Cerro Arriba

Page 1

CERRO ARRIBA João Mauro Araujo



João Mauro Araujo

CERRO ARRIBA

.txt texto de cinema São Paulo / 2017


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Araujo, João Mauro Cerro Arriba / João Mauro Araujo. -- São Paulo : .txt texto de cinema, 2017. ISBN: 978-85-92970-01-7 1. Fotografias 2. Poesia brasileira i. Título. 17-06410

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia : Literatura brasileira 869.1

Edição & Design gráfico: .txt texto de cinema www.textodecinema.com Revisão: Olavo Brito Direitos reservados a JOÃO MAURO ARAUJO

CDD-869.1




LÚDICO

PROFISSÃO FANTÁSTICA

SOLILÓQUIO

TEKÓ VAI

NOTICIOSO

QUIPUS

SUBJETIVA

PERFARSA


PREFÁCIO de Olavo Brito


“Se a vida estiver difícil, leia um poema.” Frase de autor desconhecido que guardei na memória e que calha bem com o lançamento deste livro, num momento em que o Brasil escancara sua necessidade de poesia.

João Mauro se fez andarilho. Rapaz latino-americano, assim como Belchior, seu conterrâneo, traduz em arte situações corriqueiras, fatos aparentemente sem importância. É simples, não complica, apenas filtra a realidade, exibindo sutilezas que por vezes escapam aos menos atentos. É garimpeiro, não se furta a cavoucar se preciso para ir em busca do que se encontra nas profundezas. É poeta, mesmo quando fotografa, capaz de ver beleza onde talvez nem exista. De suas andanças pela América Latina, João Mauro trouxe um tanto da substância que compõe Cerro Arriba. A maior parte, porém, vem de São Paulo mesmo, onde vive o autor. Embora seja uma cidade de tamanho monstruoso e de cotidiano agressivo para a grande maioria da população, é dali que ele extrai o material que sua sensibilidade transforma em versos ou fotos. Sua pegada literária, por assim dizer, tem mais de analógica do que de digital. Não que ele se oponha aos avanços, mas mostra revolta contra a eventual sobreposição da arte pela tecnologia. João Mauro tem alma de poeta, por isso, se é possível ver nele a alegria de uma criança com a bola, podemos perceber também aquela tristeza de fundo, a nostalgia de um tempo que ele nem viveu, mas em que havia pelo menos a ilusão de um mundo menos banal. Seja como for, este livro é uma realização honesta, que tive o privilégio de poder acompanhar nos últimos anos. Então, agora é só soltar a mente, abrir os sentidos e deixar todo o resto por conta da arte de João Mauro. Não tem erro, você vai ver. Olavo Brito, São Paulo, junho de 2017.

9




AJUDANTE

Ela oferece chaveiro; ele, Ă­mĂŁ de geladeira. Ela vende por dinheiro; e ele por brincadeira.

12


13


14


PERSPECTIVAS

– Zoraide, o que te faz levantar da cama? O sol? – Os sonhos.

15


16


17


DOR, DOR

Se cantasse só a beleza e ignorasse a dor, de tal poesia o autor seria um “cantalegria”, do contrário: cantador!

18


19


TEIAS

Quando acorda o amor, a dor adormece. O amor amortece. O amor tece. O amor tece.

20


21


CHUVAS

Gilberto sempre falava que ele e a namorada eram “fósforo” e “gasolina”. Quando terminaram, ambos amargaram tempestade de água fria! 22


HERANÇA

O avô disse pra mãe, que falou para o seu filho: “Amor amargor estribilho”

23


SUBJETIVAS

Era dessas histórias tristes de paixões insatisfeitas... O sujeito na ponte dizia que só tinha um projeto de vida: “Um projeto de sete letras”.

24


25


TRAVA-LĂ?NGUA

Correu pra comprar pedra. Correu pra comprar pedra. Correu pra comprar pedra. Corroeu-se.

26


27


28


29


VERDADEIRO ELDORADO

– Garimpeiro, em toda essa “escavadura”, o minério que você deseja brilha mais no sonho ou na sua procura...?

30


31


32


33


BRILHO

– Você saberia descrevê-la? – Tão doce e bela que me arranca sorriso até no ápice do meu mau humor. – Como ela chama? – Não sei. Esperança, talvez.

34


TESOUROS

Sempre após os jogos, Ézio revirava o chão das arquibancadas atrás de algo. Nunca encontrou nada além de copos plásticos e papel amassado.

35


TENTAÇÃO

Uma bola na calçada. Esquecida? Abandonada? Tento ignorá-la.

Bate o remorso, volto. Chuto sem mira, ela cruza a avenida atingindo a parede.

Talvez algum dia ela encontre uma rede...

36


37


38


39


DECISÕES

– Meu caro Oswaldo, fim de jogo, seu time perdendo... Você ganha um escanteio. O que faz, nesse caso: dá o toquinho de lado, chuta no burburinho ou cruza pro cabeceio?

– No gramado eu não bobeio. Se o momento é decisivo, tento logo o gol olímpico!

40


41


42


43


CONSTANTINO INCONSTANTE

– Consta, você tem um pênalti pra bater e tá fugindo?!

– Não, tô apenas tomando distância pra chutar com mais força!

44


SEM JUIZ O Professor – esse era seu nome – vinha de longe, não se sabe como, não se sabe onde, mas era o primeiro a chegar. Pezão media o campo, passo a passo, minuciosamente. Felipe trazia a bola, Josias o garrafão d’água, Goiaba fincava as traves e o tempo a maré marcava.

Recuo do Rio Amazonas, calor do clima, do jogo, apesar de todo esforço, o zero ficou no placar...

A artilharia falhou, em mais uma tarde sem gols na capital do Amapá. 45


46


BOLÃO

Rodrigo está sempre interessado nos jogos. Especula quem ganhou ou perdeu. Campeonato brasileiro, europeu, não importa: o barato dele é fazer aposta.

47


FORTUNA

Sempre que podia, Leo fazia uma “fezinha”. Não que tivesse sorte ou achasse que ganharia... Era mero pretexto pra falar com Tarsila (a Sorte que lhe acenava no guichê 5 da Caixa).

48


49


CARTELAS

Baltazar não era um sujeito de sorte: perdia em toda “fé” que fazia. Certa vez, apostou alto e ganhou bem. Não quis mais saber de jogo: “Não é pra mim”.

50


51


52


RITMOS

De um lado para o outro da agência ela caminha como quem dança. Senha 33, minha vez. “Oi! Que música faz seu corpo se mover tão majestoso?!”

53


54


55


SEREIAS

Quando secarem as รกguas dos mares, perderรฃo as sereias seus lares?

56


57


58


59


DESOCUPAÇÃO

– Caríssima Julieta, lacraram-te porta e janela, não há mais entrada ou cancela, nem nenhuma maçaneta... Com a obstrução do seu lar, como Romeu vai entrar...?

60


61


TRANCAS

I. Charles era chaveiro, como o pai. Fazia chaves, abria fechaduras. Mas nunca logrou abrir o coração da Diva. Largou a profissão: “Me falta vocação!”

II. Charles era chaveiro, como o pai. Fazia chaves, abria fechaduras. Mas nunca logrou abrir o coração da Diva. Mudou de profissão: virou cardiologista.

62


63


64


65


CELAS

Sérgio era carcereiro. Certo dia, num vacilo, três presos fugiram. Ele então foi demitido por justa causa: “Eu também conquistei minha liberdade!”, disse.

66


67


GRADES

– Teu país te aprisiona! – A sua ideologia também. – Teu amor te aprisiona! – Há grades que agradam e outras que agridem... Mas o que é ser “livre”?

68


69


EXIT-ÊXITO

– Se bate numa porta e não abrem, o que você faz? – Procuro outra entrada. – E você, Susana? – Vou embora.

70


71


RETIRO

– Onde está você? – Muito perto de muito longe. – Ocidente ou Oriente? – Transcendente.

72


73


INTERSECÇÃO

Naquela faixa de água, algo me confundiu: se “Negro” ou “Solimões”, qual era o nome do rio?

74


75


VIAGENS

– Cheguei ontem.

– Sentiu saudades?

– Sim, senti. A cada passo que dou, sinto falta do que passou; e em tudo que conheci tem um pouco do que perdi.

76


77


78


79


FALTA

Vitรณria era a melhor vitrinista do shopping. Muita gente vivia cercando sua loja. Quando ela largou o cargo, a clientela sumiu. Os manequins nunca a perdoaram.

80


81


AVERIGUAÇÃO

Procurar. Procurar. Procurar. São Longuinho não vai ajudar. Vivo? Morto? Morto? Vivo? Nem morto, nem vivo: desaparecido! Desapareceu Amarildo. Desapareceram Amarildo.

82


83


84


CARTAZES

Amanda sempre se pesa na mesma balança. Certa vez teve passeata, e a farmácia ficou fechada. Ela então decidiu protestar: “Agora já tenho uma causa!”

85


PELEGO

Sempre exaltado, Sávio passou meses criticando os gastos públicos com a Copa. Agora isso não importa: com a camisa da Seleção, contou na repartição que hoje chegou sua TV nova.

86


87


88


89


90


RESSACA DA COPA

O vazio começa quando o jogo acaba. Vazio de vazia arquibancada. As três tabelinhas já foram preenchidas: do mercado, do posto e da churrascaria (talvez nunca mais serão revistas). Cessam esta e aquela emoção... até a próxima competição.

91


HAPPY END

A atriz era tão parecida com seu último amor, que quando a novela acabou, Jocenir suspirou: “Afinal, posso mudar de canal!”

92


93


AMOR É O QUE PASSOU

− Wil, no que você pensa tanto?! − O amor tem sempre um porém: “por enquanto”.

94


95


96


97


REMOÇÃO

Quando o amor acaba, ela demora a aceitar: ilusão, desinformação, teimosia inata? Acha que tudo se resolverá: de uma hora pra outra, por milagre ou num passe de mágica? E assim não permite que inicie outra dança: – Sai de mim, esperança!

98


VA ZIOS

18h15. Elevador lotado, escada rolante cheia, busão sem espaço, vida vazia. Mas na minha mente ainda ela continua linda... Linda!

99


100


ECOAR

Do álbum de alguém escapei. Fugi, orgulhoso, convicto. Caí, ainda não levantei, mas se me pisarem eu grito!

101


102


103


REPOUSO

Vina entregava colchões. “Bons sonhos!”, dizia agradecendo aos clientes. Quando foi demitido, passou um mês dormindo no sofá: “Pra não ter pesadelos!” 104


105


106


107


FOBIA

Paula não andava de elevador sozinha: “Vem comigo, por favor?” “Sim!”, disse Ivan. “Obrigada!” “Quando precisar, me chama no 68!” No outro dia ela interfonou.

108


PONTE DA AMIZADE

Maria Auxiliadora organiza tudo na calculadora. Antes de escolher o produto, ela já sabe a margem de lucro. Só perdeu as contas das vezes que cruzou a ponte pra fazer compras.

– Mas na sacola não tem nada pra consumo próprio?!

– É claro, meu bem, isso faz parte do negócio!

E segue ansiosa pra ver o DVD pirata do seu grupo preferido de pop latino. 109


110


111


FIM DE ANO

I. ÁRVORE

O zelador e o faxineiro dão seu toque especial, ao colocar os enfeites de natal. Uma hora e já está em pé a árvore do Edifício Maria José.

II. FANTASIA

– Seu Manoel, alguma vez você já foi Papai Noel? – Eu? Não... Acho que não me acostumaria ao frio do Polo Norte. 112


113


III. PRESENTES

Um ano fica velho e o novo se apresenta quando Massuhiro chega com o uĂ­sque e a agenda!

114


115


116


SEM GRIFE

Enquanto eu não produzir roupas com a minha assinatura, você ficará assim: nua.

117


CORPO E PALAVRA

Na noite em que acertou a sétima mensalidade, Júnior abandonou a série pela metade. Ardendo de curiosidade, chegou na dona e falou: “Posso saber o que diz a frase da sua tatuagem?” Um tanto contrariada, a bela aceitou: “Pode”. Era letra de pagode.

118


119


PECK DECK

Walterofilista passa horas na academia. Vive a vida entre halteres. Nunca perde a contagem das séries: “Só fico contente quando tomo meu shake”, diz.

120


121


CERRO ARRIBA

Subindo tantos degraus, vestido desse jeito, ou estรก pagando promessa ou querendo perder peso!

122


123


PELEJA DA MADRUGADA

Ali, Flavinho era “Davi”; “Gigante Golias”, o poste. Olhar de bravo guerreiro, verdadeiro Dom Quixote! Na peleja da madrugada, invisível obscuro esporte.

Gira o tênis sobre a cabeça, qual feroz redemoinho em movimento frenético... Até que o seu arremesso cruzasse a iluminação pousando n’algum fio elétrico.

124


Missão cumprida, inimigo vencido, sua vitória é atestada no alto! Ele retorna pra casa descalço, Cansado, cansado, exausto: “Vida de atleta não é fácil!”...

PARCIALMENTE INFORMAL

Reinaldo é recepcionista. Trabalha de paletó, gravata e camisa comprida. Sua transgressão ao traje fica por conta da meia esportiva. 125


CHECK UP

– Demorou pra voltar, senhor Esmeraldo! – É, doutor, quando a gente tem saúde acha que não adoece. – Sei... e quando adoece acha que não tem saúde, né?

126


CÁPSULAS

Cíntia é um culto aos sintéticos: todos os dias toma quase um alfabeto de vitaminas. “Nos dias de hoje estamos todos comprimidos”, afirma.

127


REMÉDIOS

– Não acredito que você não leu a bula! – Não faz o meu gênero literário. – Depois morre e não sabe por quê! – Todos morrem... porque vivem.

128


129


PROFECIAS

– O que esperam vocês, sentados no banco do ponto, se não passa ônibus há mais de um mês? A próxima encarnação?

– O fim do mundo, talvez.

130


131


MITO DE ORIGEM

No Reino dos Mortos, em tempos remotos, temia-se um vírus que nunca se vira. E quando chegou a epidemia, chamaram a nova virose de “Vida”.

132


133


NINGUÉM VISITA O COZINHEIRO

Era como uma entidade ou fantasma, que aparecia de vez em quando, trajando branco, não raro coberto por máscara.

Apesar de sempre almoçarem lá, ninguém o conhecia, até o dia em que sofreu um desmaio, no ambiente apertado do trabalho.

134


Suspeita de enfarte, chamaram o resgate. Felizmente escapou com vida!

Hoje continua labutando, dia a dia, o dia inteiro Geraldinho, o cozinheiro.

135


136


SIRENES

Moacir é motorista de ambulância. Vive em alta velocidade, cortando carros pela cidade: “Ser mais rápido que a morte eu tento, mas ela não pega trânsito!”, diz com orgulho e desânimo.

137


138


139


BITUCAS

I. Sid no ponto de ônibus fuma um cigarro atrás do outro. Se é longa a espera, vai toda a cartela.

140


II. Carreto ou serviços gerais, em tudo o que Weslei faz, leva sempre um cigarro na boca: “Mas quando termina o meu maço, acaba também minha força”, diz.

141


142


143


144


CARGAS

– Elias, em tantos anos de estiva, qual o peso maior que você carregou na vida?

– Rapaz, o maior peso mesmo é quando a gente está sem emprego... Aí complica!

145


Sร SIFO

Com a pedra subindo a ladeira, de crachรก, uniforme ou terno, se existe algum inferno, lรก sรณ tem segunda-feira!

146


147


HORÁRIOS

Relógio de pulso, relógio de bolso, de parede, redondo, quadrado... Na loja do seu Botelho, o tempo não é abstrato.

Da rua se vê o mosaico, com todas as horas do dia, as setas do tempo girando, ponteiros em sincronia.

148


149


Meio na correria, entra o amigo carteiro, que brinca com seu Botelho: – Tem horas aí? – Muitas! Quer comprar um relógio? – Relógio no pulso é algema! – E o celular no bolso, o que é? – Rastreador da mulher... – Valeu, rapaz! – Até!

150


DIA-A-DIA

Expresso da meia-noite. Expresso do meio-dia. Pressa todos os dias.

151


PREGUIÇA SEM PREJUÍZO

Ele nunca teve pressa. Ele nunca teve prazos. Ele nunca teve atrasos. Mas sua vida sempre foi de cão!

152


153


AMPULHETA

Parecia afobado, a correr desesperado contra o tempo. Sob sombras de arranha-cĂŠus, pelas brumas dos escapamentos. Cidade-ansiedade-sem-fim: Time is money? Money is nothing!

154


155


156


FORA DE HORA

O tempo não para. O tempo não espera. O tempo me apavora.

157


RETROSPECTIVAS

– Aconteceu isso, depois aquilo; aquilo, depois isso. – Terminou? – Não. Multiplica por 365.

158


159


160


161


PLAYIMMOBILE

Para onde vamos? Onde vamos parar? Para onde vamos parar?

162


163


TRÂNSITO

Se está difícil seguir em frente...

164


descongestione sua mente!

165


SEREIA DO SACOMÃ (LINHA 478-P)

Ela senta antes da roleta, como que protegida entre o cobrador e o motorista. Na hora de descer, caminha até o fundo do ônibus. Até o fundo dos meus olhos.

166


RUBORIZAR

César olhou distraidamente pro lado e a reconheceu. Logo seu semblante mudou. Olhou novamente, viu que não era ela, voltou ao estado anterior. Mas eis que uma mão tocou levemente seu ombro: era ela sim! Mudou o semblante de novo.

167


168


SENSORES

Aléssio temia os alarmes. Sempre que saía de uma loja, o seu coração disparava. Um dia, o alarme tocou. Antes que o abordassem, Aléssio congelou.

169


TRISTE ESTÁTUA

I. Ela veste traje de época. Com tinta cinza prateada cobre mãos e rosto. Tenta se concentrar, mas logo a reumaniza uma certa tristeza no olhar.

II. Estela era estátua viva. O dinheiro que ganhava não pagava suas dívidas. Mudou de profissão: hoje é segurança na Praça de Alimentação. 170


DETECTORES

A porta travou. Uma gravação orientou para depositar os objetos metálicos na gaveta. “Pistola automática também?!”, indagou o indignado cliente.

171


GREVE, GROOVE

É perceptível o orgulho de Joel, em frente à agência, com a camisa de greve vermelha, como se vestisse o uniforme do seu time.

172


173


BANCÁRIO DO MÊS

Quando Ton conta o dinheiro tem mãos mais rápidas que máquinas. Seu caixa nunca relaxa, está sempre em prontidão: Ailton: O Rei da Autenticação!

174


CONTAS

No Bradesco ela pegou a senha R57 e ele a R60. Depois, no Correio, ela 19; ele 22. “Tá me seguindo?” “Quem sou eu pra negar o destino!” Sorriram.

175


PEREGRINOS

Diziam que ele nunca chegaria a lugar nenhum. Um dia ele chegou, porĂŠm nada encontrou.

176


177


AUDIÊNCIA

Dizia na capa da revista: “Fulana separou do Fulano”. Cíntia, o que falta tanto nas nossas vidas que procuramos tanto nas dos outros?!

178


CINEGRAFISTA AMADOR

Farias levou a família ao Zoológico. Foi filmando tudo, mas logo a bateria da câmera acabou: “Querida, vamos embora!”, disse inconformado.

179


HORA EXTRA

Dentro do carro, sรณ o poodle branco observava o malabarismo atrapalhado da crianรงa magra. Excitado, achava que aquilo era brincadeira.

180


181


CLOWNDIDATO

Antes de sair pra votar, Acácio revirou o armário e achou sua fantasia de palhaço. Vestiu.

Quando chegou à seção eleitoral, alguém comentou na fila: – Vai votar no Tiririca!

Depois, um sujeito passou ao seu lado e brincou perguntando se ele seria candidato. O jovem disse: – É possível.

Ao deixar a “Festa da Democracia”, Acácio distribuiu balas e pirulitos às crianças que o abordavam sorrindo. 182


183


PIZARRA

Pequeno artista do asfalto, parece que seu desenho resulta num autorretrato.

184


185


O ÚLTIMO ATO DE THIAGO KLIMECK

Depois do nó apertado, quase nada mais adianta... Foi triste ler a notícia, que um luto na arte implanta: o ator asfixiado durante o auto da Semana Santa.

Dramaticamente e de fato, na cena do último ato morreram “Judas” e Thiago.

186


NOVE DE JULHO

Meia-noite de uma noite fria em São Paulo. Silvia saiu do velório pra fumar um cigarro. Chorou, soprando vento e fumaça no ar poluído da Doutor Arnaldo.

187


CICLISMO MORTUÁRIO

Cansada dos mesmos passeios, Marilda apertou os freios na porta do cemitério.

Não sabia se podia, mas como não tinha vigia, entrou com a bicicleta.

Pedalando lentamente, foi desfrutando o silêncio entre tumbas de vários tempos. 188


Escuras, misteriosas lápides, antigas personalidades... Desceu pra fazer um retrato no jazigo Monteiro Lobato.

Algumas horas mais tarde, vendo a foto que tirou, um pensamento a tomou: “Onde estará o escritor, no fundo da fria cova ou nas páginas de sua obra?”

189


Marilda foi deitar jĂĄ perto da meia-noite. NĂŁo sem antes folhear um dos livros da estante.

190


191


ROTINAR

– Me conta uma história? – Real ou imaginária? – Extraordinária! – Mas minha vida é tão banal. – Então conta daquele dia que não foi igual. – Qual?

192


193


194


ODE A UM ÍC(L)ONE

O nome dele eu não sei. Nem lembro se perguntei... O que o define, porém, e nisso a memória não falha, é o seu famoso apelido: “TIM MAIA”.

195


JAM

O amolador de facas e seu apito, o vendedor de beiju com o triângulo e o sorveteiro da buzina encontraram-se numa esquina. Assim surgiu “Os Ambulantes”.

196


VIRTUOSE

Amir sonhou que via a banda dos seus sonhos. Viu o batera entrar num solo interminável, idílico! Quando acordou, pensou: “Será que ele ainda está solando?”

197


ESTAMPAS

Hรก vinte anos Vera vende acessรณrios de rock e camisetas. Seus cabelos jรก estรฃo brancos, mas as peรงas continuam pretas.

198


199


200


201


MÚSICA

– Glenn Miller procurava um som. John Cage procurava o silêncio. O que você procura, Samira? – Uma mesa pra cozinha.

202


203


ORWELLINÁLIAS

Tem sempre alguém te observando. E não é Deus.

204


205


SIESTA

Não sei se é preguiça ou “encosto”, nas manhãs nunca tenho um despertar disposto. E quando é final de tarde, um sono sem cessar me invade.

206


207


CORDILHEIRA

No mês de janeiro, a Cordilheira é uma senhora idosa de cabelos grisalhos. Ela guarda, no seu chão agreste, as velhas memórias do mundo celeste.

208


209


210


TRAJETOS

– Senhor Jigoro, e se eu me perder na jornada? – O mundo é uma só rua: o caminho não é seu, mas a caminhada é sua.

211


RECONFORTO

Ao ouvir aquele “Não!”, Atílio apertou o passo e voltou pra casa rápido.

Melancólico, cabisbaixo, mais que amiga palavra, precisava de uma canção: revirou sua discoteca em busca de solução...

Com os nervos em profusão, e ainda bastante inquieto, levou o vinil ao som: “Nelson, aqui me tens de regresso!” 212


GNOMOS

Nildo andava sempre preocupado com a carteira: – Podem roubá-la. – Posso perdê-la. Um dia ele perdeu. Ou será que roubaram...?

213


QUEDA

Não se preocupe, Marli! A vida é assim... Outro dia eu tava na maior decadência: caí, caí, caí! Quando dei por mim, perguntei: “O fundo do poço é aqui?” “Sim”, respondi. “Onde pego o elevador pra subir?”

214


215


ÚLTIMA CEIA

Comeu e bebeu até se empanturrar. Pouco antes de cair, chegou no dono do bar: – Seu Jair, se eu fosse te pagar, quanto que ia sair?

216


217


AMOR

Seu cachorro ela chama de “Amor”. É “Amor” pra cá, “Amor” pra lá... Quando tiver um marido, como ela o chamará?

218


219


O CÃO, A CADELA E O DOG

I. INDISTINÇÃO

Aquele era um CÃO parceiro: ao ver o mendigo no chão, foi até lá lambê-lo. Recebeu gentil afago, enquanto, contrariada, sua dona a coleira puxava.

220


II. MANHA

A CADELA da Frida é esperta: se fala “Pula!”, ela pula; se fala “Pega!”, ela pega. Porém quando se rebela, não mexe nem o focinho se não lhe falar no ouvidinho.

221


222


III. O QUE É DO HOMEM, O BICHO NÃO... BEBE!

Sentado na canaleta, veio um DOG beber minha cerveja: – Alto lá, amizade! É só pra maior de idade!

223


DESPEDIDAS

Igor tudo ironizava. Quando sua avó viajava, costumava dizer: – Tchau, vozinha! Até a próxima! A seguir, complementava: – Vai com Deus!... Mas depois manda Ele de volta! E a anciã partia sorrindo.

224


225


BRIGHT SIDE

– Diva, em meio às dificuldades, seu sorriso chega a ser surpreendente! – Se nós não brincamos com a vida, a vida briga com a gente.

226


227


SHERLOCK

Bianca mostra pra vó uma foto no Tablet, mas ela não consegue ver. Diz que precisa de ajuda... Então mexe na bolsa marrom e tira sua velha lupa!

228


TAUMATURGO

O vigilante Éder é o “guru” das idosas. Discursando perto do caixa eletrônico, falou: “O trabalho dignifica o homem”. A senhora olhou como quem diz “Amém!”.

229


PERMUTAS

Vários cromos na mão, um olhar discreto. Disse que o álbum ia dar ao neto. Alguém perguntou: – Completo?! – Sim. – Não, vovó... Traz ele pra cá e ensina a trocar! – Vou pensar.

230


NOTÍCIAS

I. TRAGICOMÉDIA

Por pouco a roda não pega! Na capa do NP, a manchete seria essa: “Sujeito atropelado por anão de bicicleta!”

231


232


II. DEDUÇÕES

A dona atravessa a rua, sem olhar pro farol, sem olhar para nada: “Brigou com o namorado e quer ser atropelada!”

233


234


BASTIDORES DA NOTÍCIA

Ruben entregava jornais. Antes do galo pensar em cantar a primeira nota, a notícia já estava na porta. Hoje ele não tem mais pressa: aguarda o leitor sentado atrás da sua bicicleta.

235


RECICLAGEM

− Veja aquele esquilo. − Sim... − Será que teria comida se não procurasse no lixo?! − É uma jogada de risco: toda vez que entrar lá o roedor, pode achar algum resto de amor.

236


237


238


SPIDER

Renan é restaurador de fachadas. Desce prédios, enormes arranha-céus. Nunca temeu as alturas. “Meu medo mora perto do chão”, diz.

239


LUDOMETÁFORA

Uma peça junto a outra, pra nenhuma ficar só. No intervalo do trabalho, o que domina é o dominó!

240


241


TEXTURAS

Kelly é cabeleireira, mas prefere tingir a cortar cabelos. Ela gosta da química: misturar cores, criar novos tons. “Só me conformo quando transformo”, diz.

242


243


SUBSOLOS

I.

Gastão é garagista. Manobra carros de distintos modelos e estilos. Nos seus sonhos ele sempre está a pé.

II. Sempre após o almoço, Gastão tira uma pestana. Seu assento preferido é o do carro da Silvana: menos pelo conforto, mais pelo aroma.

244


245


BATALHA DE FLORES

Depois do bloco passar, garis varreram a Rua Glete. No meu cérebro folião surgiu a seguinte questão: será que quando brincam eles também jogam confete?

246


247


248


CARNAVAL

A caneta vazou nas mãos do dr. Pires. Ele aproveitou a tinta para fazer em seu rosto uma pintura “apache”. Foi à recepção e chamou o próximo paciente.

249


250


ASSEPSIA

Na saída do banho eu me pergunto: será que estou mais limpo, ou será que menos sujo?

251


ASCENSOR

I. PANE

Quando o elevador quebra, Isaías solicita o serviço de assistência técnica. Se perguntam por que parou ou o que aconteceu, ele responde: − Furou o pneu!

252


253


II. RECOMEÇAR

Natércio é ascensorista de um prédio de dez andares. Certa vez, subiram dez pessoas no elevador, cada uma pra um andar diferente. Quando desceu o último passageiro, Tércio retornou ao zero.

254


WILMA, RÉGIS, SILVESTRE

I. GARANTIA

Há três anos Wilma compra DVDs na mesma loja. O vendedor sempre diz: − Se tiver algum problema, pode vir que a gente troca! [Ela já precisou algumas vezes, mas nunca levou pra trocar]

255


II. GIROS

A última saída fotográfica não teve tema específico. O professor sugeriu: − Registrem o que for mais bonito. Régis olhou pra colega: − Pode me dar um sorriso?

III. ACESSÓRIO FUNDAMENTAL

É quase um ritual... Silvestre não pinta parede sem o seu chapéu de jornal!

256


PROVÉRBIOS

Não há mal que nunca acabe, não há bem que sempre dure. Não há como esquecer o seu perfume.

257


258


ESTRAGO

Dor de amor demora a passar. Incomoda noite e dia. É lesão no coração, não tem fisioterapia.

No copo o bebum escondia a dor que sentia no peito. Já estava insatisfeito e não via mais saída...

259


Pediu pro garçom uma pinga, molhou a “menina” no beiço, fez careta, gargarejo, cuspiu a mazela que tinha... Transformou em xiboquinha o mel da melancolia!

Foram muitos os relatos sobre aquela agonia. Enquanto Gélson lembrava, seu corpo todo tremia. Dizia mais pelos olhos que por sua fala ébria: − E agora o que será de mim?! O que será de mim sem ela!

260


Depois de muito bochecho, de tomar quanto podia, caiu na mesa de queixo! Não teve nem pesadelo − dizem −, pois fez uma xiboquinha com mel de melancolia!

Entre trôpego e cambaleante, rastejou pela noite errante.

261


HUMANIDADE LINCHADA

Correu um boato na rede, causou revolta na massa. Juntaram a comunidade, passaram de casa em casa.

Retrato falado na mão, um texto de acusação e a mais atroz decisão: liquidar a “ameaça”.

262


Em ação imediata, raptaram a “suspeita”, que disse não ser aquela do caso de “magia negra”.

De nada serviram palavras ante o ato de barbárie, espancaram Fabiane com frieza e crueldade.

Não resistindo à agressão, hoje é um corpo no caixão, aos trinta e três de idade.

263


Essa atitude covarde precisa ser rechaçada. Passam as gerações, as eras, o tempo passa... e ainda tem cidadão queimando “bruxa” na praça!

Que não nos atinjam suas pedras! Continuemos tentando sair da “Idade das Trevas”!

264


265


266


EXTERMINADOR

Mike é agente da Lei. Onde quer que vá, sempre vai armado: – Ferramenta de trabalho! – diz.

Certa vez presenciou um assalto, mas ao puxar a “quadrada”, ela caiu num buraco.

No dia seguinte, foi ao Shot Shop comprar revólver. Hoje leva um na cintura e outro na perna: – Garanti minha reserva! 267


268


ENCENAÇÃO

Grito do Ipiranga, Sete de Setembro: mesma mentira contada há muito tempo.

269


O HOMEM-BOMBA NA CORDA BAMBA

Um dia mudo, um dia estudo, um dia explodo. Um dia tudo. Um dia todo.

270


QUIROMANCIA

– Mas o que a leitura da mão tem a ver com o coração?! – Não pense estreito... Pelas extremidades conhecemos o centro.

271


272


AC/DC

– Matei o passado! – bradou Carla no balcão. – Sempre fui sem futuro! – disse Júlio na mesa. Olharam-se na fila do caixa. Presente acontecimento.

273


FLORespinhos

Mostre-me a flor...

274


275


que te mostro os espinhos.

276


277


278


DESVENDAR

– Você não sabe quem eu encontrei...

– Não... Sério?!

– Sim! Estávamos no mesmo ônibus e descemos no mesmo ponto.

– Então moram perto um do outro...?

– Os gatos que eu observava no sétimo andar do prédio da frente... 279


– São dela?! Caramba! E agora, vão dar boa noite na janela...?

– Agora...? Vai passar mais um tempo, vou reencontrá-la casualmente, vamos caminhar juntos e descobrirei que os miados que vem da porta do apartamento da frente...

– São dos gatos dela... E aí?

– Vão passar mais uns anos, nos esbarraremos de novo e descobrirei que os gatos que sobem na minha cama de manhã para ronronar no meu peito... são os gatos dela.

280


281


EMBARAÇO

A função da grade é demarcar o espaço; alertar que por ali não se deve entrar ou sair. Mas às vezes alguém pode reagir. E forçar o alambrado. Por fim, ninguém ficará intacto: nem a grade, nem o cacto.

282


283


BRAVO GALO

Ele caminha despreocupado, ignorando o funesto quadro que anuncia sua sentença: “Pollo Frito” ou “Chicharrón de Pollo”. Tanto faz o nome que o darão à mesa...

284


285


PARALISAÇÃO

– Você podia ir ao céu, mas de repente parou...

– Quando senti seu abraço, o meu destino mudou!

286


287


REFRAÇÃO

Numa tarde ensolarada, se cinzento te sentires, vá ao parque observar a fonte do arco-íris!

288


289


CAMÉLIDOS

Só confio na arte que engana. Perguntei se era cachorro (pensando que era porco), mas alguém respondeu: – É lhama.

290


291


292


293


VOADORES

– Girar de ponta-cabeça não te enjoa, voador? – Concentro-me na música da flauta e do tambor.

294


295


UM TEMPO OS SALGADOS NÃO CHEGAM E OS OLHOS SE ENXERGAM No Rei do Mate, alguma tarde. Atrás de mim um espelho. A moça da mesa da frente olha em minha direção, não sei se para mim ou se para si. Notou que notei, notei que notou. Baixamos a vista com certo receio. Olhares alheios também são espelhos?

296


ESSÊNCIAS

Vidro aberto, olhos fechados, já sei onde o “buso” está... Assim que sinto o aroma das flores do Araçá!

297


298


299


ARTES E OFÍCIOS

– O que você acha de unir seu trabalho à minha marca? Posso te mandar uma proposta...

– Não é um trabalho; não faço por encomenda. Minha arte é barata, mas não está à venda.

300


301


RISCOS

Chove. Atenção ao andar pela calçada: pode o pé querer entrar na poça d’água. Pode a poça ser profunda, como não se esperava.

Chove.

302


303


Torça pra que as pontas dos guarda-chuvas passem longe dos seus olhos. E que a lama chutada pelos carros não te toque.

C h o v e.

304


305


VOCAÇÃO

Nivaldo é piloto de trem. Mas é bem fácil notar, pelo jeito de anunciar cada estação do metrô, que muitas vezes na vida ele sonhou ser locutor.

LIFE FERRORAMA

Era domingo. Nancy deveria descer uma estação antes da que desce todos os dias. Porém, distraída, foi até a parada seguinte. Lá, pegou a saída de costume e, só ao notar as portas fechadas do edifício onde trabalha, caminhou ao seu destino que havia ficado para trás: o shopping. 306


307


TRÊS CORES, TRÊS LINHAS, SEIS ESTAÇÕES

– Dá uma olhada nesse mapa, por favor. Você sabe como faz pra chegar aqui?

– Nunca ouvi falar dessa praça. É um bairro que não conheci. Naquela estação só passei no dia em que me perdi. Na verdade, te falo, “minha cidade” é menor que São Paulo.

308


ESTREITAS CALÇADAS

Ameaço ir para um lado, ela também. Ameaço para o outro, ela também, de novo! Ninguém recua ou avança:

– Moça, obrigado pela dança!

Passo.

309


POLE POSITION

A cadeira de rodas de Tales parece que tem motor, quando desce em velocidade pela rampa do metrĂ´! Os guardas gostam, mas fingem adverti-lo. E ele acena como consentindo...

310


311


FRITURAS

Dizem que faz mal, mas não existe nada igual. Brilham os olhos, brilha o óleo. “Vai que a fome tá cruel!” O melhor da feira é o pastel!

312


313


LA RICA LARICA

– Vítor, prove isso! Veja se não tem o sabor do Céu!

– Mas vó, eu nunca estive Lá...

– Provando você estará!

314


315


316


JARDIM

Todo final de tarde, dona Alba pega um balde para as plantas da praça molhar. Eu não posso garantir, mas penso que quando ela chega, cada uma das plantas sorri.

317


318


FLOR DO BUEIRO

Descendo pela Brigadeiro, a vi logo abaixo de mim. Pensei: “minha cara florzinha, que estranho esse seu jardim!�

319


HORIZONTES

– Correto... mas onde você quer chegar com tudo isso?!

– Ao início.

320


321



ÍNDICE pág. 09: Prefácio de Olavo Brito pág. 12: Ajudante pág. 15: Perspectivas pág. 18: Dor, Dor pág. 20: Teias pág. 22: Chuvas pág. 23: Herança pág. 24: Subjetivas pág. 26: Trava-língua pág. 30: Verdadeiro Eldorado pág. 34: Brilho pág. 35: Tesouros pág. 36: Tentação pág. 40: Decisões pág. 44: Constantino Inconstante pág. 45: Sem Juiz pág. 47: Bolão pág. 48: Fortuna pág. 50: Cartelas pág. 53: Ritmos pág. 56: Sereias pág. 60: Desocupação pág. 62: Trancas pág. 66: Celas pág. 68: Grades pág. 70: Exit-Êxito pág. 72: Retiro pág. 74: Intersecção pág. 76: Viagens pág. 80: Falta pág. 82: Averiguação pág. 85: Cartazes pág. 86: Pelego pág. 91: Ressaca da Copa


pág. 92: Happy End pág. 94: Amor é o que passou pág. 98: Remoção pág. 99: Va zios pág. 101: Ecoar pág. 104: Repouso pág. 108: Fobia pág. 109: Ponte da Amizade pág. 112: Fim de ano: I. Árvore / II. Fantasia pág. 114: Fim de ano: III. Presentes pág. 117: Sem grife pág. 118: Corpo e palavra pág. 120: Peck Deck pág. 122: Cerro Arriba pág. 124: Peleja da madrugada pág. 125: Parcialmente informal pág. 126: Check up pág. 127: Cápsulas pág. 128: Remédios pág. 130: Profecias pág. 132: Mito de origem pág. 134: Ninguém visita o cozinheiro pág. 137: Sirenes pág. 140: Bitucas I. pág. 141: Bitucas II. pág. 145: Cargas pág. 146: Sísifo pág. 148: Horários pág. 151: Dia-a-Dia pág. 152: Preguiça sem prejuízo pág. 154: Ampulheta pág. 157: Fora de Hora pág. 158: Retrospectivas pág. 162: Playimmobile


pág. 164: Trânsito pág. 166: Sereia do Sacomã (Linha 478-P) pág. 167: Ruborizar pág. 169: Sensores pág. 170: Triste Estátua pág. 171: Detectores pág. 172: Greve, Groove pág. 174: Bancário do mês pág. 175: Contas pág. 176: Peregrinos pág. 178: Audiência pág. 179: Cinegrafista Amador pág. 180: Hora Extra pág. 182: Clowndidato pág. 184: Pizarra pág. 186: O último ato de Thiago Klimeck pág. 187: Nove de Julho pág. 188: Ciclismo Mortuário pág. 192: Rotinar pág. 195: Ode a um íc(l)one pág. 196: Jam pág. 197: Virtuose pág. 198: Estampas pág. 202: Música pág. 204: Orwellinálias pág. 206: Siesta pág. 208: Cordilheira pág. 211: Trajetos pág. 212: Reconforto pág. 213: Gnomos pág. 214: Queda pág. 216: Última Ceia pág. 218: Amor pág. 220: O cão, a cadela e o dog / I. Indistinção


pág. 221: O cão, a cadela e o dog / II. Manha pág. 223: O cão, a cadela e o dog / III. O que é do homem, o bicho não... bebe! pág. 224: Despedidas pág. 226: Bright side pág. 228: Sherlock pág. 229: Taumaturgo pág. 230: Permutas pág. 231: Notícias / I. Tragicomédia pág. 233: Notícias / II. Deduções pág. 235: Bastidores da notícia pág. 236: Reciclagem pág. 239: Spider pág. 240: Ludometáfora pág. 242: Texturas pág. 244: Subsolos pág. 246: Batalha de Flores pág. 249: Carnaval pág. 251: Assepsia pág. 252: Ascensor / I. Pane pág. 254: Ascensor / II. Recomeçar pág. 255: Wilma, Régis, Silvestre / I. Garantia pág. 256: Wilma, Régis, Silvestre / II. Giros / III. Acessório Fundamental pág. 257: Provérbios pág. 259: Estrago pág. 262: Humanidade Linchada pág. 267: Exterminador pág. 269: Encenação pág. 270: O Homem-Bomba na Corda Bamba pág. 271: Quiromancia pág. 273: AC/DC pág. 274: FLORespinhos pág. 279: Desvendar pág. 282: Embaraço pág. 284: Bravo Galo


pág. 286: Paralisação pág. 288: Refração pág. 290: Camélidos pág. 294: Voadores pág. 296: Um tempo os salgados não chegam e os olhos se enxergam pág. 297: Essências pág. 300: Artes e Ofícios pág. 302: Riscos pág. 306: Vocação pág. 306: Life Ferrorama pág. 308: Três Cores, Três Linhas, Seis Estações pág. 309: Estreitas Calçadas pág. 310: Pole Position pág. 312: Frituras pág. 314: La rica larica pág. 317: Jardim pág. 319: Flor do Bueiro pág. 320: Horizontes


ÍNDICE DE FOTOS Fotos por João Mauro Araujo. pág. 13: Veronica e Carlos. San Cristóbal de las Casas / Chiapas / México. pág. 14: Amanhecer em São Paulo. SP / Brasil. pág. 16: Amanhecer em São Paulo. SP / Brasil. pág. 17: Amanhecer em São Paulo. SP / Brasil. pág. 18-19: Cantadores na Praia de Iracema. Fortaleza/ CE/ Brasil. pág. 21: Frase em orelhão “Empiezo a olvidar su olor”. São Paulo / SP / Brasil. pág. 25: Fim de tarde na Ponte dos Ingleses. Fortaleza / CE / Brasil. pág. 27: Frase em muro da Avenida São João. SP / Brasil. pág. 28: Garimpeiros em mina de Pedra Lavrada. Paraíba / Brasil. pág. 29: Mina em Pedra Lavrada. PB / Brasil. pág. 31: Garimpeiros extraindo caulim com pás. Junco do Seridó / PB / Brasil. pág. 32: Garimpeiros extraindo caulim com pás. Junco do Seridó / PB / Brasil. pág. 33: Mina em Pedra Lavrada. PB / Brasil. pág. 37: Bola na trilha. Guarujá / SP / Brasil. pág. 38: Campo de futebol em Brasília Teimosa. Recife / PE / Brasil. pág. 39: Trave de futebol no bairro de Brasília Teimosa. Recife / PE / Brasil. pág. 41: Placa de trânsito na Vila Pompéia. São Paulo / SP / Brasil. pág. 42: Futebol de areia na Terra de Iracema. Fortaleza / CE / Brasil. pág. 43: Futebol de areia na Terra de Iracem. Fortaleza / CE / Brasil. pág. 49: Abrele la Puerta a la Suerte, pintura de Ariosto Otero na Lotería Nacional. Cidade do México / México. pág. 51: Estátua Deusa de la Fortuna. Cidade do México / México. pág. 52: Estátua Deusa de la Fortuna. Cidade do México / México. pág. 54-55: Solitária Sereia. Córdoba / Argentina. pág. 57: Fachada de casa fechada. Porto Alegre / RS / Brasil. pág. 58: Fachada de casa fechada. Porto Alegre / RS / Brasil. pág. 59: Fachada de casa fechada. Porto Alegre / RS / Brasil. pág. 61: Calçada de chaveiro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 63: Calçada de chaveiro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 64: Grafite por Cavalcante, Luísa Gabriela Santos, Paulo Chimendes, Tânia Cappra e Vânia Rigger. Porto Alegre / RS / Brasil. pág. 65: Calçada de chaveiro. São Paulo / SP / Brasil.


pág. 67: Porta de prisão política desativada. Centro Clandestino de Detención. Córdoba / Argentina. pág. 69: Roupa usada por preso político. Acervo do MUME. Montevidéu / Uruguai. pág. 71: Encontro das Águas. Manaus / AM. pág. 73: Correspondência. pág. 75: Encontro das Águas. Manaus / AM / Brasil. pág. 77: Navegantes no Rio Solimões. AM / Brasil. pág. 70: Navegantes no Rio Solimões. AM / Brasil. pág. 78-79: Trailers em mirante de Canoa Quebrada. Aracati / Ceará / Brasil. pág. 81: Vitrine em loja na Avenida Paulista. São Paulo / SP / Brasil. pág. 82-83: Cobertor coberto. Porto Alegre / RS / Brasil. pág. 84: Camisetas para manifestantes. Porto Alegre / RS / Brasil. pág. 86-87: Grafite na Rua da Consolação, por Crânio e Mundano. São Paulo / SP / Brasil. pág. 88: Grafite em porta de escola, por Paulo Ito. São Paulo / SP / Brasil. pág. 89: Trailer de torcedores deixando a Capital Federal. Brasília / DF / Brasil. pág. 90-91: Trailer de torcedores deixando a Capital Federal. Brasília / DF / Brasil. pág. 93: Grafite em muro de Biblioteca. Montevidéu / Uruguai. pág. 95: Grafite na Avenida Pompéia, por Alex Senna. SP / Brasil. pág. 96: Grafite no Buraco da Paulista, por Rui Amaral. SP / Brasil. pág. 97: Grafite na Avenida 23 de Maio, por Nunca, Os Gêmeos e outros. SP / Brasil. pág. 102: Sofá abandonado. Belém / PA / Brasil. pág. 103: Sofá abandonado. São Paulo / SP / Brasil. pág. 104: Grafite do Não Moska. São Paulo / SP / Brasil. pág. 105: Sofá abandonado no bairro de Santa Cecília. São Paulo / SP / Brasil. pág. 106: Frete. Cusco / Peru. pág. 107: Sofá abandonado. Natal / RN / Brasil. pág. 110-111: Pessoas Atravessando Fronteira Paraguai-Brasil. Foz do Iguaçu / PR / Brasil. pág. 113: Roupa para Aluguel. São Paulo / SP / Brasil. pág. 115: Roupa para Aluguel. São Paulo / SP / Brasil. pág. 119: Grafite em porta de academia. São Paulo / SP / Brasil. pág. 121: Grafite em porta de academia. São Paulo / SP / Brasil. pág. 123: Escadas de acesso à Igreja de Guadalupe. San Cristóbal de las Casas / Chiapas / México. pág. 129: Grafite em parada de ônibus. São Paulo / SP / Brasil. pág. 131: Grafite em parada de ônibus. São Paulo / SP / Brasil. pág. 133: Arte de rua. Santiago / Chile. pág. 136: Noite de tráfego lento. São Paulo / SP / Brasil.


pág. 138: Ambulância pulando calçada, na Avenida Paulista. SP / Brasil. pág. 139: Ambulância no trânsito de São Paulo. SP / Brasil. pág. 142-143: Muro de escola de natação desativada. São Paulo / SP / Brasil. pág. 144: Carregador no Porto de Manaus. Manaus / AM. pág. 146: Detalhe da Igreja dos Capuchinhos. Córdoba / Argentina. pág. 147: Fachada de prédio. Porto Alegre / RS. pág. 149: Quadro de Luiz Fernando Pinto. Salvador / BA. pág. 152-153: Cachorro em palco na Casa dos Cantadores, em Fortaleza. Ceará / Brasil. pág. 154: OFF Clock. São Paulo / SP / Brasil. pág. 155: OFF Clock noturna. São Paulo / SP / Brasil. pág. 156-157: Relógio envidrado. São Paulo / SP / Brasil. pág. 159: Carro na rua em novembro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 160: Carro na rua em dezembro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 161: Carro na rua em dezembro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 163: Sinal fechado para pedestres. São Paulo / SP / Brasil. pág. 165: Amanhecer na janela. São Paulo / SP / Brasil. pág. 168: Desenho da Vanessa Carroccia. pág. 172-173: Anúncio de greve em agência bancária de São Paulo. São Paulo / SP / Brasil. pág. 177: Obra do artesão Eduardo Jardineiro. Fortaleza / CE / Brasil. pág. 181: Descanso dos malabares. São Paulo / SP / Brasil. pág. 183: Manifestação de palhaços no Zócalo. Cidade do México / México. pág. 185: Desenhista em rua comercial. Lima / Peru. pág. 192-193: Trio de forró em loja de móveis. João Pessoa / PB / Brasil. pág. 194: Tim Maia - O Cover. Iguape / SP / Brasil. pág. 199: Coturnos. Cidade do México / México. pág. 200-201: Duas gerações de Mariachis. Cidade do México / México. pág. 203: Mariachis aguardando clientes. Cidade do México / México. pág. 205: Escultura de Antony Gormley, no Edifício Martinelli. SP / Brasil. pág. 207: Artesã dormindo. Tiahuanaco / La Paz / Bolívia. pág. 209: Cordilheira em janeiro. Chile. pág. 210: Los Caracoles. Trecho da estrada para Santiago do Chile / Chile. pág. 212: Quadros do acervo Christiano Câmara. Fortaleza / CE / Brasil. pág. 215: Cartaz Corpo Interação. Córdoba / Argentina. pág. 217: Artesanato em barro. Autor não identificado. Fortaleza / Ceará / Brasil. pág. 222: Cachorro no lago. Montevidéu / Uruguai. pág. 227: Boliviana. La Paz / Bolívia. pág. 232-233: Goiaba esmagada. São Paulo / SP / Brasil.


pág. 234: Bicicleta de jornal. Paseo de la Reforma. Cidade do México / México. pág. 236: Esquilo em ação. Bosque Chapultepec. Cidade do México / México. pág. 237: Esquilo em ação (parte 2). Bosque Chapultepec. Cidade do México / México. pág. 238: Restauradores trabalhando em lateral de edifício residencial. São Paulo / SP / Brasil. pág. 239: Restauradores trabalhando em lateral de edifício residencial, detalhe. São Paulo / SP / Brasil. pág. 241: Domino Gratia na Sombra do Mucuripe. Fortaleza / CE / Brasil. pág. 243: Grafite anônimo. Montevidéu / Uruguai. pág. 245: Garagista. São Paulo / SP / Brasil. pág. 247: Funcionário de limpeza urbana. Recife / PE / Brasil. pág. 248: Garis descansando. São Paulo / SP / Brasil. pág. 250: Folião “Suarez” (João José Lopes). Olinda / PE / Brasil. pág. 258: Grafite, por autor anônimo. Porto Alegre / RS. pág. 265: Stencil art em ponto de ônibus, de autoria desconhecida. Detalhe. SP / Brasil. pág. 266: Stencil art em ponto de ônibus, de autoria desconhecida. SP / Brasil. pág. 268-269: Stencil em muro. SP / Brasil. pág. 272: Memorial da América Latina. São Paulo / SP / Brasil. pág. 275: Mostre-me a flor... João Pessoa / PB / Brasil. pág. 277: que te mostro os espinhos. João Pessoa / PB / Brasil. pág. 278: Natural resistência. Teotihuacan / México. pág. 281: Natural resistência. Teotihuacan / México. pág. 283: Natural resistência. Detalhe. Teotihuacan / México. pág. 285: Cartaz de restaurante em Santa Rosa. Santa Rosa de Yavari / Loreto / Peru. pág. 287: Inverno. Montevidéu / Uruguai. pág. 288-289: Fonte do Parque Rodó. Montevidéu / Uruguai. pág. 291: Escultura de planta. Puno / Peru. pág. 292: Retrato de um volador. Paplanta / Veracruz / México. pág. 293: Voladores. Paplanta / Veracruz / México. pág. 295: Voladores de Paplanta em apresentação na Cidade do México. México. pág. 298-299: Floriculturas na Avenida Doutor Arnaldo. SP / Brasil. pág. 301: Colagem na Avenida Paulista, por Nazinho, Sticker e Pedro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 303: Tempo fechado. São Paulo / SP / Brasil. pág. 305: Tempo fechado. São Paulo / SP / Brasil. pág. 307: Metrô. SP / Brasil. pág. 310-311: Grafite na Turiassu, por Não Moska Crew. São Paulo / SP / Brasil. pág. 313: Vendedora de Acarajé no Mercado Santa Bárbara. Salvador / BA. pág. 315: Mulher em Casa de Farinha. Saint Georges de l’Oyapock / Guiana Francesa.


pág. 315: Boliviana. La Paz / Bolívia. pág. 316: Vendedora de Acarajé no Mercado Santa Bárbara. Detalhe. Salvador / BA. pág. 318-319: Flor do bueiro. São Paulo / SP / Brasil. pág. 321: Pescadores no Rio da Prata. Montevidéu / Uruguai.

Colaborações pág. 22: A gota d’água, foto por Ñasaindy Barrett de Araújo. Campinas / SP / Brasil. pág. 46: Pelada no Rio Amazonas, foto por Maurílio Araújo. Macapá / AP / Brasil. pág. 100-101: Espanto de espalda al espacio, foto por Alejandra Rivera. São Paulo / SP / Brasil. pág. 116-117: La Espera Que Desespera, foto por Alejandra Rivera. São Paulo / SP / Brasil. pág. 191: Jazigo Monteiro Lobato, foto por Marina Barreto. São Paulo / SP / Brasil. pág. 219: Julie, foto por Maurílio Araújo. São Paulo / SP / Brasil. pág. 225: Despedidas, foto por Gabriel Duvidovich. Ankara / Turquía. pág. 253: Ascensorista, foto por Adriano Capelo. São Paulo / SP / Brasil.



Este livro foi composto em EHU Sans e impresso por Ipsis grรกfica e editora em Novembro de 2017. Tiragem: 50 cรณpias.


335


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.