O Brasil Caboclo de Cornélio Pires Quatro encontros, entre os grandes nomes da música caipira de raiz, numa merecida homenagem a Cornélio Pires, o pioneiro na criação, produção, comercialização e circulação da cultura rural. No teatro do CCBB Brasília, de 3 a 26 de abril.
Cornélio Pires (1884-1958) foi jornalista, escritor, poeta, cineasta folclorista e apaixonado pela cultura do povo rural. Foi o primeiro brasileiro a lançar discos independentes de música brasileira e o primeiro a promover turnês musicais Brasil afora. Conhecido e respeitado desde 1910 quando apresentou, na Universidade Mackenzie de São Paulo, um Velório Caipira com catireiros, cantadores e dançadores, seguido de palestra sobre os Mutirões, que eram reuniões dos roceiros para a preparação da terra, o plantio e a colheita ao som das cantorias de viola e, ao final do dia, festejados com comida, dança e mais cantoria. Em 1914, organizou as Conferências Cornélio Pires, com a proposta de divulgar a arte caipira de modas avioladas e apresentar artistas sertanejos pelo interior de São Paulo. Criou o Teatro Ambulante Cornélio Pires em 1946, composto por dois carros, um com biblioteca e outro com discoteca, que percorria o interior paulista e outros estados, inclusive os do nordeste, se apresentando em praças públicas, estas seriam as primeiras turnês musicais Brasil afora. Lançou entre 1929 e 1931 a Série Caipira Cornélio Pires, um retrato sem retoque da gente da roça prensado nos primeiros 50 discos de música caipira. Para que esta série acontecesse, Cornélio teve que custear todas as despesas de produção e comprar, ele próprio, todos os discos, que eram revendidos nos locais onde realizava suas palestras. Podemos dizer que foram estes os primeiros discos independentes da música brasileira. Num esforço de valorização de nossa ecologia. Cornélio gravou, em alguns discos, imitações dos cantos das aves e da fala dos bichos. O projeto “O Brasil Caboclo de Cornélio Pires”, com realização do CCBB Brasília, homenageia esta figura exuberante. Foi por intermédio dele que iniciamos, nós, os brasileiros, a tarefa imprescindível de entender e apontar as grandezas da alma do povo caipira, seu cotidiano afetivo, as qualidades de desta cultura que, sonhadora e emocionada, descreve um povo determinado a viver uma história de sucessos. É fundamental proporcionar visibilidade a personagens emblemáticas desta cultura viva e potente. Por isso ressaltamos a figura de Cornélio Pires, o caipira iluminado. As duplas convidadas para esta homenagem venderam e vendem até hoje milhares de LP’s e CD’s, a maioria já passou das dezenas de álbuns lançados tendo começado nos 78rpm, passaram pelo LP, CD, DVD e chegaram firmes no MP3. São os mais importantes e os últimos representantes dessa música tão genuína. O projeto volta a acontecer no CCBB São Paulo ainda este ano.
O projeto se divide em quatro shows, em sua maioria inéditos, em abril de terça a quinta às 21h., ingressos a R$ 15,00 e R$ 7,50 a meia para estudantes e pessoas com mais de 65 anos. 3, 4 e 5/04 - As Galvão / Zé Mulato e Cassiano 10, 11 e 12/04 - Carreiro e Carreirinho / Jacó e Jacozito 17, 18 e 19/04 - Índio Cachoeira e Cuitelinho / Pedro Bento e Zé da Estrada 24, 25 e 26/04 - Oliveira e Olivaldo / Os Favoritos da Catira cada um com duração de cerca de 2 horas.
Produção: Brasil Festeiro Produções Ltda. Diretor Artístico e Musical: Ricardo Vignini Produtora Executiva e Coordenadora: Marinéa Mochizuki Produtora Assistente: Rosemari Salomão Assessor de Comunicação: Rodrigo Machado Patrocínio: Centro Cultural Banco do Brasil Site: www.brasilfesteiro.com.br
CCBB Brasília Aberto de terça-feira a domingo das 10h às 21h SCES Trecho 2, lote 22 – Brasília/DF Tel: 61 3310-7081 e-mail: ccbbdf@bb.com.br site: www.bb.com.br/cultura
História do Passado Um sistema preconceituoso que contou com os serviços de um intelectual do porte de Monteiro Lobato, autor de equivocado artigo depreciativo do homem caipira, “Velha Praga”, publicado no jornal O Estado de São Paulo e incluído na segunda edição de “Urupês” (1918), do qual veio a se arrepender mais tarde, pedindo publicamente perdão para seu equivocado personagem, o Jeca Tatu. Um engano que se disseminou por todo o país nas ondas radiofônicas dos reclames do fortificante Biotônico Fontoura e do vermífugo Ankilostomina, além de nas ilustrações dos Almanaques Biotônico onde Lobato, com pretenso caráter educativo, relatava a fábula do Jeca Tatuzinho, um caipirinha doente e destrambelhado. O almanaque teve 90 milhões de exemplares impressos em cerca de 50 edições, distribuídos para uma população que somente 50 anos depois viria a ter 90 milhões de habitantes. O diminutivo Tatuzinho tinha a finalidade de cativar o público infantil, já que o almanaque era distribuído nas portas dos grupos escolares e adotados pelas professoras da época. Este personagem é a síntese de um preconceito criado por distorcidas e constantes análises engendradas desde os tempos das viagens do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire pelo interior do Brasil (1819 e 1822), até as décadas de 1950-60-70 com a jocosa produção cinematográfica de Amâncio Mazzaropi entre outros produtos estereotipados da indústria cultural. A população brasileira, a despeito do grande sucesso de público conquistado pelo Mundo Caipira, alimenta ainda hoje um sentimento de rejeição pelo cidadão agricultor, o qual necessita ser revisto com urgência.
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