’un instant, d’être en pleine nature sauvage

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ou dans un jardin en friche d’une maison abandonnée. Le jardin en mouvement créé dans le Parc André Citroën contredit en effet l’ordre traditionnel des jardins où les plantes ont une place assignée et vient ainsi contraster avec le reste du parc qui est très rangé. Au contraire, le jardin en mouvement est une friche reconstituée, accueillant à la fois la flore exotique des jardins et à la fois la flore spontanée des terrains vagues parisiens: de nombreuses espèces venant du milieu ambiant ont poussées, y compris cette petite armoise sibérienne Artemisia annua L. caractéristique des sols parisiens.

La gestion du jardin s’appuie sur l’évolution naturelle de la végétation: les apparitions et disparitions des plantes herbacées créent la surprise, modifient l’espace, suggèrent des tracés changeants pour la circulation des visiteurs. C’est ainsi que Gilles Clément a créé une friche de toute pièce, en faisant naître des arbres, des arbustes à épines, des houx ou encore des rosiers lianes.


Pour conclure, c’est un parc à l’apparence toute autre des parcs traditionnels de Paris qui a pris place en plein cœur de la capitale à la fin du XXème siècle. Entouré d’immeubles ultra-modernes, les lignes tracées par ses paysagistes concepteur en font un parc au design contemporain et aux idéologies novatrices concernant le rapport de l’homme à la nature. Le jardin en mouvement de Gilles Clément redéfinit en effet le travail du paysagiste et du jardinier en laissant libre cours aux mouvements naturels et en promouvant une action minimale. Ainsi, une progression de l’ordonné au désordonné, du géométrique à l’aléatoire, mais aussi du minéral au végétal, guide le promeneur et lui propose différentes ambiances. La grande richesse d’espaces différents offre une multitude

d’usages différents, du paysage intime et calme des jardins sériels à la mixité de la grande pelouse : il y en a pour tous les goûts. Et l’architecture se mêle artistiquement avec la nature, on déplore cependant ce manque d’entretien regretté par des nombreux promeneurs. En définitive, le Parc André Citroën est un parc conçu avec beaucoup d’ambition et de moyens, mais l’entretien n’a pas suivi et certaines spécificités qui en faisaient la richesse sont aujourd’hui à l’abandon. Peut-être serait-il alors judicieux de définir un véritable plan d’entretien et de restauration. La mise en place d’un chantier participatif pourrait être une solution, alliant cohésion sociale et appropriation du lieu.

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(in)conspicua

ensaio sobre a inserção sublime na paisagem ,por antónio e joao A arquitetura tem como uma das suas principais características, desprendendo-nos de quaisquer preciosismos naturalistas ou de antropocentrismos autoritários, o controlo das matérias e a imposição de um volume alóctone num determinado espaço, a subjugação da paisagem a um programa ou necessidade. Há, no entanto, um conjunto de intervenções que, pela sua compreensão, sensibilidade e context ualização face à homeostasia entre o edificado e o natural, merecem ser destacadas. Aproveitamos então este ensaio para nos debruçarmos sobre duas obras de arquitetura estabelecidas que, independentemente do seu sucesso, primam pela sua inserção ótima na paisagem.

Museu do Côa Projetado por Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, conterrâneos portuenses e primos de profissão, o Museu do Côa, inaugurado a 30 de julho de 2010, destaca-se, paradoxalmente por se apresentar escondido, encaixado discretamente na paisagem de vales e cumes, característica da região do Alto Douro. É esta inserção graciosa do edifício na encosta da margem direita do Douro, a sua adaptação ao local e o cuidado para estabelecer uma relação íntima e contextualizada com a paisagem que motivou a realização deste ensaio. O museu surge após a afirmação do património presente no vale, as gravuras pré-históricas do Côa, conquistada “a ferros” pela população, que viu este local ameaçado pela hipótese da construção de (mais) uma barragem a jusante de Vila Nova de Foz Côa, que iria submergir as gravuras e ocultar definitivamente a pré-história da região. Batalha ganha. O edifício vem formalizar o valor das gravuras que são replicadas num local mais acessível, o próprio museu, no topo da encosta, e contar o processo que levou à sua construção Também a paisagem do Alto Douro exsuda o esforço, trabalho e o saber fazer da população paisageira e também paisagista duriense, capaz de tornar produtiva uma terra tão difícil de trabalhar.

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As encostas armadas em socalcos, características da região, acompanham a sinuosidade do rio, onde as amendoeiras repousam aguardando a sua primavera de tons intensos (selecionamos então si bemol), perpetuamente acompanhadas pelo brilho prateado da oliveira, havendo apenas tempo para respirar no verão, pois, ao chegar o outono, a vinha dá ares de sua graça e tinge (como o tinto) a paisagem, e tudo rubra, restritivo específico emprestado mas que retrata, com rigor (científico, porque de taxonomia falamos) a impressão causada por estas terras centenárias - milenares, não batalhou um povo para que a Altamira lusitânica ficasse assim esquecida. Com uma paisagem tão rica e complexa, afirmada pelos séculos de convívio consciente do Homem com a Natureza, onde convivem dois patrimónios mundiais: o Alto Douro Vinhateiro e as Gravuras Rupestres, qualquer intervenção que surgisse seria, à partida, uma ferida aberta na continuidade conformada da paisagem.


No estudo sobre a sua forma, entre o sobrelevado, o enterrado e o conforme, a equipa decidiu aplicar os três, estando as três faces do edifício em situações diferentes, mas concordantes. Oculto a nascente, disfarçado na paisagem; conforme a sul, com ótima exposição solar e uma vista privilegiada sobre o vale; e sobrelevado a poente, maximizando a amplitude visual e a iluminação natural. O próprio material utilizado incorpora o pigmento, textura e material geológico do local, o que o ajuda a “pertencer” àquela paisagem e permitir que esta obra brilhe, ocultando-se.

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O edifício encontra-se encastrado na montanha, como que uma gaveta de betão que faz a vez do xisto que lá estava presente e, contrário à falha dos Pirinéus, esta tem fundo e é sublimemente preenchida pelo betão; e, oposto à Jangada de Pedra que parte dessa falha, também não se desloca Atlântico dentro. Do acesso ao museu o visitante nada adivinha sobre a presença de qualquer construção ali presente, tem apenas uma ampla vista sobre o Douro.

(fotos retiradas da página web Museu do Côa) (1) Vista sobre a encosta norte do museu (2) Entrada príncipal, “o túnel” (3) A pluri-concordância das fachadas

Não deixando nunca de ser a absoluta imposição do Homem sobre a Natureza, formalizada na brutalidade da remoção de toda aquela gaveta de material da montanha, esta obra representa um marco na abordagem da arquitetura contemporânea sobre a intervenção congruente com a grande envolvente.

A sensibilidade e preocupação da equipa é rara, senão única, e deve ser celebrada. Uma obra de tal magnitude conseguir passar despercebida numa paisagem profundamente rural é, verdadeiramente, um ensaio sobre a inserção sublime na paisagem. 2 TERRÆFORMÆ — 35


Hotel Monte Palace O arquipélago dos Açores é um dos lugares mais cénicos de todo o território português, lugar onde a violência da Natureza criou paisagens em que o mar e a terra se abraçam e o verde fértil, de tão saturado, polariza as cores de tudo o que rodeia o observador. Faz-nos sentir pequenos e externos, no abraço forte e inescapável das forças que moldam este território. De todos os locais que podem ser referidos como miradouros para paisagens de enorme qualidade nas várias ilhas, vamos focar-nos na caldeira do vulcão das Sete Cidades, na ilha de São Miguel. Este vulcão é coroado por uma depressão onde descansam várias lagoas, sendo as maiores a Lagoa Verde e a Lagoa Azul. Esta taça, de onde bebem os olhos de quem a visita, esconde uma história geológica de grande violência, disfarçada pela vegetação luxuriante e neblinas peregrinas. É para aproveitar a paisagem extraordinária da caldeira das Sete Cidades que, na segunda metade do séc. XX, se inicia o processo de projeção— e depois construção— de um hotel, com vista para as duas maiores lagoas dos Açores. Este edifício, agora famoso pelo abandono e posterior apropriação pela natureza, é ainda uma atração para quem se desloca para as Sete Cidades, não por ser um local de estadia, mas por todo o enquadramento a que está associado. 4

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O primeiro desenho do hotel é de 1979, da autoria de Luís Almeida. O edifício implantava-se num festo e tinha uma forma prismática retangular. Este primeiro desenho é alvo de uma série de alterações apoiadas em diretivas direcionadas à dissimulação do edifício no local. A fachada poente passa a ser menos vertical, com um escalonamento de volumes que simula a vertente onde se insere, e a fachada oriente ganha uma ligação física com a montanha - preserva-se assim o recorte do relevo, que de outra maneira seria quebrado. De forma a desaparecer na paisagem, é recomendado (fortemente) o uso de cores neutras no exterior do edifício, concordantes com o material geológico do local, algo que ainda hoje se verifica. Atualmente, exacerbada pela invasão da Natureza, a capacidade deste volume desaparecer na paisagem é impressionante. (fotos saudosamente cedidas por Iúri Frias) (4) No topo da cumeada, o hotel oculto (5) Os atu‐ ais inquilinos instalados hotel (6)A forma escalonada dos vários andares confere ao edifício a sua concordância com a envolvente


Por muito que se evidencie pela qualidade da arquitetura, que faz com que desapareça na paisagem, este hotel nunca se destacou nos circuitos turísticos, do final do séc. XX. São apontados, como fatores do seu insucesso: as neblinas frequentes, a dificuldade, na altura, dos acessos, e a incerteza do turismo de então. No entanto, se este hotel tivesse sido criado nos dias de hoje, pela facilidade de acesso e grande incremento do turismo, teria certamente o sucesso garantido, provavelmente inferior ao da ambição desmedida dos investidores do séc. XX. O futuro desta obra arquitectónica está envolto em neblina, que encobre as paisagens que se viveriam nas suas divisões. É impressionante que, apesar do seu insucesso como hotel, não se viva o seu sucesso como uma obra de arquitetura que respeitou o espaço. No fundo, que proporciona paisagem (e uma das mais belas do país), sem a ferir.

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Rompendo a neblina, é importante levar à luz aquelas que são as obras, nos mais variados territórios, que, de forma sublime, permitem a apreciação do espaço onde se inserem (com ou sem neblinas), sem o desvirtuarem, deixando ao tempo, e não ao Homem, a responsabilidade da sua evolução. A reaproximação à arquitectura vernacular pelo menos no que toca à utilização de materiais do local - representa, nas duas obras, também a sua reaproximação à natureza. Optar por desaparecer, dando ênfase à envolvente, é algo que à partida não seria o objetivo de um arquiteto. Mantém e envolve o observador na sua narrativa, projetando na obra a sua intenção para a paisagem, contrariando o ato de cravar na mesma um volume por capricho. A paisagem de que vivem torna-

se sujeito, e os edifícios predicado. Vivem para mostrá-la e não para ser mostrados.

Falamos, falam as obras, falam os próprios: https://www.rtp.pt/play/p5644/e399719/atelier-arquitetura#shareembed https://www.youtube.com/watch?v=ZYGilA8B58U TERRÆFORMÆ — 37


Glossário Glossaire Águas ácidas: solução ácida que resulta do contacto entre a água e os minerais ricos em sulfatos, provenientes da exploração mineira. Alóctone: exótica ao local, importada de um outro lugar. Antropocentrismo: concepção que tem a humanidade como o centro do universo, que é avaliado de acordo com a sua relação com o ser humano. Arriba: escarpa de inclinação acentuada situada à beiramar ou na margem elevada de um rio. Baldio: Terras anteriormente exploradas, abandonadas pelo Homem e colonizadas por vegetação espontânea. Caldeira: depressão causada pelo esgotamento da câmara magmática. Corta: com a forma geométrica de uma elipse. A corta da mina, explorada a céu aberto e em profundidade, era o local de onde se extraíam os minérios. Culturas de sequeiro: culturas sem rega. Doca seca: tipo de doca utilizada para reparação e inspeção de navios que consiste numa bacia retangular escavada na costa e preenchida de água. Era industrial: período que teve início no século XVIII, caracterizado pela mecanização da produção e consequente reformulação da concepção de trabalho, já que grande parte do trabalho exercido pelos operários foi substituído por máquinas. Escalonamento: dar a forma de escada. Especulação (imobiliária): investimento do sector imobiliário com a expectativa de que este venha a haver um aumento no preço dos imóveis. Estaleiro: lugar onde se constroem ou reparam navios. Faixa piritosa ibérica: área geográfica do sul da Península Ibérica mundialmente reconhecida pela sua riqueza em sulfuretos maciços vulcânicos, vulgarmente conhecidos por pirites. Festo: linha imaginária que une os pontos mais altos de uma encosta. Genius loci: expressão que diz respeito ao conjunto de características sócio-culturais, arquitetônicas, de linguagem, de hábitos, que caracterizam um lugar, um ambiente, uma cidade. Indica o espírito do lugar. Homeostasia: equilíbrio, estabilidade. Jardim do Sul: jardim de acolhimento de plantas adaptadas a climas amenos. Jardim tropical moderno: termo criado pelo paisagista Roberto Burle Marx, consiste na utilização de espécies nativas da flora brasileira em projetos paisagísticos. Loggia: elemento arquitetônico aberto em ambos os lados ou em apenas um, formado por arcos e colunas, sua função 38 — TERRÆFORMÆ

Allochtone: exotique à l'endroit, importé d'un autre endroit. Anthropocentrisme: conception philosophique qui considère l’humain comme l'entité centrale la plus significative de l'Univers et qui appréhende la réalité à travers la seule perspective humaine. Arriba (falaise): un escarpement à forte pente situé au bord de la mer ou sur une rive élevée d'une rivière. Autobus: véhicule automobile utilisé pour le transport de passagers, avec des arrêts à plusieurs gares. Caldeira: dépression causée par l'épuisement de la chambre magmatique. Cale sèche: type de quai utilisé pour la réparation et l'inspection des navires qui prend la forme d’un bassin rectangulaire creusé sur la côte et rempli d'eau. Ceinture de pyrite ibérique: c'est une zone géographique du sud de la péninsule ibérique, reconnue dans le monde entier pour sa richesse en sulfures volcaniques massifs, communément appelés pyrites. Chantier naval: lieu où les navires sont construits ou réparés. Collines: relief généralement modéré et relativement peu étendu qui s'élève au-dessus d'une plaine ou d'un plateau et se distingue dans le paysage. Coupe: de forme géométrique en ellipse, la coupe de la mine, explorée à ciel ouvert et en profondeur, était le lieu d'extraction des minerais. Cultures pluviales: cultures sans irrigation. Ère industrielle: période qui a commencé au XVIIIe siècle, caractérisée par la mécanisation de la production et la reformulation conséquente de la conception du travail, puisqu'une grande partie du travail effectué par les ouvriers a été remplacée par des machines. Festo: ligne imaginaire joignant les points les plus élevés d'une pente. Fossé: structures linéaires initialement creusées pour drainer, collecter ou faire circuler des eaux. Friche: terrain précédemment exploité, abandonné par l'Homme et colonisé par une végétation spontanée. Genius loci: l'expression concerne l'ensemble des caractéristiques socioculturelles, architecturales, langagières et usuelles qui caractérisent un lieu, un environnement, une ville. Indique le caractère ou l’esprit du lieu. Homéostasie: état d'équilibre intérieur d'un organisme face à des modifications du milieu extérieur. Jardin austral: jardin accueillant des plantes adaptées aux climats doux. Jardin tropical moderne: terme créé par le paysagiste, il consiste en l'utilisation d'espèces indigènes de la flore brésilienne dans des projets d'aménagement paysager. La Seine: fleuve qui traverse Paris. L'eau acide : est la solution aqueuse et acide générée lorsque les minéraux sulfurés présents dans les déchets miniers (résidus ou stériles) sont oxydés en présence d'eau. Loggia: élément architectural ouvert des deux côtés ou d'un


original no sítio era servir como pequeno ateliê de pintura e serigrafia. Maciço: secção da crosta terrestre que é demarcada por falhas ou por fendas. Malacate: máquina destinada a utilizar a força dos animais transformando-a em movimentos circulares contínuos. Também foi adotado para o projeto artístico “Malacate” da Companhia Cêpa Torta. Montuoso: montanhoso. Morros colinares: estrutura formada através de pequenas elevações de terreno com declive suave. Oásis: lugar no deserto onde existe água e vegetação. Ônibus: autocarro utilizado para o transporte de passageiros com paragens em várias estações, tem sua expressão originária do latim Omnibus que quer dizer "para todos". Orangerie: estufa onde são mantidas laranjeiras e plantas sensíveis à geada durante o inverno. Sena: rio que atravessa Paris. Plantas herbáceas: plantas que não são lenhosas. PIB: produto interno bruto, soma dos valores de todos os bens e serviços numa determinada região, durante um período determinado.

seul, formé d'arcs et de colonnes, sa fonction originelle sur le site était de servir de petit atelier de peinture et de sérigraphie. Malacate: c'est une machine conçue pour utiliser la force des animaux en la transformant en mouvements circulaires continus, elle a également été adoptée pour le projet artistique « Malacate ». Massif: partie de la croûte terrestre délimitée par des failles ou des crevasses. Mise à l'échelle: la mise à l’échelle d’un objet consiste à l’agrandir ou à le réduire sur le plan horizontal, vertical ou sur les deux plans. Elle s’effectue par rapport à un point de référence variable selon la méthode de mise à l’échelle choisie. Oasis: endroit dans le désert où il y a de l'eau et de la végétation. Orangerie: Serre où sont conservés les orangers et les plantes sensibles au gel pendant l'hiver. Ouest: occident. PIB: produit intérieur brut, la somme des valeurs de tous les biens et services dans une région donnée, pendant une période donnée. Plantes herbacées: plantes qui ne sont pas ligneuses.

Poente: ocidente.

Portique: entrée monumentale. Type de structure qui supporte la grue de construction navale.

Pórtico: entrada monumental. Tipo de estrutura que suporta o guindaste para a construção naval.

Poumon vert: expression désignant une zone de verdure au milieu de la ville, offrant une respiration.

Pulmão verde: expressão que designa uma área de vegetação no meio da cidade, oferecendo espaço para respirar.

Restinga: formation de végétation côtière qui s'établit dans les sols sablonneux de la bande côtière.

Restinga: formação de vegetação litorânea que se estabelece em solos arenosos na faixa costeira.

Roches affleurantes: ce sont des roches exposées à la surface de la terre.

Rochas afloradas: são rochas expostas à superfície da terra.

Sériel: caractéristique de ce qui est en lien ou de ce qui est en rapport avec une série, c'est-à-dire une suite ou une succession de choses d'une même nature, ici les jardins.

Serial: característica do que está ligado ou do que está relacionado a uma série, ou seja, uma série ou sucessão de coisas da mesma natureza. Si bemol: tonalidade musical que possui menos notas naturais. Sinuosidade: qualidade atribuída a linhas ou formas curvas e onduladas. Sítio: pequena propriedade rural, também denominada de roça ou fazenda no Brasil e casal ou quinta em Portugal. Sobrais: recinto utilizado para criação e reprodução de plantas, sendo ou não uma estufa. Tanoaria: atividade artesanal dedicada ao fabrico de vasilhame em madeira para o armazenamento do vinho e outras bebidas. Unidade de Paisagem: área que se individualiza por um conjunto de características homogéneas que a diferencia da sua envolvente. Valado: cercado de valas ou de sebes. Várzea: terreno plano e fértil situado na margem de um rio. Vegetação autóctone: plantas que fazem parte da flora nativa de uma determinada região.

Si bémol: clé musicale qui a moins de notes naturelles. Sinuosité: qualité attribuée aux lignes ou formes courbes ou ondulées. Sítio: petite propriété rurale, également appelée roça ou ferme. Sobrais: enclos utilisé pour l'élevage et la reproduction de végétaux, qu'il s'agisse ou non d'une serre. Spéculation (immobilier): investissement dans le secteur immobilier dans l'attente d'une augmentation du prix de l'immobilier. Tonnellerie: activité artisanale dédiée à la fabrication de contenants en bois pour le stockage du vin et autres boissons. Unité paysagère: espace individualisé par un ensemble de caractéristiques homogènes qui le différencie de son environnement. Várzea: terrain plat et fertile situé au bord d'une rivière. Végétation autochtone: plantes faisant partie de la flore indigène d'une région donnée.

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