MENSAGEM DO
Presidente Itamar Rocha, Engº de Pesca, CREA-7226-D | Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão
N
os últimos meses de 2012 e início de 2013, algumas frentes de ação foram abertas e intensificadas em prol do desenvolvimento e da expansão da carcinicultura brasileira, promover uma maior intensificação e a interiorização priorizando a sua sustentabilidade. A verdade é que, na qualidade de produtores e processadores de camarão optamos em primeiro lugar pela urgência de se obter a relativo curto prazo um aumento de produção nacional para uma maior oferta ao mercado doméstico. È possível ampliar o mercado brasileiro do camarão tanto para elevar o consumo per capita quanto para a entrada de novos consumidores. Concluímos, especialmente depois das exigências do Novo Código Florestal, que a maneira mais rápida para o logro desse objetivo seria intensificar o atual nível de produção. Ou seja, sem expandir a base física existente e, portanto, sem mobilizar grandes investimentos, mas com o uso das Boas Práticas de Manejo associadas a adoção de sistemáticas Medidas de Biossegurança, poder duplicar ou mesmo triplicar nossa produção corrente, que está em torno das 70.000 toneladas anuais. O exemplo exitoso da intensificação vem dos países asiáticos que, em menos de uma década, elevaram seus níveis de produtividade a cifras que antes pareciam impossíveis de ser obtidas. A visita à Ásia por um grupo representativo de produtores de camarão do Nordeste foi de uma oportunidade impar. Revelou a nova realidade da carcinicultura no Continente que domina a produção mundial, isto é, o uso de tecnologia intensiva, protegida e sustentável, com a qual é possível obter excelentes níveis de produção, mesmo com a permanente ameaça de diversas doenças virais. Com essa visita e a avaliação de seus resultados, a decisão do setor está tomada e o caminho da intensificação da carcinicultura nacional já está sendo construído e pavimentado em bom ritmo. Bons frutos podem ser esperados, sendo que é indispensável que se leve em consideração a adoção de BPM`s e Medidas de Biossegurança, associadas sempre às ferramentas tecnológicas requeridas pela correspondente intensificação. Em relação à outra ação, relacionada com a interiorização do camarão L. vannamei, ainda que já esteja amplamente demonstrada sua viabilidade em águas continentais do Nordeste, o exame da alternativa mostra que o assunto demanda um bom planejamento e a adoção de cuidados especiais no tocante a aclimatação e manejo produtivo. Notadamente,
quando se normaliza a estação chuvosa ou quando ocorrem índices pluviométricos fora dos padrões normais. O potencial do Nordeste em relação à exploração da carcinicultura com o L. vannamei em águas interiores é realmente considerável e precisa ser dinamizada. Não há dúvidas de que a carcinicultura em águas continentais com um camarão marinho, originário do Oceano Pacífico, pode crescer no interior do Brasil de modo sustentável, fortalecendo o desenvolvimento do micro, pequeno e médio empreendimento e contribuindo para uma efetiva inclusão social no meio rural do nosso páis. Entretanto, o ordenamento, a estratégia operacional e a sustentabilidade do negócio interiorizado demandam um debate com os Governos Estaduais e uma integração com Empresas Âncoras, detentoras de tecnologias e com amplo acesso aos mercados consumidores. Finalmente, o setor voltou a se confrontar com as ameaças de importação de camarão, que pelos riscos sanitários que apresenta para à carcinicultura brasileira e para os crustáceos nativos do Brasil, mobiliza todo o esforço institucional da ABCC e do setor pesqueiro nacional. Trata-se da infeliz iniciativa do Governo Federal, por intermédio do MPA, de autorizar a importação de camarões selvagens da Argentina. A nossa posição é frontalmente contraria à referida e descabida decisão. Defendemos simplesmente o estado sanitário dos nossos camarões, nativos e de cultivos, lagostas e caranguejos, todos ameaçados por doenças virais de que os camarões selvagens de áreas contaminadas como o mar da Argentina, que se pretende importar, podem ser vetores e, portanto, os riscos de translocações desses vírus via importação, como é o caso dos camarões do Mar da Argentina, são reais. Insistimos e continuaremos a insistir sempre na nossa argumentação de que trazer para o Brasil camarões infestados ou oriundos de áreas com prevalência do vírus da mancha branca, não importa a procedência, é de uma temeridade sem limites, razão pela qual não arredaremos o pé e estaremos usando todos os meios lícitos ao alcance da ABCC, contra essa medida que, definitivamente, não é de interesse do Nordeste e muito menos do setor carcinicultor e pesqueiro do Brasil. Itamar Rocha, Presidente da ABCC (abccam@abccam.com.br) Revista ABCC | 3
Sumário 18
Artigo
Riscos da Importação de Camarão para os Crustáceos Cultivados e Nativos do Brasil
24
Artigo
O Censo da carcinicultura nacional em 2011
36
Artigo
Ações e conquistas da ABCC Relativas ao Novo Código Florestal
44
Artigo
Avanços recentes em sistemas super-intensivos de Raceways para a produção comercial de Litopenaeus vannamei sem renovação de água
57
Artigo
ABCC Lidera Comitiva de Produtores Brasileiros na Ásia
Mais artigos - Ações/Notícias ABCC, pág. 6 | A importação de camarão Argentino irá afetar populações naturais de lagostas no Brasil, pág. 29 | Programa de Melhoramento Genético para resistência ao IMNV e crescimento do camarão Litopenaeus vannamei no BRASIL, pág. 32 | Tendências na avaliação de ingredientes para a substituição da farinha de peixe em rações para camarões marinhos, pág. 40 | Aquicultura no Brasil – Por que não deslancha?, pág. 42 | Perspectivas da Piscicultura Marinha no Nordeste do Brasil, pág. 50 | Estatísticas ABCC, pág. 65
Expediente Rua dos Caicós 1865, 1º andar Dix Sept Rosado, Natal, RN 59052-700 Tel/Fax: 84-32319786 / 32316291 www.abccam.com.br abccam@abccam.com.br Redação Conselho Editorial Itamar Rocha Eduardo Rodrigues Colaboradores Itamar Rocha Eduardo Rodrigues Alberto J.P. Nunes Josemar Rodrigues Diego Maia Rocha Marcelo Borba Rodrigo Carvalho Daniel Lemos Albert Tacon Lucilda Lima Hortência Ventura Hiran Costa Tzachi M. Samocha Rodrigo Schveitzer Dariano Krummenauer Timothy C. Morris Skylar Woodring Sérgio Lima Roseli Pimentel Xavier Serrano John Montano Gael Leclercq Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores DIRETORIA Presidente: Itamar de Paiva Rocha Vice – Presidente: Cristiano Maia Diretor Financeiro: José Bonifácio Diretor Comercial: Livino J. Sales Diretor Técnico: Enox Maia Diretor Secretário: Emerson Barbosa Diretor de Insumos: José W. R. Coutinho Conselho Fiscal Titulares: Álvaro Acácio Filho, Luiz Sólon Beltrão Suplentes: Flávio dos Santos Oliveira, Orígenes Neto PERFIL Sociedade de classe, a ABCC tem entre outros, os objetivos de promover o desenvolvimento da carcinicultura em todo o território nacional; amparar e defender os legítimos interesses de seus associados; promover o camarão de cultivo brasileiro nos mercados internacional e nacional; proporcionar treinamento setorial em gestão de qualidade e outros temas de interesse ao setor; promover estudos e pesquisas em áreas estratégicas para o setor; organizar e patrocinar encontros empresariais e conferências técnico-científicas; e editar publicações especializadas. Neste sentido, a ABCC é a entidade que mantém a união dos atores envolvidos na cadeia produtiva do setor, o intercâmbio de informações entre produtores e a comunicação destes via parceria formais. O desenvolvimento ordenado e sustentado do camarão cultivado no Brasil se deve, em grande parte, à sólida união dos produtores em torno da ABCC.
EDITORIAL
Importação de camarões selvagens da Argentina
E
ste texto traz no seu bojo um sentimento de protesto e indignação de todos aqueles atores envolvidos no setor da carcinicultura nacional, atividade que encontra no Nordeste condições ideais para se desenvolver e que, depois de superar alguns obstáculos derivados do mercado internacional, neste momento está consolidada e se apresenta como uma alternativa segura e valiosa para a geração de renda e emprego no meio rural da Região. O motivo do protesto e da indignação? A insistência do Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA) em autorizar a importação de camarões selvagens da Argentina infestados pelos vírus da Mancha Branca, enfermidade que tem ocasionado perdas bilionárias aos principais países produtores, segundo estudos do laboratório oficial de controle sanitário da Organização Internacional de Epizotias (OIE). Durante treze anos esteve vigente a Instrução Normativa 39/1999 - na época emitida pelo Ministério da Agricultura - que defende o estado sanitário não apenas do nosso camarão cultivado e do extraído do mar; mas também de todos os crustáceos brasileiros, alguns de importância social e econômica como a lagosta e o caranguejo, todos eles susceptíveis de infestação pelo vírus da Mancha Branca. A citada Instrução Normativa, simplesmente, proíbe a entrada no Brasil de camarões e de crustáceos em geral, qualquer que seja a espécie, a origem
e a forma. Com a medida adotada, o Brasil fechou as suas fronteiras do ponto de vista sanitário para proteger os seus recursos naturais, e a verdade é que a comunidade internacional reconheceu a posição do nosso país. Durante todo esse tempo, nunca houve, em nenhum fórum de comércio global, qualquer reclamação ou contestação em relação à medida. Com a publicação da Instrução Normativa 14/2010 do Ministério da Pesca e Aquicultura, a qual condiciona qualquer importação de crustáceos à realização da denominada Análise de Risco de Importação (ARI), o MPA flexibilizou a posição do Brasil e, recentemente, ao realizar a ARI para o caso argentino, equivocadamente, deixando de lado ou simplesmente ignorando os estudos científicos que confirmam a infestação dos camarões daquele país pelo vírus da Mancha Branca, autorizou sua importação. Daí o protesto e a indignação que partem de todos os produtores, processadores e industriais envolvidos no cultivo de camarões marinhos, pela inexplicável autorização do MPA que coloca em risco não apenas o segmento da carcinicultura nacional, mas de todos os crustáceos brasileiros e que, portanto, não é de interesse do Brasil. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARÃO - ABCC
Revista ABCC | 5
AÇÕES | NOTÍCIAS ABCC
ABCC Combate a importação de camarão contrato de prestação de serviços advocatícios
A
ABCC contratou em dezembro de 2012, o escritório de advocacia TOSTES E ASSOCIADOS ADVOGADOS, com sede no Rio de Janeiro, para prestação de serviços advocatícios na esfera cível e administrativa, compreendendo todas as providências e medidas necessárias à propositura de ação contra eventual ato do Ministério da Pesca que autorize a importação de camarões provenientes da Argentina. É também objeto do contrato a prestação de serviços no âmbito administrativo, correspondente ao acompanhamento de forma permanente dos pedidos de Análise de Risco de Importação - ARI que tramitem no Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA e no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Está coberto no contrato o envio de comunicações e notificações às autoridades competentes em representação à ABCC. O escritório de advocacia contratado pela ABCC tem como obrigação examinar e analisar todos os documentos colocados a sua disposição pela ABCC e enviar a cada 30 dias ou quando for solicitada relatórios sobre o andamento das questões confiadas aos seus cuidados. Adicionalmente, será responsável pela elaboração de documentos, peças processuais e recursos pertinentes e necessários à defesa dos interesses da ABCC em eventual processo judicial contra as partes interessadas na autorização de importação de camarão ou na importação propriamente dito. Defesa esta que será encaminhada ao MPF Nacional e de cada Estado envolvido com o cultivo ou com a captura de camarão, lagosta e caranguejo. Adicionalmente, fica claro desde já que o objeto do Processo será os técnicos responsáveis pela ARI favorável a importação e os responsáveis pela autorização das importações. Com esta ação concreta buscando defender seus interesses na esfera jurídica, a ABCC demonstra na prática que a preocupação do setor com o tema importação de camarão e suas consequências nefastas vai muito além de meras palavras, mostrando a disposição de lutar em todas as instâncias possíveis para assegurar a sanidade não só do camarão de cultivo, mas também dos crustáceos nativos do Brasil. BOAS PRÁTICAS DE MANEJO E MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA No decorrer de 2012, a Diretoria e o Setor Técnico da ABCC elaboraram um amplo e vigoroso Plano Regional de Capacitação intitulado “Projeto de Desenvolvimento Tecnológico com Boas Práticas de Manejo e Biossegurança para a Carcinicultura no Nordeste” dirigido a todos os atores envolvidos nos segmentos da cadeia produtiva do camarão cultivado: laboratórios de pós-larvas, fazendas de engorda, centros de processamento e fábricas de ração. O Plano, apresentado ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) na forma de um projeto de desenvolvimento setorial, foi aprovado e terá sua 6 | Revista ABCC
execução iniciada em 2013. Trata-se de disseminar em todo o Nordeste o uso das Boas Práticas de Manejo (BPMs) com Biossegurança, por ser a ferramenta indispensável para o êxito da carcinicultura regional, tal como está ocorrendo nos países produtores de camarão do Continente Asiático. O desafio de reduzir o uso dos recursos naturais para expansão da carcinicultura mediante aumento da produtividade e de evitar ou minimizar os prejuízos ocasionados pelas enfermidades de importância econômica para o camarão cultivado, principalmente as infecciosas de origem viral, levaram países como China, Tailândia e Indonésia a aperfeiçoar procedimentos, métodos e práticas de cultivo, cujo conjunto, além de ter impacto na produtividade, assegura a produção normal do setor frente à presença de viroses. Essa situação foi, em grande parte, o motivo que gerou as BPMs, as quais, combinadas com medidas de Biossegurança se apresentam na atualidade da carcinicultura mundial como a ferramenta essencial para proteção da atividade, mantendo os seus níveis de produção comercial e a oferta de camarão aos mercados consumidores. As BPMs consistem num conjunto de métodos e procedimentos que asseguram bons níveis de produtividade com o uso responsável dos recursos naturais e evita ou minimiza impactos sociais e ambientais negativos. O conceito das BPMs, que vem sendo aprimorado e adotado na aquicultura mundial do camarão, refere-se, portanto, à forma mais eficiente ou a que gera a melhor relação custo x benefício para garantir o desempenho produtivo, a expansão vertical e o desenvolvimento sustentável da atividade. A Biossegurança, que para efeitos do Plano se junta às Boas Práticas de Manejo, é o termo aplicado na indústria animal para descrever os procedimentos e cuidados especiais, cientificamente comprovados, para a prevenção e controle das enfermidades virais, o que significa o uso de práticas que previnem e/ou contêm a disseminação das enfermidades que afetam o camarão cultivado. Para assegurar o uso eficiente das BPMs com Biossegurança e desenvolver a habilidade dos beneficiários para o uso sistemático dessas práticas, o Plano de Capacitação prevê a realização de cursos descentralizados e reforçados por um componente de Unidades Móveis de Treinamento que permitirá enfatizar os aspectos práticos da transferência de conhecimentos com a realização de análises de água e solo e análises presuntivas do camarão como parte da capacitação, e que assegurará, posteriormente, um processo permanente de reciclagem, principalmente de micro e pequenos produtores, no manejo tecnológico e seguro da produção do camarão cultivado. O Plano consiste, portanto, na realização de dois componentes operacionais que se complementam para a disseminação e consolidação do uso das BPMs com Biossegurança na carcinicultura nacional:
O primeiro componente consiste na programação, execução e avaliação de um conjunto de cursos dirigido especificamente aos diversos públicos que compõem a cadeia produtiva da carcinicultura brasileira, para atender a efetiva demanda dos produtores nacionais que, ante o objetivo de aumento da produtividade e a ameaça de enfermidades virais, necessitam de orientação de como proceder para atuar preventivamente e manter a regularidade de sua produção com crescimento vertical.
acordo com a dimensão de cada um dos segmentos da cadeia produtiva da carcinicultura, ou seja:
O segundo componente está representado pela aquisição, montagem e operacionalização de duas Unidades Móveis de Treinamento que serão usadas para levar a cabo o Plano de Capacitação, especificamente para desenvolver a parte prática dos cursos relativos as análises de qualidade da água e solo e análises presuntivas do camarão, cuja realização é necessária para permitir uma maior compreensão da funcionalidade e importância das BPMs com medidas de Biossegurança, e dessa maneira melhorar a habilidade dos produtores quanto a sua adoção.
01 seminário com representantes da indústria de ração A elaboração deste Plano, liderada pela Diretoria/ Setor Técnico da ABCC, contou com a participação de toda a cadeia produtiva do setor carcinicultor, com intervenção de vários grupos de trabalho e uma intensa discussão levada a efeito pela ABCC e suas afiliadas, desde Novembro/2011. O documento final inclusive só foi apresentado ao MPA após passar por uma última revisão aproveitando as informações provenientes de um Painel Especial da FENACAM 2012 onde as informações e recomendações contidas nas palestras apresentadas por especialistas de 4 países latino-americanos e 4 países asiáticos que discorreram sobre o tema “Estratégia de Manejo na Produção Comercial do L. vannamei Ante a Presença do Vírus da Mancha Branca” e da NIM, foram devidamente analisadas e incorporadas.
A capacitação será levada a todas as regiões produtoras de camarão marinho com o enfoque básico de transmitir não apenas os conhecimentos e habilidades para o uso eficiente das BPMs associada às medidas de Biossegurança, mas, também, para desenvolver a reflexão e conscientização dos produtores sobre sua importância, de tal maneira que, conscientemente, assumam o compromisso de adotá-las regularmente para a segurança de seus próprios empreendimentos e da produção local, regional e nacional. Trata-se, portanto, de uma proposta de alcance ou abrangência regional. Com efeito, as unidades de produção que integram a cadeia produtiva do camarão cultivado estão, basicamente, localizadas nos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará. Piauí e Sul do Maranhão. As ações do Projeto chegarão, portanto, ao território de cada uma dessas Unidades Federativas. A dimensão das ações de capacitação e treinamento do Projeto pode ser medida pelos seguintes números que mostram a quantidade das estruturas produtivas no segmento da carcinicultura instaladas no Nordeste (Censo 2011 ABCC): 1.221 Unidades Produtivas de Camarão, das quais 74% são micro e pequenas, 20% são médias e 6% são grandes. 31 Laboratórios Comerciais de Pós-larvas. 32 Centros de Processamento 9 Fábricas de Ração Considerando aceitável para a capacitação prevista no Projeto o parâmetro de 30 participantes por evento, o atendimento da meta global de 2.000 pessoas demandará a realização de 67 cursos, distribuídos regionalmente entre os estados da Bahia ao Sul do Maranhão e concentrados em locais de maior densidade de fazendas de camarão. Esses cursos serão distribuídos de
60 cursos para produtores, trabalhadores e administradores de fazendas de camarão. 03 cursos para pessoal dos centros de processamento do camarão 03 cursos para pessoal dos laboratórios de pós-larvas
PLANO SAFRA DA PESCA E AQUICULTURA DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF Os comentários aqui formulados sobre o Plano Safra da Pesca e Aquicultura 2013/2014 ficarão limitados aos efeitos ou impacto que poderá ter na aqüicultura nacional pelo formidável potencial que detém o nosso país para este segmento do setor pesqueiro. Deixaremos a pesca para outras publicações especializadas. A pergunta que o leitor poderia fazer é se o Plano é adequado às necessidades do setor aquícola brasileiro. Antes de qualquer resposta, seria importante abrir espaço para conceder um destaque especial à iniciativa da Presidente Dilma Rousseff que reconheceu publicamente a importância da aqüicultura para Brasil, o enorme potencial do país para o seu desenvolvimento, a prioridade que o seu Governo concede ao setor e assim justificar um “Plano” de alcance nacional, cujas ações chegarão a todos os rincões do país onde se cultiva pescado. O Plano conta com uma configuração que se ajusta aos requerimentos estruturais de setor aquícola nacional, que ainda mostra um desempenho bem distante de seu grande potencial. A verdade é que Brasil do ponto de vista de seu potencial de produção aquícola tem condições naturais para competir com o gigante asiático, a China. Porém, se analisarmos sua lenta evolução com o passar do tempo, sequer podemos sonhar com este objetivo. Entretanto, podemos apostar no Plano como um bom ponto de partida que, finalmente, abrirá o longo e pavimentado caminho para a arrancada da aqüicultura no Brasil. Por tanto, podemos dizer que o Plano é adequado às Revista ABCC | 7
demandas setoriais do país, ou seja, cobre as necessidades de geração de tecnologia, de crédito e de assistência técnica para o micro e pequeno produtor, de financiamento para o médio e grande empresário e de capacitação da mão de obra em geral. Outra pergunta na mente do leitor poderia ser: que impacto pode ter o Plano no desenvolvimento da indústria aquícola no Brasil? A verdade é que o Plano contempla recursos financeiros de tal dimensão (R$ 4,0 bilhões para os anos 2013/2014) que, se aplicados em projetos prioritários e bem estruturados, pode ter considerável impacto nos diversos segmentos da nossa aquicultura de produção de tilápia, peixes nativos, moluscos e camarões. O fato de que o Plano tem uma configuração básica sustentada em linhas de crédito com estruturas e enfoques bem definidos e dirigidos a todos os produtores (pequenos, médios e grandes), com taxas de juros e prazos que sim contêm incentivos capazes de atrair os interessados, e que, ademais, contempla mecanismos de assistência técnica e geração de tecnologia, sua execução pode ter importante impacto no setor com o aumento da produção e produtividade e, portanto, com maior oferta de pescado para o consumo nacional. É bem destacável a ênfase que o Plano concede à geração de tecnologia ao se referir, em primeiro lugar, a um consórcio entre entidades de investigação existentes para o imediato fortalecimento da geração de tecnologia. Em segundo lugar, cria um novo Instituto de Investigações para intensificar e ampliar os trabalhos científicos no país. A primeira vista, esse foco que combina consórcio/instituto novo pode trazer bons resultados. Enquanto o consorcio gera produtos tecnológicos de forma mais imediata, o Instituto se organiza para realizar um processo de investigação permanente e de maior alcance e impacto, ainda que seja de médio a longo prazo. Quanto ao tempo para que o Plano possa apresentar resultados internamente, dependerá da qualidade e solidez dos projetos elaborados e tramitados dentro das diretrizes do Plano, tanto da média e grande empresa quanto do pequeno produtor organizado. O potencial do país está aí para ser explorado. Ainda que existam razões para não sermos otimista em função de experiências passadas, sim se pode dar um crédito de confiança na iniciativa da Presidente Dilma e seu Ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella. É evidente que a operacionalização do Plano demandará um esforço e uma dedicação da equipe técnica do Ministério Setorial para atender com presteza as demandas dos produtores e remover os obstáculos conhecidos como a expedição das licenças ambientais. Se essas condições são atendidas, podem-se prever resultados em relativo curto prazo. Em todo caso, o provável aumento da produção derivado do Plano, quando muito, poderia apenas ampliar a oferta para o consumo interno e, eventualmente, reduzir as importações de pescado que, anualmente, já superam mais de um bilhão de dólares americanos. Um dos grandes obstáculos ao êxito do Plano, que demanda atenção das autoridades e técnicos do setor público, refere-se ä obtenção da licença ambiental por parte do produtor, especialmente do que cultiva camarões. Existem rigidezes e interpretações de 8 | Revista ABCC
regulamentos e normas ambientais no aparato público do Brasil que se interpõem na tramitação das licenças e dificultam sua expedição, principalmente para o pequeno produtor. A preocupação do setor privado em relação a este tema esta embutida nas interpretações e interferências mais de conteúdo ideológico que propriamente científico e legal. Sem que se haja uma decidida ação do Governo Central, via Ministério da Pesca e Aquicultura, ante os Governos Estaduais, responsáveis pela concessão das licencias, que é condição para que o produtor seja sujeito do crédito bancário, a execução do Plano poderá simplesmente fracassar, especialmente em seus objetivos sociais. Talvez o aspecto mais transcendente do Plano esteja no fato de reconhecer de maneira explícita a aquicultura como uma ferramenta eficaz de combate ä pobreza rural com a geração de empregos produtivos e a ampla participação do micro e pequeno produtor no desenvolvimento da atividade. ABCC PRESENTE NO PROJETO MOTORES DO DESENVOLVIMENTO DO RN O Presidente da ABCC Itamar Rocha representou o setor de carcinicultura no Seminário Pesca, Aquicultura e Carcinicultura realizado em 19 de novembro de 2012 na FIERN como parte do projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Neste seminário, atendendo os objetivos do projeto maior do qual faz parte, foram debatidos por especialistas, autoridades e empresários, os pontes fortes e fracos, ameaças e oportunidades para o desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte no que diz respeito à pesca e aquicultura. O Seminário contou com a presença da Governadora Rosalba Ciarlini, dos Ministros Marcelo Crivella e Garibaldi Alves, além das principais lideranças políticas e empresariais do RN. Na sua apresentação, Itamar Rocha destacou para os presentes vários aspectos relacionados à aquicultura como um todo e a carcinicultura especificamente, entre os quais a evolução mundial da produção de pescado de captura e aquicultura, o potencial do Brasil e Rio Grande do Norte para a atividade, um comparativo com países asiáticos líderes mundiais em produção aquícola, um histórico da carcinicultura brasileira, a oportunidade que a carcinicultura comunitária apresenta para o Estado do Rio Grande do Norte, o uso de Boas Práticas de Manejo, entre outros. PARTICIPAÇÃO DA ABCC NO COSAG – CONSELHO SUPERIOR DO AGRONEGÓCIO DA FIESP O Presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Sr. Paulo Skaf, enviou correspondência datada de 24 de outubro de 2012 ao Presidente da ABCC, Engenheiro de Pesca Itamar Rocha, encaminhando o novo crachá de Conselheiro do COSAG (Conselho Superior do Agronegócio da FIESP), um Fórum destacado do Agronegócio, que reúne as principais lideranças da Agroindústria Brasileira. Itamar Rocha integra o DEAGRO-FIESP (Departamento do Agronegócio da FIESP), desde 2008 onde ao longo desses quatro anos, tem tido a oportunidade de apresentar as reivindicações, ressaltar as oportunidades e defender os interesses do setor
carcinicultor numa esfera diferenciada do agronegócio brasileiro. Participam desse destacado Conselho os principais ex-Ministros da Agricultura nos últimos 15 anos (Pratini de Morais, Roberto Rodrigues, Francisco Turra, Luis Carlos Guedes Pinto), além de todas as principais empresas e organizações setoriais do Agronegócio Brasileiro. Com a confirmação da sua nomeação como Conselheiro do COSAG, Itamar Rocha declarou ter uma grande satisfação e orgulho em representar os carcinicultores brasileiros nesses destacados Fóruns. O BNDES E A AQUICULTURA NACIONAL O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social entrou de vez no financiamento da aqüicultura brasileira. Que os atuais produtores e os interessados no setor tomem nota. O crédito setorial está, finalmente, disponível e em condições atrativas para pequenos, médios e grandes produtores. Com afeito, o representante do Banco, o Senhor Jaldir Freire Lima, no evento AquaPesca Brasil realizado em Salvador, BA, em novembro de 2012, apresentou o amplo e novo esquema de financiamento com o qual a entidade bancária lança o seu decidido, valioso e oportuno apoio financeiro à intensificação e à expansão dos diversos segmentos que compõem a aqüicultura nacional: cultivo de peixes, mariscos e camarões. Com a decidida intervenção do BNDES na aqüicultura brasileira com linhas de crédito programadas para investimento e capital de giro, de acordo com as características intrínsecas da produção aquícola, abrem-se novas perspectivas para que o enorme potencial do território brasileiro com suas águas continentais, pelo menos do ponto de vista da disponibilidade de financiamento bancário, seja finalmente aproveitado. A tramitação do crédito segue as linhas clássicas do Banco do Desenvolvimento Brasileiro: (i) a apresentação da carta consulta com o perfil do projeto e outras e informações, para enquadramento inicial da proposta; e (ii) o encaminhamento posterior dos estudos de viabilidade na forma do projeto de investimento. Os interessados podem ver os detalhes das linhas de crédito e julgar os seus méritos no site e telefones do Banco: Site: WWW.bndes.gov.br - Rio de Janeiro: (21) 2172- 7447 - São Paulo: (11) 3512-5100 - Brasília: (61) 3204-5600 - Recife: (81) 2127-5800 ELABORAÇÃO DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA CARCINICULTURA DO MARANHÃO A proposta técnico-financeira da ABCC para a elaboração do Plano de Desenvolvimento da Carcinicultura do Estado do Maranhão saiu vencedora do Edital que o MPA, em parceria com o Governo do Estado, lançou ao público para estabelecer políticas públicas, sistemas institucionais e mecanismos operacionais devidamente articulados com vistas a promover, orientar e apoiar o fomento sustentável do camarão cultivado no Maranhão, cujo território detém, em áreas específicas, o maior potencial do País para o desenvolvimento e expansão da atividade.
O enorme potencial do Maranhão para a aqüicultura do camarão marinho será finalmente estudado e seu aproveitamento planejado mediante a realização de estudos de viabilidade técnica, financeira, econômica, institucional e ambiental. Tais estudos serão complementados com a revisão dos aspectos legais concernentes a questões ambientais, tributárias e fundiárias para propor adequações da Legislação Estadual em favor do desenvolvimento sustentável da atividade, da criação de incentivos para o seu fomento e da ocupação regular das áreas apropriadas para a instalação de empreendimentos da cadeia produtiva do camarão cultivado: A proposta da ABCC concebe um Plano de Desenvolvimento da Carcinicultura Maranhense com mecanismos descentralizados de ação e o envolvimento das populações locais, que atuam como uma força propulsora do desenvolvimento regional dentro de um horizonte de tempo de dez anos para sua execução. O Plano está idealizado como ação desenvolvimentista com base no fomento ordenado e sustentável da carcinicultura e dentro do conceito eficiência/equidade/ estará voltado para robustecer o processo de interiorização do desenvolvimento do Estado com objetivos de diversificar e acelerar a economia regional, incentivar a inovação tecnológica, incrementar a capacidade empreendedora dos produtores, contribuir para o aperfeiçoamento do capital humano e agregar valor à produção com o consequente aumento da geração de emprego e renda e de novas oportunidades de negócios. Um dos focos do Plano estará voltado para o aspecto de produção intensiva e semi-intensiva que caracteriza o cultivo do camarão no Brasil, com alta produtividade e boa lucratividade em áreas relativamente pequenas e com expressiva geração de empregos. Com essas características, a carcinicultura atende os requerimentos essenciais tanto para a constituição da média e grande empresa com impacto social nas suas áreas de influência, quanto para a pequena unidade de produção e, portanto, para a inclusão social no campo, com o que abre espaço para uma objetiva mobilização e participação dos grupos locais no processo de concepção e estruturação do Plano. No contexto precedente, o Plano priorizará as áreas propícias do Estado com vistas a sua transformação em Polos Regionais de Carcinicultura devidamente configurados, para o que terá presente, entre outras variáveis, as orientações da SAGRIMA (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca); os resultados da aplicação das matrizes de identificação e classificação de conflitos ambientais, sociais e fundiários, a necessidade de medidas mitigadoras e compensatórias, a qualidade da água e solo para o cultivo de camarões, a capacidade de renovação hídrica e a disponibilidade dos serviços básicos de infraestrutura em estradas e energia elétrica. Do ponto de vista operacional, o Plano focará quatro aspectos básicos: - Criar condições institucionais e legais e evidenciar oportunidades para atrair investimentos destinados à instalação e operacionalização de empreendimentos da cadeia produtiva do cultivo do camarão: laboratórios de larvicultura, fazendas de engorda, centros de processamento e fábricas de ração. Revista ABCC | 9
- Estabelecer condições apropriadas para assegurar a inclusão social no meio rural com a incorporação da pequena unidade de produção - Acionar a complementação de esforços entre o setor público e o privado com mecanismos institucionais que orientem a elaboração dos projetos de investimento e que facilitem a coordenação posterior para o seu enquadramento no esquema de incentivos fiscais e no encaminhamento das licenças ambientais e de outras autorizações oficiais. - Estruturar esquemas operacionais de envolvimento e coordenação institucional para mobilizar o financiamento bancário dos investimentos privados e acelerar sua tramitação. Os estudos de viabilidade do Plano explorarão a estratégia operativa de dois modelos produtivos para o fomento da carcinicultura no Estado: (i) o que estaria dirigido aos projetos de investimento em fazendas de camarão de porte médio e grande; e (ii) o modelo de produção tipo familiar para o pequeno produtor, com recomendações de incentivos apropriados para a organização dos beneficiários e prestação de assistência técnica e com estratégias operacionais para o fornecimento de insumos produtivos e a comercialização da produção. Como parte integrante do Plano, em termos de proposição ao Governo do Estado, ouvida a SAGRIMA, será formulada uma política geral com diretrizes básicas que promovam o desenvolvimento ordenado e sustentável da carcinicultura maranhense nos seus aspectos ambientais, econômicos e sociais, com o uso equilibrado dos recursos naturais, a segurança dos investimentos privados, a inclusão social, a agregação de valor à produção e a geração de empregos e renda no meio rural. A importância do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Carcinicultura do Estado do Maranhão foi destacada em correspondência enviada ao Ministro Marcelo Crivella pelo Senador José Sarney, o qual, devidamente informado que a ABCC tinha vencido a licitação para a elaboração do Plano, salientou junto ao Ministro que “Essa iniciativa vem contribuir sobremaneira para a segura participação do Maranhão no esforço da Presidente Dilma e de Vossa Excelência em incrementar a produção de pescado em nosso país, expresso por ocasião do lançamento do Plano Safra da Pesca e Aquicultura. Tal cenário, associado à proximidade do final do exercício de 2012, leva-me a solicitar seu apoio para que a contratação efetivamente aconteça e o Plano se torne realidade.” II WORKSHOP INTERNACIONAL DE CARCINICULTURA NUTRECO FRI-RIBE Dia 23 de novembro de 2012, a Nutreco Fri-Ribe realizou em Fortaleza o “II WORKSHOP INTERNACIONAL DE CARCINICULTURA NUTRECO FRI-RIBE”. Importantes nomes da cadeia mundial de negócios da carcinicultura prestigiaram o evento, que contribuiu para o enriquecimento e desenvolvimento do setor ao debater assuntos ligados a tecnologias, práticas de manejo, nutrição e sanidade na cultura de camarão, entre outras temáticas. O workshop contou com a presença de três
10 | Revista ABCC
especialistas altamente qualificados na cultura: o Ms. Gael Leclerck (especialista em genética de camarão e diretor da Concepto Azul), o PhD John L. Rocha (especialista em criação animal e genética) e o PhD Chalor Limsuwan (especialista em patologia e professor associado da Kasetsart University – Thailand). O evento também contou com a participação do Dr. Itamar Rocha (presidente da ABCC), Sr. Cristiano Maia (ACCC) e Sr. Newton Bacurau (ANCC), empresários, produtores e técnicos do RN e CE, além de estudantes do curso de engenharia de pesca da UFC e da UFMA. O PhD Chalor Limsuwan discorreu sobre o tema “Cultivo de camarão na Tailândia na presença do vírus da mancha branca”. A palestra abordou os desafios enfrentados a partir das primeiras ocorrências do vírus WSSV, que gerou grandes perdas financeiras à cadeia produtiva da carcinicultura, e as principais estratégias utilizadas para reabilitação da atividade como a introdução da capacitação dos operadores, desenvolvimento de ferramentas de controle mais eficientes e melhoria das práticas de manejo. O Ms. Gael Leclerq (Concepto Azul) e o Ph.D. John Rocha (Genearch/Aquatec) brilhantemente apresentaram uma visão geral das linhas de pesquisa em melhoramento genético desenvolvidas por suas empresas que são focadas em animais SPR (animais resistentes/limpos de patógenos específicos) e animais SPF (animais livres de patógenos específicos). Visitas técnicas A Nutreco Fri-Ribe, aproveitando a visita do PhD Chalor Limsuwan ao Brasil, realizou uma série de visitas técnicas ao litoral oeste do Ceará e Rio Grande do Norte, acompanhado pelo PhD Dagoberto Sanches (Skretting - empresa integrante do grupo Nutreco), Dr. Marcelo Toledo (Superintendente Técnico de Aquicultura da Nutreco Fri-Ribe) e equipe técnica de carcinicultura da empresa. O objetivo das visitas foi apresentar a ele o modelo de produção brasileiro, as principais práticas de manejo utilizadas, os desafios enfrentados, dentre outras peculiaridades do sistema atual de produção de camarão do Brasil. A Empresa A Nutreco é líder global em nutrição animal e rações para peixes. Pioneira no Brasil, a Fri-Ribe iniciou suas atividades em 1973, com a proposta de oferecer alimentos cientificamente formulados para suprir as necessidades nutricionais de todas as espécies animais. Em novembro de 2009, a Nutreco adquiriu 51% das ações da Fri-Ribe, criando a joint venture Nutreco Fri-Ribe. Após dois anos de forte desenvolvimento e cooperação, em março deste ano, a Nutreco ampliou sua participação para 97% no capital da empresa. A Nutreco Fri-Ribe está investindo intensamente em pesquisas voltadas ao desenvolvimento de produtos e soluções para carcinicultura brasileira e, seguindo este propósito, recentemente concluiu o Centro de Pesquisa Aplicada em Carcinicultura (CEPAC), em Mossoró-RN.
Participantes do evento
Equipe da Nutreco Fri-Ribe
POTIPORÃ RECEBE SELO DE ORIGEM DO CARREFOUR As boas notícias sobre nosso setor devem ser divulgadas para conhecimento e reflexão de todos, principalmente quando se referem à qualidade do camarão cultivado para dar destaque a sua comercialização. Este é o caso reproduzido abaixo: A Potiporã está de parabéns. O Selo de Origem de Camarão concedida pela multinacional Carrefour, segundo a empresa, garante a qualidade e segurança dos alimentos comprados nas suas lojas. Com esse selo, a empresa afi rma que o produto foi preparado dentro de conceitos rigorosos de qualidade e responsabilidade ambiental e social, cuja comprovação é feita por sua equipe técnica, de modo a que sejam alcançados vários objetivos a um só tempo: garante o melhor para os seus consumidores, profissionaliza trabalhadores e contribui na modernização dos processos produtivos das empresas. Esta foi a 2ª certificação do tipo concedida pelo Carrefour no Brasil e é uma exigência prévia a negociação com a varejista francesa. ADECE PARTICIPA DO MAIOR FESTIVAL DE CAMARÃO DA AMÉRICA LATINA O sucesso internacional da gastronomia cearense foi coroado pela quarta vez em 2012. O Festival Internacional do Camarão da Costa Negra (Grand Shrimp Festival) trouxe ótimas dicas sobre o mercado, além de oportunidades imperdíveis para os participantes. Realizado pela Associação dos Carnicicultores da Costa Negra, com o apoio da Agência
de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), o evento aconteceu, de 27 de novembro a primeiro de dezembro, e reuniu cerca de 15.500 pessoas na Fazenda Cacimbas, em Acaraú, no Ceará. As palestras técnicas do evento, realizadas nos dias 27 e 28, sobre diversos aspectos da carcinicultura da Costa Negra, tiveram um público de 571 pessoas, entre estudantes da Universidade Federal do Ceará, Vale do Acaraú, Instituto Federal do Ceará-Campus de Acaraú, campis de outras regiões do Estado, alunos de escolas estaduais profissionalizantes, técnicos e empresários do setor. Elas foram ministradas por especialistas especialmente convidados e serviram para transmitir a esses alunos as experiências já comprovadas nas fazendas de camarão existentes em várias partes do mundo e a superioridade do camarão da Costa Negra. Além de ser o maior festival de camarão da América Latina, dentro da programação do Grand Shimp Festival houve ainda o IV Encontro do Arranjo Produtivo Local da Carnicicultura do Litoral Oeste. O articulador da Cadeia Produtiva de Piscicultura da Adece, Pedro Henrique Lopes, foi debatedor de diversas palestras, dentre elas as que tiveram como tema: “APL da Carnicicultura – Desafios e Perspectivas” e “Oportunidades de Piscicultura Marinha do Brasil”. “Uma experiência bastante rica que nos deu a oportunidade de apresentar todo um trabalho desenvolvido com afi nco pelos produtores cearenses e órgãos de apoio cearenses, além da grande troca de experiências com participantes do mais alto nível”, declarou Lopes. O Sr. Pedro Henrique Lopes também foi homenageado por fazer parte da equipe técnica responsável pela elaboração do estudo e composição da documentação exigida para a obtenção do selo de Denominação de Origem COSTA NEGRA, junto ao INPI. O festival contou também com workshops gastronômicos internacionais, além de shows artísticos de diversos gêneros musicais. Autoridades como o governador do Estado do Ceará, Cid Ferreira Gomes, o Ministro da Pesca e Aquicultura, Marcello Crivella, e o Secretário de Estado da Pesca e Aquicultura, Ricardo Campos, estiveram presentes no encerramento desse evento que se configura como um importante vetor de propulsão da economia da Região.
Equipe responsável pelo selo COSTA NEGRA
Revista ABCC | 11
SÃO PAULO NA PROMOÇÃO DA AQUICULTURA O exemplo que nos dá o Governo de São Paulo em relação à aquicultura merece alguns comentários desta Revista. Quem sabe, neste exemplo, entre outras razões, está a resposta da grandeza do Estado sulino ao mostrar visão de futuro e antecipar-se aos fatos. Mesmo sem ter na aquicultura uma das fontes importantes de riqueza para a formação de seu PIB, o Governador de São Paulo toma a iniciativa de promover a aquicultura no nível da micro e pequena unidade de produção ao emitir um decreto pelo qual simplesmente dispensa a licença ambiental para a sua instalação e operação, desde que faça o reaproveitamento da água de cultivo e não a lance no meio ambiente (no caso da carcinicultura, viveiros escavados cuja somatória de superfície de lâmina d’água seja inferior a 5ha (cinco hectares)). É, em primeiro lugar, o reconhecimento do potencial da aquicultura para a geração de renda e de emprego permanente para trabalhadores rurais de escassa qualificação profissional. Em segundo lugar, é a visibilidade de que a aquicultura se presta como poucas atividades do setor primário da economia para a constituição lucrativa da micro e pequena unidade de produção no meio rural. Com o Decreto, o Governo de São Paulo sabe o que está fazendo: promove a aquicultura com a consequente geração de riqueza no contexto da inclusão social no campo. Que este exemplo sirva de espelho aos Estados que mantêm a maioria de seus produtores aquícolas sem licença ambiental e, portanto, sendo penalizados por não ter acesso ao crédito bancário para a intensificação e expansão de suas atividades. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO (UEMA) EM FOCO I Semana Acadêmica das Ciências Agrárias A I Semana Acadêmica das Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) aconteceu entre os dias 12-14 de Agosto de 2012, no Campus Universitário Paulo VI, em São Luís, MA. A Semana Acadêmica das Ciências Agrárias foi um evento de caráter científico de grande importância para todos os profissionais e estudantes das Ciências Agrárias do Estado do Maranhão, na qual foram apresentados os mais recentes avanços e pesquisas destas áreas. O evento contou com palestrantes de grande destaque no cenário nacional, proporcionando o intercâmbio entre profissionais, pesquisadores e estudantes, além do fortalecimento de parcerias com outras instituições e a ampla difusão de conhecimentos. No total, foram quatro dias de relevantes discussões e debates, desencadeados a partir da exposição de temas instigantes e de grande interesse para os profissionais das Ciências Agrárias, com a realização de mais de 30 palestras. Dentre as palestras que mereceram destaque para a carcinicultura pode-se citar “Políticas para a Aqüicultura Brasileira” apresentada por Itamar Rocha - Engenheiro de Pesca e Presidente da Associação Brasileira de Criadores de
12 | Revista ABCC
Camarão/ABCC – Natal/RN. e ”Prevenção de Enfermidades na Carcinicultura” apresentada pelo Prof. Dr. Thales Passos de Andrade (UEMA).
Itamar Rocha, Presidente da ABCC, palestrando sobre carcinicultura
Um dos momentos mais esperados do evento foi a mesa redonda “Potencialidade e Perspectivas da Carcinicultura no Estado do Maranhão” que teve como palestrante de abertura o Eng. de Pesca Itamar Rocha (ABCC). A mesa redonda foi coordenada pelo Prof. Dr. José Milton Barbosa (UEMA). Todos os presentes debateram sobre os principais entraves do desenvolvimento da carcinicultura no Estado do Maranhão assim como mostraram disposição e se comprometeram em procurar meios de destravar as barreiras ou falta de informações existentes para o estabelecimento de carcinicultura sustentável no Estado do Maranhão. A concessão de licenciamento ambiental foi destacada como um dos principais entraves para o desenvolvimento do setor no Maranhão. Na oportunidade o Eng. José Raimundo Viegas destacou que SEMAR esta aberta para recebimento de requerimentos de Licença Ambiental. O formulário de requerimento e documentação necessária para o Licenciamento Ambiental (SPR. LA) poderá ser acessado pelo site: http://www.sema.ma.gov. br/paginas/view/menu.aspx?id=151&p=241.
Participantes da Mesa Redonda
Como parte da programação da I Semana Acadêmica das Ciências Agrárias, 40 estudantes tiveram a oportunidade de participar de um mini curso sobre Projetos em Carcinicultura ministrado pelo Engenheiro de Pesca Enox Paiva Maia, M.Sc. (Diretor Técnico da ABCC). Mediado pelo Prof. Dr. Thales Passos de Andrade – UEMA.
Participantes do curso
Áreas de Atuação O Prof. Dr. Thales P. de Andrade ressalta o comprometimento que a UEMA vem realizando com a qualidade da formação de Engenheiros de Pesca para atender as demandas da carcinicultura e piscicultura maranhense. Além dos cursos aplicados de formação básica especifica/ atualizada em patologia de organismos aquáticos, nutrição de organismos aquáticos, carcinicultura entre outros, merecem destaque os convênios assinados pela UEMA (Mag. Reitor José Augusto) e com o Ministério da Pesca e Aquicultura (Min. Marcelo Crivella) para a instalação do Centro Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão em Aquicultura (CEMPEA), no Campus da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). O CEMPEA tem como objetivo promover a qualificação de alunos do curso de graduação em Engenharia de Pesca e afins, e de nível técnico médio do Estado. Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Animais Aquáticos Na esfera Federal, cabe destacar que o MPA designou como Laboratório Oficial – LAQUA, o Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Animais Aquáticos da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, que ficará com a responsabilidade de diagnóstico de enfermidades de crustáceos no âmbito da Rede Nacional de Laboratórios do Ministério da Pesca e Aquicultura - RENAQUA. O Prof. Dr. Thales Passos de Andrade na condição de profissional especializado na área de atuação do laboratório, foi designado como Coordenador, o qual responderá ao
MPA diretamente pelas questões técnicas concernentes ao laboratório (outras informações sobre a concepção da RENAQUA poderão ser acessadas pelo site http://www. mpa.gov.br/index.php/monitoramento-e-controlempa/ sanidade-pesqueira/laboratorios-renaqua/o-que-e. e/ ou contato direto com a assessoria de comunicação do MPA (61) 2023-3108 (61) 2023.3505 (61) 2023.3488). Participação ABCC Merecem também destaque os esforços que resultaram em Convênios realizados com a Universidade do Arizona, Universidade de Bremen e com ABCC para inserir os estudantes da UEMA no mundo globalizado em sem fronteiras de conhecimento. A ABCC inclusive patrocinou viagem do Prof. Dr. Thales de Andrade ao laboratório do Dr. Donald Lightner, referência mundial em patologia de camarão, para atualização de conhecimentos sobre novas doenças que estão afetando o setor de carcinicultura a nível mundial. O Departamento de Eng. da Pesca da UEMA atuou como entidade parceira da ABCC no desenvolvimento no Censo/Levantamento da Carcinicultura para o Estado do Maranhão e na elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Carcinicultura Marinha do Maranhão. O Futuro Os esforços da UEMA no que diz respeito à aquicultura de forma geral e a carcinicultura especificamente estão apenas no seu início. Há muito ainda a ser feito e conquistado, conforme declarou o Prof. Dr. Thales de Andrade “Vários desafios e responsabilidades foram postos. O nosso comprometimento está primariamente com a qualidade de formação dos nossos 178 estudantes para atender a possível demanda do Governo do Estado. Esse desafio nos faz procurar atualização técnica individual a nível internacional para atender a demanda brasileira com fiz recentemente para conhecer o diagnóstico da Pandemia conhecida como doença da mortalidade precoce do camarão (EMS). Ausente no Brasil, mas que já chamou a atenção da OIE e NACA por esta incidência vir aumentando em diferentes países da indústria asiática”. ALTERADA A CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTORES PARA OBTENÇÃO DO CRÉDITO RURAL O Banco Central aprovou em 27.12.2012, durante reunião do Conselho Monetário Nacional, a resolução que introduz alterações no Manual de Crédito Rural (MCR). O objetivo foi de harmonizar o Manual com a implantação do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), que entrou em vigor no primeiro dia útil de 2013. A principal mudança altera a classificação do produtor rural, que passa a ter três categorias, de acordo com a renda anual na atividade agropecuária: pequeno
Revista ABCC | 13
(até R$ 160 mil), médio (até R$ 800 mil) e grande produtor (renda acima de R$ 800 mil). Além de padronizar os critérios para apuração dos saldos diários das operações, a correção da MCR atualiza os parâmetros para fins de fiscalização das operações rurais pelas instituições financeiras. De acordo com nota do BC, as alterações estão em linha com as ações da autoridade monetária para assegurar a liberação dos recursos ao produtor rural e para que sejam aplicados nas finalidades a que se destinam. ABCC PRESENTE EM EVENTOS DE AQUICULTURA Marcelo Lima Santos, Biólogo e Consultor Técnico da ABCC, esteve bastante ocupado nos últimos meses de 2012 representando a ABCC numa série de eventos de aquicultura e carcinicultura. Marcelo Lima apresentou palestras relacionadas a aspectos sociais da atividade de carcinicultura, Boas Práticas de Manejo e Biossegurança e combate a doenças de acordo com a plateia de cada evento. Listamos abaixo os eventos onde a ABCC se fez presente e disponibilizou informações de importância para o setor através do seu representante Marcelo Lima. - WORKSHOP DE GESTORES DE AQUICULTURA E PESCA DO SEBRAE – Salvador/BA, evento realizado nos dias 6 a 9 de novembro de 2012. Marcelo Lima apresentou a palestra intitulada IMPORTÂNCIA DA CARCINICULTURA NA INCLUSÃO PRODUTIVA E SOCIAL – MITOS E VERDADES. - GRAND SHRIMP FESTIVAL, evento realizado nos dias 27 de Novembro a 01 de Dezembro de 2012 no Munic ípio de Acaraú/CE. Marcelo Lima apresentou a palestra intitulada PROCEDIMENTOS DE BOAS PRÁTICAS DE MANEJO E MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA PARA FAZENDAS DE CRIAÇÃO DE CAMARÃO. - AQUAPESCABRASIL- Salvador/BA, evento realizado nos dias 7 a 9 de novembro de 2012. Marcelo Lima apresentou a palestra intitulada ESTRATÉGIAS DA CARCINICULTURA BRASILEIRA PARA O COMBATE AO VÍRUS DA MANCHA BRANCA. Todas as palestras acima listadas bem como uma coletiva de palestras selecionadas destes eventos estão disponíveis no site da ABCC. www.abccam.com.br/abcc/documentos
LANÇADO O LIVRO “LIMNOCULTURA – LIMNOLOGIA PARA AQUICULTURA” Atualmente, há grande escassez de literatura especializada, escrita em português, sobre a aplicação dos conhecimentos básicos da limnologia na resolução de problemas práticos de qualidade de água e de solo em aquicultura. Buscando preencher essa lacuna, o professor do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará, Marcelo Sá, lançou recentemente o livro “Limnocultura – Limnologia para Aquicultura”, publicado pela Editora da UFC (Edições UFC). Através de quatorze capítulos, esta obra apresenta a estudantes, professores, técnicos, pesquisadores e produtores 14 | Revista ABCC
de peixes e camarões cultivados, temas básicos sobre essa importante área do conhecimento. Abordando de forma interdisciplinar questões relevantes sobre oxigênio dissolvido, pH, gás carbônico, alcalinidade, dureza, amônia, nitrito, fósforo, capacidade de suporte, matéria orgânica, produtividade primária, ferro e salinidade da água, o autor transmite aos leitores os conhecimentos necessários para melhor compreensão desses temas. Além disso, apresenta as metodologias de laboratório que são empregadas na determinação daquelas variáveis limnológicas. Este livro é de grande importância para formação de uma sólida base em Limnocultura, indispensável para adoção de práticas produtivas ambientalmente sustentáveis em Aquicultura, que estejam embasadas no conhecimento científico atualmente disponível. O leitor, com dúvidas sobre aspectos da Limnologia para Aquicultura (Limnocultura), encontrará nesta obra as explicações e respostas apresentadas de forma clara e simples. O livro de 218 páginas está sendo vendido na cidade de Fortaleza, Ceará, ao preço de R$ 30,00 (trinta reais). Maiores informações e pedidos de exemplares podem ser feitos diretamente ao autor em carmoesa@uol.com.br ou marcelo.sa@ufc.br.
PROJETO QUE DISCIPLINA EMPREENDIMENTOS DE CARCINICULTURA TRAMITA NA ASSEMBLEIA DO CEARÁ A instalação de empreendimentos de carcinicultura no Ceará deverá passar por critérios de disciplina, caso seja aprovado o Projeto de Lei85/2011, de autoria do deputado Sérgio Aguiar (PSB), e oriundo do Projeto de Lei 57/2010, que tramita na Assembleia Legislativa. O parlamentar explica que a carcinicultura vem se desenvolvendo cada vez mais no território cearense. Segundo ele, a carcinicultura marinha, além de representar
a única alternativa para o atendimento da crescente demanda mundial de camarões, vem se constituindo numa importante atividade socioeconômica do litoral do Estado, cujos reflexos positivos têm favorecido às suas regiões de intervenções. Para Sérgio Aguiar, o agronegócio do camarão cultivado gera oportunidade de trabalho, renda e divisas nos municípios costeiros, sobretudo por sua capacidade de contribuir, de forma significativa, para reduzir as desigualdades sociais e diminuir o crescente movimento de migração do meio rural para os grandes centros urbanos. “Dentre os crustáceos, os camarões destacam-se não só pelo valor nutritivo, mas por constituírem iguarias finas, tendo consumo em larga escala. Aliado ao seu excelente sabor, demonstram grande resistência na criação em cativeiro”, afirma o deputado. De acordo com o projeto de lei, os empreendimentos desse setor instalados no Ceará devem observar as disposições estabelecidas pela Constituição Federal, pela Lei 11.959/2009, pela Lei 4.771/1965, pela Lei 6.938/1981 e, ainda, pela Medida Provisória 2.166-67/01. A matéria determina que seja vedada a instalação de empreendimentos de carcinicultura marinha em manguezais e em Áreas de Preservação Permanente (APPs). “É permitida a implantação de canais e estruturas de captação e drenagem de água, para operacionalização de empreendimentos aquícolas em áreas de manguezais e APPs. Fica proibida a supressão vegetal, salvo se não ultrapassar 5% da Área de Preservação”, acrescenta o parlamentar. A proposta estabelece também a permissão para implantação de empreendimentos de carcinicultura marinha em áreas de salinas, de salgados, de restinga e nas adjacências de manguezais, rios, lagoas e dunas. Ainda conforme a proposta, devem ser determinados critérios para acelerar e simplificar o licenciamento ambiental dos empreendimentos do setor que promovam planos e programas voluntários de gestão ambiental, visando à melhoria contínua e ao aprimoramento do desempenho ambiental. A matéria dispõe ainda que todos os empreendimentos de carcinicultura ficam declarados de interesse social, desde que desenvolvidos em estrita consonância com a legislação que disciplina a atividade, considerando que geram emprego e renda para o Estado e divisas para o País. O BNDES REVELA: O NORDESTE É O MAIOR PRODUTOR AQUICOLA DO BRASIL Em monografia ampla com excelente base analítica Panorama da Aquicultura no Brasil: desafios e oportunidades -, uma equipe técnica do BNDES revela a situação atual da aquicultura brasileira, seus problemas e suas potencialidades, e ainda mostra caminhos que poderiam ser explorados para permitir o desenvolvimento dinâmi-
co e sustentável que o setor merece e que o país detém condições de recursos naturais para que isso aconteça. O trabalho confirma a percepção geral que se tem do marasmo em que se encontra a aquicultura nacional, apesar do enorme potencial do Brasil. A monografia do BNDES é uma sólida contribuição ao desenvolvimento do setor e deve ser lida e refletida por todos aqueles que se interessam pela sua expansão no nosso território. Seu texto não chega a oferecer uma receita integral e concreta para a remoção dos obstáculos que impedem o crescimento da aquicultura, compatível com a enormidade dos recursos naturais disponíveis nas nossas macrorregiões. Mas desenvolve importantes análises críticas sob diversos ângulos da cadeia produtiva do pescado, formula várias recomendações bem fundamentadas e faz revelações que poderiam ser úteis para autoridades e técnicos envolvidos no setor, principalmente da Região Nordeste. Entre outras revelações contidas na radiografia setorial da equipe do Banco, merece destaque aquela que, ao considerar as cifras oficiais da produção de 2009, desdobradas em termos macrorregionais, coloca o Nordeste em primeiro lugar na aquicultura nacional. Sim é verdade, por mais que pareça um paradoxo, ou seja, a região semiárida do Brasil cultivar e produzir mais pescado do que, por exemplo, as regiões Norte e Centro Oeste, individualmente muito mais ricas em águas superficiais. É uma pena que o trabalho não entra a examinar o porquê desse posicionamento privilegiado do Nordeste no âmbito nacional. Apenas o menciona como se fosse uma situação natural, o que, definitivamente, não o é. Veja o leitor o que diz o documento do BNDES: “As principais regiões produtoras de pescado foram o Nordeste, com participação de 34%, e o Sul, com 25%. Apesar de o Norte ser responsável por uma participação um pouco menor, de 21%, é uma das promessas do setor, pois conta com grande abundância de água doce, diversidade de espécies e o maior consumo médio per capita de pescados do Brasil. Não obstante sua baixa participação, a Região Centro-Oeste também apresenta potencial para a aquicultura, uma vez que há disponibilidade de água, proximidade da Agroindústria com a produção de grãos e rações e empresários capitalizados, bastante empreendedores, dispostos a investir em negócios de grande escala.” Seria responsável por essa posição de destaque do Nordeste o uso dos reservatórios artificiais da Região para o cultivo da tilápia, como no caso do Ceará, que o coloca em primeiro lugar no ranking nacional de produção dessa espécie? Até onde contribuiria a produção derivada do cultivo de camarões marinhos, atividade típica do Nordeste? Que outras condições estariam levando a Região a se destacar na aquicultura? Que tipos de produtores participam da produção aquícola nordestina? Seria essa atividade
Revista ABCC | 15
uma ferramenta sem par para a criação e distribuição da riqueza no meio rural do Nordeste? O trabalho do Banco Nacional do Desenvolvimento do Brasil não responde a essas questões. Entretanto, se considerarmos as dificuldades naturais do semiárido nordestino para desenvolver uma agricultura competitiva, supondo a existência de um potencial na Região para a aquicultura, notadamente do camarão e da tilápia, e sua característica de boa rentabilidade em pequenas áreas de cultivo e, portanto, ideal para plano de inclusão social no campo, a resposta ás questões levantadas parece merecer do BNDES uma análise tão ampla e tão bem fundamentada como a que foi aplicada na excelente Monografia que aqui se comenta. ABCC / ACCC PARTICIPA DO “DEBATE DAS QUINTAS” DO BANCO DO NORDESTE O Sr. Cristiano Maia, Presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão (ACCC) e Vice-Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), foi convidado pela Direção Geral do Banco do Nordeste do Brasil, localizado em Fortaleza, CE, a apresentar uma palestra sobre o tema “Situação Atual e Perspectivas da Carcinicultura Cearense” em 24 de janeiro de 2013. A palestra de Cristiano Maia abordou os temas (i) Mercado; (ii) Tecnologias de produção (semi-intensiva e intensiva); (iii) Organização e gestão de pequenos produtores; (iv) Aspectos sanitários e seus impactos econômicos e medidas de prevenção; (v) Leis, portarias e normativos relacionados ao sistema de produção; e (vi) Informações do censo 2012 realizado pela ABCC referentes ao Estado do Ceará. A palestra foi proferida no auditório do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE/BNB como integrante do evento “Debate das Quintas”. O público foi composto por funcionários e gestores de várias áreas do BNB, bolsistas e estagiários, além de outros convidados de outras instituições afi ns. Este é mais um exemplo da disposição do setor de carcinicultura de, através dos seus representantes, divulgar e discutir a realidade setorial junto a entidades de fomento e fi nanciamento objetivando derrubar barreiras que impedem um maior crescimento do setor através de acesso a crédito, demonstrando a sua sustentabilidade e contribuição socioeconômica para o desenvolvimento regional. EM REPRESENTAÇÃO DA ABCC, O ENG. DE PESCA MARCELO BORBA PARTICIPOU DE EVENTO SOBRE A MANCHA BRANCA NO MÉXICO Nos dias 6 e 7 de Dezembro último, se realizou na Cidade de Obregón, Estado de Sonora, no México, a “2 da Mesa de Análisis CONAFAB, sobre El Estado Y Perspectivas de la Camaronicultura en México – Casos de Éxito en Zonas
16 | Revista ABCC
con Mancha Blanca”. O Evento, em sua segunda edição, contou com a participação de conferencistas de diversos países produtores de camarão, além de pesquisadores e empresários mexicanos, latino-americanos, norte-americanos e asiáticos. A ABCC, a Convite da Revista Panorama Acuícola, organizadora do Evento, apoiou e esteve representada na ocasião pelo Engenheiro de Pesca Marcelo Borba, que proferiu a Palestra intitulada ‘Situação Atual da Carcinicultura Brasileira e suas Perspectivas para o Futuro’, abordando temas como o modelo produtivo em voga no Brasil, as experiências vivenciadas na Ásia e o que se espera da carcinicultura brasileira, tomando-se como um dos exemplos a Fazenda Quality Camarões, em Santa Catarina, que trabalha desde 2009, de forma paralela, com os modelos brasileiro e asiático de produção.
O Eng. De Pesca Marcelo Borba proferindo palestra sobre a carcinicultura no Brasil
O tema central do Evento, como o próprio nome sugere, foi a Mancha Branca e as diferentes estratégias que os países afetados estão utilizando para a convivência com esta enfermidade, de modo a permitir-lhes a continuidade e a expansão de suas produções de camarão. As dezesseis palestras levadas a cabo na ocasião mostraram uma diversificada gama de filosofias e técnicas produtivas, como manejo da água, manejo alimentar, controle e eliminação de vetores de contaminação e melhoramento genético de reprodutores e produção de pós-larvas SPF e SPR, para citar apenas alguns. Uma das palestras que mais chamou a atenção dos participantes da Mesa de Debates Técnicos foi proferida pelo Dr. Jorge Luis Benítez, que desde 2003 é o Coordenador Técnico de Campanhas Sanitárias do Comitê de Sanidade Aquícola do México, que a partir de 2006 passou a acumular o cargo de seu Gerente Geral. O referido Comitê, mantido unicamente com recursos dos produtores, possui dezenas de técnicos de nível superior, trabalhando em campo e
em instituições de pesquisas, com o objetivo principal de prover orientação técnica no que tange às medidas de biossegurança e boas práticas de manejo, além da coleta, compilação e interpretação de dados técnicos, possuindo em seu banco de dados mais de 10 anos de informações das fazendas de camarão e peixes do país. Mesmo considerando o altíssimo nível dos Conferencistas presentes no Evento, com destaque para o Dr. George Chamberlain, Presidente da Aliança Global da Aquicultura – GAA; o Dr. Farshad Shisheshchian, da Blue Aqua Internacional, do Dr. Tzachi Samocha, da Universidade Corpus Christi do Texas e o Dr. Fernando Huerta, Consultor em Carcinicultura do Equador, entre alguns outros, não houve um consenso no que se refere aos protocolos de manejo produtivo ou da aquisição de Larvas SPF / SPR, destacou Marcelo Borba, representante da ABCC no Evento.
George Chamberlain, Presidente da GAA
Apesar de estabelecidos o modelo produtivo dos países latino-americanos, com vastas áreas e baixas densidades de estocagem (raramente acima de 30 camarões/m2), grandes produtores já avaliam seriamente a pertinência e possibilidade do quebra de paradigmas, com a implementação do modelo de produção asiático, ressaltou Marcelo Borba, informando ainda que, no caso do México, por exemplo, o país já importa anualmente mais de 30 mil toneladas de camarão para abastecer seu mercado local, dada a baixa produção alcançada por suas fazendas comerciais. SANTA CATARINA REAGE CONTRA ARGENTINA A possibilidade da entrada de camarão argentino no mercado nacional levou o Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) a pedir apoio à bancada catarinense em Brasília para tentar barrar a liberação. O setor teme que a importação do crustáceo abale a produção local, afetada pela entrada de pescado vindo da China e do Vietnã. Enquanto o setor pesqueiro local
acredita que o produto argentino virá com preço mais baixo, o governo brasileiro afirma o contrário. Nos últimos três anos, a crise fez com que 50 barcos deixassem de sair para o mar na região de Itajaí – uma redução de 20%. A entrada de camarão argentino era proibida no Brasil até dezembro de 2012, quando uma nova análise de risco à importação (ARI) para a espécie de camarão pleoticus muelleri, conhecido como camarão vermelho, abriu espaço para o produto eventualmente chegar aos brasileiros. Os requisitos sanitários ainda estão em análise. Mas a previsão é de que o volume de importação chegue a 5 mil toneladas por ano. O que preocupa o setor é que a taxa tributária do camarão vindo da Argentina permita a venda, no Brasil, da mercadoria por preços inferiores aos do produto nacional sem os mesmos incentivos competitivos. O presidente do Sindipi, Giovani Monteiro, cita como exemplo a diferença de preços do óleo diesel usado nos barcos, vendido a R$ 1,70 o litro em SC – com subsídio estadual – e a R$ 1 o litro na Argentina. “Essa situação levará à falência produtores de camarão no Sudeste e Sul do Brasil e dos carcinicultores do Nordeste” afirmou Giovani Monteiro. ANCC ELEGE NOVA DIRETORIA Em Assembleia realizada em 18de dezembro de 2012 na cidade de Natal, RN, a Associação Norte-Riograndense de Criadores de Camarão (ANCC) elegeu sua nova Diretoria. Após um breve pronunciamento do Sr. Orígenes Monte como Diretor Presidente da ANCC sobre sua gestão anterior (6 meses) bem como suas respectivas participações como membro da Diretoria do CONEPE e como conselheiro do CEDRUS (Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável), o Presidente fez o chamado para a eleição da nova Diretoria da ANCC, cuja chapa única apresentada foi aprovada unanimemente pelos presentes, tendo a seguinte composição: 1. Presidente: Orígenes Monte Neto; 2. Vice-Presidente: Newton Bacurau; 3. Secretário: Solon Beltrão; 4. Diretor Financeiro: José Bonifácio Teixeira; 5. Diretor Técnico: Luiz Audatz; 6. Diretor Comercial: Augusto Neto; 7. Diretora de Laboratório: Jaqueline de Medeiros. A ABCC parabeniza os membros da nova diretoria da sua afi liada do RN e deseja sucesso a todos os integrantes nesta nova gestão.
Revista ABCC | 17
ARTIGO
Riscos da Importação de Camarão para os Crustáceos Cultivados e Nativos do Brasil Itamar de Paiva Rocha Engº de pesca, CREA 7226-D abccam@abccam.com.br
O
camarão cultivado do Brasil, em 2003 chegou a ocupar o 2º lugar na pauta das exportações do setor primário da Região Nordeste, com 58.450 toneladas métricas e US$ 226 milhões, o que representou 55% dos US$ 427,92 milhões gerados pelas exportações do setor pesqueiro brasileiro. Com destaque para o fato de que no referido ano, esse produto ocupou o primeiro lugar (25%) das importações de camarão pequeno e médio dos Estados Unidos seguido pela China (20%), Tailândia (12%) e Equador (9%).. Adicionalmente, em 2004, com o redirecionamento das exportações para a Europa, o camarão cultivado do Brasil ocupou o primeiro lugar das importações de camarão tropical da União Europeia e da França e o segundo lugar da Espanha. Entretanto, com a vigência da ação antidumping imposta pelos Estados Unidos ao camarão de vários países, inclusive do Brasil, sequenciada pela desvalorização cambial, sem qualquer compensação financeira, o camarão brasileiro perdeu competitividade nas exportações, de tal ordem, que a partir de 2004-2006 teve que sair do mercado norte americano e europeu, obrigando o produtor brasileiro a reduzir sua produção e a reorientar suas vendas para o mercado interno. Como resultado desse esforço de promoção e adequação a nova realidade mercadológica, a participação do camarão cultivado do Brasil no mercado brasileiro, foi elevada de 22,0% em 2003 para 100% em 2012. Esse favorável desempenho do mercado interno se constituiu a alternativa de maior viabilidade para a recuperação econômica da carcinicultura brasileira. Notadamente, pelos efeitos positivos da acertada decisão do Ministério da Agricultura que desde 1999, proibiu a importação de crustáceos (IN 39/1999 do MAPA) para proteger os crustáceos brasileiros e a carcinicultura nacional, contra as doenças de origens virais que afetam os crustáceos marinhos a nível mundial. Graças à acertada decisão do MAPA, o Brasil tem impedido a introdução das principais doenças que tem causado pesadas perdas econômicas à carcinicultura mundial. Inclusive, a prova mais real de que o Governo Brasileiro tomou a decisão correta e legal, pode ser confirmada pela constatação de que em todos esses anos (13), nunca houve uma contestação contrária, na OMC ou no MERCOSUL. 18 | Revista ABCC
Naturalmente, porque as restrições impostas às referidas importações sempre se fundamentaram na defesa da sanidade dos crustáceos nativos e cultivados do Brasil, tendo em vista preservar tanto o imenso potencial que o Brasil detém para a exploração dessa atividade, em todas suas macrorregiões, como a importante produção extrativa de camarão, caranguejos e lagostas, cuja contribuição econômica e social é de fundamental importância para a pesca artesanal e industrial. Não obstante o favorável desempenho do mercado interno e, por conseguinte, do setor carcinicultor, os produtores de camarão, se sentem inseguros e permanentemente ameaçados pelas reiteradas tentativas do MPA de abrir as importações de camarão, atendendo, reivindicações de importadores, que não tem preocupação com os graves riscos sanitários que essas operações poderiam trazer para o Brasil, tanto para sua indústria de carcinicultura, como para a pesca extrativa de camarão, lagosta e caranguejos. Aliás, essa é uma ameaça que só começou a preocupar o setor carcinicultor e extrativo de crustáceos, quando o controle das autorizações para importação de pescado passou a ser de responsabilidade do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), pois durante 13 anos, período da vigência da IN 39/99 do MAPA, não ocorreu nenhuma autorização para importação de camarões pelo Brasil. O que deixa o setor carcinicultor perplexo com essa atuação do MPA é o fato de que a ABCC e o CONEPE tiveram uma atuação destacada para a criação e aprovação desse Ministério, que hoje se volta contra esses estratégicos setores da economia pesqueira nacional. Nesse sentido, primeiro se destaca que a Ex-ministra Ideli Salvatti foi induzida a dispensar a realização da Análise de Risco de Importação (ARI) para o camarão selvagem da Argentina (Pleoticus muelleri), o que foi sequenciada por uma pronta reação da ABCC/CONEPE, culminando na revogação da medida pelo então Ministro Luis Sergio, o qual, inclusive, assumiu o compromisso público de que a ABCC em representação do setor carcinicultor faria parte da equipe técnica que fosse realizar qualquer ARI para camarões. A referida decisão restabeleceu o bom senso e colocou ordem em um assunto muito caro para a carcinicultura brasileira, cujos fundados compromissos com
o desenvolvimento social, com o meio ambiente e, com a preservação da biodiversidade brasileira de crustáceos, sempre foram priorizados. Por isso, não entendemos e evidentemente nunca poderemos concordar com mais uma precipitada e sorrateira decisão do MPA, com base numa ARI, requentada pelo seu setor competente, que mesmo tendo sido alertado, por correspondências acompanhadas de farto material bibliográfico, da comprovação científica da ocorrência do vírus da mancha branca (WSSV) nas populações de camarões selvagens da Argentina e dos riscos associados, inclusive para as populações naturais de camarões, lagostas e caranguejos, desconsiderou todos esses alertas e uma vez mais, emitiu parecer favorável á importação do P. muelleri. Tal fato configurou-se uma real ameaça e uma temeridade, contrariando os legítimos interesses do Brasil e favorecendo interesses contrariados da Argentina, pois todos sabem que o Brasil nunca importou esse tipo de camarão daquele país, cujo destino sempre foi a Espanha, que, em retaliação a expropriação da Petrolífera Espanhola (PDVISA), teve sua importação suspensa, exatamente por tratar-se de um produto oriundo da Província natal da Presidenta Cristina Kirchner.
A discordância do setor no tocante a essa equivocada decisão do MPA, tem como base, além dos reais riscos sanitários, o fato de que o referido país produz sazonalmente o camarão extrativo da espécie Pleoticus muelleri cuja liberação para importação abrirá uma verdadeira cancela para a triangulação do camarão equatoriano, panamenho, colombiano e asiático, sob as benesses da bandeira do MERCOSUL, todos com registro de doenças notificáveis pela OIE, como, aliás, já vem ocorrendo com diversos outros produtos exportados pela Argentina para o Brasil. Mesmo assim a equipe técnica da SEMOC/ MPA, com base numa ARI eivada de erros, concluiu pela liberação da importação deste camarão, desconsiderando vários trabalhos científicos (incluindo autores da própria Argentina, (ref. 1 a 5), que haviam sido levados ao conhecimento do MPA, mostrando que o estado sanitário das populações naturais de camarões do mar da Argentina, incluindo a mencionada espécie, está comprometido por doenças virais de notificação obrigatória pela OIE, o que significa dizer que sua importação representará uma real ameaça para a sanidade dos crustáceos naturais e cultivados do Brasil. Esta é a nossa posição presente e futura frente ao Governo Federal/MPA, ao Congresso Nacional, aos Governos Estaduais e à sociedade brasileira.
1 Martorelli, et al., 2010 – First report of viral pathogens WSSV and IHHNV in Argentine crustaceans [Note]: Resumo Executivo: Os vírus patogênicos de camarões peneídeos, vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) e vírus da necrose hematopoiética infecciosa e hipodérmica (IHHNV) são relatados pela primeira vez da Argentina, ambos ocorreram em crustáceos selvagens no estuário Bahia Blanca. 2
Martorelli, et al., 2012 – New location and parasitological findings for the invasive shrimp Palaemon macrodactylus in temperate southwestern Atlantic costal waters: Resumo Executivo: A prevalência do vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) foi de 10% no estuário Bahía Blanca. Resultados sugerem fortemente que WSSV está se espalhando em populações de crustáceos em mar Argentino e que P. Macrodactylus desempenha um importante papel na ecologia de infecções por parasitas neste ambiente. 3
Hameed, et al., 2001 – White spot syndrome virus WSSV in two species of freshwater crabs (Paratelphusa hydrodomous and P. pulvinata): Resumo Executivo: A suscetibilidade de duas espécies de caranguejo de água doce, Paratelphusa hydrodomous e P. pulvinata, ao WSSV foi testada por via oral e intramuscular. Os resultados revelaram que os caranguejos foram tão suscetíveis ao WSSV quanto os camarões marinhos apresentando uma mortalidade de 100% em ambas as espécies.
4
Musthaq, et al., 2006 – Experimental transmission and tissue tropism of white spot syndrome virus (WSSV) in two species of lobsters, Panulirus homarus and Panulirus ornatus: Resumo Executivo: A suscetibilidade de duas espécies de lagostas, Panulirus homarus e Panulirus ornatus, ao vírus da mancha branca (WSSV) foi testada por via oral e intramuscular. Resultados revelaram que o WSSV causou 100% de mortalidade de ambas as espécies, quando o vírus foi administrado por via intramuscular. 5
Martorelli, S. R.; 2013 - Current state of knowledge about oie-notifiable viral pathogens in crustaceans from argentina: Resumo Executivo: Desde 2003, duas das mais importantes species da camarão comercializada na Argentina (Artemesia longinaris, e o Pleoticus muelleri)foram examinados junto com outros crustáceos de especial interesses ecológico, com relação a parasitas, epibionticos e patógenos. Em 2008, em várias specimens de camarões peneídos, A. longinaris originários do estuário da Bahía Blanca foram detectadas com numerosos sinais de WSSV na carapaça do cefalotórax. Em alguns desses espécimes, os estudos histológicos (H&E) mostraram a presença de corpos de inclusão, Crowdy type A, geralmente coincidentes com a presença da doença da mancha branca (WSSV/WSD).
Revista ABCC | 19
Portanto, não resta a menor dúvida de que o MPA (Governo Brasileiro) está cometendo um grave equívoco – que atende a interesses de alhures –, ao desconsiderar uma realidade amplamente conhecida, de que a introdução dos vírus que afetam os crustáceos de vários países, teve origem nas importações de camarão de países afetados. Além dessas informações, se destaca que, recentemente, 4 artigos científicos publicados no renomado periódico Journal of Invertebrate Pathology, da Editora Elsevier, apresentaram uma série de críticas ao comércio de crustáceos sem nenhum tipo de regulação, o que resultou na introdução de patógenos que se disseminaram nos recursos hídricos de diversos países, contaminando populações naturais de crustáceos nativos, impactando, consequentemente, de forma negativa, a produção pesqueira. Resumidamente, os referidos artigos sugerem que os Países importadores reduzam ao máximo as importações de crustáceos de países onde há a ocorrência de viroses, em especial o WSSV, e invistam significativamente na formação de centros de diagnósticos de enfermidades em organismos aquáticos. Essas recomendações são reforçadas no artigo intitulado International and national biosecurity strategies in aquatic animal health. Oidtmann, B.C. et al., 2011. Aquaculture, 320: 22-33. Como pode ser visto nos quadros apresentados a seguir, o camarão da Argentina, que o Brasil nunca importou, em realidade, é apenas uma forma de tentar derrubar uma barreira sanitária
que perdura com sucesso há 13 anos. Pois em realidade, já estão em gestação vários processos de ARI de camarões com vistas a liberação de suas importações, com destaque para: Equador, Panamá, Senegal, Índia e Noruega (Tabela 01) O pretexto do camarão da Argentina, com históricos de serem portadores de vírus de doenças (WSSV e IHHNV) de notificação obrigatória pela OIE, visa sobretudo abrir precedentes para escancarar as comportas para a entrada de camarões cultivados desses outros países, cujos processos de pedido de liberação de importações já estão em análise, pela mesma equipe técnica do MPA.. Em realidade, o P. muelleri seria um pano de fundo para o objetivo principal dos mentores da sua ARI, que estão por trás dessa tentativa do MPA de burlar a proibição das importações de crustáceos pelo Brasil, que não pode ser quebrada, sem o concurso da desobediência a uma Normativa Jurídica, pois tanto a In 39/99 (MAPA) como a IN 14/2010 (MPA), são muito claras sobre os condicionantes da ARI (Análise de Risco de Importação), para que sejam permitidas qualquer importação de crustáceos. Diante de tantas evidencias sobre os riscos que a importação de camarão traz para o país importador e tendo presente que o Brasil nunca importou camarão da Argentina, como pode a equipe técnica da SEMOC/MPA concluir uma ARI favorável a importação do camarão Pleoticus muelleri da Argentina? Primeiro porque se trata de um camarão oriundo de uma área cuja prevalência de WSSV e IHHNV, ambas de notificação obrigatória
Tabela 01: ARI Camarão, www.mpa.gov.br: (27/12/2012)
Camarão: Processo de Análise de Risco de Importação – ARI Commodity
Finalidade
Origem
Situação
Camarões congelados da espécie Pleoticus muelleri originários de pesca extrativa
Consumo humano
Argentina
Finalizada
Camarões sem cabeça, descascados e congelados originários da aquicultura
Consumo humano
Equador
Identificação dos perigos
Camarões crus congelados originários de aquicultura
Consumo humano
Panamá
Identificação dos perigos
Camarões congelados da família Penaidae, originários da pesca extrativa
Consumo humano
Senegal
Identificação dos perigos
Camarões da espécie Solenocera cassicornis originário de pesca extrativa
Consumo humano
Índia
Identificação dos perigos
Camarões Pandalus spp., originários de pesca extrativa
Consumo humano
Noruega
Identificação dos perigos
20 | Revista ABCC
pela OIE, já é de 10% nas populações naturais de crustáceos no mar da Argentina e, segundo, porque é um camarão oriundo da pesca extrativa, cuja produção é sazonal, além disso, vindo de um país que corriqueiramente utiliza a prática da triangulação de produtos exportados para o Brasil, sob as benesses tarifárias do MERCOSUL, o que, no mínimo, requer a adoção do princípio da precaução, tendo em vista que a entrada de camarões do Equador, Panamá, Colômbia, Índia, China e Vietnã, afetados por dezenas de doenças virais, via triangulação, é perfeitamente previsível e, será uma questão de dias. Por outro lado, os aspectos econômicos e sociais que adicionalmente embasam a preocupação setorial e, certamente não deixam margens para dúvidas sobre o equívoco e o despropósito da ARI do Camarão P. muelleri da Argentina, elaborada pela SEMOC-MPA, que equivocadamente concluiu pela liberação da sua importação, podem ser mais bem avaliadas quando se analisa as informações descritas a seguir: 1 - O Brasil, com uma área potencial estimada em 1.000.000 de hectares, altamente apropriados para a exploração da carcinicultura, utilizou apenas 20.000 ha (2%) em 2011, cuja produção de 70.000 t contribuiu para a geração de R$ 1,0 bilhão de reais e 70.000 empregos, dos quais, 88% foram ocupados por mão de obra com a mínima qualificação profissional. 2 - O Equador, com pouco mais de 600 km de costa e uma deficiente malha rodoviária e energética, explorou 180.000 ha com o camarão cultivado em 2010, produzindo 230.000 t, cuja exportação de 142.000 t, gerou US$ 805 milhões de dólares. Enquanto isso, o estado do Ceará, líder da carcinicultura brasileira, com praticamente a mesma linha de costa, explorou pouco mais de 6.500 ha, produzindo 32.000 t, sem qualquer volume/valor exportado em 2011. 3 - A Tailândia, com uma linha de costa igual à da Região Nordeste, explorou 60.000 ha, produzindo 600.000 t, das quais 250.000 t, correspondente a US$ 2,4 bilhões foram exportadas em 2011. Com o destaque, para o fato de que a diferença da taxa de dumping imposta pelo Departamento de Comércio dos EUA entre a Tailândia (5,95%) e o Brasil (7,05%) foi de apenas 1,1%, sendo que enquanto as exportações de camarão brasileiro para os EUA decresceram de 21.783 t/US$ 96.8 milhões em 2003 para zero (0,0) em 2011, as exportações da Tailândia cresceram de 133.226 t/US$ 997,7 milhões em 2003, para 185.836 t/US$ 1,72 bilhão em 2011. 4 - O Vietnã, com uma área territorial de apenas 320.000 km2, explorou 850.000 ha com camarão cultivado, cuja produção de 478.700 t, colocou o país no terceiro lugar em termos mundial na produção de camarão cultivado em 2010. Em realidade, o Brasil, cujo potencial de exploração da aquicultura é infinitamente superior a qualquer outro país, inclusive da China, amargou, pela crônica falta de políticas públicas e prioridades para o incentivo e desenvolvimento
da aquicultura, uma participação medíocre, correspondente a apenas 0,6% (480.129 t) da produção mundial (78.945.001 t) desse setor em 2010. Além disso, quando se analisa a participação do Brasil (0.09%), na produção mundial da maricultura (17.648.793 t), esse desempenho é ainda mais sofrível, conforme reportou a FAO para o ano de 2010 (FAO, 2011). Na contramão da tendência e do incentivo dispensado em termos mundiais, para o aumento da produção de pescado, via aquicultura, única forma de manter a oferta atual de pescado, o Brasil, vem priorizando as importações (363.019 t/ US$ 1,23 bilhão em 2012) de um produto que deveria ser líder mundial da sua produção, inclusive da China (que produz 50 vezes mais pescado que o Brasil, mas que já é o terceiro maior importador mundial desse setor, cujo volume importado em 2010, correspondeu a 2 vezes a produção brasileira de pescado) e do Vietnã, de qualidade ambiental e sanidade duvidosas, cuja desleal concorrência, amparada por incentivos financeiros, legislação trabalhista e florestal sem as amarras impostas aos produtores brasileiros, desestimulam e colocam a aquicultura brasileira em real desvantagem comparativa. Nesse contexto se destaca que o generalizado amadorismo e a real incompetência no planejamento e na administração da política pesqueira brasileira, em especial para o setor aquícola, vêm contribuindo para que as excepcionais condições naturais, ambientais e infraestruturais que o Brasil apresenta em todas suas macrorregiões não sejam exploradas nem no mínimo das suas possibilidades. Isso, num total desrespeito ao fato de que a piscicultura marinha no Nordeste, remonta da ocupação holandesa (Século XVII) e, a tecnologia que revolucionou a aquicultura mundial, a hipofisação, foi descoberta sob a luz de lamparina, no açude Bodocongó (Campina Grande, PB) em meados da década de 20 do século passado. A título de reflexão e maior compreensão, sobre os equívocos da política aquícola brasileira, em realidade, a única alternativa de maior viabilidade para o aumento da produção de pescado do Brasil, apresenta-se o exemplo do desempenho do setor das carnes, incluído o frango, em que o país participou com 34% (US$ 16 bilhões) do valor das suas importações mundiais (US$ 46 bilhões) em 2011, ao passo que sua participação nas importações mundiais de pescado (111,11 bilhões) foi de apenas US$ 245 milhões (0,25%) em 2010. Pelo acima exposto, não paira a menor dúvida sobre a necessidade, aliás, urgentemente, de mudanças de rumo e priorização de incentivos ao setor aquícola brasileiro. Com a palavra o MPA/Governo Federal e os Governos Estaduais. Pois certamente, os pescadores, trabalhadores rurais, aquicultores e a população brasileira merecem melhor tratamento, em termos de oferta de um: alimento nobre, de empregos decentes, oportunidades de negócios, renda e, vida com dignidade na zona rural do litoral e do interior do país. Revista ABCC | 21
Mas com certeza, não será pela via das importações, notadamente de camarões da Argentina. Por isso, da nossa parte, faremos o possível e o impossível para evitar a perpetuação desse proposital equívoco, inclusive pelos meios jurídicos.. Por isso, fazemos um apelo a todo o setor, para que não se deixem impressionar por informações do tipo “é uma decisão da Presidenta Dilma” e “são apenas 5.000 t”, ou ainda, “mais dias menos dias o Brasil ia ter que importar”, pois tudo isso é conversa fiada, que interessa a VIVENDA DO CAMARÃO e alguns outros incautos, ainda enrustidos, mas que logo vão ter que mostrar a cara. Fiquem atentos e levem sempre em consideração que a defesa sanitária sempre será uma prioridade no Brasil e não há qualquer perspectiva, de em curto e médio prazos, ocorrerem mudanças na conjuntura sanitária que afetam Tabela 02: Principais agentes etiológicos que afetam a carcinicultura mundial
22 | Revista ABCC
as populações de camarões, cultivados/extrativos, no contexto mundial. Muito pelo contrário, pois já são 35 doenças ou cepas virais, cada uma mais perigosa que a outra, onde a TSV-5 e a IHHNV-4 por exemplos, são bem mais letais do que as cepas anteriores. Ou seja, não aceitem nenhuma alusão de fatalidades, do tipo o vírus já está em tal Estado e logo vai chegar aqui ou ali. Isso não é pecado original, que se nasce com ele e temos que carregar a vida toda (Tabela 02). Por isso reitero o apelo para que cada um de vocês produtores, trabalhadores ou consumidores se engaje nessa luta contra esses arautos do apocalipse, que por trás de suas ações está a defesa dos interesses contrariados de além mar, esperando apenas o momento de dar o bote para liquidar, de forma especial o promissor setor da carcinicultura, representado por 1.540
produtores, que gera 70.000 empregos, diretos e indiretos e, apresenta amplas perspectivas de crescimento. A Mancha Branca (WSSV), doença mais disseminada e que maiores perdas têm ocasionado à carcinicultura mundial, inclusive presente nos camarões selvagens da Argentina, sobrevive ao processo de congelamento e à estocagem a frio, de modo que seus resíduos ao entrarem nos estuários e mar, contaminam e passam a causar infecções nos camarões cultivados e nas populações naturais de crustáceos (Camarões, Caranguejos e lagostas) do país importador. Portanto, ao manter a proibição das importações, além da proteção sanitária ao camarão brasileiro, na verdade o Brasil está permitindo a manutenção de dezenas de milhares de emprego e a criação de novas oportunidades de trabalho, e o que é mais importante, para a maioria absoluta de trabalhadores rurais e pescadores artesanais de baixa qualificação profissional. Uma das características ímpar da carcinicultura marinha que, por seus sistemas de produção intensiva e semi-intensiva e boa lucratividade em áreas relativamente pequenas, se ajusta como uma luva para a inclusão social no campo com a incorporação da pequena unidade de produção. Prova inconteste disso está nas estatísticas do setor quando revelam que 75% dos produtores de camarão cultivado estão classificados na categoria de micro e pequenos produtores. Como pode ser visto no site do SITE do MPA, a vasta comitiva do Governo Brasileiro ficou encantada com a visita que fizeram a instalações frigoríficas de pescado na Argentina. Será que algum desses “espertos” em processamento de pescado, já visitou um frigorífico de camarão ou de peixes no Brasil? Claro que não, inclusive porque as mais de 40 Unidades que antes da SEAP-PR, hoje MPA, operavam no Brasil, gerando mais de 20.000 empregos para mulheres, hoje se resumem a pouco mais de uma dezena, mesmo assim, deficitárias. É amigos leitores, seguindo os passos da nossa Presidenta, que de acordo com o Ministro Crivella, atendeu um apelo da sua colega da Argentina, determinando a compra do camarão P. muelleri, o nosso Ministro da Pesca e Aquicultura não se
cansa de viajar sempre para comprar mais peixes (Noruega, Argentina e a próxima viagem será à China, Vietnã e Israel, para negociar a importação de tilápia, o outro pilar da Aquicultura brasileira que o MPA seguramente pretende derrubar !!!!. (Tabela 03). Enquanto isso, as Unidades de Beneficiamentos da Potiporã e o da Compescal por exemplos, cada um com capacidade para processar 60.000 kg/dia, que juntas já empregaram 1.200 mulheres em 2003, mas que hoje, pela perda de competitividade das exportações, sem nenhuma preocupação ou intervenção do MPA, teve esse número reduzido para menos de 500 mulheres, que agora correm o risco de perderem seus empregos !!!??.
Tabela 03: ARI Tilápia, www.mpa.gov.br (27/12/2012)
Tilápia: Processo de Análise de Risco de Importação - ARI Commodity
Finalidade
Origem
Situação
Alevinos de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus ) originários de aquicultura.
Multiplicação Animal
Singapura
Finalizada
Tilápia (Oreochromis sp.) originária de aquicultura
Consumo humano
Equador
Em andamento
Tilápia (Oreochromis sp.) originária de aquicultura
Consumo humano
Vietnã
Em andamento
Revista ABCC | 23
ARTIGO
O Censo da carcinicultura nacional em 2011 Itamar Rocha – Presidente ABCC Marcelo Borba – Consultor ABCC Joana Nogueira – Colaboradora ABCC abccam@abccam.com.br
A
realização do censo de uma atividade do setor primário da economia, pela dispersão dos produtores no campo e a dificuldade natural de levantar informações nas fazendas, nem sempre registradas adequada e oportunamente, representa um desafio com inúmeros obstáculos que, via de regra, demanda esforços conscientes, cuidadosos e bem articulados para sua superação. E quando o censo que se pretende realizar, como neste caso da carcinicultura brasileira, inclui em cada unidade produtiva visitada, o levantamento de aspectos tecnológicos, sociais, ambientais e econômicos, os desafios se multiplicam e seus encaminhamentos requerem uma habilidade especial de saber dosar o rigor do método científico com a flexibilidade das artes. Em realidade, os desafios de um Censo rural passam a exigir de seus planejadores e executores, além de sólido conhecimento da atividade objeto da pesquisa de campo, dedicação, uso de uma boa logística e muita paciência no manejo das diversas fases de aplicação do método quantitativo e qualitativo, de modo que seus resultados não deixem dúvidas e refl itam a realidade e, portanto, sejam plenamente confiáveis aos diversos segmentos do Governo, das instituições e da sociedade em geral. Disposta a confrontar os desafios e a usar toda sua experiência na matéria, a ABCC, por meio de seu Departamento Técnico mobilizado em toda sua capacidade, e com o respaldo da sua Presidência e Diretoria, além do apoio fi nanceiro do Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), Tabela 1: Dimensão da Carcinicultura Nacional VARIÁVEIS LEVANTADAS / ANO Nº DE PRODUTORES ÁREA TOTAL (HÁ) PRODUÇÃO (TON) PRODUTIVIDADE (KG/HÁ/ANO) EXPORTAÇÕES (U$/Milhões)
2003 905 14.824 90.190 6.084 $ 226,00 $
2004 997 16.598 75.904 4.510 198,00 $
utilizou boa parte do ano 2012 para medir o desempenho do cultivo de camarões marinhos em 2011 no território brasileiro; além de determinar suas principais características tecnológicas, sociais, ambientais e econômicas. Os esforços de planejamento, execução, acompanhamento, avaliação, sistematização e tabulação de dados, mobilizaram uma equipe de 22 técnicos de nível superior, entre os meses de Maio e Dezembro de 2012. As atividades de campo deste Levantamento Setorial 24 | Revista ABCC
cobriram boa parte do território nacional onde se localiza o cultivo do camarão no país, com destaque para a Região Nordeste, que representou 98,8% da produção brasileira em 2011. As entrevistas de campo chegaram também ao Pará, na Região Norte do Brasil, e em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, na Região Sul do país. A metodologia consistiu basicamente na localização, georreferenciamento e aplicação dos questionários em todas as unidades produtivas de camarão no território nacional onde existe ou existiu unidades de produção deste crustáceo marinho no Brasil. Comecemos então a ver e a interpretar os resultados do Censo 2011, informando inicialmente ao leitor que dois censos foram realizados anteriormente pela ABCC, em 2003 e 2004, o que permitirá algumas comparações com os resultados de 2011, indicando assim a evolução, estagnação ou retrocesso do setor no que se refere a importantes variáveis. A dimensão atualizada da carcinicultura no Brasil (Tabela 1) revela que, em sete anos, entre 2004 e 2011, houve crescimento expressivo em número de produtores e apenas moderado em área total de cultivo, ocorreu um leve decaimento da produção total e considerável queda da produtividade, além de uma radical mudança no destino fi nal da produção. Também em referência aos resultados comparativos entre os Censos de 2004 e 2011, cujo conjunto mostra um setor que regrediu em termos de produção, os mesmos refletem os efeitos de uma crise que, desde meados de 2003 a 2009 afetou o desempenho da atividade, agravada adicionalmente pela combinação de VARIAÇÃO (%) DE 2011 2004 PARA 2011 fatores como as dificuldades para obtenção dos legítimos 1.544 55% e necessários licenciamentos 19.847 20% ambientais, o que limita de 69.571 -8% 3.505 -22,27% forma contundente os inves0,90 -99,55% timentos no setor, a aplicação pelos Estados Unidos da Lei Antidumping contra o camarão de vários países, inclusive o do Brasil e a progressiva desvalorização do Dólar em relação à moeda brasileira, além das enchentes (nos anos de 2004; 2008 e 2009) que devastaram grandes pólos brasileiros de produção de camarão. O conjunto de todas essas variáveis levaram os produtores brasileiros a entrarem em um “estado de latência” no que concerne aos investimentos setoriais, além de ter deixado o camarão cultivado do Brasil sem competitividade alguma
no mercado internacional, razão pela qual foram perdidos o mercado norte-americano e o europeu para o nosso produto, os quais haviam sido conquistados pela excelência de sua qualidade e inocuidade. Em resumo, os dados do Censo revelam que o Brasil fechou o ano de 2011 com uma área total de 19.847 hectares de viveiros em operação, com uma produção de 69.571 toneladas, e uma produtividade média, de 3.510 kg/ha/ano. Isso significa, pela análise destes dados, que o setor conseguiu sobreviver à crise que o afetou com grande intensidade e por um bom período de tempo. As cifras da Tabela 2 indicam que a carcinicultura nacional está situada, basicamente, na Região Nordeste do país, sendo que a produção no Norte e no Sul é inexpressiva em termos absolutos e percentuais, sendo inexistente no Centro Oeste e Sudeste do país. Depois de mais de 20 anos do início da produção comercial da espécie L. vannamei no Brasil, e apesar de sua extraordinária adaptabilidade às mais diversas condições, inclusive às águas continentais do nosso país, da mesma forma que vem ocorrendo no Continente Asiático, podemos observar que as
Isso significa dizer que embora o cultivo do camarão marinho no Brasil permaneceu, essencialmente, dentro dos limites territoriais do Nordeste, entre a Bahia e o Maranhão, cuja relevância para a Região deveria ser aproveitada nos planos governamentais para fortalecer o seu desenvolvimento rural, cuja agricultura, em termos gerais, não compete com a do restante do país, esta atividade também pode se desenvolver nas demais regiões do Brasil. Nesse sentido se destaca que, fora da produção agrícola irrigada, são mínimas as opções de renda e emprego para as comunidades rurais do Nordeste, fato este que eleva a importância da carcinicultura como ferramenta valiosa para a geração de emprego e renda nas áreas litorâneas e interioranas da Região, o que exigiria uma atenção especial dos órgãos de planejamento dos seus Governos Estaduais se de fato pretendem promover e acelerar a economia rural de seus Estados. O desdobramento da produção de camarões cultivados por Unidade Federativa pode ser verificada na Tabela 3, cujas cifras refletem o número de produtores, a área cultivada e a produção total de cada Estado entre os censos de 2003, 2004 e 2011. Em termos globais, os números de produção da referida Tabela revelam um Tabela 2: A carcinicultura nas macrorregiões brasileiras declínio da carcinicultura nacional ÁREA EM PRODUÇÃO EM 2011 em 2011, ao se comparar com os Nº FAZENDAS PRODUÇÃO PRODUTIVIDADE (HA) REGIÃO dados dos dois primeiros censos. (TON/HA/ANO) Nº % HÁ % TON % Em relação aos Estados produNORTE 3 0% 4 0,02% 56 0,1% 14,00 tores individualmente, em toda NORDESTE 1428 92% 19.610 98,81% 69.088 99,3% 3,52 linha horizontal dos três censos, SUDESTE 1 observa-se posições de destaque CENTRO-OESTE para o Ceará e Rio Grande do SUL 112 7% 233 1,17% 427 0,6% 1,83 Norte, os dois maiores produtores TOTAL 1544 100% 19.847 100% 69.571 100,0% 3,51 de camarão cultivado do Brasil, excepcionais características edafoclimáticas do Nordeste são respectivamente, seguidos por Bahia, Pernambuco, Sergipe altamente favoráveis e atrativas para o desenvolvimento dessa e Paraíba. O leitor interessado pode identificar cada Estado atividade, mesmo com outras regiões do Brasil apresentando e verificar a posição por este ocupada no conjunto em 2011 condições favoráveis para esse desenvolvimento. e as variações ocorridas por ocasião dos três censos. Tabela 3: O cultivo de camarões marinhos nos estados em 2003, 2004 e 2011 DADOS COMPARATIVOS 2003, 2004 e 2011 CENSO 2004
CENSO 2003 ESTADOS
Nº
ÁREA (HÁ)
PRODUÇÃO (TON)
PRODUTIVIDADE (KG/HÁ/ANO)
Nº
ÁREA (HÁ)
PRODUÇÃO (TON)
CENSO 2011
PRODUTIVIDADE (KG/HÁ/ANO)
Nº
PRODUÇÃO (TON)
ÁREA (HÁ)
PRODUTIVIDADE (KG/HÁ/ANO)
AL BA CE ES MA PA PB
2 42 185 10 19 6 66
15 1.737 3.376 103 306 159 591
130 8.211 25.915 370 703 324 3.323
8.667,0 4.728,0 7.676,0 3.592,0 2.293,0 2.038,0 5.623,0
2 51 191 12 7 5 68
16 1.850 3.804 103 85 38 630
102 7.577 19.405 370 226 242 2.963
6.375 4.096 5.101 3.592 2.659 6.368 4.703
1 63 325 5 1 53
12 2.096 6.580 152 4 681
170 7.050 31.982 253 56 1.530
14.166,7 3.363,0 4.860,8 1.670,0 14.000,0 2.247,3
PE PI PR RN RS SC SE
79 16 1 362 1 62 54 905
1.131 688 49 5.402 4 865 398 14.824
5.831 3.309 390 37.473 3 3.251 957 90.190
5.156,0 4.812,0 7.959,0 6.937,0 842,0 3.758,0 2.401,0 4.748,7
98 16 1 381 1 95 69 997
1.108 751 49 6.281 8 1.361 514 16.598
4.531 2.541 310 30.807 20 4.267 2.543 75.904
4.089 3.383 6.327 4.905 2.500 3.135 4.947 4.441
147 20 1 360 5 17 224 1.222
1.541 968 49 6.540 11 173 1.040 19.847
4.309 3.079 47 17.742 104 276 2.973 69.571
2.795,4 3.181,6 958,2 2.713,4 9.106,0 1.600,0 2.858,3 3.505,5
Total
Revista ABCC | 25
O leitor deve lembrar que, em 2003, o cultivo de camarões no Brasil, em sua maior parte destinada ao mercado internacional, atingiu sua produção máxima, pouco acima das 90 mil toneladas. Já em 2004, o setor começou a sentir os efeitos da crise comentada anteriormente. No que tange às cifras de 2011 listadas na Tabela 4, pode-se observar uma quantidade considerável de área produtiva desativada, cerca de 2.500 hectares em 2011. Sabe-se, contudo, que esse número já foi reduzido significativamente em 2012, posto que várias empresas retomaram a plena produção em alguns viveiros informados como desativados em 2011. Um dos resultados do Censo 2011 que oferece uma visão ampla dos efeitos positivos da carcinicultura na sua área de influência, por revelar seu aspecto social combinado com o econômico e, portanto, seu impacto distributivo da riqueza no campo, é revelado na Tabela 5, que inclui, exclusivamente, as fazendas ativas em 2011, mostrando a representação percentual dos produtores, classificados segundo o tamanho de suas unidades produtivas. Pela primeira vez, no desdobramento por tamanho das fazendas, o Censo de 2011 diferenciou o micro produtor do pequeno, classificando-o como uma Classe independente. Os dados resultantes são eloqüentes quanto à participação do micro e pequeno produtor no cômputo geral do cultivo de camarão no Brasil, ao revelar na Coluna “Total” que o ‘Micro’ participa em número (717) com 58,7% do total de produtores.
O ‘Pequeno’ (184) entra com 15,0% na composição total. Somados os dois grupos (Micro e Pequeno), a participação chega a 73,7% do total. Fica assim evidenciada, portanto, a importância da carcinicultura como atividade que contribui para a distribuição da riqueza no meio rural interiorano e litorâneo do Brasil. O bom nível de rentabilidade em áreas relativamente pequenas oferece atrativos para a constituição da micro e pequena unidade produtiva, o que reforça a importância social da carcinicultura para o desenvolvimento rural do Nordeste. Os indicadores contidos na Tabela 6 mostram o uso de algumas práticas e utilização de tecnologia pelos produtores, classificados segundo o tamanho de suas fazendas. Em termos gerais, os percentuais aplicáveis ao uso de algumas práticas recomendadas, se encontram em níveis superiores a 50% do número de produtores, donde se pode inferir que, ao se considerar o nível tecnológico da carcinicultura brasileira, pode-se afirmar que este é condizente com seu grau de intensificação, embora muito aquém de suas possibilidades. Em algumas práticas, como a aplicação de probióticos, por exemplo, há diferenças apreciáveis entre produtores micro/pequenos e médios/grandes, com estes últimos registrando percentuais de adoção bem superiores aos primeiros. A tecnologia atualmente em uso no cultivo comercial de camarão no Brasil, tendo presente a produtividade média
Tabela 4: O cultivo de camarões marinhos nos estados em 2011 Nº FAZENDAS
ÁREA DISPONIVEL (Ha)
ÁREA EM OPERAÇÃO em 2011 (Ha)
ÁREA DESATIVADA (Ha)
PRODUÇÃO (TON)
ESTADOS AL BA CE ES MA PA PB PE PI PR RN RS SC SE TOTAL
Nº 3,00
% 0,00
HÁ 12,00
96,00 452 1 7 3 72 155 23
0,06 29,3% 0,1% 0,5% 0,2% 4,7% 10,0% 1,5%
2.213,00 7.262 103 159 33 800 1.567 1.056
1 384 5 106 236 1544
0,1% 24,9% 0,3% 6,9% 15,3% 100%
49 6.600 11 1.285 1.081 22.231
%
Nº FAZ.
12
% 0,1%
Nº FAZ. 2
33% 0% 1% 0% 4% 7% 5%
1 63 325 5 1 53 147 20
2.096 6.580 152 4 681 1.541 968
10,6% 33,2% 0,0% 0,8% 0,0% 3,4% 7,8% 4,9%
33 127 1 2 2 19 8 3
0% 30% 0% 6% 5% 100%
1 360 5 17 224 1.222
49 6.540 11 173 1.040 19.847
0,2% 33,0% 0,1% 0,9% 5,2% 100%
0 24 0 89 12
0,00 0,10
ÁREA
ÁREA -
% 0,0%
TON 170
% 0,2%
117 682 103 8 29 119 26 88
4,9% 28,6% 4,3% 0,3% 1,2% 5,0% 1,1% 3,7%
7.050 31.982 253 56 1.530 4.309 3.079
10,1% 46,0% 0,0% 0,4% 0,1% 2,2% 6,2% 4,4%
3,36 4,86 1,67 14,00 2,25 2,80 3,18
-
0,0% 2,5% 0,0% 46,7% 1,7% 100%
47 17.742 104 276 2.973 69.571
0,1% 25,5% 0,1% 0,4% 4,3% 100%
0,96 2,71 9,11 1,60 2,86 3,51
60 1.113 41 2.384
322
PRODUTIVIDADE EM 2011 (TON/HA/ANO) 14,17
Tabela 5: Participação de produtores por tamanho de suas unidades de produção MICRO < 5 Hectares ESTADOS AL BA CE ES MA PA PB PE PI PR RN RS SC SE TOTAL
Nº PRODUTORES ÁREA (HA) -
-
35 170 1 1 34 124
63 343 3 4 86 135
162 1.410 2 56 478 354
2
8
38
167 4 5 174 717
322 3 15 305 1.286
992 96 24 745 4.357
26 | Revista ABCC
PRODUTORES ATIVOS MÉDIO > 10 Hectares < 50 HA
PEQUENO > 5 Hectares < 10 HA
PRODUÇÃO (TON)
PRODUÇÃO Nº PRODUTORES ÁREA (HA) (TON) -
5 49
-
9 4
44 413 65 33
66 2.417 286 97
8
66
76 1 5 27 184
565 8 35 204 1.432
344 1.611 8 25 507 5.361
-
-
Nº PRODUTORES 1 17 76 4 8 15 5 1 89 7 22 245
ÁREA (HA)
PRODUÇÃO (TON)
12 407 1.870 148 233 280
170 979 9.307 251 429 1.201
96 49 1.846 124 424 5.489
473 47 4.790 227 1.371 19.245
GRANDE > 50 Hectares Nº PRODUTORES 6 30 2 4 5 28 1 76
ÁREA (HA)
Total por Estado
PRODUÇÃO (TON)
Nº PRODUTORES ÁREA (HA)
PRODUÇÃO (TON)
1.582 3.953 298 1.094
5.843 18.848 337 2.657
1 63 325 5 1 53 147
12 2.096 6.580 151 4 681 1.542
170 7.050 31.982 253 56 1.530 4.309
798 3.807 108 11.639
2.224 10.350 350 40.609
20 1 360 5 17 224 1.222
968 49 6.540 11 173 1.040 19.847
3.079 47 17.742 104 276 2.973 69.571
alcançada, deverá ser objeto de um amplo debate setorial com vistas à sua verticalização, para o quê faz-se imperiosa a adoção das Boas Práticas de Manejo combinadas com as Medidas de Biossegurança que se fazem necessárias. Nesse sentido, a ABCC participou e venceu um Edital de Chamamento Público do MPA para a realização, nos anos de 2013 e 2014, do maior plano regional de capacitação jamais levado a cabo no setor, para atualização de produtores e técnicos. O número de produtores em relação à sua área alagada e segundo a principal fonte de captação de água e abastecimento de seus viveiros (estuarina, oceânica, poço, rio e açude) pode ser encontrado nas Tabelas 7 e 8. Sobre essas fontes, como era de se esperar, registra-se a predominância do uso da água estuarina, com mais de 71% dos produtores,
sendo seguida pela água de rios, com 23% dos produtores. O número de produtores que usam, como principal manancial de abastecimento, a água oceânica, poço e açude, ainda que sejam fontes com incalculável disponibilidade na região Nordeste, ainda é inexpressivo em relação ao total, muito embora bastante significativo no que concerne à produção observada. Quando se analisa na Tabela 8, que além de registrar as fontes de água utilizadas pelas fazendas, inclui as variáveis produção e produtividade média em cada um desses ambientes, pode-se ver que permanece o uso majoritário das águas estuarinas (71,2%), seguida das águas dos rios (20,5%). Já o exame da produção de camarão por fonte de abastecimento mostra que as fazendas que utilizam água de rios, poços e açudes já respondem, juntas, por 25,06% da produção nacional.
Tabela 6: Uso de tecnologia na carcinicultura USO DE TECNOLOGIA Comedouros Fixos
TAMANHO Nº PRODUTORES
MICRO PEQUENO MÉDIO GRANDE GERAL
Nº 533 159 236 71 999
717 184 245 76 1.222
% 74% 86% 96% 93% 82%
Análise Presun vas
Uso de Probió cos
Nº 159 84 151 65 459
Nº 120 95 134 59 408
% 22% 46% 62% 86% 38%
Realiza Análises Uso de Berçários Hidrológicas Intensivos
Uso de Aeradores
% 17% 52% 55% 78% 33%
Nº 224 108 150 35 517
% 31% 59% 61% 46% 42%
Nº 62 55 122 51 290
% 9% 30% 50% 67% 24%
Nº 14 22 65 48 149
% 2% 12% 27% 63% 12%
Tabelas 7: Fontes de água para o cultivo
PRINCIPAL FONTE DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA
TAMANHO
MICRO PEQUENO MÉDIO GRANDE GERAL
ESTUÁRIO
Nº PRODUTORES
717 184 245 76 1.222
Nº 533 126 157 49 865
% 74% 68% 64% 64% 71%
OCEÂNICA Nº 6 1 3 3 13
% 1% 0,5% 1% 4% 1%
POÇO Nº 14 9 11 4 38
RIO % 2% 5% 4% 5% 3%
Nº 151 43 72 18 284
AÇUDE % 21% 23% 29% 24% 23%
Nº 13 5 2 2 22
% 2% 3% 1% 3% 2%
Tabela 8: Fontes de água para o cultivo PRINCIPAL FONTE DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA CATEGORIA
ÁREA ALAGADA(HA)
MICRO PEQUENO MÉDIO GRANDE GERAL
1.286,22 1.431,95 5.488,76 11.639,37 19.846,30
ESTUÁRIO (HA) Área Produção (Ton) Produ vidade (Ton/Há/Ano) 987,62 3.045 3,08 984,08 3.150 3,20 3.598,12 13.240 3,68 8.571,20 30.095 3,51 14.141,02 49.530 3,37
OCEÂNICA (HA) Área 14,8 8,9 71,0 489,0 583,7
Produção (Ton) Produ vidade (Ton/Há/Ano) 102 6,94 40 4,49 196 2,76 2.269 4,64 2.607 4,71
POÇO (HA) Área Produção (Ton) 22,63 91 70,80 393 221,00 967 397,80 1.233 712,23 2.684
(Ton/Há/Ano) 4,03 5,55 4,38 3,10 4,26
RIO (HA)
AÇUDE (HA)
Área Produção (Ton) Produ vidade (Ton/Há/Ano) 234,82 1.023 4,36 334,94 1.631 4,87 1.472,54 4.681 3,18 2.010,57 6.343 3,15 4.052,87 13.679 3,89
Área Produção (Ton) Produ vidade (Ton/Há/Ano) 25,40 96 3,78 33,30 146 4,38 26,10 160 6,13 170,70 669 3,92 255,50 1.071 4,55
Revista ABCC | 27
As informações que demonstram a dimensão dos segmentos que complementam a cadeia produtiva da carcinicultura brasileira, como os Laboratórios de Produção de Pós-larvas, os Centros de Processamento e as Fábricas de Ração podem ser visualizadas nas Tabelas 9, 10 e 11. A Tabela 9 revela a situação e localização dos laboratórios que abastecem as fazendas de camarão do Brasil, com seus sistemas de maturação e de larvicultura. Com exceção de Alagoas e Maranhão, todos os demais Estados do Nordeste possuem laboratórios para o fornecimento de pós-larvas, o que facilita o atendimento oportuno desse insumo, demandado periodicamente pelas fazendas. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na Região Sul, também contam com essas instalações. A capacidade total de produção da náuplios/mês é de 7,2 bilhões, sendo a de produção de pós-larvas igual a 1,96 Bilhão, números estes que atenderam com folga toda a demanda nacional de pós-larvas apontada pelo Censo em 2011. Os 32 centros de processamento existentes para beneficiamento do camarão de cultivo do Brasil, vide Tabela 10, estão bem distribuídos regionalmente, da Bahia ao Piauí, e contam com uma capacidade de processar 20.295 toneladas/mês e de armazenar 12.000 toneladas, cifras estas bem acima das necessidades de atendimento da demanda para o mercado doméstico, para onde se destina a totalidade da produção nacional. Cabe lembrar ainda que os centros de processamento foram projetados e instalados na época em que o Brasil exportava a quase totalidade do seu camarão para os Estados Unidos e Europa. Hoje, portanto, servem com folga a demanda do mercado doméstico, que já consome cerca de 40% da produção nacional com produto processado ou algum valor agregado, segundo estudo de mercado realizado em 2012 também pela ABCC. A Tabela 11, por sua vez, indica a existência de 9 fábricas de ração, também bem distribuídas regionalmente (BA, PE, PB e CE) que registram uma capacidade mensal de produção de 33.000 toneladas, que abastece com bastante folga, uma vez que apresentam uma considerável capacidade ociosa, toda a demanda das fazendas de camarão do Brasil. Com a realização do Censo 2011, a ABCC conseguiu atingir uma de suas metas principais, qual seja a de atualizar os dados concernentes ao atual estado da arte dessa atividade no país, revelando uma radiografia mais completa possível do setor, com informações com indicações georreferenciadas das unidades produtoras colhidas por profissionais da área capacitados e treinados especificamente para atingir os objetivos do Censo, com entrevistas realizadas diretamente nas fontes produtoras, e, portanto, as mais confiáveis possíveis. A importância que a entidade de classe dos produtores de camarão cultivado atribui a essa meta, está no fato de considerar como obrigação social do setor a de manter informadas as entidades governamentais, as instituições em geral e a sociedade sobre as principais características da atividade, que tem a função de produzir um alimento nobre para consumo da população brasileira, com a geração de emprego e renda no meio rural e litorâneo do país. 28 | Revista ABCC
Tabela 9: Laboratórios de pós-larvas LABORATÓRIOS ESTADO
Nº DE MATURAÇÕES
Nº DE LARVICULTURAS
PRODUÇÃO DE NAÚPLIOS/MÊS (Milhões)
PRODUÇÃO DE PL'S (Milhões/Mês)
RN
4
10
3.484
1.072
CE BA PE PI SC PB SE RS
3 2 1 3 2 0 1 1
4 8 1 3 2 1 1 1
2.510 37 150 990 16 23 1
415 297 40 102 20 7 12 0
TOTAL
17
31
7.210
1.965
Tabela 10: Centros de processamento
ESTADOS
CENTROS DE PROCESSAMENTO CAPACIDADE DE CAPACIDADE DE Nº DE PROCESSAMENTO ESTOCAGEM (TON EMPRESAS (TON/MÊS) TOTAL)
BA CE PB PE PI RN TOTAL
3 9 1 6 1 13 32
1.620 7.380 1.200 3.135 300 7.860 20.295
560 3.140 50 5.855 120 2.387 12.062
Tabela 11: Fábricas de ração
FÁBRICAS DE RAÇÃO CAPACIDADE DE Nº DE ESTADOS PRODUÇÃO MENSAL EMPRESAS (TON) BA PE PB CE
2 4 1 2
6.000 18.000 3.000 6.000
TOTAL
9
33.000
Os dados setoriais colhidos pelo Censo 2011 constituem um valioso acervo não apenas para revelar a situação momentânea da carcinicultura brasileira, mas também e principalmente para que, uma vez analisados e interpretados sob uma ótica técnica, social, econômica e ambiental mais apurada, indiquem os rumos que devam ser tomados pelos agentes públicos e privados na busca de maior eficiência produtiva. Uma análise mais detalhada tendo como base este importante levantamento da conjuntura da Carcinicultura Brasileira no ano de 2011 será apresentada em relatório específico. Esta análise incluirá todas as variáveis passíveis de serem extraídas dessa ampla radiografia setorial e será apresentada ao MPA no prazo previsto no projeto. A divulgação para o setor está programada para a FENACAM 2013.
ARTIGO
A importação de camarão Argentino irá afetar populações naturais de lagostas no Brasil Hiran Costa - UFCE hiran1968@hotmail.com
Este artigo tem por finalidade alertar os setores aquícola e pesqueiro nacionais sobre os riscos de importação sem controle de pescado de diversas origens para o território brasileiro, com enfoque especial na possível importação do camarão selvagem Pleoticus muelleri da Argentina.
R
ecentemente, 4 artigos científicos publicados no renomado periódico Journal of Invertebrate Pathology, da Editora Elsevier, têm apresentado uma série de críticas ao comércio de crustáceos sem nenhum tipo de regulação, o que resulta na introdução de patógenos que se disseminam nos diversos recursos hídricos de vários países, contaminando populações naturais de crustáceos nativos, impactando, consequentemente, de forma negativa a produção pesqueira. Os artigos mais recentes intitulados: Transboundary movement of shrimp viruses in crustaceans and their products: A special risk? Jones, B., 2012. Journal of Invertebrate Pathology, 110: 196-200, e Disease will limit future food supply from the global crustacean fishery and aquaculture sectors. Stentiford, G.D. et al., 2012. Journal of Invertebrate Pathology, 110: 141-157, fazem um sério alerta sobre o impacto de doenças virais na produção pesqueira de crustáceos e em alguns setores da aquicultura. Os autores revelam que esse comércio indiscriminado tem causado perdas anuais ao setor de U$ 3 bilhões e que o vírus da Mancha Branca (WSSV), endêmico da Ásia, tem infectado populações naturais de caranguejos na Europa, afetando comunidades tradicionais de pescadores localizadas no Mediterrâneo. Os autores fazem ainda críticas aos Países, como a Argentina, que tem casos de WSSV e não comunicam a OIE. A Argentina é citada pelos autores como um País onde a presença do WSSV está cientificamente comprovada, mas os órgãos de controle não fazem a notificação oficial e obrigatória a OIE. Essa crítica é reforçada no artigo intitulado Global transboundry disease politics: The OIE perspective. Lightner, D.V., 2012. Journal of Invertebrate Pathology, 110: 184-187. Em um quarto artigo intitulado Diseases of commercially exploited crustaceans: Cross-cutting issues for global fisheries and aquaculture. Editorial, 2011. Journal of Invertebrate Pathology, 106: 3-5, faz-se um relato sobre o pouco conhecimento dos agentes patogênicos que afetam populações naturais de crustáceos e que pela primeira vez a Europa criou instrumentos legislativos com o intuito de proteger o estado sanitário de
populações naturais e cultivadas de crustáceos dos Países Membros da Comunidade Europeia. Toda a legislação e as implicações para as nações exportadoras e importadoras estão descritas no artigo intitulado Crustacean diseases in European legislation: implications for importing and exporting nations. Stentiford, G.D. et al., 2010. Aquaculture, 306: 27-34. Resumidamente, esses artigos sugerem que os Países importadores reduzam ao máximo as importações de crustáceos de Países onde há a ocorrência de viroses, em especial o WSSV, e invistam significativamente na formação de centros de diagnósticos de enfermidades em organismos aquáticos nas regiões produtoras. Essas recomendações são reforçadas no artigo intitulado International and national biosecurity strategies in aquatic animal health. Oidtmann, B.C. et al., 2011. Aquaculture, 320: 22-33. A síndrome da mancha branca é considerada a principal doença viral que afeta as diversas espécies de crustáceos e o organismo causador tem sido identificado como o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Esse vírus tem causado perdas superiores a U$ 10 bilhões na última década à indústria aquícola, contudo seu impacto nas pescarias de crustáceos ainda é totalmente desconhecido e merece ser alvo de estudos científicos. É amplamente conhecido que além de camarões, o WSSV tem sido detectado em 41 espécies de caranguejos e em pelo menos 14 destas espécies, o WSSV tem sido encontrado em estoques naturais. O artigo intitulado Viral diseases in commercially exploited crabs: a review. Bonami, J.R. et al., 2011. Journal of Invertebrate Pathology, 106: 6-17, faz várias considerações sobre a disseminação do WSSV através de processos de importação e contaminação de populações de crustáceos em zonas onde o WSSV não é endêmico. Até o presente, populações naturais de lagostas espinhosas não têm sido diagnosticadas com o WSSV, contudo experimentos in vivo de infecção de lagostas do gênero Panulirus por WSSV têm demonstrado o poder letal desse patógeno nesses crustáceos. O artigo intitulado Experimental transmission Revista ABCC | 29
and tissue tropism of white spot syndrome virus (WSSV) in two species of lobsters, Panulirus homarus and Panulirus ornatus. Musthaq, S.S. et al., 2006. Journal of Invertebrate Pathology, 93: 75-80, apresenta evidências que essas espécies de lagostas, quando infectadas intramuscularmente com o WSSV, apresentam 100% de mortalidade em um período máximo de 7 dias. Contudo, mais grave é o caso descrito no artigo intitulado Susceptibility to infection and disease in juvenile European lobster (Homarus gammarus) fed high- and low-dose White Spot Syndrome Virus (WSSV) infected shrimp products. Bateman, K.S., et al., 2012. Dis. Aquat. Org., 100: 169-184, em quê camarões infectados coletados em supermercados do Reino Unido foram utilizados como alimento em experimentos de infecção de lagostas por WSSV. No experimento, lagostas alimentadas com camarões infectados apresentaram 55% de mortalidade em um período de 6 dias, sendo que pelo menos 80% estavam infectadas por WSSV quando analisadas por PCR. O fato é que esse tema somente vem sendo mais amplamente discutido nos últimos 3 anos, devido às contaminações de crustáceos nativos da Europa pelo vírus WSSV que é endêmico da Ásia. Portanto, a Análise de Risco de Importação (ARI) que autorizou a importação do camarão argentino foi extremamente prematura e inconsequente.
30 | Revista ABCC
Sem nenhum tipo de desmerecimento a Equipe que elaborou o ARI, nenhum dos membros (verificado por consulta do Currículo Lattes do CNPq) tem experiência com vírus que contaminam crustáceos e suas rotas de transmissão em ecossistemas aquáticos. Nenhum esclarecimento foi feito sobre a variante viral presente nos crustáceos argentinos e qual impacto que essa variante teria nas diversas espécies de crustáceos existentes no litoral brasileiro, desde crustáceos explorados por populações ribeirinhas como os siris e caranguejos até os crustáceos explorados industrialmente como os camarões e as lagostas. Desta forma, ao invés de simplesmente se produzir um ARI propondo a importação do camarão argentino, o MPA deveria apoiar o aumento da produção de camarão cultivado no Brasil e atuar na desoneração do custo de produção dessa commodity, atendendo assim a uma possível demanda insatisfeita existente no Brasil. Como já evidenciado, o camarão argentino tem sido comercializado quase que integralmente nos mercados Europeu e Japonês, não havendo nenhuma necessidade do comércio desse produto no Brasil. Os artigos aqui mencionados podem ser solicitados diretamente ao autor ou a ABCC – abccam@abccam.com.br
Contando com uma moderna e equipada unidade de produção de pós-larvas, localizada no Rio Grande do Norte, há 8 anos a Queiroz Galvão Alimentos tem investido em um arrojado e inovador programa de melhoramento genético, cujo processo de produção dos animais contempla os critérios de resistência e crescimento. Dessa forma, investindo em pesquisa e tecnologia como diferenciais de seu produto, hoje a Queiroz Galvão Alimentos disponibiliza para o mercado uma pós-larva de qualidade superior.
Revista ABCC | 31 Rua Principal, 220 - São José de Touros - Touros-RN - Cep 59584-000
ARTIGO
Programa de Melhoramento Genético para resistência ao IMNV e crescimento do camarão Litopenaeus vannamei no BRASIL Sérgio Lima(1), Roseli Pimentel(1), Xavier Serrano(2), John Montano(2), Gael Leclercq(2) (1) Queiroz Galvão Alimentos SA, São José de Touros, RN, Brasil (2) Concepto Azul, Florianopolis, SC, Brasil Autor correspondente: gael_leclercq@yahoo.com
A
epidemia de IMNV (Vírus da mionecrose infecciosa) nos cultivos de L. vannamei no Nordeste do Brasil desde 2002, causou um forte impacto sobre a produção e ainda representa uma ameaça à sustentabilidade da atividade nas áreas mais afetadas. O grupo Queiroz Galvão Alimentos S.A. (QGA) possui uma fazenda de camarão de 960 hectares, uma larvicultura com capacidade de produção de 400 milhões de pós-larvas por mês e uma planta de processamento para atender o segmento de carcinicultura. Em outubro de 2004, a QGA contratou a equipe científica da empresa Concepto Azul para implantar e manejar um programa de prevenção de doenças e melhoramento genético, tal qual realizado também para o WSSV (Vírus da Síndrome da Mancha Branca) e IHHNV (Vírus da necrose infecciosa hipodérmica e hematopoiética) em outros países. Devido à grave mortalidade causada pelo vírus IMNV e outras perdas por IHHNV e pela bactéria intracelular causadora do NHP (hepatopancreatite necrosante), o programa tem como objetivo a seleção de reprodutores resistentes ao IMNV, a diversos fatores de estresse fisiológico e a certificação das pós-larvas como livres simultaneamente dos diversos patógenos. A QGA construiu uma infraestrutura específica para o programa, incluindo um laboratório de biologia molecular para análises de PCR e qPCR (PCR quantitativa em tempo real), uma sala de desova e larvicultura individual, unidade de biossegurança para patologia experimental e unidades para levantamento de reprodutores na larvicultura e na fazenda de camarão. 1) Transmissão vertical e horizontal do IMNV e seu impacto sobre a produção. Agentes patogênicos como os vírus, podem ser transmitidos verticalmente e horizontalmente (fig. 1). A transmissão vertical (principalmente de fêmeas infectadas para seus descendentes) foi estabelecida para a maioria dos vírus que causam impacto na produção de camarão em todo o mundo: WSSV (Lo et al, 1997, Hsu et al 1999), e IHHNV (Motte et al, 2003). No caso de IMNV, um estudo preliminar realizado em 2005 mostrou que o vírus poderia ser detectado por Nested-PCR em ovários, hemolinfa e músculo de reprodutores. Ovos desinfetados, náuplios e pós-larvas produzidas a partir de reprodutores
32 | Revista ABCC
naturalmente infectados foram também diagnosticados positivos para o patógeno. Estes dados reforçam a hipótese de que a transmissão vertical do IMNV é muito provável.
Figura 1: Transmissão vertical e horizontal dos patógenos.
A transmissão horizontal pode ocorrer por canibalismo ou por vetores hospedeiros. O IMNV foi detectado em amostras de zooplâncton (77%), caranguejos (80%) e ostras (40%). Análises de Real Time-PCR (PCR quantitativa em tempo real) de amostras de água do canal de entrada da fazenda para quantificação de IMNV mostrou uma alta concentração de 1,0 x 105 a 3,0 x 107 moléculas de RNA viral/mL. Considerando a impossibilidade de esterilização da água e dos solos nos viveiros de um sistema semi-intensivo, a erradicação total dos patógenos do ambiente é praticamente impossível. Além disso, vários fatores de estresse abióticos normalmente encontrados nas fazendas de camarão causam impactos na produção. Águas estuarinas eutrofizadas podem causar hipóxia e consequentemente mortalidade. Devido às “cheias” dos rios adjacentes, os valores de salinidade baixam rapidamente, atingindo de 0 a 1 ppt e essa rápida variação causa maior suscetibilidade a patógenos. A sobrevivência média em viveiros de camarão no inverno de 2004 na fazenda de camarão da QGA era aproximadamente 19%. As pós-larvas apenas tipo Specific Pathogen Free (SPF), sem a seleção para resistência a patógenos e fatores de estresse, provavelmente seriam infectadas na fazenda, devido
à contaminação no sistema semi-intensivo. Sendo assim, fica evidente a necessidade de povoar pós-larvas que além de certificadas livres de doenças, também sejam selecionadas simultaneamente para crescimento, resistência aos fatores de estresse ambientais e aos patógenos, reduzindo assim os riscos de epidemia e consequentemente a mortalidade. 2) Melhoramento Genético 2.1 A estratégia de seleção e melhoramento genético de linhas puras.
Os principais critérios considerados para o programa de seleção genética são a resistência ao IMNV e o crescimento. O programa se baseia em operações de seleção individuais que permitam uma estimativa precisa do valor genético de cada reprodutor dentre todos os candidatos para cada critério. Os reprodutores selecionados são usados para estabelecer linhas puras por cruzamentos consanguíneos que aumentam a homozigose, a fim de estabilizar e fi xar os genes envolvidos nos mecanismos de resistência. Para a produção comercial de náuplios e pós-larvas, os cruzamentos são realizados entre as linhas puras. A produção e seleção de novas gerações são realizadas através de cruzamentos dirigidos e inseminação artificial. Os náuplios são então levados até o estágio de pós-larva 10 na unidade de larvicultura individual. Cada família é submetida a uma alta pressão de seleção durante 60 dias após a infecção experimental com IMNV. Durante esses 60 dias de desafio, todas as famílias também passam por vários fatores de estresse fisiológico, tais como variações de salinidade de 34 ppt à 1 ppt, situações de hipóxia e variações de temperatura entre 29 e 22ºC, a fim de simular juntamente com o desafio viral as condições de estresse que ocorre naturalmente nos viveiros.
Ao final, as famílias e os indivíduos resistentes são selecionados para o crescimento. Indivíduos selecionados são marcados com elastômeros coloridos e transferidos para tanques e viveiros para seleção e avaliação do crescimento. Depois de atingir o peso desejado, as famílias selecionadas são transferidas para a unidade de quarentena. Os reprodutores pré-selecionados, são analisados individualmente para detecção de patógenos (IMNV, IHHNV e NHP) por LAMP, Nested-PCR ou Real time -PCR (fig. 2). Desta maneira todos os portadores do vírus são descartados. Apenas os reprodutores certificados livres de doenças são transferidos para maturação para produzirem náuplios e pós-larvas.
Figura 2: Estratégia integrada de prevenção de doenças e do programa de melhoramento genético.
2.2 Resultados em condições controladas e na fazenda de camarão: desafio IMNV Em condições de desafio controlado com IMNV durante 60 dias, a taxa média de sobrevivência que aumentou de 3,2% na F1 para 55,3% na F7, corresponde a um aumento significativo de 17,3 vezes no fator de resistência (fig. 3). Taxa de sobrevivencia media aos 60 dias pos desafio IMNV nas familias selecionadas 60,0%
55,3%
50,0% 40,5% 40,0%
30,0%
27,2% 22,0%
20,0%
15,5% 8,8%
10,0% 3,2% 0,0% F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
Figura 3: Taxa de sobrevivência média a cada geração de linhas puras em condições experimentais de desafio pelo vírus IMNV após 60 dias. Pós-larvas infectadas experimentalmente com IMNV nas instalações de biossegurança
Em 2007, foi conduzido um estudo comparativo entre pós -larvas certificadas/resistentes e pós-larvas não selecionadas, em condições de cultivo comercial. Foram povoados 40 viveiros
Revista ABCC | 33
de engorda em abril a uma densidade de 30 PL/m2. As pós-larvas da geração F3 resistente ao IMNV atingiram uma taxa de sobrevivência final de 57,0% e as pós-larvas não selecionadas (controle) apenas 24,4%. O crescimento em condições de cultivo intensivo (100 PL/m2) foi avaliado durante o inverno de 2010. A taxa de crescimento médio semanal alcançou 1,1 gramas com temperatura média de 27ºC durante um ciclo de cultivo de 93 dias. 2.3 Estudos de expressão de genes imunológicos por PCR Quantitativa em Tempo Real A PCR quantitativa em Tempo Real (qPCR ou Real time-PCR) permite quantificar a expressão de genes ao nível do mRNA. Em nosso programa consideramos interessante o gene de expressão da hemocianina com relação ao seu potencial imunológico devido à sua dupla função: de transporte de oxigênio e atividade antimicrobiana. Comparamos a expressão constitutiva da hemocianina de duas gerações de camarão selecionados pela sua resistência à hipóxia (controle, F1 e F2). O F2 mostrou uma expressão constitutiva de hemocianina 5,6 vezes maior do que o controle. Estes resultados podem explicar parcialmente a maior taxa de sobrevivência nas gerações F2 nas fazendas de engorda.
34 | Revista ABCC
O Dicer e Argonaute são genes que estão envolvidos no mecanismo de silenciamento de genes através do RNA de interferência (RNAi) e têm sido estudado como candidatos a genes antivirais. A injeção do IMNV nos camarões causou um aumento da expressão desses dois genes. Um estudo comparativo estabeleceu que camarões resistentes e assintomáticos, sobreviventes a uma infecção experimental com IMNV apresentavam uma carga viral 103 vezes menor do que os camarões sintomáticos suscetíveis. Na quantificação do mRNA dos genes Dicer e Argonaute por Real time-PCR foi encontrado um nível de expressão cerca de duas vezes maior nos camarões resistentes. 3) Conclusão A estratégia do programa tem sido bem sucedida na seleção e produção de pós-larvas, significativamente mais resistentes a IMNV e adaptadas às condições de cultivo das fazendas de camarão no Nordeste do Brasil. Considerando o impacto de agentes patogênicos na maioria dos países produtores de camarão e atualmente o IMNV na Ásia, a utilização destas linhas selecionadas poderia ser de grande importância para reduzir o impacto dos agentes patogênicos e consequentemente para a sustentabilidade da carcinicultura.
Revista ABCC | 35
ARTIGO
Ações e conquistas da ABCC Relativas ao Novo Código Florestal Itamar Rocha, Engº de Pesca, CREA 7226-D Presidente da ABCC Sergio Pinho, Engº de Pesca, CREA 6366-D Assessor Parlamentar da ABCC
O presente artigo destaca os principais aspectos na Lei do Novo Código Florestal que direta ou indiretamente incidem sobre a Carcinicultura
A
avaliação do novo Código Florestal para o setor aquícola e em especial para a carcinicultura deve ser feita, entendemos, considerando alguns aspectos que submetemos à avaliação de todos os atores setoriais I. Reconhecimento Político da Atividade: Durante os últimos dois anos, Deputados e Senadores ouviram, quase que diariamente, a menção das palavras carcinicultura (que alguns não sabiam o que significava), apicuns e salgados (que quase nenhum sabia o que era) e mangue, que a maioria queria proteger sem saber por que. Nesse aspecto tivemos a oportunidade de trazer ao Congresso Nacional informações técnicas, sociais e econômicas de grande valia para desfazer a imagem distorcida que muitos, Congressistas, Assessores, Consultores legislativos, representantes de entidades produtoras e de defesa do meio ambiente e o próprio Governo Federal, tinham ou faziam da atividade. Embates, às vezes pouco elegantes como o que travamos com um ex-ministro do Meio Ambiente, serviram para apresentar um setor disposto a interagir com a comunidade política de maneira altiva. Finalmente obtivemos o reconhecimento da carcinicultura como fonte importante (e forte) de empregos e renda, sendo uma alternativa econômica respeitada para a Região Nordeste. A prova de que logramos êxito nos nossos intentos pode ser avaliada com maior nitidez quando se considera que juntamente com o sal, somos as únicas atividades tratadas em capítulo específico e com a possibilidade real de discutir o direito a exclusividade de uso dos ecossistemas apicuns e salgados. II. Visibilidade Institucional: A presença da ABCC e suas filiadas estaduais nas principais discussões com
36 | Revista ABCC
técnicos, empresários, representantes políticos e outras Entidades de produtores levou à sociedade a exata dimensão e importância do cultivo de camarão para as economias de seus respectivos Estados. Com certeza os carcinicultores saíram fortalecidos e respeitados ao final do processo. III. Segurança Jurídica: Ao se examinar os incisos XIII, XIV e XV do art. 3º da Lei 12.651-12, verifica-se que pela primeira vez as definições de manguezal, apicum e salgado, constam em uma Lei Ordinária Federal, encerrando uma discussão que se arrastava há mais de uma década, sob a bandeira do ambientalismo radical, que a todo custo tentava fundir os 3 biomas sob o manto dos manguezais, com o único objetivo de impedir o desenvolvimento da carcinicultura estuarina brasileira. A parte isso, conseguimos que a Lei estabelecesse as condições de operação da atividade e nos livramos definitivamente dos humores ambientalistas no tocante a garantia de acesso ás APPs para captação e drenagem de água, possibilidade de implantação de infraestrutura nas APPs e outros avanços que a leitura cuidadosa do texto legal revelará. Com isso, esperamos que, definitivamente, cessem as indefinições das entidades estaduais para o licenciamento e para a fiscalização da atividade. Também estão dadas as condições para a regularização das fazendas que nunca conseguiram licença por falta de um Marco Legal. Outro fator importante de todo este processo é a possibilidade de identificação dos Parlamentares com quem se pode contar no Congresso Nacional para os mais duros embates. Não são muitos, mas são aguerridos e contam com vários simpatizantes/seguidores.
Itamar Rocha, Presidente da ABCC, participando de reunião da Comissão Mista do CongressoNacional sobre o Código Florestal
A partir da visibilidade que a carcinicultura, sob a competente e responsável liderança da ABCC e suas Afiliadas, adquiriu ao longo desse processo, tanto pela organização como pela disponibilidade de um consistente acervo técnico-científico, associado ao empenho das principais lideranças setoriais, não temos dúvidas que, com a segurança jurídica que o Novo Código Florestal trará para o setor carcinicultor, novas e significativas vitórias surgirão. Já ficou patente no Congresso Nacional o reconhecimento de que a carcinicultura se constitui no presente a solução de maior viabilidade econômico-social para o desenvolvimento pesqueiro da Região Nordeste. Finalmente, gostaríamos de lembrar a todos que não se esgota aqui a necessidade da permanente vigilância e combatividade do setor no sentido de avançar nessa relação institucional, da mesma forma que em cada fazenda, laboratório, processadora e fábrica de ração a busca sempre permanente de novos caminhos de melhoria da tecnologia e produtividade. Para finalizar, enumeraremos a seguir os trechos que na nossa visão afetam mais diretamente os carcinicultores e aquicultores. Sugerimos, no entanto, que todos leiam com atenção o inteiro teor da Lei, pois com certeza esta passará a regular o licenciamento ambiental do nosso setor, nos próximos anos.
TRECHOS DA LEI 12.651/2012 (Novo Código Florestal) DE INTERESSE DO SETOR CARCINICULTOR Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com inf luência f luviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina; XIV - salgado ou marismas tropicais hipersalinos: áreas situadas em regiões com frequências de inundações intermediárias entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), onde pode ocorrer a presença de vegetação herbácea específica; XV - apicum: áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores, inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam salinidade superior a 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de vegetação vascular; IX - interesse social: e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de ef luentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade; Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei: VII - os manguezais, em toda a sua extensão; § 6º Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas áreas de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo, a prática da aquicultura e a infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que: I - sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de recursos hídricos, garantindo sua qualidade e quantidade, de acordo com norma dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente; II - esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de gestão de recursos hídricos; III - seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente; IV - o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR. V - não implique novas supressões de vegetação nativa. (Inciso acrescido pela Medida Provisória nº 571, de 25/5/2012) Revista ABCC | 37
CAPÍTULO III-A DO USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL DOS APICUNS E SALGADOS (Capítulo acrescido pela Medida Provisória nº 571, de 25/5/2012) Art. 11-A. A Zona Costeira é patrimônio nacional, nos termos do § 4º do art. 225 da Constituição, devendo sua ocupação e exploração se dar de modo ecologicamente sustentável. § 1º Os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicultura e salinas, desde que observados os seguintes requisitos: I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade de fitofisionomia no bioma amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento) no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas que atendam ao disposto no § 6º; II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica e condição de berçário de recursos pesqueiros; III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibama e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da União, realizada regularização prévia da titulação perante a União; IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos; V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de Preservação Permanente; e V - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais. § 2º A licença ambiental, na hipótese deste artigo, será de 5 (cinco) anos, renovável apenas se o empreendedor cumprir as exigências da legislação ambiental e do próprio licenciamento, mediante comprovação anual inclusive por mídia fotográfica. § 3º São sujeitos à apresentação de Estudo Prévio de Impacto Ambiental - EPIA e Relatório de Impacto Ambiental - RIMA os novos empreendimentos: I - com área superior a 50 (cinquenta) hectares, vedada a fragmentação do projeto para ocultar ou camuflar seu porte; II - com área de até 50 (cinquenta) hectares, se potencialmente causadores de significativa degradação do meio ambiente; ou III - localizados em região com adensamento de empreendimentos de carcinicultura ou salinas cujo impacto afete áreas comuns. 38 | Revista ABCC
§ 4º O órgão licenciador competente, mediante decisão motivada, poderá, sem prejuízo das sanções administrativas, civis e penais cabíveis, bem como do dever de recuperar os danos ambientais causados, alterar as condicionantes e as medidas de controle e adequação, quando ocorrer: I - descumprimento ou cumprimento inadequado das condicionantes ou medidas de controle previstas no licenciamento, ou desobediência às normas aplicáveis; II - fornecimento de informação falsa, dúbia ou enganosa, inclusive por omissão, em qualquer fase do licenciamento ou período de validade da licença; ou III - superveniência de informações sobre riscos ao meio ambiente ou à saúde pública. § 5º A ampliação da ocupação de apicuns e salgados respeitará o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira - ZEEZOC, com a individualização das áreas ainda passíveis de uso, em escala mínima de 1:10.000, que deverá ser concluído por cada Estado no prazo máximo de 1 (um) ano a partir da data de publicação desta Lei. § 6º É assegurada a regularização das atividades e empreendimentos de carcinicultura e salinas cuja ocupação e implantação tenham ocorrido antes de 22 de julho de 2008, desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica, comprove sua localização em apicum ou salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a proteger a integridade dos manguezais arbustivos adjacentes. § 7º É vedada a manutenção, licenciamento ou regularização, em qualquer hipótese ou forma, de ocupação ou exploração irregular em apicum ou salgado, ressalvadas as exceções previstas neste artigo. (Artigo acrescido pela Medida Provisória nº 571, de 25/5/2012) Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. § 12. Será admitida a manutenção de residências e da infraestrutura associada às atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural, inclusive o acesso a essas atividades, independentemente das determinações contidas no caput e nos §§ 1º a 7º, desde que não estejam em área que ofereça risco à vida ou à integridade física das pessoas. Art. 74. A Câmara de Comércio Exterior - CAMEX, de que trata o art. 20-B da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998, com a redação dada pela Medida Provisória nº 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, é autorizada a adotar medidas de restrição às importações de bens de origem agropecuária ou florestal produzidos em países que não observem normas e padrões de proteção do meio ambiente compatíveis com as estabelecidas pela legislação brasileira.
Revista ABCC | 39
ARTIGO
Tendências na avaliação de ingredientes para a substituição da farinha de peixe em rações para camarões marinhos Rodrigo Carvalho¹, Daniel Lemos², Albert Tacon³, Lucilda Lima¹, Hortência Ventura¹ 1 Escola Agrícola de Jundiaí, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN rodrigoplfc@ufrnet.br 2 Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo 3 Aquatic Farms Ltd,Hawaii, USA
A
produção de rações para peixes e camarões no Brasil apresentou um crescimento médio anual de 12% entre 2004 e 2012, ligeiramente superior ao aumento na produção de peixes e camarões cultivados, que foi de aproximadamente 10% ao ano no mesmo período (figura 1), o que aponta que a aquicultura extensiva no Brasil está diminuindo e se intensificando do ponto de vista nutricional. t x 10³ 600 Ração para camarões Ração para peixes
500
Produção camarões Produção peixes
400 300 200 100 0 2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Figura 1. Produção de rações para peixes e camarões e produção de peixes e camarões cultivados no Brasil no período de 2003 a 2012. Fonte: Sindirações, FAO, MPA, ABCC *estimativa
O desenvolvimento de rações mais eficientes é fundamental para o desenvolvimento do setor uma vez que este é o insumo que mais pesa no bolso do produtor de camarão e o seu impacto nos custos de produção tende a crescer em função das mudanças no panorama de alimentação do mundo que surgirão no futuro em resposta ao aumento da população e à limitação da expansão ou até mesmo a redução das áreas agriculturáveis em todo o globo, além das mudanças climáticas (Carvalho e Lemos, 2009). Diante destas questões, a aquicultura tem muitos desafios a enfrentar para consolidar a sua importância no trilema “alimento, energia e ambiente”, e converter da melhor forma possível as matérias primas em alimento aquático nutritivo e de qualidade em um cenário competitivo por proteínas para alimentação humana e animal. As proteínas são nutrientes indispensáveis para a estrutura e 40 | Revista ABCC
funções vitais dos camarões, como o crescimento e a recuperação dos tecidos, o que implica na necessidade de um suprimento regular de proteínas ou seus componentes, os aminoácidos, nos níveis ideais o que significa que a verdadeira exigência dos animais não é de proteína e sim dos aminoácidos que a compõem (Akyiama, 1992). Estes aminoácidos podem ser supridos por uma grande variedade de ingredientes que durante a formulação das rações são combinados em proporções variáveis, podendo ainda ser adicionados aminoácidos sintéticos, para atender a exigência dos camarões com maior precisão. Tradicionalmente a farinha de peixe vinha sendo a principal fonte de aminoácidos nas rações porque o seu perfil de aminoácidos atende as exigências nutricionais dos peixes e camarões, além de ser atrativa e palatável e por possuir compostos chaves para o crescimento. Foi, portanto, um dos principais ingredientes utilizados pela aquicultura em 2006 que consu2010 2011* 2012* miu cerca de 68% de toda a farinha de peixe produzida no mundo e destes, 81% foram utilizados para a alimentação de camarões e peixes marinhos, salmões e carpas chinesas (Tacon e Metian, 2009). A participação da farinha e do óleo de peixe nas rações de peixes e camarões caiu para cerca da metade em relação à década passada e a tendência de queda continua em função do aumento dos custos destes ingredientes devido ao esgotamento dos estoques pesqueiros. O preço da farinha de peixe saltou de US$600,00/ton em 2003 (Tacon e Metian, 2009) para US$ 1.800,00/ton no início de 2013 (Bacon, 2013) e a tendência é que estes estoques sejam cada vez mais utilizados para a alimentação humana. Estudos sobre a utilização de ingredientes alternativos que substituam todo ou parte da farinha e o óleo de peixe vem sendo realizados com sucesso em todo o mundo e estes ingredientes serão a principal fonte de proteína nas rações para a aquicultura. Estudos realizados com o L. vannamei mostraram que é possível substituir até 100% da farinha de peixe em dietas
para camarões cultivados em viveiros por ingredientes de origem vegetal (Amaya et al., 2006). Vale destacar que estas alternativas são na maioria dos casos as outras commodities existentes mais do que os ingredientes inovadores em função da sua disponibilidade (Hardy, 1996). Com a redução da farinha de peixe a ração pode não ter mais o cheiro característico de peixe e a cor escura esperados pelo produtor, no entanto, a evolução no conhecimento dos ingredientes e na formulação nos permite ter boas rações com pouca ou nenhuma farinha e/ou óleo de peixe, especialmente para sistemas semi-intensivos e sistemas com bioflocos nos quais o aporte de nutrientes através do alimento natural complementa os nutrientes disponíveis na ração. As fontes alternativas de proteína utilizadas pela indústria têm sido os subprodutos da pesca, alimentos protéicos obtidos através do processamento de grãos, sementes e leguminosas e subprodutos do abate de animais terrestres. Entre as proteínas alternativas que ainda não chegaram ao mercado se destacam proteínas unicelulares e proteínas de invertebrados (Hardy, 2006). O Brasil é um grande produtor de alimentos de origem animal e vegetal e os subprodutos resultantes do processamento destes alimentos ou produtos de qualidade são alternativas importantes para as rações de camarão marinho. Alguns dos principais ingredientes protéicos disponíveis no Brasil e que já são utilizados em dietas para camarões marinhos, ainda de forma experimental em alguns casos, mas que possuem potencial para a substituição da farinha de peixe importada são o farelo de soja, a farinha de sangue, a farinha de peixe nacional, a farinha de vísceras de frango, a farinha de carne e ossos e a farinha de penas hidrolisadas. Na produção animal, a formulação das rações representa o encontro entre as exigências nutricionais do animal e a combinação dos nutrientes disponíveis nos ingredientes. O conhecimento dos nutrientes disponíveis para camarões e peixes nos ingredientes encontrados no Brasil ainda é escasso em função da baixa quantidade de estudos, apesar da sua importância, pois um ingrediente com um nível elevado de proteína não significa que toda esta proteína será digerida pelos camarões.
caracterização da fabricação e composição
diges bilidade
palatabilidade
ganho de peso, conversão e sobrevivência
Figura 2. Aspectos a serem considerados na avaliação de um ingrediente para ração de animais aquáticos
A avaliação de um ingrediente para rações de animais aquáticos compreende 5 aspectos, conforme apresentados na figura 2, acima.
Um projeto direcionado para a avaliação das exigências nutricionais e de ingredientes para rações de camarões marinhos cujo título é “Bases Nutricionais para o Cultivo Intensivo do camarão Litopenaeus vannamei com Flocos Microbianos e Troca Mínima de Água” vem sendo desenvolvido através da rede de pesquisa formada pelo Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Laboratório de Camarões Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Laboratório de Sistemas de Produção Aquícolas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Laboratório de Nutrição de Camarões e Peixes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que está sendo construído no Centro de Treinamento em Aquicultura em Natal (Figura 3). Este projeto conta ainda com o apoio do Laboratório de Aquicultura do Instituto Oceanográfico da USP (IO/USP), entre outros.
Figura 3. Laboratório de nutrição de camarões e peixes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
O projeto é financiado pela FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos e entre outros aspectos busca: 1. Avaliar o papel nutricional do bioflocos no cultivo do L. vannamei; 2. Conhecer o papel do bioflocos na nutrição do L. vannamei em termos de digestibilidade e desempenho; 3. Elaborar um banco de dados com a composição e a disponibilidade dos nutrientes dos principais ingredientes utilizados para a formulação de dietas para camarões marinhos, a exemplo do que já funcionalidade existe para aves e suínos; 4. Conhecer o na ração custo benefício das melhores alternativas disponíveis no Brasil para a substituição da farinha de peixe. Este é um dos mais amplos projetos sobre nutrição de camarões marinhos já realizados no Brasil e alguns resultados já foram obtidos e estão sendo divulgados. O nosso objetivo é poder manter os leitores desta revista informados nas próximas edições.
Revista ABCC | 41
ARTIGO
Aquicultura no Brasil – Por que não deslancha? Josemar Rodrigues Engenheiro Agrônomo
N
inguém pode negar ao Ministro Marcelo Crivella e sua equipe técnica dedicação e todo empenho na Pasta do MPA para promover o setor pesqueiro nacional e, nesse sentido, a sua incessante busca de caminhos para desenvolvê-lo. Talvez por isso mesmo, para apoiar o esforço que vem sendo realizado e prestigiar o seu Ministro, a Presidente Dilma lança o Plano Safra da Pesca e Aquicultura colocando o setor nas primeiras páginas dos noticiários, com o que muita gente fica sabendo que o país detém o maior potencial do mundo para a produção aquícola. Penso em tudo isso e faço as minhas especulações do porque a aqüicultura não consegue crescer no Brasil em compasso com o enorme potencial de seu território e de suas águas continentais. Os anos passam, promulgam-se leis, emitem-se instruções normativas, cria-se ministério, renovam-se os Ministros, cresce a burocracia e o setor permanece semiadormecido. Vejo e analiso os extraordinários exemplos dos países Asiáticos - a China na dianteira - nos quais a aqüicultura mostra uma dinâmica de crescimento que assombra o mundo. E o faz com um extraordinário programa de inclusão social no campo. Centenas de milhões de asiáticos contam diariamente com um alimento proteico relativamente barato e exaltado pela medicina por sua qualidade, o pescado. Na produção aquícola, a Ásia é, definitivamente, um bom exemplo para o Brasil com seus déficits alimentares crônicos e seus desafios de pobreza no meio rural, especialmente da Região Nordeste. Leio noticia da FAO de que o pescado produzido no cativeiro e o extraído dos mares constituem na atualidade a principal fonte de proteína para mais de um bilhão de seres humanos e o meio de vida para centenas de milhares de produtores e pescadores, na sua grande maioria de micro e pequeno porte. Anoto informações de um compêndio técnico das Nações Unidas que afirma ser a aqüicultura o setor que mais contribuirá nas próximas três décadas para abastecer a assustadora demanda de proteína animal pela crescente população do globo. A notícia me deixa extasiado e, naturalmente, trato de encontrar mais informações sobre a aquicultura e suas características de setor produtivo que pode concorrer com a agricultura para alimentar o mundo. Reviso com atenção as consistentes e fundamentadas análises do Engenheiro de Pesca, Itamar Rocha, sobre o extraordinário potencial do Brasil para a aqüicultura, sem que esteja aproveitada sequer uma ínfima parte. Examino alguns trabalhos de especialistas que falam das inúmeras espécies aquáticas nativas do nosso país, cujo cultivo comercial poderia contribuir para atender parte considerável da demanda mundial de pescado. 42 | Revista ABCC
Junto toda essa informação na minha mente e me impressiono com a importância do setor para o presente e o futuro da humanidade e do Brasil, ao mesmo tempo em que me pergunto o porquê da opaca situação da aqüicultura no nosso país. Sinto imediatamente que as especulações para entender a questão central do setor fazem sentido. Porém, tais especulações se esbarram num ponto nebuloso em que ficam sem respostas claras as perguntas sobre as causas do atraso e as possíveis saídas que permitiriam visualizar um horizonte de luz para o dinâmico e sustentável crescimento do setor no rico território brasileiro regado em profusão por águas superficiais e subterrâneas. Reconheço não ser um especialista na área. Talvez, um observador. Daí, certamente, a dificuldade que me impede de ver e compreender as nuanças intrínsecas da aqüicultura no Brasil. Mas, como leitor atento que acompanha a sua evolução, principalmente do segmento da carcinicultura no Nordeste, também não encontro nos textos especializados propostas convincentes que vislumbrem saídas viáveis e confiáveis para acelerar o aproveitamento do enorme potencial aquícola do nosso país. Se as houvesse, o setor já estaria em outra posição. A questão toma um rumo enigmático. E, exatamente por isso, como observador, mantenho o meu questionamento e sobre ele insisto ao ver e sentir tantos enfoques sobre o potencial da aqüicultura no território brasileiro, contra uma situação de marasmo setorial que parece irremovível com o passar do tempo. Dos segmentos que compõem a aqüicultura, o cultivo de camarões na Região Nordeste está relativamente bem organizado, os produtores e demais atores setoriais estão unidos em uma associação e se esforçam para manter o segmento com moderna tecnologia e sustentabilidade ambiental. A produção, entretanto, se mantém estagnada com o correr dos anos, apesar do enorme potencial da Região para sua expansão. Outra incógnita sem uma resposta clara e insofismável. Lembro que o Ministro Marcelo Crivella, em declarações iniciais, um pouco antes de sua posse, afirmou que poderia ser necessária uma nova Embrapa para o setor pesqueiro do Brasil. Tais declarações, numa interpretação ampla, fizeram e continuam a fazer sentido pelo reconhecimento de Sua Excelência do papel extraordinário que teve a Embrapa no desenvolvimento tecnológico da nossa agricultura. De fato, a agricultura brasileira pode ser dividida em dois períodos que a deixaram com marcas indeléveis: antes e depois da Embrapa. O tradicional país tropical do café, do cacau e do açúcar transformado na grande potência agrícola que alimenta meio mundo com grãos e carnes. Portanto, do ponto de vista
figurativo a percepção do Ministro esteve bem posta ao assumir o cargo, ou seja, revela a dimensão do esforço que devia e deve ser feito, equivalente a uma nova Embrapa, para que seja possível desenvolver a aqüicultura no Brasil. Será que o Plano Safra com sua composição diversificada – crédito, tecnologia, incentivos - e bem estruturada é o ponto de partida para o desafio da autoridade setorial? Entretanto, literalmente, fico com a impressão de que não é propriamente por falta de tecnologia que o setor pesqueiro nacional encontra-se num estado incipiente de desenvolvimento. As razões, me parece, são muito mais profundas e estão muito mais relacionadas com obstáculos e entraves de maior complexidade, enraizados em bases que não podemos distinguir com clareza e que, por sua vez, reclamam ações de maior alcance e densidade para que possam ser esclarecidas e removidas sem que, entretanto, pelo menos no meu nível, seja possível precisá-las, caracterizá-las e dimensioná-las. No contexto precedente, ao constatar a pouca mobilidade do setor aquícola, fico pensando se tais barreiras não estariam relacionadas com uma espécie de amálgama intricada que envolve sentimentos ou aspectos abstratos inerentes ao ser humano como cultura, tradição, atitude, motivação, impulso, poder da vontade, receio da novidade, meditação ante o desconhecido, misturados com a falta de ações concretas como políticas públicas, vontade política, incentivos,
envolvimento dos interessados e entendimento governo x iniciativa privada, tudo isso num plano muito mais amplo e agressivo. Uma mistura cujos ingredientes não estão visíveis ou não são palpáveis. A questão é descobrir onde está o nó ou nós nesse emaranhado, cujo desenlace mostraria a senda por onde encontrar o caminho. Por último faço uma pergunta que talvez tenha sentido. Até onde o ambientalismo radical, alarmista e inconseqüente, trazido ao Brasil por ONGs internacionais financiadas pelas milionárias fundações dos Estados Unidos, do Canadá e da Europa, interfere no desenvolvimento da nossa aqüicultura, é uma questão que deixo para que as autoridades públicas brasileiras, em cumprimento do dever pátrio, analisem, respondam e, se for o caso, atuem para que prevaleça a soberania nacional. Se a minha visão da aquicultura brasileira se aproxima da realidade, o problema não é simples e não podemos esperar milagres da atuação da equipe do MPA. Entretanto, como homem que prega a fé cristã e, portanto, com capacidade de ouvir, de interpretar, de ter paciência e de mostrar-se sensível aos problemas e suas soluções, quem sabe, o Ministro Crivella pode estar iluminando-se com o Plano Safra e, finalmente, encontrando o caminho que o Brasil procura e que ainda não encontrou para desenvolver o seu enorme potencial para a produção derivada da aqüicultura.
Revista ABCC | 43
ARTIGO
Avanços recentes em sistemas super-intensivos de Raceways para a produção comercial de Litopenaeus vannamei sem renovação de água Tzachi M. Samocha Texas AgriLife Research Mariculture Laboratory at Flour Bluff 4301 Waldron Road, Corpus Christi, Texas 78418 USA t-samocha@tamu.edu
Dariano Krummenauer Institute of Oceanography, Laboratório de Carcinocultura, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brazil
Rodrigo Schveitzer Marine Shrimp Laboratory, Department of Aquaculture Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brazil
Timothy C. Morris Skylar Woodring Texas AgriLife Research Mariculture Laboratory
Este artigo descreve os resultados recentes de dois testes de produção de tamanhos comerciais do camarão branco do Pacifíco, Litopenaeus vannamei, no laboratório de pesquisas Texas AgriLife Research Mariculture Laboratory em Flour Bluff, Corpus Christi, Texas. Estes testes utilizaram tecnologia de bioflocos em dois diferentes sistemas operados sem renovação de água.
Histórico Avanços recentes em sistemas super-intensivos, com descargas limitadas e dominados por bioflocos no cultivo de L. vannamei, sugerem que estes sistemas podem ser lucrativos quando utilizados para produzir camarão vivo ou fresco (nunca congelado) para nichos de mercados. Estes sistemas oferecem uma melhor biossegurança com um menor risco de perda de produção devido a surto de doenças virais. Adicionalmente, a operação destes sistemas sem renovação de água minimiza o impacto negativo de efluentes nas águas receptoras. Pesquisadores, com o apoio do Programa dos Estados Unidos para o Cultivo de Camarão Marinho (USMSFP), tem trabalhado para melhorar a viabilidade econômica de sistemas super-intensivos com renovação zero para a produção comercial de camarão. Membros do USMSFP utilizam modelagem econômica e outras métricas para avaliar avanços em práticas de manejo e sistemas de cultivo utilizados para produzir camarão de tamanhos comerciais. As instalações participantes do estudo tentaram padronizar alguns fatores (i.e., salinidade, densidade de povoamento, ração e fonte de PLs) para estabelecer comparações mais significativas. Este artigo descreve os resultados obtidos durantes dois testes no Texas AgriLife Mariculture Lab. Um estudo foi realizado nas “Antigas” raceways de 40 m3 e o outro estudo foi realizado nas “Novas” raceways de 100 m3; as principais diferenças entre os sistemas foram tamanho e métodos de aeração e mistura.
44 | Revista ABCC
Descrição dos Sistemas Estudos anteriores da AgriLife tem utilizado um injetor Venturi acionado por bomba para injetar ar e/ou oxigênio suplementar num tubo de distribuição central ao longo do fundo para misturar, o que é feito através de airlifts e difusores de ar. Pequenos fracionadores de espuma comerciais foram utilizados para controlar a presença de matéria orgânica dissolvida e particulada. Este sistema tem funcionado bem em vários estudos anteriores, produzindo 8-9 kg/ m3 de camarão de tamanho comercial.
Figura 1. Raceway “Antiga” mostrando os airlifts
O novo sistema é composto de duas RWs de 100 m3 RWs (33 m x 3 m) dentro de uma estufa de 40 x 9.5 m com uma camada
dupla de polifilme. Para reduzir custos operacionais através da redução do uso de energia e eliminação da necessidade de oxigênio suplementar, um novo injetor não-Venturi recentemente patenteado foi instalado para fornecer aeração, mistura e circulação. Estes injetores atualmente são utilizados em várias estações de tratamento de águas residuais e requerem pouca manutenção quando comparados com outros métodos de aeração. Um total de 14 bicos foram posicionados em paralelo a direção do fluxo ao longo do fundo de cada lateral das RWs. Adicionalmente, um bico foi utilizado para alimentar um fracionador de espuma artesanal para remover matéria orgânica dissolvida e particulada. Duas bombas de 2 HP foram utilizadas para alimentar os 15 bicos em cada RW; entretanto, toda a RW pode ser operada com apenas uma bomba quando a carga for baixa.
(500/m3) com juvenis um pouco menores (1,40 g). Os camarões foram alimentados com uma ração comercial de 35% PB especialmente formulada para sistemas intensivos operados com renovação de água limitada. A ração foi distribuída manualmente durante o dia e por alimentadores automáticos durante a noite. Os parâmetros de qualidade d’água foram mantidos dentro das faixas normais para o cultivo de L. vannamei; a temperatura media d’água, pH, e OD foram: 29,4 C, 7,3, e 5,7 mg/L, respectivamente. Sólidos sedimentáveis foram medidos diariamente; amônia, nitrito, nitrato, alcalinidade, turbidez, e Sólidos Suspensos Totais (SST) foram monitorados pelo menos uma vez por semana. O camarão foi despescado das RWs utilizando puçás. Sobrevivência e FCA foram similares entre os tratamentos de 18 e 30 ppts, enquanto que o crescimento semanal foi ligeiramente melhor na água com salinidade mais elevada resultando num melhor rendimento (Tabela 1).
Figura 3. Despesca numa raceway “antiga”
Figura 2. Fracionador de espuma artesanal
Ambos sistemas de RWs antigas e novas foram equipados com monitoramento de OD e sistemas de alarme que enviavam dados para um computador no laboratório que também podia ser acessado de localidades remotas. Monitoramento em tempo real é uma valiosa ferramenta de manejo, ajudando a minimizar estresse, conservar recursos, muitas vezes evitando o que poderia resultar em eventos catastróficos. Teste 1-Sistema de RW ”Antiga” O estudo foi realizado em cinco RWs de 40 m3. Quatros das RWs foram abastecidas com uma mistura de água do mar (12 m3), e água rica em bioflocos (8,5 m3) utilizada anteriormente num teste de berçãrio de 42 dias com renovação zero de água, e foram povoadas (500 camarão/m3) com L. vannamei juvenis (1,90 g) de uma linhagem de crescimento rápido fornecidos pelo Oceanic Institute, Makapuu Point, Havaí. A salinidade em quatro RWs foi de 18 ppt. Para efeito comparativo, a quinta RW operou com uma salinidade d’água de 30 ppt e foi povoada
Teste 2- Sistema de RW “Nova” Cada uma de duas novas RWs foram abastecidas com 100 m3 de uma mistura de água do mar (55 m3), água doce clorada municipal (10 m3), e água rica em bioflocos (35 m3) de um estudo de berçário anterior. As RWs foram povoadas (390 camarão/m3) com L. vannamei juvenis (1.90 g) resistentes a Taura fornecidos por Shrimp Improvement System, Islamorada, FL. Os camarões foram alimentados com uma ração comercial de 35% PB especialmente formulada para sistemas intensivos operados com renovação de água limitada. A ração foi distribuída manualmente durante o dia e por alimentadores automáticos de esteira durante a noite. Os parâmetros de qualidade d’água foram mantidos dentro das faixas normais para o cultivo de L. vannamei; a temperatura media d’água, salinidade, pH, e OD foram: 29,8 C, 28,5 ppt, 7,1, e 5,8 mg/L, respectivamente. Sólidos sedimentáveis foram medidos diariamente; amônia, nitrito, nitrato, alcalinidade, turbidez, e Sólidos Suspensos Totais (SST) foram monitorados pelo menos uma vez por semana. O sistema foi operado com uma bomba de 2 HP até Dia-62 (6,5 kg camarão/m3) quando OD começou a ficar abaixo de 4,5mg/L, a segunda bomba de 2 HP foi acionada para proporcionar aeração adicional. Revista ABCC | 45
Perspectivas Os números de produção deste ano tem sido bastante animadores (produção acima de 3.588 kg) e algumas lições valiosas foram aprendidas. Os fracionadores de espuma utilizados atualmente em ambos sistemas de RWs foram subdimensionados e houve alguma mortalidade durante períodos de elevados níveis de sólidos sedimentáveis junto com altas temperaturas e níveis moderados de OD. Tanques de sedimentação simples mas eficazes foram instalados para controlar os sólidos e oxigênio suplementar foi fornecido até a mortalidade diminuir. Durante os primeiros 62 dias do ciclo de produção o método de aeração utilizado no Novo sistema de RW de 100 m3 RW foi capaz de suportar 6,5 kg de camarão por m3 utilizando uma bomba de 2 HP sem sopradores. Uma análise econômica preliminar indica que este sistema é mais eficiente em relação aos requerimentos de energia e mão de obra comparado ao nosso sistema prévio baseado em injetor Venturi. O teste nas antigas RWs claramente demonstrou que o uso de camarão da linhagem de crescimento rápido que está atualmente disponível reduz de forma significativa a duração do ciclo de produção e pode reduzir ainda mais custos e aumentar o potencial para mais ciclos de cultivo por ano. Em testes futures, esperamos combinar o uso de linhagens de camarão de crescimento rápido com a eficiência das novas RWs para alcançar resultados ainda melhores.
Figura 4. Raceway “Nova” de 100 m3
O camarão foi despescado pela bacia de despesca utilizando uma bomba de despesca comercial. A sobrevivência foi boa (media de 83%) com um crescimento médio de 1,46 g/semana e peso final médio de 25,2 g. FCA teve uma media de 1,77 e o rendimento médio obtido neste teste foi de 8,4 kg camarão/m3.
Reconhecimentos Apoio a esta pesquisa foi proporcionado por Texas AgriLife Research, USMSFP, Zeigler Bros., YSI, the CAPES Foundation, Ministério da Educação e Cultura do Brasil.
Figura 5. Bacia e bomba de despesca Tabela 1: Valores médios combinados de produção de dois estudos de engorda com Litopenaeus vannamei em RWs Antigas (40 m3) e Novas RWs (100 m3)
Volume Sistema
a b
Densidade Salinidade (cam/m3) (ppt)
Peso inicial (g)
Peso final (g)
Dias
Crescimento (g/ wk)
Sobrevivência (%)
Rendimento (kg/m3)
FCA
40 m3
500a
18
1.9
23.2
82
1.82
82.3
9.5
1.43
40 m3
500a
30
1.4
25.1
85
1.95
78.9
9.9
1.44
100 m3
390b
30
3.1
25.3
106
1.46
83.0
8.4
1.77
Linhagem de crescimento rápido de OI Linhagem resistente a Taura (não crescimento rápido) de SIS
46 | Revista ABCC
NOTÍCIAS
IV FESTIVAL INTERNACIONAL DO CAMARÃO DA COSTA NEGRA
T
endo como objetivo geral o Desenvolvimento Sustentável da Costa Negra, o IV Festival Internacional do Camarão realizou-se apoiado em uma rica programação: (1) - IV Encontro do Arranjo Produtivo Local (APL) da Carcinicultura do Litoral Oeste, (2) - Reunião da Câmara Setorial do Camarão, e (3) - Workshops Gastronômicos. A programação integrou no período de 27/11/2012 a 01/12/2012, Ciência, Tecnologia, Gastronomia e Turismo em momentos diferentes e ricos. No primeiro momento o IV Encontro do APL de Carcinicultura do Litoral Oeste, realizado nos dias 27 e 28/11/2012, foi desenvolvido e dividido em temas e eventos e contou com 465 participantes em salas de aula e em oficinas. Referida programação elaborada numa parceria de 34 instituições publicas, estaduais e federais e entidades de classe que compõem a Comissão Técnica Cientifica do IV Festival Internacional do Camarão da Costa Negra, buscou transferir conhecimentos e novas tecnologias, a integração da produção com os mercados consumidores e de insumos e a mobilização das diferentes categorias de técnicos, estudantes, produtores e empresários que compõem a cadeia produtiva do camarão. O IV Festival Internacional do Camarão da Costa Negra, realizou-se em Acarau no Ceará, na Fazenda Cacimbas de propriedade do empresário Livino Sales, presidente da Associação dos Carcinicultores da Costa Negra (ACCN), entidade promotora do evento. No tema Boas Práticas de Manejo, ocorreu duas palestras: uma sobre Imunização de Tilápias e outra sobre Boas Práticas de Manejo e Procedimentos de Biossegurança para a Carcinicultura e três oficinas, duas sobre camarões e outra sobre vacinação de tilápias. O ponto alto das oficinas foi a grande participação de estudantes de diferentes universidades federais, estaduais e escolas profissionalizantes de nível médio, como também professores e técnicos. No tema Piscicultura Marinha – Perspectivas e Oportunidades, tivemos uma palestra ministrada pelo Biólogo Marinho e Consultor Técnico da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) Marcelo Lima Santos. Na mesa redonda sobre APL da Carcinicultura do Litoral Oeste – Desafios e Perspectivas ocorreu uma palestra sobre o tema e a participação de três debatedores com diferentes enfoques que analisaram o nível de implantação do referido APL. A palestra sobre o Plano Estratégico de Sanidade Pesqueira e Aquícola destacou a organização institucional e a vontade 48 | Revista ABCC
política do Governo do Estado do Ceará para apoiar o desenvolvimento do setor. O painel Nova Legislação Ambiental e seus Impactos na Carcinicultura debateu conceitos e princípios de aplicação da nova legislação ambiental e aplicação do novo código florestal na carcinicultura. O debate sobre Carcinicultura Comunitária no Litoral Leste teve grande destaque. Após duas palestras e debates, carcinicultores comunitários e dirigentes de associações e cooperativa fizeram três exposições sobre experiências realizadas em diferentes estágios de desenvolvimento institucional de uma atividade com uma expressiva participação de produtores familiares em todo o litoral cearense, envolvendo litoral oeste e litoral leste. O painel sobre Indicação Geográfica – IG, Produtos de Origem Associando Agropecuária, Gastronomia e Turismo como Ferramentas de Desenvolvimento Regional, mostrou quatro experiências ocorridas no Brasil com IG’s em diferentes estágios de desenvolvimento, inclusive uma IG ainda não reconhecida. O Processo de IG do Camarão da Costa Negra e seu Potencial de Desenvolvimento- Conquista da Associação dos Carcinicultores da Costa Negra (ACCN) a DO do Camarão da Costa Negra, passa a ser uma especialidades nacional, o que deverá agregar valor a produção, tanto no mercado nacional quanto internacional. A qualificação da cadeia produtiva, que passa a ter maiores lógicas para os distintos procedimentos de cultivo, processamento, conservação, embalagem, distribuição, transporte, publicidade (marketing), fiscalização e rastreabilidade do Camarão da Costa Negra garante qualidade e padrão na produção. O turismo com Fotos: Fernando Cavalcante: (85) 9998.1304 / 8696.4163
Governador do Ceará Cid Gomes entusiasta do festival e o empresário Livino Sales almoçando na Fazenda Cacimbas por ocasião do IV Festival Internacional do Camarão da Costa Negra.
foco na gastronomia e o estimulo ao empreendedorismo e outras atividades econômicas, deverão alavancar o desenvolvimento regional. Também deverá haver a promoção do desenvolvimento social de comunidades inseridas no entorno das unidades produtoras de camarão e a implementação de ações que garantam a sustentabilidade ambiental do ecossistema da região da Costa Negra. Teve seu registro IG 200907 no INPI, Registro de Propriedade Industrial (RPI) nº 2119 de 16/08/2011. O reconhecimento internacional está em andamento, conforme entendimentos já realizados junto às autoridades competentes pela ACCN.
Antonio Bezerra Peixoto coordenador da Comissão Tecnica Cientifica falando na abertura oficial do IV Festival Internacional do Camarão da Costa Negra.
A Indicação Geográfica como ferramenta de desenvolvimento regional é inovadora para manter e ampliar mercados e uma ferramenta coletiva de promoção comercial dos produtos/ serviços e de preservação da Biodiversidade. É dos institutos do rol da propriedade intelectual o mais antigo e menos usual em comparação com as patentes, marcas e cultivares. As Indicações Geográficas pelo seu alcance social, econômico, cultural e ambiental tem evoluído no Brasil de maneira significativa. Até 2011 o Brasil tinha 14 IG’s reconhecidas, em 2012 temos 29, ou seja, em um ano mais que dobrou o numero de IG’s reconhecidas no Brasil. O segundo momento do IV Festival Internacional do Camarão da Costa Negra foi a Reunião da Câmara Setorial do Camarão, realizada no dia 29/11/2012 com dois interessantes debates. Um a partir de uma palestra da Srª. Neuma Maria da Costa, Gestora Nacional de Aquicultura e Pesca do SEBRAE sobre Governança e os Desafios da Carcinicultura e outro com
Painel: Nova Legislação Ambiental e seis Impactos na Carcinicultura -Candido Neto, Cristiano Maia, Antonio Peixoto, Marcio Bezerra e Marcio Vaz.
base em apresentação da Srª Jeania Rogério Gomes, Agente de Desenvolvimento do Banco do Nordeste do Brasil - BNB sobre Linhas de Crédito para Carcinicultura e Pesca. A reunião teve a participação de sócios da ACCN e da ACCC e demais componentes da cadeia produtiva do Camarão e foi dirigida pelo Presidente da ACCC, empresário Cristiano Maia. No que diz respeito aos Workshops Gastronômico que se constituíram no terceiro e importante momento do evento, tivemos a participação de Chefs nacionais e internacionais. Os Chefs internacionais juntamente com personalidades convidadas constituíram o corpo de jurados. Os especialistas em gastronomia consideraram o IV Festival Internacional do Camarão da Costa Negra como o maior acontecimento na área no Ceará. Os restaurantes e Chefs nacionais presentes: Bocca Bistrô – Chef Eduardo Andrade; Grazie – Chef Juscelino Menezes; Jardim do Alchymist – Chef Alberto Martinelli; Oásis Atlântico – Chef Luciano Ferreira; Soho – Chef Élcio Nagano; “The Lab” (Jericoacoara) – Chef Luca Lulli. Em cada noite do terceiro momento do festival – 29 e 30/11 e 1º/12 eles apresentaram criações gastronômicas diferentes que foram julgadas pelos jurados – Chefs internacionais e personalidades convidadas que deram suas notas. Houve shows, bons cantores, muita diversão e muitos turistas. Para sair um pouco da cozinha tradicional (França, Itália), a organização do evento inovou trazendo palestrantes fora do circuito já muito conhecido da gastronomia e foram buscar alguns deles que tem se revelado em seu trabalho, como os da Guatemala e México, além de redutos firmados na gastronomia internacional como Espanha e Argentina. Os Chefs internacionais que ministraram os workshops e compuseram o corpo de jurados foram: CLAUDIO AGUIRRE – Chef executivo do Hotel Rey Juan Carlos I, em Barcelona, Espanha; GIUSEPPE ATZORI – Chef executivo do Hotel Vila Real na cidade de Guatemala; MARIANA SEBESS – Chef diretora do Instituto Internacional de Artes Culinárias Mause Sebess, em Buenos Aires, Argentina; A avaliação do evento mostra, nesta trajetória de quatro anos, um aumento crescente na mobilização dos diferentes segmentos, categorias profissionais, instituições e entidades de classe num esforço coletivo de envolvimento e busca do objetivo maior: o desenvolvimento sustentável da costa negra.
Chef Jorge Monti coordenando os trabalhos de julgamento dos pratos em Wor kshop Gastronomico.
Revista ABCC | 49
ARTIGO
Perspectivas da Piscicultura Marinha no Nordeste do Brasil Alberto J. P. Nunes, Ph.D. LABOMAR - Instituto de Ciências do Mar Universidade Federal do Ceará Fortaleza, Ceará alberto.nunes@ufc.br
A
piscicultura marinha constitui-se atualmente o setor da aquicultura que mais cresce, tanto em volume, valor, como em espécies cultivadas (FAO, 2012). Entre 2000 a 2010, com uma taxa de crescimento médio anual de 17%, a produção de peixes marinhos em cativeiro aumentou drasticamente, saltando de 0,97 para 1,8 milhões de ton., respectivamente. A atividade contabilizou USD 8 bilhões ou 6,4% do valor global gerado pela produção aquícola em 2010 (FAO, 2012). A busca pelo cultivo de peixes marinhos é consequência do declínio mundial das capturas e do contínuo aumento na demanda por proteína marinha. No Brasil, estima-se que 25% de todos os recursos pesqueiros da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) estão em estado de sobreexplotação (JABLONSKI, 2006). Segundo o ultimo Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura (MPA, 2012), a produção da pesca no país alcançou em 2010 um total de 785,4 mil ton., o que representa uma queda de 0,7% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, o país importou em 2011, 328,8 mil ton. de produtos pesqueiros, levando a um déficit anual na balança comercial do pescado no valor de USD 806 milhões. Portanto, a despeito do seu potencial e do que se observa em muitos países de clima tropical, a piscicultura marinha no Brasil ainda encontra-se completamente incipiente. O presente artigo comenta sobre as práticas de cultivo de peixes marinhos, seu status atual e as perspectivas para o desenvolvimento desta atividade na Região Nordeste do Brasil.
Espécies Alvo para Cultivo A piscicultura marinha é o único setor da aquicultura em que o número de espécies cultivadas comercialmente continua a expandir a cada ano. Entre os peixes marinhos cultivados em regiões tropicais e subtropicais estão o barramundi (Lates calcarifer), garoupas, meros e badejos (Epinephelus spp., Mycteroperca spp.), arabaianas (Seriola spp.), pampo (Trachynotus spp.), pargos (Lutjanus spp., Pagrus spp.), linguados (Paralichthys spp.), atuns (Thunnus spp.), beijupira (Rachycentron canadum) e mugilídeos (Mugil spp.) No Brasil, esforços em pesquisa estão sendo realizados para viabilizar o cultivo comercial de pelo menos cinco espécies (Fig. 1), o camurim ou robalo flecha, Centropomus undecimalis, a garoupa verdadeira, Epinephelus marginatus, o beijupira, além de lutjanídeos (cioba, Lutjanus analis, ariacó, Lutjanus synagris) e linguados (Paralichthys orbignyanus). Em menor escala, há também iniciativas para o cultivo experimental de outras espécies, como a carapeba (Diapterus rhombeus, Eugerres brasilianus), camurupim (Megalops atlanticus), sardinha (Sardinella brasiliensis), tainhas (Mugil platanus, Mugil spp.), pescada amarela (Cynoscion acoupa), robalo peva (Centropomus parallelus), entre outras.
(A) beijupira (foto Leandro Fonseca)
(B) camurim
50 | Revista ABCC
Figura 1. Exemplo de algumas espécies atualmente estudas no Brasil para o cultivo comercial.
(C) camurupim (foto: Leandro Fonseca)
(E) carapeba (foto: Cristiane Silvão)
(D) cioba
(F) garoupa-verdadeira (foto Carolina Vieira).
Em termos de produção mundial, em 2010, segundo a FAO (2012), oito países produziram 75.628 ton. de peixes do gênero Epinephelus. Os países produtores foram Egito, Indonésia, Coréia, Mianmar, Filipinas, Tailândia, Arábia Saudita e China. Não há produção reportada para o gênero Centropomus, contudo a produção do barramundi, parente mais próximo dos centropomídeos, alcançou 65.857 ton. em 2010. A FAO (2012) reportou um total de 13 países produtores do barramundi, Brunei, Camboja, Indonésia, Israel, Malásia, Mianmar, Arábia Saudita, Cingapura, Sri Lanka, Taiwan, Tailândia, Bulgária, Austrália e Papua-Nova Guiné. A produção do beijupira em Taiwan, China, Belize, Cingapura, Colômbia e nas Ilhas Martinica e Reunião alcançou 40.768 ton. em 2010. Para o gênero Lutjanus a produção reportada pela FAO (2012) foi de apenas 8.230 ton.
pioneiras de reprodução foram estabelecidas para o pargo japonês, Pagrus major, no Japão, e métodos de larvicultura na Europa para o robalo Europeu, Dicentrarchus labrax, e dourada, Sparus aurata. Atualmente já se realiza a reprodução e a larvicultura em escala comercial de peixes marinhos em inúmeros países. Somente em Taiwan, Liao (2001) reportou que já havia se alcançado a propagação artificial em cativeiro de mais de 90 espécies. Em 2006 no Estado da Bahia foram obtidas as primeiras desovas naturais do beijupira em cativeiro. Os reprodutores foram capturados como juvenis (com peso médio de 68 g) e cultivados até a maturação gonadal durante quase três anos (até peso entre 4 e 9 kg) em tanques circulares de 20 m3 (Carvalho-Filho, 2006). Posteriormente foram alcançadas desovas da espécie nos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte pelas empresas Aqualider Maricultura Ltda. (Ipojuca, PE) e Aquatec Industrial Pecuária Ltda. (Canguaretema, RN), respectivamente. Embora tanto o camurim como a garoupa verdadeira já vem sendo estudadas há alguns anos no Brasil e nas Américas (Souza-Filho & Cerqueira, 2003; Garcia-López et al., 2006; Zarza-Meza et al., 2006a,b; Sanches et al., 2006, 2007), somente nos últimos anos que esforços em pesquisa se converteram em resultados práticos na maturação, desova e larvicultura em cativeiro (Sanches et al., 2009; Carvalho-Filho, 2009; Soligo et al., 2008; Ferraz, 2009; Ferraz & Cerqueira, 2010; Duarte et al., 2011; Kerber et al., 2012). A primeira desova e
Reprodução e Larvicultura Nas fases iniciais de desenvolvimento da piscicultura marinha havia uma alta dependência em sementes selvagens. Além do risco sanitário inerente a este prática, havia inconsistência no fornecimento de quantidades adequadas para cultivos comerciais de peixes marinhos. O fechamento do ciclo reprodutivo de diversas espécies e a difusão destas práticas tem levado a uma redução significativa no uso de sementes selvagens. As técnicas de reprodução de peixes marinhos datam da década de 60 com os primeiros esforços realizados com tainhas em cativeiro (Mugil spp.). Nos anos 80, as técnicas
Revista ABCC | 51
obtenção de alevinos em cativeiro do camurim e da garoupa uma altura de 1,2 a 2,0 m. Os tanques são geralmente mantidos verdadeira foram alcançadas somente em 2008 (Soligo et al., em área coberta para controle da luminosidade e para evitar 2008; Carvalho-Filho, 2009) e em 2011 (Kerber et al., 2012), o desenvolvimento de fitoplâncton. A desova de reprodutores respectivamente. pode ocorrer artificialmente, através da indução hormonal, Para os lutjanídeos, diversos protocolos de reprodução em ou espontaneamente por meio de práticas sofisticadas de cativeiro foram descritos na literatura. Na Tailândia e Filipi- manipulação nutricional e ambiental. A maioria das espécies, nas foram descritos protocolos para o L. argentimaculatus se devidamente induzidas, vão alcançar a desova em condições (Emata, 1996; Singhagraiwan & Doi, 1993), nos EUA para o controladas. A injeção ou implante de materiais hormonais é o L. synagris, L. chrysurus, L. analis (Clarke et al., 1997) e L. método tradicional de indução da desova de peixes marinhos. analis (Watanabe et al., 1998) e no México para o L. guttatus Embora popular, a indução hormonal geralmente leva o animal (Ibarra-Castro & Ducan, 2007) e L. campechanus (Phelphs ao estresse fisiológico e a lesões, particularmente durante a et al., 2009). canulação, tornando os animais mais susceptíveis a doenças. Atualmente alevinos do camurim estão sendo produzidos Isto frequentemente causa uma redução na taxa de eclosão de pelo Laboratório de Piscicultura Marinha (LAPMAR) do De- ovos. Por outro lado, os métodos de desova espontânea exigem partamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa o uso de abordagens bem equilibradas durante o cultivo de Catarina (UFSC), chefiado pelo Prof. Dr. Vinicius Ronzani reprodutores em cativeiro, existindo, porém uma série de Cerqueira. Alevinos da garoupa verdadeira vêm sendo produ- vantagens ao se adotar esta prática (Tabela 1). zidos comercialmente em Ilha Bela, Estado de São Paulo, desde Tabela 1: Lista de vantagens da desova espontânea de peixes marinhos (Liao, 1993) 2011 pelo laboratório Redemar Vantagens Observações Alevinos. Alevinos do beijupirá são produzidos pela empresa Mais eficiente do que métodos convencionais Camanor Produtos Marinhos Economia de energia Não há necessidade de procedimentos de indução da maturação Ltda., na Fazenda Cana Brava Uso de abordagens fisiológicas, nutricionais, ecológicas e endócrinas localizada em Canguaretama, Economia de matrizes Uma matriz pode ser usada várias vezes devido a redução de ferimentos Estado do Rio Grande do Norte. Automação Conveniência na coleta, lavagem e transferência de ovos O controle sobre o ciclo reEficiência Aumento da taxa de fertilidade e eclosão produtivo de peixes marinhos Controle de qualidade Aumento no percentual de larvas saudáveis geralmente recai sobre três componentes: Para realizar a desova artificial, os peixes são anestesiados para 1. Manejo de reprodutores/matrizes: técnicas de captura e minimizar o estresse dos animais, geralmente empregando-se cultivo de reprodutores de alta qualidade para indução da uma solução a base de óleo de cravo com eugenol. Inicialmente maturação e desova em cativeiro, manipulação do sexo, verifica-se o estadio de maturidade sexual, selecionando para isto preservação do esperma, coleta e incubação dos ovos. indivíduos com ventre abaulado e tamanho corporal elevado. No caso dos machos, estes são massageados para liberação de 2. Cultivo larval (larvicultura): sistemas de larvicultura, exisêmen e as fêmeas canuladas para verificação dos ovócitos em gências nutricionais, prevenção do canibalismo, manejo de lupa. Para canulação, uma sonda é introduzida no poro genital viveiros ou gaiolas. para aspiração dos ovócitos. Tanto o tamanho (diâmetro) como 3. Preparação de alimento para larvas: produção de alimento a posição do núcleo no ovócito indica o estadio de maturidade vivo adequado para diferentes etapas do desenvolvimento sexual. Uma vez constatada a maturidade sexual, a ovulação larval de peixes marinhos, adoção de protocolos de enrique- pode ser induzida artificialmente com hormônios através de cimento de alimento vivo, uso de dietas ricas em LC-PUFA injeção intramuscular ou implantação de pellets hormonais. No caso das injeções, é usado o LHRHa (Hormônio Liberador (ácidos graxos altamente insaturados) da série omega-3. do Hormônio Luteinizante) ou a hCG (Gonadotrofina CoriôniO êxito de um laboratório de peixes marinhos baseia-se na ca Humana) em aplicações diárias intercaladas durante 2 a formação de um estoque de reprodutores saudáveis. As matrizes 3 dias, em dosagens de 1.000 μg/kg e 500 a 1.500 UI/kg peso de peixes marinhos podem ser obtidas de várias formas: (a) vivo, respectivamente, de acordo com a espécie. É ainda macapturadas na natureza ou em canais de adução de fazendas nipulada a temperatura, o fotoperíodo, a salinidade da água de engorda de camarão; ou, (b) criadas em gaiolas, viveiros e a dieta dos reprodutores. Os ovos fecundados são retirados comerciais ou no próprio laboratório desde a fase de larva, com uma malha de 150 μm e imediatamente transferidos para alevino ou juvenil para propósitos de reprodução artificial. recipientes com mesma temperatura e salinidade do tanque Os tanques para reprodutores de peixes marinhos são circu- de desova. Uma amostra de ovos é examinada no microscópio lares e apresentam um volume de água entre 20 a 70 m3, com para análise do tamanho e estágio de desenvolvimento. Os 52 | Revista ABCC
ovos adequados são levados para uma incubadora para desinfecção e eclosão. Para a larvicultura de peixes marinhos é necessário à produção massal de alimento vivo. Ao contrário de moluscos bivalves e larvas de camarões marinhos, que são regulares ou transitórios alimentadores de microalgas, as larvas de peixes marinhos não se alimentam diretamente das microalgas. As larvas de peixes marinhos também não conseguem sobreviver em culturas puras de microalgas ou com dietas a base exclusiva de fitoplâncton, embora em alguns casos, se observam melhores resultados nos cultivos larvais realizados em água verde (mesocosmos) quando comparado à água clara. As presas vivas podem incluir rotíferos, copépodos e náuplios de Artemia para estágios mais avançados. A necessidade de produção de rotíferos ou copépodos se da pela pequena abertura da boca das larvas de peixes marinhos. Embora os copépodos tenham algumas vantagens sobre os rotíferos, incluindo uma maior variedade de tamanhos dentro de uma mesma espécie, dado a facilidade do cultivo de rotíferos, é improvável que os copépodos venham a substituí-los como uma alternativa economicamente viável em um futuro próximo. Porém, a qualidade nutricional dos rotíferos deve ser assegurada e controlada por métodos de cultivo e enriquecimento bem estabelecidos. O tempo de larvicultura de peixes marinhos é função da espécie, entre outros aspectos, podendo durar entre três a 6 semanas. Após 21 dias, algumas espécies já podem ser alimentadas com dietas artificiais.
se tornar com uma ampla alternativa para criação de peixes marinhos no país. Por outro lado, o cultivo de peixes marinhos em viveiros de terra poderá ocorrer com mais facilidade, seja para realizar alternância com o cultivo de camarões marinhos ou para monocultivos com espécies diádromas ou tolerantes as variações sazonais de salinidade observadas nos estuários do Nordeste. Em fazendas, o cultivo de peixes marinhos frequentemente ocorre em duas fases, uma de berçário e outra de engorda. Mesmo quando cultivados em gaiolas, os peixes marinhos podem ser criados até 50 g ou mais em cercados ou gaiolas posicionados em viveiros de terra. A opção de realizar o cultivo da espécie em gaiolas próximas a costa ou em viveiros de terra dependerá de fatores como a tolerância da espécie a variações na salinidade da água, resistência a ação de ectoparasitas, o peso corporal desejado, entre outros fatores. Desempenho Zootécnico Devido a ações ainda recentes em pesquisa ainda se desconhece o potencial zootécnico da maioria das espécies de peixes marinhos consideradas para o cultivo no Brasil. Com exceção do beijupira, sabe-se que grande parte dos peixes marinhos cultivados comercialmente alcança o peso corporal de 1 kg dentro de 8 a 12 meses com rações essencialmente a base de proteínas marinhas, contendo 45% de proteína bruta e entre 9 a 12% de extrato etéreo. Quando cultivados em gaiolas e viveiros escavados, as produtividades não excedem 2 kg/m3 e 12 ton./ha, respectivamente. O Fator de Conversão Alimentar (FCA) pode variar de 1,5 a 2,0, com sobrevivência fi nal entre 50 a 60%. Na Malásia, que produziu 40.932 ton. de peixes marinhos em 2010, são cultivadas garoupas (tiger grouper, Epinephelus fuscoguttatus e giant grouper, E. lanceolatus), pargo do mangue (L. argentimaculatus) e pampo (Trachynotus blochii) em gaiolas flutuantes, e o barramundi em viveiros estuarinos (Tabela 2).
Engorda Nos países Asiáticos em que o cultivo de peixes marinhos se desenvolve, devido a abundância de ilhas oceânicas com recortes de enseadas e baías abrigadas, a piscicultura marinha praticada em gaiolas flutuantes é uma opção mais comum. No entanto, estas áreas são escassas na maior parte da região costeira Nordestina, podendo apenas ser encontradas nos litorais da Bahia e na Região Sudoeste, Tabela 2: Dados comerciais do cultivo de peixes marinhos na Malásia, em viveiros estuarinos e em gaiolas no mar no norte de São Paulo e sul Sistema Viveiros Gaiolas do Rio de Janeiro. O cultivo Área < 1 ha (1,5 – 2,5 m profundidade) 20 x 25 x 5 m = 2.500 m3 em alto mar (off shore), recenBarramundi Garoupa, pampo, cioba temente preconizado com Espécie 40.000-50.000 peixes/ha 1.000 – 1.500 peixes/gaiola (0,4 – 0,6 peixes/m3) uma opção para criação de Densidade > 60% > 50% peixes no Brasil, exige um Sobrevivência final maior investimento fi nanceiro Peso Corporal Final 400 – 600 g 2,5 – 4,0 kg (máx.) e aporte tecnológico em in- Produtividade > 10 ton./há 1,0 – 1,5 kg/m3 fraestrutura e operação para Duração do Cultivo 4 – 5 meses 12 – 14 meses convivência com intempéries Aeração mecânica > 12 cv/ha (24 h.) Não há ambientais, como correntes, Doenças Doença da escama Ectoparasitoses ondas e ventos. Portanto, Ração (características físicas) Extrusada, flutuante Extrusada, afundamento lento (slow-sinking) provavelmente não deverá Revista ABCC | 53
É inevitável não se buscar um comparativo entre o de- a piscicultura marinha com pequenas mudanças em sua sempenho zootécnico de peixes marinhos e os de água estrutura produtiva e fabril. Há, contudo, um enorme desdoce. No Brasil, a criação de peixes de água doce data conhecimento quanto a este novo segmento produtivo, sua da década de 50, e por ações estratégicas realizadas em rentabilidade, mercado, espécies alvo, além da escassez de pesquisa e extensão por pesquisadores do DNOCS (De- pessoal capacitado e treinado para atuar na produção de partamento Nacional de Obras Contra Secas) e de outros alevinos e na engorda. Existe também ceticismo e certa órgãos governamentais, hoje este segmento cresce de forma acomodação do setor produtivo em atuar em uma nova regular a uma taxa anual superior a 15% no país. Em 2010, cadeia produtiva, em especial, no desenvolvimento de novos o MPA (2012) estimou uma produção de 394,3 mil ton. de canais de comercialização de pescado. peixes de água doce em viveiros e gaiolas, comparado a Neste momento, a alternância sazonal da criação de uma produção de 209,8 mil ton. em 2007. camarão marinho para o monocultivo de peixes marinhos No Nordeste, a tilápia Chitralada, Oreochromis niloticus, poderia ser uma medida extremamente eficaz de convialimentada com rações a base de proteína vegetal e animal, vência a ação de enfermidades nas fazendas de camarão contendo 32% de proteína bruta e 7% de extrato etéreo, no Nordeste. Esta já é uma prática adotada em alguns quando cultivada em gaiolas de pequeno volume (até 20 países Asiáticos. Na Malásia, por exemplo, em 2010 foram m3) pode alcançar 1 kg dentro de 7 meses na densidade de produzidos 87.202 ton. de camarão cultivado (FAO, 2012), 100 kg/m3, sobrevivência fi nal de 80% e FCA entre 1,5 e 1,7. principalmente o L. vannamei. Contudo, estima-se que O tambaqui, Colossoma macropomum, e seus híbridos, a produção caiu cerca de 70% em 2012 devido à ação da criados em viveiros de água doce na Região Norte do país Síndrome da Necrose Aguda do Hepatopâncreas (AHPNS, com rações extrusadas contendo 30% de proteína bruta e Acute Hepatopancreas Necrosis Syndrome ou EMS, Early 6% de extrato etéreo, podem alcançar 1,0 kg dentro de 7 Mortality Syndrome). Como resultado, muitos produtores meses, com FCA de 1,2, produtividades de 7 ton./ha e sobre- de camarão migraram para o cultivo do barramundi, L. vivência fi nal acima de 90%. No entanto, ao se considerar calcarifer, em viveiros escavados em terra, semelhantes aos as diferenças no desempenho zootécnico entre os peixes utilizados no cultivo de camarões marinhos no Nordeste marinhos e os de água doce, tem que se levar em conta do Brasil, com pouca troca d’água, tendo apenas os taludes os preços fi nais praticados no mercado. A tilápia fresca, recobertos com geomembranas (Tabela 3) devido a forte inteira e eviscerada, de 800 g a 1 kg, comercializada em aeração mecânica adotada nos cultivos. fazendas no Estado do Ceará, Tabela 3: Comparativo econômico entre a criação do camarão L. vannamei e do barramundi, L. calcarifer, em alcança um preço médio de viveiros escavados na Malásia. Dados coletados in loco em set./2012. Avaliação para uma fazenda de camarão R$ 5,50/kg, comparado com com 10 ha de lâmina d’água preços superiores a R$ 16,0/ Item L. vannamei Barramundi kg para peixes marinhos in Preço da Ração de Engorda USD 1,0/kg USD 1,3/kg natura, como a cioba, o ariacó e Preço da Pós-Larva (PL10)/Alevinos de 5 g USD 3,3/1.000 USD 300/1.000 o pargo, vendidos em peixarias Fator de Conversão Alimentar (FCA) 1,5 1,5 de Fortaleza. Densidade de Estocagem (inicial) Sobrevivência Final Perspectivas Não há absolutamente nenhuma Peso Corporal Final restrição de ordem ambiental, Ciclos de Cultivo ao Ano econômica ou tecnológica para Produtividade Anual o desenvolvimento da pisci- Custos Totais cultura marinha no Nordeste Custo da Ração de Engorda do Brasil. O nível tecnológico alcançado pela aquicultura Custo das PLs/Alevinos no país permite que técnicas Demais Custos (30%) de criação de peixes marinhos Preço Final do Camarão/Peixe sejam rapidamente assimiladas Receita Bruta por produtores. Ao contrário Lucro do que se especula, tanto as larviculturas de camarão marinho no Brasil como as empresas atuantes no segmento de ração possuem capacidade e (ou) know-how para produzir insumos específicos para
54 | Revista ABCC
80 PLs/m2
4 alevinos/m2
65%
60%
14,3 g
500 g
2,0
2,5
148.720 kg
300.000 kg
USD 394.114/ano
USD 1.264.286/ano
USD 223.080/ano
USD 585.000/ano
USD 52.800/ano
USD 300.000/ano
USD 118.234/ano
USD 379.286/ano
USD 4,0/kg
USD 5,0/kg
USD 594.880/ano
USD 1.500.000/ano
USD 200.766/ano
USD 235.714/ano
Em condições normais de cultivo semi-intensivo do L. vannamei no Nordeste do Brasil, as produtividades de camarão alcançam em média 4,5 ton./ha/ano e em regiões
afetadas por enfermidades as produtividades chegam a menos de 1,2 ton./ha/ano. Com base nestas projeções, a produção de peixes marinhos poderia criar uma nova alternativa econômica para áreas afetadas por enfermidades, simultaneamente diminuindo o atual déficit na balança comercial de pescado do Brasil. Tomando como base as produções do cultivo do barramundi (Tabela 3) na Malásia (i.e., 300 ton. anuais em 10 ha), 4.000 ha de viveiro de camarões poderiam produzir 120 mil ton. de peixe ao ano. Há, no entanto a necessidade de fomentar mais fortemente este novo setor por meio de políticas que possam subsidiar seu desenvolvimento. Hoje a aquicultura nacional é representada principalmente por três segmentos: a piscicultura continental (73% da produção nacional aquícola) ou de águas interiores (tilapia, carpa, tambaqui, pintado e híbridos), e o restante pela carcinicultura estuarina (camarão Litopenaeus vannamei) e a mitilicultura (mexilhão Perna perna e ostra Crassostrea gigas). O êxito no crescimento e no fortalecimento destes segmentos produtivos no Brasil possui duas vertentes: (1) uma fomentada pelos investimentos de órgãos do governo em pesquisa, tecnologia e (ou) extensão, como foi o caso da tilapicultura na Região Nordeste e da mitilicultura no Estado de Santa Catarina, e a outra; (2) através da importação e adaptação de pacotes tecnológicos e fortes investimentos capitais oriundos do governo e da iniciativa privada para estruturação de uma cadeia produtiva, representado pelo cultivo de camarões marinhos. Contudo, indiferente do segmento produtivo e das vertentes de desenvolvimento, alguns pontos em comum são identificados nestes segmentos e devem ser tratados como imprescindíveis para início de uma produção comercial de peixes marinhos no país: (1) pleno domínio das técnicas de reprodução e engorda em cativeiro; (2) elevado potencial zootécnico da espécie selecionada para o cultivo; (3) resistência da espécie selecionada a doenças e a intempéries ambientais; (4) alta qualidade do produto fi nal, e; (5) atmosfera macroeconômica (mercado, preço, rentabilidade) no mercado doméstico e (ou) internacional favorável para atrair investimentos da iniciativa privada. Embora questões de ordem ecológica precisem ser avaliadas, há de se considerar a possibilidade da importação de espécies exóticas de peixes marinhos e pacotes tecnológicos mais propícios para o cultivo comercial no país (ver Portaria do IBAMA de No. 145/98 de 29/10/1998 que trata sobre a introdução de espécies exóticas para o cultivo). Indiscutivelmente o Brasil possui um leque amplo de espécies com potencial para o cultivo, mas no cenário atual não há recursos humanos e em infraestrutura facilmente acessíveis no país para trabalhos com piscicultura marinha. Existem poucos grupos de pesquisa dedicados a esta área, e o caminho para reverter estes esforços de pesquisa em resultados práticos para a indústria ainda é
longo. Deve-se lembrar de que a exemplo da carcinicultura marinha, da carcinicultura de água doce, da ostreicultura e da piscicultura continental no país, a criação comercial baseia-se essencialmente no cultivo de espécies exóticas. Segundo dados do MPA (2012), 77% da produção de peixes de água doce em 2010 foram com espécies exóticas, como a tilápia, carpa, bagre e truta. A carcinicultura marinha no Brasil passou a se desenvolver somente após a introdução do camarão branco Litopenaeus vannamei, a de água doce com o uso do camarão gigante da Malásia, Macrobrachium rosenbergii e em Santa Catarina se produziu mais de 2,0 mil ton. da ostra do Pacífico C. gigas em 2011 (EPAGRI, 2012). Entre várias outras ações de relevância, há de se buscar uma maior aproximação com países com expertise na criação de peixes marinhos tropicais, em especial os Asiáticos, que ao contrário dos países Europeus, apresentam maior semelhança com o Brasil em termos de ambiente, tecnologia, espécies e infraestrutura para o cultivo. Estas e outras políticas são críticas para que o país decida entre continuar a ser um grande parceiro da Noruega e do Chile na importação de bacalhau e salmão ou começar a dar seus primeiros passos na produção de peixes marinhos em escala comercial, gerando emprego, renda e segurança alimentar no país. As referências bibiográficas deste artigo podem ser obtidas diretamente com o autor.
Aeração com qualidade israelense ao seu alcance. s -ENOR CONSUMO s -ENOR MANUTEN ÎO s -AIOR DURABILIDADE
| Tecnologia inédita no Brasil.
2
anos de garantia
de economia de energia
20% www.maofmadan.com
Distribuidor no Brasil:
Revista ABCC | 55
Acesse www.escamaforte.com.br ou ligue para 14 3354-1809.
ARTIGO
ABCC Lidera Comitiva de Produtores Brasileiros na Ásia Itamar Rocha – Presidente ABCC Enox Maia – Director Técnico ABCC Marcelo Borba – Consultor ABCC abccam@abccam.com.br
Nota do Editor: Entre os dias 21/10 e 07/11 últimos, uma comitiva formada por alguns dos principais produtores brasileiros de camarão, capitaneada pela ABCC, teve a oportunidade de visitar alguns dos mais importantes países produtores de camarão do Mundo. Representantes de empresas como a Potiporã, CELM Aquicultura, Compescal, Grupo TrêsM, Grupo MPE, Aquarium e a Fazenda Santa Bárbara bem como os autores deste artigo, puderam conhecer de perto as práticas de produção de camarão, peixes marinhos e de água doce, além de centros de processamento, laboratórios de maturação e larvicultura de camarão da China, Indonésia, Tailândia e Brunei. O objetivo principal desta turnê pela Ásia foi o de proporcionar às empresas participantes e aos associados da ABCC, uma visão prática e ainda mais clara do modelo de produção asiático, de modo a desmistificar a complexidade do referido modelo no que se refere ao manejo de produção, demonstrando, dessa forma, sua viabilidade de adequação e implementação no Brasil. A viagem teve uma duração de quase 20 dias e teve um benefício adicional uma vez que foi possível a ABCC representar o Brasil no evento GOAL promovido pela GAA em Bangkok, na Tailândia.
O
primeiro país visitado pela nossa Comitiva foi a China, onde fomos ciceroneados pela NanRong, empresa de Desenvolvimento e Tecnologia em Aquicultura, fabricante de aeradores, wavemakers (equipamentos que produzem ondas nos viveiros) e geomembranas, entre outros, e que conta, em sua sede em Xangai, com uma unidade demonstrativa de produção de camarões e peixes com altas densidades em sistema fechado, com controle de temperatura e renovação de água zero.
Visão Interna do sistema de produção da Nan Rong em viveiros cobertos e controle de temperatura
Sistema de produção de camarões e peixes com recirculação de água, sem adição de químicos e com temperatura constante. Nan Rong, Xangai/China
No mesmo local, a NanRong também cultiva camarões a céu aberto, em viveiros de 0,25 hectares, cobertos com geomembranas e com densidades de 250 cam/m2 em sistema de recirculação completa e filtragem contínua, sem nenhuma adição de produtos químicos. Ainda ali, pudemos ver também um sistema de ‘berçários’, em pequenos tanques sobrepostos, onde as pós-larvas dos camarões são cultivadas até chegarem ao peso de 3 gramas, ideal segundo eles, para transferência para os viveiros de engorda. São cultivos que são demonstrativos sem deixarem de ser comerciais, dada a alta densidade de estocagem utilizada. Revista ABCC | 57
Sistema de Pré-Engorda em tanques sobrepostos da Nan Rong - China
Também na China e distante três horas de carro de Xangai, visitamos uma fazenda de mil hectares de engorda de camarão, dos quais 600 Ha são de viveiros com área de 0,5 Ha, sem recobrimento com geomembranas, mas cobertos com uma espécie de manta plástica de cor cinza, que se apoia sobre uma estrutura de madeiras e cabos de aço, montados para sustentá-la. Os viveiros-estufas são povoados com 150 camarões/m2, e as despescas são parciais, sendo a primeira quando o camarão atinge 12 gramas, a segunda aos 18 gramas e a despesca final quando o camarão atinge 22 - 25 gramas. Os animais são capturados com uma espécie de ‘Manzuá’, e levados vivos para pesagem e transporte para o enorme mercado consumidor local.
A empresa fica localizada às margens do Rio Huangpu, um poluído e pouco caudaloso rio que cruza a metrópole chinesa, cujo odor de produtos químicos é forte e intenso. Mesmo assim, é desse manancial que se faz a captação e o tratamento da água para posterior utilização na produção de camarões e peixes. Uma vez captada e tratada a água, esta não mais retorna ao rio, ficando em constante recirculação ao longo dos ciclos produtivos. As poucas perdas de água por evaporação (não há infiltração, uma vez que todos os viveiros são envoltos com geomembranas), são repostas com a adução e novo tratamento de água deste Rio.
Entrada de um viveiro tipo estufa, em Fazenda de 1.000 hectares, nas cercanias de Xangai
Comitiva de brasileiros visitando um viveiro outdoor da Nan Rong Detalhe do Wavemaker abaixo da estrutura coberta
Vista do interior de um dos viveiros tipo estufa, coberto com manta e alimentados a voleio, com densidade média de 150 cam/m²
Vista do interior de um dos viveiros tipo estufa, coberto com manta e alimentados a voleio, com densidade média de 150 cam/m²
58 | Revista ABCC
A última parada na China foi na cidade de Zhang Jiang, na Província de Yunxiao, no sudeste do país, onde foi possível visitar uma das maiores empresas de produção e processamento de camarão do mundo, a Guo Lian onde fomos recebido pelo presidente da Empresa Li Zhong. A Companhia possui laboratórios de maturação e larvicultura de L. vannamei cuja capacidade de produção supera 800 milhões de PLs/mês, fazendas de engorda, fábricas de ração e plantas de processamento, sendo a maior delas com capacidade de processamento de 500 toneladas/dia e mais de 5.000 funcionários.
Na fazenda de engorda visitada, embora os viveiros fossem similares aos visitados na Nan Rong em termos de área, a produção se dá com povoamento direto, e aí são usados probióticos, calcário e promotores de crescimento, dentre outros insumos, além de uma forte aeração circular. As trocas d’água são raras, porém existem, os viveiros possuem profundidade de 1,4 – 1,8 metros, com mais de 1,0 metro de revanche nos taludes. Os viveiros são povoados com uma densidade de estocagem de 180 cam/m2, e a drenagem é feita através de drenos localizados no centro dos viveiros. Os laboratórios de maturação e larvicultura são contíguos às fazendas, e atendem também à maioria dos produtores da região, que têm a Guo Lian como Empresa Âncora. O mesmo se dá com suas fábricas de ração, que também lhes fornecem o volume necessário à sua produção, que ao ser despescada é processada em um dos 5 beneficiamentos pertencentes à empresa.
Área de Acasalamento e de Seleção de Reprodutores da Guo Lian, em Zhang Jiang, na China
Vista Superior de um salão de beneficiamento da Guo Lian – China, com capacidade de processamento de 500 toneladas/dia
Deixando a China, onde pudemos ver de perto diferentes modelos e filosofias de produção, que possuem em comum altas produtividades devido a elevadas densidades de estocagem, viveiros circulares, forte aeração e drenagem central, tivemos como destino seguinte a Indonésia, onde o Presidente do Clube de Camarão da Indonésia, o empresário Iwan Sutanto nos recebeu em Jakarta, capital do país, viajando todos para a cidade de Lampung, região de maior produção de camarão com o sistema mixotrófico do mundo. Nesta região, nossa Comitiva visitou várias fazendas de camarão e uma de peixes marinhos, como a fazenda do irmão
do empresário indonésio, com apenas 2,0 hectares de área produtiva em 8 viveiros de 0,25 Ha. A densidade de estocagem ali praticada é de 250 cam/m2, com um peso médio final de 18 gramas e sobrevivência média acima de 80%, atingindo uma produtividade de 36 Ton/hectare/ciclo e um FCA médio de 1,2:1. Esta Fazenda vem produzindo 2 ciclos de cultivo ao ano nos últimos 14 anos, sem nunca ter experimentado maiores problemas com enfermidades ou quebra de produção. A média anual nesses 2 hectares de lâmina d’água é de cerca de 150 toneladas, vendidas principalmente para a rede Carrefour na cidade de Jacarta. A fazenda utiliza o já mencionado sistema mixotrófico, com uma grande bacia de tratamento de água, onde são adicionados 30 ppm de Cloro e 2 ppm de Virkon S. A água após o tratamento na bacia, que corresponde a 30% da área de viveiros da fazenda, abastece os viveiros de terra, que recebem forte aeração com pedras porosas e aeradores. Há cercas anti-crustáceos no entorno de cada um dos viveiros. A estrutura é bem simples, não há muita sofisticação nem excessivo cuidado com a aparência. A ração ali, a exemplo do que ocorre de maneira geral na Ásia, é fornecida a voleio. Algumas poucas bandejas são utilizadas para verificação de eventuais sobras, e o cálculo da ração é feito tomando-se como base o peso médio dos camarões, uma sobrevivência média estimada para a gramatura do camarão à época, e uma taxa de alimentação semelhante aquela que utilizamos aqui no Brasil. A aeração fornecida é de 1 HP para cada 400 Kg de camarões. Dessa forma, na medida em que se aumenta a biomassa nos viveiros, novos aeradores são incorporados aos mesmos, de modo a prover conforto ambiental aos animais confinados.
Itamar Rocha, presidente da ABCC e Iwan Sutanto, Presidente do SCI em visita à Fazenda de 2 hectares de seu irmão, Aleksi Sutanto (de óculos)
Vista fronta de um dos viveiros de 0,25 Ha de Aleksi Sutanto - Detalhe para aeração com pedras porosas mais aeradores de palhetas
Revista ABCC | 59
Probióticos para água e solo utilizados em várias fazendas de cultivo de camarão da Indonésia Bacia de tratamento de água para abastecimento e reposição de água de viveiros - 30% da área produtiva da Fazenda
No mesmo dia, visitamos também uma das Fazendas de Henry, um produtor Indonésio que possui 4 diferentes unidades produtivas nessa região do país, com mais de 200 hectares de viveiros no total. O empresário, também membro do SCI (Clube de Camarão da Indonésia), trabalha há anos com o sistema patenteado pela Blue Aqua Internacional, o Sistema Mixotrófico, utilizando o pacote tecnológico avançado sugerido por essa empresa. O Mix de produtos contem minerais hidrossolúveis e biodisponíveis (MinGro), promotor seletivo de crescimento algal (FitoGro) e uma combinação de probióticos para a coluna d’água e solo (NitroGro, SoilGro e BactoGro), além de uma fonte de carbono que, no caso daquela fazenda, era o melaço. A aeração é intensa e ininterrupta, utilizando-se 1HP de aeração para cada 300 Kg de biomassa de camarão. A capacidade de suporte dos viveiros é bem maior que das fazendas anteriormente visitadas, uma vez que o protocolo de uso dos produtos da Blue Aqua para aquela fazenda foi estabelecido com base nos resultados que esta vem obtendo ao longo dos anos com a utilização do referido sistema e, mesmo com elevadas densidades de estocagem (200 – 250 cam/m2), o FCA normalmente fica abaixo de 1,0 : 1, o que sugere um elevada produção de flocos bacterianos na água que, por sua vez, servem de alimento aos camarões, e que possui alto teor de proteínas, ácidos graxos e vitaminas. A aeração, conforme mencionado, é forte e intensa, estando os aeradores dispostos de forma a proporcionar um movimento circular da água, o que faz com que os detritos e restos de alimentos não consumidos sejam carregados para o centro dos viveiros, por onde passam as estruturas de drenagem e que permitem que estes sejam carregados para fora dos viveiros, evitando assim o acúmulo de gases, principalmente amônia, nitrito e H2S. A fazenda, com 35 hectares de viveiros, é gerenciada por uma engenheira de pesca, que informou ser de 30% a área de bacias de tratamento da água.
60 | Revista ABCC
Vista superior de um viveiro com aeração circular, em Lampung, na Indonésia
Comitiva de brasileiros em visita à Fazenda de Henry, na região de Lampung, Indonésia
Ainda na Indonésia, nosso grupo visitou uma planta de processamento de camarões, o laboratório de produção de pós-larvas da CP, com capacidade de produção de 1 bilhão de PLs/mês, com reprodutores SPF originários do Havaí e da Flórida/EUA, além das três fazendas de propriedade do anfitrião Iwan Sutanto, sendo que uma delas, a mais antiga da região, foi construída em 1987 e foi a única onde se verificou a captação de água estuarina (nas demais, a captação era oceânica). Por ser a mais antiga e pela qualidade da água do manancial, relatou o empresário, 50% da área da fazenda é utilizada como bacia de tratamento de água. Ali, cada viveiro de engorda possui um segundo viveiro, de mesma área, com água tratada com Cloro e Virkon S, que repõe as perdas por infiltração e evaporação.
Em outra fazenda do produtor, tivemos a chance de ver o funcionamento da drenagem central, que elimina os resíduos (e gases tóxicos) antes de cada alimentação. Os drenos centrais dos viveiros se encontram em estruturas cobertas em grupos de quatro viveiros, onde também é armazenada a ração. Imediatamente antes do horário de oferta de ração, um funcionário treinado desconecta a tubulação de 200 mm que se comunica com o dreno central, de mesmo diâmetro, e por aí saem os restos de alimentos não consumidos, as fezes e demais detritos, além dos gases tóxicos eventualmente presentes. O odor desta água de descarte é bem intenso no início da drenagem, que dura de 1 a 5 minutos, sendo esta interrompida quando se percebe uma mudança na coloração e no odor da água drenada.
Vista de um viveiro com dreno central e da casa de apoio, onde a água é drenada antes das alimentações, para eliminação de resíduos e eventuais gases tóxicos
Aterrissando no nosso próximo destino, a Tailândia, e ciceroneados por Amornat Pui e Txomin Badiola, sócia-diretora e gerente técnico da Blue Aqua, respectivamente, fomos convidados para um jantar de boas vindas, em Bangkok, ocasião em que os anfitriões locais expuseram as dificuldades que tiveram em agendar visitas a algumas fazendas tailandesas de engorda de camarão, uma vez que os produtores daquele país levam bastante a sério as medidas e procedimentos de biossegurança. Não obstante as referidas dificuldades, a equipe da Blue Aqua organizou algumas visitas a fazendas de camarão e a uma fazenda de reprodução, alevinagem e engorda de tilápias. Na fazenda de camarão visitada, foi possível não apenas verificar viveiros com área de 0,5 ha, povoados com 120 – 150 cam/m2 e altas produtividades, como também a utilização de alimentadores automáticos, dispostos nos viveiros, e que conseguem alimentar os camarões num raio de 12 metros (450 m2 de área), numa frequência alimentar e quantidade de ração ajustáveis, que pode ser de até 3 em 3 minutos ao longo de 21 horas, dependendo da necessidade. O produtor, que também é o fabricante dos alimentadores, informou que já comercializa seus equipamentos em vários países da Ásia, como a própria Tailândia, Indonésia, Índia e China. Outro equipamento que o empresário possui em seu portfólio são os redutores com 2 e 3 eixos, acopláveis entre si e que giram até 78 palhetas em cada eixo com o mesmo motor de 2HP. Ambos os equipamentos estão em uso nos viveiros da fazenda, que funcionam também como unidades demonstrativas para estes.
Funcionamento do motor de um aerador de palhetas com saída de 3 eixos Descarte de água pela drenagem central dos viveiros para eliminação de resíduos e eventuais gases tóxicos presentes - de 1 a 5 minutos antes das alimentações
A nossa estada na Indonésia foi coroada no final com um jantar de despedida, após um mini-curso revisional sobre manejo de água e solo, preparação de viveiros e manejo alimentar, que nosso anfitrião gentilmente se propôs a proferir. Deixamos a Indonésia no dia seguinte com uma boa visão das técnicas e características da produção de camarões neste país, além da certeza de que a adequação daquele modelo no Brasil é absolutamente factível.
Alimentadores Automáticos
Visão panorâmica de um viveiro de 0,5 Ha na Tailândia, que usa alimentadores automáticos e aeradores com redutores de 2 e 3 eixos.
Revista ABCC | 61
Detalhe para Redutores acopláveis de 2 e 3 eixos, que sustentam até 76 palhetas por eixo
Ainda na Tailândia, visitamos uma das fazendas do Grupo CP, maior produtor mundial de camarão cultivado. A empresa, que possui várias outras unidades de negócios, tem sua sede em Bangkok e fazendas espalhadas por todo o país e em países vizinhos como a Indonésia, trabalha com densidades de estocagem mais moderadas para os padrões asiáticos (cerca de 100 cam/m2), e possui um rigoroso sistema de biossegurança em todas as suas instalações. Chamou bastante a atenção a estrutura física da Fazenda Rayong 3, pertencente à CP, como as telas anti-pássaros que recobrem todos os seus viveiros e canais, os quais estão envoltos com geomembranas e supridos com farta aeração (1 HP para cada 400 Kg de camarão). A lâmina d’água é de no mínimo 1,2 metros na parte mais rasa dos viveiros e chega a 2 metros na região mais profunda. A ração é fornecida por voleio, e há a checagem dos principais parâmetros físico-químicos no mínimo duas vezes ao dia. Cada viveiro possui seus próprios equipamentos, que ficam guardados na sua entrada, onde apenas pessoal autorizado tem acesso. A fazenda conta ainda com um laboratório de análises químicas, que são realizadas também diariamente para verificação de amônia, nitrito, nitrato e sulfetos, além de alcalinidade e dureza, entre outros.
Despesca de L vannamei na Fazenda Rayong, da CP, na Tailândia
62 | Revista ABCC
Canal de abastecimento envolto com geomembrana e coberto, na Fazenda Rayong, pertencente ao Grupo CP, na Tailândia
A última fazenda visitada na Tailândia não foi de camarão e sim de Tilápia, onde o proprietário, o inglês Paul Jackson, há mais de 20 anos desenvolve novas linhagens deste peixe. A fazenda é a maior produtora de alevinos do país, vendendo também parte de sua produção para diversos países asiáticos, da América Central e África. Muito embora a Tilápia não fosse o foco principal da viagem, alguns participantes do grupo já produzem esse peixe há bastante tempo. A rusticidade e o excelente crescimento da tilápia em todo o mundo, aliado ao sabor e à aparência do animal, o fazem um dos principais peixes de água doce produzido no mundo. A fazenda se divide em duas diferentes unidades, sendo a primeira para reprodução e coleta dos ovos, e a segunda, onde é realizada a reversão sexual dos peixes. A empresa possui ainda uma fábrica de ração, que agrega o hormônio 17-alfa-metil-testoterona, adicionando-o ao alimento, com a propriedade de converter todo o plantel em peixes machos, que possuem maior crescimento e impede o dispêndio de energia para a reprodução, canalizando-o inteiramente para o ganho de peso muscular. Os viveiros, a exemplo daqueles para camarões, também são telados para evitar a predação e a contaminação por pássaros. Outros peixes como o Pangasius e a Carpa, também são cultivados na fazenda, porém em menor escala.
Viveiros de Peixes Cobertos com Matas de proteção anti-pássaros, na Tailândia
Fazenda de Reprodução e Alevinagem de Tilápias na Tailândia
A última parada na Ásia foi Brunei. O pequeno Sultanato, cuja economia depende em mais de 80% da extração e refino de Petróleo, vem buscando outras atividades econômicas que gerem empregos e divisas para o país, sendo uma destas a aquicultura, já tendo o Governo local investido milhares de Dólares na reforma e construção de laboratórios de maturação e larvicultura de P. monodom, além de estações de pesquisa e desenvolvimento em nutrição e melhoramento genético. A empresa de consultoria contratada é a Integrated Aquaculture International – IAI, cujos sócios-diretores são o Dr. George Chamberlain (também Presidente do GAA), o Dr. Ken Morrison, o Dr. Chris Howell e o Ph.D. Donald Lightner. Os reprodutores de P. monodon são adquiridos da empresa Kona Bay, do Havaí e levado para o Centro de Desenvolvimento em Aquicultura que pertence ao Ministério da Indústria e Recursos Primários de Brunei, onde são realizados todos os testes de sanidade dos animais, que passam por duas quarentenas antes de serem colocados para acasalamento e reprodução. As pós-larvas oriundas destes cruzamentos também são checadas através do Real Time PCR e, só então, são liberadas para os cultivos experimentais e comerciais do país.
Centro de Desenvolvimento em Aquicultura de Brunei, pertencente ao Ministério da Indústria e Recursos Primários
Tanque de pesquisa em Nutrição de Peneídeos da Estação Experimental em Nutrição, em Brunei
Portão de Acesso aos viveiros de engorda da Estação Experimental em Desenvolvimento e Nutrição de Camarões
As fazendas de engorda de P. monodom do país, como dito, pertencem ao Estado, muito embora haja uma grande campanha do Governo para a captação de novos investidores para o segmento aquícola do país. Com 100% dos viveiros recobertos com geomembranas, telados, forte aeração e com uso de probióticos, as unidades produtivas vêm obtendo excelentes resultados em escala comercial. As densidades de estocagem variam de 20 a 30 camarões/m2, o tempo de cultivo é de 130 dias, a sobrevivência média é de 57%, o peso médio final dos camarões é de 50 gramas e seu FCA é de 1,49 : 1, atingindo produtividades de 6,1 Ton/Ha/Ciclo. A captação de água é oceânica, com ponteiras instaladas aproximadamente 1,5 Km da casa Revista ABCC | 63
de bombas, que a leva para o abastecimento dos viveiros. A ração, a exemplo do que se passa em grande parte das fazendas visitadas na Ásia, é fornecida utilizando-se em alimentador automático norueguês, totalmente automatizado, e que também é utilizado em fazendas offshore de salmão. A frequência alimentar é de 4 – 6 vezes ao dia, dependendo da gramatura do camarão e da taxa alimentar utilizada. Os cuidados com Biossegurança não chegam a ser tão rígidos como na Tailândia, embora os carros dos visitantes tenham que passar por um rodolúvel e as pessoas tenham que usar botas, passar por um pedilúvio e lavar as mãos com solução de Iodo antes de entrar na Fazenda, além da já comentada utilização de cercas e telas para isolamento dos viveiros de engorda. Todos que fizemos parte desta Viagem Técnica à Ásia, voltamos ao Brasil com a certeza de que a adaptação, adoção e implementação do modelo asiático de produção
de camarão é viável e inclui, obviamente, uma série de investimentos, mas que não deixa dúvidas de que este parece ser o caminho mais rápido no sentido de verticalização da produção nacional de camarões, de modo a suprir a crescente demanda no nosso mercado interno, ávido por esse nobre produto. Cabe destacar ainda que, quando da realização da última Assembleia da ABCC em 18 de dezembro último, todos os presentes receberam da ABCC um CD com as melhores fotos da viagem, bem como assistiram uma apresentação de uma palestra contando as experiências vivenciadas na Ásia, explicando cada uma das fotos, as circunstâncias em que foram tiradas e as informações que estas pretendiam transmitir aos nossos associados presentes, uma cópia desse CD será disponibilizada aos produtores interessados, bastando solicitar pelo e-mail da ABCC (abccam@abccam.com.br), com a solicitação devidamente identificada.
Vista Panorâmica de uma Fazenda de Engorda de P. Monodon, em Brunei
Visão frontal de viveiros de engorda de P. monodon em Brunei Detalhes são os viveiros forrados com geomembranas, aeração circular e forte e alimentadores automáticos
64 | Revista ABCC
Aerador em frente de estrutura triangular que divide a corrente de água por ele gerada, formando movimento circular em viveiros retangulares
ESTATÍSTICAS ABCC
^ DW E,K ^ yWKZd O ^ D Z K h>d/s K ʹ ϭϵϵϴͲϮϬϭϮ
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
yWKZd O ^ /DWKZd O ^ W ^ K K Z ^/> ϮϬϬϯͲϮϬϭϮ
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
Revista ABCC | 65
DESEMPENHO DAS EXPORTAÇÕES DE PESCADO DO BRASIL: VOLUME E VALOR 2003 a 2012 Volume(Ton.)
Valor(US$ milhões)
427.915 436.806 419.669 388.525
357.304 342.135
113.838 107.109 95.447 80.710
2003
2004
2005
2006
232.148
246.806 250.902 237.287
61.582 47.947 38.607 35.088 39.746 42.746 2007
2008
2009
2010
2011
2012
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
DESEMPENHO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADO DO BRASIL: VOLUME E VALOR 2003 a 2012 Volume(Ton.)
Valor(US$ milhões) 1.252.788 1.230.667 1.001.497 715.004 683.046
561.606 445.335
202.863 252.454 297.609 344.555 363.019 239.505 280.041 152.464 158.661 145.955 180.374 209.808 218.486
2003
2004
2005
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
66 | Revista ABCC
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
BRASIL – IMPORTAÇÕES DE PESCADO POR PAÍS DE ORIGEM EM VOLUME 2010 – 2012 HISTÓRICO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADOS POR ORIGEM EM VOLUME 2010-2012 Part % cresc 11/10 Ton 10 Part % Ton 12 Part % Cresc 12/11 Ton 11 CHINA 78.217 21,55% -3,41% 80.979 23,50% 143,36% 33.276 11,88% CHILE 70.739 19,49% 48,52% 47.631 13,82% 14,94% 41.439 14,80% VIETNÃ 34.382 9,47% 16,45% 29.525 8,57% 140,92% 12.255 4,38% ARGENTINA 34.326 9,46% -32,08% 50.543 14,67% -18,79% 62.239 22,22% NORUEGA 30.506 8,40% -7,76% 33.073 9,60% -5,08% 34.842 12,44% MARROCOS 22.951 6,32% 77,63% 12.921 3,75% -60,81% 32.973 11,77% PORTUGAL 14.119 3,89% -20,00% 17.648 5,12% 46,82% 12.020 4,29% URUGUAI 13.406 3,69% -11,50% 15.148 4,40% -38,28% 24.542 8,76% TAILANDIA 10.761 2,96% 41,06% 7.629 2,21% 11,81% 6.823 2,44% EQUADOR 7.515 2,07% -25,94% 10.148 2,95% 47,95% 6.859 2,45% 32,46% 4.397 1,28% 1,31% 4.340 1,55% ESPANHA 5.824 1,60% ESTADOS UNIDOS 1.657 0,46% -17,20% 2.001 0,58% 43,34% 1.396 0,50% ISLANDIA 1.574 0,43% 52,19% 1.034 0,30% -8,50% 1.130 0,40% SUB-TOTAL 325.978 89,80% 4,25% 312.677 90,75% 14,06% 274.133 97,89% OUTROS 37.041 10,20% 16,19% 31.879 9,25% 439,59% 5.908 2,11% TOTAL 363.019 100,00% 5,36% 344.555 100,0% 23,04% 280.041 100% PAÍS
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
BRASIL – IMPORTAÇÕES DE PESCADO POR PAÍS DE ORIGEM EM VALOR 2010 - 2012 HISTÓRICO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADOS POR ORIGEM EM VALOR 2010-2012 US$ 12 Part % Cresc 12/11 US$ 11 Part % cresc 11/10 US$ 10 Part % CHILE 325,68 26,46% 14,52% 284,39 22,70% 11,43% 255,23 25,48% CHINA 221,62 18,01% -5,00% 233,28 18,62% 141,30% 96,67 9,65% NORUEGA 204,27 16,60% -7,63% 221,14 17,65% 1,97% 216,87 21,65% ARGENTINA 109,34 8,88% -30,20% 156,64 12,50% -5,79% 166,26 16,60% PORTUGAL 102,89 8,36% -11,21% 115,88 9,25% 33,91% 86,54 8,64% VIETNAM 78,40 6,37% 14,48% 68,48 5,47% 187,52% 23,82 2,38% URUGUAI 30,90 2,51% -21,80% 39,52 3,15% -29,55% 56,10 5,60% TAILANDIA 29,26 2,38% 59,54% 18,34 1,46% 7,21% 17,11 1,71% EQUADOR 27,37 2,22% -8,96% 30,06 2,40% 64,69% 18,25 1,82% MARROCOS 22,84 1,86% 62,76% 14,03 1,12% -57,20% 32,77 3,27% ESPANHA 11,66 0,95% -10,76% 13,07 1,04% 35,94% 9,61 0,96% ISLÂNDIA 7,16 0,58% 72,52% 4,15 0,33% -6,82% 4,45 0,44% ESTADOS UNIDOS 2,05 0,17% -19,90% 2,56 0,20% 10,82% 2,31 0,23% SUB-TOTAL 1.173,44 95,35% -2,34% 1201,54 95,91% 21,86% 985,99 98,45% OUTROS 52,59 4,27% 2,61% 51,25 4,09% 230,43% 15,51 1,55% TOTAL 1.230,67 100,00% -1,77% 1252,79 100% 25,09% 1001,50 100% PAÍS
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
Revista ABCC | 67
BRASIL - EVOLUÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADO DA CHINA 2005 – 2012 8,00 VOLUME
250
VALOR
US$/Kg
233,280
7,00 221,622
200
5,00 3,54
150
0
2,39 0,95 30,790 7,380 0,520,257 11,180 0,478 3,090 0,504 0,490 2005
2006
2007
2008
2,88 2,91 96,980
2,75 100 50
6,00
27,650 7,814
80,979
4,00 2,83 78,217
3,00 2,00
33,340
1,00
US$ MILHÕES/ US$/Kg
x 1000 TONELADAS
300
0,00 2009
2010
2011
2012
Em 2012 houve incremento de 900,99% no volume e de 701,53 % no valor em relação a 2009.
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
BRASIL -EVOLUÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADO DA CHINA POR PRODUTO* 2010 – 2012
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
68 | Revista ABCC
BRASIL - EVOLUÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADO DO VIETNÃ 2008 – 2012
x 1000 TONELADAS
VOLUME
VALOR
US$/Kg
78,40
80
8,00
68,48
6,00
60 40
1,92 3,286,30
20
23,82 1,94 12,25
34,38 2,28
29,52
4,00 2,00
2,32
US$ MILHÕES/ US$/Kg
10,00
100
0,00
0 2008
2009
2010
2011
2012
Em 2012 houve incremento de 1144,44% no volume e 948,17% no valor em relação a 2009.
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
BRASIL: EVOLUÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DE PESCADO DA CHINA, VIETNÃ, EQUADOR, E TAILÂNDIA 2010 -2012
TONELADAS
80.979 78.217
2010
33.276 29.525
2012
34.382
12.555
CHINA
2011
VIETNÃ
10.148 7.515 6.859
EQUADOR
6.823 7.629
10.761
TAILÂNDIA
Fonte : Aliceweb , Janeiro, 2013
Revista ABCC | 69
Preços dos anúncios (Edição FENACAM - Junho de 2013)
Reserve já o seu anúncio para a edição JUNHO de 2013