Hoje pensava sobre os instantes em que pela manhã estive em cena com meus iguais e lembrava, porque afinal estamos em pleno verão, O meu porto abafado e quente sensação térmica de 50 graus E eu, eu no teatro Sem ar-condicionado mas era exatamente aqui que queria e deveria estar Quantos verões em que não vi o mar. Quantas vezes, entre pessoas que amo, respondi a perguntas sobre a brancura da pele por não tomar sol. O meu sol, o meu mar, o meu verão É a sala negra com as luzes dos refletores eu estive tempo bastante em salas de ensaio eu criei novas realidades visitei outros países Apreendi diferentes culturas e fui tantas, fui tantas outras além de mim Quem poderá dizer que eu não vivi creio na realidade do teatro com toda a fé Como um cego que acaba de voltar a enxergar. Se o creem ou não já não importa Ele presenciou um milagre. Sofro cronicamente de fé cênica Tudo o que nasce dele me interessa dos trajes à luz Da maquiagem à cenografia mas sobretudo ATUAR Dar-me inteira Doer-me toda Alegrar-me intensa e integralmente Sem limites na entrega sem máscaras na relação Olho no olho do outro Ver e ser vista meu corpo veículo de vidas tantas meu sangre sagrado o pulso a vida em chamas eu uma mulher/atriz com o corpo em chamas, emitindo sinais (ai o Artaud) A vida já não voltará ao seu estado de letargia a mesma que acomete uma multidão de semelhantes meus Eu, eu fui picada EVOÉ Tânia Farias
Sobre amar o próprio ofício/sacerdócio Fev/2017 Ao mestre Paulo Flores com carinho
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Revista Cavalo Louco
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