COLETIVA PINTURA CONTEMPORÂNEA EBA
A exposição coletiva “Pintura Contemporânea EBA”, visa contemplar a produção artística produzida no curso de Pintura da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a partir de recortes de pesquisas particulares de estudantes da graduação. É através da diversidade que a exposição acontece, promovendo um percurso pelo o interesse de cada um dos onze artistas presentes na exposição, suas inclinações e referenciais. Os artistas são: Ana Paula Lourenço, Antonio Amador, Claudia Lyrio, Gaya Rachel, Karenina Marzulo, Lucas Lugarinho, Maíra Coelho, Marcela Cantuaria, Taís Rodriguez, Thaieny Dias e Vinícius Gerheim.
Organização e Curadoria de Thaieny Dias
Em uma exposição coletiva de Pintura esperamos encontrar poéticas diversas e a afirmação, sempre necessária, de que as cores e matérias, as referências e as questões particulares apresentadas nos surpreenderão. Sobretudo, quando a exposição é de jovens artistas mergulhados em seus processos de criação e na construção de uma individualidade envolvida e comprometida com sua época e as possibilidades de um meio impregnado de tradições. A figuração perpassa suas pesquisas, renovada e interpretada pelo filtro da fotografia, frames e pixels. Criticando ou poetizando, expressando um espaço atravessado por imagens de outras mídias, esses pintores elaboram e tecem, com o gesto e a tinta, corpos e objetos, conceitos, palavras e sonhos que permanecem e se afirmam como Pintura. Suas múltiplas propostas possuem uma unidade que se revela em uma atmosfera que perpassa a exposição. E a transforma em um encontro onde o talento e a sensibilidade estão unidos a um fazer pensante que embasa e fundamenta suas criações. Sim, nos surpreenderemos. A Pintura possui essa capacidade de construir novas visualidades através de olhares desses novos pintores comprometidos com suas próprias poéticas e com o mundo, ou um mundo.
Lourdes Barreto
Ana Paula Lourenço
A Pintura-Objeto “O Vento Passa Pelas Árvores e Sussurra Risadas ao Pé do Ouvido” é parte da pesquisa desenvolvida pela artista sobre o “eu poético”. Acreditando que a arte não está apenas nos espaços institucionalizados para tal e sim em qualquer lugar, desde um arranha-céus até uma singela folha esmagada no asfalto, este trabalho foi confeccionado a partir de folhas, galhos e flores colhidos pela vizinhança onde reside e o filtro de sonhos e ninho trançados pelas mãos da própria artista, com as sutilezas e incongruências do fazer humano. Ao utilizar objetos “não artísticos” cotidianos, é possível evocar no expectador suas próprias memórias, o que, somado às provocações geradas pela obra, engrandecem-nos ambos, em suas potências sensibilizadoras.
ANA PAULA LOURENÇO O VENTO PASSA PELAS ÁRVORES E SUSSURRA RISADAS AO PÉ DO OUVIDO ÓLEO SOBRE FOLHAS SECAS, GALHOS E LÃ 40cm (LARGURA) x 25 cm (PROFUNDIDADE) x 2m (ALTURA) 2014
Antonio Amador
A poesia no ordinário. Há poesia no ordinário? É uma série de pinturas produzidas a partir de fragmentos de imagens da internet, frames de vídeos ou do celular do próprio artista. Busca-se uma interpelação entre imagem do cotidiano, as reinterpretações dessas imagens, com a pintura, e o nome dado às pinturas (alguma ação e a hora que essa imagem foi “capturada”). Retorna a afirmação e a pergunta inicial. Há poesia no ordinário? A poesia no ordinário.
ANTONIO AMADOR SEDE ÁS 1:22 ÓLEO SOBRE TELA 60 x 80cm 2013
Claudia Lyrio
O trabalho "Sem Título" apresentado por Claudia Lyrio gira em torno do conjunto de questões que a artista vem pesquisando em sua pintura, tais como a combinação de imagem e palavra, o processo realizado a partir de fundos escuros e a investigação da cor, em especial das possibilidades do preto e suas relações com as demais cores.
CLAUDIA LYRIO SEM TÍTULO MISTA SOBRE TELA 100 x 100 cm 2015
Gaya Rachel "De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo. Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um simesmo. Individualmente ele não existe. Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas veem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio." Clarice Lispector
GAYA RACHEL GALINHA MISTA SOBRE PAPEL DUPLEX 113x77 cm 2014
Karenina Marzulo Mesmo com a evolução tecnológica e científica algo que evolui ainda muito lentamente são as relações humanas. As pessoas humanizam animais e desumanizam pessoas. A pintura a óleo sobre tela da artista mostra de maneira sintética essa forma de tratamento relacional entre pessoas e seus animais.
KARENINA MARZULO CARA DE UM FOCINHO DA OUTRA ÓLEO SOBRE TELA 40 cm x 30 cm 2014
Lucas Lugarinho Este trabalho faz parte de uma série de quadros que investiga as imagéticas da violência executado pelo artista Lucas Lugarinho. Os signos de estranheza e humor se mesclam com a seriedade e o ocultismo na pintura manejada no suporte de papel, tratando-se de uma espécie de pintura de guerrilha. A decadência do suporte e o colorido da manufatura nos traz uma dualidade acerca de um possível discurso contra ou a favor da cena. É trabalho do artista tomar partido do que propõe como imagem e leitura de sua obra, porém igualmente é trabalho do mesmo oferecer questões e aberturas às imagens que produz.
LUCAS LUGARINHO KKKTookMyBBoporquinho AwAY ÓLEO SOBRE PAPEL KRAFT DIMENSÕES VARIAVEIS 2014
Maíra Coelho A pintura “Autorretrato em dourado" faz parte da pesquisa desenvolvida por Maíra Coelho "O doloroso oficio de ser sensivel"que, através de associações simbólicas particulares, busca representar em suas pinturas o estado sentimental e psicológico de uma sensibilidade que transita entre a apatia e uma intensidade emotiva, dois extremos que ao mesmo tempo estão juntos no pequeno espaço da linha que divide o aceito normal da instabilidade mental, e como essa “fronteira” é variável e tênue. "Por ser uma pesquisa muito autobiográfica, resolvi que deveria ter um autorretrato e como eu me portava com esse problema sobre a sensibilidade, logo, me fiz encarando o expectador, um pouco rígida, porem ainda com a imagem se esvaindo em alguns momentos e se confundindo com o fundo, a rigidez e o olhar para fora da pintura seria para representar uma tentativa de se manter inabalável com as influencias externas, como uma armadura ou mascara, o fundo , mais fluido e integrado serviria para mostrar o conflito interno que estava sendo ignorado." - Diz a artista
MAÍRA COELHO AUTORRETRATO EM DOURADO MISTA SOBRE TELA 81,5 x 95 cm 2014
Marcela Cantuaria
A pintura Abraço Noturno, qual faz parte da série “Lembrança de mil anos“, revela parte da pesquisa que investiga arquétipos do estranho x familiar, trazendo personagens em anonimato que figuram na composição dentro de um cenário misterioso onde busco remeter a ancestralidade através de elementos da natureza crua.
MARCELA CANTUARIA ABRAÇO NOTURNO ÓLEO SOBRE TELA 100x80 cm 2015
Taís Rodriguez Com as novas multifunções da mulher moderno-contemporânea, os antigos arquétipos femininos foram sendo sufocados, como Clarissa Pinkolas Ester cita na introdução de seu livro Mulheres que correm com os lobos, ela diz: “A fauna silvestre e a Mulher Selvagem são espécies em risco de extinção.” A pressão sofrida pela vida moderna faz com que mulheres sucumbam a própria exaustão do ser, do ser boa mãe, do ser boa amante, do ser trabalhadora, do ser provedora, do ser dona da casa, do ser exemplo, do ser tudo... Tudo ao mesmo tempo, tornando a mulher escrava dos deveres rotineiros. O Sagrado feminino resgata a mulher sufocada nessa tempestade psicológica, incentivando-a a buscá-la na parte mais profunda de sua psique. E é nessa busca que a artista desenvolve sua pesquisa onde ela nos incita a desperta aquela mulher que ouvia a voz intuitiva de seu Self, aquela que dançava livre na floresta, mesmo que para isso ela precisasse pular janelas na calada da noite, aquela mulher que enxerga a beleza de dentro para fora e não de fora para dentro, não se importando assim com inalcançáveis padrões de beleza, porque ela ama seu corpo do jeito que é, porque ela é a própria vida, ela é a própria criação. Os caminhos do Sagrado Feminino desperta o Arquétipo da Mulher Selvagem adormecido em nós. Ele nos apura os sentidos para nossos instintos naturais de proteção, intuição, percepção, amor a si mesmo, amor ao próximo, nos despertando para as entranhas do autoconhecimento. A mulher selvagem é a união dos sete arquétipos das Deusas descrita por Jung, ela é a solitária e indomável Arthemis, ela é a luz da sabedoria de Atenas, ela é o fogo da lareira de Hestia, ela é a fidelidade de Hera, ela é a inocência, o oculto e o mistério das trevas de Perséfone, ela é o principio criativo, a sexualidade, o amor e a beleza de Afrodite, ela é a entendedora dos ciclos da vida de Demeter. Sim ela é também tudo isso ao mesmo tempo, mas agora ela é empoderada, ela não é mais tudo ao mesmo tempo porque TEM QUE SER ou porque é o seu DEVER, ela é porque é, porque flui, porque sua natureza é selvagem, e como tudo que é selvagem possui suas várias faces.
TAÍS RODRIGUEZ INSTINTO MISTA SOBRE MADEIRA 80 cm X 65,5 cm 2014
Thaieny Dias O corpo é colocado como um objeto que se transforma, deforma e adquire diversos aspectos através dessas mudanças, buscando refletir a partir da essência e das conotações que essas imagens fornecem ao espectador. Ao colocar o corpo no limite de sua existência chego a tentar desmaterializá-lo e descaracterizá-lo, mas há índices que denunciam que é uma pessoa naquela imagem, assim experimento até onde ele pode ser reconhecido e até onde ele pode ser transformado através de experimentações deixando esse corpo no limiar entre o figurativo e o abstrato, o trabalho envolve principalmente fotografia e pintura.
THAIENY DIAS TRANSFIGURADO 1 ACRÍLICA SOBRE TELA 135 cm x 100 cm 2014
Vinícius Gerheim O artista busca estabelecer relações entre figura e atmosfera através de pinturas, vídeos e fotografias, tratando o gesto como elemento formal expressivo que em relação ao espaço, apresenta a fisicalidade dos sentimentos. Na pintura "Tronco", tendo como parâmetro as cores de um santinho de Santo Expedito, o autor apropria-se do imaginário religioso de seu passado para explorar a oposição entre urgência e preguiça.
VINÍCIUS GERHEIM TRONCO ÓLEO SOBRE TELA 60x80cm 2015