Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 1 de 140 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO
REVISTA QUERUBIM Letras – Ciências Humanas – Ciências Sociais Ano 11 Número 25 Volume Especial ISSN – 1809-3264
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REVISTA QUERUBIM NITERÓI – RIO DE JANEIRO 2015
NITERÓI RJ
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Revista Querubim 2015 – Ano 11 nº 25 – vol. esp. – 140 p. (fevereiro – 2015) Rio de Janeiro: Querubim, 2015 – 1. Linguagem 2. Ciências Humanas 3. Ciências Sociais Periódicos. I - Titulo: Revista Querubim Digital Conselho Científico Alessio Surian (Universidade de Padova - Italia) Carlos Walter Porto-Goncalves (UFF - Brasil) Darcilia Simoes (UERJ – Brasil) Evarina Deulofeu (Universidade de Havana – Cuba) Madalena Mendes (Universidade de Lisboa - Portugal) Vicente Manzano (Universidade de Sevilla – Espanha) Virginia Fontes (UFF – Brasil) Conselho Editorial Presidente e Editor Aroldo Magno de Oliveira Consultores Alice Akemi Yamasaki Andre Silva Martins Elanir França Carvalho Enéas Farias Tavares Guilherme Wyllie Janete Silva dos Santos João Carlos de Carvalho José Carlos de Freitas Jussara Bittencourt de Sá Luiza Helena Oliveira da Silva Marcos Pinheiro Barreto Paolo Vittoria Ruth Luz dos Santos Silva Shirley Gomes de Souza Carreira Vanderlei Mendes de Oliveira Venício da Cunha Fernandes
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Sumário 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Responsabilidade socioambiental: educação ambiental no Brasil - Edison Fernando Pompermayer, Dámara Magna da Silva Nunes e Claudia Scareli-Santos Análise da identidade construída na canção: “Eu só quero é ser feliz” – Flávio Benayon e Leonardo Alonso Turismo pedagógico no âmbito escolar: promovendo o conhecimento e a valorização da cultura local e regional – Francisco Diego Mendonça Medeiros, Janaina Luciana de Medeiros e Mayara Ferreira de Farias Estabelecendo a comunicação através de recursos expressivos: que língua é ensinada na escola? – Hérica Romena Do Carmo, Mayara Ferreira de Farias, Mayane Ferreira De Farias e Heridan Guterres Percepções sobre desenvolvimento regional sustentável e a atividade turística – Janaina Luciana de Medeiros, Mayara Ferreira de Farias, Mayane Ferreira de Farias e João Quincas de Farias Júnior Visões sobre educação ambiental, sustentabilidade e competitividade no turismo – Janaina Luciana de Medeiros, Mayara Ferreira de Farias, Mayane Ferreira de Farias e João Quincas de Farias Júnior A atuação do guia de turismo no destino turístico religioso em Santa Cruz (RN) – Jaquelyne Santos de Assunção, Janaina Luciana de Medeiros e Mayara Ferreira de Farias O ápice do fetichismo: administração, educação e controle social – Jean Henrique Costa, Thadeu de Sousa Brandão e Tássio Ricelly Pinto de Farias Hegemonia, cotidiano e consumo cultural em Antonio Gramsci – Jean Henrique Costa Estrutura e gestão na educação: um estudo de caso na Escola Estadual Profª Claudecir Pereira Torres (São Rafael, RN) – Mayane Ferreira de Farias, Ionara Silva Braga, Maria Teobanete da Cunha e Rita Diana de Freitas Gurgel Apontamentos teóricos sobre a temática da “Cibercultura” – Mayane Ferreira de Farias Souza, Annielle Richelle de Assunção Souza e Andrezza Cristina da Silva Barros Souza Experiências escolares na zona rural: resultados de uma observação em sala de aula.- Mayane Ferreira de Farias, Ionara Silva Braga, Maria Teobanete da Cunha e Rita Diana de Freitas Gurgel Planejamento ambiental participativo na promoção ao turismo sustentável: atuação do conselho gestor em unidades de conservação do RN – Mayara Ferreira de Farias, Naia Valeska Maranhão de Paiva, Francisco Fransualdo de Azevedo e Ione Rodrigues Diniz Morais Metodologia da pesquisa em estudos interdisciplinares da linguagem – Nilsandra Martins de Castro e Bruno Gomes Perei Resenha - de FONSECA, Maria Aparecida Pontes da. (Org.). Segunda residência, lazer e turismo. Natal, RN: EDUFRN, 2012. Alex Junior Alves Barbosa e Mayara Ferreira de Farias. Resenha - MANO, Eloisa Biasotto. PACHECO, Élen B. A. V. BONELLI, Cláudia M. C. Meio ambiente, poluição e reciclagem. 2. Ed.—São Paulo: Blucher, 2010. – Alex Junior Alves Barbosa e Mayara Ferreira de Farias. Resenha – PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio Ambiente e a Formação do Professor. Editora: CORTEZ, 2010. – Ana Priscila do Nascimento Abreu e Mayara Ferreira de Farias. Resenha – BRANCO, Samuel Murgel de. Energia e meio ambiente. São Paulo, SP: Editora Moderna, 1990. – Levi Nunes Fernandes de Miranda e Mayara Ferreira de. Farias. Resenha – GONÇALVES, Luiz Cláudio de. Gestão Ambiental Meios de Hospedagem. São Paulo, SP: ALEPH LTDA, 2004 - Levi Nunes Fernandes de. Miranda e Mayara Ferreira de Farias. Resenha - RIBEIRO, Renato. Sustentar a vida. São Paulo: Edições Paulinas, 2011. Viviane Ferreira de Oliveira e Mayara Ferreira de Farias. Resenha – Organização Mundial da Saúde - OMS. Atenção Primária Ambiental. Brasília, DF: Organização Panamericana da Saúde, 2000.- Viviane Ferreira de Oliveira e Mayara Ferreira de Farias. Resenha – VIERNIER, Jacques. O Meio Ambiente. Tradução de Marina Appenzeller. 4ª Edição. Papirus Editora, Campinas, SP, 1994 –Wanny Caroline França de Lima e Mayara Ferreira de Farias. Resenha - Resenha de SATO, Michèle. Educação ambiental. Editor: Santos, J.E. São Carlos, RiMa, 2004 – Yasmim Darlianny Oliveira Martins e Mayara Ferreira de Farias.
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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL Edison Fernando Pompermayer1 Dámara Magna da SilvaNunes 2 Claudia Scareli-Santos3 Resumo Este trabalho objetivou-se compreender o papel da Educação Ambiental na sociedade, identificar as atribuições e informações da Política Nacional de Educação Ambiental e verificar de quem é a responsabilidade dessas informações. Para tanto, realizamos o estudo deste seguindo como metodologia a pesquisa em referencial bibliográfico, documentos institucionais e internet. Observase que primar pela Educação Ambiental faz-se uma necessidade emergencial nos dias atuais. Para garantir a preservação da diversidade e a integridade do ambiente ecologicamente equilibrado, para o bem de todos, e a participação ética da coletividade será fundamental para manter o patrimônio ecologicamente equilibrado para as gerações presentes e futuras. Palavras-chave: Educação ambiental; Ética educacional; Responsabilidade socioambiental. Abstract This paper aimed to understand the role of environmental education in society and identify the information from the National Environmental Education Policy and verify those objectives is the responsibility of such information. Thus, we performed this study the following research methodology as bibliographic references, institutional documents and internet. Observe that strive for environmental education it is an emergency need today. To ensure the preservation of the diversity and integrity of ecologically balanced environment for the good of all, and ethical participation of the community will be key to maintaining ecologically balanced heritage for present and future generations. Keywords: Environmental Education; Educational ethics; Environmental responsibility. Introdução e objetivos A vida em comum requer cuidados coletivos, no que diz respeito à responsabilidade socioambiental, esta deve ser compreendida como uma atividade participativa da sociedade promovendo a defesa do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, que engloba formas de proteção ao meio ambiente, que é um bem de uso comum do povo. O presente tema busca demonstrar para a sociedade que, a participação ativa e consciente através da educação vem garantir a preservação dos recursos naturais. Temos como objetivo geral, compreender o papel da Educação Ambiental na sociedade, para que possamos construir um ambiente agradável a todos com desenvolvimento social, visando às necessidades humanas e não só na exploração econômica, sem agredir a fauna e flora, logo buscamos despertar o interesse das pessoas pela educação ambiental. Temos como objetivos específicos identificar as atribuições e informações da Política Nacional de Educação Ambiental e verificar de quem é a responsabilidade dessas informações. Graduado pela Universidade Metodista de Piracicaba, Mestre em Recursos Florestais pela Esalq/USP e Professor da Faculdade Católica Dom Orion, Araguaína, TO. 2 Graduada em Direito pela Faculdade Católica Dom Orione, Araguaína, TO. 3 Docente do curso de Biologia da Universidade Federal do Tocantins, Campus Araguaína, TO. 1
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Metodologia A metodologia usada na construção deste foi a pesquisa em referencial bibliográfico, documentos institucionais e internet. Sendo assim, este artigo apresentará o desenvolvimento da sociedade dentro dos parâmetros da vida compartilhada, integrando os limites que regulamentam as ações das pessoas, com amparos legais. Não deixando de verificar que a educação ambiental no Brasil, sob a visão governamental na concepção do Ministério da Educação; que é um órgão federal criado em 1930 após a chegada de Vargas ao poder para desenvolver atividades que versam sobre a saúde, o esporte a educação e o meio ambiente; atua com equidade social, para que possa vislumbrar a necessidade aparente de todos, que é o direito da acessibilidade aos espaços públicos. Promovendo a prudência ecológica e o desenvolvimento econômico, abordará ainda a responsabilidade socioambiental e os desafios da educação ambiental para as presentes e futuras gerações. Resultados e discussão A evolução da sociedade A descoberta do fogo deflagrou uma das primeiras revoluções, promovendo o aperfeiçoamento de utensílios e armas, como forma de provisão de benefícios para subsistência humana. A principal atividade da sociedade primitiva era o extrativismo vegetal e a caça, para o exercício desta atividade tinha como iniciativa a força física juntamente com o desenvolvimento de suas habilidades. Logo após veio a sociedade agrícola, quando o homem começou a dominar a natureza vegetal, animal e a exploração do solo, focada na lavoura, pecuária e extração mineral. Com a revolução industrial da sociedade, ocorrida logo após a segunda guerra mundial, o foco se tornou a produção de bens e serviços, assim esta nova era, trouxe como sua principal atividade à transformação industrial dos recursos naturais. Onde o conhecimento estruturado permitia cada vez mais, a utilização de máquinas na exploração e produção de produtos. No Brasil a colonização passar a existir em meio ao desenvolvimento da econômica de Estados Europeus, que procuravam superar as relações feudais, bem como o acumulo de capital e acelerar o processo de aumento dos Estados Nacionais centralizados (NOVAIS, 1995). Logo, a colonização se constituiu na organização de uma economia complementar como metrópole, o que tornava as colônias um instrumento de poder, como também uma preocupação a mais para resguardar tal império diante das demais potências, tendo em vista que a riqueza de um país era constituída por acumular metais e moedas como ouro e prata, necessitou-se concentrar na metrópole o exercício do monopólio sobre o comércio e a administração da colônia. Sua produção se ajustava às necessidades da população europeia, com o desenvolvimento da agricultura e mineração, exercida pela mão-de-obra escrava, o que assegurava os interesses dos exploradores na lógica de acumulação capitalista. Tal proposição econômica não era vislumbrada num modelo de trabalhador assalariado, porque se acreditava que, neste processo, os indivíduos, diante da abundância de terra, optariam por produzir a sua subsistência, desencadeando, portanto, um descontrole da metrópole sobre a colônia. A metrópole portuguesa no Brasil se estruturou pelo aparelho repressivo de base militar, que garantia à estrutura administrativa tanto jurídica como fiscal do Estado, e o aparelho ideológico que se funda na Igreja Católica, com o propósito de difundir a ideologia da exploração colonial, reforçando a aceitação da dominação e a “ressocialização” do índio para força de trabalho servil. É sobre este último aparelho que se fundamenta o processo de organização educacional na colônia, tendo como base a revolução industrial.
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História da Educação no Brasil A história da educação no Brasil está atrelada ao princípio do surgimento do povo brasileiro, contudo, a educação surgiu com a Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola em 1540, onde os primeiros padres inacianos chegaram ao Brasil em 1549. Contudo a atividade educacional estaria voltada para a catequização (conversão) dos índios e os serviços religiosos voltados para os colonos. Para cumprir tal missão a companhia recebia subsídio do Estado. A primeira comitiva chegou ao Brasil acompanhando o governador geral Tomé de Souza, dentre os quais estava o Padre Manoel da Nóbrega responsável, no período de 1549 a 1553, pela companhia provincial, onde apresentou a primeira política educacional voltada para a construção de recolhimentos para meninos indígenas, dentre os ensinamentos estava à doutrina cristã, os bons costumes, as primeiras letras. Os mais hábeis aprendiam o latim, os demais eram direcionados para o ensino profissional agrícola ou manufatureiro. Com o tempo a proposta foi desautorizada pela ordem, o que resultou na dissolução desta estrutura em favor dos colégios, mas sem o ensino profissional e, sem a presença dos índios, conforme apresenta Luzuriaga (1985): “...além de educadores e missionários, os jesuítas fizeram sentir sua presença no Brasil através de várias outras funções que exerceram durante todo o período colonial: como conselheiros das principais autoridades administrativas, “como construtores das maiores bibliotecas da colônia, como exploradores de sertões, e como linguistas, historiadores, antropólogos, botânicos, farmacêuticos, médicos, arquitetos e artesãos dos mais diversos tipos”. (LUZURIAGA, 1985, p. 118).
Os rumos dados à educação no Brasil durante o período colonial foi marcado por políticas que sempre estiveram permeadas pelos interesses da igreja e da coroa portuguesa. Pois, coube à igreja, através da ordem jesuíta, implantar todo o sistema educacional na Colônia, o que serviu de suporte para o desenvolvimento da cultura nestas terras. Segundo Meksenas (2007), a educação nasce de modo espontâneo, sem necessitar de professores ou escolas, ou seja, há educação em todos os lugares de convívio social, sobretudo com a necessidade do ser, ao mesmo tempo em que o gênero humano evoluiu, com a transformação da natureza por seu trabalho, também desenvolveu ideias, crenças e valores sob o modo de viver, e isso faz com que se preocupem em transmitir suas experiências, logo, os mais velhos ensinam os mais novos, o que oportuniza o conhecimento humano. O homem sempre manteve relação de interdependência com o meio ambiente, logo, através deste retira os recursos essenciais para a sobrevivência, a natureza passa então a ser intensamente explorada, portanto o cultivo da terra pelo homem, compreende uma atividade necessária e demasiadamente explorada, caminhando para a degradação do meio em que vive. Deste modo surge a necessidade de estabelecer diretrizes que regulem as atividades entre homem e meio ambiente, sendo estes, a conscientização da coletividade, a preservação e a interação com a natureza e uso sustentável como afirma Meksenas (2007). Ministério da Educação Criado em 1930, após a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o Ministério da Educação teve entre suas atribuições atividades relacionados a vários ministérios tais como “[...] saúde, esporte, educação e meio ambiente. Até então, os assuntos ligados à educação eram tratados pelo Departamento Nacional do Ensino, ligado ao Ministério da Justiça”. Ou seja, vários ministérios atuavam junto, porém, somente a partir de 1953 com a autonomia do ministério da saúde, é que o Ministério da Educação se desvincula assumindo a sigla MEC. Assim poderia então cada instituição pautar-se a desenvolver suas competências. No que tange o Ministério da Educação vale mencionar as observações de GHIRALDELLI, (2001) que sobre o propósito maior do Ministério da Educação que está em promover ensino de qualidade,
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além de estabelecer visão sistêmica da educação com o lançamento, no ano de 2007, do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Ações contempladas na Lei nº 9.394, de vinte de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a qual faculta em suas diretrizes que a escola proponha e aplique o seu currículo, levando em conta as peculiaridades locais, assim como as características dos estabelecimentos de ensino e a individualidade dos alunos. Associados a isso, surgem no ano de 1997 os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), publicados para que cada escola adapte seu currículo à realidade local e à faixa etária dos alunos. Portanto algumas diretrizes curriculares, elencadas ao Conselho Nacional de Educação (CNE) fazem referência à temática que versa sobre o meio ambiente, o que pode ser compreendido quando se menciona aspectos relevantes sobre natureza, paisagem, conhecimento ambientalecológico, meio ambiente e fenômenos naturais. A forma como são dispostas as diretrizes quanto à temática ambiental, causam limitações ao avanço do suprimento das necessidades relacionadas à busca pela sustentabilidade e à sobrevivência sadia da humanidade. Isto porque a transversalidade da Educação Ambiental (EA) não se limita ao meio ambiente, mas englobam questões como a erradicação da miséria, justiça social e ambiental, qualidade de vida e fatores que justificam uma atitude crítica e a busca da transformação do atual modelo de desenvolvimento econômico-social. Da Educação Ambiental (EA) A educação, sob a ótica da Constituição Federal/88 a qual prevê em seu Art. 205, caput, que é “direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade [...]” tendo como objetivo a formação de cidadãos que sejam capazes de exercerem cidadania em seu convívio social. No que diz respeito a EA o disposto no Art. 225, caput, da Constituição Federal/88 traz como prerrogativa, que todos tenham, “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Porém, como já é sabido, para melhor presumir a aplicabilidade da nossa carta magna, houve a criação da Lei 9795/99 a qual dispôs sobre a educação ambiental, instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), e dá outras providências. Logo conforme a referida Lei, temos que a educação consiste em processos que acompanham o desenvolvimento do ser humano, portanto, no que tange a EA mencionada na Lei 9795/99 no Art. 1º, entendemos: por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. É relevante mencionar que a EA está presente de maneira articulada em todos os níveis educacionais, com acessibilidade direta e amparada pelo poder público, conforme versa o Art. 3º inciso primeiro da Lei nº 9795/99: Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.
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Vimos que, alcançados ante a Constituição Federal, a obrigação do Poder Público de promover a EA, inserindo elementos indispensáveis ao exercício da cidadania ambiental, o legislador constituinte reconhece expressamente a relevância da EA e da educação pública na tutela do meio em que se vive. Mediante um processo de alfabetização ecológica será possível formar cidadãos que tenham responsabilidades ambientais, e esse é um passo essencial para garantir o uso democrático ambiental, uso de um bem público no qual se direito de todos. Concordemos com Dias (2003) quando menciona que grandes eventos sobre EA já vinham despertando princípios e práticas a respeito, mas o que teve em evidência com a disseminação do assunto foi a Conferência sobre Meio Ambiente Humano, realizado pela ONU em Estocolmo em 1972, um evento de grande repercussão, vultoso evento e impulsionador das diretrizes com contribuição das ideias de crescimento e desenvolvimento de uma política mundial de proteção ambiental. Contudo, no que se refere ao modo como a EA é concebida e realizada, este tipo de reflexão propiciada levou a se aceitar que há aspectos específicos do meio docente, que precisam ser discutidos para que as atividades tenham consequências concretas de transformação, para que não se promova apenas a boa fé ambiental, mas que haja sensibilização ou a transmissão de conteúdos da ecologia, para tanto se faz necessário entender a dinâmica social e a educativa. Do Amparo Legal O exercício da cidadania não se depara tão somente a vontade da pessoa humana, porém há legisladores que buscam em comum acordo, trazer ao nosso meio de convivência formalidades a serem cumpridas conforme as normas de condutas que foram propostas por muitos de nós, assim têm nas normas que versam sobre o meio ambiente, suas formas, no que diz respeito aos aspectos formal e o não-formal. Quanto à formalidade da Lei nº 9795/99 temos em seu Art. 9º, o entendimento da “educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privada, [...]”. Porém, a Educação Ambiental, enfoca o ensino programado das escolas, em todos os graus, seja no ensino privado ou público. As teorias sobre esse conceito recomendavam que o meio ambiente fizesse parte de um ensino interdisciplinar, em vez de constituir uma disciplina isolada. Previsto na Lei nº 9.795/99, que reza no seu art. 10, §1º, que “a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino”. Certamente foi um posicionamento onde há espaço para discussões sobre a prática educacional. Todavia, faz-se necessário que o corpo docente participe das tomadas de decisões para promover e ancorar programas, dar apoio técnico e coordenar recursos didáticos a serviço das várias disciplinas. Conforme consta na Lei 9.394/96 que versa sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, faculta a cada escola propor e aplicar seu currículo, levando em conta as peculiaridades locais, assim como as características dos estabelecimentos de ensino e a individualidade dos alunos. Em observância ao disposto na LDB, temos os PCN’s que trabalham parâmetros a serem norteadores didáticos em sala de aula, onde apresentam o meio ambiente tema transversal na educação formal, haja vista que este deve permear objetivos, conteúdos e orientações didáticas em todas as disciplinas, no período de escolaridade obrigatório. Analisando o aspecto não-formal, verificamos no Art.13 do caput da Lei 9.394/96 que trata da Política Nacional de Educação Ambiental, Milaré (2009), que depreende-se da “[...] educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente”.
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Logo o aspecto não-formal refere-se a ações educativas fora do ambiente escolar. Consta como educação permanente, com incentivo da Organização das Nações Unidas para a Educação e a Ciência (UNESCO), o fator de desenvolvimento humano continuado. Essa forma de educação tem aplicabilidade na educação popular, que contribui para aperfeiçoar a consciência dos problemas ambientais e para solucionar a partir de reflexões e debates dentro da própria comunidade em que o cidadão está inserido. Esperamos que a Educação Ambiental promovesse uma renovação de comportamentos e atitudes, em contrapartida teremos ambientes de convivência mais harmoniosos, promovendo qualidade de vida. A constituição da não formalidade no que diz respeito a EA, promove um conjunto de práticas e ações de natureza educativa, cujos objetivos são a sensibilização da coletividade que versem sobre as questões ambientais e a sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Tendo em vista ser um processo que integra e amplia os saberes empíricos da coletividade, onde a capacitação dos indivíduos para compreensão das diferentes repercussões das atividades do ser humano os torna aptos na defesa da qualidade ambiental conforme afirma Milaré (2009). Pode-se inferir que espaços para a EA não-formal são verificados em casas de cultura, diferentes associações civis, entidades sócio profissionais e até mesmo as diversas igrejas. Por ser um processo de socialização entre indivíduos com características semelhantes, porém, advindos de grupos sociais divergentes, suscitamos alguns pontos relevantes no trato da socialização, dentre os quais temos interesses diversos, que estão intrinsecamente ligados ao tipo de rotina de cada comunidade. Igualmente, podemos elencar que há espaços para que haja EA não-formal nas instituições governamentais e naquelas não-governamentais, porém, a possibilidade de se empreender o processo a partir de organizações não-institucionais, como é o caso de grupos espontâneos, requer procedimentos sequenciais e burocráticos, como por exemplo, autorização. No tocante aos princípios básicos da EA elencados no art. 4º da Lei 9.797/99, BESSA (2010) cita: I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio rural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III – o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII – o reconhecimento e o respeito á pluralidade e á diversidade individual e cultural, BESSA (2010, P. 258). Verificamos que se evidencia o caráter social da EA, voltada para o patrimônio da comunidade e o desvelo com as gerações futuras. Acresça-se que os procedimentos democráticos e participativos são nuances da lei que deve ser observados. Portanto enfatiza-se a visão holística do meio ambiente, a interdependência crescente da gestão ambiental com a qualidade e o destino dos elementos do meio natural com os fatores socioeconômicos, culturais, científicos e técnicos, a partir da inserção das pessoas nos processos naturais e sociais da vida sobre o planeta Terra. No que diz respeito à sensibilização pública, a EA se faz para a comunidade com a mesma. É notório, entretanto se faz necessário ressaltar que, sendo o meio ambiente patrimônio universal da humanidade, a educação para respeitá-lo e administrá-lo, deve ser realizada com a participação
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democrática da população. A questão ambiental é altamente pública e seu equacionamento exige a interferência dos cidadãos no debate e nas decisões. Logo, impor modelos com prática de cooperação da sociedade para que esta se adapte à vontade dos órgãos do Estado ou do poder econômico, deve-se ter o cuidado de conclamá-los à participação consciente no gerenciamento de questões, onde individual e coletivamente, lhes dizem respeito. De fato, consequentemente, o processo educativo a realizar-se com a comunidade e não para a comunidade, até porque na vivência ensino-aprendizagem, adequadamente estruturada, a pessoa é sujeito e não objeto da ação educativa. Os objetivos fundamentais da EA são elencados no art. 5° da Lei 9.795/99 aqui citados por BESSA (2010): I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II – a garantia de democratização das informações ambientais; III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV – o incentivo á participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V – o estímulo á cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI – o fomento e o fortalecimento da interação com a ciência e a tecnologia; VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Visto que se propõe uma compreensão integrada do meio ambiente e das múltiplas e complexas relações, a realidade não é verificada somente sobre os elementos naturais do meio físico, mas estendem-se as formas de organização do espaço sobre o planeta ao qual se relacionem com a presença e com a ação do ser humano. Como também vimos o estímulo ao fortalecimento da consciência crítica sobre a realidade global. A cidadania ambiental é destacada mediante o incentivo à participação de todos nos processos de preservação e recuperação da qualidade ambiental. Todavia faz-se indispensável à democratização das informações ambientais que não podem constituir privilégio de uma classe. É preciso ressaltar que sendo o meio ambiente um patrimônio universal, a educação para respeitá-lo e bem administrá-lo deve realizar-se com a participação democrática da população, e não com imposições que se deve tratar desta relação. Promover a integração da EA com a ciência e a tecnologia, tendo em vista que estas constituem fatores do desenvolvimento da Nação no rumo da sustentabilidade, possibilitará mudança estrutural relevante na sociedade brasileira, entretanto Bessa (2010) salienta que indagações quanto ao estabelecimento de objetivos demasiadamente extensos podem gerar frustração por não serem alcançáveis. Constata-se que a Política Nacional de Educação Ambiental volta-se para a integração da sociedade brasileira e do seu avanço no desenvolvimento humano. Isto, porém, deve concretizar-se no contexto amplo da vida planetária.
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Programas e Políticas Públicas Os meios pelos quais os indivíduos juntamente com sua coletividade conseguem obter êxito em seus anseios se fazem, através das políticas públicas constituídas e apresentadas ao poder público, que, consolidam valores, competências e habilidades, voltadas para a conservação do meio ambiente. Embora a norma constitucional seja ampla, levando a várias interpretações, concordemos com Canotilho & Leite (2010) que afirma que esta norma oferece embasamentos, os quais asseguraram a continuidade das relações entre os seres vivos e o meio ambiente. Contudo, as políticas públicas visam promover programas de abrangência nacional, que atendam ao bem-estar local, dependendo das peculiaridades de cada região e seu povo. Assim temos amparados na Constituição Federal a Lei de Política Nacional de Educação Ambiental, onde a impõem ao Poder Público a implantação da EA nos seus cursos públicos, proporcionando o desenvolvimento de projetos e programas ambientais nos aspectos formal e informal, de certa maneira que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista que no cumprimento legal as instâncias mencionadas, colaboram com o processo de conscientização ambiental, conforme consta no Art.3º, I da Lei 9.795/99: “Compete ao Poder Público, nos termos dos artigos 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente [...]. CANOTILHO E LEITE (2010, p. 259)”.
Portanto, se faz necessário rever e reestruturar os programas educacionais, incluindo nestes, educação formal e estudos da problemática ambiental, ensinando os alunos o básico da natureza, e principalmente, o entendimento completo e profundo dos ecossistemas terrestres e aquáticos, para se alcançar soluções concretas. Percebemos que o Poder Público, as empresas, os educadores, professores, alunos e a sociedade, devem se sensibilizar a necessidade de uma efetiva implantação da Educação Ambiental como disciplina no processo educacional moderno tanto na área privada como na pública, exigindo dos órgãos competentes a execução da nova legislação, e incentivar essa necessidade, e somente assim conseguiremos desenvolver uma sociedade que tenha coerência com os princípios básicos de preservação do meio ambiente e então conseguiremos qualidade de vida para uma sociedade em falência. Postura ética e socioambiental O comportamento ético ambiental é promovido pelo estudo dos juízos de valores da conduta humana em relação ao meio ambiente, sendo que os mesmos se valem da compreensão que o uma pessoa tem da necessidade de manter e preservar os recursos naturais, que são essenciais à sobrevivência de todas as espécies no planeta. Compreensão esta que está relacionada com a modificação do meio de convivência podendo ser físico, químico e biológico, ocasionado pela ação ou omissão de atividades comunitárias e industriais, as quais podem colocar em risco a vida no planeta. A extinção de todas as formas de vida deve ser uma preocupação do estudo de ética ambiental. A responsabilidade socioambiental deve ser pensada no campo da ética, uma vez que esta implica compromisso com o comportamento humano, respeitando os seus direitos, a justiça e a dignidade e com o planeta, comprometendo-se de forma responsável com a sustentabilidade da rede da vida. Ela deve se voltar para a promoção da cidadania e do bem-estar, tanto do público
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interno quanto do externo. As empresas precisam colocar seu conhecimento, seus instrumentos de gestão e seus recursos econômicos a serviço de seus colaboradores, dos membros da sociedade e da defesa do meio ambiente (TACHIZAWA, 2002). No percurso natural da Terra é necessária a construção de ética voltada ao futuro, visando uma ação global e transcendental. A execução efetiva da cidadania resolverá parte dos problemas ambientais, mediante a ética transmitida pela educação ambiental. Para entendermos essas causas de degradação faz-se necessário entender os problemas socioeconômicos e político-culturais e, em relação a esses conhecimentos, devemos tentar alterar as atitudes comportamentais dos indivíduos na sua fase inicial por meio da sua ética ambiental, como afirma De Paula (2007). Portanto, podemos verificar que alcançaremos a ética ambiental com a consciência ecológica fundamentada na educação ambiental. De fato, o exercício regular da cidadania proporcionará a melhoria da vida do ser humano nos grandes centros urbanos e rurais. Considerações Finais O presente artigo apresentou o convívio social do homem com o meio em que vive, tratando da responsabilidade socioambiental, amparada legalmente através de Leis e normas apreciadas pelo poder público sob a luz da Constituição Federal/88 e em conformidade à Lei a Lei 9.795/99. Esta trata da política nacional de educação ambiental, logo, verificamos que as políticas públicas que deliberam sobre o meio ambiente puderam ser assistidas e desenvolvidas por meio da educação ambiental, norteada como tema transversal, indicadas nos PCN’s para as escolas. Sobretudo conforme visto, o aparto legal não satisfaz por completo as necessidades pelas quais o homem e o meio ambiente vêm passando, assim é necessário que no exercício diário da cidadania, com políticas públicas voltadas para o meio ambiente, haja a interferência da ética no comportamento humano, para assim obter uma sociedade com participação ativa e consciente na defesa do meio ambiente. Referências BESSA, A. P. de. Direito Ambiental. 12. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. CANOTILHO, J. J. G.; LEITE, J. R. M. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. GHIRALDELLI JUNIOR, P. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2001. DE PAULA, J.L.M. Direito Ambiental e Cidadania. Leme: JH Mizuno, 2007. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 8 ed. São Paulo: Gaia, 2003. LUZURIAGA, L. História da Educação e Pedagogia. 16 ed. São Paulo: Nacional, 1985. MILARÉ, E. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 6. ed. rev., atual e ampliada São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. MEKSENAS, P. Sociologia da Educação: Introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. 13 ed. São Paulo: Loyola, 1988. NOVAIS, F. A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. In: DIAS, M. N. Brasil em perspectiva. 20ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1995. TACHIZAWA, T. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa – São Paulo: Atlas, 2002. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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ANÁLISE DA IDENTIDADE CONSTRUÍDA NA CANÇÃO: “EU SÓ QUERO É SER FELIZ” Flávio Benayon Mestrando em Linguística – UNICAMP Leonardo Alonso Mestrando em Literaturas – UFF O Estado Democrático de Direito é organizado de acordo com o princípio da soberania popular, que é concretizado pela escolha dos representantes da nação pelo voto direto, secreto, universal e periódico (art. 60 § 4, CRFB), não podendo ser objeto de emenda constitucional a proposta tendente a abolir ou modificar a eleição direta, sendo considerada uma cláusula pétrea. Assim, o Estado Democrático de Direito é regido pelas leis e os valores que emanam da sociedade, não sendo suficiente que uma norma seja legal para ser obedecida, pois é necessário que ela seja legítima. Há poucos anos atrás, o estado ditatorial previa o respeito irrestrito e total a lei, ainda que não emanada pelo povo, uma vez que não havia instituição democrática. A democracia está baseada em dois grandes pilares: a contestação pública e a participação. A contestação consiste na possibilidade de reclamar políticas públicas adequadas e aprimorar a consolidação das instituições de governo. Já a participação consiste no direito a ser representado por homens comprometidos com a gestão pública. Assim, o princípio da democracia é o que se estabelece entre os iguais, buscando-se a confiança mútua, a isenção de um poder arbitrário, coercitivo e violento. Para que ocorra a efetiva e plena concretização da democracia, faz-se necessário entender a concepção da identidade nacional, que comumente é seguida pela compreensão de uma história horizontalizada, capaz de descrever como unidade um tempo passado. A pós-modernidade irá repensar certos conceitos, entre eles a relação espaço/tempo, sobretudo após os efeitos da globalização, como aponta Stuart Hall (2011); a linguagem, após a ferida estruturalista promovida inicialmente por Saussure, também será fruto de reflexão, conforme esforços empreendidos por Derrida e outros. Seguramente, devemos observar a influência entre significado e significante, a arbitrariedade do signo linguístico e a existência do inconsciente – em termos Freudianos - como noções auxiliadoras da compreensão de uma língua que é insuficiente para dizer a totalidade da história; as reflexões sobre um espaço que é menos físico e mais constituído por interpelações ideológicas - em termos de Althusser: “A ideologia interpela os indivíduos como sujeitos”. (ALTHUSSER, p. 131). – também originou o início de uma ruptura com uma história linear, formada por um passado reconstituível em sua integralidade. Homi Bhabha irá possibilitar outra compreensão da história e da noção de espaço. Ao articular tais conceitos com a ideia de nação, uma ruptura será promovida. Bhabha afirma: [..] o espaço do povo-nação moderno nunca é simplesmente horizontal. Seu movimento metafórico requer um tipo de “duplicidade” de escrita, uma temporalidade de representação que se move entre formações culturais e processos sociais sem uma lógica causal centrada. E tais movimentos culturais dispersam o tempo homogêneo, visual, da sociedade horizontal. (BHABHA, 2010, p.201)
Assim, compreende-se que o esforço pela constituição de um “povo”, isto é, de uma representação nacional – homogênea e horizontalizada – não é isenta de interesses de classe. A
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constituição material da história de uma nação é dada por um confronto de narrativas, assim, podese inferir que a luta de classes também é uma luta discursiva. Aqui, não se almeja limitar a constituição de lugares discursivos das classes, pois, como ressalta Stuart Hall, “[a]s pessoas não identificam mais seus interesses sociais exclusivamente em termos de classe” (HALL, p. 21). No tempo da fragmentação há o surgimento de novas identidades. Coadunando o estudo dessas novas identidades com a literatura, planeja-se, neste trabalho, analisar as posições fronteiriças, palco de conflitos discursivos onde há a negociação entre as diferenças indenitárias. O corpus deste trabalho será a música “Eu só quero é ser fe1iz”, composta pelo grupo Rap Brasil. O foco será a análise da identidade constituída na canção, porém, é preciso lembrar que a materialidade discursiva faz parte da posição que diferentes estilos musicais ocupam no imaginário social, assim, basta dizer que o funk, semelhante à situação do samba no início do século XX, atualmente, é em alguma medida estigmatizado culturalmente. A música se refere à produção de uma identidade específica, autodenominada “pobre”, na qual corresponde um espaço e um tratamento social específico: “Pois moro na favela e sou muito desrespeitado”. A identidade de tal sujeito é constituída através de uma relação de oposição com outra, a dos ricos, ao mesmo tempo em que revela o lugar ocupado pela posição pobre: “Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela, / O pobre é humilhado, esculachado na favela”. Assim, pode-se afirmar, ocorre uma negociação do lugar ocupado pela construção de tal identidade perante o lugar ocupado pelas identidades hegemônicas, no caso, os ricos. Aqui, deve-se observar a própria música como criação de um espaço fronteiriço que conduz uma voz em busca de certa negociação - no caso, as condições de existência dessa identidade minoritária. A apropriação cultural de uma identidade hegemônica que diz do lugar do Rio de Janeiro como Cidade Maravilhosa é apresentada quando deparada com uma imagem antagônica, que revela outra visão da cidade: “Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela, / Só vejo paisagem muito linda e muito bela”. A partir de uma posição fronteiriça, a identidade constituída na música rediz o presente através da pobreza e da violência que existem fora de uma imagem nacional de riquezas e belezas naturais. A identidade totalizante da alegria carioca é contraposta a uma nova realidade, que, ao mesmo tempo em que constrói um novo espaço, reivindica um novo lugar, no futuro: “O povo tem a forca, precisa descobrir, / Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui”. Desse modo, as palavras de Bhabha devem ser citadas, objetivando sintetizar o motivador do espaço de confronto aberto pela canção: “Mais uma vez, é o desejo de reconhecimento, ‘de outro lugar e de outra coisa’, que leva a experiência da história além da hipótese instrumental” (BHABHA, 2010, p. 29). Até o momento, dois pontos centrais podem ser constatados: primeiramente, a constituição de um novo sujeito que corresponde a uma voz minoritária, a uma identidade em confronto; secundariamente, a reunião de diferenças em uma única designação – pobre, obliterando a fragmentação existente no interior de tal denominação. Antonio Gramsci rompe com a dicotomia clássica entre a sociedade civil e o Estado, pois ele tende a situar as esferas da sociedade civil e da sociedade política no âmbito de uma totalidade orgânica que ele chama de “superestrutura”. Deste modo, Gramsci diferencia a superestrutura em dois níveis de relações materiais: a primeira é a sociedade civil, que consiste no conjunto de organismos internos e privados, que abrange a complexidade das atividades culturais e ideológicas. A segunda relação material é a sociedade política ou Estado, que corresponde a dominação de um grupo dirigente, que se expressa por meio da força e de coerção. Portanto, segundo Gramsci, o Estado “é a sociedade política mais sociedade civil, ou seja, uma hegemonia protegida pela coerção” (Gramsci apud WOLKMER, 2003, p. 69). As noções de “objeto pedagógico” e “performance narrativa” devem ser observadas a fim de se aprofundar a análise do corpus em questão; para tanto, cita-se Bhabha:
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 15 de 140 [...] a nação se transforma de símbolo da modernidade em sintoma de uma etnografia do “contemporâneo” dentro da cultura moderna. Tal mudança de perspectiva surge de um reconhecimento da interpelação interrompida da nação, articulada na tensão entre, por um lado, significar o povo como uma presença histórica a priori, um objeto pedagógico e, por outro lado, construir o povo na performance narrativa, seu “presente” enunciativo, marcado na repetição e pulsação do signo nacional. (BHABHA, 2010, p. 209).
Ao utilizar o sentido de “objeto pedagógico” para analisar o aparato repressor nacional, verifica-se a circulação histórico-ideológica de sua representação como defensores da lei, implementadores de uma legitimidade democrática e da justiça. Ao se considerar a noção de performativo, observa-se na música o deslocamento daquela representação das forças repressoras para um organismo que humilha e comete violência, em vez de garantir a “paz”: “ Diversão hoje em dia, nem pensar./ Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar./ Fica lá na praça que era tudo tão normal,/ Agora virou moda a violência no local.”(grifo nosso). Outro descentramento e disputa fronteiriça em relação ao pedagógico residem no deslocamento da favela enquanto lugar inabitável. O performativo se torna claro em “Eu só quero é ser feliz, / Andar tranquilamente na favela onde nasci, é.”, de modo que a favela transforma-se em lugar habitável, provocando um conflito identitário quanto ao espaço. Por meio dos conceitos apresentados, conjuntamente com trechos da música aqui trabalhada, tentou-se mostrar a produção de uma nova identidade e suas estratégias de negociação de espaço e poder. O sujeito não está definido, pois as identidades culturais estão sempre em jogo. Quando as esferas do público e do privado estão em conflito, a ideologia burguesa através do poder coercitivo do Estado tenta impor a hegemonia cultural, pois as diferenças perturbam o sistema pré-ordenado. A identidade cultural está em trânsito por meio da estratégia de contestação e afirmação. Dessa forma, é comum ocorrer a ambivalência quando a identidade cultural está sofrendo uma pressão econômica e cultural, sendo utilizada uma estratégia que visa representar ou buscar uma inviável percepção de identidade homogênea. É necessário olhar o estudo histórico tradicional com ressalvas, pois ao agenciar essas temporalidades que estão em um fluxo contínuo, a ideia de um cânone, tradição ou a homogeneidade cultural se incorpora a um discurso autoritário e coercitivo. Será possível dialogar com uma cultura hegemônica? Sim. Como observamos, é possível tal mediação através do diálogo com outras fontes, tal como o Funk, uma vez que as identidades culturais estão em jogo. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ALTHUSSER, Lois. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. In.: Zizek (Org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto,1996. BHABHA, Homi. Introdução: locais da cultura. In: O local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. __________. Disseminação: o tempo, a narrativa e as margens da nação moderna. In: O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Editora Contexto, 2006. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2011. Rap Brasil. Eu só quero é ser feliz. In: www.letras.mus.br/rap-brasil/564946/, acessado em 06/10/2014. WOLKMER, Antonio Carlos. Ideologia, estado e direito. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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TURISMO PEDAGÓGICO NO ÂMBITO ESCOLAR: PROMOVENDO O CONHECIMENTO E A VALORIZAÇÃO DA CULTURA LOCAL E REGIONAL Francisco Diego Mendonça Medeiros4 Janaina Luciana de Medeiros5 Mayara Ferreira de Farias6 Resumo O Turismo Pedagógico é conceituado por envolver o indivíduo com o ambiente prático, é um método inovador que contribui para o processo de ensino aprendizagem, por ser um estimulo para os aprendizes. A técnica desenvolvida, em especial, as aulas passeio proposta pelo educador francês Celéstin Freinet foi criada para despertar nos alunos a consciência de seu meio, incluindo os aspectos sociais e de sua história. Nesse contexto, o atual trabalho teve o seguinte objetivo geral: Apresentar a importância do Turismo Pedagógico como método facilitador para o processo de ensino aprendizagem, com maior atenção na conscientização e valorização da identidade cultural dos indivíduos. Diante disso, por ser um método inovador na área da educação, definiu-se esse projeto, visando a implementação na grade curricular como atividades extracurriculares de escolas do ensino público. Para tal, foi realizada uma apresentação em promoção da função do Turismo Pedagógico, seguido de aplicação de questionários, para professores da Escola Estadual Capitão Mor Galvão, situada na Cidade de Currais novos/RN, com a finalidade de apurar a aceitação dos professores sobre o tema exposto. Como resultado principal, foi constatada a total aceitação dos professores em utilizar o Turismo Pedagógico como ferramenta no processo de ensino aprendizagem. Conclui-se, portanto, a necessidade da divulgação e esclarecimento em diferentes âmbitos educativos, para que o Turismo Pedagógico seja compreendido e posto em pratica. Palavras-Chave: Turismo, Turismo Pedagógico, Ensino aprendizagem, Conscientização Cultural. Abstract The Pedagogical Tourism is conceptualized by the individual involved with the practical environment, is an innovative method that contributes to the process of teaching and learning, as a stimulus for apprentices. The technique developed in particular the proposed tour classes by French educator Célestin Freinet was created to foster in students an awareness of their environment, including social aspects and its history. In this context, the present study had the following general objective: To determine the importance of the Educational Tourism as a facilitator method to the process of teaching and learning, with greater attention to the awareness and appreciation of cultural identity are single. Therefore, being an innovative method in education, set up this project, aimed at implementing the curriculum as extracurricular activities of public education schools. For such a presentation on promoting function of the Pedagogical Tourism, followed by questionnaires was held for teachers of the State School Capitão Mor Galvão, located in the Currais Novos / RN, in order to ascertain the teachers' acceptance of the subject exposed. As a main result, total acceptance of teachers to use the Educational Tourism as a tool in the teaching and learning process was observed. It follows, therefore, the need for disclosure and clarification in different educational settings, so that the Pedagogical Tourism is understood and put into practice. Keywords: Tourism, Educational Tourism, Education Learning, Cultural Awareness.
Aluno do Curso Técnico em Guia de Turismo da UFRN/EAJ. Professora do Curso Técnico em Guia de Turismo da UFRN/EAJ. 6 Professora do Curso Técnico em Guia de Turismo da UFRN/EAJ. 4 5
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Introdução O presente trabalho trata-se de uma proposta aos professores da Escola Estadual Capitão Mor Galvão em Currais Novos/RN, com o intuito de sugerir a implementar o turismo pedagógico como um segmento novo na grade curricular da escola, por meio de aulas práticas, aulas passeios, aulas de estudo e aulas visitas que contribuam na formação de cidadãos com conhecimento da cultura da qual fazem parte. Assim, esse projeto busca beneficiar gestores, professores e alunos de escolas da rede pública, bem como de desenvolver o conhecimento e valorização da cultura local e regional com a utilização de métodos inovadores. Outrossim, o presente projeto ressalta os benefícios que o turismo pode vir a trazer para Região Seridó através da valorização dos profissionais da área do turismo que aqui vivem. O Projeto poderá ser aplicado inicialmente na cidade de Currais Novos/RN e posteriormente em todo o Rio Grande do Norte, promovendo assim, uma maior abrangência. Para tal, o presente trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas e virtuais e seus resultados trarão a conscientização de entidades do setor pedagógico sobre a importância do Turismo Pedagógico na aprendizagem. Como relevância pessoal destaca-se o fato de o presente elaborador do projeto, achar que no ensino fundamental e médio ainda não há ações efetivas de realização de atividades de campo com base no turismo pedagógico na teoria do ensino, além da falta de visitação em ambiente de âmbito turístico, valorizando a cultura local. Sua relevância acadêmica traz a importância do conhecimento da área ao qual o projeto se insere, mostrando para futuras pesquisas que o fenômeno turístico pode vir a ser um método de ensino que contribua positivamente no processo da construção do conhecimento de indivíduos. Os tópicos que discutidos no trabalho foram os seguintes: Turismo; Turismo Cultural; Turismo Pedagógico e Turismo Pedagógico na promoção do conhecimento e valorização da cultura local e regional. Fundamentação teórica Turismo e seus conceitos Sabe-se que não há uma única definição de Turismo. Alguns estudiosos o definem como um ramo das ciências sociais e outros como das ciências econômicas. A Organização Mundial de Turismo (2011) o define como "as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros". Como em todo negócio existem dois lados, a oferta, definida como as relações de variação entre preço e quantidade e, a demanda, entendida como a quantidade de produto, que o mercado está disposto a consumir a um determinado preço, pode-se dizer que a definição de Mathieson e Wall (2011) é mais completa, pois consideram que "o turismo é o movimento temporário de pessoas para destinos fora dos seus locais habituais de trabalho e residência, as atividades desenvolvidas durante a permanência nesses destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades". Evidenciando, assim, a complexidade da atividade turística e as relações que esta envolve.
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Como o Turismo é, por conseguinte, muito abrangente, existe sua segmentação que é entendida como uma maneira de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Nesta segmentação estão: Turismo Social, Ecoturismo, Turismo Cultural, Turismo de Esportes, Turismo de Pesca, Turismo Náutico, Turismo de Aventura, Turismo de Sol e Praia, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo Rural, Turismo de Saúde e o turismo pedagógico. Como mostra Beni (2006, p.163): A melhor maneira de se estudar o mercado turístico é por meio de sua segmentação, que é a técnica estatística que permite decompor a população em grupos de igual gênero e natureza, e também a política de marketing que divide o mercado em partes homogêneas, cada uma com seus próprios canais de distribuição, motivações diferentes e outros fatores. Essa segmentação possibilita o conhecimento dos principais destinos geográficos e tipos de transporte, da composição demográfica dos turistas, como faixa etária e ciclo de vida, nível econômico ou de renda, incluindo a elasticidade – preço da oferta e da demanda e da sua situação social, como escolaridade, ocupação, estado civil e estilo de vida.
Sendo assim, o turismo transcende as esferas das meras relações da balança comercial conclui-se então que turismo é a realização de viagens para local diverso do qual a pessoa more, seja a lazer, passeio, negocio, religião ou outra atividade diversa da econômica. Turismo Cultural: uma breve contextualização Cultura vem do latim colere, que significa cultivar. Na definição de cultura se engloba aspectos como a arte, os costumes, as crenças, o conhecimento, a lei, a moral e todas as aptidões adquiridas pelo homem passadas de geração para geração, tanto em âmbito familiar como da sociedade que ele faz parte. O Dicionário Aurélio (1980) aborda que “Cultura” é: 1. Ato, efeito ou modo de cultivar. 2. Cultivo. 3. O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade: civilização. 4. O desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento desses valores; civilização, progresso. 5. Apuro, esmero, elegância. 6. Criação de certos animais, em particular os microscópicos.
Além disso, pode-se inferir que no Brasil possui um grande patrimônio cultural diversificado e plural. Com essa grande oferta cultural, o turismo visualiza a oportunidade de estruturação de novos produtos turísticos. Trazendo assim, o aumento do fluxo de turista em determinada região, criando uma maior procura e consequentemente uma maior oferta de produtos capaz de promover e preservar a cultura brasileira. Surge, então, uma das segmentações do turismo, o turismo cultural. O Ministério do Turismo (2015), por sua vez, conceitua o turismo cultural como “atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais da cultura”. Sendo assim, é necessária a especificação da oferta (em relação à demanda) para melhor produtividade e promoção de determinada área. Nesta perspectiva, pode-se inferir que os principais atrativos do Turismo Cultural são:
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- sítios históricos – centros históricos – quilombos – edificações especiais – arquitetura – ruínas – obras de arte – espaços e instituições culturais – museus – casas de cultura – festas - festivais e celebrações locais – gastronomia típica – artesanato e produtos típicos – música, dança, teatro, cinema – feiras e mercados tradicionais – saberes e fazeres – causos – trabalhos manuais – realizações artísticas – exposições, ateliês – eventos programados – feiras e outras realizações artísticas, culturais, gastronômicas – outros que se enquadrem na temática cultural Logo, se observa que a identidade conferida pela existência de atividades, práticas e tradições. Turismo Pedagógico: qual funcionalidade? O Turismo Pedagógico se oficializou de forma organizada a partir da metade do século XIX. Bonfim (2010, p.122-123), apresenta algumas características do Turismo Pedagógico como algo que “compartilha com a ideia e uma educação diferenciada, voltada principalmente aos interesses de um mundo melhor, da busca pela qualidade de vida e da conservação de bens e recursos naturais, culturais e ambientais”. Percebe-se que ele tem semelhanças com outros segmentos do turismo como mostra Milan (2007, p.26): (...) o Turismo Pedagógico apresenta como uma das recentes modalidades do mercado turístico relacionados às viagens de estudo. Entretanto exibe em seu aspecto conceitual uma série de confusões de ordem semântica e metodológica, sendo denominado como Turismo Educativo, Turismo Educacional, Turismo Estudantil, Turismo do Meio, entre outros.
Entretanto, ele segue uma mesma linha que foca em ensino-aprendizagem. Sua interdisciplinaridade utilizando o ambiente como material didático, promovendo então a abordagem das mais variadas disciplinas, contribui para real absorção do conteúdo adquirido nas aulas teóricas. Tanto o indivíduo, a educação e a ciência se beneficiam com essa interdisciplinaridade que o turismo em si trás. A aula passeio, que é uma das práticas do turismo pedagógico, possui três objetivos fundamentais como mostra Elias (1996, p.180): Uma maior autonomia vivendo situações reais e assumindo novas responsabilidades, descobrindo suas próprias capacidades em situações desconhecidas; Ampliar o campo das investigações, chegando a descobertas múltiplas, inesperadas e interessantes; Privilegiar, sobretudo o encontro como o outro de maneira diferente daquela do dia- a dia na escola. Encontro com o coleguinha que não brinca com ninguém, com a professora sempre apressada, com os acompanhantes carinhosos e os monitores atenciosos, promovendo uma troca afetiva e a tomada de consciência de valores sociais importantes para a vida de todos.
No Brasil, essa modalidade do turismo é recente, porém é uma das que crescem cada vez mais, pois ela é também uma das ações que contribuem com a prática sustentável, uma vez que visamos em longo prazo, permite com que os viajantes desfrutem de um contato direto com a população local, problematizando a relação homem contemporâneo, cultura e natureza. Torna-se, então, uma das modalidades mais amplas do turismo, englobando o ensino-aprendizagem, a sustentabilidade e a geração de comércio.
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Turismo Pedagógico na promoção do conhecimento e na valorização da cultura local e regional Aproveitando-se do ambiente fora de sala de aula, as explanações in loco permitem uma liberdade maior aos estudantes, visto que elas serão feitas com uma linguagem menos formal e adequada a cada tipo de grupo e assim, pode-se estimular a socialização das ideias, a construção coletiva do conhecimento, contrapor as teorias vistas nas escolas e a realidade e, sensibilizá-los quanto às responsabilidades individuais frente aos problemas. Sendo assim, o turismo se torna uma ferramenta auxiliar na compreensão, contextualização e fixação das aulas, ao passo que modifica a dinâmica de exposição de temas. Conforme a Paraty Pedagógico (2015), pesquisas demonstram que nós lembramos 20% daquilo que escutamos 50% daquilo que vemos e 80% de tudo que fazemos. Ou seja, a experiência é mais bem aproveitada quando envolve a participação ativa de todos os interessados. Trazer o aluno para um ambiente novo, e desenvolver um trabalho relacionado às experiências vividas resultam em um melhor aprendizado. Desta forma, os educadores devem pensar em diversos quesitos que podem ser abordados nas viagens, quais os locais onde se pode ter contato direto com determinadas situações e, principalmente, a relação destes com os assuntos que já foram ou serão tratados, tendo em vista o crescimento pessoal e profissional dos indivíduos envolvidos através da motivação e mudança de atitudes. Contudo, tem-se que refletir com relação a que tipo de cidadãos que a sociedade necessita. Bonfim (2010, p.122-123), apresenta o Turismo pedagógico como algo que “compartilha com a ideia e uma educação diferenciada, voltada principalmente aos interesses de um mundo melhor, da busca pela qualidade de vida e da conservação de bens e recursos naturais, culturais e ambientais”. A proposta de implementar o turismo pedagógico na grade curricular do âmbito escolar das escolas públicas da cidade de Currais novos no Rio Grande do Norte como um método inovador, tirando os alunos da inércia e da comodidade, para problematizarem o cenário apresentado, trabalhando de modo diferenciado. Esses projetos interdisciplinares proporcionam aos alunos e professores um conhecimento da realidade física, social e cultural dos locais visitados, estabelecendo um diálogo inteligente com o mundo, com o intuito de verificar e produzir novos conhecimentos. Inicialmente pretende-se fazer visitações em ambientes importantes para a melhor absorção dessas informações como: lugar do surgimento da cidade, primeiros prédios, museus, antigas comunidades para ouvir as lendas e histórias dos primeiros moradores, mostrando a evolução dos aspectos culturais e a permanência de algumas características próprias. Conforme for adicionando conhecimento ir aumentando a oferta de conteúdo, expandindo para cidades vizinhas e assim por diante, chegando então a história geral do RN, promovendo o turismo e formando a ideia principal, formação de cidadãos conscientes do quão vasta e rica é nossa cultura e nosso valor histórico para o Brasil. Metodologia Para a construção do presente projeto, foram adotados alguns procedimentos metodológicos necessários para se obterem respostas aos questionamentos e aos objetivos propostos inicialmente: Compreender e explicar a importância da Utilização do Turismo Pedagógico no âmbito escolar para promover o conhecimento e a valorização da cultura local e regional. Adotando assim, a realização da pesquisa bibliográfica, pesquisas em livros, sites que
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tratam das temáticas: Turismo, Turismo Cultural e Turismo Pedagógico garantindo o conhecimento científico adequado. Sendo assim, tem-se como passo inicial para a pesquisa dos determinados temas selecionados a pesquisa bibliográfica que auxiliaram na formação da ideia principal e no desenvolvimento do projeto que se tem em mente. A pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Para tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação (BOCCATO, 2006, p. 266).
Para avaliar se o problema proposto pelo tema foco do trabalho tem condições de ser desenvolvido, são necessárias algumas perguntas, de acordo com Gil (2007, p.62): • O tema é do interesse do pesquisador? • O problema apresenta relevância teórica e prática? • A qualificação do pesquisador é adequada para seu tratamento? • Existe material bibliográfico suficiente e disponível para seu equacionamento e solução? • O problema foi formulado de maneira clara, precisa e objetiva? • O pesquisador dispõe de tempo e outras condições de trabalho necessárias ao desenvolvimento da pesquisa? A partir das respostas a essas questões, é que o pesquisador poderá compor o plano provisório do assunto em questão, e consequentemente ir moldando-o de acordo com os resultados das pesquisas elaboradas, transformando assim no plano definitivo. Para alunos do 5º período de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás o pesquisador deve: Ser um bom leitor. possuir também um bom vocabulário Ser um bom leitor. Por essa qualidade entende-se aquele sabe o que deve ler e primeiro plano (documentos gerais ou trabalhos específicos). Ele deve possuir também um bom vocabulário (o que enriquece o futuro texto e desatola a leitura) assim como uma boa capacidade de fixação no texto e do texto. Não podemos nos esquecer que um bom leitor tem uma velocidade adequada à leitura de vários textos (CARVALHO, et. al, 2004).
Foi necessária também, a metodologia realizada no trabalho de campo, utilizada para maior aprofundamento na pesquisa devido o contato real com o meio pesquisado. Realizando assim, uma apresentação em power point contendo o conceito geral do turismo, suas segmentações, especificando a segmentação do atual projeto - Turismo Pedagógico, dados de pesquisa com seu desenvolvimento no nicho de mercado. A partir dessa concepção, foi direcionado o foco para a cultura local e regional, demonstrando formas em que poderiam ser realizado e, por fim, comparando dados de determinada pesquisa dos diferentes modos de ensino aprendizagem. Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. No estudo de campo, o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é
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Dessa forma, sua realização necessitou de mais tempo, já que foi cometida por apenas um pesquisador para analisar e interpretar os resultados da pesquisa. Como mostra Vergara (2000, p.47), pesquisa de campo é investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante ou não. No caso do atual trabalho, foi levantado um questionamento, em relação ao conteúdo exposto após a realização da palestra, sobre a opinião dos professores do ensino médio das disciplinas de História e Geografia, por serem disciplinas ligadas diretamente com a cultura. A partir dessas técnicas de coleta, análise e interpretação dos dados, foi comparado o caráter metodológico quantitativo e qualitativo: De fato, os métodos quantitativos são precários em termos de validade interna (nem sempre sabemos se medem o que pretendem medir), entretanto são fortes em termos de validade externa: os resultados adquiridos são generalizáveis para o conjunto da comunidade. Ao contraio, os métodos qualitativos tem muita validade interna (focalizam as particularidades e as especificidades dos grupos sociais estudados), mas são débeis em termos de sua possibilidade de generalizar os resultados para toda a comunidade. Por isso, é muito importante poder contar achados obtidos com métodos quantitativos e qualitativos, que permitem garantir um razoável grau de validez externa e interna (MACHADO, 2010, P. 3).
Dessa forma o caráter dessa pesquisa é qualitativa levando em consideração a complexidade da realidade social. Resultados Foi realizada uma apresentação para os professores do ensino médio das disciplinas de História, Geografia e Português. Escolheu-se a Escola Estadual Capitão Mor Galvão, por ser uma escola com 104 anos, que já passou por reformas e que atualmente tem utilizado a prática do ensino inovador. Na escola foi exposta a temática do projeto através de slides ao qual o palestrante foi esclarecendo os tópicos e debatendo o assunto com os professores. Após a finalização da apresentação, foi realizado um questionário com os professores de 4 questões, para saber qual a aceitação dos mesmos em relação a proposta. A primeira pergunta buscava saber se após a apresentação do trabalho, os professores passaram a considerar o turismo pedagógico como um método inovador que contribui para formação de cidadãos conscientes de suas características culturais, e justificar tais respostas. Na segunda pergunta, foi levantada qual a forma que essa segmentação do turismo poderia contribuir para suas disciplinas. Sequencialmente, questionou-se na terceira pergunta, como e onde poderiam ser realizadas as aulas práticas. Para concluir o questionário, na quarta pergunta foram apuradas suas opiniões sobre quais pontos positivos e negativos encontrados na apresentação, e se possível, dar suas opiniões de como deveria ter sido abordado o tema.
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Nos quadros a seguir encontram-se os discursos desses profissionais, em relação a cada pergunta citada acima: Quadro 1 - Respostas de Iracema Cleonildes, Profª da disciplina de Geografia Qu Respostas estões 1
Sim. Numa perspectiva de que o turismo pedagógico possibilita enriquecimentos culturais.
2
Na valorização do universo cultural do aluno fruto de seu aprendizado diante da interação de diversos agentes culturais.
3
Em lugares históricos, culturais e ambientes que engrandeça os conhecimentos do aluno.
A preocupação em pouco tempo de repassar os objetivos e necessidades do turismo 4 como um método inovador na contribuição do fazer pedagógico na área. Fonte: Dados da pesquisa, 2015. Quadro 2 - Respostas de Dilse Alves Profª da disciplina de História Qu Respostas estões Inovar é sempre positivo quando se tem retorno satisfatório em qualquer situação, porém, acredito que em relação a educação é melhor ainda. Desenvolver atividades 1 que resgatem os aspectos artísticos e culturais de nossa gente, nos leva a uma viagem no tempo. Contudo, essa proposta TURISMO PEDAGÓGICO apresentada pelo formando Francisco Diêgo Mendonça Medeiros, no dia 26 de março de 2015 realizado na esc. Est. Capitão Mor Galvão na presença das professoras de história, geografia e a professora da sala multimídia, deixou a entender que o fazer Turismo Pedagógico vem somar a nossa prática docente, na contribuição para o processo ensino aprendizagem, pois vai unir a teoria com a prática tornando o ensino mais agradável, significativo e de fácil assimilação. Em relação a disciplina de história tem tudo a ver, pois a história visa o estudo do 2 passado da humanidade e seu relacionamento com o presente, é acima de tudo uma ciência que estuda as transformações e as permanências, daí compreender a história de perto, além dos livros, muito além das salas, possibilita uma interação mais próxima dos fatos históricos, dos acontecimentos e das épocas que ocorrem tais fatos. Sabe-se que atualmente a disciplina de história integra conteúdos de cultura do RN, 3 portanto, é relevante estudar assuntos referentes a nossa localidade, qualquer que seja onde a nossa localidade faz história ou tem história, será válido, levando comigo uma bagagem de conhecimentos e compreendendo de perto por meio de visitas, tal importância. 4 Foi surpreendente, gostei muito, pois o formando demonstrou segurança no que apresentou. Fonte: Dados da pesquisa, 2015. A partir da observação, debate com os professores e do recolhimento e análise dos relatórios após a apresentação, pode-se constatar a total aceitação dos professores na utilização do turismo pedagógico como método inovador no processo de ensino aprendizagem e contribuinte na construção e enriquecimento dos conhecimentos culturais.
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A seguir, têm-se alguns momentos da realização da aplicação prática, como forma de melhor ilustrar o trabalho realizado: Imagem 01. Apresentação da proposta do projeto.
Fonte: DADOS DA PESQUISA (2015). Imagem 02. Explicando os tópicos da apresentação.
Fonte: DADOS DA PESQUISA (2015).
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Imagem 3. Debatendo o conteúdo exposto.
Fonte: DADOS DA PESQUISA (2015). Conclusão Diante dos resultados alcançados com esse estudo, ressalta-se que o Turismo pedagógico pode e deve ser uma alternativa metodológica no processo de ensino aprendizagem, e que possibilita a construção da valorização da identidade cultural dos indivíduos da cidade de Currais Novos/RN e de todo o estado, que é uma área provida de potencial histórico, cultural e turístico. Foi solicitada a presença dos professores das disciplinas de história, geografia, português, sendo que essa ultima foi substituída pela professora da sala de multimídia que já lecionou na área, pois a mesma não estava presente, pretendia-se também a presença dos professores das disciplinas de filosofia e artes, mas ambos não estavam disponíveis. Outra preocupação constante, foi repassar de forma clara e objetiva todos os pontos da apresentação, pois a hora que foi disponível pela direção foi em horário de aula. No entanto, nenhuma dessas limitações interviu com os resultados finais. A partir do momento da prática do atual projeto, pretende-se a atuação das aulas passeios com alunos do ensino médio, por um determinado tempo, e durante essa atuação, a análise da absorção da bagagem cultural que esses alunos estão ou não adquirindo. Para, dessa forma, com resultados positivos sugere-se, então, instigar todas as escolas para utilização do turismo pedagógico em suas grades curriculares. Estimula-se, então, aos que fazem ou desejam fazer parte da educação, executar a teoria e em seguida a prática, para levar os alunos além dos livros e do ambiente rotineiro.
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ESTABELECENDO A COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DE RECURSOS EXPRESSIVOS: QUE LÍNGUA É ENSINADA NA ESCOLA? Hérica Romena Do Carmo7 Mayara Ferreira de Farias8 Mayane Ferreira De Farias9 Heridan Guterres10 Resumo O ato de comunicação é algo que todos os responsáveis pela utilização da linguagem em determinada instância, devem estar a par do código e do sistema linguístico utilizado para poder compreender a mensagem necessária. Os antigos sistemas sociais baseados em estruturas sociais tradicionais da educação perdem forças no ensino da linguagem, uma vez que as práticas educativas tendem a reproduzir sistemas arcaicos que limitam sua utilização e, consequentemente, o processo de comunicação. O presente artigo tem como objetivo observar a interação entre os alunos e a linguagem ensinada na escola, enfatizando as maneiras em que essa interação interfere na qualidade da aprendizagem dos mesmos. O trabalho objetiva, ainda, analisar a situação real da língua na sociedade focalizando fatores expressivos da linguagem que auxiliam em sua trajetória escolar e que influenciam as suas vidas, enquanto cidadãos. Palavras-Chave: Linguagem. Comunicação. Contexto escolar. ESTABLISHING COMMUNICATION BY EXPRESSIVE FEATURES THAT TONGUE IS TAUGHT IN SCHOOL? Abstract The act of communication is something that all responsible for the use of language in a given instance, must be aware of the code and the language system used in order to understand the trick. The old social systems based on traditional social structures of education lose strength in the teaching of language, since the educational practices tend to reproduce archaic systems that limit their use and, consequently, the communication process. This article aims to observe the interaction between students and the language taught in school, emphasizing the ways in which this interaction interferes with the quality of learning them. The referent study aims also to analyze the real situation of language in society focusing on expressive language factors that assist in their school and that affect their lives as citizens. Keywords: Language.Communication.School context.
7Formada
em Pedagogia e em Letras Português /Literatura pela Universidade Estadual do Maranhão, Centro de EstudosSuperiores de Caxias. Pós-graduada em Processo de Ensino e Aprendizagem em Línguas: Portuguesa, Inglesa e Espanhola, pelo Instituto de Ensino Superior Athena 8 Estudante de Letras/espanhol pelo IFRN. Mestre e bacharel em turismo pela UFRN. Guia de Turismo Regional pelo SENAC. Técnico em informática pelo IFRN. Graduada em Filosofia pelo ISEP. 9 Graduanda em Licenciatura em Computação e informática pela UFERSA. Bolsista PIBID na UFERSA. 10 Orientadora do Instituto de Educação Athena.
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Introdução Há toda sorte de preconceitos sociais e nacionalistas associados com a língua, e muitas falsas concepções populares, estimuladas pela versão deformada da gramática tradicional que é comumente ensinada nas escolas. E é realmente difícil libertarmos nossa mente desses preconceitos e dessas falsas concepções: mas esse primeiro passo é necessário e compensador. (John Lyons, 1968) 11
Afinal, o que é a língua? Como utilizá-la e com que finalidade? O que nos dizem os parâmetros curriculares, norteadores sobre essa prática social? O que a escola ensina ao seu respeito? Não é difícil encontrar-se um relativo conjunto de opiniões a respeito da crítica situação educacional brasileira, mais especificamente do ensino da língua materna. Para o desenvolvimento da capacidade de compreensão dos diferentes conteúdos com os quais o discente se defronta, é preciso uma organização do trabalho educativo que reflita os recursos expressivos da linguagem, para que este experimente isso na escola e saiba lidar com diversas situações no seu dia-a-dia. Deve fazer parte do currículo escolar não só a aproximação do aluno à linguagem da escola, mas também da sua própria linguagem, que lhe é inerente e individual. Conceituar a língua, não é tão simples como se possa imaginar, dada a sua complexidade, portanto por mais coerente que se possa ser, optou-se como ponto de partida a definição dessa prática como um “sistema de relações que, num idioma, se manifesta na organização de seus diferentes níveis, da fonologia à semântica12”, fazendo com que o indivíduo tenha acesso ato de comunicação através da fala. Nessa perspectiva, pode-se entender que a linguagem utilizada pelo aluno, abrange sentidos que vão além da linguagem verbal, oral ou escrita. Entretanto, é necessário que se observem os meios nos quais ela se manifesta, enfatizando também o produto final das relações estabelecidas entre professor, aluno e comunidade, intensificando ainda, o tratamento que a escola dá a essa prática. O entendimento entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-comunidade devem estar em equidade. Isso torna ainda mais interessante o ensino da língua e a sua prática diversificada mediante as situações em que se manifesta. Ao analisar a problemática educacional no contexto das escolas de ensino regular no Brasil considerando o ensino da língua materna, sentiu-se a necessidade de desenvolver um trabalho que tem como objetivo levantar questões subjacentes à língua ensinada nas escolas, tendo em vista a interação dos alunos com essa prática, ao utilizá-la nos diversos contextos sociais sem se desfazer dos recursos expressivos próprios do ato da comunicação e daqueles que se estabelecem por meio da sua utilização. Este trabalho tem como objetivo analisar e discutir como se dão as relações entre professores e alunos na sala de aula, tratando aqui das aulas de língua portuguesa, fundamentandose teoricamente em autores que abordam ideias sobre a linguagem, assim como também as interações que podem ser estabelecidas através de suas práticas no contexto escolar, entre os quais podemos citar: Bagno (2003, 2007); Bunzen e Mendonça (2006); Mendes e Silva (2010), entre outros.
Trecho extraído da obra A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira, de Marcos Bagno apresentada pela Editora Parábola, conforme referenciação posteriormente. 12 BAGNO (2007, p. 10) 11
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Fundamentação teórica A língua da escola e a língua do aluno É notável que ao ingressar no ensino oferecido pela escola o aluno traz consigo uma bagagem linguística formada desde a convivência familiar às conversas que trava com os amigos cotidianamente. O aprendizado da língua materna é algo que ainda preocupa, e muito o sistema educacional brasileiro. Constata-se que a maioria dos professores de língua portuguesa ensina a língua exigida pela escola, desconsiderando assim, o sistema construído pelo aluno. Diante dessa relegação, na qual as competências linguísticas do aluno são desconsideradas, muitos parâmetros oficiais que norteiam o ensino da disciplina demonstram preocupação com o ensino-aprendizagem da língua, uma vez que a comunicação fica aquém do que realmente se deseja. Embora isso aconteça, não utilizam metodologias diferenciadas em sala de aula para proporcionar uma aprendizagem significativa a todos os alunos, bem como a sua interação entre os colegas e a sociedade cada vez mais diversificada. De acordo com Bagno 2007, p. 12-13), Como todo acontecimento, qualquer uso da língua se individualiza por idiossincrasias do locutor e/ou de seu interlocutor, da situação em que se encontram, da cultura de que participam, da época em que vivem. E assim, cada uso da língua envolve um conteúdo e uma forma próprios, produzindo efeitos de forma e de sentido (como os efeitos estilísticos, por exemplo) que, mesmo particulares, podem afetar a própria língua.
É importante que se faça um trabalho bem detalhado para que o aluno tenha uma maior aproximação com a prática da linguagem, considerando sua essência e diversificação para que este saiba fazer uso de suas manifestações observando o contexto em que está sendo utilizada. Observando o panorama histórico da rede escolar de ensino, podemos perceber a relação que esta estabelece com a linguagem. Como então aceitar o que o aluno fala se a própria escola defende o ensino da linguagem pregada na norma padrão culta da língua portuguesa que, pela própria nomenclatura se mostra superior às demais formas linguísticas que ocorrem na convivência com o outro e que consequentemente vai parar dentro da sala de aula? Nessa ótica, as escolas passaram a oferecer textos que tratam da diversificação da língua, mas que a trata apenas como uma parte do nosso vocabulário que deve ser aprendida de forma isolada. Entretanto, há que se considerar que embora nem todas as providências tenham sido incorporadas completamente no cotidiano da sala de aula, alguns entraves ainda dificultam a relação entre todos os participantes do processo de ensino-aprendizagem, mais especificamente em relação aos alunos em que opiniões são formadas e ainda se constitui como um ser em formação. As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006, p. 24) prescrevem que, Em síntese, por ser uma atividade de natureza ao mesmo tempo social e cognitiva, pode-se dizer que toda e qualquer situação de interação é co-construída entre os sujeitos. Pode-se ainda complementar dizendo que, como somos sujeitos cujas experiências se constroem num espaço social e num tempo histórico, as nossas atividades de uso da língua e da linguagem, que assumem propósitos distintos e,
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Essa forma de conceber a linguagem como algo amplo, dinâmico e interativo permite ao aluno diferenciar os diversos registros com os quais se depara nos locais em que faz troca de relações que exigem o uso da língua. A escola deve fazer alusão às diversas formas da linguagem, considerando intensamente, não deixando a norma que defende de lado, a língua de domínio do aluno. Através da mediação do professor, o aluno poderá se voltar de forma mais interativa para o público que completa o seu processo de comunicação, considerando normalmente a produtividade daqueles que se mantém categorizados pela linguagem. Considerando-se as formas pelas quais se dão as situações de interação, produção de sentidos, recursos expressivos da linguagem, pode-se inferir que os alunos não têm um rendimento mais eficaz nas atividades que desenvolvem no momento em que sua produção de sentido sob as práticas orais não é valorizada. Conclusão O processo interacional e as situações de uso da língua são elementos que não podem ficar exclusos do sistema de comunicação. Não se pode dizer que as medidas tomadas pela escola quanto ao uso da linguagem tenham resolvido o processo de ensino e democratização da língua. Isso produz uma mudança de paradigma: a língua materna deve ser oferecida ao lado de forma bastante delicada, para que ao invés de lhe ensinar uma linguagem universal entre os membros do seu país, acabe por desconsiderar a língua que ele já possui. Não se pode mais classificar a língua apenas como um sistema, ela é mais que isso, é interação, é troca. O aluno vai à escola dotado de linguagens, essa por sua função, deve criar situações vivas de comunicação que despertem no discente o uso diversificado da língua em diferentes momentos. Referências BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. __________. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Paràbola Editorial, 2003. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, 2006. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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PERCEPÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL E A ATIVIDADE TURÍSTICA13 Janaina Luciana de Medeiros Mestranda em Turismo (UFRN/PPGTUR) janaina_ufrn_turismo@hotmail.com Mayara Ferreira de Farias Mestre em Turismo (UFRN/PPGTUR) mayara_turismo_ufrn@hotmail.com Mayane Ferreira de Farias Graduanda em Computação e Informática (UFERSA) mayanefarias@hotmail.com João Quincas de Farias Júnior Discente do curso de Contábeis, UNIFACEX, Natal/RN joaojuniorfarias@hotmail.com Resumo O turismo como uma prática que fortalece a movimentação de divisas de determinada localidade através da circulação de visitantes, pode ser considerado uma atividade com potencial de impulsionar o desenvolvimento das regiões, que permite transformar os recursos naturais, culturais e históricos de uma região em potencialidades turísticas, acrescentando assim, maior valor a esses recursos. Diante disso o presente artigo visa discutir sobre visão conceitual do turismo, desenvolvimento local e sua relação com a atividade turística, regionalização e inter-relação com o turismo e sobre o turismo e o desenvolvimento sustentável. Para tal, utilizou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica e utilização de dados secundários obtidos em sites que tratam das temáticas supracitadas. Ao final, conclui-se que o desenvolvimento necessita ser entendido como um resultado do crescimento no qual a sociedade é capaz de produzir com o objetivo de acumular bens com a preocupação dos efeitos deste acúmulo, sendo a atividade turística beneficiada caso haja um planejamento voltado para ações sustentáveis baseados nos princípios da educação ambiental aliada ao desenvolvimento local sustentável. Palavras-chave: Desenvolvimento;.Turismo; Sustentabilidade. Abstract Tourism as a practice that strengthens the movement of currency at a given location through the movement of visitors, can be considered an activity with the potential to boost the development of the regions, which allows to transform the natural, cultural and historical resources of a region where tourism potential thus adding greater value to these resources. Therefore this article seeks to discuss conceptual view of tourism, local development and its relationship to tourism, regionalization and inter - relationship with tourism and on tourism and sustainable development. To this end, we used the methodology of literature search and use of secondary data from sites that deal with the above issues. Finally, it is concluded that the development needs to be understood as a result of growth in which the company is able to produce in order to accumulate assets with the concern of the effects of this accumulation, with the tourist activity benefited if one is planning facing sustainable actions based on the principles of environmental education allied to sustainable local development . Keywords: Development. Tourism; Sustainability.
Texto original apresentado e publicado nos Anais do XX Encontro Estadual de Geografia, Natal: UFRN, 2013. 13
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Apresentação: uma visão conceitual da atividade turística O turismo caracteriza-se como uma atividade econômica e social envolvendo o deslocamento de pessoas com diferentes motivações, promovendo, assim, interação entre visitante e local visitado. Para que seja possível entender o turismo, então, faz-se necessário conhecer o histórico ao qual se inserem as viagens. O conceito de viagens, por sua vez, se inicia a partir do momento em que os seres humanos deixaram de ser sedentários e passaram a ser nômades, ou seja, viajando de um lugar para outro, tendo como motivação a busca pela sobrevivência. Vale destacar, ainda, que, as viagens independentemente do período histórico ao qual pertençam, possuem diferentes motivações, onde é possível observar desde a antiguidade à contemporaneidade. Na antiguidade as viagens eram motivadas pelo comércio, por tratamentos de enfermidades, pela prática de esportes e outros. Na Idade Média os nobres começam a enviar seus filhos para outras localidades para estudarem e assim adquirirem novos conhecimentos ao se relacionar com outras culturas (IGNARRA, 2003). Era na Idade Média que se realizavam viagens por interesses econômicos no caso do comércio com a venda e troca de produtos, interesses de saúde com os tratamentos de doenças nas águas termais, bem como por prestígios aos jogos olímpicos. Além disso, existia neste período a motivação pela busca de conhecimento de novas culturas. No que tange a Idade Moderna, existiam grandes viagens de cunho educacional, proporcionadas aos filhos dos nobres e comerciantes da época. Viagens essas que ficaram conhecidas como Grand Tour, às quais visavam proporcionar conhecimentos sobre cultura, governo, história, dentre outros do destino visitado, tendo em vista preparar os homens para fazerem parte da classe dominante da época (BARBOSA, 2002). Vale destacar, ainda, que tais viagens eram restritas às pessoas que tinham uma melhor condição financeira, ou seja, os filhos dos nobres, burgueses e comerciantes da época. Percebe-se, então, que o intuito de adquirir conhecimentos de novas culturas através das viagens para outros destinos, advém desde a Idade Média e foi cada vez mais incentivada na Idade Moderna, quando já se realizavam viagens com cunho educativo ofertado aos filhos dos nobres, comerciantes, dentre outros. Na contemporaneidade as viagens deixam de ser restritas aos nobres e outros, e se popularizam, sendo realizadas por pessoas, tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento, devido ao seu tempo livre (férias) e uma melhor condição financeira (CAMPOS, SANTANA e LUZ, 2008). Com o passar dos tempos e com as conquistas trabalhistas, como a redução das horas de trabalho e o direito as férias, as viagens tornaram-se, pois, mais frequentes dadas a disponibilidade de tempo e a busca pelo lazer e descanso, propiciando a denominação do que hoje conhecemos por turismo. O turismo, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (2001, p. 38) “compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”. A partir disso, pode-se afirmar que o turismo envolve o deslocamento de pessoas de um lugar para outro por diversas motivações, seja por lazer, negócios, prestigio a eventos ou outros.
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Petrocchi (2009, p. 2), por sua vez, afirma que “o turismo constitui-se em uma experiência. Seus serviços básicos são o transporte, a hospedagem e o lazer e/ou outros motivos para a viagem”. Parafraseando Farias e Maracajá (2010), o turismo consiste em um movimento de pessoas que saem dos seus locais de residências, viajando para outros lugares de acordo com o seu gosto e o tempo que cada um tem disponível para realizar tais viagens. Além de envolver o deslocamento de pessoas, a utilização de meios de hospedagem, restauração, infraestruturas de lazer e outros, o turismo proporciona, portanto, experiências que são adquiridas com o contato do visitante e local visitado. Assim, a atividade turística tem um importante papel na geração de receitas, e com isso, viabiliza o desenvolvimento da localidade onde se é inserido, mas para que esse crescimento seja positivo deve depender de um planejamento permanente. Diante disso o presente artigo visa discutir sobre visão conceitual do turismo, desenvolvimento local e sua relação com a atividade turística, regionalização e inter-relação com o turismo e sobre o turismo e o desenvolvimento sustentável. Para tal, utilizou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica e utilização de dados secundários obtidos em sites que tratam das temáticas supracitadas. Desenvolvimento regional e turismo O desenvolvimento regional requer a participação da sociedade local onde possa haver um planejamento contínuo da ocupação do espaço e uma distribuição dos frutos desse processo de crescimento. Dessa forma, para entender o desenvolvimento regional precisa compreender as características e o conceito de desenvolvimento. Segundo Oliveira (2002, p. 40) o desenvolvimento deve ser [...] encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na renda – transformando para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outros.
Pensar em desenvolvimento regional é, sob este prisma, refletir sobre a participação social dos autóctones na procura por desenvolver um planejamento participativo ativo, considerando a ocupação espacial e social bem como todos os impactos que abrange as atividades escolhidas para possibilitar este desenvolvimento. Segundo Lima e Oliveira (2003) quando se pensar em desenvolvimento regional deve-se envolver a comunidade local no planejamento permanente da ocupação do espaço e na distribuição dos frutos do processo de crescimento. Pois, caso não exista uma aproximação da população entre suas vontades e de políticas governamentais, torna-se evidente a ocupação irregular das áreas, ou seja, é possível observar o desenvolvimento irregular da região. O desenvolvimento regional depende, intrinsecamente, da união entre as políticas de desenvolvimento e dos objetivos traçados para que aquele determinado local cresça, sendo fundamental a organização social para transformar realidades a partir deste desenvolvimento provocando mais efeitos positivos que negativos. O turismo, por ser uma atividade que fortalece a movimentação de divisas de uma determinada localidade através da circulação de visitantes, está sendo considerada uma atividade
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com um potencial de impulsionar o desenvolvimento das regiões, permitindo transformar os recursos naturais, culturais e históricos de uma região em potencialidades turísticas, acrescentando assim, um maior valor a esses recursos (MEDEIROS, ALVES e MARACAJÁ, 2012). Cabe ressaltar, ainda, que para desenvolver é necessário que existam, além dos fatores supracitados, que haja disponibilidade de recursos, humanos e financeiros, para que as metas e objetivos que foram traçados possam ser executados, transformando ideias em possibilidade de crescimento. Pode-se considerar que o desenvolvimento regional necessita de alocação correta de recursos, participação comunitária e bons gestores que consigam criar um conjunto de fatores políticos, sociais e institucionais capazes de direcionar o crescimento, para se alcançar o desenvolvimento, em todos os sentidos que esta palavra denota. Associando estas questões à atividade turística como uma alternativa de desenvolvimento, necessita-se considerar alguns fatores adicionais e essenciais para não impactar de forma negativa, sem possibilidade de reversão, à comunidade, devendo o turismo ser desenvolvido de forma harmônica com os princípios básicos da sustentabilidade social, econômica, cultural e ambiental. O desenvolvimento por meio do turismo, porém, é uma questão complexa, que deve compreender todos os impactos gerados, as modificações do espaço, os efeitos nas atividades econômicas preexistentes e a modificação da cultura local. Deve existir, pois, um estudo prévio a inserção da atividade turística em quaisquer lugares que sejam, para que o desenvolvimento não ocorra às avessas. Dessa maneira, OMT (2001, p. 10) afirma que A indústria do turismo caracteriza-se por sua grande complexidade, não só pela grande quantidade de elementos pelos quais é composta, mas, também, pelos diferentes setores econômicos de seu desenvolvimento. Nesse sentido, o turismo é considerado geralmente como uma exportação de uma região ou nação até o lugar de destino (país, receptor, lugar de recebimentos), no qual gera renda, favorece a criação de empregos, entrada de divisas que ajudam a equilibrar a balança de pagamentos, aumenta os impostos públicos e aquece a atividade empresarial. Assim sendo, a atividade turística tem uma grande importância na economia devido a sua elevada contribuição para a geração de Valor Agregado Bruto (VAB) na região receptora.
Assim, é certo de que a atividade turística seja uma importante forma de incentivo e estímulo para o desenvolvimento regional quando associado às questões de justiça social, eficiência e viabilidade econômica, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento equilibrado, e para isso, necessita-se de um planejamento integrado e participativo envolvendo os atores locais com o objetivo de elaborar estratégias que fortalecem o turismo regional. Contudo, as localidades que procuram o crescimento através da atividade turística necessitam considerar a realidade em todas as esferas de governo e de gestão privada para que com isso haja uma maior garantia de subsídios que viabilizem o progresso com qualidade de vida para todos os envolvidos. Além do mais, o crescimento de um local necessita de uma infraestrutura adequada, de uma economia estável em suas atividades, na busca por minimizar custos tanto para quem produz quanto para quem consome. Igualmente, toda região tem que procurar reinvestir seus excedentes para o seu próprio crescimento e desenvolvimento.
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O desenvolvimento transcende, então, os aspectos econômicos que a atividade turística proporciona, consistindo na integração do ambiente com o turista de forma a promover um desenvolvimento cultural, ambiental e, sobretudo, social, através da existência de fatores atrativos da localidade (MEDEIROS, FARIAS e MARACAJÁ, 2012a). Regionalização e a atividade turística O turismo como uma prática que fortalece a movimentação de divisas de determinada localidade através da circulação de visitantes, pode ser considerado uma atividade com potencial de impulsionar o desenvolvimento das regiões, que permite transformar os recursos naturais, culturais e históricos de uma região em potencialidades turísticas, acrescentando assim, maior valor a esses recursos. No entanto, a atividade do turismo pode assumir diferentes níveis de importância no desenvolvimento regional, pois nem todas as regiões têm recursos turísticos idênticos, fazendo com que tenha um caráter dominante, ou apenas um caráter complementar. Partindo desse pressuposto, dependendo do grau de desenvolvimento de uma localidade ou região, o turismo estimula a criação de bens e serviços, que beneficiam as populações residentes. Assim, o turismo tem a capacidade de reorganização de localidades inteiras para o acontecimento dessa atividade. Segundo Beni (2006, p. 67) o turismo provoca o: [...] desenvolvimento intersetorial, em função do efeito multiplicador do investimento e dos fortes crescimentos da demanda interna e receptiva. É atividade excelente para obtenção de melhores resultados no desenvolvimento e planejamento regional ou territorial. Por efeito do aumento da oferta turística (alojamentos, estabelecimentos de alimentação, indústrias complementares e outros), eleva a demanda de emprego, repercutindo na diminuição da mão-de-obra subutilizada ou desempregada.
Devido a isso, a atividade turística deve sempre procurar inovar na atração de visitantes, pois se constitui como um fenômeno em constante transformação, que segue tendências e modernização, atendendo assim, as necessidades que o mercado exige. Além disso, essa atividade econômica de efeito multiplicador tem a capacidade de contribuir para o desenvolvimento de pequenas e médias empresas beneficiando, direta ou indiretamente, a comunidade local. Para que esse efeito multiplicador do turismo aconteça de forma efetiva é preciso, então, que essa atividade, desde o seu planejamento, deva ser concebida com a participação de todos os atores envolvidos direta e indiretamente com a atividade turística. Assim, por ser o turismo uma atividade complexa que está sempre num constante crescimento, e por isso, requer um planejamento das partes interessadas, seja a sociedade civil, o poder público ou a iniciativa privada nas tomadas de decisões para o alcance dos resultados esperados, é necessária que haja uma junção dessas partes transformando esse crescimento em efeitos positivos para a região. Necessita, portanto, no desenvolvimento dessa atividade, da criação de políticas públicas voltadas para o turismo. Assim sendo, políticas públicas se define como uma expressão da postura do poder público na solução dos problemas da sociedade e dos diferentes atores que compõem o cenário e sua intenção de dar respostas afeiçoadas ao papel do Estado e sua relação com a sociedade, através da criação de ações, metas e planos, em âmbito nacional, estadual ou municipal (MARIN FILHO, 2005).
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Nesse caso, o Estado tem a função, na tentativa de minimizar os impactos resultantes da atividade turística, de planejá-la visando seu desenvolvimento de forma sustentável e responsável, através do direcionamento de políticas públicas voltadas para o turismo. Partindo desse preceito, Cruz (2002, p. 9) coloca que O modo como se dá a apropriação de uma determinada parte do espaço geográfico pelo turismo depende da política pública de turismo que se leva a cabo no lugar. À política pública do turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientam o desenvolvimento socioespacial da atividade, tanto no que tange à esfera pública como no que se refere à iniciativa privada. Na ausência da política pública, o turismo se dá à revelia, ou seja, ao sabor das iniciativas e interesses particulares.
Com base nas informações supracitadas, as políticas públicas do turismo foram criadas para atingir resultados na área do planejamento de um turismo sustentável, onde essa atividade promova o bem-estar da sociedade, através do conjunto de fatores condicionantes e de diretrizes básicas que possam expressar caminhos para atingir os objetivos de desenvolvimento do turismo de um país, região, estado, cidade. Turismo e desenvolvimento sustentável A crise social e ambiental que a humanidade vinha passando na metade do século XX fez com que representantes das Organizações das Nações Unidas dessem uma resposta sobre as mudanças climáticas, surgindo assim o termo “Desenvolvimento Sustentável”. Diante dessa necessidade ocorreram vários eventos direcionados a questão ambiental, onde foram desenvolvidos diversos relatórios. Foi para um desses eventos, chamado Rio 92, onde foi a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, teve como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e sobre como reverter o atual processo de degradação ambiental, e que foi elaborado o relatório Brundtland (BARBOSA, 2008). O relatório Brundtland foi elaborado pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), também conhecido como Comissão de Brundtland, presidida pela norueguesa Gro Haalen Brundtland. A comissão foi criada em 1983, após uma avaliação dos 10 anos da Conferência de Estocolmo, com o objetivo de promover audiências em todo o mundo e produzir um resultado formal das discussões. O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, propõe o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. (BARBOSA, 2008) Sobre o Brundtland, Barbosa (2008, p. 2) fala que tal relatório, [...] contém informações colhidas pela comissão ao longo de três anos de pesquisa e análise, destacando-se as questões sociais, principalmente no que se refere ao uso da terra, sua ocupação, suprimento de água, abrigo e serviços sociais, educativos e sanitários, além de administração do crescimento urbano. O relatório Brundtland considera que a pobreza generalizada não é mais inevitável e que o desenvolvimento de uma cidade deve privilegiar o atendimento das necessidades básicas de todos e oferecer oportunidades de melhoria de qualidade de vida para a população. Um dos principais conceitos debatidos pelo relatório foi o de “equidade” como condição para que haja a participação efetiva da sociedade na tomada de decisões, através de processos democráticos, para o desenvolvimento urbano.
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De acordo com esse relatório havia uma incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de consumo e produção, ressaltando o crescimento econômico, mas com uma necessidade de conciliação entre as questões ambientais e sociais, surgindo uma relação “ser humano – meio ambiente”. O relatório Brundtland apresentava ações a serem tomadas pelos Estados, definindo metas para serem realizadas a nível internacional, onde constavam soluções, como a diminuição do consumo de energia, o desenvolvimento de tecnologias para uso de fontes energéticas renováveis e o aumento da produção industrial nos países não industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas (MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2007). Na Agenda 21, por sua vez, foi firmado o conceito de desenvolvimento sustentável, e incorporado em outras agendas mundiais de desenvolvimento e de direitos humanos. A Agenda 21 é o principal documento da Rio 92, onde se refere às preocupações com o nosso futuro e planeta a partir do século XXI. Esse documento foi assinado por 179 países, incluindo o Brasil, país anfitrião da Rio 92. Ela constitui-se em um processo de planejamento participativo que resulta na análise da situação atual de um país, Estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma sustentável, onde cada país definiu as bases para a preservação do meio ambiente em seu território, possibilitando o desenvolvimento sustentável (AGENDA 21, 2004). Assim, percebe-se a importância do desenvolvimento sustentável para qualquer tipo de atividade, onde esse desenvolvimento seja capaz de suprir as necessidades atuais sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações, não esgotando os recursos para o futuro. Partindo dessa premissa, Farias e Maracajá (2010) afirmam que o desenvolvimento sustentável deve consistir na tentativa de minimizar os impactos de uma atividade causados ao ambiente natural de maneira não prejudicial às próximas gerações, ou seja, é uma forma de desenvolver ou impedir o desenvolvimento no futuro. A educação ambiental, por sua vez, tem como base o desenvolvimento sustentável, e, de forma mais abrangente, volta-se para a prática do turismo sustentável, que visa à melhoria da qualidade de vida da comunidade receptora e oferece aos visitantes uma experiência enriquecedora, além de manter a qualidade do meio ambiente do qual, todos dependem (FARIAS e MARACAJÁ, 2012). Assim o desenvolvimento sustentável não deve ser visto como uma revolução, como uma medida brusca que exige rápida adaptação, e sim uma medida evolutiva que progride de forma mais lenta a fim de integrar o progresso ao meio ambiente para que se consiga em parceria desenvolver sem degradar (FARIAS et. al., 2010). E esse desenvolvimento deve ser baseado na busca de um planejamento integrado e participativo para um desenvolvimento turístico de uma região. Considerações finais Para que o desenvolvimento seja alcançado, deve existir, portanto, um planejamento direcionado à economia dos recursos naturais, os quais são esgotáveis, existindo, com isso, o conceito de que deve ser priorizada a qualidade em vez da quantidade, com uma redução do consumo de matérias-primas e de produtos, com um aumento substancial da reciclagem e da reutilização, satisfazendo, portanto, as necessidades do presente sem prejudicar as gerações futuras, fazendo com que essas gerações possam usufruir dos recursos hoje existentes.
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Desta forma, o desenvolvimento necessita ser entendido como um resultado do crescimento no qual a sociedade é capaz de produzir com o objetivo de acumular bens com a preocupação dos efeitos deste acúmulo. Onde, esse crescimento econômico ocorra de acordo com as características locais e suas potencialidades, dependendo de união de forças diversas sejam elas o apoio da comunidade, profissionais especializados e envolvimento direto do governo e das empresas privadas na busca por este desenvolvimento turístico atrelado a todas as variáveis da sustentabilidade. Por conseguinte, pensar em desenvolvimento denota falar em diálogos permanentes, em que haja participação efetiva da comunidade, pois, são eles o que sentirão os maiores impactos causados pelas atividades realizadas para se alcançar os objetivos traçados. Neste sentido, pode-se afirmar que, para se alcançar o desenvolvimento regional, é necessário considerar as questões que envolvem a gestão local, onde para obter melhores resultados deve ser integrado. Deve-se considerar importante todos os setores que envolvem as políticas locais, questões culturais, financeiras e, em especial, as questões sociais. E em consonância a isto, deve existir um planejamento participativo, sob o prisma de considerar a opinião dos autóctones na tomada de decisão do que deve ou não ser inserido para se alcançar o desenvolvimento planejado. Referências AGENDA 21. Sinal verde para o desenvolvimento sustentável. CREA – MG, 2004. BARBOSA, Gisele Silva. O desafio do desenvolvimento sustentável. Revista Visões, 4ª edição, nº 4, volume 1, jan./jun. 2008. BARBOSA, Ycarim Melgaço. História das viagens e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002. BENI, Mario Carlos. Análise estrutural do turismo. 11ª ed. São Paulo: Editora SENAC, 2006. CAMPOS, Ariane de; SANTANA, Dyane dos Santos; LUZ, Viviane. Turismo em unidades de conservação: propostas para o Parque Estadual do Monge – Lapa/ PR. Monografia apresentada ao Curso de Turismo das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba, 2008. Disponível em: <http://www.uc.pr.gov.br/arquivos/File/Pesquisa%20em%20UCs/resultados%20de%20pesquisa /Dyane_dos_Santos_Santana_et_al(1).pdf>. Acesso em set. de 2012. CRUZ, Rita de Cássia. Política de Turismo e Território. 3ed. São Paulo: Contexto, 2002. FARIAS, Mayara Ferreira de; MARACAJÁ, K. F. B. Educação Ambiental no mercado do consumo global: A importância da conscientização da população. p. 295 – 300. In.: SEABRA, Giovanni de Farias; DA SILVA, José Antônio Novaes; MENDONÇA, Ivo Thadeu Lira. (Orgs.) A conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010. FARIAS, Mayara Ferreira de; MARACAJÁ, K. F. B. Projeto de educação ambiental em escolas na cidade de Currais Novos (Rio Grande do Norte, Brasil) como facilitador na relação da educação ambiental e o turismo. Turismo e Sociedade, v. 5, p. 104-123, 2012. FARIAS, Mayara Ferreira de; MEDEIROS, Janaina Luciana de; FERREIRA, T. D; SONAGLIO, K. E. Turismo ecológico: perspectivas gerais. In: Giovanni de Farias Seabra; Ivo Thadeu Lira Mendonça (Org.). Turismo Sertanejo: Natureza e Cultura no Turismo de Base Local.. Turismo Sertanejo: Natureza e Cultura no Turismo de Base Local.. 1ed.João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, v. 1, 2010. IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do turismo. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. LIMA & OLIVEIRA. Elementos endógenos do desenvolvimento regional: considerações sobre o papel da sociedade local no processo de desenvolvimento. Revista FAE, Curitiba, v.6, n.2, maio/dez. 2003. MARIN FILHO, Carlos José. Concepção de políticas públicas – Definição, Viabilização e Execução. Campus Santo Ângelo, 2005. Disponível em <
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VISÕES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, SUSTENTABILIDADE E COMPETITIVIDADE NO TURISMO14 Janaina Luciana de Medeiros Mestranda em Turismo (UFRN/PPGTUR) janaina_ufrn_turismo@hotmail.com Mayara Ferreira de Farias Mestre em Turismo (UFRN/PPGTUR) mayara_turismo_ufrn@hotmail.com Mayane Ferreira de Farias Graduanda em Computação e Informática (UFERSA) mayanefarias@hotmail.com João Quincas de Farias Júnior Discente do curso de Contábeis, UNIFACEX, Natal/RN joaojuniorfarias@hotmail.com Resumo Educação ambiental, sustentabilidade e competitividade são temáticas que necessitam, fundamentalmente, de um bom conhecimento e de planejamento para que sejam realizados de forma adequada para o crescimento da atividade turística. Diante disso presente trabalho objetiva mostras estas inter-relações e impactos diretos que podem causar no turismo. A metodologia utilizada foi a da pesquisa bibliográfica e busca por dados secundários em sites que abordavam sobre as temáticas do trabalho. Abordaram-se os seguintes tópicos nesta pesquisa: “Contextualizando sobre educação ambiental” mostrando a evolução histórica desta temática, “Turismo, Educação Ambiental e Sustentabilidade” pontuando suas particularidades e relações e “Educação ambiental e competitividade turística” ressaltando a inter-relação e impactos diretos no bom desenvolvimento da atividade turística. Conclui-se, ao final do trabalho, que o estudo da competitividade se concilia numa ferramenta estratégica para os gestores públicos e privados, juntamente com a educação ambiental voltada para as atividades sustentáveis à medida que a elaboração de planejamento garanta o desenvolvimento turístico e a sustentabilidade da localidade como destino turístico. Palavras-chave:Educação ambiental. Competitividade. Turismo. Abstract Environmental education, sustainability and competitiveness are issues that need, fundamentally, a good knowledge and planning studies are conducted appropriately to the growth of tourism . Therefore this study aims shows these interrelationships and direct impacts that may have on tourism. The methodology used was the literature search and secondary data on sites that addressed the themes of the work. Addressed the following topics in this research: "Contextualizing environmental education" showing the historical development of this theme, "Tourism, Environmental Education and Sustainability" punctuating his peculiarities and relationships and "Environmental education and tourism competitiveness" emphasizing the interrelationship and impact direct the proper development of tourism. In conclusion, the end of the work, the study of competitiveness in a strategic fit in for public and private management tool, along with environmental education focused on sustainable activities as the preparation of planning ensures the sustainability of tourism development and location as a tourist destination. Keywords: Environmental Education. Competitiveness.Tourism.
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Apresentação O homem com a intenção de satisfazer suas necessidades aumenta sua capacidade de intervir na natureza, fazendo surgir diversos conflitos e tensões com relação ao uso do espaço e dos recursos em função das tecnologias disponíveis. É válido lembrar que o homem com sua atitude individualista foi assumindo o afastamento da natureza não percebendo as relações de desequilíbrios ambientais que estavam provocando com suas atitudes. É a partir, da década de 1960 que foi intensificada a percepção de que o homem estava caminhando aceleradamente para o esgotamento ou a inviabilização de recursos indispensáveis à sua própria sobrevivência. Objetivando explicar essa preocupação afirmou-se que a nossa sociedade destrói as fontes vitais à sua própria sobrevivência. Devendo ser chamada a atenção o desenvolvendo outras formas de relação com a extensão de nosso corpo que é a natureza, o que implicará a adoção de outras técnicas e de outras relações entre os homens, enfim, o desenvolvimento de outra cultura (GONÇALVES, 1998). Sendo assim, à medida que essa preocupação com a relação homem-natureza e a necessidade de mudar essa consciência do ser humano aumenta o interesse mundial em relação à educação ambiental tentando incluir a comunidade na solução dos problemas ambientais, já que o futuro dependerá dessa relação homem-natureza, ou seja, o uso que o homem fará dos recursos naturais disponíveis para sua sobrevivência. A metodologia utilizada foi a da pesquisa bibliográfica e busca por dados secundários em sites que abordavam sobre as temáticas do trabalho. Abordaram-se os seguintes tópicos nesta pesquisa: “Contextualizando sobre educação ambiental” mostrando a evolução histórica desta temática, “Turismo, Educação Ambiental e Sustentabilidade” pontuando suas particularidades e relações e “Educação ambiental e competitividade turística” ressaltando a inter-relação e impactos diretos no bom desenvolvimento da atividade turística. Contextualizando sobre educação ambiental Parafraseando Rua e Souza (2010) se definiu pela primeira vez, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, a importância das ações educativas nas questões ambientais, o que gerou o primeiro “Programa Internacional de Educação Ambiental”, obtendo consolidação em 1975 pela Conferência de Belgrado. Essa Conferência ficou marcada pelas perspectivas entre diversos países, desenvolvidos e subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Enquanto os países desenvolvidos buscavam medidas de prevenção aos efeitos da devastação ambiental que estavam ocorrendo sobre a Terra, os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento argumentavam da necessidade do desenvolvimento econômico. Em termos gerais, a Conferência das Nações Unidas contou com 113 países, 250 organizações não governamentais e dos organismos da ONU, onde produziu uma declaração de princípios de comportamento e responsabilidade para as decisões sobre as questões ambientais. Outro resultado dessa Conferência foi à criação de um Plano de Ação onde convocava todos os países, os organismos das Nações Unidas, todas as organizações internacionais a cooperar e buscar soluções para uma série de problemas ambientais (ECCLESIA, 2012).
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Em 1977, ocorreu à primeira Conferência sobre educação ambiental em Tbilisi, Geórgia. Contribuiu para precisar a natureza da educação ambiental, definindo seus objetivos, características, recomendações e estratégias pertinentes ao plano nacional e internacional (SOUZA, 2003). Em suma, esse documento produzido na Conferência de Tbilisi virou referência para os que queriam um fundamento teórico para as práticas educativas, como pode ser comprovado no que Souza (2003, p. 3) afirma, Na Conferência de Tbilisi, a educação ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para resolução de problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade, como podemos ver no conceito ratificado na conferência: Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permitam trabalhar individualmente para resolver problemas atuais e impedir que se repitam.
Nesse sentido, entende-se por educação ambiental a prática interdisciplinar, fazendo com que os cidadãos participem da organização de suas próprias experiências de aprendizagem tomando decisões. Parafraseando Rua e Souza (2010), em 1992 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro. A Rio 92 reuniu diversas Organizações da Sociedade Civil, onde elaboraram um tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que reconheceu a educação como um processo dinâmico e em permanente construção, propiciando o debate, a reflexão e a autotransformação das pessoas. Contando com 179 países participantes da Rio 92 acordaram e assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento sustentável”. O termo “Agenda 21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse novo modelo de desenvolvimento para o século XXI. A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (RUA e SOUZA 2010). A ideia apresentada sobre a educação ambiental na Rio 92 foi que ela é um processo permanente onde os indivíduos e a comunidade tomam a consciência da importância do seu meio ambiente, adquirindo habilidades, valores, conhecimentos, experiência e determinação para agir em defesa da natureza, buscando amenizar os problemas ambientais presentes e futuros. E a implementação da Agenda 21 tem a intenção de sensibilizar, através da educação ambiental, a população visando um desenvolvimento sustentável, ou seja, social, econômico e ambiental. Segundo Reigota (2009), a educação ambiental é vista na perspectiva educativa, que deve estar presente em todas as disciplinas. Sem impor limites para seus estudantes, tem caráter de educação permanente. Onde, por si só, não resolverá os complexos problemas ambientais do planeta, mas pode influir decididamente para isso, ao formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. A educação ambiental é um direito de toda a população em geral e tem como intuito conscientizar e educar a todos, para que as gerações presentes e futuras possam vir a ter uma na melhoria da qualidade de vida.
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Para Loureiro (2004) a educação ambiental transformadora apresenta-se como um conteúdo emancipatório, a partir de uma matriz que vê a educação como elemento de transformação social, em que as atividades humanas relacionadas ao fazer educativo provocam transformações individuais e coletivas, locais e globais, bem como econômicas e culturais. Turismo, educação ambiental e sustentabilidade O turismo, por sua vez, apesar de ser uma atividade que gera fontes de renda para a economia de uma localidade, necessita de que os órgãos responsáveis pelo desenvolvimento dessa atividade identifiquem que não basta apenas preparar e capacitar nos locais a serem visitados, mas também as pessoas que viajam para conhecer os locais, já que estas nem sempre possuem uma formação adequada, e, portanto, não saberão como respeitar a natureza (FARIAS e MARACAJÁ, 2012a). O processo educativo constrói novos valores sociais, culturais, ambientais, econômicos, habilidades, conhecimentos, atitudes e competências direcionadas a conservação do meio ambiente. Esse processo educativo pode ser realizado tanto de maneira formal – quando aplicada e desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas ou privadas – ou informais – quando desenvolvidas através de ações e práticas educativas voltadas para a sensibilização da coletividade – ambos contribuem indiretamente como pontos estratégicos para estabelecer a sustentabilidade. Nessa perspectiva, Reigota (2007) coloca que a educação ambiental deve estabelecer um sentido de união entre a natureza e o ser humano baseada na tripla cidadania, local, continental e planetária, subentendendo a perspectiva de uma sociedade justa em nível nacional e internacional, preparando o cidadão para exigir justiça social, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza. Nessa visão, a prática da educação ambiental fortalece a ideia de uma educação crítica aos preceitos autoritários, populistas e tecnocráticos. No que diz respeito ao Brasil, a educação ambiental está garantida na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, no seu artigo 225, onde as questões ambientais tornaramse garantidas em lei e todos têm direito ao meio ambiente equilibrado ecologicamente, devendo caber ao Poder Público a promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente, fazendo com que esse meio ambiente seja bem de uso comum do povo e essencial a qualidade de vida (BRASIL, 1988). A introdução da prática da educação ambiental previsto pelo Constituição Brasileira em todos os níveis de ensino, assim como, também proposto na Política Nacional de Educação Ambiental, e na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) aponta que Brasil tem tratado o tema de forma articulada entre as diversas áreas do conhecimento, criando uma visão global e abrangente da questão ambiental. De acordo com Zakrzevski e Sato (2007, p.126) os PCNsprocuram [...] dar resposta às contradições entre a necessidade de dar um espaço próprio ao estudo do meio ambiente e a natureza intrinsecamente interdisciplinar e transversal dos conhecimentos que esta propõe. A proposta de temas transversais, além de modificar a organização tradicional do conhecimento e o funcionamento das instituições escolares, deposita no professor a iniciativa de incorporar temas e desenvolver atividades de natureza local, assim como de proporcionar articulações com outras áreas do conhecimento e com a realidade onde vivem os estudantes.
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Diante do exposto acima, os PCNs trouxeram uma proposta de criar novos laços de ensino e sociedade dentro de cada área propiciando subsídios através de sugestões, objetivos, conteúdos e fundamentação teórica, fortalecendo a importância de se praticar a educação ambiental como forma de conscientização e sensibilização de cada indivìduo diante do convívio com o meio ambiente. Dessa maneira, existem vários modos de proteção que podem ser adotadas no meio ambiente, como por exemplo, a adoção de técnicas de praticar a educação ambiental, começando pela comunidade local bem como inserindo na atividade turística, o que proporcionaria maior participação da população na atividade, contribuindo com novas fontes de renda e consequentemente agindo pró-ativamente no desenvolvimento da própria localidade. Segundo Dias (2008, p. 179) a educação ambiental é, [...] base para a conservação da biodiversidade, e, portanto, torna-se fundamental a inclusão da população local em programas educativos. Essas atividades devem ser desenvolvidas em todos os níveis, na comunidade local. Devem envolver os estudantes das escolas próximas, a população residente, os comerciantes, as autoridades locais e pessoas de modo geral que habitem em núcleos urbanos próximos a áreas protegidas.
Entretanto, a UNESCO (2012) ressalta que o patrimônio natural designa algo com características físicas, biológicas e geológicas extraordinárias; habitats de espécies animais ou vegetais em risco e áreas de grande valor do ponto de vista científico e estético ou do ponto de vista da conservação. Tendo como tipos as formações físicas e biológicas, ou grupos destas formações, de valor universal incalculável do ponto de vista estético e científico; formações geológicas e fisiográficas e áreas bem delimitadas que constituam o habitat de espécies animais ou vegetais em risco de valor incalculável do ponto de vista da ciência e da conservação; e sítios naturais ou áreas naturais bem delimitadas de valor universal incalculável do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural. O objetivo de maior responsabilidade na educação ambiental é, pois, se preocupar com o ambiente em que se vive assim como ter o interesse de saber quais são os fatores em que o aflige, em como ele está sendo afetado e o que pode ser feito para evitar maiores prejuízos assim como preservá-los. Neste prisma, se enquadra a aplicação de métodos educativos nas escolas, na comunidade local e em todos os lugares possíveis onde às pessoas possam obter conhecimento sobre o assunto de formas diversas, estimulando assim a adoção dessas práticas em seu cotidiano em prol da preservação do meio ambiente. Para Loureiro (2004) a educação ambiental pode expressar-se sobre a necessidade de passar para a sociedade elementos éticos e conceituais a fim de estabelecer uma nova relação com a natureza, buscando superar seu caráter conservador. A partir desse contexto, o turismo é como um fator contribuinte para a conservação e preservação do meio ambiente, por ser uma atividade econômica abrangente que vem crescendo cada vez mais, vem adotando a sustentabilidade como um modelo importante a ser seguido em suas atividades associadas. Desse modo proporciona uma nova visão ao meio ambiente e a importância da educação ambiental. O turismo, por ser direito de todos e que pode ser exercido por muitas pessoas, deve, então, se ter a preocupação conjunta tanto de residentes como de turistas em executar as práticas sustentáveis. Justamente com relação às áreas naturais e seus recursos que são um dos principais atrativos e a razão pela qual acontecem as atividades turísticas.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 45 de 140 Em decorrência, com o direito, encontram-se deveres que nem sempre estão claros para os diversos atores que contribuem para a atividade turística. A expansão da cidadania, ao incorporar o direito ao turismo, concretiza-se com a ampliação da consciência de que para o exercício desse direito é necessário assumir uma série de compromissos com a conservação do meio ambiente natural para que as futuras gerações possam exercê-los (DIAS, 2008, p. 180).
A proposta do turismo com relação ao meio ambiente é de grande importância pelo fato de que ele reúne os interesses pessoais de cada turista e associa ao melhor método de utilização do atrativo para que o ambiente também alcance um resultado benéfico. Parafraseando Medeiros, Silva e Maracajá (2012), a educação ambiental promove a conscientização e sensibilização das pessoas visando um futuro melhor e com qualidade de vida, podendo relacionar-se com o turismo na medida em que pode proporcionar a noção de que com o ambiente equilibrado, a atividade turística pode se desenvolver e trazer benefícios a todos envolvidos na atividade. Com o modelo de desenvolvimento atual, insustentável, a necessidade de mudança torna-se imperiosa, pois se trata de manter a existência do planeta em que vivemos, de modo que as futuras gerações tenham melhor qualidade de vida, ou pelo menos a mesma que possuem as atuais (DIAS, 2008). A sustentabilidade é justamente esse modelo adotado que faz com que o homem mantenha uma relação pacífica com o meio ambiente, para que ele possa usufruir do que a natureza tem de melhor, de forma que não a prejudique, valorizando-a e preservando-a para que futuramente outras pessoas também possam fazer uso do mesmo espaço. O papel da educação ambiental voltada para a sustentabilidade é, neste sentido, conscientizar, informar e sensibilizar as pessoas das mais diversas localidades e cultura, em relação ao respeito voltado ao meio ambiente, repensando os atuais valores do consumismo e da degradação desenfreada causada pelo homem à natureza (FARIAS e MARACAJÁ, 2010). É imprescindível, portanto, que todos os atores envolvidos, direta ou indiretamente, no desenvolvimento turístico local estejam cientes de seus decisivos papéis nesse processo, com destaque para a comunidade local, para que, assim, não seja a maior prejudicada e arque apenas com os prejuízos de um turismo desenvolvido de maneira predatória. O turismo e a educação ambiental possuem, pois, relações inseparáveis para um bom desempenho e representação de empreendimentos preocupados com a realização de seus serviços de forma eficiente e eficaz. Nesse sentido, o turismo necessita da educação ambiental para se manter bem visto aos olhos do turista fazendo com que o mesmo retorne ao local visitado (FARIAS e MARACAJÁ, 2012b). Educação ambiental e competitividade turística Em um mundo de profundas transformações, tanto no cenário econômico quanto no político, social, empresarial e cultural, é preciso ficar atentos as exigências e peculiaridades dessas mudanças para se manter-se ativo e alcançar sucesso nos empreendimentos. Nessa época de mudanças em um ambiente de evolução e desenvolvimento bastante acelerado é necessário inserir o conceito de competitividade de forma positiva para se manter no mercado e alcançar cada vez mais clientes.
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Cobra (2009) infere que o sucesso no mundo dos negócios depende de diversos fatores, principalmente quando se procura conquistar o mercado externo, onde a busca da competitividade requer um terreno fértil para poder crescer, sendo sempre acompanhado de serviços excelentes buscando a inovação, tendo esse foco na mudança das regras, incrementando a satisfação dos clientes. Dessa forma, para vencer o desafio de se manter no mercado, cada vez mais competitivo, é necessário que as empresas turísticas tenham a capacidade de implementar novas tecnologias, encontrando mercados e metodologias de gerenciamento, procurando sempre inovar com qualidade e excelência para não perder a oportunidade de atrair ou manter o cliente, no caso específico, o turista. Segundo essa busca da excelência em serviços, Cobra (2009, p. 277) afirma que ela [...] deve ser permanente. As técnicas de pesquisa de mercado devem ajudar a encontrar novos e inovadores serviços sob a óptica do mais exigente cliente. Momentos da verdade devem ser conduzidos para identificar falhas no atendimento e possíveis causas de insatisfação de clientes. Os clientes devem sentir que o serviço vale mais do que custa.
Percebe-se, neste sentido, que o crescimento do setor de serviços evidencia a importância da dedicação por parte das empresas a uma maior atenção à qualidade com a prestação de seus serviços, onde esses clientes estão cada vez mais exigentes. Portanto, as empresas devem estar atentas a essas mudanças, utilizando a prestação de serviços como uma estratégia de diferenciação de seus produtos, agregando valor a sua oferta. Os serviços, por sua vez, possibilitam um grande processo de desenvolvimento do mercado, e isto se deve, devido à dificuldade cada vez maior que um produto tem para se diferenciar de outro, pois os produtos estão cada vez mais parecidos, muitas vezes só mesmo a marca é que consegue gerar uma percepção de diferenciação, que, não é fácil para sustentar, pois requer muitos gastos. A satisfação pelo serviço é avaliada a partir da comparação do serviço esperado (previsto) e o realmente percebido. Com isso, é relevante destacar que os fabricantes devem procurar entender que a única ou a melhor forma de diferenciar seu produto é mediante a agregação de valor através de diversos serviços que compõem este produto. Sobre a integração das estratégias de qualidade e produtividade de serviços Lovelock e Wirtz (2006) pontuam que elas caminham lado a lado criando um valor para clientes e empresas. Em termos gerais, na qualidade focalizam-se os benefícios criados para o lado do cliente da equação, e produtividade são os custos financeiros incorridos pela empresa, que depois podem ser repassados para os clientes primordialmente sob a forma de preço. A cuidadosa integração de programas de melhoria de qualidade e produtividade provocará, por conseguinte, melhoria na lucratividade da empresa em longo prazo. A qualidade percebida e a satisfação dos clientes são elementos essenciais para a criação de estratégias competitivas nas empresas. Assim, é importante identificar os fatores que determinam a percepção de qualidade e satisfação do ponto de vista dos clientes que utilizam esse tipo de serviço. Uma estratégia competitiva bem-sucedida corresponde à combinação de movimentos de ataque e defesa visando a uma posição mais fortalecida no mercado escolhido. Obedecendo a essa combinação competitiva, a empresa deve atentar para cinco estratégias básicas perseguidas pelas organizações, sendo elas: estratégias de comunicação, que busca melhorar o desempenho organizacional por meio da expansão de atividades; estratégias de manutenção ou defensivas, onde
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contradiz as estratégias de construção, pois as empresas que já têm forte posicionamento em seus mercados podem busca estratégias essencialmente defensivas para manter o terreno conquistado; estratégias de colheita, obtendo retornos máximos do produto antes do seu eventual fim ou retirada do mercado; desinvestimento/retirada, questionando sempre seu papel portfólio15 geral da empresa, evitando que a empresa continue a ter prejuízos (HOOLEY, PIERCY e NICOULAUD, 2011). A competitividade pode ser entendida, portanto, como a capacidade que uma empresa tem em se manter no mercado ativamente, obtendo uma maior participação nesse determinado mercado, melhorando a lucratividade de seus produtos e serviços. Incrementando a satisfação dos clientes, criando forte lealdade que se transformará em recomendações a outros clientes. Diante das informações supracitadas, o turismo como atividade econômica e que exerce um importante papel no PIB – Produto Interno Bruto de vários países e regiões, é sabido que houve um aumento nos estudos sobre essa atividade, os quais tentam achar uma redefinição das relações entre o setor privado e os governos municipais para alcançar outros mecanismos condutores do desenvolvimento local. No caso particular do turismo, Crato (2010) defende que a qualidade de um destino turístico é encarada como um fator que promove a fidelização dos clientes existentes e a captação de novos, neste caso turista. Se um turista vê, por exemplo, as suas expectativas excedidas, muito provavelmente voltará a fazer turismo nesse mesmo local e promoverá esse destino junto dos seus amigos e conhecidos, ou junto de um público mais alargado, no caso de vir a publicar a sua opinião em blogues ou páginas da internet. Esse público poderá vir a traduzir-se em novos clientes para o destino em questão. A qualidade surge assim como um elemento estratégico e como uma vantagem competitiva para os destinos turísticos. Com esse objetivo, o planejamento da atividade turística passa a ser repensado, fazendo com que se criem estratégias que permitam qualificar as cidades, regiões, e países tornando-as competitivas umas frente às outras. E esse passo propicia uma reestruturação do planejamento como forma de viabilização desse desenvolvimento local, regional e nacional. Em relação a essa nova reestruturação de planejamento Bahl (2003) afirma que uma nova teoria deve partir da premissa de que essa competição deve ser dinâmica e evolutiva. A competição é um cenário que varia constantemente e no qual surgem novos produtos e serviços, novas formas de comercialização e distribuição e novos segmentos de mercado. Neste prisma, a competitividade deve ser compreendida como ação proveniente da conquista do equilíbrio entre uma gestão efetiva voltada para a inovação do produto turístico sustentado por um planejamento integrado e direcionado a contribuir para o progresso do segmento turístico. Observando o cenário econômico global cada vez mais concorrente, pode-se afirmar que o turismo pode ser considerado uma atividade social e econômica ajustada a conceitos que se complementam como planejamento, marketing e sustentabilidade, e posturas de diversos agentes do turismo na formatação de serviços e produtos com altos padrões de qualidade. Nesta perspectiva, o estudo sobre a competitividade deve mensurar de forma clara e objetiva, vários aspectos indicadores envolvidos no coeficiente de competitividade dos destinos turísticos, no qual haja identificação e acompanhamento destes indicadores, possibilitando a geração
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É uma coleção de trabalhos já realizados de uma empresa ou de um profissional especificamente.
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de um diagnóstico local, viabilizando a definição de políticas públicas que possibilitem o desenvolvimento do turismo. A relação da educação ambiental para uma educação turística no desenvolvimento de conscientização e sensibilização de uma comunidade pode ser possível. Neste sentido, destaca-se que o conceito de educação turística16, que apesar de ser bastante recente, pode ser definida como o processo de capacitação das comunidades inseridas, direta ou indiretamente, na atividade turística envolvendo questões de âmbito e interesse local, por meio de mecanismos de sensibilização e construção coletiva de um referencial turístico para a localidade, procurando minimizar os impactos negativos e preparando a comunidade para uma nova realidade social que vem se estabelecendo. Um local competitivo, por sua vez, necessita possuir um planejamento direcionado para a melhoria da infraestrutura local, no sentido de despertar para a adequação das atividades realizadas em determinada localização geográfica. Além disso, há que existir bons gestores responsáveis pela tomada de decisões, através do auxílio de profissionais capacitados para a realização de funções preestabelecidas, inserindo, com isso, os conceitos de inovação aplicáveis aos setores dos empreendimentos turísticos na atração e promoção de bem-estar aos turistas, que proporcionará um fator positivo de marketing aos destinos turísticos. Considerações finais O estudo da competitividade pode ser considerado, portanto, como uma ferramenta estratégica de gestão, que permite a elaboração de planejamento público e empresarial do setor, auxiliando na junção de esforços de todos os agentes possibilitando um desenvolvimento turístico sustentável. Nesse contexto, a busca pela competitividade em um destino turístico faz com que os atores envolvidos com a atividade turística busquem uma diferenciação dos seus produtos e serviços, agregando uma qualidade necessária para atingir a satisfação dos visitantes, promovendo à fidelização desses visitantes, como também, a captação de novos. Para o turismo o significado da competitividade se diferencia de outros setores produtivos, onde precisam de elementos condicionantes e determinantes, relacionados com os elementos de atratividade de um destino, seja de origem natural ou artificial, pois a competitividade dos produtos turísticos está associada à capacidade que um determinado produto turístico tem de proporcionar aos visitantes uma experiência positiva e, como consequência, impulsionar à geração de negócios nas atividades econômicas e turísticas. Um destino para se tornar um local competitivo deve, essencialmente, constituir-se de infraestruturas adequadas, escolhendo como parceiros empreendimentos com qualidade na prestação do serviço à comunidade ao que se refere à conscientização e sensibilização da comunidade quantos aos impactos diversos, positivos e negativos, que a atividade turística pode ocasionar. Neste sentido, o processo de educação ambiental se estabelece com o envolvimento da conscientização ambiental, que a partir do momento em que o indivíduo passa a perceber a A educação turística é um modo de possibilitar às pessoas uma participação no desenvolvimento turístico de uma localidade, possibilitando formar cidadãos atuantes, no sentido de serem agentes responsáveis por difundir conhecimentos turísticos pela comunidade, que por sua vez, se tornará capaz de identificar se o turismo é uma boa alternativa econômica ou mesmo elemento positivo que promove a preservação e valorização do meio ambiente cultural e natural em que vivem. 16
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realidade sobre os impactos ambientais que consequentemente foram gerados pelos seus próprios atos profissionais ou sociais, ele toma consciência do problema sensibilizando-se, modificando suas atitudes e se comprometendo em contribuir com melhorias para o meio ambiente. O que não só viabilizaria o momento presente como também as gerações futuras. Assim, o estudo da competitividade se concilia numa ferramenta estratégica para os gestores públicos e privados, juntamente com a educação ambiental voltada para as atividades sustentáveis à medida que a elaboração de planejamento garanta o desenvolvimento turístico e a sustentabilidade da localidade como destino turístico. Referências BAHL, Miguel (org.). Turismo: enfoques teóricos e práticos. São Paulo: Roca, 2003. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. COBRA, Marcos. Administração no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CRATO, Célia. Qualidade: Condição e competividade. Porto: Princípios Editora, 2010. DIAS, Reinaldo. Turismo sustentável e meio ambiente. 1. ed. – 4 reimpr. São Paulo: Atlas, 2008. ECCLESIA. Entendendo o meio ambiente. Buenos Aires, 2012. Disponível em <http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_e_meio_ambiente/principais_conferencias_internacio nais_sobre_o_meio_ambiente_e_documentos_resultantes.html>. Acesso em set. de 2012. FARIAS, Mayara Ferreira de; MARACAJÁ, K. F. B. Projeto de educação ambiental em escolas na cidade de Currais Novos (Rio Grande do Norte, Brasil) como facilitador na relação da educação ambiental e o turismo. Turismo e Sociedade, v. 5, p. 104-123, 2012a. ______. Necessidade de educação ambiental no turismo: um estudo realizado na Pousada Gargalheiras na cidade de Acari, RN. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 12, n.2, 2012b. GONÇALVES, C.V. Os (des) caminhos do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 1998. HOOLEY, Graham; PIERCY, Nigel F.; NICOULAND, Brigitte.Estratégia de marketing e Posicionamento Competitivo. 4 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. LOUREIRO, Carlos F. Trajetórias e fundamentos da educação ambiental nos anos 90 mudou, mas nem tanto. In. Políticas Ambientais. Rio de Janeiro, n. 25, volume 9. 2000. LOVELOCK, Christopher; WIRTZ. Jochen. Comportamento do consumidor em encontros de serviço. In: ______. Marketing de Serviços: Pessoas, tecnologia e resultados. 5ª Edição São Paulo: Prentice Hall, 2006. p. 27 – 50. MEDEIROS, Janaina Luciana de. ; SILVA, G. B. ; MARACAJÁ, K. F. B. Educação ambiental no turismo: um estudo realizado com os alunos do 6º período do curso de turismo da universidade federal do rio grande do norte/campus currais novos -RN. Revista Querubim, v. 16,v.1, p. 73-80, 2012. REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Coleção Primeiros Passos, 2 ed. 2009. ______, M. Meio Ambiente e representação social. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2007.coleção Questões de nossa época. 87p. RUA, Emílio R.; SOUZA, Paulo Sérgio Alves de. Educação Ambiental em uma abordagem Interdisciplinar e Contextualizada por meio das Disciplinas Química e Estudos Regionais. Revista Química Nova na Escola. São Paulo, v. 32, nº 2, maio de 2010. SOUZA, Roosevelt F. Uma experiência em Educação Ambiental: Formação de valores sócioambientais. Dissertação de Mestrado, Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, 2003. UNESCO. Patrimônio, mundial, cultural e natural da UNESCO. 2012. Disponível em http://www.icm.gov.mo/exhibition/tc/nhintroP.asp >. Acesso em nov. 2012. ZAKRZEVSKI, S.B. e SATO, M. Historiando a educação ambiental nos programas escolares gaúchos: Pesquisa em educação ambiental, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 109-132, 2007. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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A ATUAÇÃO DO GUIA DE TURISMO NO DESTINO TURÍSTICO RELIGIOSO EM SANTA CRUZ (RN) Jaquelyne Santos de Assunção17 Janaina Luciana de Medeiros18 Mayara Ferreira de Farias19 Resumo O turismo surge da curiosidade humana de explorar novos ambientes, lugares, paisagens e assim enriquecer seu conhecimento de mundo e depois disso retornar ao seu habitat natural. O turismo religioso surge das crenças nas mais diversas religiões da busca de conhecer o divino, logo, este trabalho procura apresentar de maneira clara a atuação do guia de turismo e sua importância para o turismo religioso exercido na cidade de Santa Cruz/RN. Para isso, são abordados alguns pontos sobre o que é turismo e como a cidade se transformou em um dos pontos turísticos religiosos que fazem parte da rota do Estado do Rio Grande do Norte.Além disso, pode-se inferir que o turismo religioso surge na cidade de Santa Cruz com intensidade após a criação do santuário de Santa Rita de Cássia, fazendo com que a comunidade local começasse a introduzir essa forma de fazer turismo em suas vidas cotidianas. É possível notar durante o decorrer do trabalho desenvolvido que a desvalorização do Guia e a falta de profissionais atuando na área de turismo na cidade faz com que alguns dos pontos turísticos deixem de ser vistos e visitados. Vale inferir que a pesquisa utiliza diversos autores que ajudaram a compreender as nuances do turismo e assim, nos dando base para pesquisas futuras. Palavras-Chave. Turismo Religioso, Santa Cruz/RN, Guia de Turismo. Abstract Tourism surge of human curiosity to explore new environments, places, father-scapes and thus enrich their knowledge of the world and after that return to their natural habitat. Religious tourism arises from the belief in several religion-s search to know the divine, so try to make this work clearly the role of tour guide and its importance for religious tourism exercised in Santa Cruz / RN. This clearly addressed some of points which is tourism and how the city became one of the religious sights that are part of the Rio Grande do Norte state route. Moreover, it can be inferred that the religious tourism comes in Santa Cruz with intensified ity after the creation of the sanctuary of St. Rita, causing the local co-Community started to introduce this form of tourism in their everyday lives. You may notice during the course of the work that the de-valuation of the Guide and the lack of professionals working in tourism in the city is that in some of the sights no longer be seen and visited. Valley infer that the study uses many authors who helped to understand the nuances of tourism and thus giving the basis for future research. Keywords: Religious Tourism, Santa Cruz / RN, Tour Guide Introdução O presente trabalho apresenta concepções sobre alguns temas como “O que é Turismo”, “como se deu a origem do nome turismo”, “a atuação do Guia de Turismo na cidade de Santa Cruz”, “como o guia irá atuar com o grupo que ele estiver conduzindo“, “quais são os locais de maior importância para ser visitado” aborda também o “Turismo religioso” (mostrar como que é, e qual tamanha devoção das pessoas pela igreja e mostrar o porquê a cidade de Santa Cruz-RN ganhou essa homenagem com a imagem de Santa Rita de Cássia). Aluna do Curso Técnico em Guia de Turismo da UFRN/EAJ. Professora do Curso Técnico em Guia de Turismo da UFRN/EAJ. 19 Professora do Curso Técnico em Guia de Turismo da UFRN/EAJ. 17 18
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Neste, buscou-se demonstrar um pouco da história da cidade e como se deu o projeto de criação do santuário no município e como é vista a de maneira clara a atuação do Guia de Turismo e sua importância para o turismo religioso exercido. O objetivo é buscar melhorias para a cidade para que, tornando-se potência em turismo religioso, não se esquecendo de buscar melhorias também para outras áreas como a agropecuária e a pesca. A escolha deste tema se deu pela devoção à Santa Rita de Cássia e também por residir na cidade onde é localizado o Santuário. A cidade não vive apenas do turismo e sua realidade é bem diferente, pois vive do comércio e vale salientar que o santuário foi inaugurado há pouco tempo e ainda existe muita coisa a ser feita. O turismo religioso começa a ser difundido na cidade, que além do santuário, tem alguns pontos que tem valor histórico como os casarões e o Museu Rural que deve buscar uma ligação mais estreita com o santuário. Este projeto terá influência para pesquisas futuras, pois irá auxiliar novas descobertas e também dará base a novos estudos e pesquisas. Sua importância se dará em conjunto com o crescimento e exploração do turismo religioso e a atuação do guia para a cidade de Santa Cruz/RN. Fundamentação teórica Turismo Conceituar o que é Turismo é fundamental para que possamos compreender o que se passa no hoje. Ter base de como surgiu o turismo é uma forma de entender como houve a sua expansão e qual sua importância na vida da sociedade. O turismo se deu nos tempos da antiguidade, visto que, os povos procuravam lugares melhores para habitar, comercializar e isso faziam com que eles acabassem sempre mudando o lugar no qual eles se abrigaram. Já nos séculos passados as pessoas também viajavam por motivos de trabalho, estudo, saúde e também a peregrinação religiosa, daí foi criado um local para que essas pessoas se acomodassem durante esse tempo, ou seja, fora de seu habitat normal (MONTEJANO, 2001). O turismo surge como uma definição daqueles que saem de seu habitat natural, descobrem o habitat do outro e retornam ao seu local de início. Existe definição sobre turismo que diz “a matriz do radical tour é do latim, através do seu substantivo tourns, do verbo tornare, cujo significado é “giro, volta, viagem ou movimento de sair e retornar ao local de partida” (ANDRADE, 1992). Uma outra definição do que é o turismo é a apresentada pela Organização Mundial de Turismo que é adotada oficialmente no Brasil, que compreende “as atividades que as pessoas realizam durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”. A partir destas citações acima, pode-se ter uma noção do significado da palavra turismo, que está ligada a sair de um local, mas depois retornar sendo apenas uma passagem naquele lugar com duração inferior a um ano, porém as pessoas que visitam esse ponto turístico, ou lugar são conhecidas como turistas, ou seja, pessoas que vão apenas conhecer e depois voltam para as suas cidades de origem.
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Na atualidade, em todas as camadas sociais existem turistas. Com o advento da globalização o turismo se tornou acessível a várias camadas da população através de práticas comerciais como: pacotes, financiamentos, empresas que operam com baixo custo, parcelamentos de valores, entre outros. (MOTA, 2001). O turismo influencia diretamente na economia dos municípios, Estados e até mesmo do país, visto que, as pessoas que fazem com que o capital de cada entidade gire não são apenas os nativos, mas, também, por causa da presença de vários estrangeiros. (MOTA, 2001). A ânsia de viver novas experiências e visitar novos lugares faz com que milhares de pessoas se desloquem de seus “pontos de partida” para ganhar o mundo descobrindo novos ares e cores. O turismo está relacionado com toda a sociedade em geral, pois ela não distingue raça, cor, idade, personalidade, condição física e social, pois as belas paisagens do mundo estão para todas as pessoas apreciarem. A partir da expansão das rotas turísticas, houve a necessidade de profissionais, conhecedores da localidade, que conduzissem os visitantes fazendo-os tomar conhecimento sobre a história e vida de cada local. Atuação do Guia no Santuário O trabalho do guia não é apenas receber grupos que vem chegando ao seu ponto de destino, este busca interagir com as pessoas que estão precisando de sua ajuda, pois, muitas vezes os visitantes desconhecem a cidade e para que eles possam usufruir melhor a sua viagem, o guia tem a função de, além de apresentar os pontos turísticos, fazer com que os visitantes se sintam acolhidos. De acordo com a Embratur, são funções básicas do guia de turismo: [...] acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoas ou grupos, em visitas ou excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais ou especializadas dentro do território nacional; acompanhar ao exterior pessoas ou grupos organizados no Brasil; promover e orientar despachos e liberação de passageiros e respectivas bagagens, em terminais de embarque e desembarque aéreos, marítimos, fluviais, rodoviários e ferroviários. (CHIMENTI e TAVARES, 2008)
O guia vai recepcionar, explicar e mostrar a importância de cada ponto aos turistas, pois ele além de mostra o ponto, contará a história daquele monumento e mostrar de uma maneira diferente aquele ponto que muitas vezes passaria despercebido. Ele será os olhos de cada devoto que vai até o santuário demonstrar o tamanho da sua fé, devotos que vem de todos os lugares do Brasil e até mesmo do mundo. O guia apresenta os pontos turísticos relacionando com suas histórias e fazendo com que o visitante entre no contexto cultural de cada local. No santuário, ele não se prende apenas ao monumento, pois a cidade tem esse atrativo turístico e uma história a qual deve ser repassada a todos que o visitam, e isso, deve fazer com que haja uma curiosidade e um desejo de conhecer o que se é ofertado pela cidade e pela circunvizinhança fazendo com o que o turismo seja impulsionado. Aspectos Históricos do Turismo na Cidade de Santa Cruz O Turismo religioso na cidade iniciou-se pela fé de dois irmãos que tinham terras no agreste potiguar antes mesmo de ganhar o título de cidade quando ainda era um pequeno povoado
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e esses irmãos vinham de famílias bastante tradicionais com a sua religiosidade e que eram devotos de uma santa, Santa Rita de Cássia, que depois de alguns anos iriam receber uma homenagem com um santuário que tem um grande número de visitações mensais e que está cada vez mais virando uma referência para os turistas que são devotos dessa santa das causas impossíveis. A cidade de Santa Cruz é uma passagem obrigatória para quem viaja ao interior norte-riograndense, situada às margens da BR 226 que corta por estar encravada na cidade e aos pés da serra chamada Monte Carmelo, está localizada na Região do Trairí, a 120 quilômetros de Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte. Santa Cruz está localizada na Mesorregião Agreste Potiguar e na Microrregião Borborema Potiguar, com um clima Tropical semi-areado. (FARIAS, 2013, apud GURGEL, 2007). Santa Cruz teve grandes incentivadores para que a obra do Alto de Santa Rita de Cássia deixasse de ser utopia e viesse a ser uma obra concreta, estes foram Luiz Antônio Lourenço de Farias, prefeito na época de início da construção e o pároco Padre Aerton Sales da Cunha. Segundo dados da Igreja Parati (2015), a história de Santa Rita de Cássia pode ser contada dessa maneira: Nascida na Itália no ano de 1381 e por nome Margherita, Rita foi uma menina muito religiosa e seu maior sonho era entrar no convento, mas seus pais que já eram idosos tinham o desejo de ver sua única filha casada, e ela que era obediente seguiu a ordem de seus pais. Assim como era de vontade de seus pais, ela casou-se com Paulo Ferdinando que era um jovem temperamental e que passava as noites nas festas com outras mulheres enquanto sua esposa e seus filhos que tiveram ficavam em casa. Rita rezava para que nada acontecesse com seu marido e que ele chegasse um dia a se converter (IGREJA PARATI, 2015). Ela não falava nada para manter a paz e a harmonia em sua casa, e assim, Rita e Ferdinando passaram 18 anos casados. Em certo dia, Ferdinando foi assassinado e jogado a beira da estrada, seus dois filhos abalados com a morte do seu pai acabaram sendo possuídos pelo espírito de vingança e juraram vingar a morte de seu pai. Rita, muito abalada com a morte de seu marido e com o ódio que seus filhos criaram, pediu a Deus que antes de seus filhos sujarem suas mãos de sangue tirasse a vida deles, e Deus ouviu suas preces (IGREJA PARATI, 2015). Rita ficou sozinha no mundo depois da morte de seu marido e seus filhos, e como era seu desejo desde criança, ela quis se juntar as freiras do convento das Agostinianas de Cássia, mas, infelizmente não pôde, pois não era mais virgem. Quando as freiras disseram que ela não poderia, Rita, muito triste, começou a rezar para seus santos de devoção para que atendessem as suas preces de entrar no convento e assim foi atendido. (IGREJA PARATI, 2015). Quando as freiras passaram pelo jardim lá estava ela, então as freiras ficaram se perguntando como alguém entraria no convento se as paredes do murro eram muito altos, Rita começou a acordar de seu sono e quando percebeu estava dentro do convento e as freiras perguntaram a Rita como é que ela teria conseguido entrar ali, Rita explicou estava rezando e viu São João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino que atenderam suas preces e depois acabou entrando ali então freiras viram aquilo como uma graça atendida (IGREJA PARATI, 2015). Rita passou 14 anos ali até que um dia muito mal, já doente delirando Rita pediu a uma freira que pegasse uma rosa no jardim, e a freira perguntou como se era outono e tinha neve não tinha condições de ter rosas no jardim mesmo assim ela foi, e quando chegou lá se deparou com uma rosa vermelha. Rita, ainda delirando, pediu a Deus pelo menos um dos espinhos que tinha em sua coroa e então do nada apareceu um estigma em sua testa que não tinha um cheiro agradável, mas, depois de sua morte ele exalou cheiro de rosas (IGREJA PARATI, 2015).
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Rita morreu aos 76 anos no mosteiro de Cássia em 1457, e foi canonizada em 1900. Seu dia é comemorado todos os dias 22 com uma missa da coroa, mas seu dia é 22 de maio. É pela sua história creia de graças e milagres que ela é conhecida como Santa das causas impossíveis (IGREJA PARATI, 2015). Este sinal do espinho, chaga, foi mais do que um sofrimento, foi a prova de sua participação na paixão de Cristo. Que Rita de Cássia possa ser exemplo de menina, jovem, mulher, esposa, mãe, viúva, religiosa (João Paulo II)
Pode-se afirmar, então, que essa história é difundida por toda a cidade e se explica o porquê da devoção de cada romeiro que passa pela cidade. A busca por milagres impossíveis é o que mostra grande parte da devoção das pessoas nela, pois sua história é cheia de milagres e graças impossíveis. “O contato com a religiosidade dos romeiros permitiu a percepção do sentimento sagrado, presente na atmosfera da cidade, compreendendo a força de atração exercida peça figura políticoreligioso...”, (Oliveira, 2008). A fé que os romeiros depositam em seus santos devotos é grandiosa, a tal ponto de virem dos mais distantes lugares para pagar suas promessas ou agradecer pelas graças recebidas e isso faz com que as visitas ao santuário sejam uma demonstração de sua fé e de suas crenças. Metodologia Para realização desse trabalho foram adotados alguns métodos de pesquisa: A pesquisa bibliográfica e a pesquisa histórica. Estes métodos de pesquisa têm o intuito de tratar das temáticas sobre Turismo, à atuação do Guia no Santuário e Turismo Religioso realizados na cidade de Santa Cruz/RN. Foi realizada uma pesquisa no dia 06 de abril de 2015 com o único condutor de grupos de turismo da cidade. O questionário (Anexo 1) contou com quatro questões e com este foi possível traçar um perfil das dificuldades enfrentadas por ele. Grande parte das pesquisas foi baseada em monografias, pesquisas em sites e histórias advindas dos cidadãos da cidade para poder se concluir alguns dos fatores notados. Esse trabalho tem grande importância pela fé em uma pequena homenagem e devoção a Santa Rita de Cássia, e ainda pelo amor à cidade. Gil (1995) afirma que a pesquisa bibliográfica propicia um embasamento conceitual, o qual subsidia o pesquisador para análise do objeto de estudo. Sem a pesquisa bibliográfica, o objeto de estudo contaria apenas com informações mínimas e sem riqueza de detalhes logo, isso ocasionaria uma pesquisa limitada. A pesquisa tem caráter qualitativo considerando algumas observações que foram colocadas e análises feitas em relação aos fatores de impactos culturais e sociais buscando ter relevância para pesquisas futuras. Mattar (1999, p.80) afirma que "esse tipo de pesquisa é particularmente útil quando se tem uma noção muito vaga do problema de pesquisa”. Segundo o autor, esse tipo de pesquisa bibliográfica sobre o tema tem poucos conceitos a serem vistos e tratados, pois é um assunto rico em conceitos, mas pouco tratado em conjunto.
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Neste trabalho foi utilizado apenas um meio de explorar sobre o turismo na cidade, esta parte já se pratica com pessoas, pois assim podemos ver, compreender e melhorar. Na cidade ainda existem problemas, mesmo assim, apresenta coisas que agradam aos turistas como outros pontos que se podem ser explorados, mostrando e utilizando as histórias que os mais velhos contam até hoje para seus filhos e netos e, a partir daí, nasce um ponto positivo. "Nesse caso é necessário desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se deseja estudar." (Köche, 1997, p.126), nesse conceito podemos ter uma idéia de que alguns fenômenos que acontecem podem ter grandes impactos que farão com que as coisas mudem e que possamos utilizar a mudança da história sem que ela seja modificada com alguns determinados pontos nos quais eram para ser visitado sem nenhum problema. Foram realizadas observações em um pequeno grupo de visitantes guiados em um roteiro denominado Roteiro da fé, onde se baseia os resultados dessa pesquisa. No decorrer foram observados não apenas os locais, mas, também, o trabalho do Guia e a preservação do ambiente turístico. As condições de observação são circunstâncias através das quais esta se realiza, ou seja, é o contexto natural ou artificial no qual o fenômeno social se manifesta ou se reproduz. Por sua vez, o sistema de conhecimento é o corpo de conceitos, categorias e fundamentos teóricos que embasa a pesquisa (REYNA, 1997). É importante fazer uma observação detalhada dos assuntos que foram tratados, pois apenas assim podemos notar detalhes quase imperceptíveis, detalhes que muitas vezes passam despercebidas, por isso que devemos ter olhos curiosos para que, só assim se possa ter conceitos mais completos e informações mais complexas. Resultados De acordo com o questionário aplicado, se torna perceptível que existe decadência de profissionais qualificados atuando, pois quando se é feito ou se irá realizar um roteiro completo pela cidade tem pessoas que desgostam por falta de valorização dos pontos que fazem parte da história da cidade e isso mostra as várias deficiências na roteirização com os visitantes. Este projeto será implantado na comunidade para tentar ter melhorias no setor de turismo, onde ainda existem algumas deficiências. Essas deficiências são conhecidas pela população e pinceladas para os visitantes. Espera-se que essas várias deficiências sejam sanadas e que propostas futuras para a melhoria sejam feitas com agilidade e responsabilidade, pois, todos os pontos turísticos da cidade merecem atenção. Os pontos desvalorizados são aqueles que não foram conservados e por causa do tempo estão em deterioração. Por não terem visibilidade ainda existe uma deficiência que deve ser sanada, mas só iremos ter resultados positivos se conseguimos aplicar um projeto de valorização conjunto com a população. Pode-se analisar a cidade quando recebeu a inauguração do santuário e perceber que, no início tudo era muito difícil e complicado e que hoje existe um resultado melhor, pois com o tempo vê-se o que é necessário melhorar. Logo no início não se tinha pessoas atuando no santuário, hoje temos uma pessoa que atua dando informações e ajudando os visitantes que vem até a cidade conhecer o santuário. Muitos
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visitantes desconhecem a história de Santa Rita de Cássia e a cidade, e a função do guia é deixá-los desejosos de visitar e conhecer. Com isso, o turismo religioso vem fazendo parte da realidade que ao longo dos anos tende a melhorar cada vez mais.
Imagem 1. Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Imagem 2. Entrada com Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
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Imagem 3. Monumento de Santa Rita de Cássia. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Imagem 4. Estacionamento do Santuário. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Imagem 5. Devoção à Santa Rita de Cássia. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
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Imagem 6.Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Imagem 7. Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Imagem 8.Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia Fonte: Dados da pesquisa (2015).
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Imagem 9. Museu Auta Pinheiro Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Imagem 10. Museu Auta Pinheiro Fonte: Dados da pesquisa (2015). Conclusão Após as observações que foram realizadas, se espera que este trabalho sirva para mostrar a importância de que coisas simples muitas vezes não são percebidas. Portanto, pode-se buscar melhorias imediatas no setor de turismo que está cada vez mais crescendo e tendo uma maior visibilidade no estado do Rio Grande do Norte e no Brasil. O turismo religioso vem crescendo rapidamente no mundo e, claro, Santa Cruz/RN não poderia ficar de fora, pois, com o complexo religioso e a imagem de devoção torna a cidade como roteiro dessa espécie turismo que está em expansão. A devoção a essa Santa italiana atrai devotos de todos os lugares, em especial os devotos da cidade que são muito ativos e participativos. Pela existência de vários religiosos de votos de Santa Rita de Cássia que vem de diversos lugares do país, faz com que o número de pessoas que visitam o
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santuário seja ainda maior, sem contar com o mês de maio, mês de comemoração, onde na sua festa o número é ainda maior. Conclui-se que no mês de maio, o auxílio do guia é de suma importância visto que, os romeiros que vem de fora nessa época ficam sem saber o que fazer na cidade já que eles não conhecem. Porém, aí é que se encontra a raiz do problema: A falta de profissionais atuando. Ao final, fica-se na expectativa de mudar esse dado que negativo na cidade para que, assim, possamos ver a cidade se desenvolvendo a cada dia mais com o turismo religioso que já é realidade. Referencias ANDRADE, José Vicente. Turismo: Fundamentos e Dimensões. São Paulo: Ática,1992. CHIMENTI, Silvia: TAVARES, Adriana de Menezes. Guia de Turismo: O profissional e a profissão. São Paulo, 2008. FARIAS, Mayara Ferreirade.Turismo Religioso na Cidade da Santa: A Percepção da Comunidade sobre a Construção do Complexo Turístico e Religioso Alto De Santa Rita, Santa Cruz/RN, 2013. Gil, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Àtica. 1995 IGREJA PARATI. Santa Rita de Cássia. Disponível em: <http://www.igrejaparati.com.br/hist%C3%B3ria_de_santa_rita.htm> Acesso em 25/03/15 KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 15 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 1 v. OLIVEIRA, Laís Catarine.Espaço urbano e turismo religioso: avaliação da política de reordenamento do centro da cidade de Juazeiro do Norte – CE. 2008. 158 f. Dissertação (Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas) – Universidade Federal do Ceará, Pro - Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Programa de Pós-Graduação em Avaliação de Políticas Públicas, Fortaleza-CE, 2008. MONTEJANO, Jordi Montaner. Estrutura do mercado Turístico. 2.ed. São Paulo: Roca, 2001. MOTA, Keila Cristina Nicolau. Marketing Turístico: promovendo uma atividade Sazonal. São Paulo: Atlas, 2001. REYNA, C. P. Vídeo e pesquisa antropológica: encontros e desencontros. Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação. 1997. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2014
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O ÁPICE DO FETICHISMO: ADMINISTRAÇÃO, EDUCAÇÃO E CONTROLE SOCIAL Jean Henrique Costa20 Thadeu de Sousa Brandão21 Tássio Ricelly Pinto de Farias22 Resumo O presente escrito procura discutir, sob a configuração de ensaio, a forma pela qual a chamada “administração científica” se enquadra em um esquema sociotécnico de criação e reforço ideológico em prol do Capital e de sua reprodução. Através da tradição marxista, partindo da noção de ideologia em Marx e atravessando autores contemporâneos como Adorno, Horkheimer, Marcuse, Fromm, Mészáros e Žižek, pretende-se aqui mostrar como o discurso pretensamente científico da administração fornece mecanismos para a plena fetichização e reificação do sujeito, tornando-o instrumento dócil de controle do Capital e de manutenção e reprodução da ordem capitalista. Palavras-chave: Administração; Ideologia; Fetichismo; Dominação. THE APEX OF THE FETISHISM: ADMINISTRATION, EDUCATION AND SOCIAL CONTROL Abstract This paper discusses, as configuration test, the way in which the so-called "scientific management" fits in a creation socio-technical graph and ideological reinforcement in favor of capital and its reproduction. Through Marxist tradition, starting at ideology’s standpoint in Marx and through contemporary authors such as Adorno, Horkheimer, Marcuse, Fromm, Mészáros and Žižek, it is intended here show how the allegedly scientific discourse administration provides mechanisms for full fetishization and reification of the subject, making it docile instrument of control of the capital and maintenance and reproduction of the capitalist order. Keywords: Administration; Ideology; Fetishes; Domination. Há, de forma simplificada, duas formas básicas de se iludir: uma voluntária, na qual o sujeito, consciente ou inconscientemente, submete-se ao julgo de ideias que lhe são alheias, mas que possuem certa positividade; ou uma involuntária, forma pura de imposição de ideia exterior na qual o indivíduo de sábia consciência não admitiria (pelo menos não em plenitude). Afirmamos neste ligeiro ensaio que a denominada escola de administração, já alegoricamente chamada por Frederich W. Taylor de administração científica, enquadra-se objetivamente num racionalizado esquema sociotécnico de criação e reforço de ideologias em prol do capital. Isto é, de ideias estranhas ao bom senso da emancipação do sujeito. Em outras palavras: uma escola sistemática, metódica e administrada de ilusões: grande fábrica de reificação do sujeito e planejado moinho de fetichismo da modernidade capitalista. Não importa a escola, enfoque ou modelo administrativo: iludir-se aí pode significar tanto uma adesão voluntária ou involuntária: o cerco é crescente e o fermento construtor da ilusão ganha Sociólogo e Doutor em Ciências Sociais. Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: jeanhenrique@uern.br 21 Sociólogo e Doutor em Ciências Sociais. Professor da Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA. E-mail: thadeu@ufersa.edu.br 22 Filósofo e Mestrando em Ciências Sociais e Humanas (UERN). Professor da Faculdade Evolução do Alto Oeste Potiguar – FACEP. E-mail: tassioricelly@gmail.com 20
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força a cada dia. Não precisamos nos estender muito para dizer que as áreas básicas da administração não passam de engodos racionalmente aceitos e estrategicamente planejados. Neste ligeiro ensaio discutiremos quatro (04) dos muitos engodos existentes. O primeiro deles é a chamada gestão de pessoas. Sua missão básica é prover as empresas de talentos, retê-los e administrá-los como seres humanos, isto é, como colaboradores. Ora, sob relações capitalistas, não há gestão humana do trabalho. Marx (1983, p. 263) já demonstrou que “o motivo que impulsiona e o objetivo que determina o processo de produção capitalista é a maior autovalorização possível do capital, isto é, a maior produção possível de mais-valia, portanto, a maior exploração possível da força de trabalho pelo capitalista”. Portanto, a exploração do trabalho é estrutural na produção capitalista. Uma suposta gestão humana no trabalho, nesse sentido, opera, no máximo, como “o esforço despendido nas tentativas de transformar o trabalho, de adversário estruturalmente irreconciliável, no cúmplice dócil do capital” (MÉSZÁROS, 2002, p. 22). Na concepção de Marcuse (1973, p. 18), na sociedade atual “a tecnologia serve para instituir formas novas, mais eficazes e mais agradáveis de controle e coesão social”. Assim, os mecanismos de administração e dominação avançam silenciosamente e, o pior, tornam-se a cada dia mais eficientes e imperceptíveis: avançam sobre o inconsciente. Doravante, os indivíduos já não se veem como tendo o dever de se opor a essa tendência de administração total da cultura. Aí reside o motivo de Max Horkheimer e Theodor W. Adorno terem perdido a esperança na revolução proletária: a classe trabalhadora havia perdido sua consciência revolucionária, posto que, já não se sentia explorada (dominada) como nos tempos do capitalismo industrial. Fica evidente que, aos poucos, “a dominação se transfigura em administração” (MARCUSE, 1973, p. 49). Exemplos não cessam de nascer na tentativa de tornar dócil o trabalhador. Um bom exemplo é a chamada gestão da qualidade de vida no trabalho. Especificamente, como demonstram Dourado e Carvalho: Quanto aos programas de qualidade de vida no trabalho, ao propor descentralização do processo decisório, maior aproximação entre concepção e execução do trabalho, melhoria nas condições do ambiente e no sistema de recompensas, por exemplo, conjugam em uma só estratégia de gestão vários meios de manutenção do homem alienado e cada vez mais refém do processo econômico do qual é recurso [...] As recompensas diretas e indiretas, as condições do ambiente de trabalho seguras e atrativas, a concepção do trabalho, a autonomia e participação do indivíduo, a imagem social da empresa e o equilíbrio entre trabalho, família e lazer promovem, na realidade, a instrumentalização do indivíduo no trabalho através de métodos cada vez mais sofisticados de controle social (DOURADO; CARVALHO, 2006, p. 05-12, grifos nossos).
Nas palavras de Padilha (2010, p. 555), esses programas de qualidade de vida no trabalho (QVT) se tornam um “‘meio’ para maquiar problemas de ordem estrutural (na organização e na sociedade); para reforçar uma ideologia do ‘pão e circo’ e para focar no indivíduo, desviando a atenção de que se trata de um problema do sociometabolismo do capital”. Deste modo, pensar uma gestão de pessoas é, sobretudo, pensar nas formas nas quais o capital gerencia sua reprodução ampliada. Os rótulos de trabalhador como “colaborador” servem fortemente como estratégia de flexibilização e, portanto, precarização da força de trabalho. A docilidade é sua meta. Como adverte Adorno (1996, p. 80), “diante dos caprichos teológicos das mercadorias, os consumidores se transformam em escravos dóceis”, abdicam das suas vontades, “[...] deixando-se enganar totalmente”. Por isso, na tentativa de obtenção de maior produtividade e, ao mesmo tempo, de impedir que os trabalhadores enxerguem as formas plurais de exploração que perduram, os capitalistas (ou administradores) têm buscado encontrar estímulos para que os trabalhadores
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produzam satisfeitos. É aí que entram em cena os excitantes externos oferecidos pela ideologia da indústria cultural. Em Adorno, essa indústria cultural seria uma espécie de propaganda do mundo. Um instrumento nas mãos dos gestores da ideologia para, através do consumo alienado, impedir que os indivíduos reflitam sobre suas reais condições de vida e trabalho. Dessa forma, seria ela um mecanismo técnico que visa a manutenção do status quo do modo de produção capitalista. Portanto, as supostas melhorias salariais, unidas ao consumo (estimulado por essa indústria cultural) são estratégias que visam a manutenção da própria exploração por meio do controle e docilização dos indivíduos. Como o trabalho tem sido (ou sempre foi) visto como meio para um fim – entendendo-se esse fim por consumo – aos poucos os trabalhadores vão sendo convencidos de que suas condições de trabalho estão melhorando por simplesmente poderem estar consumindo mais. O que esquecem, é que esse mecanismo visa justamente a manutenção dos seus estados reais de trabalhadores-consumidores. Como exemplo, temos o caso de funcionários que recebem ao fim do ano a chamada PL (participação nos lucros), que seria não mais que uma estratégia para fazer todos os “colaboradores” trabalharem mais, para ganharem mais e, consequentemente, consumirem mais. Observa-se, como disseram Adorno e Horkheimer (1985, p. 110), que os trabalhadores cada vez mais “insistem na ideologia que os escraviza”: o consumo. Mas as ilusões não cessam com a gestão de pessoas. O segundo engodo, prosseguindo nosso ensaio nada idílico aos olhos do status quo capitalista, refere-se ao marketing. Novamente frisando: grande arte de iludir e mentir. Prescrever necessidades que não temos e convencer de que produtos ruins são de fato bons tem sido a grande razão de ser do marketing, sobretudo o marketing promocional. Nossa atual cultura do consumo encontra seu perfeito complemento num superego dedicado ao gozo. O imperativo é que se deve consumir, comprar, comer, beber, transar, etc. A lógica da imposição é que se você não estiver fazendo essas coisas não será feliz. Para Erich Fromm (1965) o sistema necessita de homens que se sintam livres, mas que, sutilmente, também estejam dispostos a obedecer, enquadrando-se na máquina social sem atrito. “Homens que possam ser guiados sem a força, liderados sem líder, movidos sem objetivo, exceto o objetivo de estar em marcha, de funcionar, de avançar” (FROMM, 1965, p. 83). Para Fromm, o homem moderno é um consumidor passivo, que aceita bebidas, alimentos, cigarros, conferências, panoramas, livros, cinema e música sem questionar exatamente o fundamento da aceitação. “O homem tornou-se o amamentado, o que espera sempre – e o eternamente desapontado” (FROMM, 1965, p. 82). Como bem disse Marcuse (1973, p. 26): A maioria das necessidades comuns de descansar, distrair-se, comportar-se e consumir de acordo com os anúncios, amar e odiar o que os outros amam e odeiam, pertence a essa categoria de falsas necessidades [...] Tais necessidades têm um conteúdo e uma função sociais determinados por forças externas sobre as quais o indivíduo não tem controle algum; o desenvolvimento e a satisfação dessas necessidades são heterônomos.
Prontamente, sob o capitalismo tardio, o sujeito consome abundantemente coisas que não precisa e, ainda, cada vez mais, de qualidade pouco durável. A capacidade de manipulação dos desejos e da criação de justificativas em prol do capitalismo tem sido uma das grandes armas ideológicas do século XXI. Nesse sentido, o marketing promocional se tornou um forte aliado nesta guerra ideológica pró-capitalismo.
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Lembremos que Marx, em O Capital, expõe o caráter fantasmagórico da mercadoria no capitalismo, sistema que a produz. Explicita, através do conceito de “fetichismo da mercadoria”, como relações sociais passam a ser mediadas por “coisas”. O fetichismo faz surgir uma ilusão de que somos mediados por pessoas, quando na verdade são as mercadorias fazem isso por nós. Essa relação se torna substancial e imperceptível, ao menos diretamente. Entrementes, o consumo passa a ser o grande mediador das relações sociais. Segundo Milton Santos (2003), o consumo – veículo de narcisismos – se torna o grande fundamentalismo de nosso tempo, justamente porque alcança e envolve todo o mundo. Ninguém ou quase ninguém escapa desse processo. Transformamos nosso Natal na festa de comprar presentes. Nossa Páscoa? Festa dos ovos de chocolate. Dia das mães, pais, etc.? Presentes a serem comprados. Mediamos nosso amor através de presentes, devidamente produzidos pela indústria. Além disso, não basta ser mercadoria, tem que integrar uma estética própria de marcas e modelos. Vou comprar margarina no supermercado? Tem que ser X ou Y. Desconte-se o lucro embutido, custos e demais elementos constitutivos do valor final da mercadoria. O que resta? O fetichismo, que amplia o processo acrescentando um caráter estético, visual e, portanto, puramente cultural e social. Afinal, não basta ter um celular: é preciso ter um aparelho modelo IPhone. Compramos cotidianamente sem necessidade produtos que pouco ou nunca usaremos. Estocamos roupas, perfumes, calçados, relógios, quinquilharias domésticas e eletrônicas. Compramos! Afinal, se nossas relações sociais são mediadas pelo consumo de mercadorias, é somente nesse processo que as mercadorias se realizam enquanto tal. Uma vez compradas? Perdem sua utilidade nunca dantes existente. A nós, advém nova ansiedade e vazio, só preenchido com novo consumo. No fim das contas, se essas são falsas necessidades que “perpetuam a labuta” (MARCUSE, 1973), quando iremos decidir por nós mesmos a abrir mão delas? Para Marcuse (1973, p. 27), essa questão “[...] só pode ser respondida pelos próprios indivíduos [...], se e quando eles estiverem livres para dar sua própria resposta. Enquanto eles forem mantidos incapazes de ser autônomos, enquanto forem doutrinados e manipulados [...] a resposta que derem a essa questão não poderá ser tomada por suas”. Nesse meio tempo, o assédio sistemático pró-consumo avança sobre o inconsciente, criando nos sujeitos necessidades artificiais e, consequentemente, produtos para satisfazê-las. O sujeito contemporâneo é cada vez mais impotente diante dessa administração total da cultura pelo capital. Nesse ínterim, saímos às compras e compramos o que não precisamos apenas porque... está em promoção! Caímos no engodo de que as mercadorias estão “baratas” devido a esta ou aquela data específica. A maquiagem da justificativa do valor se amplia. Compramos, compramos, compramos! Não é à toa que temos canais inteiros dedicados às compras. Criamos sistemas de crédito apenas para isso, assim como sistemas de endividamento e controle. Vivemos num “Matrix”? Segundo Slavoj Žižek: A noção ‘totalitária’ de um ‘mundo administrado’, em que a experiência mesma da liberdade subjetiva seja a forma como surge a sujeição a mecanismos disciplinadores, é na verdade o verso fantasmático obsceno da ideologia (e prática) pública ‘oficial’ da autonomia individual e da liberdade: a primeira tem de acompanhar a segunda, suplementando-a como sua cópia obscena e nebulosa, de uma forma que traz à memória a imagem central do filme Matrix (ŽIŽEK, 2003, p. 116).
Žižek nos aponta que o capitalismo é a primeira ordem socioeconômica que destotaliza o significado: ou seja, ele não é global também a nível do significado (não há no capitalismo, por exemplo, uma “visão de mundo capitalista” global nem uma pretensa “civilização capitalista”; a lição fundamental da globalização seria justamente que o próprio capitalismo pode se adaptar a todas as civilizações, da cristã à hindu ou à budista). “O problema é de significado, e é aqui que a
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religião reinventa seu papel, redescobre sua missão de garantir uma vida com sentido para os que participam do funcionamento sem sentido da máquina capitalista” (ŽIŽEK, 2011, p. 33). De qual religião Žižek se refere? O sistema que mais encantou seus sujeitos com sonhos (de liberdade, de que o sucesso só depende de nós, do golpe de sorte que está ali na esquina, dos prazeres sem limites) foi o capitalismo. Como ele mesmo descreveu: “é a ideologia, estúpido!”. Na versão ideológica do capitalismo que se impõe atualmente, percebemos o surgimento de uma visão de um capitalismo “socialmente responsável”. Admitindo que, durante sua formação e mesmo hoje, o capitalismo de livre mercado muitas vezes foi superexplorador, com catastróficas heranças, essa versão agora diz que podemos distinguir os sinais de uma nova via consciente de que “a mobilização capitalista da capacidade produtiva de uma sociedade também pode servir a metas ecológicas, à luta contra a pobreza e a outros fins meritórios” (ŽIŽEK, 2011, p. 39). Essa versão é apresentada como parte de uma mutação mais ampliada rumo a um novo “paradigma holístico, espiritual e pós-materialista”. Segundo Žižek, a visão que se homogeniza é a de que os capitalistas não deveriam ser apenas máquinas de gerar lucros, afinal, sua vida pode ter um significado mais profundo. Assim, seus lemas preferidos passaram a ser gratidão e responsabilidade social. Desse modo, o novo éthos de responsabilidade social pode fazer o capitalismo funcionar como o instrumento mais eficiente para o bem comum. O dispositivo ideológico básico do capitalismo – podemos chama-lo de ‘razão instrumental’, ‘exploração tecnológica’, ‘ganância individualista’ ou do que quisermos – é separado das condições socioeconômicas concretas (relações de produção capitalistas) e concebido como vida autônoma ou atitude ‘existencial’ que deve (e pode) ser superada por uma nova postura mais ‘espiritual’, conservando intactas essas mesas relações capitalistas (ŽIŽEK, 2011, p. 40).
O que Žižek tentar mostrar é ainda prova maior da vitalidade do conceito marxista de reificação. Lukács reforça que, assim como o capitalismo se produz e reproduz incessantemente, a reificação penetra na estrutura da consciência humana de maneira cada vez mais profunda. Deste modo, a reificação se amplia com o progresso, substituindo relações originais que antes eram mais transparentes em termos de relações humanas por relações mais parcelizadas e mais fragmentadas. O essencial é reter que a reificação atinge a todos: “não há uma diferença qualitativa na estrutura da consciência” (LUKÁCS, 2003, p. 219). Logo, as relações e os propósitos do modo de produção vigentes são ocultados em nome de uma vida feliz, num trabalho feliz e no consumo feliz. Os engodos são crescentes. Avançando na arte de iludir, o empreendedorismo encabeça hoje a ideologia administrativa. Você pode! Seja senhor de seu trabalho. Empreenda! Frases como essas lotam auditórios, salas de aula e mesas de organismos de apoio ao microempresário ou candidato ao sucesso. Qualquer análise econômica básica, estruturalmente séria, mostrará que não há espaço para todos e que empreender sem cálculo racional não passa de aventura. Que as pessoas devem e podem empreender livremente não vemos nenhuma objeção. Contudo, há de fato efeitos perversos na natureza desse conselho. Como bem demonstrou Lima (2008), a defesa do empreendedorismo, enquanto uma saída para os “perdedores” da globalização, termina por propagar uma mensagem para os trabalhadores (formais e informais) que diz: os desajustados precisam se ajustar. Prontamente, num cenário em que desemprego e precarização são fenômenos crescentes, os vencedores passam a ser, ideologicamente, empreendedores, dispostos a encarar todos os riscos.
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Para Lima (2008), então, o empreendedorismo desconsidera as condições socioeconômicas como fatores de risco e ignora a condição dos trabalhadores precarizados e/ou excluídos do processo formal da economia. Deste modo, transfere-se para o indivíduo a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso de seu desempenho econômico, quando, na verdade, as condições estruturais já estão postas. Nesse ínterim, obscurecem-se possibilidades de alternativas de mudanças estruturais, culpabiliza-se o trabalhador por seu fracasso e torna-se ainda mais vulnerável a condição de quem se encontra incluído num modo de produção precário e perverso. O mesmo vale para o perigoso discurso da empregabilidade: outra tentativa de culpabilizar o trabalhador pelo seu fracasso. Em suma, não há espaço para todos e os fenômenos do desemprego e da precarização das condições e das relações de trabalho são crescentes. Os chamados trabalhadores supranumerários crescem e a reestruturação capitalista não os absorve (e absorve cada vez menos!). Por conseguinte, crer no empreendedorismo como uma saída para os abandonados pelo processo é crer que o lado mais fraco vencerá. Ledo engano. Como disse Marcuse (1973, p. 24), “a liberdade de empreendimento não foi de modo algum, desde o início, uma vantagem. Quanto à liberdade de trabalhar ou morrer à míngua, significou labuta, insegurança e temor para a grande maioria da população”. Por fim, a quarta tática de iludir tem sido a administração financeira. Esta sim uma grande arma a favor de manobras a fim de maquiar contas e reduzir ao máximo o custo com impostos ou demais encargos. Neste ponto reduziremos o caráter especulativo deste ensaio: de fato nem todo empresário sonega imposto. Isso é fato! Mas, também de fato, seria ingênuo dizer que cada vez mais se sonega menos (risos). A chamada contabilidade criativa, crescente hoje tanto na administração pública quanto na gestão financeira de empresas, significa “uma maquiagem da realidade patrimonial de uma entidade, decorrente da manipulação dos dados contábeis de forma intencional, para se apresentar a imagem desejada pelos gestores da informação contábil” (OLIVEIRA, 2010, p. 2-3). Constituem alguns exemplos dessa prática, o enxugamento dos gastos com pessoal, por meio da contratação de serviços terceirizados que envolvem despesas com pessoal, lançados contabilmente como sendo de ‘investimentos’; a exclusão de benefícios previdenciários não cobertos com recursos de fundos próprios de aposentadoria, por exemplo; atrasos no pagamento do funcionalismo no exercício fiscal, despesas que poderão ser depois lançadas na vaga rubrica de ‘despesas de exercícios anteriores’ [...] Essas manipulações da contabilidade e do orçamento transformaram a vida econômica e financeira das empresas e da administração pública numa verdadeira “caixa-preta”, que abriga e esconde da sociedade, do mercado e dos investidores, a situação real dessas entidades e instituições, e que somente são conhecidas pelos que emitem as ordens para que sejam realizadas e pelos técnicos que as materializam, mas que por dever do ofício, e mais ainda do emprego, não as revelam (OLIVEIRA, 2010, p. 4-5).
Num país como o Brasil, no qual o patrimonialismo perdura estruturalmente na condução da gestão da vida pública, e o denominado jeitinho brasileiro expressa todo um ethos de ser brasileiro, um habitus, no sentido empregado por Pierre Bourdieu, não é difícil supor as diversas manobras pelas quais a gestão financeira de empresas e entes públicos fazem diariamente para a demonstratividade de sua transparência e idoneidade. Especulação à parte, enquanto escrevemos este pequeno texto certamente milhares de estudantes se matriculam em cursos de administração e similares pelo Brasil. Não os culpamos. O discurso do sucesso é encantador. A busca pela saída da condição de trabalhador precarizado é legítima. E viver o sonho de uma vida digna de consumo é condição básica de qualquer indivíduo. Sonho este, alimentado por inúmeros mecanismos de sedução e controle do indivíduo. Aliás, nem toda mentira é ausente de certa positividade para o receptor.
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No cotidiano, somos constantemente interpelados por ilusões e mentiras sob as mais diferentes apresentações – promessas de sucesso, garantias de felicidade, possibilidade de imortalidade, produtos miraculosos, relações pessoais... –, que embora saibamos ser em sua grande maioria falsas funcionam como um trompe l’oeil social: se, por um lado, quase nunca cumprem o que prometem, por outro, precisamos delas para evitarmos o confronto com o desamparo constitucional. Dito de outra forma: sabemos que são mentiras, mas fingimos não sabê-lo, e isso mantém, ilusoriamente, o laço social (CECCARELLI, 2012, p. 100). Logo, ilusões e mentiras são construções sociais que funcionam como catalisadores da ordem. Por conseguinte, a administração também contribui como mantenedora de parte da ordem social. Não fosse ela e suas promessas de crescimento no trabalho e próspero consumo, revoltas de trabalhadores e consumidores seriam bem mais frequentes. O que pode causar espanto não é o indivíduo que procura este tipo de profissão, estudo ou conselho, mas sim, aqueles que alimentam a suposta ideia de que a administração seria uma ciência em prol da construção de uma sociedade racional e justa. Outro ledo engano. Grande ideologia. Questiona-se: até onde – enquanto ciência – a administração propõe esclarecimento? É mister, portanto, pôr em xeque seu estatuto de cientificidade, à medida que se observa que ela se comporta muito mais como técnica, como mecanismo mantenedor da situação tal qual está posta. Ora, se “libertação depende da consciência de servidão” (MARCUSE, 1973, p. 28), a administração (enquanto disciplina) em nada contribui para que isso ocorra, visto que ela opera justamente na tentativa de ensinar as artimanhas da administração a uns em detrimento de outros. Se outrora Theodor Adorno afirmou ser a educação capitalista uma perpetuadora da semiformação (Halbbildung), e, por isso, mantenedora do status quo, simplesmente por ela não conseguir educar para a conscientização e contradição, imagina-se o que este diria a respeito de um ensino sistemático em prol do próprio capital. Portanto, reafirmamos que a administração é uma técnica. Melhor: uma técnica a serviço de certos interesses. Interesses privados. E o afunilamento prossegue: em prol da reprodução do capital. Ora, somente neste pequeno exercício de delimitação já temos uma noção básica de que esta técnica serve aos interesses do modo de produção capitalista. Logo, discursos como “responsabilidade social empresarial”, “empresa verde ecologicamente sustentável” e “empresa solidária” não passam de mais ideologias que visam justificar o mundo como ele é. Nas palavras de Milton Santos (2003): uma fábrica de perversidade. Contudo, e nem tudo está perdido, conforme lembra Marcuse (1973, p. 28) para fechar essa breve reflexão ensaística: “quanto mais racional, produtiva, técnica e total se torna a administração repressiva da sociedade, tanto mais inimagináveis se tornam os modos e os meios pelos quais os indivíduos administrados poderão romper sua servidão e conquistar sua própria libertação”. Logo, distintamente do que esperaria os gestores da ideologia, a “esmagadora maioria das nossas experiências constitutivas permanece – e permanecerá sempre – fora do âmbito do controle e da coerção institucionais formais [...] Nem mesmo os piores grilhões têm como predominar uniformemente” (MÉSZÁROS, 2008, p. 54). Referências ADORNO, Theodor. O fetichismo na música e a regressão da audição. In. Theodor W. Adorno: textos escolhidos. Tradução de Luiz João Baraúna (revista por João Marcos Coelho). São Paulo: Abril Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores). ________; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
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CECCARELLI, Paulo Roberto. A mentira como organizador social. Cronos: R. Pós-Grad. Ci. Soc. UFRN, Natal, v.13, n. 1, p. 99-109, jan./jun. 2012. DOURADO, Débora Coutinho Paschoal; CARVALHO, Cristina Amélia. Controle do homem no trabalho ou qualidade de vida no trabalho? Cadernos EBAPE, vol 4. n. 4, dez. 2006. FROMM, Erich. O dogma de Cristo e outros ensaios sobre religião, psicologia e cultura. 2. ed. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. LIMA, Aguinaldo Luiz de. Os riscos do empreendedorismo: a proposta de educação e formação empreendedora. Dissertação (Mestrado em Educação), USP, São Paulo, 2008. LUKÁCS, Georg. A reificação e a consciência do proletariado. In: ______. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. Tradução de Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2003. MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Vol. 1, Livro Primeiro, Tomo 1. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1983. MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução de Paulo Cezar Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Boitempo, 2002. ________. A educação para além do capital. Tradução de Isa Tavares. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2008. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. OLIVEIRA, Fabrício Augusto de. Contabilidade criativa: como chegar ao paraíso, cometendo pecados contábeis – o caso do governo do Estado de Minas Gerais. XIV Seminário sobre Economia Mineira, CEDEPLAR, Diamantina, 2010. Disponível em: http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/site/seminarios/seminario_diamantina/2010/D10A099.pdf . Acesso em: 10. dez. 2014. PADILHA, Valquíria. Qualidade de vida no trabalho num cenário de precarização: a panaceia delirante. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n. 3, p. 549-563, nov.2009/fev. 2010. ŽIŽEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real: cinco ensaios sobre o 11 de Setembro e datas relacionadas. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2003. ________. Primeiro como tragédia, depois como farsa. Tradução de Maria Beatriz de Medina. São Paulo: Boitempo, 2011. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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HEGEMONIA, COTIDIANO E CONSUMO CULTURAL EM ANTONIO GRAMSCI Jean Henrique Costa23 Resumo Este ensaio discute o conceito de hegemonia em Antonio Gramsci como recurso teórico para se pensar o cotidiano e a cultura popular frente aos meios de comunicação de massa. Trata-se de uma breve reflexão teórica, didática, que objetiva mais apresentar descritivamente um conceito do que revisar ou avaliar uma teorização. Seu objetivo é, portanto, restrito a um exercício de resenha. Logo, este ensaio visa apresentar, a partir de Gramsci e comentadores, a cultura popular não como mero veículo ideológico do status quo, mas sim, como um local de resistência e conflito potencial, desenvolvendo-se, nas palavras de Schulman, uma história da hegemonia. Palavras-chave: Hegemonia; Antonio Gramsci; Cultura Popular. Abstract This paper discusses the concept of hegemony in Antonio Gramsci as a way of thinking about the everyday (quotidian) and the popular culture front to the mass media. This is a theoretical reflection, didactic, which aims to provide more descriptive than a concept review or evaluate a theory. Your objective is therefore restricted to a review exercise. Therefore, this paper aims to present, from Gramsci, popular culture not as a mere ideological vehicle of the status quo, but rather as a place of strength and potential conflict, developing a history of hegemony. Keywords: hegemony; Antonio Gramsci; Popular Culture.
Raymond Williams assinala que o conceito de hegemonia adquiriu uma significação muito peculiar a partir da obra de Antonio Gramsci, indo para além dos horizontes do domínio político entre Estados. Segundo afirma, Gramsci fez uma distinção conceitual entre “domínio” e “hegemonia”, sendo o domínio uma forma de manifestação política expressa sob coerção direta e efetiva, enquanto a hegemonia traduzida pela direção obtida por meio de uma complexa combinação de forças políticas, sociais e culturais – fenômeno bem distinto da simples coerção (WILLIAMS, 1979; 2003). Uma categórica ilustração do conceito de hegemonia como coerção efetiva está presente no clássico ensaio de Lênin “O Estado e a Revolução”, de 1917, no qual um “exército permanente e a política são os principais instrumentos do poder governamental” (LÊNIN, 2006, p. 17). Para Lênin, grosso modo, hegemonia é sinônimo de dominação. Seguindo essa distinção, Bobbio et al (1998, p. 580) lembram que dentre o uso marxista do conceito de hegemonia encontra-se uma oscilação entre dois significados predominantes a propósito de sua acepção. O primeiro sentido do modo marxista de pensar tende a aproximar hegemonia e domínio, acentuando mais o “aspecto coativo que o persuasivo, a força mais do que a direção, a submissão de quem suporta a hegemonia mais do que a legitimação e o consenso, a dimensão política mais que a cultural, intelectual e moral”. Para Bobbio et al (1998) esse uso é predominante nos escritos de teóricos da Terceira Internacional, destacadamente, Lênin. No segundo sentido, muito distintamente da elaboração conceitual de nomes como Lênin ou Bukharin, a hegemonia é concebida como capacidade moral e intelectual de direção, onde, Cientista Social, Especialista em Demografia, Mestre em Geografia e Doutor em Ciências Sociais. Professor Adjunto IV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: jeanhenrique@uern.br 23
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 70 de 140 Em virtude da qual a classe dominante, ou aspirante ao domínio, consegue ser aceita como guia legítimo, constitui-se em classe dirigente e obtém o consenso ou a passividade da maioria da população diante das metas impostas à vida social e política de um país (BOBBIO et al, 1998, p. 580).
Storey (2001, p. 103) destaca essa ideia de capacidade moral e intelectual de direção. Segundo escreve, o conceito em Gramsci é usado para se referir “to a condition in process in which a dominant class (in alliance with other classes or class fractions) does not merely rule a society but leads in through the exercise of ‘moral and intellectual leadership’”; isto é, o processo no qual uma classe exerce sua liderança moral e intelectual por meio de alianças com outras classes ou frações de classes. Seguramente, Gramsci não nos deixa esquecer que o pensamento dominante, para melhor exercer sua hegemonia sobre as classes populares, “assimila uma parte da ideologia proletária” (GRAMSCI, 1978, p. 133). Em Gramsci, numa sociedade de classes, a supremacia de uma delas se exerce através de modalidades complementares e integradas de domínio e hegemonia. Trata-se de uma conjugação de força e consenso, mas nunca da mera imposição da força, principalmente em sociedades na qual a sociedade civil apresenta níveis elevados de desenvolvimento e organização. Na análise gramsciana, a sociedade civil é o lócus da formação e da difusão da hegemonia, diferentemente da concepção leninista, na qual cabe ao Estado (sociedade política) essa primazia. Para Gramsci, a hegemonia é igual à força mais consentimento. Trata-se, pois, de uma “adesão orgânica” entre dirigentes e dirigidos, governantes e governados (GRAMSCI, 1989, p. 139), mas não imposição sem consentimento. Ainda discorrendo sobre o pensamento gramsciano, Bottomore (2001, p. 178) realça que, longe de impor um conjunto de ideias de cima para baixo, uma “hegemonia completamente desenvolvida deve repousar no consentimento ativo, numa vontade coletiva em torno da qual vários grupos da sociedade se unem”. Através do puro domínio se obtém uma forma de consentimento limitado que conduz a uma ordem política de base precária do ponto de vista hegemônico, justamente em virtude da capacidade limitada de direção (moral e intelectual). Prontamente, o conceito de Estado em Gramsci é ampliado para além da sociedade política. Em Gramsci, o Estado é igual sociedade política mais sociedade civil. Tal ampliação do conceito traz em si a necessidade de pensar a hegemonia também – e, principalmente – a partir da sociedade civil e de seus aparelhos privados. Bottomore lembra ainda que em Gramsci uma classe mantém seu domínio justamente por ser capaz de ir além de seus interesses corporativos estritos, exercendo uma liderança moral e intelectual, fazendo concessões, dentro de certos limites, a uma variedade de aliados unificados num bloco social de forças (“bloco histórico”). Esse bloco representa uma “base de consentimento para uma certa ordem social, na qual a hegemonia de uma classe dominante é criada e recriada numa teia de instituições, relações sociais e ideias” (BOTTOMORE, 2001, p. 177). A hegemonia é, portanto, tecida pelos “intelectuais orgânicos”, que têm um papel organizativo na sociedade. Para Gramsci (1982, p. 07), todos os homens são intelectuais, “mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”. Todos, desde o operário imbuído do trabalho mais rotineiro, ao engenheiro responsável pela coordenação do trabalho mental, pensam e repensam o mundo. Deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. Deve-se, portanto, demonstrar, preliminarmente, que todos os homens são ‘filósofos’, definindo os limites e as características desta ‘filosofia espontânea’ peculiar a ‘todo mundo’ (GRAMSCI, 1989, p. 11).
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Todavia, nem todos exercem um papel ativo na organização de massas de homens e de ideias. Em Gramsci, por conseguinte, temos um conceito de intelectual ampliado. O intelectual orgânico para o autor, portador da capacidade moral e intelectual de direção das massas (hegemonia), é aquele que apresenta certa capacidade dirigente e técnica. Não somente possui a capacidade técnica restrita a sua atividade e sua iniciativa, mas ainda a possui em outras esferas. O intelectual deve ser um organizador da massa de homens: deve ser um organizador da confiança. Deve possuir a capacidade de organizar a sociedade em geral, criando as condições mais favoráveis à expansão da própria classe (ou ainda, escolhendo pessoas especializadas a quem confiar esta atividade organizativa). Os intelectuais são, desta forma, comissários do grupo dominante para o exercício das funções de hegemonia. A hegemonia é buscada, então, através do consenso espontâneo, dado pelas massas (consenso que nasce da confiança) e pelo aparato de coerção estatal, “que assegura ‘legalmente’ a disciplina dos grupos que não ‘consentem’, nem ativa nem passivamente, mas que é constituído para toda a sociedade” (GRAMSCI, 1982, p. 11). A hegemonia, prontamente, não é somente o produto de uma classe, mas sim, de um conjunto de forças. Ultrapassa-se a visão de Lênin da hegemonia como produto de uma classe, em si, dominante. Williams esclarece ainda que o conceito de hegemonia extrapola o conceito de ideologia. “Não exclui, é claro, os significados, valores e crenças formais e articulados, que uma classe dominante desenvolve e propaga” (WILLIAMS, 1979, p. 113), nem tampouco reduz a consciência a esses valores. Trata-se, pois, de um jogo de forças (arena de lutas). Bottomore (2001) reforça dizendo que a hegemonia não se reduz a legitimação, falsa consciência ou mesmo instrumentalização da massa da população, uma vez que o senso comum é composto de vários elementos, alguns dos quais contradizem a ideologia dominante. É verdade assim que existe uma ‘moral do povo’, entendida como um determinado conjunto (no tempo e no espaço) de máximas para a conduta prática e de costumes que derivam delas ou que as produziram; moral esta que é estreitamente ligada, tal como a superstição, às reais crenças religiosas: existem imperativos que são muito mais fortes, tenazes e eficientes do que os da moral ‘oficial’ (GRAMSCI, 1978, p. 185).
Em Gramsci, portanto, a ideologia não apenas influencia a massa da população, mas serve também como princípio de organização das instituições sociais (BOTTOMORE, 2001, p. 178). A análise da ideologia em Gramsci é, para além da simples dominação e falsa consciência, então, um terreno de luta. Por conseguinte, evitando imputar ab initio um juízo de depreciação à ideologia, para Gramsci (1989, p. 62), na medida em que são historicamente necessárias, “as ideologias têm uma validade que é validade ‘psicológica’: elas ‘organizam’ as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam, etc.”. Por exemplo, nos Estudos Culturais britânicos, fortemente influenciados por Gramsci, há a concepção de que a própria ideologia é uma arena de luta, com base numa perspectiva também de baixo para cima, que atribui poder aos sujeitos e aos grupos subculturais para intervir nos sistemas políticos e nos sistemas de significação para produzir mudanças (SCHULMAN, 2000). Uma análise enérgica da cultura e do consumo cultural deve diagnosticar a complexidade e as lutas cotidianas na vida concreta dos sujeitos, encarando a arena cultural como um campo de lutas pela hegemonia. Um caminho teórico que não leve em conta as distinções entre cultura de massa (homogeneizante e rebaixada), cultura popular (autêntica, resistente) e cultura erudita (ligada aos conceitos de beleza e verdade) deve se pautar no conceito de cultura como uma experiência vivida no cotidiano. Certamente, na luta cotidiana por hegemonia existem determinados
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empréstimos entre os grupos sociais distintos, o que invalida pensar em culturas autênticas. Também não devemos nos basear em falsas oposições, tais como o alto e o popular, o urbano ou o rural, o moderno ou o tradicional (CANCLINI, 2003). É preciso ver, portanto, a cultura como um jogo de poder, no qual a negociação dos problemas da vida cotidiana se realiza dentro de uma complexa estrutural social, que passa por alianças com grupos diferentes de acordo com o contexto ou com o momento. Não basta, pois, ver as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa, nem tampouco como são produzidas. Tem-se que pensá-las em suas significações concretas, seus usos e desusos. Uma relevante recomendação presente em Michel de Certeau (1994, p. 39) é que se observe, além das mensagens emitidas, também aquilo que “o consumidor cultural fabrica” durante o seu uso, sua recepção, seu consumo, ou seja, entender as possibilidades de releituras. Using a neo-Gramscian analysis, popular culture is what men and women make from their active consumption of the texts and practices of the culture industries. Youth subcultures are perhaps the most spectacular example of this process […] Products are combined or transformed in ways not intended by their producers; commodities are rearticulated to produce ‘oppositional’ meanings. In this way, and through patterns of behavior, ways of speaking, taste in music, etc., youth subcultures engage in symbolic forms of resistance to both dominant and parent cultures (STOREY, 2011, p. 105). A leitura de Storey resume bem essa postura neogramsciana: a cultura popular é o que os indivíduos fazem de seu cotidiano. Tomando como exemplo certas culturas juvenis, produtos são consumidos de maneira não prevista pelos produtores; produzem-se significados de oposição; e, fundamentalmente, essas culturas se envolvem em formas simbólicas de resistência às culturas dominantes. Tal leitura demonstra que determinadas modalidades de consumo de produtos massificados podem ser efetivadas devido a circunstâncias muito particulares da vida cotidiana, algo bem além da simples cooptação, por exemplo, pela indústria cultural. Reforçando, o que é feito nas camadas populares muitas vezes pode revelar traços de uma cultura entendida como forma de encarar a realidade e se portar nela. São culturas que, mesmo na adversidade, revelam-se em autoestima. Neste sentido, não se pode falar na corrupção de indivíduos fracos pela indústria cultural, pois os produtos consumidos atendem a alguma lógica por parte de quem consome. Na avaliação de Schulman (2000, p. 179), a releitura de Gramsci, no final dos anos 1970 foi extremamente importante para colocar em movimento a reavaliação que os estudos culturais britânicos fizeram da cultura popular. Segundo afirma, deixou-se de ver a cultura popular como mero veículo ideológico do status quo e passou-se a vê-la como um local de resistência e conflito potencial, desenvolvendo-se uma história da hegemonia. Nas palavras de Mattelart e Neveu (2004, p. 74), “longe de serem consumidoras passivas [...] as classes populares mobilizam um repertório de obstáculos à dominação”. Aliás, muito distintamente do que se poderia supor, a “esmagadora maioria das nossas experiências constitutivas permanece – e permanecerá sempre – fora do âmbito do controle e da coerção institucionais formais [...] Nem mesmo os piores grilhões têm como predominar uniformemente” (MÉSZÁROS, 2008, p. 54). Por conseguinte, não pode existir, nem tampouco se pensar, numa coerção ideológica onipotente. John Fiske (1989) reafirma essa capacidade popular de resistência e evasão. Para ele, a cultura popular é um lugar de lutas que, embora aceitando o poder das insidiosas forças dominantes, consegue resistir e evadir – com criatividade e vitalidade – das ideologias dominantes e seus valores. Encontrando vigor e vitalidade nas pessoas, Fiske evita, portanto, ver a cultura popular essencialmente fora ou essencialmente sufocada por modelos de poder. Recently, however, a third direction has begun to emerge, one to which I hope this book will contribute. It, too, sees popular culture as a site of struggle, but, while accepting the power of the forces of dominance, it focuses rather upon the popular tactics by which these forces are coped with, are evaded or are resisted. Instead of tracing exclusively the processes of incorporation, it investigates rather that popular vitality and creativity that makes incorporation such a constant necessity. Instead of
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 73 de 140 concentrating on the omnipresent, insidious practices of the dominant ideology, it attempts to understand the everyday resistances and evasions that make that ideology work so hard and insistently to maintain itself and its values. This approach sees popular culture as potentially, and often actually, progressive (though not radical), and it is essentially optimistic, for it finds in the vigor and vitality of the people evidence both of the possibility of social change and of the motivation to drive it (FISKE, 1989, p. 2021).
Nesse sentido, o consumo cultural não pode ser pensado de maneira inerte. É preciso retomar a eficácia da indústria cultural e do poder dos meios de comunicação de massa, todavia, sem anular – em substância – os sujeitos. Não é possível que os meios de comunicação de massa consigam moldar a opinião e o sentimento de todas as classes populares. Gramsci sabiamente nos mostra que as camadas populares da filosofia espontânea do senso comum (ou do bom senso, aquele núcleo sadio do senso comum), embora saibam que sua argumentação reflexiva possa parecer frágil, ainda assim possui certa sustentação. Certamente, não é possível se moldar o gosto de todo mundo a partir do domínio direto da indústria cultural. O elemento mais importante, indubitavelmente, é de caráter não racional: é um elemento de fé. Mas, de fé em quem e em quê? Notadamente no grupo social ao qual pertence, na medida em que este pensa as coisas também difusamente, como ele: o homem do povo pensa que, no meio de tantos, ele não pode se equivocar radicalmente, como o adversário argumentador queria fazer crer; que ele próprio, é verdade, não é capaz de sustentar e desenvolver as suas razões como o adversário faz com as dele, mas que – em seu grupo – existe quem poderia fazer isto, certamente ainda melhor do que o referido adversário; e, de fato, ele se recorda de ter ouvido alguém expor, longa e coerentemente, de maneira que ele se convenceu de sua justeza, as razões de sua fé (GRAMSCI, 1989, p. 26).
Assim, não há como se moldar a opinião das pessoas a ponto de unilateralmente prescrever-lhes o que é bom e o que é ruim no âmbito do consumo cultural. Sem o consentimento ativo do indivíduo tal prescrição não se faz ativa. As pessoas têm um certo “bom senso” na recepção cultural. O problema da recepção, do ponto de vista da unilateralidade e da homogeneidade, é crer que as mensagens tenham somente um significado, e que este, por sua vez, seja apreendido somente num sentido de mão única. Stuart Hall (2003, p. 366), então, problematiza sobre “uma noção de poder e de estruturação no momento de codificação que todavia não [apaga] todos os outros possíveis sentidos”. As mensagens hegemônicas pretendem que o sujeito leia o conteúdo de uma determinada maneira; contudo, outras leituras podem e são feitas. Igualmente, “uma leitura preferencial nunca é completamente bem-sucedida: é apenas o exercício do poder na tentativa de hegemonizar a leitura da audiência” (HALL, 2003, p. 366). Assim, vê-se que uma decodificação integralmente preferencial é, concretamente, uma utopia, um sonho dos managers do entretenimento. As pessoas têm um certo bom senso em relação ao que consomem. Assim como, “em geral, os leitores de jornal não têm a mesma opinião do jornal que compram, ou são por ela escassamente influenciados” (GRAMSCI, 1978, p. 105), também os ouvintes de música popular ou os leitores de autoajuda não são influenciados totalmente pelas mensagens propagadas. Emitem oposições, às vezes muito intuitivas, às vezes bastante reflexivas. Assim, a partir de Gramsci, a cultura popular passa não a ser vista como unilateral veículo ideológico do status quo, mas sim, passa a ser vista como um local de resistência e conflito potencial, desenvolvendo-se, novamente segundo Schulman (2000), uma história da hegemonia.
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Referências BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. Coordenação da tradução de João Ferreira. 11. ed. Brasília: Editora UNB, 1998. BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do pensamento marxista. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. 4. ed. São Paulo: EDUSP, 2003. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. FISKE, John. Understanding popular culture. London; New York: Routledge, 1989. GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989. ________. Os intelectuais e a organização da cultura. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. ________. Literatura e vida nacional. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Tradução de Adelaide La Guardia Resende et al. Belo Horizonte, MG: UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. LÊNIN, V. I. O Estado e a Revolução. 2. ed. Publicações Liga Bolchevique Internacional, 2006. MATTELART, Armand; NEVEU, Érik. Introdução aos estudos culturais. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. Tradução de Isa Tavares. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2008. SCHULMAN, Norma. O Centre for Contemporary Cultural Studies da Universidade de Birmingham: uma história intelectual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). O que é, afinal, Estudos Culturais? Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. STOREY, John. Cultural theory and popular culture: an introduction. 3. ed. Essex: Pearson Education Limited, 2001. WILLIAMS, Raymond. Hegemonía. In: ________. Palabras Clave: un vocabulario de la cultura y la sociedad. Traducción de Horacio Pons. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2003. ________. Hegemonia. In: ________. Marxismo e Literatura. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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ESTRUTURA E GESTÃO NA EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESTADUAL PROFª CLAUDECIR PEREIRA TORRES (SÃO RAFAEL, RN) Mayane Ferreira de Farias* Ionara Silva Braga* Maria Teobanete da Cunha* Rita Diana de Freitas Gurgel* - Orientadora *Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA Resumo Atualmente, uma das temáticas mais discutidas na educação é, pois, a forma de como as escolas tem se organizado para construírem espaços de relevância nos aspectos administrativos e pedagógicos. Neste contexto, o objetivo deste artigo era apresentar os resultados obtidos durante um estudo realizado na Escola Estadual Professora Claudecir Pereira Torres – São Rafael/RN, ao que se refere fundamentalmente ao aspecto físico e à gestão escolar que a mesma possui. Para isso, utilizou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica e de campo, as quais forneceram os dados que subsidiaram os resultados do presente trabalho. Nesse contexto e conforme pesquisa desenvolvida, verificou-se que uma das maiores dificuldades da gestão era estabelecer situações significativas que pudesse edificar a participação de todos. Palavras-chave: Educação. Escola. Gestão. Abstract Currently, one of the most discussed topics in education is therefore the form of how schools have organized to build relevance spaces in administrative and pedagogical aspects. In this context, the aim of this paper was to present the results obtained during a study conducted in the State School Professora Claudecir Pereira Torres – São Rafael/RN, it fundamentally refers to the physical aspect and school management that it has. For this, we used the methodology of literature and field research, which provided the data that supported the results of this work. In this context and as developed research, it was found that one of the major difficulties of management was to establish significant situations that could build the participation of all. Keywords: Education. School. Management. Introdução Falar sobre educação é fácil e ao mesmo tempo difícil. Fácil em relação ao estereótipo criado com a imagem de que a educação necessita tanto de maiores investimentos por parte do governo na melhoria da estrutura física das instituições quanto na melhoria do quadro funcional e profissional, tomando como indicativo de que somente eles sãos os responsáveis pelo planejamento em busca por melhoramento da educação do país. E difícil, pois mensurar o que é mais importante e de quem são as devidas obrigações, diferenciando e atribuindo nomes e responsabilidades torna a perspectiva de melhor entendimento do cenário atual como tarefa inacabada e que necessita ser revista (FARIAS, MEDEIROS, FARIAS, 2013). Neste sentido, a educação precisa ser compreendida a luz das diversas esferas da sociedade, pois a escola em si tem a função de escolarizar e promover uma reflexão no sentido de construir um cidadão crítico e transformador de sua história e que possa contribuir para a formação de uma comunidade mais justa e igualitária (BATISTA, FARIAS, MEDEIROS, FARIAS, 2013).
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Paulo Freire (1987, p. 39) afirma, ainda, que ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo, pois somos seres com necessidades de relacionamento com os outros e com o mundo a nossa volta, e essa construção depende não só de ambiente escolar mais da família, do estado e dos demais estamentos da sociedade. Neste prisma, o referido trabalho tem como objetivo, mostrar um pouco da realidade da Escola Estadual Professora Claudecir Pereira Torres, localizada no município de São Rafael – RN. Ao realizar essa pesquisa na escola, fomos recebidas pela diretora. Como procedimento metodológico utilizou-se a pesquisa bibliográfica e de campo, com aplicação de entrevista com a referida diretora da escola, bem como foi realizada observação em relação aos aspectos físicos e de gestão da mesma. Por fim, ressalta-se que o presente trabalho foi organizado em etapas. Inicialmente foi feita a introdução da pesquisa, seguida pelo referencial teórico sobre a estrutura física e material da escola escolhida como objeto de estudo da presente pesquisa, procedimento metodológico, análise dos dados, considerações finais e por fim as referências utilizadas no presente trabalho. Estrutura física e material Na Escola Estadual Professora Claudecir Pereira Torres, o aspecto físico da escola encontra-se em péssima situação, a mesma dispõe de 06 salas de aula, nas quais funcionam 06 no horário matutino e 05 no noturno. As salas de aula são bem pequenas e com pouca ventilação, porém as carteiras que a escola disponibiliza são novas. A escola observada possui quatro armários, não tem armário para os professores, não tem birô, têm dois retroprojetores um já veio com um computador e três impressoras. O ambiente é bem pequeno para acomodar todos os profissionais que são compostos por: a diretora, a coordenadora pedagógica, o digitador e uma garota que é readaptada para os serviços em geral. Além da importância do espaço construído, outro fator que pode interferir no desenvolvimento didático dos alunos são as condições ambientais da classe: acústica, temperatura, insolação, ventilação e luminosidade, as quais podem refletir-se em fatores tão diversos como a sociabilidade dos usuários, seu desempenho acadêmico e mesmo em sua saúde. (SOMMER, 1973 apud ELALI, 2003).
A escola dispõe de uma verba de 10 parcelas para merenda, 04 parcelas do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) para compras de materiais permanentes e de limpeza, possui também uma parcela extra do PDE, para pequenas despesas, tem também o PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), para comprar materiais de consumo. A escola presta contas de todas as despesas, através de notas fiscais eletrônicas e de outros recursos. O PDDE consiste na assistência financeira às escolas públicas da educação básica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas de educação especial mantidas por entidades sem fins lucrativos. O objetivo desses recursos é a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica. Os recursos do programa são transferidos de acordo com o número de alunos, de acordo com o censo escolar do ano anterior ao do repasse. (MEC, 2014).
Possui, ainda, uma equipe formada por um coordenador pedagógico, um digitador, uma diretora, porém não possui vice-diretor e uma supervisora. Não disponibiliza de um projeto político-pedagógico. Mas segundo a gestora, o projeto será feito o mais breve possível para escola.
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Segundo Veiga (2002) o projeto político-pedagógico é, portanto, um documento que facilita e organiza as atividades, sendo mediador de decisões, da condução das ações e da análise dos seus resultados e impactos. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola. A escola não disponibiliza de equipe técnica. Não existe um acompanhamento fixo do rendimento dos alunos, a única avaliação feita é nas reuniões de pais e mestres. Mesmo assim a escola tem um bom resultado no final do ano com maioria nas aprovações. Na parte da secretaria, constatou-se que não existe pessoal suficiente, eles fazem várias atividades diferentes, para poder dar conta de tudo. Para a identificação de cada aluno existe um requerimento de matrícula como espécie de ficha de cadastro, onde contém as informações necessárias. Os controles de rendimentos escolares ficam arquivados num arquivo elaborado pela secretaria, e todos os registros são devidamente arquivados. Não possui normas na secretaria de educação sobre a organização e o funcionamento da secretaria escolar. Procedimentos metodológicos Para realização do presente trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica e em sites sobre as temáticas discutidas. Sobre pesquisa bibliográfica, Cervo, Bervian e Silva (2007) defendem que se trata de uma pesquisa que procura explicar um problema através de referências teóricas publicadas, na busca por conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas sobre determinado tema. Para Santos (2004, p. 20) a pesquisa bibliográfica é “aquela que é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos [...]”. Já segundo Gil (2002, p. 59): [...] como qualquer outra modalidade de pesquisa, [ela] desenvolve-se ao longo de uma série de etapas. seu número, assim como seu encadeamento, depende de muitos valores, tais como a natureza do problema, o nível de conhecimento que o pesquisador dispõe sobre o assunto, o grau de precisão que se pretende conferir à pesquisa etc., aliados à facilidade de acesso a esse material e sua disponibilidade.
A pesquisa em questão possuiu caráter qualitativo, ou seja, trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo de relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2002). Neste sentido, este tipo de pesquisa tem como objeto de estudo o ser humano e reconhece que nas interações, este é capaz de refletir sobre si mesmo e de expressar-se como pessoa. Vale ressaltar, ainda, que foi utilizado o método de aplicação de entrevista com a diretora da escola. A entrevista é, por conseguinte, uma conversa orientada visando recolher dados para a pesquisa, onde a informante conta com a presença do entrevistador ou seu auxiliar para registrar todas as informações (CERVO, BERVIAN e SILVA, 2007). No presente estudo foi realizada observação individual24, sistemática25 e participante26. A observação é, nesta perspectiva, uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar. Existiu a submissão ao objeto de pesquisa de acordo com as perspectivas do observador direcionando aos objetivos da pesquisa em questão. 25 Ocorrendo de forma estruturada, com planejamento prévio, utilização de anotações, com controle de tempo e periodicidade, utilizando de recursos técnicos e eletrônicos. 26 Houve envolvimento direto com o objeto de pesquisa, passando a fazer parte dele. 24
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Conforme Martins (2000, p. 28): “trata-se, portanto, de um estudo para conhecer as contribuições científicas sobre o tema, tendo como objetivo recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre o fenômeno pesquisado”. A pesquisa possuiu caráter exploratório, o qual se constitui na busca de maiores informações sobre o assunto coma finalidade formular problemas e hipóteses. Segundo Gil (1991, p. 45) “estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torna-lo mais explícito. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias”. Köche (1997, p.126) acrescenta que esse tipo de pesquisa é adequado para casos em que ainda não apresentem um sistema de teorias e conhecimentos desenvolvidos. "Nesse caso é necessário desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se deseja estudar." Mattar (1999, p.80) afirma que "esse tipo de pesquisa é particularmente útil quando se tem uma noção muito vaga do problema de pesquisa". Através do conhecimento mais profundo do assunto em questão, busca-se estabelecer melhor o problema de pesquisa, através da elaboração de questões de pesquisa ou desenvolvimento de hipóteses explicativas para os fatos e fenômenos a serem estudados. Ela pode ainda ajudar a estabelecer as prioridades a pesquisar. "As prioridades poderão ser estabelecidas porque uma particular hipótese explicativa surgida durante a pesquisa exploratória parecerá mais promissora que outras" (MATTAR, 1999, p.81). O estudo exploratório é normalmente o passo inicial no processo de pesquisa pela experiência e auxílio que traz na formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas. Os estudos exploratórios não elaboram hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar maiores informações sobre determinado assunto de estudo (CERVO; BERVIAN, 1996, p.49).
Gil (1991) afirma que é comum proceder-se a um estudo de caso partindo da leitura de documentos, passando para a observação e a realização de entrevistas e culminando com a obtenção de histórias de vida. Ao ponto que a história de vida é a técnica das mais significativas no estudo de caso, sobretudo quando cada pessoa é considerada caso específico. Análise dos dados O relacionamento da escola com a 11ª DIRED (Diretoria Regional de Educação) segundo a diretora não traz para a instituição nenhuma instrução e procedimentos para a escola, ela simplesmente joga as informações. No momento da entrevista foi sabido que havia ocorrido naquele dia a situação em que uma funcionária da DIRED havia chegado lá solicitando várias coisas, mas não explicou exatamente como fazer, ou seja, elas que tiveram que se virar para aprender e atender à solicitação. Vale afirmar que a 11ª DIRED não tem uma atuação frequente na parte administrativa e pedagógica da referida Instituição de ensino. A gestão atual da escola, sempre que vai tomar algum tipo de decisão, procura se reunir com os demais funcionários, para que, assim, possam chegar a uma decisão final. A diretora informou que nunca toma decisões por si só, mas em conjunto com os demais colaboradores.
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A escola possui um conselho escolar, faz reuniões para a entrega de boletins e, de acordo com o conselho escolar, também realiza reuniões para prestações de contas dos gastos. Porém, poucos pais comparecem nessas reuniões. Constatou-se, ainda, que a escola não possui nenhum relacionamento com outras instancias da comunidade (políticos, associações de bairro, empresários e outros). A escola sempre cede suas instalações para a comunidade, sempre que preciso (cursinhos, lazer, para os alunos ou pessoas da cidade que querem estudar). Os Conselhos Escolares são órgãos colegiados compostos por representantes das comunidades escolar e local, que têm como atribuição deliberar sobre questões políticopedagógicas, administrativas, financeiras, no âmbito da escola. Ele desempenha um papel importante em assegurar que toda a comunidade seja envolvida em todas as decisões importantes tomadas pela escola (BROGIAN, 2004).
A referida escola costuma fazer um diagnóstico por turma, verificando o aprendizado dos alunos, se estão tendo um acompanhamento rentável, quais os alunos que estão acompanhando bem os conteúdos dados, contudo, não há nenhum Projeto Político-Pedagógico (PPP). Para Lopes (2014) o PPP define a identidade da escola e indica caminhos para ensinar com qualidade. E ainda: O Projeto Político-Pedagógico é projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo. É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir. É pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem. (LOPES, 2014)
A gestão atual da referida escola é democrática e participativa, procurando sempre ouvir a opinião de todos e como já foi falado anteriormente às decisões sempre são tomadas em conjunto e não há nenhum tipo de burocracia. Além disso, a mesma divide seu tempo de várias formas, realizando, por exemplo, todas as prestações de conta da escola, trabalha como inspetora, direciona os alunos para a sala de aula, verifica se os alunos estão estudando, e ainda cuida da parte administrativa, sempre procurando manter contato com professores, alunos e funcionários. É importante salientar um importante aspecto da gestão escolar que é a autonomia das escolas para prever formas de organização que permitam atender as peculiaridades regionais e locais, às diferentes clientelas e necessidades do processo de aprendizagem (LDB, Art. 23) (CARMO, 2010)
Existe um sistema que a escola tem que informar a quantidade antecipada de alunos que a escola vai oferecer naquele ano. No ato da matricula não há nenhum tipo de restrição, a escola sempre oferece vagas para quem quiser estudar, ou seja, não é feita nenhuma exigência descabida. Porém, do ano de 2013 para 2014, eles tiveram um pouco de dificuldades em matricular alguns alunos, pois estava sendo exigido o CPF e muitos alunos ainda não tinha este documento e se recusaram em tia fazer um e, devido a esse problema, algumas pessoas ficaram sem se matricular. Constatou-se, ainda, que a organização dos horários é feito pelos coordenadores financeiro e pedagógico, eles fazem o levantamento da quantidade de alunos e organizam, e as demais atividades são feitas nos horários inversos para não dar choque com os horários de aula. Além disso, a distribuição de alunos por classe é feita pelo sistema, porém antes eles procuravam sempre deixar aquelas turmas que vinham de outras escolas sempre juntas.
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Outrossim, a distribuição de classes entre professores é feita de acordo com a formação de cada professor, se um professor é formado em letras, fica com as matérias de língua portuguesa, espanhol, inglês, se for formado em história, fica com as matérias de filosofia, história, cultura e assim por diante. Não há remanejamento de alunos no ano letivo, ocorrendo muitos casos de desistência ou transferência. Na escola não há conselho de classe e as provas de recuperação são realizadas sempre com uma prova no final, por matéria, dentro do horário, contendo os principais assuntos abordados durante o ano e funciona muito bem, pois os alunos procuram estudar mais, para não ficarem reprovados. A diretora relata, por conseguinte, que no horário a tarde não há problemas com a frequência e nem desistência de alunos, contudo não é o que ocorre no horário noturno, momento em que a frequência diminui bastante e há muita evasão, devidos muitos alunos trabalharem durante todo o dia. A mesma relata que muitas mulheres são mães e que existe desmotivação de muitos alunos por motivo de faltas de professores, ocasionando, em alguns casos, desistência dos alunos. A distribuidora da merenda é feita por licitação, porém a merenda que vem não é suficiente, a escola sempre complementa para melhorar o cardápio escolar. Ultimamente os alunos reclamavam da merenda, em detrimento, especialmente, da falta de merendeira. A merenda, por sua vez, é servida na parte da tarde às 15h30m e a noite às 20h10m. Sua distribuição não interfere nas atividades de sala de aula, pois a distribuidora sempre vem em um horário que não está havendo aula. O Ministério da Educação, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, garante a transferência de recursos financeiros para subsidiar a alimentação escolar de todos os alunos da educação básica de escolas públicas e filantrópicas. O repasse é feito diretamente aos estados e municípios, com base no censo escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. (MEC, 2014)
O uso do uniforme começou na gestão atual, sendo encomendadas pela direção todas as fardas, sendo estas vendidas a um preço acessível, para que todos possam comprar. Melhorando, consequentemente, a organização e padronização dos alunos e possibilitando que os mesmos possam “economizar suas roupas” – ressalta a direção. Existe um planejamento pedagógico bimestral com professores e direção. Para Rodrigues (2012) não é apenas na vida pessoal que as pessoas planejam suas ações, o planejamento atinge várias esferas sociais. [...] é importante considerar que o planejamento educacional é um instrumento orientador de todo o processo educativo, pois constitui e determina as grandes necessidades, indica as prioridades básicas, ordena e determina todos os recursos e meios necessários para atingir as grandes finalidades da educação. (RODRIGUES, 2012)
A escola dispõe de muitos livros didáticos, ao ponto que cada aluno recebe 11 livros, para cada disciplina tem um livro, sendo estes entregues no início das aulas e no final do ano são recolhidos, para os próximos alunos poderem usa-los. Constatou-se, também, que os professores dividem os conteúdos de acordo com a série e a escola não possui assistência pedagógica de nenhuma equipe técnica, ou seja, eles fazem entre eles
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mesmos. Ocorrendo, pois, reuniões pedagógicas e os assuntos tratados são sobre a educação e formação dos alunos, seus comportamentos e aprendizados em sala de aula. Durante o ano só há dois encontros para estudo, reflexão ou discussão sobre a prática docente, que é chamada de semana pedagógica, sendo realizados no início e no meio do ano. Além disso, todos os anos a escola trabalha com atividades extraclasses, pois trabalham com projetos, dividindo as turmas para pesquisas, questionários, apresentações e todos os anos organizam uma gincana cultural, com jogos e várias outras atividades. Constataram-se na pesquisa, que os problemas mais constantes em termos de controle da disciplina e infrações disciplinares são os maus comportamentos, pois a escola não possui um regimento interno, o que dificulta para aplicar algum tipo de punição. A diretora mencionou que sempre vêm cursos de capacitações, porém alega que muitos não fazem devido possuírem vínculos com outras instituições, não tendo tempo para fazer esses cursos. Na escola cada um tem sua função e cada um tem que ter responsabilidade para exercê-la, porém quando é preciso eles acabam fazendo o trabalho que não é de sua competência. Há um clima bastante positivo entre todos na Instituição de ensino e quando há alguma desavença sempre procuram conversar e deixar tudo em ordem, porém, a escola enfrenta um grande problema, pois no mesmo prédio funcionam duas escolas, a Escola Estadual Professora Claudecir Pereira Torres – ensino médio, e a Escola Estadual Tristão de Barros – ensino fundamental e EJA, a Tristão trabalha na parte da manhã e a noite, e a Claudecir na parte da tarde e a noite, ou seja, as duas escolas se encontram no horário da noite. Porém, a Escola Tristão não tem o número suficiente de alunos para funcionar uma escola, o que está acarretando uma enorme discussão no prédio e na cidade e, devido a este problema, estão querendo unificar as duas escolas, mas a escola Tristão por ser mais antiga quer que a escola continue com este nome, contudo a Claudecir não quer, o que está gerando um grande tumulto entre as duas direções. Considerações finais Diante de tudo que foi exposto ao longo do trabalho, pode-se concluir que o trabalho de diretores e professores é inibido pela falta de um Projeto Político Pedagógico que possibilitasse uma melhor organização, gestão e planejamento das ações a serem executadas na escola. Além disso, pode-se afirmar que, o acúmulo de funções por parte da direção dificulta a eficiência e eficácia da mesma, por sobrecarga de atividades a que lhe são direcionadas. Outrossim, a estrutura física do local necessita de alguns ajustes, sejam pinturas, compra de carteiras ou materiais de secretaria, seja de reparos elétricos ou gerais. Pode-se destacar, também, que a falta de comprometimento de alguns professores e falta de fiscalização destes, ocasionam desmotivação de alunos, o que não deveria ocorrer, tendo em vista que pessoas que faltam ao trabalho sem justificativa deveria ser punido. Em uma Instituição de Ensino não deveria ser diferente, pois a má atitude de uns pode comprometer a vida escolar de muitos alunos. Deveriam ocorrer, também, mais reuniões com professores e pais com a direção, fundamentalmente com os pais de alunos que estudam no horário noturno, podendo as mesmas
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serem realizados com os próprios estudantes, com a finalidade de minimizar as evasões definitivas ou faltas periódicas em sala de aula. No geral, o objetivo inicial da pesquisa foi atendido e espera-se que o trabalho seja mais um de muitos que venham a despertar para a estrutura e a gestão escolar como facilitadores ou não da transmissão do conhecimento em sala de aula. Referências
BATISTA, Maria Célia de Lima; FARIAS, Mayane Ferreira de; MEDEIROS, Janaina Luciana de; FARIAS, Mayara Ferreira de. Educando para a diversidade: apontamentos sobre a inserção de alunos da zona rural em escolas públicas urbanas na cidade de João Câmara (Rio Grande do Norte). In: Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 09 Nº19 – 2013 BROGIAN, José Luiz. Conselho Escolar: E a sua organização na Instituição de Ensino. 2004. Disponível em: <http://www.araucaria.pr.gov.br/webfm_send/12584>. Acesso em fevereiro de 2014. CARMO, Ana Lídia Lopes do. Gestão Escolar. 2010. Disponível em: <http://www.infoescola.com/educacao/gestao-escolar/>. Acesso em fevereiro de 2014. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1996. CERVO, Amado L; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. FARIAS, Mayane Ferreira de; MEDEIROS, Janaina Luciana de; FARIAS, Mayara Ferreira de. Planejamento educacional: considerações sobre Paulo Freire, correntes pedagógicas e tendências da educação. In: Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 09 Nº21 – 2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. LOPES, Noemia. O que é o projeto político-pedagógico (PPP). Disponível em: <http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/projeto-politico-pedagogico-ppp-pratica-610995.shtml>. Acesso em fevereiro de 2014. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. ______. Como elaborar projeto de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 15 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações. 2 ed,. São Paulo: Atlas, 2000. MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 20 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2002. MEC. Merenda Escolar Apresentação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=443&id=216&option=com_content&view=article>. Acesso em fevereiro de 2014. ______. Programa Dinheiro Direto na Escola PDDE. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php/?option=com_content&id=12320>. Acesso em fevereiro de 2014. RODRIGUES, Monize. A importância do planejamento pedagógico. 2012. Disponível em: <http://petpedagogia.blogspot.com.br/2012/11/a-importancia-do-planejamento-pedagogico.html>. Acesso em fevereiro de 2014. SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 36 ed. Revista. Campinas, SP: Autores Associados, 2003 (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo: vol. 5). SOMMER, R. apud ELALI, Gleice Azambuja. O ambiente da escola – o ambiente na escola: Uma discussão sobre a relação escola–natureza em educação infantil. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n2/19047.pdf>. Acesso em fevereiro de 2014. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 2a edição Papirus, 2002.
Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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APONTAMENTOS TEÓRICOS SOBRE A TEMÁTICA DA “CIBERCULTURA” Mayane Ferreira de Farias Souza – UFERSA Annielle Richelle de Assunção Souza – UFERSA Andrezza Cristina da Silva Barros Souza – UFERSA Resumo O objetivo do trabalho consistia em apresentar a cibercultura como uma alternativa de compreensão da realidade de avanços sociais, culturais, tecnológicos e da criatividade humana no sentido de despertar para o uso da mesma nos ambientes de ensino-aprendizagem. Para tal, utilizou-se a metodologia de levantamento de dados secundários através de pesquisa bibliográfica e em sites que tratam da temática de cibercultura, Educação à distância, Tecnologias e informatização. Como principais resultados, constatou-se que deve haver um acompanhamento consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais e, especialmente os papéis de professor e de aluno, ao ponto que, o ciberespaço não engendra uma cultura do universal porque, de fato, está em toda parte, e sim porque sua forma ou sua idéia implicam de direito o conjunto dos seres humanos. Outrossim, a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com a juventude metropolitana escolarizada, a interconexão, acriação de comunidades virtuais, a inteligência coletiva e suas aspirações coerentes. Torna-se necessária, porquanto, uma literacia informática prévia entre educadores e educandos, como meio de melhorar competências, conhecimentos, atitudes e perspectivas sobre o futuro da aprendizagem, que é cada vez mais colaborativa. Palavras-chave: Cibercultura. Educação. Saber. Pierre Lévy. Abstract The objective was to present cyberculture as an alternative to understand the reality of social progress, cultural, technological and human creativity in order to awaken to the use of it in teaching and learning environments. To do this, we used the secondary data collection methodology through literature and on websites that deal with cyber theme, Distance Education, Technology and computerization. As main results, it was found that there must be a conscious and deliberate monitoring a change of civilization that deeply question the institutional forms, the mentality and the culture of the traditional educational systems and especially the roles of teacher and student, to the point that, cyberspace does not engender a universal culture because in fact it is everywhere, but because their shape or their idea implies the right of all human beings. Furthermore, the emergence of cyberspace is the result of a real social movement, with the educated metropolitan youth, interconnection, The creation of virtual communities, collective intelligence and their consistent aspirations. It becomes necessary because a previous computer literacy among teachers and students, as a means to improve skills, knowledge, attitudes and perspectives on the future of learning, which is increasingly collaborative. Keywords: Cibercultura. Education. Know. Pierre Lévy. Introdução A palavra “Cibercultura” tem várias conotações, contudo se pode compreender como a forma sociocultural que surge da relação de interações sociais, culturais e tecnológicas através da união das telecomunicações e a informática. Neste sentido, a cibercultura é empregada na acepção dos agenciamentos sociais das sociedades no ambiente virtual. Tais sociedades permanecem expandindo e difundindo a utilização da Internet e outras tecnologias de comunicação, permitindo maior justaposição entre as pessoas de todo o mundo.
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A cibercultura é, pois, a relação entre as tecnologias de comunicação, informação e a cultura, emergentes a partir da convergência informatização/telecomunicação na década de 1970. Trata-se de uma nova relação entre tecnologias e a sociabilidade, configurando a cultura contemporânea (LEMOS, 2002). Objetiva-se nesse artigo, então, apresentar a cibercultura como uma alternativa de compreensão da realidade de avanços sociais, culturais, tecnológicos e da criatividade humana no sentido de despertar para o uso da mesma nos ambientes de ensino-aprendizagem. Problematiza-se a pesquisa considerando o fato de a temática necessitar de maiores debates e discussões no contexto de sua utilização nos ambientes educativos e informativos, no sentido de estimular, cada vez mais, a participação da sociedade em sua compreensão, amplitude e aplicabilidade. Justifica-se a elaboração do presente trabalho pelo fato de que a temática é relevante, pertinente, atual e contextualizada com os avanços tecnológicos e informacionais que a sociedade vive na contemporaneidade. A metodologia utilizada foi a de levantamento de dados secundários através de pesquisa bibliográfica e em sites que tratam da temática de cibercultura, Educação à distância, Tecnologias e informatização. A natureza do estudo consiste em abordagem qualitativa. Sobre a pesquisa em internet, Veal (2011, p.180) diz que: “o mundo da internet desenvolve-se em tal velocidade que é impossível, para os livros impressos, apresentar uma relação atualizada das diversas fontes disponíveis”. A pesquisa também é descritiva, segundo Veal (2011, p.71) “a pesquisa descritiva tem por objetivo descrever, o máximo possível, o objeto de estudo”. Sobre a utilização da pesquisa bibliográfica, Dencker (1998) consiste em utilizar material já elaborado como livros e artigos científicos. Gil (2008) apresenta a principal vantagem dessa técnica de pesquisa que reside no fato de permitir ao pesquisar a cobertura de uma gama de fenômenos mais amplo do que aquela que poderia pesquisar diretamente Ao longo do presente trabalho, serão dispostos os seguintes tópicos: Compreendendo sobre “Cibercultura”, As Formas do Saber de Pierre Lévy: uma breve contextualização, Cibercultura e o Ensino à distância: compreendendo o antes e o hoje, seguido pela discussão dos resultados, considerações finais e referências. Compreendendo sobre “Cibercultura” O ciberespaço, responsável pela rede global de comunicação intercedida, permite relações tecnossociais agentes na coletividade moderna, expandidas por redes sociais: uma sociedade conectada, colaborativa, hipertextual, destituída de presencialidade física e sustentada por interfaces da Web 2.0, mais recente, por recursos da Web semântica e pela computação em nuvem (TEIXEIRA, 2013). Outros tantos predicados são transmitidos ao mundo virtual, de tal modo que as dificuldades que dela fazem parte, como isolamento e sobrecarga cognitiva, informações duvidosas, dependência e infoexclusão de milhares de pessoas que também querem fazer parte dessa cultura global, mas que, por determinado motivo, comumente de cunho econômico, estão bem longe de se tornar ciberculturais e complementares de qualquer geração digital (TEIXEIRA, 2013).
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A carência de definição na bibliografia nos acondiciona ao étimo do termo “cibercultura”. Deste modo, em significado rigoroso, temos o prefixo “ciber” (de cibernética) + “cultura” (sistema de ideias, conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e atitudes que caracteriza uma determinada sociedade) (TEIXEIRA, 2012a). Contudo, o dúbio conceito sofre alterações a partir do referencial etimológico, tendo em vista que cada autor manifesta uma conotação ideológica e descritiva própria que nem sempre é partilhada por seus pares. Assim, opta-se pelos que se destinam ao estudo das técnicas tecnossociais da cultura moderna e de suas novas formas de sociabilidade, comutadas do mundo físico para o mundo virtual (TEIXEIRA, 2012a). Neste prisma, vale destacar que Pierre Lévy, lapida o conceito de cibercultura ao indagar questões pertinentes ao movimento sociotecnocultural em que a sociedade está inserida. Segundo o filósofo, este é um tema polêmico e multifacetado em que culturas nacionais fundem-se a uma cultura globalizada e cibernética, envoltas no ciberespaço e orientadas por três princípios: interconexão, comunidades virtuais e inteligência coletiva (TEIXEIRA, 2013). Trata-se por conseguinte, de um “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 2010, p. 17). Ao ponto que, as “técnicas” condicionam as interações sociais, mas não representam a cultura do ciberespaço, que se incorpora no espaço virtual-cognitivo das pessoas, na partilha de sentimentos, informações e saberes. Afinal, “a virtualização é um dos principais vetores da criação da realidade” (LÉVY, 2009, p. 18). Desde o final da década de 1990, a introdução das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na educação é aceita por sistemas de ensino em todo o mundo como um epítome do desenvolvimento educacional na história da humanidade. Nesse sentido, os governos nacionais têm investido massivamente na compra de equipamentos, softwares e formação docente contínua, à medida que surgem recursos tecnológicos inovadores (TEIXEIRA, 2013). O que existiu, foi porquanto, que foi criado uma marca generalizada que está interrelacionada com a magnificência tecnológica do ambiente escolar, da universidade ou do centro de ensino à qualidade da educação, tornando-o sinônimo de mão de obra qualificada, mas nenhuma evidência científica lastreia o argumento de que as TICs são decisivas na aprendizagem de jovens e adultos, (AVIRAM, 2000). O desenvolvimento mais significativo que acompanha a revolução das TICs na educação ocorre, na verdade, fora da escola, refletido na impressionante quantidade de alunos que não estudam em casa nem pertencem a nenhum sistema formal de ensino O mesmo se estende à universidade, dados os milhares de alunos matriculados em cursos de nível superior on-line. (TEIXEIRA, 2013). Neste prisma, o ciberespaço permite o autoaprendizado, provoca a interatividade e estimula a troca de informações e saberes, mas não garante o sucesso do aprendizado, comumente desmotivado pela falta de estímulo. Disso decorre a importância da escola e do professor como mediadores do conhecimento a ser construído, aliados às estratégias pedagógicas, materiais didáticos e metodologias de ensino. Ainda assim, particularidades por vezes desconhecidas, outrora ignoradas, fazem a diferença quando “lincamos” educação a cibercultura (TEIXEIRA, 2013).
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Diante disso, Lemos (2003) indica novas possibilidades de socialização do conhecimento através de três leis da cibercultura: lei da liberação do polo da emissão, lei da conectividade e lei da reconfiguração. A primeira refere-se a uma modificação no modelo de comunicação até então vigente e cede espaço à comunicação interativo-colaborativa. A máxima é “tem de tudo na internet”, “podese tudo na internet”. A segunda define que a rede está em todos os lugares, generalizada, interligando tudo a todos. Mediante a crescente interconexão entre dispositivos de comunicação digital, amplia a troca de informações entre homens e homens, máquinas e homens e também entre máquinas e máquinas. A terceira é contrária à mera substituição de práticas e favorável a seu redesenho em face das novas possibilidades instrumentalizadas pelo ciberespaço, evitando a lógica da substituição ou do aniquilamento dos antigos meios, já que, em várias expressões da cibercultura, trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas ou espaços sem a substituição de seus respectivos antecedentes (LIMA, 2011; LEMOS, 2003). Para a educação, urge que implementemos mudanças no ensino tradicional, secularmente institucionalizado, reconfigurando práticas educomunicativas de acordo com o novo cenário sociotécnico atual, frente à emergência de novas formas de comunicação interativa (muitos para muitos) e da miríade de conteúdos informativos na rede (TEIXEIRA, 2013). De agora em diante, deve-se, pois, acompanhar a evolução midiática e fazer uso tanto dos antigos quanto dos novos recursos comunicativos é um imenso desafio, congênere às peculiaridades de cada contexto educativo, tendo em vista que a alfabetização midiática não está disponível a grande parte da população mundial (TEIXEIRA, 2013). Aos afortunados “nativos digitais” equivale a realidade mencionada: um universo virtual que suporta o processo de criação, produção e distribuição de produtos, informações e serviços; a inteligência coletiva, o hipertexto e a inteligência artificial; as interfaces síncronas e assíncronas de comunicação; as comunidades virtuais, a colaboração em massa e a interatividade em tempo real, onde as pessoas estão conectadas e o conhecimento é compartilhado (através de imagens, vídeos, textos, áudios) em escala global (TEIXEIRA, 2012b). A cibercultura totaliza, nesse contexto, símbolo de um período da história da humanidade marcado pela comunicação eletrônica e pelas mídias digitais, influenciando, direta ou indiretamente, a educação e os modos de ensinar e aprender. Ela se faz presente, também, na educação por meio de múltiplas linguagens, múltiplos canais de comunicação e em temporalidades distintas. Permitindo, por exemplo, permitem um contato permanente entre escola, professores, alunos e seus pares no ambiente virtual de ensino. Sem fronteiras para o conhecimento, os conteúdos educativos são trabalhados interativamente na comunidade estudantil, de forma síncrona e assíncrona, com a possibilidade de produzir e compartilhar conhecimentos colaborativamente com qualquer outro estudante em qualquer parte do mundo (TEIXEIRA, 2013). Não obstante, apesar dos evidentes benefícios para o processo de ensino-aprendizagem, devemos repensar a influência da internet e das novas tecnologias em nossa cultura, conscientes de seus pontos fortes e limitações, como a falta ou a precariedade de acesso à rede. Além disso, é fundamental avaliar a capacidade do estudante para utilizar as tecnologias propostas como instrumento de produção de conhecimentos transdisciplinares, e não apenas de informação, redefinindo a racionalidade comunicativa em estratégias educacionais no ambiente virtual (TEIXEIRA, 2013). Em outras palavras, a abstenção não é realmente uma opção para instituições de ensino, professores e gestores educacionais, já que a introdução das TICs na educação faz parte de uma
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revolução sociocultural mais ampla e profunda que está mudando a cultura do mundo contemporâneo (TEIXEIRA, 2013). Vale inferir, ainda, que quem deseja sobreviver profissionalmente a essas mudanças ciberculturais não tem outra opção senão adaptar-se à época em que vivemos, marcada por novos modos de comunicação, estilos de vida, identidades, entretenimento, interatividade às novas formas de ensinar e aprender (TEIXEIRA, 2013). A adaptação, contudo, requer uma estratégia bem definida, com base em uma clara compreensão da nova cultura emergente, dos valores explícitos e objetivos educacionais, evitando o instrucionismo mecanizado. Por isso, torna-se necessária uma literacia informática prévia entre educadores e educandos, como meio de melhorar competências, conhecimentos, atitudes e perspectivas sobre o futuro da aprendizagem, que é cada vez mais colaborativa. Os consumidores tornam-se produtores e os produtores tornam-se consumidores de conteúdos, bens e serviços, em um novo modelo econômico planetário, sem restrições ou barreiras, induzido por um processo contínuo de colaboração massiva (TAPSCOTT e WILLIAMS, 2010). Deste modo, o conceito de cibercultura está em permanente transformação, com muitas conotações, idealizadas notoriamente pelas práticas tecnossociais da cultura contemporânea e de suas novas formas de sociabilidade no universo virtual, ou seja, uma virtualização cultural da realidade humana, fruto da migração do espaço físico para o virtual mediado pelas TICs e regida por códigos, signos e relações sociais dentro e fora dos espaços escolares (TEIXEIRA, 2013). As Formas do Saber de Pierre Lévy: uma breve contextualização As mudanças que atingem a educação e a gestão do conhecimento desenham a base de uma nova sociedade, onde a escola e os educadores passam por uma revisão dos seus princípios pedagógicos e do uso das tecnologias de aprendizagem, contudo a grande revolução é sentida, fundamentalmente, na nova organização e produção dos saberes. Neste prisma, pode-se inferir que a inteligência é fruto do coletivo, passando a representar o maior bem da sociedade. Segundo Pierre Lévy, há três grandes mudanças na relação do saber, ao ponto que a primeira delas diz respeito à velocidade com a qual os conhecimentos surgem, renovam-se e tornam-se obsoletos. Outrossim, a maneira mais simplificada de explicar essa velocidade seria afirmando que há anos quando se aprendia alguma profissão, a maior parte das pessoas que aprendiam era válido até o final de sua carreira e podia, até mesmo, transmitir seu conhecimento e experiência a seus filhos e aprendizes. Ainda segundo o autor supracitado, o que ocorre na atualidade é que a situação se modificou (não em todas as profissões), ao ponto que existe um número elevado de novas profissões, onde o ciclo de renovação dos conhecimentos ocorre rapidamente e em um curto espaço de tempo. Isso não só considerando as profissões ligadas à tecnologia, mas a tudo o que está relacionado com o ciclo contínuo de modificações da sociedade. Pierre Lévy aponta, por conseguinte, que o número de profissões autônomas foi criado ao longo dos anos, possibilitando a existência de novas empresas e novas formas de consultorias e cursos de atualizações. Assim, trabalhar nos dias atuais, para o autor, significa prestar serviços aos outros com o objetivo de compartilhar saberes e não mais para a simples subsistência. Neste contexto de mudanças, o autor destaca que houve, ao longo dos anos, um aumento no número de empregos e de empregados, sobretudo no setor terciário, no setor de serviços, de transporte, de comércio, finanças, seguros, educação, dentre outros. Ao ponto que, para Pierre
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Lévy, no que mais houve modificação foi na indústria do conhecimento: pesquisa, documentação, educação, consultoria, formação profissional, mídias, comunicação e cultura. O que acontece em relação à revolução da cibercultura, segundo ele, é que essas profissões ligadas aos serviços e à indústria do conhecimento que vivem, por sua vez, um extraordinário aumento de produtividade. Em outras palavras, Lévy considera que tudo o que for processamento de informações, de comunicação e de coordenação encontrasse evidentemente multiplicado pelas novas ferramentas de suporte digital. Na visão dele, é notório que a informatização não diz unicamente a respeito do aumento da produtividade no setor terciário, mas também, no setor primário. Sendo utilizados meios tecnológicos tanto na agricultura quanto na industrialização, com suas atividades afetadas pela informatização. Além de modificar nos avanços de pesquisas científicas e na maneira de pensar dos pesquisadores. Para Pierre Lévy, a internet seria, pois, a grande revolução, no sentido de que a utilização dos computadores foi ampliada aos simples usos de poucos pesquisadores e de empresas, a serem utilizadas de forma mais efetiva por todos os cidadãos. Nesta perspectiva, a internet permitia a conexão de diversas redes heterogêneas, constituindo-se em um “movimento social” dos jovens que viviam em grandes metrópoles e que eram interessados em uma revolução técnica e, sobretudo, eram interessados em desenvolver e experimentar novas formas de comunicação e de interações comunitárias. Segundo o autor, uma das direções para a Arte nos dias atuais seria, pois, a que utiliza meios técnicos, digitais e numéricos que permitem denomina-las de “ciberarte” ou de “arte eletrônica” Trata-se, porquanto, de uma arte de interatividade, na qual o “interator” vai agir. De forma generalizada, Lévy aponta que não se pode denominar esta revolução da informatização como uma regra absoluta e Universal, mas que devem ser exploradas as diversas concepções e práticas propiciadas pela cibercultura, na medida em que ela se constitui em espaços nos quais os indivíduos são levados a interagir e imergir, onde cada um irá “habitar” este espaço de forma específica e individualizada. Resultados e discussões Pensar a cibercultura: esta é a proposta deste livro. Em geral me consideram um otimista. Estão certos. Meu otimismo, contudo, não promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos os problemas culturais e sociais do planeta. Consiste apenas em reconhecer dois fatos. Em primeiro lugar, que o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano (LÉVY, 1999, p.11). O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço (LÉVY, 1999, p.17).
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A hipótese que levanto é a de que a cibercultura leva a co-presença das mensagens de volta a seu conexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma órbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais da autossuficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente (LÉVY, 1999, p.15). Um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas (LÉVY, 1999, p.75). A cibercultura dá forma a um novo tipo de universal: o universal sem totalidade. E, repetimos, trata-se ainda de um universal, acompanhado de todas as ressonâncias possíveis de serem encontradas com a filosofia das luzes, uma vez que possui uma relação profunda com a idéia de humanidade. Assim, o ciberespaço não engendra uma cultura do universal porque, de fato, está em toda parte, e sim porque sua forma ou sua idéia implicam de direito o conjunto dos seres humanos (LÉVY, 1999, p. 119). A emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes (LÉVY, 1999, p.123). Do mais básico ao mais elaborado, três princípios orientaram o crescimento inicial do ciberespaço: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva (LÉVY, 1999, p.127). A interconexão para a interatividade é supostamente boa, quaisquer que sejam os terminais, os indivíduos, os lugares e momentos que ela coloca em contato. As comunidades virtuais parecem ser um excelente meio (entre centenas de outros) para socializar, quer suas finalidades sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus centros de interesse sejam sérios, frívolos ou escandalosos. A inteligência coletiva, enfim, seria o modo de realização da humanidade que a rede digital universal felizmente favorece, sem que saibamos a priori em direção a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia seus recursos intelectuais. Em resumo, o programa da cibercultura é o universal sem totalidade (LÉVY, 1999, p.132). Qualquer reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação e de formação na cibercultura deve ser fundada em uma análise prévia da mutação contemporânea da relação com o saber. Em relação a isso, a primeira constatação diz respeito à velocidade de surgimento e de renovação dos saberes e savoir-faire. A segunda constatação, fortemente ligada à primeira, diz respeito à nova natureza do trabalho, cuja parte de transação de conhecimentos não pára de crescer. Terceira constatação: o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória, imaginação, percepção, raciocínio (LÉVY, 1999, p.157). Duas grandes reformas são necessárias nos sistemas de educação e formação. Em primeiro lugar, a aclimatação dos dispositivos e do espírito do EAD (ensino aberto e a distância) ao cotidiano e ao dia a dia da educação. A segunda reforma diz respeito ao reconhecimento das experiências adquiridas. Se as pessoas aprendem com suas atividades sociais e profissionais, se a escola e a universidade perdem progressivamente o monopólio da criação e transmissão do conhecimento, os sistemas públicos de educação podem ao menos tomar para si a nova missão de
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orientar os percursos individuais no saber e de contribuir para o reconhecimento dos conjuntos de saberes pertencentes às pessoas, aí incluídos os saberes não-acadêmicos. (LÉVY, 1999, p.158) Não existe uma abordagem neutra ou objetiva da cibercultura, e este ensaio não foge à regra. Qual é, então, o projeto subjacente à minha descrição? Estou profundamente convencido de que permitir que os seres humanos conjuguem suas imaginações é inteligências a serviço do desenvolvimento e da emancipação das pessoas é o melhor uso possível das tecnologias digitais (LÉVY, 1999, p.208). A cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura. De acordo com a tese que desenvolvi neste estudo, a chave da cultura do futuro é o conceito de universal sem totalidade. Nessa proposição, "o universal" significa a presença virtual da humanidade para si mesma. O universal abriga o aqui e agora da espécie, seu ponto de encontro, um aqui e agora paradoxal, sem lugar nem tempo claramente definível. O horizonte de um ciberespaço que temos como universalista é o de interconectar todos os bípedes falantes e fazê-los participar da inteligência coletiva da espécie no seio de um meio ubiqüitário (LÉVY, 1999, p.247). A cibercultura mantém a universalidade ao mesmo tempo em que dissolve a totalidade. Corresponde ao momento em que nossa espécie, pela globalização econômica, pelo adensamento das redes de comunicação e de transporte, tende a formar uma única comunidade mundial, ainda que essa comunidade seja (e quanto!) desigual e conflitante. Única em seu gênero no reino animal, a humanidade reúne toda sua espécie em uma única sociedade. Mas, ao mesmo tempo, e paradoxalmente, a unidade do sentido se quebra, talvez porque ela comece a se realizar na prática, pelo contato e a interação efetiva. Conectadas ao universo, as comunidades virtuais constróem e dissolvem constantemente suas micrototalidades dinâmicas, emergente, imersas, derivando entre as correntes turbilhonantes do novo dilúvio (LÉVY, 1999, p.249). O uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber. Ao prolongar determinadas capacidades cognitivas humanas (memória, imaginação, percepção), as tecnologias intelectuais com suporte digital redefinem seu alcance, seu significado, e algumas vezes até mesmo sua natureza. As novas possibilidades de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em questão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto nas empresas como nas escolas. Como manter as práticas pedagógicas atualizadas com esses novos processos de transação de conhecimento? (LÉVY, 1999, p. 172). Considerações Finais De forma generalizada, pode-se inferir que a partir das discussões do texto, com ênfase nos estudos de Lévy, o texto propõe enxergar na cibercultura as potencialidades mais positivas, seja nos planos econômico, político, cultural e humano, sendo ela um um movimento que oferece novas formas de comunicação, o que chama a atenção de milhares de jovens pelo mundo. Do mesmo modo, Lévy indica que aqueles que denunciam a cibercultura têm certa aparência com os que denunciavam o rock e o cinema há algumas décadas. Sendo que estes por inúmeras vezes foram porta-vozes dos sonhos e aspirações da juventude na época. Não necessariamente acabando com a fome a miséria, mas permitindo que muitos se divertissem ao ouvir ou tocar suas músicas. Neste olhar, a proposta de Lévy é de, portanto, não se posicionar a favor ou contra, mas continuar abertos a novidades e as mudanças. Apostando que apenas dessa forma seremos capazes de desenvolver essas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista.
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Ao longo dos anos, existiu, porquanto, um aumento considerável no distanciamento que separava os bem-nascidos e os excluídos, dispondo a concentração do poder nas mãos de uns poucos dominadores. Onde quem aprecia a cibercultura coloca-se imediatamente no lado do neoliberalismo e do capitalismo financeiro. A partir disso, esta visão sugere que a rede está se tornando mais uma finalidade mercadológica e paga. Neste contexto, pode-se lembrar que, segundo Lévy, na era de dilúvio informacional deveria provocar um despertar para que houvesse um ensinamento aos filhos a nadar, flutuar, talvez a navegar, na busca por preservar a diversidade. A tecnociência produziu, pois, tanto a bomba atômica quanto as redes interativas, mas sendo que estas apenas comunicam. Assim, as técnicas não determinam nem a salvação e nem a perdição do homem. Estando em nossas mãos as escolhas de nossas ações. Neste prisma, a cibernética e seus respectivos objetos, a leitura flui de forma tranqüila, a ponto de não necessitar ser especialista da área ou mesmo acadêmico para absorver suas informações satisfatoriamente. De forma geral, pode-se afirmar que, não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, e sim de comboiar conscientemente uma mudança de civilização que procura conhecer as formas institucionais, os pensamentos e a cultura dos sistemas educacionais de antes e, sobretudo, os papéis de professor e de aluno dos dias atuais. Referências AVIRAM, A. (2000). “Computers in the classroom” to mindful radical adaptation by education systems to the emerging cyber culture. Journal of Educational Change, v. 1, n. 4, p. 331-352, dez. 2000. DENCKER, A. de F. M.. Pesquisa: planejamento, métodos e técnicas. São Paulo: utura, 1998. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed.São Paulo: Atlas,2008. LEMOS, A. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: LEMOS, A.; CUNHA, P. Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. p. 11-23. LÉVY, P. La machine univers: création, cognition et culture informatique. Paris: La Découverte, 1987. ______. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 2010. ______. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Editora 34: São Paulo, 1999, 264 p. (Coleção TRANS). ______. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2009. LIMA, M. (2011). Educação na cibercultura: novas possibilidades para o ensino-apren-di-zagem. Disponível em: <http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/reeduc/article/view/169/142>. Acesso em: janeiro de 2015. TAPSCOTT, D.; WILLIAMS, A. Wikinomics: how mass colla-boration changes everything. New York: Penguin Group, 2010. TEIXEIRA, Marcelo Mendonça. Cyberculture: from Plato to the virtual universe. The architecture of collective intelligence. Munique: Grin Verlag, 2012a. ______. As faces da comunicação. Munique: Grin Verlag, 2012b. ______. A cibercultura na educação. Revista Pátio. Edição 67. Agosto de 2013. Disponível em: <http://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/9258/a-cibercultura-na-educacao.aspx>. Acesso em janeiro de 2015. VEAL, A.K. Metodologia de pesquisa. São Paulo: Aleph, 2011. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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EXPERIÊNCIAS ESCOLARES NA ZONA RURAL: RESULTADOS DE UMA OBSERVAÇÃO EM SALA DE AULA. Mayane Ferreira de Farias Ionara Silva Braga Maria Teobanete da Cunha Rita Diana de Freitas Gurgel – Orientadora *Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA Resumo O Estudo a ser disseminado neste trabalho mostra a realidade de uma escola da zona rural de Santana do Matos-RN, mostrando as dificuldades encontradas desde a ida a escola até o seu funcionamento cotidiano. A forma como se dá a pratica pedagógica, o modelo teórico seguido nas aulas e o uso das TICs, são temas presentes no mesmo, sendo possível perceber as consequências causadas, devido não utilizarem as novas tecnologias. A análise foi feita em uma sala de aula, onde se pode perceber a falta de domínio da professora com o assunto que ia trabalhar com seus alunos, como também, foi possível observar que muitos alunos do 7º ano, turma onde foi realizada a observação, ainda não sabem ler direito, e a maioria nunca tiveram acesso a um computador. Por fim, pode-se perceber o descaso da rede municipal de ensino com a escola, pois a cada troca de líderes políticos, é trocado o quadro de professores e de funcionários em geral da escola, tornando assim cada vez mais difícil a aprendizagem dos alunos, pois quando algum professor começa um trabalho, não se tem como dar continuidade, devido ser interrompido. Palavras-Chave: Educação na zona rural, TICs, dificuldades pedagógicas. Abstract The study to be disseminated in this work shows the reality of a rural school in Santana do MatosRN, showing the difficulties encountered since the trip to school until their everyday functioning. The form in which the pedagogical practice, the theoretical model used in class and the use of ICT, are issues present in the same, and you can understand the consequences caused because you do not use the new technologies. The analysis was done in a classroom, where we can see the lack of teacher domain it was going to work with their students, but also, it was observed that many students of Year 7, where class observation was performed, not yet read right, and most have never had access to a computer. Finally, one can see the neglect of municipal schools with school, because at each change of political leaders, is changed the teaching staff and school employees in general, thus making it increasingly difficult to student learning because when a teacher gets a job, there is no way to continue, due to be discontinued. Keywords: Education in the countryside, ICT, educational difficulties. Introdução Para o futuro profissional docente, é de extrema importância conhecer a realidade educacional, a qual o mesmo futuramente estará inserido. Para isso, durante todo o período de graduação, é preciso sempre buscar maneiras de diagnosticar como o processo de ensino está acontecendo nas escolas. Todo este estudo tem como principal objetivo focalizar o processo de ensino-aprendizagem, e verificar como o mesmo se dá, buscando fazer a interação da teoria estudada com a prática observada. Como professores num curso de formação docente não podem esgotar minha prática discursando cobre a Teoria da não extensão do conhecimento. Não posso apenas falar bonito sobre as razões ontológicas, epistemológicas e políticas da Teoria. O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo concreto, prático, da teoria. Sua
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Com isso, o referido trabalho tem como objetivo, mostrar um pouco da realidade da Escola Municipal Francisca Mendes da Silva, localizada no Distrito de Santa Teresa, município de Santana do Matos – RN. Ao realizar essa pesquisa na escola, fomos recebidas pela vice-diretora, pois o diretor não se encontrava presente. Como procedimento metodológico realizamos uma entrevista com uma docente indicada pela gestora, e fizemos uma observação na aula da mesma em uma turma do sétimo ano, por ser uma turma que segundo a professora, entende um pouco melhor sobre informática. Durante o desenrolar das contribuições, traremos aqui, reflexões e comparações do que foi visto na visita a escola, com teorias e pensamentos educacionais, tais como o de Piaget, Vygotsky, entre outros. Informações sobre a instituição de ensino observada O estudo foi feito na escola municipal Francisca Mendes da Silva localizada na zona rural do município de Santana do Matos - RN, no distrito de Santa Tereza. A mesma atualmente dispõe dos níveis de ensino infantil e ensino fundamental, onde estão matriculados cerca de 195 alunos, nos turnos matutino e noturno. Encontram-se atuantes 23 professores, sendo que a maioria ainda está cursando a primeira graduação. As turmas estão organizadas de acordo com a faixa etária dos alunos, ou seja, a administração tenta, segundo eles, fazer um equilíbrio do nível do conhecimento dos alunos. A estrutura física da escola encontra-se em bom estado de conservação, tem um espaço amplo, salas grandes, biblioteca, sala de professores, sala da direção, sala de informática, com vários computadores, no entanto, não estão sendo utilizados devido à instalação elétrica que está em estado precário. Nas salas de aula há carteiras suficientes para os alunos e um quadro branco, havia nas paredes das salas, trabalhos confeccionados pelos próprios alunos. As cadeiras são organizadas no antigo modelo tradicional, ou seja, em fileiras, sendo que a mesa do professor encontra-se a frente das carteiras dos alunos, como forma de autoridade, não havia interação professor aluno, e a aula tornava-se chata. Mas, como dizia Vygotsky, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem. O professor tem o papel explícito de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal. As tecnologias da informação e da comunicação – (TIC) As tecnologias da informação e da comunicação (TIC) estão cada vez mais presentes nas nossas vidas, em qualquer lugar que estivermos, ou seja, pelo celular, computadores, televisão, entre muitos outros. Essa nova tecnologia tem contribuído para uma mudança significativa para a sociedade em geral, tornando assim cada vez mais exigido a competência e conhecimento das pessoas. Hoje em dia os alunos já chegam às salas de aula com uma série de informações, ou seja, o conhecimento já não é mais só do professor, mas o aluno continua a necessitar da sua orientação. O professor tem que ensinar aos seus alunos como superar a consciência ingênua que cada um tem
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ensinando a ver as coisas de uma forma mais madura, sempre com um olhar crítico, pois nada substitui a riqueza do dialogo pedagógico. As crianças já nascem praticamente sabendo usar essas tecnologias, ou seja, é algo inato, característica que nascem com o indivíduo e que também vai amadurecendo com o tempo. A instituição escolar não pode caminhar em sentido oposto ao que ocorre do lado de fora dos seus muros, ou seja, “uma escola fundamentada apenas no discurso oral e na escrita, centrada em procedimentos dedutivos e lineares”, praticamente desconhecendo as novas linguagens e ferramentas a disposição da aprendizagem. (PRETTO apud BAIOCCHI, 2009).
Sobretudo podemos observar na escola a qual foi desenvolvido a pesquisa, que não há nenhum recurso das TICs, ou seja, os professores não utilizam nenhum material do tipo (software, slides, entre outros) para ministrarem suas aulas, não existe nenhum tipo de planejamento coletivo para a implementação das Tecnologias da Comunicação e Informação – TICs nas aulas, e tudo isso devido à escola não possuir acesso à internet. A gestora da escola informa que a falta de internet é devido à escola não possuir uma rede de alta tensão para suportar tantos computadores ligados, pois a instituição de ensino dispõe de uma sala de informática, mas devido esse problema e também por falta de manutenção e de profissionais da área, estão inutilizados. Além disso, o aluno da escola não possui nenhum tipo de relação com o computador/informática, pois o único computador que funciona na instituição é um notebook, que ficava na direção da escola. Os professores também nunca passaram por uma formação continuada na área das TICs, dificultando o aprendizado dos alunos, ou seja, a escola não possui nenhum meio de inclusão digital de nenhuma forma, necessitando assim com muita urgência, como foi dito pela gestora entrevistada, de investimento, infraestrutura e de cursos de capacitação para os professores. São encontradas muitas dificuldades, para se trazer um conteúdo de qualidade e atual, sem os recursos das TICs. A formação do professor deve prover condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. Essa prática possibilita a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno. Finalmente, devem-se criar condições para que o professor saiba contextualizar o aprendizado e a experiência vivida durante a sua formação para a sua realidade de sala de aula compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se dispõe a atingir. (VALENTE apud ROSALEN e MAZZILLI, 20??).
Entrevistamos também uma aluna do sétimo ano, e ela nos relatou que possui computador em casa e que sempre usa o mesmo, para auxiliar em suas atividades escolares, sua fonte de pesquisa é sempre a internet, porém não são todos os dias que ela pode acessar, devido à dificuldade encontrada por morar na zona rural. Ela falou que considera muito importante o uso do computador/internet para auxiliar no aprendizado na escola, pois contribui de uma forma significativa para aprimorar cada vez mais seu aprendizado nas matérias. “O aluno deve reconhecer e avaliar o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, suas relações com as ciências, seu papel na vida humana, sua presença no mundo cotidiano e seus impactos na vida social” (BRASIL, 2002, p. 32).
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Problemas encontrados na escola Um dos problemas que encontramos na referida escola que nos chamou bastante atenção foi o descaso das políticas públicas, que a cada eleição municipal é escolhida uma nova equipe de funcionários para ocuparem cargos na escola. Ou seja, quando entra um prefeito novo todos aqueles funcionários da gestão passada são demitidos e contratam um novo quadro de funcionários, desta vez aqueles que acompanham suas candidaturas e fazem parte da sua chapa política, a chamada equipe partidária. Assim acabam prejudicando os alunos, pois nunca irão conseguir aprender nada, com essa troca desgovernada e a falta de profissionais que realmente conheçam o caminho que os levem a um futuro de conquistas e oportunidades; profissionais qualificados e treinados para essa árdua tarefa. Esses alunos também encontram dificuldades até de se chegar à escola, pois os mesmos moram distantes, tendo que enfrentar todos os dias uma viagem de ida e volta para casa, numa estrada de terra, com difícil acesso. Segundo Piaget, 1984, a educação deve possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e dinâmico desde o período sensório-motor até o operatório abstrato. Para construir esse conhecimento, as concepções infantis combinam-se às informações advindas do meio, na medida em que, o conhecimento não é concebido apenas como sendo descoberto espontaneamente pela criança, nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior ou pelos adultos, mas, como resultado de uma interação na qual o sujeito é sempre um elemento ativo, que procura ativamente compreender o mundo que o cerca, e que busca resolver as interrogações que esse mundo provoca. É aquele que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo, e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo em que organiza seu mundo. Não é um sujeito que espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um ato de bondade. Procedimentos educacionais na zona rural Fizemos uma visita frequentemente a uma escola da rede municipal de ensino para nos auxiliar e informarmos sobre o movimento das TICs nas escolas. Chegando à referida escola fomos muito bem recepcionadas pela vice-diretora, alguns professores e demais funcionários, em seguida entregamos o oficio e informamos o motivo pelo qual estaríamos ali, com muita atenção e disponibilidade, a vice-diretora se colocou a total disposição para nos auxiliar no que fosse preciso. Fomos conduzidos ao 7º ano para presenciar uma aula de história, novamente fomos muito bem recebidos desta vez pela professora que ministrava a aula, durante o percurso da aula notamos que a professora não havia pesquisado nem tão pouco planejado o assunto a ser passado para os alunos, notamos que ela não tinha nenhum conteúdo em mente para transmitir no momento, então pediu que os mesmos fizessem uma apresentação da pesquisa que havia sido passada na aula anterior. A primeira dupla a apresentar começou com bastante dificuldade para ler e sempre estava pedindo o auxílio da professora que depois de traduzir várias palavras foi perceber que o grupo havia pesquisado o texto em espanhol, e então pediu que o grupo fizesse uma nova pesquisa desta vez em português, em seguida deu andamento as apresentações com os outros grupos restantes. Percebemos também que os outros grupos também não tinham muito conhecimento sobre o assunto abordado, pois na verdade não foi bem uma apresentação, pois eles só leram o que havia
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sido escrito, enquanto que outros grupos não conseguiram nem mesmo ler, pois mal sabiam soletrar algumas palavras, teve também a parte que só as mulheres se disponibilizaram a irem lá para frente apresentarem, pois nenhum dos homens se dispôs nem se que a pesquisar jamais a apresentar. Após terminarem as apresentações a professora deu a aula por encerrada, pois na verdade, pelo que podemos perceber ela não estava nenhum pouco preparada, para prosseguir com a aula e não sabia o que dizer na sala de aula, pois não tinha nenhum domínio sobre o assunto nem ideia do que fazer. Portanto, vimos que nessa escola praticamente não se é utilizado procedimentos educacionais. Considerações finais A proposta inicial desta pesquisa era fazer uma observação da prática pedagógica utilizada em sala de aula de aula, porém ao observar uma aula de história para alunos do sétimo ano do ensino fundamental, e fazer uma entrevista com um profissional docente responsável pela turma, foi possível observar o quanto a teoria é diferente da prática. Percebemos ainda, que o uso das novas tecnologias na escola ainda é muito ausente, e que quase não interfere na metodologia utilizada pelo professor. Esta pesquisa tornou-se possível ver na prática como se dá o processo de ensino aprendizagem; a relação professor-aluno e o uso das novas tecnologias digitais na escola e em sala de aula além de fazer reflexões críticas sobre o que fazer e o que não fazer como docente. Com isso podemos concluir que este trabalho foi muito importante e com ele aprendemos muitas coisas novas, ganhamos bastantes conhecimentos e fortalecemos nosso senso crítico além de nos ajudar a pensar mais como podemos melhorar o nosso método para atuarmos como futuros licenciados. Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: PCN+Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2002. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia. São Paulo: Summus, 1984. PRETTO apud BAIOCCHI, Dileuza Niebielski. A Integração das Tics na Formação Docente. Disponível: < http://www.psicopedagogia.com.br/new1_artigo.asp?entrID=1140>. Acesso em setembro de 2013. VALENTE apud ROSALEN, Marilena. MAZZILLI, Sueli. Formação de Professores para o Uso da Informática nas Escolas: Evidências da Prática. Disponível em: < www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt08/gt081345int.rtf>. Acesso em setembro de 2013. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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PLANEJAMENTO AMBIENTAL PARTICIPATIVO NA PROMOÇÃO AO TURISMO SUSTENTÁVEL: ATUAÇÃO DO CONSELHO GESTOR EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO RN27 Mayara Ferreira de Farias28 Naia Valeska Maranhão de Paiva29 Francisco Fransualdo de Azevedo30 Ione Rodrigues Diniz Morais31 Resumo Este artigo problematiza a implantação do turismo sustentável – que busca minimizar os impactos ambientais e socioculturais, ao mesmo tempo em que promove benefícios econômicos para as comunidades locais e destinos - e consolidação dos espaços participativos, os quais se constituem em locais onde há a presença e ação real da comunidade. Objetiva-se contribuir para uma reflexão sobre a sustentabilidade da atividade turística mediante a participação ativa da sociedade sob a ótica da criação e gestão de Unidades de Conservação através dos conselhos gestores e do planejamento ambiental, exemplificada através da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão e pela Área de Proteção Ambiental Jenipabu, ambas localizadas no Rio Grande do Norte. Para o desenvolvimento deste trabalho utilizou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica e de levantamento de dados secundários em sites referentes aos assuntos abordados. A pesquisa possibilitou inferir que a participação ativa da comunidade, elemento fundamental no processo de planejamento e gestão do turismo, constitui-se em uma ação necessária para a melhoria da realidade vivenciada pela mesma. Não obstante, na experiência brasileira, em diferentes escalas, isto não acontece de modo satisfatório. A participação da comunidade, de uma forma organizada, proporcionaria maiores oportunidades de realização de debates, e tomadas de decisões sobre propostas de desenvolvimento local. O planejamento participativo constitui-se, portanto, como um dos pilares para o desenvolvimento do turismo sustentável. Palavras-chave: Planejamento participativo. Turismo sustentável. Unidade de conservação. Conselho gestor. Introdução O turismo é uma atividade em expansão, tendo experimentado nas últimas seis décadas crescimento contínuo e diversificado, tornando-se um dos setores de maior e mais rápido crescimento mundial. Nesta perspectiva, ocasionou o aumento de novos destinos turísticos, desafiando os tradicionais - Europa e América do Norte. Além disso, as estatísticas das chegadas de turistas internacionais em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2012b), têm demonstrado um crescimento praticamente ininterrupto, passando de 277 milhões, em 1980, para 528 milhões, em 1995, e 983 milhões em 2011. Esse aumento do fluxo turístico está intrinsecamente relacionado com a busca pela qualidade de vida, incorporando o turismo com uma necessidade para alcançar o bem estar. Neste contexto, o processo de globalização e o avanço da tecnologia favorecem a realização da atividade.
Texto original apresentado e publicado nos Anais do III Seminário Nacional e I Seminário Internacional "O papel do geógrafo no contexto social atual", Natal-RN, 26 a 29 de setembro de 2012. 28 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (PPGtur). mayarafarias23@hotmail.com 29 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (PPGtur). naiavaleska@hotmail.com 30 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (PPGtur). ffazevedo@hotmail.com 31 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (PPGtur). ionerdm@yahoo.com.br 27
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Atualmente, no período tido como técnico-científico-informacional, os meios de comunicação detentores de um grande poder de persuasão e influência, capazes de ditar modas e tendências e estimular consumos muitas vezes desnecessários, desempenham um papel importante no que tange à divulgação dos destinos, incitando o desejo em conhecer o novo, em desbravar o desconhecido. Acrescente-se a evolução dos meios de transporte que permitiu a redução no tempo despendido entre os locais de origem e destino, relativizando as distâncias. Considerando os destinos turísticos, é importante ressaltar que a atividade turística, tem a capacidade de movimentar e diversificar a economia, possibilitando melhoria na infraestrutura local (seja uma cidade ou outro lugar), na medida em que há interesses em atrair um maior número de turistas; de proporcionar intercâmbio cultural, resgatar e preservar o patrimônio histórico e a identidade cultural, intensificando a autoestima da comunidade local. Além disso, juntamente com outras atividades econômicas, o turismo tem o poder de impulsionar o desenvolvimento regional. Porém, para que os benefícios sejam alcançados, e os impactos negativos sejam minimizados é necessário um planejamento adequado e de acordo com as especificidades de cada destino. Dias (2003, p. 28) menciona que o turismo não planejado pode, a médio e longo prazos, gerar mais consequências negativas do que positivas sobre a sociedade local/regional. Neste sentido, quanto mais cedo for efetivada a intervenção política organizada, através do planejamento, para controlar o desenvolvimento turístico, melhores resultados serão obtidos em termos de um turismo sustentável, que contemple as dimensões econômica, cultural, social e ambiental. O planejamento turístico quando não realizado ou bem elaborado, ou seja, sem visão a longo prazo, objetivos claros, regras definidas e metas realizáveis, causa impactos negativos no campo social, ambiental e cultural. Em alguns casos pontuais, mesmo quando planejado, a comunidade sofre os impactos negativos da atividade, pois não é inserida no processo de planejamento. A comunidade necessita ter uma participação efetiva no planejamento turístico, através dos instrumentos que lhes forem acessíveis, tal como influência sobre determinado grupo de pessoas, pois os impactos da atividade, sejam positivos ou negativos, serão por ela sentidos. Neste sentido, os atores sociais devem ter ciência dos benefícios e custos que estão atrelados às mudanças que irão vivenciar e atuar como cidadãos que participam ativamente do processo de gestão. A inclusão da comunidade é, por conseguinte, um dos pilares do turismo sustentável, que visa um equilíbrio entre o desenvolvimento da atividade e a preservação ambiental, a viabilidade econômica e a equidade social. Contudo, essa inclusão pode ser considerada um problema caso a comunidade seja cooptada por agentes econômicos hegemônicos. Na perspectiva de inclusão da comunidade local no processo de gestão de Unidades de Conservação, surgem os Conselhos Gestores, desempenhando um importante papel no controle social da gestão pública, tornando-se um instrumento efetivo de participação da sociedade. A metodologia do presente estudo foi realizada através de pesquisa bibliográfica e de levantamento de dados secundários em sites referentes aos aspectos abordados. Turismo sustentável: uma breve contextualização A idéia de turismo sustentável é algo recente, sendo um fenômeno dos anos 1990, cujo surgimento está relacionado ao conceito de desenvolvimento sustentável.
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Swarbrooke (2002, p. 3) menciona que Por “sustentável” geralmente queremos dizer “desenvolvimento que satisfaz nossas necessidades hoje, sem comprometer a capacidade das pessoas satisfazerem as suas no futuro”. Trata-se, portanto, de uma perspectiva a um prazo mais longo do usual ao tomarmos decisões, e envolve uma necessidade de intervenção e planejamento. O conceito de sustentabilidade engloba claramente o meio ambiente, as pessoas e os sistemas econômicos.
Sachs (2009, p. 55) defende que seja denominado ecodesenvolvimento ou desenvolvimento sustentável, trata-se de uma abordagem fundamentada na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos. Assim, considera que pode valer a pena colocar juntas a duas ideias-força (desenvolvimento e direitos humanos), reconceitualizando o desenvolvimento como apropriação efetiva de todos os direitos humanos, políticos, sociais, econômicos e culturais, incluindo-se o direito coletivo ao meio ambiente. Desenvolvimento sustentável implica admitir que é possível utilizarmos os recursos naturais para fins sociais, de modo a garantir as necessidades das gerações atuais, sem prejudicar as necessidades das gerações futuras Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, ressalta-se a importância de se pensar em um turismo com consequências de longo prazo para que as atividades voltadas para o seu desenvolvimento sejam mais efetivas e eficazes, tanto para os governantes quanto para os turistas e a comunidade, no sentido de minimização dos impactos negativos que pode ocasionar. A origem do turismo sustentável tem como marco histórico a Conferência Globo 90, sobre turismo e sustentabilidade, realizada em Vancouver, Canadá. Neste evento, algumas metas foram indicadas para a efetividade da atividade, dentre as quais se destacam: tomar decisões em todos os segmentos da sociedade, inclusive populações locais, de forma que o turismo e outros usuários dos recursos possam coexistir; demonstrar a importância dos recursos naturais e culturais para a economia de uma comunidade e seu bem estar-social, e poder ajudar a preservá-los. Desse modo, observa-se que se espera a adoção de medidas a longo prazo, e não ações imediatistas visando apenas um retorno econômico da atividade como destaca Wall (apud KINKER, 2002), quando se refere ao turismo sustentável como (...) aquele que é desenvolvido e mantido em uma área (comunidade, ambiente) de maneira que, e em uma escala que, se mantenha viável pelo maior tempo possível, não degradando ou alterando o meio ambiente que usufrui (natural e cultural), não interferindo no desenvolvimento de outras atividades e processos, não degradando a qualidade de vida da população envolvida, mas pelo contrário servindo de base para uma diversificação da economia local.
Assim, a ideia do turismo sustentável deve englobar e ser absorvida pela maioria dos segmentos do turismo. No entanto tais proposições não se tornam possíveis para todos os segmentos da atividade turística, tendo em vista que alguns deles são censuráveis e questionáveis como, por exemplo, o turismo sexual, que torna difícil a definição do limiar entre o aceitável e o inaceitável. De modo geral, é importante acreditar que o turismo pode se tornar mais sustentável, considerando os seus diversos tipos e exceções, conforme destaca Magalhães (2002, p.57). (...) referentes às bases teóricas do Desenvolvimento Sustentável e da dificuldade de se resgatar e alcançar, no Turismo Sustentável, todas as variáveis que envolvem o bom desempenho de uma atividade sustentável, não se pode deixar de buscar, mesmo que
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 100 de 140 pareça utopia, saída satisfatória para as práticas turísticas maléficas. É preciso acreditar na possibilidade de mudanças, ainda que em logo prazo.
Há, nesta perspectiva, palavras que confusamente são consideradas definições ou sinônimos do termo “Turismo Sustentável”, e mesmo não representando a sua real definição permite observar o quão ampla pode ser a sua relação com outros termos, conforme mostrado na Figura 1: As informações da figura 1 (abaixo) reforçam a ideia de que a sustentabilidade pode estar inserida em diversos segmentos do turismo. Assim, é necessário pensar que também pode ser considerada em relação ao turismo de massa que, por muito tempo, foi considerado o oposto polar do turismo sustentável. Entretanto, depende, comprometimento dos gestores locais e da comunidade em aplicar novas formas de planejamento da atividade.
Figura 1. A relação entre turismo sustentável e outros termos. (Swarbrooke, 2002, p. 20). Segundo Ansarah (2001, p. 31), o turismo sustentável é definido como um modelo de desenvolvimento econômico concebido para melhorar a qualidade de vida da comunidade receptora; proporcionar ao turista uma experiência de qualidade; e manter a qualidade do meio ambiente de que tanto a comunidade anfitriã como os visitantes dependem. A OMT (2012a) define o desenvolvimento turístico sustentável como aquele que “tem plenamente em conta os atuais e futuros impactos econômicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, a indústria, as comunidades, o meio ambiente e de acolhimento”. Sob esse prisma, em relação ao desenvolvimento sustentável (aquele que não esgota os recursos para o futuro), o turismo é uma aposta real capaz de mitigar os impactos socioambientais, tornando-se um instrumento apto para verticalizar e equilibrar o dano causado pelo desenvolvimento centrado no viés econômico e a necessidade de preservar o patrimônio. A OMT (2012a) considera ainda que o Desenvolvimento do turismo sustentável requer a participação informada de todos os interessados, bem como uma forte liderança política para garantir uma ampla participação e construção de consenso. Alcançar o turismo sustentável é um processo contínuo e requer monitoramento constante dos impactos, introduzindo as necessárias medidas preventivas e/ou medidas corretivas sempre que necessário.
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Swarbrooke (2002) menciona que a expressão “turismo sustentável” começou a ser usada a partir do final dos anos 1980 e com frequência no início da década de 1990, encerrando uma abordagem do turismo que reconhece a importância da comunidade local, a forma como as pessoas são tratadas e o desejo de maximizar os benefícios econômicos do turismo para essa comunidade. A participação ativa da comunidade no processo de planejamento turístico, quando realmente participa ou quando não se deixa cooptar por interesses hegemônicos, é base essencial ao turismo sustentável. No âmbito do debate a respeito desta atividade e da gestão participativa, é fundamental compreender que a comunidade pode e deve influenciar no planejamento e desenvolvimento do turismo, através da inserção do poder no processo de escolha, assumindo também um papel ativo no mercado da atividade, de modo a maximizar os benefícios e minimizar os seus custos. Todavia na prática isto não ocorre como deveria, tendo em vista que os instrumentos a serem utilizados nesta atuação muitas vezes são imbuídos de significados políticos e econômicos pelas partes favorecidas pela não-participação efetiva da comunidade. O surgimento do planejamento participativo A partir de uma breve menção ao surgimento das cidades, Souza (2003) relata que as primeiras aparecem no decorrer da “Revolução Neolítica”, na pré-história conhecida como Idade da Pedra Polida, período em que se inicia a prática da agricultura, acarretando o surgimento de assentamentos sedentários, e depois as primeiras cidades. Antes a subsistência do homem, era garantida através da caça, pesca e da coleta vegetal e todos deveriam se dedicar à busca de alimentos para sobreviver. Após o advento da agricultura, tornou-se possível alimentar populações cada vez maiores e até gerar excedentes alimentares, acarretando no surgimento de um segmento social que passou a se dedicar a outras funções (SOUZA, 2003). Essa mudança estrutural, que ocorreu a partir de inovações técnicas e excedentes alimentares ocasionou uma mudança de ordem social, econômica e política que foi ampliada no decorrer de milênios de anos, motivando formas centralizadas e hierárquicas do exercício do poder. Os impérios da Antiguidade foram disseminadores de cidades, uma vez que precisavam de um ponto de apoio para manter o poder nas regiões conquistadas. Em geral, foi se desenvolvendo um modelo de Estado, uma estrutura de poder, instalandose uma separação social entre o dirigente e o dirigido, entre a elite e o povo. Souza (2003) identifica as cidades gregas da Antiguidade, especialmente Atenas, como exemplo das poucas cidades que desafiaram e superaram essa separação social, uma vez que a democracia direta vigorava em substituição à monarquia e a aristocracia. Essa democracia, onde os indivíduos participavam diretamente dos processos decisórios, bem ilustrada por Atenas, é um exemplo de gestão participativa, iniciada há bastante tempo, mas com pouca representatividade, tendo em vista que a democracia representativa moderna, diversamente da direta, torna estrutural e permanente a separação entre dirigentes e dirigidos. Souza (2003, p. 169) assegura que Na democracia direta, (...) os indivíduos participavam diretamente dos processos decisórios (...); havia, sim, funções específicas administrativas ou de outra natureza, desempenhada por indivíduos eleitos, mas a maior parte dos cargos era sorteada entre os cidadãos, de modo a evitar cristalizações de poder e a perpetuação de indivíduos em
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 n° 25 v.e.– 2015 ISSN 1809-3264 Página 102 de 140 determinadas posições. Já na democracia representativa moderna, os cidadãos escolhem seus representantes, os quais irão representá-los na administração e no parlamento, decidindo em seu nome.
No mundo moderno, há tentativas de inserir elementos da democracia direta na democracia representativa, porém as dimensões atuais são bem maiores que a da antiga Atenas exemplificada. Motivo pelo qual se faz necessário outros meios para colocar em prática os elementos antes mencionados. “A participação direta da população acaba tendo de se dar com a ajuda de artifícios como a delegação (...) e a descentralização político-territorial” (SOUZA, 2003, p. 171). Neste sentido, uma sociedade que se proponha a instaurar a democracia direta, provavelmente deverá fazer uso desses artifícios para poder efetivamente aplicar os princípios da autogestão. Neste contexto se insere a concepção de Estado Moderno, muitas vezes compreendido como democrático de direita, mas que se apresentava altamente centralizador e conservador. Demo (2001) afirma que a participação é conquista, sendo um processo infindável, em um constante vir-a-ser, sempre se fazendo, não existindo participação suficiente, nem acabada, pois a que se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir. O espaço de democracia e de participação é proveniente de esforço, luta social, querer fazer parte do processo. Desse modo a ausência desse espaço deve ser encarada como ponto de partida para a conquista. Putnan (2006, p. 102) afirma que uma comunidade será tanto mais cívica quanto mais a política se aproximar do ideal de igualdade política entre cidadãos que seguem as regras de reciprocidade e participam do governo, e que numa comunidade cívica, a cidadania se caracteriza primeiramente pela participação nos negócios públicos. Sendo assim, apesar dos processos participativos sofrerem uma tendência a ser lentos e também circunscritos em dificuldades, por vezes supondo compromisso e envolvimento. Isso não pode ser desculpa para o comodismo ou simplesmente a aceitação de que o Estado (nas suas diferentes instâncias: federal, estadual e municipal) seja o único detentor de força política, e a partir deste pensamento ter a crítica como única atuação social. Souza e Rodrigues (2004, p. 12) ressaltaram que é raro que se pense na ação da própria sociedade civil, sob a forma de ativismos sociais como uma fonte de soluções criativas e como uma indicadora de possíveis caminhos para a superação de problemas, de modo que o Estado não é único que pode e deve ser um agente do processo de planejamento. Souza e Rodrigues (2004) afirmam, ainda, que os ativismos sociais como protagonistas da produção do espaço urbano, devem e necessitam ter muito a dizer sobre soluções e propostas, e não apenas como críticos daquilo que não lhes agrada, mas como autores de estratégias e planejamentos alternativos. Alguns autores, como Dias (2008, p. 112-113), acreditam que o planejamento participativo pode ser considerado um mito, principalmente quando se trata de âmbito nacional, onde não há como incorporar as massas diretamente. No entanto, existem outros mecanismos para essa inclusão, como partidos políticos, organizações não governamentais, organização representativa da comunidade, entre outras. De acordo com o autor, se o alvo for uma cidade, uma região ou um segmento da economia esse tipo de planejamento é possível, e certamente é necessária a participação da comunidade envolvida. Demo (apud Dias 2008, p. 114) discorda do pensamento de Dias quanto à concepção de que participação não passa de utopia. Para Demo a participação é sim realizável, todavia nunca será de modo totalmente satisfatório; esta não é dada, mas criada, bem como não é dádiva, mas sim reivindicação. Assim precisa ser construída, forçada, refeita e recriada.
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Demo (2001, p. 48) enfatiza que o “Planejamento participativo é possível. Nenhum Estado é tão monolítico, que a participação seja de todo inviável”. Para Beni (2006), em todo e qualquer projeto de mobilização social, o ideal é que a vinculação do público chegue ao nível de corresponsabilidade, pois as pessoas compreendem o quanto a sua participação é importante, sentindo-se responsáveis e acreditando no projeto. Deste modo, os objetivos podem ser alcançados e de maneira duradoura. O envolvimento das pessoas, quando não considerados os notórios poderes hegemônicos dos agentes exógenos, apresentará na maioria das vezes benefícios que sempre serão notáveis, já que proporciona um maior conhecimento da área à comunidade envolvida como também a inclusão e comprometimento no desenvolvimento da atividade. Bordenave (apud Loureiro 2003), em termos conceituais e considerando alguns princípios, destaca a participação como sendo uma necessidade biológica do ser humano, como um processo de desenvolvimento da consciência crítica e de aquisição de poder, que leva à apropriação democrática do ambiente, (...) que pode resolver conflitos, mas também pode gerá-los. Logo, a participação não é a solução para todos os problemas, mas uma alternativa política oriunda de um processo inclusivo, através da promoção da cidadania, desenvolvendo o sentimento de responsabilidade e pertencimento a um grupo ou comunidade, buscando um novo modo de relacionar Estado e sociedade civil. Nas discussões relativas à participação e gestão de espaço público, é essencial, portanto, a idéia de mobilização social que busque um novo modo de governar com a presença de agentes nãoestatais nos órgãos públicos. É neste contexto que se inserem as discussões referentes à gestão participativa em Unidades de Conservação, através da formação de conselhos gestores e demais inclusões sociais como forma de participação e expressão coletiva. Até o ano 2000, data da edição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, as unidades eram administradas exclusivamente pelo Estado. Hoje, devem ser geridas com a participação direta ou pelo menos mais próxima daqueles que podem influenciar na gestão ou que são mais diretamente influenciados, positiva ou negativamente, pela presença da Unidade de Conservação. Os conselhos gestores passam a se estabelecer como órgãos diferenciados da administração pública, formados em parte pelo Estado e em parte por representantes mais próximos da sociedade civil diretamente envolvida com a Unidade de Conservação. Unidades de conservação: proteção integral ou uso sustentável A preocupação global com a qualidade, quantidade e disponibilidade dos recursos naturais e sua conservação têm orientado a elaboração de diversas políticas públicas, destacando-se a criação de Unidades de Conservação (UCs). No Brasil, as Unidades de Conservação foram criadas com o objetivo de minimizar os impactos ambientais causados pela ocupação desordenada em áreas com características naturais e culturais singulares, assim como difundir na sociedade a importância da preservação e conservação. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2012). Parafraseando Costa (2007), o conjunto de Unidades de Conservação do Brasil constitui o SNUC. A aprovação e adoção do SNUC foram passos fundamentais para que as áreas tivessem proteção real embasada em lei. Após quase dez anos tramitando no Congresso Nacional foi
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aprovado em 19 de julho de 2000 com várias emendas e modificações, constituindo-se a primeira normatização nacional das áreas naturais protegidas por lei. Segundo Costa (2007) o SNUC define oficialmente Unidade de Conservação como um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Em 2000, com a publicação da lei 9985/2000, o SNUC foi instituído, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. O Ministério do Meio Ambiente (2012) conceitua o SNUC como sendo o conjunto de unidades de conservação federais, estaduais e municipais, composto por 12 categorias, cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à forma de proteção e usos permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela sua fragilidade e particularidades, e aquelas que podem ser utilizadas de forma sustentável e conservadas ao mesmo tempo. As unidades de conservação integrantes do SNUC se dividem em dois grupos com características específicas: as Unidades de Proteção Integral, cujo objetivo básico é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, e as Unidades de Uso Sustentável, cujo objetivo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Costa (2007) identifica as Reservas Particulares do Patrimônio Natural, as Áreas de Proteção Ambiental e Parque Nacional como sendo as categorias de Unidades de Conservação UC mais importantes para o incremento do turismo, em especial no segmento ecoturismo. Conselho gestor: instrumento de participação social? O SNUC é regido por várias diretrizes, dentre as quais assegura a participação efetiva das populações locais nas suas atividades. Nessa tessitura, surgiram os conselhos gestores, primeiros instrumentos de administração de uma UC, incorporados como instâncias de consulta ou deliberativa, dependendo do tipo de UC, e formalizando uma instância de gestão participativa para essas áreas protegidas. Integram ainda o plano de manejo, que deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, sendo, portanto, também considerado instrumento de gestão (BRASIL, 2000). Toda UC deve ter um conselho gestor, que tem como função auxiliar o chefe da unidade e integrá-la à população e às ações realizadas em seu entorno. O conselho gestor deve ter a representação de órgãos públicos, tanto da área ambiental como de áreas afins (incluindo turismo), e da sociedade civil (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2012). Para cada categoria de UC deverá ser definido um tipo de conselho gestor, consultivo ou deliberativo, bem como uma estratégia para sua criação e modos de gestão. O SNUC prevê que, em unidades de proteção integral, os conselhos sejam consultivos, dados os limites previstos em lei. No caso das unidades de uso sustentável, prevê explicitamente que o conselho seja deliberativo apenas em reservas extrativistas e em reservas de desenvolvimento sustentável, sem definir as demais. Contudo, parece que essa posição reflete muito mais uma visão tecnocrática dos órgãos de meio ambiente do que um cuidado justificável. Logo, em tese, todo conselho gestor deveria ser deliberativo. O fato de o conselho gestor ser deliberativo significa a garantia de que todos os envolvidos
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possam decidir sobre a área, respeitando a lei que administra uma determinada UC, não significando, porém, colocar em risco à integridade do patrimônio preservado. O conselho pode decidir dentro dos limites estabelecidos em lei, o que sugere envolvimento e motivação da comunidade. No caso dos conselhos consultivos, que tem como uma das principais atribuições o ato de manifestar opiniões, faz com que, muitas vezes, não gere efeitos práticos, ocasionando resultados insatisfatórios, tornando os conselhos burocráticos e sem vida. Mesmo reconhecendo os limites que a lei impõe é possível e preciso pensar estratégias participativas, de tal modo que as iniciativas tomadas sejam valorizadas e incorporadas pelo poder público. Independente do tipo de conselho, com mais ou menos poderes de decisão, deve-se observar a sua legitimidade e representatividade, de modo que possa haver uma atuação mobilizadora, séria e democrática. O conselho gestor de uma UC, como também a participação da comunidade, é capaz de influenciar no modo como são utilizados os recursos naturais para que este seja realizado de forma racional e equilibrada, tornando possível o desenvolvimento de atividades, tais como ecoturismo, já que o meio ambiente se constitui em matéria-prima para a execução desta atividade. Ecoturismo e suas diferentes realidades: exemplos da APAJ e RDSEPT O Ecoturismo representa uma das modalidades do turismo de maior interesse na sociedade contemporânea, envolvendo o contato do ser humano com a natureza preservada e contribuindo à conservação do meio ambiente no local visitado (RUDZEWICZ, 2006). Surgiu como um segmento turístico preocupado com os recursos culturais e naturais, a localidade, a participação e uma série de estratégias que tencionam aumentar os impactos positivos do turismo sobre a natureza e a conservação ambiental (SOARES, 2011). Por vezes torna-se incoerente, pois pode ser interpretado como uma atividade e/ou prática no qual propõe conservar no mesmo instante em que consome. No Brasil, grande parte dos atrativos ecoturísticos encontra-se nas Unidades de Conservação (UCs). A Área de Proteção Ambiental Jenipabu (APAJ), localizada nos municípios de Extremoz e Natal, e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), situada em Guamaré e Macau, ambas localizadas no Rio Grande do Norte, são exemplos de realidades opostas no que se refere à participação da comunidade na criação e gestão de UC, considerando que os sujeitos de cada uma delas priorizam condições diferentes. A maioria da APAJ privilegia a geração de emprego e renda através da inclusão de empreendimentos turísticos, os da RDSEPT priorizam a manutenção da identidade e participação da comunidade local na atividade turística na região. A diferença se inicia a partir do processo de criação, já que a APAJ surgiu após a atividade turística já estar instalada no espaço. A criação da APAJ foi movida por uma intencionalidade mercantil gerada por uma atividade turística massificada presente na área (...). É notória a valorização do turismo de massa para o “desenvolvimento” pelos gestores e, por conseguinte, pela comunidade que ali vive, que o enxerga como “tábua da salvação” e sobrevivência da população (SOARES, 2011). A criação da RDSEPT surgiu mediante interesse da própria comunidade local, que visualizou o uso do recurso natural da região como algo capaz de remover seus valores, sua cultura e sua natureza. Com a chegada de investidores da atividade turística, trazendo consigo o mercado especulatório e a expulsão dos pescadores nativos, a comunidade se organizou e lutou para salvaguardar os recursos naturais e culturais da exploração do poder hegemônico por intermédio da criação da reserva (SOARES, 2011).
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Assim, apesar do turismo ser realizado em UCs, conforme exemplificado através da APAJ e RDSEPT, não implica afirmar que a atividade ocorre de acordo às diretrizes conservacionistas, tais como: a ativa participação da comunidade no planejamento, a aplicação da educação ambiental entre os moradores e visitantes, a inserção de um turismo de impacto mínimo com controle de visitação turística e divulgação da área como local protegido e agente da cultura local visando à mudança do perfil do turista que a visita. Planejamento ambiental participativo Para controlar o processo de degradação já existente, é necessário exercer sobre o espaço um conjunto de ações de planejamento e gestão ambiental, e não apenas transformar uma área em Unidade de Conservação. Portanto, o planejamento e a gestão dessas unidades são fatores primordiais para que os objetivos da criação sejam alcançados. O Planejamento Ambiental tem como principal enfoque as relações ser humano e meio ambiente, englobando aspectos naturais, sociais, econômicas, culturais, entre outras. Para obtenção dessa integração entre sociedade e natureza, há a necessidade de uma participação mais efetiva de todos os envolvidos nesse processo. Deste modo, o Planejamento Ambiental Participativo torna-se um instrumento necessário para concretizar os objetivos das UC, pois pode promover a participação da comunidade local, buscando respostas concretas à sociedade que vive e produz na região. Assim, a Gestão Ambiental Participativa, surge como um instrumento que possibilita minimizar conflitos, pelo fato de envolver os interessados pela área. Entre os interessados podemos incluir o órgão responsável pela criação da UC, residentes locais, usuários dos recursos naturais, prefeituras, ONG's, instituições de pesquisa e demais setores ou instituições que integram seu contexto político, socioeconômico e cultural (FBPN, 2003). Essas formas de gestão partem de um mesmo princípio a existência da parceria entre a sociedade civil e o poder público de forma equilibrada, através de assembleias, fóruns de discussão, palestras e eventos que permitam ser levantadas questões de interesse público, visando somar forças para um gerenciamento ambiental e social mais justo. Contudo a escolha da forma de gestão deve se basear na realidade local e regional em que a unidade se encontra. Outra questão importante a considerar é que a gestão ambiental não se restringe apenas à implementação da unidade de conservação, mas de todo o processo, ou seja, desde a criação e o estabelecimento da área a ser protegida, passando pela implementação, pelo monitoramento, avaliação e controle. Essas diferentes etapas envolvem o Plano de Manejo, o Diagnóstico e o Zoneamento Ambiental que são importantes instrumentos de gestão e permitem identificar e estabelecer áreas prioritárias para a conservação e preservação (FBPN, 2003). Deste modo enfatiza-se, mais uma vez, o papel fundamental que a população local e outros segmentos da sociedade devem desempenhar em todo o processo de implantação de Unidades de Conservação, não sendo este a solução para o desenvolvimento do turismo, mas uma ferramenta necessária para que isso ocorra. Ao divulgarem seus conhecimentos e suas percepções diferenciadas em relação aos recursos naturais do local em que vivem, contribuem não apenas para a conservação da biodiversidade, mas também na diminuição de possíveis conflitos em relação ao uso e à ocupação
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do solo. Este procedimento possibilita o adequado manejo e gestão dessas UCs e viabiliza a utilização dos recursos naturais de forma sustentável, promovendo a qualidade ambiental e de vida da população. Considerações finais A pesquisa realizada focalizou o tema turismo sustentável e considerou como referência empírica unidades de conservação localizadas no Rio Grande do Norte. O itinerário percorrido foi norteado pela perspectiva de contribuir para uma reflexão sobre a sustentabilidade da atividade turística, mediante a participação ativa da sociedade, sob a ótica da criação e gestão de Unidades de Conservação através dos conselhos gestores. Os resultados obtidos permitem evidenciar a importância da participação ativa da comunidade nos projetos de desenvolvimento local. Esta participação de forma organizada, é necessária para melhorar a atual condição da comunidade, por potencializar as chances de discussões e tomadas de decisões sobre as propostas e as ações voltadas para o de desenvolvimento local. Nesta perspectiva, considera-se que o planejamento participativo deve existir, pois se trata de uma importante ferramenta democrática, já que a comunidade receptora é a mais atingida com os impactos do turismo, sejam positivos ou negativos. Igualmente importante é a realização de atividades mediante um empenho coordenado e estruturado dos conselhos, buscando sempre potencializar a ação, corrigir os erros cometidos, aperfeiçoar os instrumentos e tornar público o debate sobre a criação de espaços de participação como meio para o fortalecimento da democracia no país e o exercício da cidadania. Apesar do planejamento participativo não ser sinônimo da existência de um turismo sustentável, considera-se que a sua aplicabilidade é um caminho para alcançá-lo. Referências ANSARAH, Marília Gomes dos Reis (org). Turismo: como aprender, como ensinar. 2. 3ª ed., São Paulo: Senac São Paulo, 2004. BENI, Mário Carlos. Política e planejamento de turismo no Brasil. 1ª Ed. São Paulo: Aleph, 2006. BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=322>. Acesso em 20 de junho de 2012. COSTA, Patrícia Côrtes. Unidades de conservação: matéria-prima do ecoturismo. 1ª Ed. São Paulo: Aleph, 2007. DEMO, Pedro. Participação é conquista. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. DIAS, Reinaldo. Planejamento do turismo: Política e Desenvolvimento do Turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2008. FBPN - FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA, Gerenciamento de áreas de proteção ambiental no Brasil. Curitiba: SK, 2003. MAGALHÃES, Cláudia Freitas. Diretrizes para o turismo sustentável em municípios. São Paulo: Rocca, 2002. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Áreas protegidas. Disponível em <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas>. Acesso em 20 de junho de 2012. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Desenvolvimento sustentável do turismo. Disponível em <http://www.unwto.org>. Acesso em: 19 de junho de 2012a. ______. Destaques OMT turismo. Disponível em <http://www.unwto.org>. Acesso em: 19 de junho de 2012b.
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PUTNAN, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2006. RUDZEWICZ, Laura. Ecoturismo em reservas particulares do patrimônio natural e seu papel na conservação dos ecossistemas brasileiros. 2006. 178p. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Programa de Pós-Graduação em Turismo, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS 2006. SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. SOARES, Artemísia dos Santos. O ecoturismo sob a égide da sociedade do consumo: um estudo das Unidades de Conservação de uso sustentável do RN. 2011. 111p. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Programa de Pós-Graduação em Turismo, Universidade do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Norte, 2011. SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. 1ª ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. SOUZA, Marcelo Lopes de; RODRIGUES, Glauco Bruce. Planejamento urbano e ativismos sociais. 1ª ed., São Paulo: UNESP, 2004. SWARBROOKE, John. Turismo sustentável: conceitos e impacto ambiental. Vol. 1. 3ª Ed., São Paulo: Aleph, 2002. WALL apud KINKER, Sônia. Ecoturismo e conservação da natureza em parques nacionais. Campinas: Papirus, 2002. (Coleção Turismo). Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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METODOLOGIA DA PESQUISA EM ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DA LINGUAGEM Nilsandra Martins de Castro32 Bruno Gomes Pereira33
Resumo O presente trabalho apresenta um panorama a respeito da evolução do conceito de ciência, conforme alguns autores da área da metodologia científica. Nosso objetivo é mostrar a organicidade dos estudos científicos da área das ciências humanas, bem como discutir como estes estudos estão diretamente atrelados à maneira como a sociedade desenvolve suas pesquisas científicas no contexto da educação. Nesse sentido, tentamos problematizar a definição de “ciência”, partindo da premissa de que seu conceito depende, diretamente, de um determinado contexto social, cultural e histórico. Palavras-chave: Paradigma; Ciência; Sociedade. Abstract This paper presents an overview on the evolution of the concept of science, as some authors in the area of scientific methodology. Our goal is to show the organicity of scientific studies of the humanities, as well as discuss how these studies are directly linked to the way society develops their scientific research in the context of education. In this sense, we try to discuss the definition of "science", based on the premise that your concept depends directly of a particular social, cultural and historical context. Keywords: Paradigm; Science; Society. “Não podemos chegar à sabedoria final socrática de conhecer-nos a nós mesmos se nunca deixarmos os estreitos limites dos costumes, crenças e preconceitos em que todo homem nasceu. Nada nos pode ensinar melhor lição nesse assunto de máxima importância do que o hábito mental que nos permite tratar as crenças e valores de outro homem do seu próprio ponto de vista”
(Malinowski, 1976). Introdução No âmbito dos estudos das Ciências Humanas e Sociais, muito tem se discutido sobre a definição do conceito de ciência. Essa gama de investigações que suscitam da comunidade acadêmica é reflexo de uma sociedade pós-moderna que, a cada dia, se constitui mais dinâmica e instável. Nesse sentido, entender a definição de ciência implica compreender fatores sociais, culturais e históricos que ajudam a tornar mais complexos os estudos na área das ciências humanas.
Doutoranda em Ensino de Língua e Literatura (Estudos Linguísticos) pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Professora da UFT, Campus Universitário de Araguaína, e da Faculdade Católica Dom Orione (FACDO). E-mail: nillsandra@gmail.com. 33 Mestre em Ensino de Língua e Literatura (Estudos Linguísticos) pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Professor da UFT, Campus Universitário de Araguaína. E-mail: brunogomespereira_30@hotmail.com. 32
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Como nos mostra as palavras de Malinowiski (1976), entender o próximo é uma questão de posto de vista, ou seja, o outro é constituído a partir da percepção de quem o vê e com ele se relaciona. Assim é a definição de ciência: impossível de se resumir, dependendo, portanto, do olhar com o qual o pesquisador se dirige a ela. Diante disso, partimos do princípio de que, para definirmos ciência, é necessário compreendermos o contexto sócio histórico a que estamos nos referindo, tendo em vista que isso implica questões sociológicas, psicológicas e filosóficas do sujeito. Considerando estas questões, objetivamos, com este trabalho, problematizar alguns pontos acerca da evolução da ciência, por meio das representações das ideias supramencionadas. Entendemos aqui representação apoiada em autores como Hall (2006), Silva (2000) e Woodward (2000) que percebem a representação como um processo de significação discursiva sempre culturalmente determinado e sócio-historicamente construído. Além dessa Introdução, das Considerações Finais e das Referências, este artigo é composto pelas seguintes seções: A Evolução do Termo “Ciência” e O Paradigma nos Estudos Científicos. A evolução do termo “ciência” Consideramos por muito tempo o conceito de ciência como “verdade” incontestável, dicotomias entre certo e errado – crença esta advinda da influência do paradigma positivista que imperou por gerações, sendo este considerado o único conhecimento legítimo por se basear em observações e experimentos. A morte de Deus, como trata Nietzsche (2000), nesse novo contexto, a fé era propagada através da ciência. Henriques (2011) esclarece que, superada as concepções deterministas advindas do positivismo, temos no século XX a chegada de ideais relativistas, em que o conhecimento científico não era mais tido como absoluto. Consequentemente, a visão de ciência neutra, também se perde para dar lugar às possibilidades de multiplicidade de olhares. Adeptos desse pensamento, temos autores consagrados pela história da ciência como Kuhn (2009); Latour (2000); Santos (2006), Morin (2008), entre outros pertinentes à discussão que pretendemos travar. Tais teóricos há muito discutem acerca das mudanças e evoluções no campo das ciências. No entanto, embora advoguem na perspectiva da superação do paradigma positivista, e para isto tragam fatos e argumentos acerca desta superação, não nos parece, contudo, que este tenha ficado totalmente no passado. Ao observarmos o cenário escolar, é fácil percebermos a herança positivista. O currículo multidisciplinar é reflexo desse paradigma. A escola, ainda hierarquiza, seleciona, observa e em alguns casos ainda prevê resultados, tais etapas reforça a subjetividade, ainda que não declarada do pensamento positivo. Contudo, e considerando as discussões dos autores citados, claro nos é que o pensamento científico se redimensionou, trazendo consigo novos modos de fazer ciência. Não controlamos o tempo, assim como não controlamos as mudanças, os contextos. O paradigma positivista foi um marco necessário na história da ciência, porém, também é necessário que tenhamos outras possibilidades de representar os novos contextos que surgem a cada época. Se não fosse assim, jamais poderíamos pensar em alteridade, pensar nos deslocamentos que só são possíveis através da relativização de muitos conceitos, tidos, no passado, como certos. Nessa nova etapa da ciência, tomando como marco o século XX e considerando, claro, que estamos agora alocados no século XXI, palavras como crise, revolução, paradigmas, paradigmas dominantes e complexidade, perduram e se reinventam com grande força. Tais conceitos trazem consigo a ideia da incerteza, “verdades provisórias”.
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Morin (2008, p. 17) acentua sua perplexidade diante deste contexto, “perdemos a confiança epistemológica; instalou-se em nós uma sensação de perda irreparável tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que estamos em vias de perder”. “Fase de transição”, assim considera o autor citado. O autor nos descreve a era da relativização, em que os conceitos não podem mais serem vistos como certos e acabados. Embora, ao observarmos o cenário educacional, a busca seja exatamente pelo “certo”, pelo norte, por algo que funcione e faça a diferença na vida prática das pessoas dentro da sociedade. Latour (2000, p. 31) aponta para o que consideramos ser a angustia do tempo atual, já que não podemos pensar em “receita”, mas o que “buscamos” é exatamente um meio de a educação “funcionar”: “Teremos de aprender a viver com duas vozes contraditórias que falam ao mesmo tempo, uma sobre ciência em construção, outra sobre a ciência acabada”. Na educação podemos ver ecoando essas duas vozes, a exemplo a discussão sobre currículo, formação de professores entre outros. São discussões antigas, porém que se reinventam a cada novo contexto e época. Cada realidade nova, novas respostas precisam ser pensadas, ser construídas. Nesse aspecto são as realidades empíricas: na educação, na saúde, em contextos de laboratórios, cenários sociais, entre diversos outros contextos que o elemento ética surge (cf. CELANI, 2005). O exemplo a qual fazemos alusão é ao filme “Robocop” em que demonstra visivelmente a falta de ética – ao desmembrá-lo e reconstruí-lo como máquina - visando, no ponto de vista científico e econômico, “um bem maior” que seria a proteção dos povos em detrimento das escolhas de um único ser humano, que após ser operado, se percebe num corpo de lata. Por outro lado, com as lembranças da família, que precisa apagar por não poder mais voltar para casa. Ou seja, até que ponto nossas práticas de pesquisas afetam nossos participantes? O paradgima nos estudos científicos Sabemos que a ciência progride na medida em que consegue se (re) problematizar. Este processo é uma tentativa de dar respostas aos novos contextos culturais emergentes. No entanto, considerar os interesses dos participantes de pesquisa - social ou individual - é premissa básica. Na atualidade concebemos de grande importância se pensar os aspectos éticos das pesquisas. Esse pode ser um redimensionamento paradigmático, que acaba por impactar nas visões de mundo compartilhada pelos cientistas. De modo mais categórico, Kuhn conceitua paradigma como: Realizações cientificas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. (KUHN, 2009, p. 13).
Essa nova forma propositiva de ver a ciência, embora disciplinar, trouxe para o centro dos debates questões de cunho sociais e históricos que antes ficavam a margem em detrimento do conceito de método científico que antes era tido como a única maneira adequada de se olhar a natureza/ciência. Conquanto, a educação transforma, isso é fato, por isso mesmo não se pode relegá-la a posicionamentos reducionistas (certo e errado), como o predomínio de currículos multidisciplinares, conforme pontuamos no início deste texto, devemos considerar, antes, o que Latour (2000) chama de elementos humanos e não humanos, quais sejam – cientistas, engenheiros, laboratórios, financiadores, cidadão comum, máquinas, entre outros. Na sala de aula – professor, aluno, carteiras, ventiladores, etc. Ou seja, todos estes elementos influenciam o fazer científico, em menor ou maior grau. Consideramos uma aproximação das reflexões de Latour às de kuhn quando o primeiro faz menção ao deus romano Jano, dupla face, em que a podemos interpretar como sendo visões opostas acerca do conceito de ciência. A primeira face seria aquele fazer cientifico estático,
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dicotômico, pronto. Analogicamente podemos citar o ensino tradicional, em que o professor “era” o detentor do saber, e o aluno aquele que só absorvia o saber pronto e acabado sem direito a questionamentos. Enquanto a segunda, seria o saber que nunca se esgota, aquele propositivo, problematizador – e é a este último que entendemos a aproximação entre os dois teóricos acima mencionados. Estes consideram a evolução da ciência, através da ruptura de paradigmas e com a chegada da crise. Por outro lado, Latour (2000), através da ciência em construção, que problematiza as diversas caixas pretas existentes. Este autor entende caixa preta como um fato plenamente organizado e não problemático. No entanto, que leva o pesquisador a gerar novas questões, a ciência seria, pois, um processo em construção. Assim como as constantes problematizações direcionadas à educação como já afirmamos outrora - o constante pensar acerca da formação continuada dos professores, o ensino aprendizagem, o letramento e a alfabetização – são exemplos desse processo em construção da ciência. No entanto, sabemos que todo e qualquer conhecimento para ser legitimado precisa passar pelo crivo dos pares, a aceitação dos cientistas. Foucault (2004, p. 8-9) diz: [...] toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade.
Nesse processo, este conhecimento precisa ser divulgado, lido, citado, refutado, (Latour, 2000). Este caminho leva ao empoderamento do dizer, determinado pelos espaços sociais, históricos e discursivos nos quais estão alocados como bem observado na citação acima. A título de exemplificação citamos a pesquisa de Silva e Pinho (2011, p. 67) que solicitaram o gênero ensaio aos seus alunos de pós-graduação, pois objetivavam produzir uma investigação que “descrevesse uma abordagem de pesquisa e ensino interdisciplinar a partir da percepção da primeira turma de mestrado”. Nesse contexto, o ensaio foi escolhido de modo intencional, devido a suas características intrínsecas, ou seja, a visão sintética e crítica com que deve ser desenvolvido favorece o objetivo inicial dos autores que era analisar os posicionamentos dos pós-graduandos. Assim, não poderia, para a finalidade dos autores ser outro gênero, mais aquele que melhor favorecesse sua análise. Nesse viés, a ciência/educação são campos de disputas, em que os saberes legítimos só podem ser assegurados por meio de grupos, áreas, subversão a fronteiras, daí ser pertinente pensar no paradigma da complexidade desenvolvido por Morin (2008, p.20) que seria um: Constituinte heterogéneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal.
A visão do autor sugere que pensemos o plural sem deixar a unicidade de lado, seria um complexo de visões pensando um determinado propósito. O trabalho em sala de aula, por exemplo, constituído de maneira transdisciplinar. Silva e Pinho (2011, p. 66) explicam que o paradigma da complexidade supera a ideia de disjunção, separação: No paradigma da complexidade não existe um único caminho na construção de objetos de investigação em contextos de instrução, mas uma pluralidade de caminhos convergentes, configurando-se como uma rede na qual se envolvem os pesquisadores.
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Em uma ótica geral, os cientistas têm, em suas aproximações ou oposições - para o bem ou para o mal -, o fardo de procurar explicar o tempo histórico, e como esse tempo afeta a sociedade, a educação, a economia, a saúde, o que pode ou não ser considerado em um dado contexto cultural, daí tantas tentativas de caracterizar, sistematizar ciência a cada nova realidade. De modo mais pontual, podemos pensar a área em que fomos mais de perto influenciados, devido aos estudos do mestrado desenvolvido na Universidade de Campinas, em que recaiam de modo mais presente questões vinculadas aos estudos culturais. De acordo com alguns autores (Touraine, 2007; Bauman, 2005; entre outros) estamos passando por um momento de revisão social, histórica, econômica e cultural que impactam a economia global, emergindo nesse processo um novo paradigma cultural. Podemos perceber de modo mais contundente estas mudanças ao observar a busca de (re) afirmação de alguns grupos sociais e que antes eram tidos como a margem da sociedade – feministas, homossexuais, cadeirantes, surdos, cegos. A mudança no olhar dos cientistas e da sociedade impacta nos espaços educacionais, por serem lugares privilegiados para se pensar as relações sociais dos sujeitos, atravessados que são pelas suas marcas pessoais, representações discursivas, identitárias e simbólicas. Como afirma Moita Lopes, é inegável a multiplicidade de estilos de vida e costumes que nos cercam: Vivemos em um mundo multicultural e que essa multiculturalidade, para a qual muitas vezes torcíamos/torcemos os narizes, está em nossa própria vida local, atravessando limites nacionais: os grupos gays, feministas, de rastafaris, de hip-hop, de trabalhadores rurais sem-terra, etc. (MOITA LOPES, 2003, p. 15).
Acreditamos seriamente que a busca pela (re) afirmação desses grupos, que sempre estiveram aqui, mais que eram marginalizados, só foi possibilitada pelos diversos debates e crises em torno da ciência ao longo das épocas. As reflexões e dúvidas que pairam em uma geração possibilita aberturas antes (in) imaginadas pela próxima. Considerar questões em torno da complexificação de objetos de ensino só alarga nossos horizontes e nos faz entender melhor as múltiplas realidades, as quais somos submetidos. Superar visões disciplinares é necessário, Silva e Pinho, (2011, p. 75): afirmam: Não são os arcabouços teóricos originários dos estudos da linguagem ou da ciência da educação, isoladamente ou compartimentados, que auxiliarão a responder de forma significativa às complexas demandas nacionais do ensino de língua e literatura. Porém, acreditamos que saberes originários da interação entre esses campos do conhecimento, além de inúmeros outros, podem contribuir para a produção de respostas em função das demandas emergentes.
Finalizamos esta discussão, com uma única certeza, a de que estamos vivendo em um estado de incertezas, em que muitas “verdades” já foram ditas e do mesmo modo refutadas. Mas que todas, em seu tempo, foram necessárias para que pudéssemos pensar o tempo presente. Considerações Finais Apresentar um percurso histórico sobre a evolução do termo “ciência” é mergulhar em um emaranhado de ideias filosóficas, sociológicas e psicológicas que proporcionam ao pesquisador uma visão mais concreta sobre o que seria produzir ciência.
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Percebemos que a definição de “ciência” está diretamente relacionada a tais ideias que esboçamos acima. Portanto, não se trata de um conceito fechado, mas sim de algo orgânico e totalmente incorporado às percepções sociais de uma dada época. Nesse sentido, procuramos discutir como a ideia de paradigma contribui para o desenvolvimento de uma pesquisa científica, sendo esta elemento basilar às investigações em Ciências Humanas. Assim, de acordo com a ideia positivista, a Ciência era vista como verdade irrefutável, tendo em vista que deveria mostrar dados concretos, matemáticos, que respondessem com exatidão aos anseios da sociedade. A ideia de contestação era, praticamente, uma espécie de devaneio, tendo em vista que se tratava de algo inquestionável. Com a evolução social, a ciência se redimensionou e gerou, a partir disso, novas perspectivas de se fazer pesquisa. Essa transformação, impulsionada pelo paradigma da complexidade, deu à ciência um terror de provisoriedade, tendo em vista que a ciência passou a ser vista como possibilidade e não como verdade. Tais concepções, advindas de um paradigma emergente, tnta conscientizar os pesquisadores que não é possível apresentarmos uma verdade absoluta a respeito de qualquer objeto investigado. O que ocorre é uma possibilidade de leitura que se é desenvolvida a partir da especificidade do olhar do pesquisador. Logo, nesse contexto, não lidamos com verdades questionais, mas sim com pontos de vistas que convergem na complexidade de um objeto de pesquisa. Em suma, a definição de “ciência” torna-se algo complexo, pois precisamos partir de um contexto social e histórico para tentarmos esboçar quaisquer apontamentos. Assim, dizemos que o conceito de “ciência” acompanha a instabilidade da sociedade que a produz, refletindo-a. Referências ÁVILA-PIRES, Fernando D. de. Interdisciplinarity in fact and fiction. Revista Brasileira de PósGraduação, Brasília, v. 4, n. 8, p. 217-226, 2007. BAUMAN, Z. Identidade: entrevista à Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 2005. ______. Globalização: as consequências humanas. São Paulo: Zahar editores, 1999. CELANI, M. A. A. Questões de Ética na Pesquisa em Linguística Aplicada. In.: Linguagem & Ensino, Vol. 8, No. 1, 2005. p. 101-122. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2004. HENRIQUES, Eunice Ribeiro. O papel do ponto de vista na leitura do mundo e na ciência, através da história. In: Ramos, D. V.; Andrade, K. dos S.; Pinho, Maria José de. (Org.). Ensino de língua e literatura: reflexões e perspectivas interdisciplinares. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2011. KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009. LATOUR, Bruno. Ciência em Ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora da Unesp, 2000. MOITA LOPES, L. P. Discurso de identidades: discurso como espaço de construção de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 5ª ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2008. NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos. São Paulo: LePM, 2000. ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999. SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 4º Ed. São Paulo: Cortez, 2006. SILVA, Wagner Rodrigues; PINHO, Maria José. Construção de práticas de ensino e pesquisa interdisciplinares na pós-graduação em letras. In: Ramos, D. V.; Andrade, K. dos S.; Pinho, Maria José de. (Org.). Ensino de língua e literatura: reflexões e perspectivas interdisciplinares. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2011.
Enviado em 30/12/2014 /Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA BARBOSA34, Alex Junior Alves e FARIAS35, Mayara Ferreira de. Resenha de FONSECA, Maria Aparecida Pontes da. (Org.). Segunda residência, lazer e turismo. Natal, RN: EDUFRN, 2012. A organizadora do livro, Maria Aparecida Pontes da Fonseca é professora do Departamento de Geografia da UFRN, Doutora em Geografia a Humana da UFRJ, Mestre em Geografia a Humana da USP e Bacharel em Geografia da UNESP. O primeiro capitulo, “Segunda residência: conceito, características e significados” de Maria Aparecida Pontes da Fonseca e Renata Mayara Moreira de Lima, trata do assunto relacionada à segunda residência ou residência secundaria, afirmando que no Brasil muita gente de classe média tem outra residência seja ela no interior ou em praia para passa o final de semana ou feriados prolongados com os familiares e amigos. Ela também pode ser utilizada para o lazer ou ate para o trabalho, desde que não fique morando sempre naquele local. Fala-se muito que quando estive perto da aposentadoria, vou procura uma casa para desfrutar de muita paz e lazer numa segunda residência. Afirma-se que que na atualidade a segunda residência pode ser muito lucrativa e é um investimento rentável que pode ser administrado pelo dono do imóvel, podendo ser alugado para turista que não gosta de ficar em hotel, porque e mais econômico, como também para amigos que gosta de disfrutar com a família nos finais de semanas, pelo baixo custo e suas diversidades. O segundo capitulo, “Lazer e turismo uma análise teórico conceitual”, de Marcelo Taveira e Salete Gonçalves, considera-se que o turismo e um lazer, que poucos podem desfrutar, mas aquele que pode vai mesmo assim para lugares onde tem muita beleza natural, que reflete tanto na pratica do conhecimento. Com tudo isso muita gente que com pouca condição financeira vai fazer turismo regional, que é muito, mas barato financeiramente. Infere-se, ainda, o lazer e uma necessidade humana e também e garantido pelo direito social. O lazer e uma forma dos seres humanos descanso fisicamente e moralmente, para recarrega as baterias por, mas um período de trabalho. Destaca-se, também, que o turismo além de ser uma pratica de lazer e também uma atividade econômica que deixa muita gente satisfeita, tanto para quem oferece como para quem recebe. Segundo eles, o lazer e o turismo têm que ser dissociado do trabalho, pois tem gente que faz do trabalho um turismo, principalmente pessoas que viaja muito a trabalho. O terceiro capitulo, “A segunda residência no contesto da atividade turística. Quando estamos falando de um alojamento turístico?”, de Maria Aparecida Pontes da Fonseca e Renata Mayara Moreira de Lima, destaca-se que essa é uma modalidade muito utilizada por pessoas que vão passar um final de semana ou feriado com a família em casa de praia sitio de propriedade de particulares, cuja sua residência principal esteja localizada em outro local. Outro relato, é que não seja para fazer turismo, onde ocorre o empréstimo de um local no qual pernoite e realize qualquer atividade, será considerado um alojamento turístico. Segundo as autoras, para ser considerada a segunda residência um alojamento turístico o seu usuário tem que ser um turista. Afirma-se que a segunda residência e um local onde o seu proprietário tem ela como uma forma de lazer e descanso nas férias, feriados e fins de semana sem vÍnculo permante.
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Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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O quarto capitulo, “Espaço público: turismo e a privatização das áreas costeira” de Kelsom de Oliveira Silva, enfatiza-se que o nosso litoral está cheio de equipamento turístico que é de domínio público, porque está localizado na área da União, como por exemplos hotéis, casa de praia, entre outros. Segundo ele, infelizmente estar a vendo uma invasão no litoral costeiro com muitas construções irregulares nas áreas costeira do Brasil, onde não e permitido o uso do espaço público como área particular. Por conseguinte, afirma-se que o espaço público está sendo devastado de várias formas, e bem uns problemas socioambientais, com as construções de edificações e com isso uma privatização do espaço público. Além disso, destaca-se que o turismo vem provocando danos com a privatização do espaço publica que é da União. O autor infere que o governo vem contribuindo com essa devastação e privatização, por que o turismo é muito lucrativo. Outrossim, outras formas de privatização das áreas costeiras são o assessor que é dificultado para o seu uso. Para isso cria obstáculo para se chegar até ao local para o seu uso, desde o cercar das áreas e a colocação de segurança privada e a falta de transporte público para chegar até à praia. Exemplos disso veem aqui em Natal – RN. Ainda segundo o autor, mediante com o que está acontecendo com o espaço público, o Governo Federal criou um projeto de lei que vem delimitando as áreas que foram ocupadas pela invasão das áreas de uso comum e público através do Projeto Orla. O quinto capítulo “Origem e evolução das segundas residências no polo costa das dunas – RN”, de Maria aparecida Pontes da Fonseca e Kelson de Oliveira Silva, trata da origem da segunda residência, que se deu pela área rural há muito tempo atrás, hoje encontra-se mais forte devido à evolução imobiliária que e muito atraente para os investidores estrangeiro. Segundo eles, o turismo religioso é um atrativo a mais para fomentar o consumo e o negócio nas cidades do interior do Rio Grande do Norte. Segundo eles, a evolução da segunda residência atualmente encontra-se em expansão no campo em área do interior, onde os terrenos são mais baratos, pois os lotes de terra no litoral estão, mas caro devida o avanço de muito atrativo para negócio. Além disso surgiu a primeira residência secundária no Polo Costa das Dunas – RN, por Natal, na região da praia de areia preta e a praia do meio. Tal Polo compreende cercar de 21municipios no RN. Afirma-se, por conseguinte, que o governo vem investindo em rodovias para aumento nos acessos nas áreas litorâneas por que o estrangeiro está investido nesse polo turístico. E que, devido à crise na Europa o investimento estrangeiro está passando para o empresário brasileiro para dar continuidade no empreendimento, que muito estão parados por falta de recurso estrangeiro. Com isso, surgiu oportunidade para se tiver uma segunda residência no Polo supracitado. No sexto capitulo, “Imobiliário – turístico no litoral nordestino: investimento estrangeiros e impacto locais nas praias potiguares”, de Alexansandro Ferreira Cardoso da Silva e Ângela Lucia Ferreira, destaca-se que o turismo vem trazendo muita oportunidade de negócio e emprego para a área litorânea principalmente para o nordeste, que cada vez, mas vem preparando-se para o turista disfrutar do bem e do melhor. Segundo eles, vem surgindo o imobiliário turístico, como hotel e pousado, que antes o turista só vinha para os hotéis e pousado, depois que surgiu o turismo residencial que tem um custo baixo e a oferta de muito produtos.
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Afirmam, ainda, que o turismo residencial vem trazendo o progresso a muito lugar do litoral das praias potiguares, mas também vem deixando uma vasta destruição ambiental. O estrangeiro vem investindo muito e com isso o preço de terreno tem aumenta com a especulação imobiliária, e com isso os nativos estão vendendo as suas casas para os turistas estrangeiros, o nordeste vem sendo procurado pelo os investidores pela sua beleza naturais. E com isso tem avido muita transformação em algumas regiões litorânea potiguar, desde muita construção parada, até de várias criações de emprego nos municípios do Polo Costa das Dunas. O sétimo capítulo, intitulado “Urbanização difusa e a nova centralidade na Região Metropolitana de Natal” de Elizangela Justino de Oliveira, refere-se a uma nova urbanização difusa que vem surgindo em periferia e em região afastada dos grandes centros urbana, isso acontece devido ao aumento do longo do litoral potiguar. E que, mediante esse avanço se fez necessário o afastamento do litoral para as regiões ciclo-vizinho, porque o valor do empreendimento imobiliário ficou muito elevado. Infere-se que foi criado às regiões metropolitanas que são a cidade que fica no entorno dos grandes centros de Natal. Para isso acontecer, à região metropolitana está se desenvolvendo com indústria, comercio e serviço. Segundo ela, Natal ainda é o grande centro pela capacidade de comercio e serviço que tem na cidade. O oitavo capítulo, “Vilegiatura Marítima e Urbanização em Tibau – RN”, de Joane Luiz Dantas Vieira Batista, destaca que a cidade de Tibau antes era uma vila de pescadores e com a descoberta de seu potencial terapêutica, do lazer e o banho de mar, veio o surgimento da segunda residência de pessoas oriundas de Mossoró, Natal, Ceará e a Paraíba, foi chegando o veranista para disfrutar da beleza do município, e com isso vem se preparando com uma infraestrutura de estrada, agua, luz e telefone para dar um suporte ao veranista ou vilegiatura marítima que vem passar de 3 a 4 meses de férias ou curti o verão na Praia de Tibau . Afirma, por conseguinte, que outra coisa que vem preocupando administração de Tibau e com a urbanização que estar sendo estendida pela vilegiatura marítima, com isso hoje o município já está colado com o Estado do Ceará, e dessa forma muitas vezes não se sabe de quem e a responsabilidade pelo o serviço público na cidade, nessa conturbação á beira-mar. E com esse crescimento vem criando uma especulação imobiliária no município supracitado. O capítulo nove trata sobre “O Litoral potiguar: Uma Análise das Formas de Relevo, da ocupação e da tendência do turismo”, de autoria de Maria Francisca de Jesus Lírio Ramalho, referindo-se à degradação das áreas costeira do litoral Potiguar com várias construções irregulares, principalmente para construir a segunda residência, considerando que o nosso litoral e ventar muito e as dunas são moveis, está acontecendo muita casa ou segunda residência sendo soterrada pelas dunas. Segundo a autora, devido esse crescimento todo também estar surgindo muita erosão no solo de Tibau e estar acontecendo o mesmo com as falésias e o arrecife, o nosso relevo e de tabuleiro costeiro que muitas vezes são cobertas por dunas. Afirma-se, ainda, que tendo em vista que o Rio Grande do Norte vem crescendo com a visita de turista de todos os lugares do Brasil e do mundo, também vem gerando muito emprego em várias áreas e com o empreendimento imobiliário turístico no RN que tem um potencial muito grande para ser explorado pela sua beleza natural e grandiosa. De forma generalizada, pode-se inferir que o livro possui linguagem clara, acessível e objetiva, sendo indicado para todos os que tenham interesse na temática de Segunda Residência e Turismo, com ênfase nos estudantes de graduação e pós-graduação em Turismo e em Geografia.
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RESENHA BARBOSA36, Alex Junior Alves e FARIAS37, Mayara Ferreira de. Resenha de MANO, Eloisa Biasotto. PACHECO, Élen B. A. V. BONELLI, Cláudia M. C. Meio ambiente, poluição e reciclagem. 2. Ed.—São Paulo: Blucher, 2010. A autora Eloisa Biasotto Mano é nascida no rio de janeiro. diplomada em química industrial (1947) e engenharia Química (1955) pela universidade do brasil. Livre-docente e Doutor em Química Orgânica, na Universidade Brasil (1960). Professor Catedrático de Química Orgânica II, escola Nacional de Membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1978. Ganhou vário prêmio internacionais e atualmente é Professor Emérito do Instituto de Macromoléculas professora Eloisa Mano (IMA), Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já a autora Élen Beatriz Acordi Vasques Pacheco é nascida no Paraná. Diplomada em Engenharia Química (1986) e Química Industrial (1989) pela Universidade federal Fluminense. Mestre (D. Sc.) (1993) e doutor (D. Sc.) (1999) em ciência e tecnologia de polímero, Instituto de Macromoléculas. Ganhou vários prêmios e atualmente e professora convidada no curso de especialização em química ambiental, instituto de Química na universidade do estado do rio de janeiro (1998 a 2002). Claudia Maria Chagas Bonelli é nascida no Rio de Janeiro. Diplomada em engenharia Química pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (1987). Mestre (M. Sc.) (1993) e Doutor (D.Sc.) (2002) em ciência e tecnologia de polímeros pelo instituto de Macromoléculas. Atualmente professora convidada da disciplina de pós-graduação “Ciência e tecnologia de polímeros I”. O livro trata do meio ambiente, poluição e reciclagem. No primeiro capítulo, fala-se da natureza e o planeta terra, afirmando que deve ser uma preocupação de todos e no geral a preservação da natureza, também pois estamos vendo o que está acontecendo com ela, e com tudo fazemos muito pouco para preserva-la. Atualmente algumas organizações e os governantes ou não e escolas estão passando para os jovens a conscientização de preserva a natureza e a sua importância. A biosfera, que inclui todos os organismos vivos da terra. A natureza contempla o sistema solar que é composto pelo sol e oito planetas e são eles, mercúrios, vênus, terra, marte, júpiter, saturno, urano e netuno. O sol e uma massa gasosa, 300,000 vezes maior que a terra, muito quente. Os quatros primeiro planetas do sistema solar – Mercúrio, vênus, terra e marte- são de superfície rochosa e sólida. Os maiores – Júpiter, Saturno, Urano e Netuno – são os gigantes gasosos. Plutão é considerado um planeta muito pequeno e distante, rochoso, quase um asteróide. Afirma-se, ainda que o planeta terra é o terceiro planeta do sistema solar pela ordem de proximidade do sol, e a terra tem dois movimentos, um de rotação e o outro de translação. E desses movimentos em torno do sol que surgem as estações do ano – primavera, verão, outono e inverno. Que e a rotação e na translação ocorre os equinócios e solistícios. O que o equinócio faz e a igualdade dos dias e da noite e os solistícios significar parada do sol. Ainda tem a latitude que significa largura e a longitude que significar comprimento. Também tem os meridianos de Greenwch e os trópicos e os hemisférios e os círculos polar. No segundo capítulo, tratam do planeta e a terra pontuando que a estrutura interna do globo terrestre e composto de crosta, manto e núcleo. E a crosta e subdivide em continental e oceânica. A crosta terrestre também conhecida como litosfera e a camada superficial da terra e o solo. O manto e composto de rochas formadas por sais e óxidos de silícios, alumínio, magnésio e 36 37
Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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ferro. Causa a fusão das rochas que conhecido como magma, que movimenta as placas tectônicas que está relacionada a deformação da crosta terrestre. E o núcleo e o centro da terra. As autoras afirmam que existem terremotos que são devido a movimento de placas e o deslocamento do solo. E o outro e acomodação do terreno que são falhas muito antigas na crosta. O vulcão e um buraco em uma montanha e si sedimentos de vários tamanhos e destruindo tudo que ver pela frente. A superfície terrestre e muito rica em massa. O relevo da crosta terrestre, considerando a maiores alturas acima do nível do mar. E as maiores profundidades do solo oceânicos. No capítulo seguinte, a abordagem é sobre o planeta e a água, enfatizando que o composto químico da água é o H2O e a sua importância para o planeta e de fundamental importância. Aproximadamente 70% da superfície terrestre e oculpada por água entre o oceanos, mares, rios e lagos. O lençol freático e uma superfície pouco profunda onde e também encontrado agua, que recebe água da chuva e do subterrâneo. Inferem, anda, que a água subterrâneo e importante para o abastecimento da população em geral. O Brasil tem a maior reserva de água potável do mundo, possui 20% do volume total disponível na terra, as maiores bacias fluvial são a do Amazonas, do São Francisco, do Paraná e o do Paraguai e também a do aquífero Guarani. Na agua também e encontrado muito material pesado, que é encontrado nos oceanos, mares, rios. Elas destacam- também, que mediante essas concentrações de metais pesado e com a poluição dos oceanos, mares, rios e lagos sempre e bom acompanhar se agua estar própria para banho ou consumo. No quarto capítulo, sobre o planeta e o ar, inferem que a atmosfera e a massa gasosa que envolve o planeta. As camadas da atmosfera são troposfera, estratosfera, ozonosfera, estratopausa, mesosfera, mesopausa, termosfera, termospausa, exosfera, ionosfera, tropopausa e a superfície da terra, assim e formado o espaço sideral. O clima e formado por condição meteorológica características do estado médio da atmosfera em um ponto da superfície terrestre. As autoras afirmam que a alta concentração de vapor de agua e sob a ação dos raios solares, podem ocorre reação químicas na superfície do objeto de feitos com produtos naturais ou sintéticos, quando exposto ao intemperismo. Os ventos e um deslocamento horizontal do ar atmosférico, dentro da atmosfera. Os registros dos ventos são feitos em um anemômetro e a sua medida na escala de beauforte, e registra variações de zero a 12 graus. O tornado, furacão, tufão e ciclones que acontece na terra são grandes nuvens de tempestade, onde ocorre em corrente, em turbilhões sobem e descem. Em vários lugares diferentes entre os mares e os oceanos. Não ocorrem furacão, para que ocorra furacão no Brasil, os ventos nas nuvens estejam no topo de 12 a 15 km de altura. No capítulo cinco, sobre a vida na terra, vê-se desde o surgimento da vida na terra como a sua evolução passando pelo o DNA e as descoberta sobre a nossa descobertas e semelhança do homem com o macaco. Sabe-se que a população brasileira é uma população mista. O DNA e muito utilizado para a descoberta dos verdadeiros pais, em muitos casos tem avido a intervenção da justiça para ser descoberta da paternidade, e tem muitos outros casos que o DNA e vem descobrindo a verdade. No capítulo seis, referente à poluição ambiental, abordam sobre a poluição ambiental que é a modificação nas propriedades, natural do meio ambiente que seja prejudicial à saúde e a segurança
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de toda a espécie. Como consequência de todo esse crescimento vem ocasionando, hoje um aumento de consumo e de devastação para dar conta dessa massa populacional. Ressaltam, ainda, que o efeito estufa da terra e composto por gases, devido a devastação do meio ambiente vem ocasionado muita reviravolta no clima, e os gases do efeito estufa servem com um isolante térmico. Provocando, assim, um aumento de temperatura e vem tendo muito problema comesse aumento de temperatura desde o aquecimento da terra como afeta o ecossistema, a falta de agua, o aumento do nível do mar, doenças, e até os diversos fenômenos naturais, um deles é o el niño. Elas destacam, também, que a poluição está afetando também a camada de ozônio serve para filtra os raios solares de ondas mais curtas, absorvem mais de 95% dos raios ultravioleta impedindo que os raios cheguem até a superfície da terra. No capítulo sete, sobre as principais fontes de energia, destacam-se que as principais fontes de energia são o petróleo, o carvão e o gás natural, são fontes não renováveis. Temos também as energias renováveis, as hidráulicas, outros tipos de fonte de energia são a eólica, a vegetal e a biomassa produzidos por outro produto agrícola. Apontam que o petróleo e uma substancia natural negra, opaca de cheiro forte e inflamável e mais leve que agua. O petróleo e classificada com a sua natureza química em três grupos são de base parafínica, de base naftenica ou asfástica e de base aromática. Já o gás natural e um combustível fóssil de origem natural e é encontrada nos subterrâneos. A reserva provada de gás natural no mundo e estimada em 150 trilhões de metros cúbicos e no brasil e de 240 bilhões de metro cúbicos. Já o carvão tem como a sua matéria solida poroso e escuro e tem carvão mineral e vegetal. No capítulo oito, sobre outras fontes de energia, há o destaque para os ventos, o sol, e a biomassa são energia renováveis e tem em abundancia em nosso país. Os ventos hoje no Brasil vêm sendo aproveitados para gerar energia, mas ainda é muito caro, pois quase todos os seus componentes são importados. Mas pouco é aproveitado a nosso favor, pois é todo exportado, o bem que temos em abundancia vem crescendo com as instalações de grandes torres para a captação dos ventos para ser transformado em energia. Segundo elas, a solar vem sendo utilizada em localidade que ainda não chega a energia elétrica. E vem tendo bons resultados nas comunidades rurais que depende dessa energia renovável. Sobre a biomassa, afirmam que vem em destaque sendo na atualidade a terceira fonte de energia mais utilizada no nosso país. Ainda tem mais as energias dos oceanos, que produz energia através das ondas. E a geotérmica que saem através dos vulcões é uma fonte de energia alternativa pouco explorada. No capítulo nove, sobre o desenvolvimento sustentável, enfatiza-se que existe uma grande evolução da impotência do desenvolvimento sustentável, que depois que a população tomou consciência para a sua preservação, depois que o planeta está pedindo socorro, estão tomando a responsabilidade para a sua preservação do meio ambiente depois de muita contaminação, fatores que estavam causando a rápida e progressiva destruição do equilíbrio ecológico no país. O desenvolvimento sustentável e garanti o crescimento sem destruir o meio ambiente para as futuras gerações. Isso passa pela a educação ambiental que para orienta os cidadãos sobre a importância das pessoas para a preservação do meio ambiente a poluição ambiental vem tem mais interesse da população para sua diminuição gradativa, mediante esses vários acontecimentos forem formados vários protocolos de intenção para combate ou diminuir essa poluição no planeta. Ao ponto que o
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desenvolvimento sustentável passar também pela a reciclagem, assim garantido que menos material fique exposto no meio ambiente. No décimo capítulo, sobre os componentes do lixo urbano, ressaltam que um dos resíduos sólidos mais conhecido é o lixo, o qual pode se doméstico, comercial, público, hospitalar e industrial. Segundo as autoras, o lixo urbano é de responsabilidade dos municípios. O lixo tem os seus componentes o papel, plástico, vidro, metal e a matéria orgânica e outros, e tem mais os resíduos da construção civil. Outrossim, destacam que hoje só reaproveitamos muito pouco do nosso lixo doméstico, através dos catadores e o restante vai tudo para os aterros. Mediante isso o lixo também e uma grande fonte de renda para muito catadores de cooperativa ou não eles quem ajuda a coletar o que dar para reciclar antes do lixo, e até o aterro. O nosso lixo era para ser mais aproveitado, pois ainda vai muita coisa para os aterros sem nem um tratamento assim vem subindo os níveis dos nossos aterros que poderia ter mais tempo de vida uteis antes de completar o seu tempo. No capítulo seguinte, sobre o gerente dos refugos urbanos, ressaltam sobre os 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. O Reduzir o montante de material que é utilizado na fabricação de um produto e depois e descartado. Reutilizar uma embalagem para diminuir o lixo, pois só assim diminuiremos o descarte desse material que seve para algum utensilio caseiro. Reciclagem e bom para utilizar uma peça velha e transformar numa peça nova. Sobre a coleta seletiva, as autoras inferem que se trata de um tipo de separação de resíduo que e feito pelo morador e vem uma pessoa que passar em dias alternado e pega e leva para a usina e de lá e feito o seu destino correto. A coleta seletiva e uma forma de educar a população sobre a preservação do meio ambiente ou uma educação ambiental. Afirmam, também, que a destinação dos resíduos sólidos e um local apropriado para o descarte do lixo que pode ser um aterro sanitário, lixão, aterro controlado, incinerador, para isso todos os municípios devem cuidar do seu lixo e dar o destino correto para não contaminação do lençol freático. No capítulo doze, sobre os resíduos plásticos, tratam que o material plástico polui o meio ambiente com o seu resíduo de polímero sintético e resistente a destruição pela natureza. Na degradação ambiental do plástico, afirmam que ele pode ser degradável e biodegradável tem alguns tipos de degradação de resíduos plásticos são eles: fotodegradação, degradação química, termodegradação, biodegradação. No capítulo treze, a reciclagem de plásticos, trata que a reciclagem e uma forma mais barata de preservação do meio ambiente, todavia quando se reciclar está reduzindo o volume de material para os lixões e aterros. E na atualidade tem feito muita família tira o seu sustento da reciclagem principalmente do material plástico. No último capítulo, as autoras tratam de um resumo de todos os capítulos desse livro, com destaque para os mais importantes para a base de pesquisa das mesmas. De forma geral, o livro foi muito bem escrito e elaborado, sendo indicado para a leitura por alunos do curso de meio ambiente, geografia ou com quaisquer formações com ênfase na área ambiental. Enviado em 30/12/2014/Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA ABREU 38 , Ana Priscila do Nascimento; FARIAS 39 , Mayara Ferreira de. Resenha de: PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio Ambiente e a Formação do Professor. Editora: CORTEZ, 2010. O presente livro fala sobre as questões ambientais de uma maneira clara objetiva e direta, com uma linguagem simples e de fácil entendimento. O primeiro capítulo, Meio ambiente, ciência e escola, a autora relata sobre o quanto o conhecimento das pessoas (comunidade) interferem nas questões ambientais e quais são as verdades passadas para essa população. Na atualidade falamos muito sobre conscientização e preservação ambiental, mas percebese que os maiores contribuintes para a degradação do meio ambiente, continuam agindo normalmente. A autora cita como exemplo a ECO92, vários problemas ambientais foram citados, documentos referentes aos problemas ambientais foram aprovados, mas os países que são responsáveis pelos altos níveis de poluição não avançam nessas negociações para contribuir com o meio ambiente. Os países pobres possuem apenas as florestas e a biodiversidade, a matéria prima está com os países ricos donos de biotecnologia, assim os países ricos se apoderam das biodiversidades desses países pobres, utilizam biotecnologias transformados a matéria prima em produtos que beneficia a toda população, mas esses produtos acabam sendo vendidos por preços exorbitantes A autora coloca que essas questões devem ser trabalhadas nas escolas, lugar ideal onde os futuros cidadãos poderão aprender e pensar sobre o assunto, que essa é uma questão que deve ser levada a sério e abordada dentro da sala de aula, não só nas aulas de ciências, química e física, mas nas outras disciplinas, levantando questões, ensinando os alunos a pensarem e ter uma consciência ambiental. No segundo capítulo, Meio Ambiente: cidadania versus empresa a autora mostra que as empresas, podem ser as fabricas e prestadoras de serviços encontram-se espalhadas por todo o planeta, porem no sistema do mundo capitalista elas só pensam em ter lucros e ficar cada vez mais ricas. Essas empresas são as grandes causadoras da poluição do meio ambiente, entretanto passam uma ideia de que o grande problema do planeta é a população e a maneira de como cada um age, mas nunca se incluem como agentes poluidores. Se a população fosse mais esclarecida em relação a sustentabilidade e tivessem maior consciência ambiental, as empresas passariam a agir de outro modo e muito mais preocupadas com o meio ambiente O terceiro capítulo, por um desenvolvimento sustentável, a autora expõe as dificuldades que englobam esse assunto, para muitos países em especial aqueles que estão em desenvolvimento, isso se torna um problema, pois para crescer economicamente é necessário desenvolver. Entretanto a autora lembra que para natureza não existe fronteiras. Podemos dar as mãos e cuidar do nosso planeta, ter consciência ambiental. Um dos casos citados pela autora no Brasil, é que as grandes empresas industriais ou prestadoras de serviços no Brasil pertencem aos políticos do nosso pais, são eles que criam as leis, e 38 39
Aluna do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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essas leis na maioria das vezes beneficiam a eles próprio e não a maioria da população, os donos dessas empresas visam lucros e não se preocupam com a qualidade de vida população, sendo assim, tais ações acabam contribuindo para problemas ambientais, naturais e sociais. No capítulo quatro intitulado Meio Ambiente e formação de professores: conscientizações metodológicas, inicia argumentando que as informações e participação são recursos fundamentais para ensinar sobre cidadania e consciência ambiental. Segundo a autora a informação é tão importante como a maneira que ela será transmitida, esse processo irá provocar o desenvolvimento dessa formação pretendida. Segundo a autora, na escola as crianças e adolescentes aprendem sobre cidadania, direitos e deveres, lá aprendem a participar e participando aprendem a comportar-se em relação aos seus deveres enquanto habitantes do planeta terra. Também defende a ideia de que o professor enquanto mediadores do saber devem inovar sua metodologia, visando a melhor forma de aprendizagem dos seus alunos, formando cidadãos críticos, que poderão atuar na sociedade no futuro, garantindo um futuro melhor para a sociedade. O livro possui linguagem clara, objetiva e esclarecedora, sendo indicado a todos que estejam direta ou indiretamente, envolvidos com atividades educativas e escolares. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA MIRANDA 40 , Levi Nunes Fernandes de. FARIAS 41 , Mayara Ferreira de. Resenha de BRANCO, Samuel Murgel de. Energia e meio ambiente. São Paulo, SP: EDITORA MODERNA, 1990. Samuel Murgel Branco nasceu em São Paulo em 1930. Formou-se em História Natural em 1956, especializando-se em ciências biológicas e da terra na Faculdade de São Paulo (USP). Mais tarde, como professor da USP direcionou sua carreira de pesquisador para a área de saneamento básico e ambiental, tornando-se um grande sanitarista, reconhecido por seus estudos sobre qualidade das águas continentais e costeiras, com forte enfoque em saúde pública no Brasil e na América Latina orientou dezenas de mestrados e doutorados particularmente nas unidades da USP em São Paulo. Apaixonado desde sempre pela natureza, desenvolveu seu gosto pelo mar e pelas exuberantes florestas da mata atlântica, o que despertou sua curiosidade em relação às particularidades das diferentes dos diferentes ambientes vivos. A união da paixão e do conhecimento cientifica, bem como sua facilidade em relatar histórias, o estimulou a revelar para crianças e jovens as maravilhas da natureza. Quando escrevia, buscava dar conta de todo o universo que o cercava, organizando seus conhecimentos e apresentando-os de maneira cativante aos leitores. Assim, existem vários livros publicados nos quais narra com simplicidade os temas complexos das ciências ambientais. O livro intitulado trata-se da relação da energia com o meio ambiente. No 1º capitulo refere-se “Ao homem energético” de Samuel Murgel Branco, aborda que a energia tem sido de fundamental importância para o desenvolvimento do nosso planeta, é através dela que hoje temos o conforto e a tecnologia, no qual tem feito com que o mundo não pare de avançar, tendo perspectiva de novas inovações na área energética. Branco afirma, ainda, que ao homem foi dada a responsabilidade de administrar a energia que existe no nosso planeta, portanto ele tem em suas mãos a possibilidade de fazer com que esta energia não venha a ser desperdiçada. Diz também que a natureza nos fornece vários tipos de energia de forma espontânea seja ela extraída do sol, da lua, do mar, do vento ou da terra, contudo se não for bem aproveitada um dia não poderá mais existir sendo assim, poderemos ter um grande impacto ambiental, pois será deixado para traz o conforto e a tecnologia já conquistada durante todos esses anos. O 2º capitulo trata “Das fontes de energia na natureza”, com destaque para a energia capitada do meio ambiente, têm utilização e destinos diversificados, porém com um só objetivo o de gerar energia que posteriormente venha a ser utilizada ou simplesmente descartada, evitando possíveis catástrofe ao meio ambiente. No 3º capitulo trata de “como a natureza utiliza a energia”, apontando que o planeta terra estando em perfeito equilíbrio, torna seu funcionamento relacionado ao fluxo de energia, como a luz e o calor do sol. A energia é transformada em energia térmica, elétrica, mecânica e química que ao ser liberada no meio ambiente em forma de calor, logo é absorvido pelos seres vivos, há alguns que utilizam o calor do sol e outros que são capazes de obtê-las através de fontes químicas. O 4º capitulo trata da “Busca de fontes de energia pelo homem”, nele aborda-se que o homem com sua inteligência tem transformado estas fontes de energia em grandes benefícios para a 40 41
Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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humanidade, como também tem feito com que essa mesma energia destrua ele próprio. É através do desmatamento, das queimadas e da poluição que surgem danos irreparáveis ao meio ambiente. Portanto, só temos um desenvolvimento satisfatório devido ao uso da energia, ela tem sido de fundamental importância para a humanidade. O 5º capitulo trata das “fontes alternativa de energia”, inferindo que a natureza gera energia, tanto quanto necessita. O sol, a lua, o vento e o mar todos eles produzem energia em grandes proporções. Os seres humanos os animais, as plantas e todas as espessem existentes no planeta Terra necessitam de algum tipo de energia para sobreviver. Segundo o autor, um dos fatores que faz com que sejam criadas fontes de energias alternativas é o crescimento da população, pois há necessidade de se utilizar mais energia seja ela mecânica, com o uso de combustíveis, ou a energia térmica no qual é constituída pela captação de potenciais, devido à diferença de temperatura em dois pontos distintos. Porém sem utilizar a tecnologia o calor do sol, sempre foi utilizado em algumas atividades domésticas como também em atividades salineiras e em plantações. O 6º capitulo trata-se dos combustíveis e o meio ambiente: Origem de conflitos, enfatizando que a terra é composta por energia, sendo armazenada no subsolo em forma de combustíveis fósseis. Segundo o autor, o petróleo é um dos combustíveis, mas cobiçado, dele e retirados componentes que após um processo de separação é utilizado na fabricação de vários objetos. Aponta, ainda, que os problemas causados pelos combustíveis fósseis são muitos, a queima da gasolina a torna um dos principais poluidores. A emissão de dióxido de carbono na atmosfera tem causado muitas doenças à população, no entanto o nitrogênio e o enxofre tem se tornado mais tóxico por existir em maior quantidade no ar. Este combustível por ser muito valioso tem provocado constantes conflitos trazendo morte e destruição ao meio ambiente. O 7º capitulo trata dos “problemas com o uso da energia da água”, afirmando que a energia gerada pelas hidrelétricas é uma energia limpa, ela não emite nenhum poluente a natureza, no entanto traz riscos a quem mora nas suas imediações, o rompimento de uma barragem causaria a destruição de várias cidades que tivessem no seu percurso, causando prejuízos incalculáveis ao meio ambiente. Segundo o autor, o represamento da água de um rio traz um desequilíbrio ao meio ambiente, pois ao ser represado causam inundações as florestas, fazendo com que parte delas venha a morrer, tornando a vegetação rasteira e outras submersas. As migrações de peixes também são afetadas, porque alguns tipos de peixes sobem as cabeceiras dos rios para depositar seus ovos em locais amplos, alagados e protegidos da correnteza. O 8º capitulo intitulado “Será realmente necessário tanta energia”? Destaca que o meio ambiente nos fornecem fontes de energia naturais, podendo ser captada através de equipamentos adequados, para cada situação. Um exemplo dessa fonte de energia citado pelo autor é o clima do sertão, tendo a maior parte do ano de sol forte no qual poderiam ser aproveitadas como fontes de energia, alternativas e assim suprir a necessidade da própria população. O 9º capitulo trata do “olhar para o futuro”, com destaque para o planejamento como de fundamental importância para que tenhamos um equilíbrio ambiental satisfatório. Segundo o autor, no Brasil a grandes represamentos de água, destruindo as florestas é poluindo as águas após as barragens, matando peixes e criando ambientes inadequados para retirada de sustento pela população, é um fato que causa desequilíbrio ao meio ambiente.
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De acordo com Branco, a população não fazendo uso dos três “R”: REDUZIR, RECICLAR E REUTILIZAR, tem levado grandes quantidades de materiais descartáveis ao meioambiente, com isso a poluição tem sido muito elevada, principalmente nos rios, lagos e mares. Falta consciência e sobra bastante lixo para que o meio ambiente gaste a sua energia tentando decompor estes materiais. Segundo o autor, o Brasil por sua localização tem o privilégio de ter o sol praticamente o ano todo, podendo ser bem aproveitado. Uma casa bem planejada tendo o sol como sua fonte de energia natural serviria para ilumina, aquecer e ser armazenada em baterias para ser utilizado em equipamentos domésticos, tornando a energia bem mais proveitosa para a humanidade como também menos degradante ao meio ambiente. A busca de meios alternativos de energia tornando o planeta menos aquecido, pois iria reduzir os impactos ambientais, trazendo grandes benefícios ao meio ambiente. O livro é indicado para toda a sociedade, pois ele relata as fontes de energia que a natureza nos despõem, trazendo conhecimentos específicos de como devemos cuidar mais do nosso meio ambiente e para que tenhamos o privilégio de desfrutar por muitos anos desse recurso natural. Além disso, a linguagem utilizada pelo autor a clara e de fácil compreensão. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA MIRANDA 42 , Levi Nunes Fernandes de.; FARIAS 43 , Mayara Ferreira de. Resenha de GONÇALVES, Luiz Cláudio de. Gestão Ambiental Meios de Hospedagem. São Paulo, SP: ALEPH LTDA, 2004. Luiz Cláudio Gonçalves é bacharel em engenharia elétrica com mestrado em engenharia da produção, Administração de Empresas e Turismo Ambiental, além de doutorado em Engenharia com ênfase em Energia e Meio Ambiente. Atua como professor adjunto em curso de graduação e pós-graduação na Universidade de São Paulo- Unicid, na Universidade de Santo Amaro, UNISA e no centro universitário das faculdades Metropolitanas unidas – UNIFMU. É pesquisador e autor de publicações nas áreas de marketing, logística, gestão de operações, inovações tecnológicas e gestão ambiental. O livro supracitado trata das metas empresariais, no tocante ao seu crescimento e desenvolvimento dentro de uma sociedade voltada a competividade em relação a concorrente. Fazendo com que sejam minimizados custos, racionalizando, reciclando o que é possível, diminuindo os desperdícios, com isso seria atendido às exigências legais, intencionais e até culturais. Em determinados momentos os problemas ambientais deixam de ser uma abordagem contestatória de cientistas e de representantes do movimento de contracultura e passam a ser incorporados no discurso oficiais, e isso a partir de organismos internacionais. Segundo o autor, durante as últimas décadas, o ser humano, em função de seu desenvolvimento junto ao meio ambiente tem causado vários problemas ambientais em escala global. Contudo, a sociedade atual tem-se mostrado atenta a essas degradações ambientais, exigindo que as empresas respeitem a natureza e a própria sociedade, por meio do estabelecimento de normas e procedimentos legais. O 1º Capítulo “A questão ambiental na sociedade contemporânea”. Trata-se do meio ambiente, considerado como um recurso farto e abundante ao longo do tempo dificultando a possibilidade de estabelecimento de critérios equilibrados para sua utilização, disseminando mundialmente a problemática ambiental. De acordo com Valle, as questões ambientais passaram a fazer parte do dia a dia da sociedade já em épocas muitas remotas constam que há cerca de 65 milhões de anos um meteorito atingiu a terra, alterando o ecossistema possivelmente, muito espécies, entre essas os dinossauros, desapareceram sem deixar vestígio devido os grandes impactos ambientais provocados pelo choque. A, pois este fato houver o crescimento do número dos seres humanos para níveis acima do suportado pelo ecossistema natural. Nesse período as pessoas viviam da coleta e da caça e seu impacto limitava-se aos meios de obtenção de alimentos. Segundo o autor, sugiram crises resultado das pressões exercidas pelo crescimento populacional, sobre os limitados recursos do planeta, que vêm esgotando as reservas naturais e afetando, sensivelmente, as condições do meio ambiente. Entretanto, tal preocupação soava como um certo modismo, particularmente do ponto de vista dominante nos Países em desenvolvimento, para os quais “Salvar o verde” era luxo dos ricos, pois somente a sociedade afluente que já haviam resolvido problemas muitos mais graves como o atendimento ás necessidades básicas da população. Aponta, ainda, que foi no final da década de 1960 que sugiram os primeiros movimentos ambientais, motivado pela contaminação das águas e do ar nos países industrializados como é o caso da baía de Minamata, no Japão, contaminado por mercúrio de uma fábrica de alumínio. 42 43
Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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Nos anos 90, conforme Moura e Valle, houve na maioria dos países uma grande consolidação e avanço com relação á consciência ambiental global. O termo qualidade de vida é mais importante que qualquer outra coisa. Como evento importante desse período, destaca-se a conferencia das nações unidas sobre meio ambiente e o desenvolvimento, realizada em 1992 na cidade do Rio de Janeiro com a participação de 150 países, também conhecimento como cúpula da terra Rio 92 ou Eco 92. Os principais documentos produzidos foram a Agenda 21 na qual passa a servir de base para certas ações de diversos países. Entretanto na visão desse autor estas questões abordadas são de muito pouco pratica. No setor empresarial, há certa tendência de que a busca pela qualidade ambiental deixe de ser um tema problema e passe a ser um fator de competividade empresarial e sobretudo, de responsabilidade social. O 2º Capítulo trata da Gestão Ambiental como fator de competividade empresarial. Destacando que as empresas podem dispor de três tipos de estratégia no qual pode ser utilizado de forma isolada um combinado para criar uma posição defensável no longo prazo e superar os concorrentes em um determinado setor. São elas liderança em custo total, diferenciado e enfoque. Portanto já e chegado a hora da moderna mentalidade competitiva impregnar o raciocínio das empresas com relação à intima ligação entre as variáveis competividade e meio ambiente. Qualidade continua sendo um termo mal-entendido. Atualmente esse entendimento vai desde o luxo e o mérito até a excelência e o valor. Para melhor esclarecimento a qualidade pode ser entendida através de cinco abordagens: Definição transcendental; Definição focada no produto; Definição focada no trabalho do usuário; Definição baseada na produção e Definição focada no valor. O processo da qualidade total deslocou gradativamente a atenção das empresas para um gerenciamento na tomada de decisão, acarretando o desenvolvimento de uma nova visão empresarial. O 3º Capítulo refere-se ao sistema de gestão ambiental em meio de hospedagem no Brasil. Ao ponto que, o sistema de gestão ambiental aplicado no segmento hoteleiro nacional apresenta uma análise geral do contexto histórico em que está inserido. Tendo como alternativa os albergues e hospedarias, alguns hotéis passaram a alugar quartos para fadigados, um do fator importante para o setor hoteleiro foi à extensão das ferrovias e o desenvolvimento dos barcos a vapor o aumento das atividades comerciais e industriais; a melhora na legislação trabalhista; a expansão da economia e a massificação dos transportes, principalmente automóveis e aviões. O autor aborda, também, que a hospitalidade Portuguesa deixou suas marcas no Brasil, manifestada pela calorosa acolhida dos moradores aos viajantes que passava pela cidade. Havendo assim uma estabilização da economia marcando o início de uma fase de crescimento da demanda hoteleira no Brasil, motivo pelo incremento de renda da população, pelo financiamento de passagem, aéreas e pacotes turísticos. Segundo ele, o grande potencial de crescimento para novos empreendimentos hoteleiros pode ser explicado pela escassez de meios de hospedagem como infraestrutura para viagens de negócios. Ao que se refere ao sistema de gestão ambiental em meios de hospedagem no brasil, o autor destaca que os impactos ambientais globais, fruto do atual modelo de consumo capitalista,
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podem afetar significativamente as atividades hoteleiras, causando-lhe sérios prejuízos já que os recursos naturais, certamente, fazem parte do conjunto de atrativos desse setor. Dentre esses impactos, podem-se destacar os seguintes: Efeito estufa; Chuva ácida; Destruição da camada de ozônio e Eutrofização O autor aponta que as políticas ambientais manifestam o reconhecimento administrativo a respeito da responsabilidade ambiental da organização e que o no Planejamento é exigida uma avaliação ambiental, bem como a definição de objetivos e programas ambientais. O 4º Capitulo trata do sistema de gestão ambiental do grande hotel-escola de Águas de São Pedro (SP). Destacando que em 1928, o serviço geológico de São Paulo prospectava petróleo em uma região situada a 185 quilometro do município de São Paulo na cidade de São Pedro. Apesar de terem encontrado apenas água sulfurosa, essa descoberta foi determinante para o futuro turístico da região e para criação do hotel. Segundo ele, o hotel tornou-se ponto turístico, arrecadando recursos para o município e fazendo com que o município crescesse. As diversas ações ambientais decorrentes da implantação da ISO 14000 surtiram muitos resultados positivo para o hotel. De certa forma o hotel praticamente não tem nenhum tipo de ajuda do poder público que seja ele em redução de imposto para que sejam incentivadas as ações ambientais com maior empenho mesmo diante de tanta dificuldade já enfrentada. No geral o livro e indicado para estudantes que desejam investir no turismo de hospedagem, e uma área de grande crescimento no qual traz renda e emprego, a quem gosta da temática ou que gosta de ler livros com linguagem clara e objetiva. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA OLIVEIRA44, Viviane Ferreira de; FARIAS45, Mayara Ferreira de. Resenha de: RIBEIRO, Renato. Sustentar a vida. São Paulo: Edições Paulinas, 2011. Dizer que o ser humano pode viver sem depender do meio ambiente como um todo é, no mínimo, uma caminhada em direção à sua destruição. Essa dependência é clara, mas infelizmente, os interesses humanos se sobrepõem substancialmente aos do meio ambiente. O subtítulo “Um mundo complexo” trás o homem como o animal que mais interage, interfere e depende do meio ambiente. Esta correlação envolve a química, a fisíca, a biologia e a psicologia. Tudo isso mantém o ser humano ocupado em pensar nos modos de produção para gerar economia no mundo, e deixar em segundo plano o meio ambiente. Tendo como prioridade a economia, ele explora, de forma indiscriminada, recursos naturais; descarta, de modo aleatório, resíduos de suas produções. Em “Uma nova forma de pensar”, o autor deixa claro que a conscientização é imprescindível para que as pessoas “enxerguem”, verdadeiramente, que os recursos naturais são finitos e que, se não usarmos o tempo presente para fazer isso, não teremos um futuro. Agir, é o que nos cabe! Em “Tutela do ambiente: uma breve reflexão jurídica”, relata que nos tempos primórdios existia um respeito muito grande pela natureza, pois, muitos povos a viam como obra de Deus. Ainda hoje, algumas culturas ainda mantêm a tradição de saudar a natureza. O desenvolvimento industrial trouxe para o mundo as marcas da poluição e, desde então, despertou-se a preocupação da sobreposição da economia em relação ao meio ambiente. Aborda, ainda, que, concretamente, alguns países formaram comissões e elaboraram constituições voltadas para o uso sustentável de recursos naturais. No Brasil, o primeiro passo dado foi em 1981, com a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA que reconhece o meio ambiente como objeto passível de tutela jurisdicional, e o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, que estabelece a responsabilidade objetiva (independente de culpa) do poluidor em reparar o dano causado ao ambiente. A partir daí, iniciou-se a elaboração do conjunto de normas jurídicas para a proteção do meio ambiente: Direito do Ambiente. Destaca, também, que a preocupação com essa questão, gerou ainda a dedicação de um capítulo na Constituição de 1988. Tudo isso, significa dizer que o poder público deve contribuir com, grande parcela, na preservação dos processos ecológicos, no manejo ecológico das espécies e ecossistemas, na preservação da biodiversidade, na definição de áreas protegidas, na Avaliação de Impacto Ambiental – APA, na educação ambiental, etc. Tão importante quanto, é a Carta da Terra (ano 2000) que inspirou a elaboração da Agenda 21 (documento resultante da Eco 92). Em “Marketing, comunicação sustentável e a tentação do greenwashing”, o autor fala sobre a relevância de abraçar a sustentabilidade, tanto no ponto de vista corporativo quanto no pessoal. O problema é que algumas empresas utilizam esse marketing para vender seus produtos sem se preocupar, verdadeiramente, com a sustentabilidade. A ação corporativa deve ser clara e as informações transparentes e não uma propaganda enganosa relacionada ao tema. Em “Valores da vida sustentável: nosso dever de preservar”, de acordo com o autor, nós não tínhamos noção da dimensão do impacto negativo para vida do planeta decorrente do
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Aluna do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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desenvolvimento econômico. Hoje, corre-se contra o tempo, para que as pessoas se conscientizem sobre uso sustentável dos recursos naturais. Segundo o autor, não existe equilíbrio entre as variáveis envolvidas e a vida na Terra. O consumismo é o maior vilão esse desequilíbrio. A vida do ser humano está em risco! O homem busca a felicidade na cumulação incessante de bens e na busca por crescimento. A natureza é sustentável e resiliente na sua essência e, se o homem afinar a sua sensibilidade para o que ela e a vida têm a ensinar, talvez esse cuidado se torne prioridade. Em “Água para toda vida”, autor menciona que o fator mais prejudicial para a disponibilidade e a qualidade da água é o constante crescimento populacional, os processos de urbanização, a poluição dos reservatórios naturais e a insuficiente gestão dos recursos hídricos e a alterações climáticas. Segundo o autor, muitos dos problemas mencionados acima estão relacionados com o uso indiscriminado e inconsciente da água pelo homem. Além da falta de cuidado desse bem, que é imprescindível, à vida humana. Segundo o V Fórum Mundial da Água, os impactos negativos causados pelas mudanças climáticas, alteram todo o ciclo da água. Em “Respire fundo”, aborda-se que o ar é outro elemento de fundamental importância para a vida na Terra. Em algumas cidades os veículos automotores são os maiores poluidores, em outras são as fábricas. Ambos são fontes da economia mundial e mais uma vez, a busca pelo crescimento econômico se sobrepõe a um bem natural. Em todo esse contexto, os mais suscetíveis (além do próprio planeta) a sofrer com a poluição do ar são as crianças e os idosos. Mas, apesar de poucos, existem esforços de alguns grupos e pessoas que tentam minizar essa situação. Essas pessoas devem ser agentes multiplicadores para que as ações atinjam o maior número de indivíduos. Em “O pão nosso”, a questão do alimento se apresenta como uma cadeia interdependente que vai do solo até o homem. Se a planta nasce e cresce em solo impróprio, o animal que dela se alimenta vai ingerir um alimento nocivo a sua saúde; essa carne contaminada chega à mesa como alimento para o homem. Paralelo a isso, atualmente o ser humano (grande parte) perdeu o elo com cultivo no meio ambiente, dando prioridade às cadeias produtivas imediatas. Em “Reciclar a relação com o lixo”, o autor afirma que felizmente está em crescimento a reciclagem do lixo (ainda de forma moderada). A visão do lixo como algo que não presta e que não tem mais utilidade está sendo mudada, pois, muitas pessoas tiram o seu sustento desse processo. E a comunidade, vem tomando consciência de que a diminuição do lixo nos aterros pode começar a partir de dentro da sua casa, com a separação adequada. No que diz respeito aos aterros sanitários, afirma-se que o principal responsável de gerir é o poder público. Vários processos podem surgir a partir do lixo e vários são os benefícios, como: a transformação de sucata em brinquedo, a compostagem através dos resíduos orgânicos a produção de papel reciclado a partir de papéis já utilizados, etc. Em “Educação para o futuro”, o autor menciona que a educação é a base de tudo, principalmente, a primeira educação. Um dos protagonistas é o educador, que tem a responsabilidade de orientar, estimular e guiar o processo de aprendizagem e conscientização. Esse processo, segundo o autor, é contínuo e prepara a geração de hoje para enfrentar, no futuro, as consequências do mau uso dos recursos naturais e a falta de cuidado com o meio ambiente. O consumo consciente já é sabido por muitos através de algumas práticas como: reduzir, reciclar, reaproveitar; utilizar sacolas retornáveis às compras, diminuir o tempo no banho, oferecer carona, entre muitas outras práticas.
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Em “Insustentável é não ter consciência”, o autor se refere ao meio ambiente com sendo não somente a fauna e a flora, mas também ao ambiente em que vivemos. Com isso, as práticas de sustentabilidade envolve tudo que nos cerca. Nesse contexto, a educação é de extrema importância para formar cidadãos responsáveis e conscientes com aquilo que ele tem de mais acessível: o meio ambiente. De forma geral, pode-se inferir que o livro é extremamente importante para levantar questionamentos sobre como estamos lidando com a questão dos recursos naturais, o que nos cabe fazer para amenizar os impactos negativos gerados pelo crescimento econômico e populacional exagerado, quanto ao nosso comportamento com as práticas sustentáveis. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA OLIVEIRA 46 , Viviane Ferreira de; FARIAS 47 , Mayara Ferreira de. Resenha de: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS. Atenção Primária Ambiental. Brasília, DF: Organização Panamericana da Saúde, 2000. O capítulo I discorre sobre a preocupante necessidade de políticas públicas e a interação desse setor com a comunidade como um todo (principalmente as mais carentes). O estudo foi realizado na Região da América Latina e do Caribe relacionando-se as mudanças climáticas e ambientais visíveis em todo o planeta e a consequência disso na saúde da população. Relata, ainda, o que já foi feito para melhoria deste quadro, mas que ainda não foi o suficiente. Paralelamente às mudanças no ambiente, tem-se a contínua e descontrolada urbanização urbana e rural, além da situação de pobreza de milhões de habitantes da região. A atenção primária ambiental a que se refere o livro, tornou-se tema de alguns compromissos ao redor do mundo. Como exemplos, cita-se: Conferência Internacional sobre Atenção Primária Ambiental (URSS/1978) e a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (RIO/92). O capítulo II conceitua o que é Atenção Primária Ambiental, o que deu origem a ela, onde e de que forma poderia ser aplicada. A APS proveio da “atenção primária à saúde” (APS) e do “desenvolvimento rural integrado” (DRI). Como base, observou-se os acontecimentos no setor da saúde na década de 1970. Chegouse à conclusão de que seria necessário dar maior atenção a unidade básica da população: as pessoas. Então, a partir daí, determinou-se que o ambiente como um todo na área hospitalar, urbana, rural, de serviços poderiam ser melhorados através da prevenção usando as pessoas como agentes multiplicadores. O primeiro conceito de APS surgiu na Declaração de Alam Ata (1978) e diz que: A atenção primária a saúde é a assistência sanitária essencial. Baseia-se em métodos práticos e na tecnologia, tem fundamentos científicos e sociais, é acessível a todos os indivíduos e famílias na comunidade e tem a sua participação completa. A comunidade e o país podem pagar seu custo em todas as fases do desenvolvimento com um espírito de auto-responsabilidade e autodeterminação. A atenção primária é parte integrante do sistema de saúde nacional, do qual é a função central e principal núcleo, assim como do desenvolvimento social e econômico da comunidade. Representa o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde e leva, na medida do possível, a atenção da saúde aos lugares onde as pessoas vivem e trabalham. Constitui o primeiro elemento de um processo permanente de assistência sanitária. Segundo a Organização Mundial da Saúde, teve-se como marco referencial a sustentabilidade como grande desafio ambiental. Envolve, além dos habitantes da região, educação, ciências, política, legislação e tecnologia, a fim de deter a progressiva deterioração que sofre a região. Com todas as evidências, um número maior de pessoas passou a ter uma atenção especial pelo meio ambiente, independentemente da situação econômica. Segundo a OMS a Atenção Primária Ambiental deve ser sustentada, principalmente, pela pró-atividade do cidadão comum ou da comunidade juntamente com os órgãos competentes do Estado. Algumas atividades foram importantes para ajudar no desenvolvimento do conceito da 46 47
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APA. São eles: Solidariedade e equidade: deve haver um compromisso de interação dos cidadãos entre si, e deles com o Estado (e vice e versa); Integralidade: as ações ambientais devem acontecer em conjunto para benefício de todos; Diversidade: cada ecossistema tem suas particularidades e deve-se respeitar essas diferenças e os direito à essa diversidade. As características da APA obedecem pois, a alguns princípios: descentralização, intersetorialidade e interdisciplinaridade, co-gestão pública-privada e autogestão, coordenação, eficiência e autonomia política e funcional. Para auxiliar no cumprimento dos princípios e características da APA, criou-se os Centros de Atenção Primária Ambiental (CAPA). Esses centros estão localizados sempre próximos às comunidades. O principal objetivo é criar medidas ou atividades de proteção ou recuperação ambiental. Contudo, não pode ser conduzida somente pela comunidade devido a sua complexidade, necessitando de cobertura ampla (regional ou nacional). Além disso, a Organização Panamericana da Saúde previu, há 44 anos, o quanto seria preocupante o futuro (que é o hoje!) do meio ambiente se não fosse a questão da conscientização. Foi de grande valia esse estudo, pois, possibilitou que o mundo voltasse os “olhos” para a maneira adequada de utilizar os recursos naturais. Partindo do princípio de que é a partir da unidade básica da sociedade (o homem), deve-se buscar formas de expandir esse “efeito dominó” para uma interação harmoniosa das partes envolvidas com ecossistema. De forma geral, o livro é esclarecedor, possui linguagem clara e objetiva, sendo indicado a todos que tenham interesse na temática voltada à saúde, meio ambiente e bem-estar social. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA LIMA48, Wanny Caroline França de; FARIAS49, Mayara Ferreira de. Resenha de VIERNIER, Jacques. O Meio Ambiente. Tradução de Marina Appenzeller. 4ª Edição. Papirus Editora, Campinas, SP, 1994. Em 1992, França, o autor conta a história da difícil integração homem-natureza que sem dúvida tem seus percalços, mas o autor afasta a visão apocalíptica do presente analisando os avanços e as conquistas mundiais dos últimos 20 anos, na luta contra a degradação do meio e da qualidade de vida. Esta obra procura tratar os desafios do meio ambiente: Seus problemas e soluções sobre a água, o ar, o ruído, os dejetos, produzir limpo e sem riscos, a natureza e alavancas para a ação e tem como característica; esclarecer esses problemas e seus conteúdos. Tem uma linguagem fácil de entender e aborda o tema de uma forma esclarecedora. A obra trata de um debate antigo sobre as vantagens e desvantagens do ´´progresso`` e da relação do homem com a natureza. O mundo corre desenfreado. Segundo o autor, a água está presente em três quartos da superfície de nosso globo, assim igualmente em três quartos de nosso corpo, mostrando desde então essa relação entre ambos. Com isso vemos que há bastante água em nosso planeta, mas ela tem que ser de qualidade, pois a grande parte dessa água é a do mar impropria para nosso consumo e outra parte é extraída e devolvida de uma forma menos pura. Afirma, ainda, que o homem vem explorando esses recursos: Tirando a água de maneira abusiva. Vale lembrar que a água está distribuída muito desigualmente. Segundo ele, a poluição orgânica se dá por dejetos de leite, açúcar e cerveja, que são nocivos para um rio; uma vez despejados num rio, essas matérias orgânicas vão ser ´´devoradas` `degradadas`` pelas bactérias do rio. As bactérias, porém, para ´´comer`` a poluição, tem igualmente necessidade de oxigênio do curso de água, que mata os peixes, não por toxidade, mas por asfixia. Infere, também, que ao que se refere à poluição tóxica, esta é provocada exclusivamente pela indústria (química e dos metais), estes compostos orgânicos podem estar presentes nos peixes e crustáceos comidos pelo homem, o que pode vir até a morrer. Ao que concerne às matérias em suspensão, destaca-se que essas matérias podem criar uma poluição estética (turvação da água), perturbar a vida dos peixes (introdução das partículas nas guelras), e algumas dessas matérias em suspensão podem contribuir para a poluição orgânica ou tóxica. Destaca-se, também, que a eliminação dessas matérias em suspensão é feita geralmente por simples decantação: Caem no fundo de uma grande bacia (resta tirar o lodo), citando como exemplos as tempestades: Levam solos, estradas, tetos e esgotos. Infere-se, por conseguinte, que as matérias nutritivas (nitratos e fosfatos): Ao ponto que o excesso de nutrientes favorece uma proliferação e até uma ´´explosão`` de algas, que logo se decompõem, consumindo enormes quantidades de oxigênio. Sem oxigênio, a água torna-se a sede de fermentação e putrefações. O fundo dos lagos, os fundos marinhos morrem. De acordo com o autor, o véu das algas superficiais pode privar o meio aquático de luz e que certas algas podem ser tóxicas. Isso faz com que os mares mudem de cor. Além disso, os fosfatos provêm dos dejetos humanos. Já os nitratos provêm essencialmente da agricultura. A 48 49
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agricultura e a criação de gado, por sua vez, provocam uma poluição grande, mas, sobretudo acumulativa e persistente, dos lençóis das águas subterrâneas. Ao que se refere à poluição bacteriana, o autor afirma que se trata daquela cujas consequências sanitárias saltam aos olhos com maior rapidez. Citando como exemplos os riscos bacteriológicos nas águas para banho e frutos do mar. Já a poluição térmica: Grande parte das águas utilizadas pelas industrias são águas de resfriamento que, em seguida, são jogadas fora, quentes. Quanto às centrais elétricas, afirma-se que jogam inevitavelmente calor na atmosfera ou na água. Esse aquecimento das águas pode ter duas consequências; uma é sobre a vida de certas espécies vegetais e animais e a outra sobre a atividade bacteriana mais intensa, portanto, um maior consumo de oxigênio. O autor destaca que a poluição atmosférica provém essencialmente de três grandes fontes, sucessivamente: As instalações fixas de combustão (aquecimentos domésticos, centrais elétricas térmicas, caldeiras industriais); os transportes automóveis; alguns processos da indústria. Ao ponto que pode agir a longa distância num raio de vários milhares de quilômetros: a acidificação e a morte dos lagos, a morte das flores, devido às chuvas ácidas, comprovam esse fato. Segundo ele, alguns gases têm uma ação planetária, por exemplo, rarefazendo o ozônio da atmosfera. Os diversos poluentes: O SO2 (dióxido de enxofre) – Causam problemas respiratórios e atacam por sua acidez, os vegetais, a vida aquática e os materiais; os óxidos de azoto (NOX): Este também tem os mesmos efeitos que o anterior, agindo também como um oxidante, o que causa o definhamento das florestas. Mais de 70% dos óxidos de azoto provêm dos transportes automóveis. O Oxido de carbono (CO): Combinando-se com a hemoglobina do sangue, este impede o transporte do oxigênio. Em altas doses, pode provocar dores de cabeça, vertigens, perturbações sensoriais e acumular lipídios no sangue, acarretando o entupimento das artérias; O chumbo: A toxidade do chumbo é bem conhecida: fator de perturbações nervosas, principalmente entre as crianças, anemia; As partículas (poeiras, aerossol, fumaças negras): Inalamos todos os dias partículas de todos os tipos, principalmente aquelas cuja dimensão e inferior a cem centésimos de milímetro, que penetram então na caixa torácica e até se não mais finas, nos alvéolos pulmonares. Existe, ainda, os hidrocarbonetos e solventes (compostos orgânicos voláteis: COVS): Na presença da luz do sol, estes compostos reagem com óxidos de azoto e produzem ozônio ou outros oxidantes poderosos. Também causam muitos problemas a saúde e os vegetais. Eles são responsáveis pelos odores; O ácido clorídrico: Nem sempre citado entre os ´´grandes`` poluentes. Esse ácido proviria essencialmente das grandes usinas de incineração do lixo doméstico. Da presença nos lixos de um plástico clorado, o PVC (responsável por cerca da metade do gás clorídrico produzido); Poluentes perigosos em pequena quantidade. Além desses poluentes mencionados pelo autor, outas substancias são emitidas em pequenas quantidades por outras fontes: Indústrias, instalações de combustão, veículos, tratamento das poluições e dos dejetos; Poluição radioativa: Além da radioatividade natural proveniente do solo a também a artificial (muitas surgiram por experimentos americanos ou soviéticos de bombas atômicas). Segundo ele, ainda não há uma concordância sobre as causas dos danos nas florestas: Com certeza a poluição do ar, mas também provavelmente os parasitas, a secura e o estado dos solos. Há também o desmatamento maciço. O autor destaca ainda, que o ozônio presente em alta altitude na atmosfera protege-nos dos raios solares ultravioleta. Esses raios são perigosos ao homem, os animais, vegetais e o plâncton
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marinho. Os CFCS, presentes nas bombas de aerossol, fluidos de refrigeração, espumas plásticas e solventes. Tem uma grande responsabilidade no buraco de ozônio e também no efeito estufa. O autor infere, pois, que a grande dificuldade é encontrar produtos de substituição inofensivos. Sequencialmente, destaca que o aumento de CO2, de metano, dos CFCs provocam um aquecimento progressivo da atmosfera, que pode modificar os climas e erguer o nível dos mares. Além disso, afirma que muitas coisas devem ser mudadas, como: economizar energia. O crescimento do tráfego de automóveis e a explosão dos transportes de mercadorias por estradas parecem ignorar o desafio energético mundial. Os transportes férreos e os públicos ficam só em promessas. Essas energias renováveis, segundo o autor, não devem ser subestimadas como as vezes o são. A energia solar tem grande potencial para gerar energia. Além disso, afirma que, se a “morte das florestas” ou o “buraco de ozônio” simbolizam a ação a longa distância da poluição do ar, existe igualmente muito interesse recentemente pela poluição no interior dos edifícios e veículos, dentro dos quais, é verdade, passamos 80% de nosso tempo. Ele destaca que o SO2 e as poeiras encontram-se menos dentro de espaços fechados do que fora deles; Os óxidos de azoto, em compensação, são superiores nas cozinhas (fogões a gás); e que os compostos orgânicos voláteis são muito preocupantes, pelas colas, ceras, pelos produtos de manutenção dos assoalhos, desodorizantes, inseticidas, tintas, produtos de tratamento da madeira etc. Para ele, o ruído é uma noção relativa é claro que sua intensidade conta, mas também sua frequência (grave ou agudo), sua duração, seu caráter inesperado etc. Como exemplo cita que uma música agradável para alguns pode ser insuportável para outros. Esse vem sendo um problema que não tem tanta prioridade, mas que pode ter consequências como: Fadiga auditiva, déficit de audição. Esses muitas vezes são de origem profissional. Mas ainda podem causar problemas cardiovasculares, no sistema digestivo e até psiquismo. Sequencialmente, afirma que alguns países criaram taxas e multas para ruídos como a do avião. Ao ponto que os ruídos podem ter várias origens como; ruídos de indústria, bares, discotecas ou restaurantes, canteiros de obras, ruídos domésticos (cães, aparelhos eletrodomésticos, elevadores etc.). Devendo haver um esforço em produzir produtos com menos ruídos, além de proibições de certas atividades em certos locais ou em certas horas. Segundo o autor, existe muito lixo, o doméstico, o de automóveis (restos, óleos, pneus). Ao ponto que os meios para reciclar esse lixo é separar, produzir adubo, a incineração (que vendem o calor e até eletricidade) etc. Afirma que na realidade cada processo de tratamento tem as suas vantagens, os seus inconvenientes, e em suma, os seus meios-termos. Onde a reciclagem de certos lixos pode também permitir, é claro, aliviar o volume a ser despejado e evitar o preenchimento acelerado de bons sítios. Reciclando tudo o que é possível, alivia-se a quantidade de lixo. Segundo ele, as indústrias são as que mais provocam dejetos perigosos. Ao ponto que os dejetos agrícolas têm sua importância nesse quadro, eles geralmente vão para a terra o que polui as aguas. Mas também tem caso da “vaca louca”, causada provavelmente pela alimentação de dejetos, onde os animais se alimentavam. Há, também, os dejetos radioativos que podem provir dos laboratórios. Onde a solução mais considerada para esses dejetos de vida longa é, após esfriamento na superfície durante cerca de
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dez anos. Enterrá-los a grande profundidade em camadas geológicas adequadas: sem circulação de água, sem risco sísmico etc. Para ele, já estamos produzindo produtos verdes, então já temos opções. Mas um ruim por um pior. Não basta estimular bons produtos, deve-se também proibir os produtos nocivos. Quando se proíbe um produto, a dificuldade é garantir a inocuidade dos produtos de substituição, a fim de não trocar. Onde uma das principais imposturas é, alias, fazer com que se acredite que “natural” equivale a “inofensivo”. Destaca-se que nós precisamos respeitar nosso meio ambiente a biodiversidade bela de nosso mundo poios se trata de uma questão de sobrevivência. Cada coisa que fazemos tem uma consequência, pois cada coisa na natureza depende de outra inclusive nós. E uma cadeia de vida. O autor afirma que o mundo vivo é uma usina microbiana formidável. Onde mais de um terço das espécies estão ameaçadas por ser sua exploração abusiva. Para deles se tirarem produtos úteis, de beleza ou prestígio, ou ainda por prazer, o homem explorou as espécies de maneira descontrolada. O desaparecimento de uma espécie acarreta o desaparecimento de outras. Para ele, os meios naturais são de todos (e de ninguém...), e sua vigilância é, portanto, uma tarefa difícil. Sendo necessário politicas severas para proteger o nosso meio ambiente e em caso de insuficiência dos poderes públicos o cidadão deve, portanto, mobilizar-se. Afirma, por conseguinte, que a educação tem seu papel de grande importância, a formar cidadãos que lutem por essa causa pois se não partir de cada um de nós essa tarefa será bem árdua. Ao ponto que a terra é uma o mundo não. Mas cabe a nós cuidar pois trata-se de nosso futuro. De forma geral, o autor não se fixa a nenhuma escola ou corrente especifica, ele usa todo seu aprendizado e pesquisas para nos situar, esclarecer e fazer com que nos envolvamos com o tema de uma forma coerente. Este livro é indicado a todos os públicos, pois seus assuntos envolvem toda a sociedade. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015
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RESENHA MARTINS50, Yasmim Darlianny Oliveira Martins; FARIAS51, Mayara Ferreira de. Resenha de SATO, Michèle. Educação ambiental. Editor: Santos, J.E. São Carlos, RiMa, 2004 A autora Michele Sato é graduada em Biologia (Faculdade de Santo Amaro, SP), Mestre em Ciências Ambientais, subárea Educação Ambiental (University of East Anglia, Inglaterra) e Doutora em Ciências, Área de Concentração em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos, esta profissionalmente vinculada ao Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso e credenciada no PPG- ERN; UFSCar, atuando na linha de pesquisa em Educação Ambiental. O livro intitulado trata da educação ambiental no dia-a-dia, fala da educação para a sociedade, os planos de ação, recursos, objetivos, metodologias, desafios e princípios, agenda 21, desenvolvimento sustentável, técnicas e metodologias em educação ambiental, a educação ambiental nas universidades, os livros didáticos e muitos desafios e perspectivas da educação ambiental. O capitulo 1º “Educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global trata da educação ambiental deve gerar, com urgência, mudanças na qualidade de vida e maior consciência de conduta pessoal, assim como harmonia entre os seres humanos e destes com outras formas de vida. A autora destaca os princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global, sejam eles: 1. A educação é um direito de todos: somos todos aprendizes e educadores. 2. A educação Ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em seus modos formal, não-formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade. 3. A educação ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações. No tocante ao Plano de ação, ela destaca que se deve transformar as declarações deste Tratado e dos demais produzidos pela Conferencia da Sociedade Civil durante o processo da Rio – 92 em documentos a serem utilizados na rede formal de ensino e em programas educativos dos movimentos sociais e de suas organizações. Já ao que se refere aos Recursos, infere que todas as organizações que assinam o presente Tratado se comprometem a reservar uma parte significativa de seus recursos para o desenvolvimento de programas educativos relacionados a melhoria do ambiente e a qualidade de vida. No 2, o capítulo trata da “Educação Ambiental”, enfatizando que o desenvolvimento da consciência ambiental, em nível internacional, pode ser traçado ao longo das duas últimas décadas, com base em uma série de eventos, como as Conferencias de Estocolmo e a de Tbilisi que originaram as primeiras manifestações dentro da Educação Ambiental. Aborda, ainda, que a qualidade de vida em nosso planeta tem sido rapidamente deteriorada, com o comprometimento não somente dos aspectos físicos ou biológicos, mas principalmente dos fatores sociais, econômicos e políticos. Destaca, por conseguinte, que diversos autores definiram os principais objetivos da Educação Ambiental. Alguns se basearam na taxonomia educacional de Bloom (Sato, 1992), e 50 51
Aluna do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente da UFRN/EAJ.
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dentro da totalidade do ambiente, seja ele construído, natural, social, espacial ou temporal, Smyth (1995) classificou tais objetivos em: Sensibilização Ambiental Processo de alerta, considerado como primeiro objetivo para alcançar o pensamento sistêmico da Educação Ambiental. No 3º capitulo, trata de desafios e perspectivas da Educação Ambiental, afirmando que a diversidade de objetivos da Educação Ambiental coincide com os princípios da própria Educação, dificultando a proposição de metodologias adequadas para sua implementação. Em consequência da convicção de que a Educação Ambiental está relacionada somente a ecologia, os conteúdos a serem desenvolvidos são de cunhos científicos difíceis de ser operacionalizados em sala de aula. Trata, sequencialmente, sobre os aspectos favoráveis e desfavoráveis dos Livros Didáticos, os quais são: Mesmo nos locais com excelentes recursos pedagógicos, os livros didáticos são ainda a maior fonte de informação; A linguagem dos Livros didáticos e acadêmica, difícil e não faz parte da realidade dos alunos. Ao ponto que, os livros didáticos podem determinar os métodos, os conteúdos e as dimensões do processo educacional, mas o valor de qualquer texto está na responsabilidade do professor, que deve decidir como utilizar um Livro Didático mais efetivamente. No capítulo 4 trata da “Educação Ambiental nas Universidades”, a autora destaca que a Educação Ambiental nas Universidades deve romper com os modelos tradicionais de educação e: Encorajar a aceitação da interdisciplinaridade para a solução dos problemas ambientais, em todas as áreas de desenvolvimento, sejam elas das Ciências da Educação, Ciências Sociais ou Naturais. No capítulo 5 trata de Técnicas e Metodologias em Educação Ambiental, inferindo que não há uma técnica especial para a disseminação da Educação Ambiental, mas são recomendáveis: A coerência e a boa seleção dos materiais didáticos, particularmente dos Livros didáticos; A promoção da discussão nas salas de aulas, debatendo os problemas conflitantes em vez de ignora-los. No capítulo 6, trata-se da Agenda 21, afirmando que a Conferência das Nações Unidas para o meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) ou simplesmente Eco-92 ou Rio-92 foi realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. Ao ponto que Políticos, cientistas, pesquisadores, estudantes e professores, entre outros, participaram do evento para discutir os compromissos consensuais entre 179 países, em relação ao ambiente e a um desenvolvimento mais sustentáveis do mundo para o Século XXI (daí a razão do nome’’ Agenda 21’’). O Princípio 1 refere-se ao fato de que os seres humanos constituem o centro da preocupação do desenvolvimento sustentável. Todos têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza. O Princípio 2 aborda que, de acordo com a Carta das Nações Unidas e dos princípios de direito internacional, os Estados têm o direito soberano de aproveitar os próprios recursos seguindo suas próprias políticas ambientais e de desenvolvimento, e a responsabilidade de garantir que as atividades realizadas dentro de suas jurisdições ou controle não causem danos ao ambiente de outros Estados ou de áreas fora dos limites de suas jurisdições nacionais. No geral, o livro e indicado para estudantes e em especial para profissionais na área do meio ambiente e a linguagem é clara e objetiva. Enviado em 30/12/2014 Avaliado em 10/02/2015