Revista femme x1a

Page 1

FEMME ELAS OPTARAM POR

NÃO!

É POSSÍVEL SER MULHER, FELIZ E COMPLETA E NÃO SER MÃE?

´

PORQUE AGORA E A NOSSA VEZ GORDOFOBIA O PRECONCEITO VELADO MULHERES RELATAM COMO É VIVER EM UMA SOCIEDADE QUE PREDOMINA UM PADRÃO DE DE BELEZA BELEZA PADRÃO ACEITÁVEL

PRAZER,

CAROL BANDIDA

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM MC CAROL AUTORA DE

R$9,90

DELAÇÃO PREMIADA E 100% FEMINISTA PAG.1


É POSSÍVEL SER MULHER, FELIZ E COMPLETA E NÃO SER MÃE?

R$9,90

PAG.2



´

S U M a R I O EDITORIAL .06 O8. COLABORADORES NOIZ

ELAS OPTARAM PELO NÃO! .10

Por Stefani Paraiso

Amor & Sexo

14. mulheres Livres Por Stefani Paraiso

Desconstruindo Tabus

Invisibilidade Trans .16 Por Tatiane Araújo

LACRE

GORDOFOBIA

Poder das manas - coluna

18. O PRECONCEITO VELADO Por Tatiane Araújo

Empoderamento feminino:Superando os tabus acerca do corpo gordo .23 Por Uanna Mattos


Você do seu jeito

Mulheres da vida real (Ensaio) .24 Por Revista FEMME

A cara delas

28. PERFIL

Por Revista FEMME ARTE NA RUA

MC CAROL BANDIDA .42 A rua é delas 48. Mulheres e cores Por Halitane Rocha

Por Halitane Rocha

Donas do Mic

Feminine Hi-fi, o poder das mulheres Sound System! .49 Por Halitane Rocha

50. ROLES

Por Guilherme Lesnok GRANA

51. ELAS POR ELAS Por Tatiane Araújo

Mulheres de negócios

Manutenção das Manas .55 Por Flavia Pacheco


As histórias d e l a s A

& nossas

revista Femme surgiu da necessidade de abordar a temática “empoderamento feminino” e, pensando nisso, embarcamos no nosso maior desafio: produzir conteúdo que inspire mulheres. Colocamos a mão na massa e consultamos o nosso público, as mulheres, por meio de formulário online para que elas pudessem citar assuntos que gostariam de ler e fossem pouco abordados no mercado. Nosso amor e cuidado pelo projeto foram tomando forma a cada matéria idealizada, elevava ao pensamento que isso que estamos vivendo hoje é um momento histórico e mais para frente vamos sentir orgulho de ter feito parte disso. Escrever esses textos se tornou um trabalho coletivo de discussão, nenhuma temática era fácil e todas necessitavam de reflexão, cada detalhe desde o enfoque, título e foto eram importantes e assim surgiram algumas dificuldades, não bastava apenas falar para as mulheres sobre empoderamento feminino, era necessário ensinar e, deste modo, nos aprofundamos sobre como se dá a construção de gênero em nossa sociedade há cada vivência. A Femme abriu espaço de fala para mulheres reais, não queríamos apenas falar sobre elas, ansiávamos por tê-las retratadas nas reportagens. O resultado disso são textos trabalhados em várias nuances de entendimento e envolvimento com o leitor. A nossa matéria de capa, ‘Prazer, Carol Bandida’, aconteceu depois de ampla insistência minha e apoio do grupo, queríamos mostrar mulheres que utilizam a música para empoderar outras mulheres e assim surgiu o nome da Mc Carol. Além de falar sobre o tema, a cantora falou sobre racismo e gordofobia, outra pauta recorrente nessa edição da Femme, falamos a respeito desse preconceito disfarçado de preocupação com a saúde da mulher gorda que muitas vezes fomenta o ódio. Batemos um papo com a jornalista, Uanna Matos, também sobre a questão na coluna: “Poder das manas”, e desta maneira o assunto rendeu e virou um ensaio fotográfico que mostra mulheres reais que aprenderam a amar os seus corpos como são. A história é delas e nossa, e ainda existem muitas que não puderam estar representadas nestas páginas, eu aqui me desafio a nunca parar de falar para mulheres e aprender com elas. Gratidão para aquelas que dividiram suas lutas e histórias para que essa revista se tornasse real e é uma honra compartilhar isso com vocês. Ame quem você é! Boa leitura. Tatiane Araújo

PAG.06


Tatiane Araújo:

Editora Chefe e

Repórter

Stefani Paraíso:

Editora assistente e repórter

Flavia Pacheco

Repórter e Revisora

Halitane Rocha Repórter

Guilherme Lesnok repórter

Adriana Alves: Orientadora

Colabora dores Colaboradores Uanna Matos Nicolli Emilin Thainan Henrique Amanda Santos

PAG.07


Colabora dores

Colaboradores Stefani Paraíso: Editora assistente e repórter

Tatiane Araújo: Editora Chefe e Repórter

Flavia Pacheco Halitane Rocha Repórter

PAG.08

Repórter e Revisora


Guilherme Lesnok repórter

Uanna Matos

Nicolli Emilin Colaboradora

Colaboradora

Amanda Santos Fotógrafa do ensaio “Mulheres da Vida Real”

Thainan Henrique Projeto Gráfico PAG.09


NOIZ

Elas optaram pelo

D

NÃO

Mulheres e maternidade sempre estiveresde pequenas as mulheres ganham bonecas e am muito próximas, mas nem todas elas são ensinadas a brincar de casinha, mamãe e filsão despertadas pelo extinto maternal hinha e, de forma inconsciente, ou não, são preparadas para o futuro: a maternidade. Enquanto os homens Por Stefani Paraiso assumiam o sustento da família, as mulheres tinham a função de procriar e cuidar dos filhos e do lar, mas os tempos mudaram e muitas delas já não idealizam Para Rachel Leydiane, de 23 anos, que tem planos de ser fotógrafa, a situação é parecida, ela também não se essa vida, muitas delas não querem ser mães. identificava com a maternidade desde criança. nem quando criança, brincar de mamãe e filhinha nunca foi minha brincadeira favorita, ao contrário das outras meninas que viviam com suas bonecas dando mamadeira e ninando (risos) ”. Mas esse não é um pensamento somente de mulheres mais jovens, já que Lucy Silva, de 51 anos e Ivonildes Messias, de 29 anos, também não sentem a necessidade da maternidade. O motivo das duas para a decisão são semelhantes. Lucy viu a mãe trabalhar muito para cuidar dela e de seus irmãos e, Ivonildes, que prefere ser chamada de Mel, sempre levou uma vida muito dura e começou a trabalhar desde criança, seus pais sempre foram muito humildes e não podiam ajudá-la. Ela está tentando terminar a faculdade de jornalismo e acredita que seja até desumano condenar uma criança a ter uma vida difícil como a dela, além disso, ela também não quer abrir mão dos seus sonhos para cuidar de outra vida que dependeria exclusivamente dela. Créditos: Stéfani Paraíso

É assim para Rachel, Camila, Fernanda, Ivonildes e Lucy. Todas elas optaram por não serem mães e cada uma tem a sua história e seus diferentes motivos para tomarem essa decisão que, na maioria das vezes, não é bem aceita. Camila Rosa tem 22 anos e é analista de suporte júnior, ela percebeu que não queria ser mãe quando as meninas do seu ciclo de amizade começaram a ter filhos, ela viu que não queria o mesmo, que não era sua realidade, nem seu sonho. Além disso, desde criança ela nunca gostou muito de brincar de boneca e fazer o papel de mamãe, na verdade gostava de brincar de carrinho. PAG.10

“Nunca senti vontade de ser mãe, nunca aflorou em mim esse tal extinto materno”

Rachel Leydane, 23 anos

Ela adora crianças, mas não conhece esse desejo maternal que todos falam. “Apesar de adorar crianças, nunca despertou em mim esse desejo maternal que falam que a maioria das mulheres têm. Por outro lado, eu nunca casei, talvez isso acabe influenciando meu pensamento. E digo pensamento porque não gosto de tratar como decisão, uma vez que não fiz nenhuma operação que me impedisse de ter um filho”. Fernanda Caldeira tem 22 anos e é estudante de direito, o motivo para não querer ter filhos? Liberdade! “Eu


NOIZ

COMO ASSIM VOCÊ NÃO QUER TER FILHOS?

sempre quis ter uma carreira muito sólida, terminar os estudos, abrir um escritório meu, ser uma grande advogada ou então, até mesmo trabalhar em um grande escritório. Sempre prezei muito a minha liberdade, poder ir para onde eu quiser, a hora que eu quiser, e um filho, com toda certeza do mundo atrapalharia isso, então não! ” Não é só o desejo de não ter filhos que essas mulheres têm em comum, a falta de compreensão em relação a suas vontades também é compartilhada. Uma vez, Mel estava em uma consulta no gine-

cologista e comentou que se um dia ela mudasse de ideia em relação a ter filhos e estivesse com a vida econômica estabilizada, ela preferia adotar uma criança. “Se Deus lhe deu a bênção de engravidar, então você deve ter um filho seu”, foi o que ela escutou de seu médico. Quando Rachel conta sobre o seu d um grande absurdo eu não querer ser mãe, ela acha que eu preciso de uma “continuação”, que preciso ter um filho para não ficar sozinha no mundo, que filhos são importantes e essenciais na vida de qualquer mulher”. “Mas por que? Mas você é mulher, você tem que ter um filho. E quando você estiver velha, quem vai cuidar de você? Ser mãe é uma coisa maravilhosa, toda mulher precisa disso, é uma coisa natural. Isso é coisa da idade, com o tempo sua cabeça muda. Ser mãe é uma benção. Você vai se arrepender.” Esses são apenas alguns dos questionamentos e afirmações que todas elas já ouviram ao comentarem que não queriam ser mães. Nos relacionamentos afetivos também não é diferente, na época em que Fernanda namorava, o fato

“Acho que com o passar do tempo, a mulher vai querer ser mais bem-sucedida do que mãe” Fernanda Caldeira, 22 Anos

Créditos: Stéfani Paraíso

PAG.11


NOIZ

g i

r dela não querer ser mãe era motivo de briga entre o casal, já que ele queria ter filhos. Já Camila sente a dor de falar para sua mãe que ela não quer ter um filho, porque sua mãe já é de idade e tem o sonho de ser avó, mas é um desejo que ela não poderá realizar. Mas afinal de contas, por que a pressão para ter um filho ainda é grande na vida das mulheres? Para a socióloga Norma Viera, de 45 anos, isso ainda acontece em razão de vários fatores, um deles seria porque mulheres são os seres que podem dar continuidade a espécie: “A pressão existe pelo fato de que a mulher ainda é quem pode, por excelência, carregar no ventre o novo ser humano que dará continuidade à espécie. É sutil a percepção, pois, implica as questões da religião, da moral social da mulher, super mãe, amiga, companheira, dona de casa, esposa. Uma lista de predicados quase sem fim que a mulher carrega mesmo hoje, mas esquecemos que essa mulher na maior parte das vezes trabalha, deseja crescer profissionalmente, fazer uma carreira, entre outros aspectos; e filhos requerem tempo e dedicação. Pressionar a mulher para ter filhos faz a mesma parar e pensar no seu papel social desde Eva - Crescei e multiplicai-vos.” Para a socióloga, o empoderamento é uma realidade e as mulheres já sabem disso. “Procriar e educar exige uma dose generosa de abrir mão muitas vezes

l

p o

we r

PAG.12

Créditos: Stéfani Paraíso


de si mesma. A sociedade e a própria mulher já sabem que seu empoderamento é uma realidade não só de aspectos sociais, mas também econômicos”. Mais uma coisa em comum nessas mulheres? Todas elas acreditam que optar por não ser mãe tem se tornado uma tendência cada vez maior e que elas não precisam da maternidade para se sentirem felizes e realizadas. Fernanda acredita que com o tempo as mulheres serão menos mães. “A mulher está ficando muito independente, focando muito na sua carreira, nos seus estudos e não está sobrando tempo para maternidade, na minha percepção a tendência é aumentar, acho que, com o passar do tempo, a mulher vai querer ser mais bem-sucedida e menos mãe”. Rachel acredita que a independência alcançada pelas mulheres tem uma influência. “Acho que as mulheres estão se tornando cada vez mais independentes, alcançando

Quando a Femme questiona sobre o que essas mulheres fariam caso engravidassem por acidente, as respostas são variadas, mas algumas delas optariam pelo aborto, mesmo ainda não sendo legalizado em nosso país. Camila é uma delas. “Eu não saberia o que fazer, de verdade, pois neste momento iria atrapalhar minha vida profissional e meus estudos. Creio eu que, mesmo que o aborto seja ilegal no Brasil, eu procuraria ajuda desse tipo, muitas pessoas criticam quando eu falo isto”. Para Mel o aborto também seria uma opção. “Se eu engravidasse hoje provavelmente abortaria. Eu sempre tomo cuidado quando estou saindo com alguém, não coloco a minha saúde

“Existem coisas mais interessantes e mais essenciais na vida do que a maternidade”

Leydiane, 23 Anos em perigo e nem quero correr o risco deRachel engravidar para não ser obrigada a tomar medidas drásticas”. Já Fernanda sabe que a gravidez acabaria com seus planos, mas não é a favor do aborto. “Eu não sou a favor do aborto, embora eu seja uma pessoa que não quer ter filhos, eu me previno, tomo anticoncepcional, uso preservativo, aproveito de todos os meios para evitar uma gravidez, caso isso acontecesse eu teria que bolar um outro plano, mas isso não me deixaria feliz”. Nem todas as mulheres querem ser símbolos de maternidade, pelo contrário, algumas delas querem se tornar símbolo de liberdade, liberdade para poder escolher se quer ou se não quer ser mãe, e se não quiser, saber que sua escolha será respeitada, já que ter um filho não é uma obrigação, e sim uma opção.

Créditos: Stéfani Paraíso

coisas e lugares que nunca tinham conquistado e percebendo que De acordo com a socióloga, isso não é uma tendência, mas sim uma realidade. “Os horizontes se ampliaram: podemos ser engenheiras, advogadas, médicas, palestrantes, professoras, juízas de tribunais, bandeirinhas e jogadoras de futebol, empresárias, empreendedoras. São muitas atividades assumidas pelas mulheres”. De fato, a falta de interesse pela maternidade se tornou uma realidade, segundo dados do Censo Demográfico de 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média do número de filhos teve uma queda extremamente relevante, passou de 6,1 para 1,9 em 50 anos; ainda segundo o Censo, a taxa de fecundidade é menor conforme o grau de instrução e de rendimento da mulher. PAG.13


AMORS E X O

NOIZ

&

Mulheres Livres Imagine mulheres livres que podem optar por terem outros tipos de relacionamentos, não só monogâmicos. Elas existem, estão entre nós e vivem um poliamor.

Por Stefani Paraiso

Poli = significa muitos ou vários. Em uma definição simples, é a prática, o desejo ou a aceitação de ter mais de um relacionamento íntimo simultaneamente com o

Primeiras experiências Eu acho que indiretamente sempre conheci o poliamor, em diversas situações da minha vida eu me vi envolvida por duas ou até três pessoas ao mesmo tempo, mas na minha cabeça não era tão fácil aceitar que eu gostava de fato e acabava optando por ficar só com um, já deu certo, mas eu senti falta dos outros (risos). Aline Rosário, 26 anos, auxiliar administrativa Crédito: Arquivo Pessoal

Relacionamento Monogâmico x Poliamor A diferença na prática pra mim é bem simples: não é porque gosto de uma pessoa e a recíproca é verdadeira, que isso obriga ambos a sermos os únicos responsáveis pela felicidade afetiva e sexual do outro. Eu amo meu marido e ele me ama. Eu não quero ficar só com ele pra sempre, mas quero ficar com ele o tempo que der certo nossa convivência juntos. O mesmo vem dele. Por que eu deveria querer ocupar um único lugar pra ele e exigir que ele preencha toda uma área da minha vida? A vida já não é muito pesada sem essa responsabilidade? Eu me sinto muito melhor em relação a qualquer relacionamento sabendo que a outra pessoa não precisa me esconder ou se privar de algo essencial em sua vida: seus relacionamentos com outras pessoas. PAG.14

Crédito: Arquivo Pessoal

Janaína Hernandes, 20 anos, garota de programa


NOIZ

Relações atualmente As relações monogâmicas, embora socialmente sejam aceitas, sempre me aprisionaram. No início eram boas e pareciam cumprir a função de conto-de-fada, mas com o tempo de alguma forma eu me sentia presa, frustrada e descontava tudo isso nas pessoas com quem me relacionava. Definitivamente não foram relações saudáveis para ambas as partes. Com mais maturidade e acesso aos estudos sobre as relações não-monogâmicas conheci as relações livres (amor livre) e que atualmente é a forma como levo minhas relações. Foi a forma mais saudável de manter as relações que tenho e de me manter satisfeita comigo e com o outro. Jessica Carreon, 25 anos, historiadora Crédito: Arquivo Pessoal

ACEITAÇÃO E PRECONCEITO Meus amigos sabem dos meus relacionamentos e inclusive conhecem um deles. Em relação à família, optei por ser mais reservada, o motivo principal é a preguiça de ter que me explicar ou até discutir com quem segue doutrinas que tapam sua visão de mundo. Gera uma discussão inútil. Somente minha mãe sabe, ela respeita e acredita que seja um passo importante na liberdade feminina. Roberta Oliveira, 23 anos, farmacêutica.

Crédito: Arquivo Pessoal PAG.15


QUEBRANDO TABUS

NOIZ

Invisibilidade

T

rans

M

PAG.16

edo, descriminação, falta de oportunidade e violência que muitas vezes levam a morte, essa é a rotina de uma mulher transgênero no Brasil, porém a transfobia que cercam a vida dessas mulheres acontece desde a infância e segue a vida adulta. O transtorno de identidade ou a diisforia neurodiscordante de gênero que muitas vezes é identificado ainda quando crianças são condições na qual a pessoa se identifica psicologicamente como sendo do gênero oposto ao seu sexo genético e sente impropriedade em relação ao próprio corpo. Por muito tempo foi considerado cientificamente como doença e até nos dias de hoje a sociedade não aceita pessoas transexuais que além de serem vítimas de ódio e descriminação, são desconhecidos por boa parte da população. A falta de conhecimento se deve em parte ao tratamento que a mídia dá aos transexuais, em uma pesquisa realizada em 2012, pelo Disque Direitos Humanos, mostra que as violências contra à população LGBT noticiadas pela imprensa só tem grande repercussão quando envolve homicídio. Foram 74,54% de homicídios noticiados, seguidos por lesões corporais (10,76%), latrocínios (6,82%) e tentativas de homicídio (7,87%). A pesquisa ainda aponta que 40% desses crimes são

Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo. Por:Tatiane Araújo

cometidos contra os travestis. O gráfico abaixo ilustra essa situação. A ONG Trangeder Europeu (TGEU), realizou entre 2008 e 2014, estudos mostra que o Brasil é o país que mais mata travestir e transexuais no mundo. Nesse período foram registradas 691 mortes, porém esses dados só foram veiculados na mídia brasileira no segundo semestre de 2015. Tirando os casos de violência, quando a grande mídia retrata pessoas transexuais, é apenas sobre prostituição ou quando um homem hetero famoso é flagrado como uma transexual. Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais no Brasil (ANTRA) apontam que hoje cerca de 90% da população trans estão na prostituição no Brasil e isso se prende ao fato pela falta de oportunidade no mercado de trabalho, por causa da identidade de gênero, a empresa segue distante da inclusão.


NOIZ

VIOLÊNCIA

REGISTRADA

51,68% Transexuais 1,17% Bissexuais 9,76% 36,79%

Lésbicas Gays

PAG.17


Gordofobia:

LACRE

o preconceito velado

Ser mulher, gorda, assumir o corpo e o direito de tornar-se o que se é com dignidade e respeito. Por:Tatiane Araújo

PAG.18

Crédito: Arquivo Pessoal


LACRE

E

ra para ser apenas mais uma publicação de muitas que Isabelle Trand posta diariamente em seu perfil no Facebook, mas a sua foto seminua revelou o preconceito de seus próprios familiares sobre seu corpo. A jovem de 22 anos, militante do gordativismo, estudante de produção de eventos e modelo plussize, ouviu de um parente: “O seu corpo não é tão gordo como naquela foto! Seus amigos e família estão vendo tudo aquilo. Eu sinto vergonha da sua atitude. Todo mundo que elogia é falso, estão rindo de você”. Cintia Ferreira, 28 anos, artesã, percussionista e dona do blog: “Gorda não é uma palavra ruim”, também se recorda de um momento onde seu peso revelou a discriminação de seu ex-namorado. Na época, ela estava decidida a fazer uma tatuagem e o rapaz, que já não gostava de tatuagens, convenceu a moça que ela precisava emagrecer antes de fazer. “Estávamos voltando de uma festa e chegamos ao prédio onde meus amigos moravam, um deles falou: ‘Tenta levantar a menina’ e eles conseguiram. Aí quando chegou a minha vez, ele falou: ‘Agora quem vai ser o guerreiro que vai pegar a Jaque’? ”. Lembra Jaqueline Santos Duarte, 21 anos, cabelereira. Situações como essas se repetem todos os dias na vida de milhares de mulheres acima do peso, de forma simples e direta, gordofobia é a rejeição contra pessoas gordas, ela

pessoas consultadas considera que os obesos são preguiçosos e, por isso, não conseguem emagrecer. Ainda de acordo com a pesquisa, a exclusão social agrava ainda mais a obesidade, elevando o grau de estresse, provocando mudanças no comportamento alimentar e, consequentemente, o aumento de peso. Cintia comenta que ela percebe essa exclusão social, tendo como exemplo, o transporte público: “Se você senta em algum banco do ônibus, metrô ou trem, que já costumam ser pequenos para qualquer pessoa, dificilmente alguém vai querer sentar ao seu lado, mesmo havendo espaço as pessoas preferem ficar em pé”. Já com Jaqueline essa hostilidadese manifesta em seu local de trabalho, ela já ouviu de uma cliente: “Nossa, acho que você está acima do peso, por que não vai emagrecer?”; Isabelle relembra de uma chacota onde ela foi vítima da aposta: ‘quem vai pegar a gordinha na balada?’e admite que, por ser uma gorda menor (sic), não é tão atingida pelo preconceito como outras mulheres. A gordofobia também está velada na falsa preocupação com a saúde da pessoa gorda que vive cercada

“Você tem um rosto tão bonito, mas se emagrecesse ficaria linda!” pode se manifestar em frases mais duras como nos relatos acima ou pode ser velada, por exemplo: Uma pesquisa realizada em setembro de 2016, pelo instituto alemão Forsa, sob encomenda da seguradora DAK, revelou que a sociedade exclui pessoas obesas; para esse estudo foram feitas entrevistas onde 71% dos entrevistados consideram o aspecto físico dos obesos antiestético e 15% evitam o contato com eles. A maioria das

Crédito: Arquivo Pessoal PAG.19


LACRE

de vigilâncias alheias, sempre tem alguém atento ao que devem vestir, comer e como devem se comportar. Cintia, Isabelle e Jaqueline concordam que essa é mais uma oportunidade para as pessoas serem preconceituosas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) usa o Índice de Massa Corporal (IMC), peso da pessoa dividido por sua altura, em metros ao quadrado, para medir a obesidade. Se o IMC for maior ou igual a 30, a pessoa é considerada obesa. Se for igual ou maior que 25, há sobrepeso, porém Isabelle discorda, para ela o IMC não é a base para saúde de ninguém. Para acabar como esse preconceito, primeiramente é preciso reconhecer que existem pessoas gordas e que elas têm o direito de viver com as mesmas liberdades de escolha de pessoas magras, como escolher o que vestir, comer e o modo de se comportar. Cintia ironiza: “Ninguém vê uma pessoa magra comendo uma coxinha e diz: ‘olha o colesterol hein?!’” E desabafa: “só fazem isso com a gente, nossos corpos são patologizados (atribuir doença ou anormalidade, mesmo não existindo) o tempo todo, isto é, as pessoas partem do preceito de que somos doentes apenas por sermos gordas”. Segundo, o tamanho do corpo de alguém não determina o quão saudável ela é, nem o caráter ou o quanto ela é preguiçosa, ao contrário do que os entrevistados na pesquisa afirmam, e terceiro: nem todo mundo quer ser saudável e isso não depende de ser gordo ou não.

PAG.20

Crédito: Stefani Paraíso


Da rejeição ao amor pelo corpo “Eu já tive um ódio muito grande do meu corpo, me cobria inteira e não gostava de chamar atenção, estava o tempo inteiro pedindo desculpas por ser quem eu era”, afirma Cintia. Há 4 anos ela conheceu a luta anti-gordofobia (sic) e passou a amar seu corpo: “Comecei a incorporar aquilo na minha vida e a pensar o quanto eu estava me privando das coisas por simplesmente não me amar, acredito que todas as pessoas deveriam amar a si mesmas em primeiro lugar e sob todas as coisas, é um processo lento, dolorido, mas é libertador”. Isabelle que hoje ama seu corpo do jeito que ele é, relata que há 2 anos ela não praticava esportes e por medo e insegurança não usava as roupas que ela queria e diz: “Me achava linda, mas ainda queria entrar em uma padrão de gorda aceitável, tinha uma visão muito destorcida e ainda exalava gordofobia”, completa: “durante esses dois anos, cresci e hoje amo quem eu sou, desço até o chão sim, falo o que penso sim, uso o que eu quero e não deixo passarem por cima das minhas escolhas”.“Ainda estou passando por essa aceitação corporal”, afirma Jaqueline.

“A mídia e a indústria da beleza muitas vezes contribuem para a baixa autoestima dessas mulheres, mas também instiga ódio, ainda com a falsa sensação de preocupação com a saúde” Quando há alguma representação plussizena mídia, é uma mulher ideal, ou seja, cintura fina, barriga chapada, sem celulites e estrias. “Quantas pessoas gordas são assim?” Questiona Cintia. Além dessa falsa representação, a televisão ainda insiste em forçar estereótipos que a mulher gorda é a engraçada, assanhada, a boa amiga e a infeliz com seu corpo.

Jaqueline que não se sente refletida na mídia, afirma que na internet encontrou mais representatividade de gordas, como por exemplo, a empresária, Bianca Reis, 22 anos, referência para muitas mulheres que decidiram assumir seu corpo. Apesar dela não se identificar como tal, suas atitudes e postagens no Facebook acabam empoderando outras mulheres, ela diz: “A única coisa que eu faço é falar para essas pessoas serem a própria referência, não se apoiarem nos outros para buscar autoestima, até por que pessoas são falhas e cometem erros” e conclui: “A única pessoa que nunca vai cometer um erro perante ao que você acredita vai ser você mesma. Não acredito em empoderamento vindo de terceiros. Eu só falo coisas baseadas em fatos, acaba tendo gente que gosta e reflete em cima disso”. Bianca, que é militante, desde 2015 fala abertamente sobre o assunto e se assume gorda para o mundo (sic). Hoje é dona da marca “For AllTypes”, que surgiu por necessidade dela própria e fabrica biquínis e lingeries, a partir do número 46. Desde jovem, ela começou a evitar “ambientes tóxicos” (sic), por isso, não passou por nenhum tipo de preconceito que a atingiu e declara: “Quanto mais cedo você ama quem você é, mais cedo você aprende a se defender e acho que isso é um dos maiores motivos para me considerarem “Influente na militância”.

crédito: Arquivo Pessoal PAG.21


Beleza

PADRÃO de AOL O

N G O

DOS

LACRE

ANOS

Corpo ideal: mulheres pequenas e com cabelos curtos.

Corpo estilo ampulheta: Seios grandes e cintura fina.

Físico adolescentes: Magra com pernas finas e longas.

Corpo curvilíneo: mulheres altas, com braços, tonificados e corpo atlético.

Corpos extramente fracos e magros era a beleza da época.

Corpo “Saudável”: barriga reta e bumbum grande. Um corpo difícil de conseguir, normalmente moldados por cirurgias, para atingir o padrão.

Fonte/ imagens: HYPESCIENCE

PAG.22


Poder das Manas

LACRE

Empoderamento

feminino

Superando os tabus acerca do

CORPO GORDO

Por Uanna Mattos, jornalista e autoral do livro “Meu corpo, minhas regras”.

A

imposição de um padrão de beleza atinge todas as mulheres. Os nossos corpos são policiados constantemente, a cada dia que passa a indústria de cosméticos cresce e acentua todas as “imperfeições” que nós mulheres possuímos, a da moda dita as regras do nosso corpo: Use aquilo. Vista isso. Diariamente convivemos com regras de como não aparentar que estamos envelhecendo ou engordando. A questão é que por trás de toda essa ditadura da beleza, se encontra o preconceito com pessoas gordas, conhecido como gordofobia. Esse é nada mais do que um desconforto ou, em casos mais extremos, um sentimento de repulsa contra pessoas gordas. É aquele olhar de pena quando uma mulher acima do peso entra numa loja de roupas, o medo de ser julgada ao comprar um lanche na rua ou até mesmo comer um pouco a mais em um restaurante. A gordofobia é você ser tratada como um ser desprezível, só porque a sociedade não sabe lidar com o seu corpo. Ser gorda é compreender que, em cada momento da sua vida, você será julgada dez vezes mais do que outras mulheres que possuem corpos considerados “padrões”. Isso não é uma disputa e sim uma realidade. O preconceito é uma opressão estrutural, vai muito além do padrão de beleza. Nós, pessoas gordas, possuímos um espaço muito reduzido na sociedade, nem todos os assentos do ônibus permitem que nos sentamos, aquelas poltroninhas minúsculas do avião, é pedir para passar vergonha, as cadeiras de restaurantes/bares/cinemas/etc, são desconfortáveis ao extremo. Não temos o direito de amar e sermos amadas. E, na maioria das vezes, também não podemos escolher amar alguém, já que normalmente, nos encon-

tramos em uma situação que somos obrigadas a nos relacionar com uma pessoa. Além de ser gorda, eu ainda quero escolher com quem me relacionar ou não? Proibido! Eu tenho que agradecer o fato de alguém se interessar por mim. Nós somos muito mais do que um corpo. Mas, ao mesmo tempo, nós somos o nosso corpo. Somos gordas, porque isso não é um problema ou um defeito. Na sociedade em que nos encontramos, ser gorda e se amar desse jeito é revolucionar toda uma padronização de corpos que a indústria da moda e a mídia pregam. Aos passos curtos, superamos os tabus que cercam o nosso corpo e entendemos que temos direito de fazer o que quisermos. De amar alguém, ou não amar; de usar uma determinada roupa ou não usar; de querer emagrecer ou não. Mas, acima de tudo, precisamos treinar todos os dias em frente ao espelho que: Sou gorda e amo meu corpo!

PAG.23


minas As vida

LACRE

da

REAL

Por: Revista FEMME

A

revista Femme não acredita em padrões, e sim na diversidade. Alta, baixa, negra, branca, cabelo grande, curto, liso, enrolado, crespo, careca, nova ou velha? Não importa, rótulos não definem quem você é! Pensando nisso, fotografamos mulheres reais, que você encontra no seu ambiente de trabalho, na sua faculdade, na sua vizinhança e até mesmo dentro da sua casa. Mulheres com personalidades e belezas únicas. Vem conhecer as minas da vida real!

Crédito: Amanda Santos PAG.24


LACRE

Crédito: Amanda Santos

Crédito: Amanda Santos

Crédito: Amanda Santos PAG.25


Crédito: Amanda Santos

Crédito: Amanda Santos


Crédito: Amanda Santos

Crédito: Amanda Santos

Crédito: Amanda Santos PAG.27


O

papo com as minas estava tão daora que resolvemos estender um pouquinho e perguntamos para elas: "O que é empoderamento para você?" Confira as respostas das minas de verdades que participaram do nosso ensaio fotográfico.

PAG.28


“É importante se aceitar e tomar o poder para si, poder fazer coisas e ter a autonomia de fazê-las sem depender de ninguém. Mas principalmente, que a gente pode ser o que quisermos e isso se dá apenas coletivamente. Sozinho ninguém consegue fazer nada, quer dizer, até consegue, mas só até determinado ponto. A sociedade precisa se reformular na sua base e o empoderamento precisa ser real”. Além disso, ela nos conta que já ouviu diversas frases rudes, como: “você é gorda”, “você precisa parar de comer e emagrecer”, “você precisa ir ao médico”.

Larissa Paz, 24 anos, Mc e compositora do “Rap Plus Size”.

PAG.29


PAG.30


“Para mim, nada mais é que as minas juntas trampando (sic) em conjunto para atingir várias mulheres”. Ela já ouviu coisas como: “existe mina para namorar e mina pra ficar escondida”, e que eu era para ficar escondida, porque os amigos não poderiam ver o menino ficando com uma gorda. Sara Donato, 26 anos, MC e autora do álbum “Rap Plus Size”.

PAG.31


PAG.32


“É você poder ser você sem nenhuma barreira, ser capaz de dar conta das suas coisas, da sua vida, independente de padrão”. Adjetivos como: “gorda” e “velha”, são recorrentes para Ana.

Ana Cristina Figueiredo, 52 anos, professora de história.

PAG.33


PAG.34


“É você sair e não ter medo na hora de voltar para casa, não precisar ter medo de um cara mexer com você na rua pensando no pior.” Ela sempre ouve frases rudes em relação ao seu cabelo: “seu cabelo é esquisito”, “seu cabelo é duro” e “você tem que alisar”. Amanda, 23 anos, enfermeira.

PAG.35


PAG.36


“É a mulher poder descobrir que ela pode ser o que ela quiser, quando ela quiser e a hora que ela quiser”. Por ser negra e gorda, não são só palavras preconceituosas que costuma ouvir, mas também gestos e olhares. Genize Ribeiro, 25 anos, jornalista e modelo plus size.

PAG.37


PAG.38


“Primeiramente é a coisa mais necessária para lutar contra esse machismo enraizado, a gente pode fazer uma analogia dessa situação com a emancipação da mulher”. “Sofro preconceito até mesmo de meus familiares por causa da aparência, já ouvi até que pareço lésbica.”

Thamires, 21 anos, estudante de ciências sociais. PAG.39


PAG.40


“É ter autonomia sobre você e o que tem vontade.” Ela conta que enfrenta o padrão de estética da sociedade, apesar de ser magro, seu corpo não está dentro dos padrões aceitos e já ouviu frases como: “sua magrela”, “osso”. Caroline Solto de Oliveira, 22 anos, historiadora e MC.

PAG.41


PRAZER,

CAROL BANDIDA

PAG.42


ARTE NA RUA Através de suas músicas: “100% Feminista” e “Meu namorado é mó otário”, a Mc Carol canta histórias da vivência das mulheres das periferias. Por:Halitane Rocha

I

mpotente, arrogante, mandona, briguenta, são adjetivos comuns para Mc Carol que, por um acaso, não se importa nem um pouco, principalmente quando são ditos por homens. Gosta de mostrar poder, beleza e sobretudo independência. No Morro da Providência (Rio de Janeiro), cresceu cercada de mulheres que sofriam agressões físicas e verbais pelos seus companheiros com comportamentos machistas e desde então decidiu que nunca se sujeitaria a estas humilhações. “Escrevi a música Meu namorado é mó otário quando eu idealizava um marido perfeito, sonhava que ele seria meu escravo e eu bateria nele. Me revoltava com o padrão projetado de ter que me casar, fazer filhos e apanhar do marido, cada que vez que não fizesse algo. Por que todos acham isso normal? Hoje melhorei um pouco minha visão, estou feliz com meu marido. Essa música não foi feita pra ele, como pensam muitas pessoas.” Fala Mc Carol sobre o sucesso da música. E afirma que nasceu feminista e só se descobriu agora: “As pessoas diziam que minhas músicas eram de feminista, só que eu não sabia o que era isso. De tanto falar, comecei a perguntar o que significava e concordei que eu realmente era assim. Apesar de várias vertentes que ainda estou conhecendo, tem algumas coisas que ainda não entendo.” Ela foi muito criticada pela sua música “Prazer Sou Amante Do Seu Marido”, por mulheres que chamavam a música de machista, apesar de pensar sobre o erro, explica a letra: “Eu só escrevo a realidade. Fui amante de um cara durante alguns anos e o cara sempre tratou a mulher muito mal. Eu tirei uma com a cara dela, mas não adianta brigar comigo, ele continua tratando-a mal até hoje e traindo com outras, ou seja, a culpa é do marido dela, não minha”. Na música “100% Feminista”, lançada no aniversário de Carol, 6 de outubro deste ano, e de autoria dela junto com a cantora Karol Conká, elas citam mulheres guerreiras nas quais se sentem representadas para passar a mensagem às mulheres do gueto, como as guerreiras Dandara e Aqualtune que lutaram pela abolição dos escravos e Carolina de Jesus, escritora do livro: “Quarto do Despejo”, conhecida por naquela época ser uma das poucas mulheres negras e pobres que tinha conhecimento da escrita e desabafava seus anseios.

PAG.43


Gorda, mulher e negra aceitem! N

esta sociedade, Mc Carol sabia que passaria por muitos desafios para chegar a fama, só não imaginava o tamanho do preconceito que enfrentaria. “Fui gravar o reality ‘Lucky Ladies’ em Copacabana, o motorista me botou pra fora do táxi porque eu estava junto com uma mulher gringa”.

“Depois do reality, recebi um convite para dar uma palestra na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a única pessoa negra no auditório era eu. Só me dei conta disso quando tiramos uma foto no final, eu estava cercada de alunos loiros e um cara de pele parda, nem era negro”.

Recentemente, sua página oficial no Facebook foi atacada com cerca de 30 0 a 400 comentários racistas, machistas e gordofóbicos. Sua produtora e assessora Ana Paula Paulino, que acompanha suas redes foi a primeira a ver os ataques e pediu para que a cantora não respondesse ninguém, já que ela tem o costume de responder fãs e haters na página. “O grande problema dos ataques via internet é que as pessoas acham que a internet é tipo uma terra sem lei, então se eu te der um murro na cara, você vai na polícia e fala: olha, ela me deu um murro na cara, então foi uma agressão física. Mas na internet você tem a ofensa, contudo você está atrás de um computador, às vezes de um perfil fake.” A produtora explica o processo: “As pessoas que fizeram, começaram a apagar os comentários, deletar a própria página e isso complica depois na busca policial, porque eu já tinha dado print de todos os comentários, de todas as pessoas, entretanto quanPAG.44

de todas as pessoas, entretanto quando você tem que fazer um dossiê, muita gente não sabe, mas você tem que colocar a URL de cada pessoa e o print da sua página falando a merda (sic) que ela falou. A construção do dossiê é complicada, eu tive que refazer nos moldes da polícia, então perdemos várias pessoas porque eu não podia simplesmente colocar os posts de quem tinha feito. No entanto a gente sabe que é um grupo e que eles agem organizadamente, tipo os casos da Preta Gil, Thays Araújo, Sheron Menezes e da Cris Vianna. A delegada que atendeu a gente é a mesma que atendeu esses casos, então ela falou: é um processo demorado. Até daquela nadadora, Joana Maranhão, ela atendeu todos esses casos, essa delegacia é específica de crimes virtuais, criou-se uma delegacia porque a demanda disso no Rio era bem grande.” Para Mc Carol, os ataques só servem para expor nas grandes mídias, principalmente na televisão, para mostrar aos seus fãs que é preciso denunciar. “Ao ver os comentários nem consegui sentir raiva, apenas dei risada e fiquei impressionada com a capacidade do ser humano de ser tão preconceituoso, vivendo em um país como o Brasil, com uma das maiores misturas de raça. Como alguém é capaz de desejar que eu perca a voz? Eu trabalho com música, se acabar minha voz, acaba minha vida. É inacreditável a maldade das pessoas.” Apesar de tudo, a cantora já mostrou que não se deixa intimidar e não abaixa a cabeça pra ninguém. “Agora eu estou com um carro novo, carro de gente rica. Depois que comprei este carro, ficou evidente que eles não querem uma mulher preta e gorda dirigindo o mesmo carro que eles dirigem. Há dois dias, eu entrei no mercado e o cara jogou uma piada pra mim. Eu voltei de ré e falei: oi? você falou


ARTE NA RUA

de todas as pessoas, entretanto quando você tem que fazer um dossiê, muita gente não sabe, mas você tem que colocar a URL de cada pessoa e o print da sua página falando a merda (sic) que ela falou. A construção do dossiê é complicada, eu tive que refazer nos moldes da polícia, então perdemos várias pessoas porque eu não podia simplesmente colocar os posts de quem tinha feito. No entanto a gente sabe que é um grupo e que eles agem organizadamente, tipo os casos da Preta Gil, Thays Araújo, Sheron Menezes e da Cris Vianna. A delegada que atendeu a gente é a mesma que atendeu esses casos, então ela falou: é um processo demorado. Até daquela nadadora, Joana Maranhão, ela atendeu todos esses casos, essa delegacia é específica de crimes virtuais, criou-se uma delegacia porque a demanda disso no Rio era bem grande.” Para Mc Carol, os ataques só servem para expor nas grandes mídias, principalmente na televisão, para mostrar aos seus fãs que é preciso denunciar. “Ao ver os comentários nem consegui sentir raiva, apenas dei risada e fiquei impressionada com a capacidade do ser humano de ser tão preconceituoso, vivendo em um país como o Brasil, com uma das maiores misturas de raça. Como alguém é capaz de desejar que eu perca a voz? Eu trabalho com música, se acabar minha voz, acaba minha vida. É inacreditável a maldade das pessoas.” Apesar de tudo, a cantora já mostrou que não se deixa intimidar e não abaixa a cabeça pra ninguém. “Agora eu estou com um carro novo, carro de gente rica. Depois que comprei este carro, ficou evidente que eles não querem uma mulher preta e gorda dirigindo o mesmo carro que eles dirigem. Há dois dias, eu entrei no mercado e o cara jogou uma piada pra mim. Eu voltei de ré e falei: oi? você falou comigo? Com um tom meio agressivo assim né (risos). E ele: não, não falei contigo. Mas falou sim, jogou piada pra mim, como ele desmentiu, eu não ia sair do carro pra bater nele, aí fui pra frente. Logo em seguida, uma mulher começou a me insultar em uma rua estreita depois de estacionar o carro, com as duas crianças do lado e nós começamos a brigar. Falei pra Ana (produtora), que terei muitos problemas por causa deste carro, mas eu tô (sic) amando incomodar e agora eu quero é mais.

“Eles acham que o lugar das pessoas negras é dentro do ônibus ou andando a pé. Tô incomodando? Tô adorando!” Agora que eu vi que incomodo, eu tenho é mais ambição de conquistar o meu espaço também. ” PAG.45


ARTE NA RUA

Na letra contra o racismo T

oda essa vivência do racismo no Brasil levou a cantora a refletir sobre a história mal contada da abolição dos escravos e a violência policial. Na música “Não foi Cabral”, lançada em 2015, ela ironizou um professor de história que insiste em dizer que Pedro Álvares Cabral descobriu o país e ressalta que quem libertou os escravos foi à luta dos quilombolas e mostra a importância do Zumbi dos Palmares e de sua esposa Dandara, para evitar que seus filhos também levassem chicotadas. Carol que antes já declarou que como cantora, ela só escreve a realidade. Por esta razão, um dos seus lançamentos, “Delação Premiada”, foi para incomodar e relembrar dos negros mortos que ainda não conseguiram justiça. “Muita gente já viveu, ou se não presenciou, viu, soube de um amigo que aconteceu, então acho que é isso. São histórias que acontecem sempre, mas eu quis destacar o Amarildo e o DG, entendeu?” No trecho em que ela canta: “É negro, favelado, então tava de pistola”, relembra o que aconteceu com seu amigo no final do ano passaPAG.46

do: “Ele tinha se acidentado de moto, estava andando de muleta, acho que ele tava com um ferro na perna também, se eu não me engano. Foi entrar de muleta lá no morro e isso era 5h da tarde e os policiais atiraram nele, pensando que era um fuzil. Eles nunca falam que pensam né, eles falaram que era um fuzil! Ficou por isso mesmo, porém a comunidade toda viu que ele estava de muleta.” Em 2012, foi confirmado 30.000 homicídios, 77% destes jovens são negros e apenas 8% dos casos são resolvidos na justiça, segundo a pesquisa do Mapa da Violência 2015. Ela mostra todo o seu potencial e braveza para chegar em qualquer lugar para mostrar que é uma mulher, negra e gorda que também pode ocupar até o espaços mais elitistas. Mas a cantora revela que nem tudo é fama ou empoderamento. Entre os seus sonhos, ela agora também deseja ter um filho, que virá no momento em que se sentir preparada. E com um filho no co lo, vai continuar sendo a Carol bandida, representando as mulheres, 100% feminista.


ARTE NA RUA

Produtora do Racionais Mc’s,ELIANE

fala à Femme, sobre as mulheres no

E

DIAS,

hip- hop

la que acompanhou de perto o machismo dos grupos de hip-hop, avalia mudanças neste novo momento do rap. Eliane Dias, esposa do Mano Brown, atual coordenadora da SOS Racismo na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e Executiva da produtora de música, Boogie Naipe, tem trabalhado para conter o machismo do grupo Racionais Mc’s e empoderar cada vez mais mulheres negras. “Quando o Mano Brown era mais machista, eu sabia menos sobre o machismo, agora que eu sei mais sobre o machismo, o Mano Brown é menos machista.” Tem chamado mais mulheres para dividir o palco com o grupo de rap e dar mais visibilidade aos seus trabalhos, tratando-as com dignidade. Ela acredita que apesar do machismo ainda se manter, ele não é mais capaz de silenciar mulheres talentosas do hip-hop. Nos anos 90 era bem mais complicado, as mulheres iam pisando em ovos, sem saber como se portar, se vestir, como cantar, mas mantiveram seus sonhos e se saíram bem. “Quando todas formos uma só (pelo menos as negras) a situação tende a mudar, o que não acontece hoje em dia, pois existem muitas negras que vão para as redes sociais, dizer horrores de outras negras. Este tipo de comportamento só nos enfraquece, dando margem a mais violências contra nós, pois se nós mesmas, em um momento de tanta resistência como este, nos agredimos por que não os machistas, os racistas e os misóginos não vão fazê-lo?, afirma Eliane.

PAG.47


Mulheres

&&&&

ARTE NA RUA

cor es! O

grafite, que já é muito criticado por ser uma cultura periférica do hip-hop, passa a ser ainda mais mal olhado, quando são feitos por mulheres. Elas que têm ganhado cada vez mais espaço na área, enfrentam os colegas machistas e as pessoas que insistem em dizer que a arte é uma manifestação de vândalo. Para superar esses estereótipos, elas espalham nos muros imagens e mensagens, de valorização à beleza da mulher e da periferia, deixando ela mais colorida. Karine Hevany, 18 anos, grafiteira e artista plástica, descobriu o seu talento para a arte de pequena, quando descontava seus anseios com o bullying que sofria na escola, com pinturas. “A única Créditos: arquivo pessoal coisa que eu fazia e de certa forma me libertava em pensamentos daquela prisão, era rabiscar o caderno e depois as carteiras, levava advertência e depois limpava com as tias da limpeza depois”. Com tudo isso, ela percebeu a necessidade de ajudar também as outras mulheres, “hoje, procuro explorar outras lindas e maravilhosas formas do feminismo, não só do nosso corpo em si, mas da nossa essência, do nosso interior, essa nossa linda conexão umas com as outras, do nosso infinito amor, esse imenso e mágico universo feminino. É de extrema importância empoderar todas nós que lutamos pela igualdade de gênero e pelo respeito que tanto merecemos”. A artista Ana Doboroviski relembra como começou o interesse pela arte,“com uns 3 anos minha mãe me deu uma tela e uma paleta de tintas, passou a ser minha brincadeira predileta. Sempre fiz desenhos,colagens, pinturas, bordados, até chegar ao graffite”. Ela também mostra como é possível usar o talento da arte para transmitir o amor, “Eu acho lindo nosso corpo, nossos pelos, nossas curvas e formas, então tento passar de alguma maneira isso em cores, acredito que nós mulheres temos uma força tão grande e poética que precisamos expor de certa forma. Todas nós somos flores, diferentes perfumes, diferentes formas, diferentes cores, repletas de amores”. PAG.48


DONAS do M I C

ARTE NA RUA

Feminine Hi-fi,

o poder das mulheres Sound System!

Era para ser só uma festa, mas se tornou o Primeiro Sound System do Brasil formado apenas por mulheres.

F

evereiro de 2015, Dani Pimenta convidou suas amigas cantoras e djs, Layla Arruda, Rude Sistah e Lovesteady, para tocarem juntas em uma edição especial ao Dia das Mulheres, em março, em uma dessas casas de reggae conhecidas de São Paulo. Conversa vai e conversa vem, e ao invés de fazer uma festa pequena, elas decidiram fazer um baile de rua, para chamar mais atenção. O que as mulheres não contavam, era com o tamanho da repercussão que isso tomaria, por está razão, decidiram manter o projeto permanente, com realização a cada 3 meses em locais abertos e diferentes. Agora, elas estão recebendo até convites para tocar em outros estados e não param de crescer. Dani Pimenta, 33 anos, uma das idealizadoras do projeto, DJ e produtora musical, fala sobre como é ser mulher neste cenário do reggae: “Encontrei muita porta aberta, mas também muita porta fechada, então tem de tudo; porém em geral, hoje acho que está melhorando justamente porque estamos causando esse enfrentamento, sabe? Acho que tem a ver com o que está acontecendo no mundo todo em relação à mulher” e afirma, “a mulher não se cala mais, não deixa mais as coisas acontecerem e só diz sim, por medo ou por constrangimento”. Segundo ela ser mulher no reggae é difícil pra ‘caralho’ (SIC) porque, sobretudo de onde o reggae vem, a Jamaica, é uma sociedade muito machista, então por si só já é uma cultura que vem com isso embutido, mas para ela está melhorando e a tendência é que melhore e completa afirmado que irá trabalhar para que melhore. A Feminine vem também para potencializar as vozes das mulheres no selo Feminine Tunes que elas estão produzindo, para dar cada vez mais espaço para as cantoras e selectas, que antes os homens ignoravam. Na próxima festa, que será em dezembro, elas já vão começar a lançar alguns dubplates apenas com vozes femininas, desde as pioneiras, até as que estão iniciando agora. Para o próximo ano, a meta é unir a música para um lado educativo e fazer exibição de documentário, palestra, oficina de discotecagem, canto, expressão corporal, interpretação, interpretação vocal, composição, tudo para deixar as meninas preparadas no mundo da música.

PAG.49


ARTE NA RUA

R OLES

TODOS PODEM SER FRIDA : Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo | 03/11 a 05/12 Entrada franca. A exposição conta com obras da publicitária Camila Fontenele de Miranda com as imagens de FRIDA em relação a transgressão da figura masculina. Entre as obras estão: FRIDA por inteiro, O amor de FRIDA e O aborto de FRIDA.

ENTRE BEIJOS E CARÍCIAS, FICA DIFÍCIL INTERROMPER?: Sesc Consolação | 01/12 Entrada franca. A palestra contará com a presença da enfermeira obstetra, psicodramatista com especialização em Saúde Pública e em Sexualidade Humana pelo Centro de Estudos de Sexualidade Instituto H. Ellis, Maria Helena Vilela, que abordará assuntos como o conceito de sexualidade, como ocorre à resposta sexual no homem e na mulher, a importância da prevenção à gravidez e as DST/AIDS e, porque o momento de fazer a negociação da camisinha não pode ser durante o ato sexual.

DESERTEI EM CACTOS SELVAGENS: PERCEPÇÕES DO FEMININO: Sesc Vila Mariana | 08/10 a 05/03 Entrada franca. A edição do Projeto Latitudes apresenta percepções sobre a mulher e o feminino por meio do graffiti de Mag Madrela.

PAG.50


GRANA

ELAS SALE por

Coletivos de mulheres no combate à violência de gênero ganham visibilidade e atuação na sociedade por meio de fundo de investimento social em parceria com empresas privadas.

P

ense um pouco na última vez que presenciou violência contra uma mulher. Foi pessoalmente? Na televisão? Qual foi sua reação? Em 2013, um grupo de 15 amigas que juntas formaram o coletivo Levante Mulher, presenciaram duas cenas brutais que mudaram suas atitudes em relação à violência de gênero. A primeira foi o homicídio de uma amiga pelo namorado, a segunda foi o estupro de duas adolescentes de 13 e 14 anos que faziam aulas de teatro com o grupo na Casa de Cultura do Butantã. As jovens foram seduzidas por garotos da mesma idade para ir a uma festa ao sair da aula de teatro, porém não era uma festa, era um galpão ali bem próximo onde ficaram aprisionadas por dois dias e foram violentadas por 18 homens. A partir dessas terríveis situ-

ações, os encontros entre as mulheres do coletivo se intensificaram e assim decidiram não se silenciarem mais diante de situações como essas. Hoje, o principal intuito do grupo é combater a violência contra mulher. O projeto é financiando pelo Instituto Avon que desde 2008, lança anualmente a campanha “Fale Sem Medo - Não à Violência Doméstica”, com o objetivo de contribuir para educação, prevenção e o enfrentamento da violência doméstica, investindo em milhares de projetos que levam informação, capacitação profissional e promovem reflexão sobre o tema. Essa campanha funciona por meio de uma parceria com o Fundo de Investimento Social - ELAS, o único fundo brasileiro de investimento social voltado exclusivamente para a promoção do protagonismo feminino. O ELAS, que antes chamava-se Fundo Angela Barbosa, foi fundado em 2000, pela mexicana Amália Fischer, atualmente coordenadora geral, recentemente o fundo alterou a nomenclatura para organização da sociedade civil de interesse público e também seu nome para assim, homenagear todas as mulheres brasileiras, ou seja, hoje o ELAS é equivalente a uma ONG. Segundo Vanessa Lucena, 36 anos, gerente de desenvolvimento da instituição, esse título foi criado para facilitar tanto a ligação da organização com as empresas, como a relação com o governo. O intuito do ELAS é financiar projetos por meio de editais anuais, o fundo repassa dinheiro de entidades que se interessam por iniciativas sociais, nesse caso voltados exclusivamente para mulheres e que sejam idealizados por elas, “Nós somos um fundo que financia PAG.51


GRANA

propostas, ou seja, não temos nenhum projeto autoral, o ELAS não faz projeto, nosso trabalho é mobilizar o recurso, repassar para elas, capacitar, monitorar e prestar contas para os financiadores”, afirma Vanessa. Essa parceria com o Instituto Avon já dura três anos com editais anuais e este ano o “Fale sem Medo” apoia 33 projetos em todo o país, entre eles, o Levante Mulher de São Paulo. Em 12 anos, a Avon já investiu mais de 70 milhões de reais em 180 programas sociais voltados para as mulheres, provenientes das vendas de produtos da marca, a maioria das mercadorias do catálogo têm 7% do valor de venda revertidos às causas. Além disso, anualmente são criados acessórios vendidos exclusivamente para arrecadar fundos. Os recursos providos pelo ELAS dependem do tamanho do projeto, por exemplo, as empresas procuram o fundo com uma demanda de área e valor específico para financiar, as temáticas podem variar em todo Brasil e a partir disso são abertos os editais, então o ELAS recebe e avalia os projetos e de acordo com essa análise é definido o que será repassado pra cada grupo. Os resultados de quantas mulheres são beneficiadas através de ações promovidas pelos grupos que ganham os editais não têm como ser exatamente mensurados, segundo Vanessa, porque existem mulheres que estão envolvidas diretamente e indiretamente nos projetos, mas destaca que desde 2000, o ELAS já apoiou mais de 300 grupos em todas as regiões brasileiras e recebeu a quantia de 6 milhões de reais para investir em programas. E no momento o fundo está apoiando 54 grupos em 4 projetos de diferentes áreas, no ano passado apenas os que se referiam ao fim da violência doméstica deste edital com a Avon atingiram 20 mil pessoas beneficiadas diretamente e 1 milhão indiretamente. Em São Paulo, o Levante Mulher atinge indiretamente mulheres em cinco regiões do município e em algumas cidades vizinhas, como Cotia, Osasco e Taboão da Serra, sendo ainda seu principal ponto de encontro a Casa de Cultura do Butantã (São Paulo capital). Paloma Xavier, 23 anos, integrante do coletivo afirma que nesses três anos do Levante Mulher elas continuam enfrentando resistências da sociedade: Ouvimos algumas críticas e alguns comentários nas entrelinhas, porém, nenhuma mulher nunca foi agressiva ou ofensiva. No geral saem bastante sensibilizadas e dão seus depoimentos transformadores”. Nélli Menezes, 49 anos, artesã, participa das aulas de percussão ministrada pelo coletivo na Casa de Cultura do Butantã voltada exclusivamente para mulheres. Ela antes já havia tentando fazer aula em outro espaço, mas não se sentiu acolhida, para ela está ali com outras mulheres talentosas que possuem histórias semelhantes à dela e com o mesmo objetivo é fundamental para o seu empoderamento, seu espírito e seu físico e destaca: “Quando a gente se sente acolhida muita coisa pode mudar e as meninas do grupo me ensinam a respeitar mais as pessoas”.

PAG.52

“Existe uma resistência não tão explícita com alguns assuntos específicos e mais polêmicos, como a não criminalização do aborto, a visibilidade lésbica e a liberdade sexual, Principalmente quando fazemos ações fora do círculo feminista.”


GRANA

Elas na

“No Brasil a gente está engatinhando ainda, tem apoio, têm instituições, mas em um panorama geral ainda estamos engatinhando, porque quando a gente precisa mobilizar dinheiro para temas mais delicados a gente busca apoio fora”

frente

Além da parceria com o Instituto Avon, o ELAS também está coordenando projetos com o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas, o concurso “Elas nas Exatas” tem como objetivo contribuir para a redução do impacto das desigualdades de gênero nas escolhas profissionais e no acesso à educação superior de estudantes. Para esse concurso, o ELAS recebeu cerca de 173 sugestões de todo o país e só pôde apresentar dez. A demanda de propostas submetidas pelo fundo é alta, no edital “Fale Sem Medo”, foram 658 concepções inscritas e apenas 33 apoiadas, para Vanessa essa procura varia dependendo do tema, do momento político que o país está vivendo e cita como exemplo a crise financeira atual: “neste momento, o dinheiro para programas sociais encurtou para geral, não é apenas para as mulheres não”, e afirma: “houve uma grande diminuição de investimento e isso explica até esse número tão elevado de planos para o instituto Avon, porque quando você está na frente de um projeto social você precisa mobilizar dinheiro e daí você vai se virando, então qualquer edital que abre, a demanda é bem alta”. Além dos já citados, o ELAS tem outros editais em andamento, diferentes dos dois anteriores que são parcerias com empresas privadas, esses acontecem com organizações internacionais. O “Ah, então, eu sou feminista”, recebeu os recursos da fundação Foard e busca promover novos olhares sobre o feminismo e os direitos das mulheres usando a comunicação como ferramenta estratégica de sustentabilidade e o fortalecimento do movimento feminista no Brasil. O segundo edital aberto é o “Trabalhadoras Domésticas” que mobilizou oito sindicatos de trabalhadoras domésticas no Brasil e a Federação da Trabalhadora Doméstica para conseguir dar continuação no congresso à PEC das domésticas, que regulamenta a profissão. A iniciativa contou com o apoio do Fundo de Igualdade de Gênero da ONU Mulheres e da Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero. Financeiramente o ELAS não recebe nenhum retorno pelo serviço, mas para as oito mulheres que fazem parte do fundo, a recompensa está diretamente ligada com o objetivo que os projetos pretendem alcançar, para elas se o coletivo conseguir atingir seu alvo, esse é o resultado esperado. Para o futuro, o intuito é atingir mais organizações brasileiras, Vanessa afirma: “No Brasil a gente está engatinhando ainda, tem apoio, têm instituições, mas em um panorama geral ainda estamos engatinhando, porque quando a gente precisa mobilizar dinheiro para temas mais delicados a gente busca apoio fora”, e finaliza: “além do apoio que buscamos nas empresas, a gente também está pensando em uma mobilização com as mulheres e pessoas físicas aqui no país”. PAG.53


GRANA

O que você

precisa

saber sobre violência aviolência violência doméstica doméstica doméstica O que é violência doméstica?

É o abuso físico ou psicológico de um membro de um núcleo familiar em relação a outro, com objetivo de manter poder ou controle. Esse abuso pode acontecer por meio de ações ou de omissões. A maioria desse crime são mulheres.

tas básicas. Agora, a pena é de 1 a 3 anos na prisão. Além disso, o juiz pode obrigar o agressor a participar de programas de reeducação ou recuperação. Essa lei também criou novas formas de proteção à mulheres ameaçadas.

Muitas mulheres sofrem violência doméstica?

A lei só vale pra quem mora junto?

Aproximadamente 2 milhões, a cada ano,sofrem, independente da camada social, profissão e escolaridade.

Existe uma lei que proteja a mulher que sofra esse tipo de violência? A Lei Maria da Penha, em virgo desde 2006, valida apenas para casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Por que é preciso uma lei especial só para proteger a mulher? Porque ainda existe a ideia equivocada de que briga entre marido e mulher é algo tão natural e o casal deve resolver o problema sozinho. Por isso, muitas mulheres agredidas tinha a experiência horrível de serem desconsideradas ao procurar ajuda. Além disso, essas mulheres estão muitos vulneráveis, porque o agressor conhece sua fraqueza, seus medos, suas rotinas, seus parentes.

O que a lei Maria da Penha trouxe de novo?

O principal foi fazer a violência doméstica contra a mulher deixar de ser considerada um crime de menor poder ofensivo, punindo com multa ou cesPAG.54

Não, ela também atinge namorado, noivos e parceiros, assim como ex em geral, mesmo morando em casas separadas. Em caso de violência, a mulher pode procurar ajuda através do 180, serviço oferecido pela Secretaria Especial de Políticas para mulheres. O sistema funciona 24 horas e a ligação é gratuita e não é preciso se identificar.


Mulheres de negócios

GRANA

Manutenção

das manas

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) entre 2001 e 2012, mesmo com a rotina de trabalho, as mulheres chegam a dedicar entre 20 e 25 horas semanais com cuidados para a casa e os filhos, entretanto, nesse tempo não estava incluso aqueles trabalhos considerados “de homens”, os serviços de manutenção residencial.

S

egundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) entre 2001 e 2012, mesmo com a rotina de trabalho, as mulheres chegam a dedicar entre 20 e 25 horas semanais com cuidados para a casa e os filhos, entretanto, nesse tempo não estava incluso aqueles trabalhos considerados “de homens”, os serviços de manutenção residencial. Até aí, os homens tinham funções dentro de casa, o problema maior é quando a mulher é sozinha e precisa contratar alguém para fazer essas tarefas; existem diversos relatos de pessoas que já foram assediadas, durante a realização desses serviços e foi assim que surgiu a Mana Serviços de Manutenção Residencial, um serviço exclusivo de mulheres para ajudar na manutenção residencial. Segundo Ana Luisa Monteiro Correard, 27 anos, empresária e criadora do projeto, a ideia surgiu após ela passar por um desconforto durante uma manutenção realizada por um homem: “eu sofri um assédio de um entregador de gás na minha casa e percebi que me sentiria mais confortável se as entregadoras fossem mulheres. Pensando assim e querendo mais conforto nessas situações, resolvi oferecer no meu Facebook, um bico (sic), no qual eu prestaria serviços de manutenção residencial. Quando me imaginei entrando numa casa com algum homem que eu não conhecesse, me senti insegura, por isso pensei em só atender mulheres, que no final, deu super (sic) certo. ” Além dos serviços oferecidos, a Mana Serviços de Manutenção Residencial oferece cursos para mulheres que querem entender e aprender um pouco mais sobre essas tarefas simples e que, às vezes, são consideradas impossíveis de serem realizadas. Segundo Ana, o intuito das oficinas é mostrar que todas podem mexer com fer-

ramentas e realizar os serviços domésticos, como conta: “o objetivo é que elas não sejam enroladas, sendo chamando a gente para realizar um serviço ou qualquer outro prestador, também queremos mostrar que é possível mexer com ferramentas e saber se virar. Furadeira não é nenhum bicho de sete cabeças. ” As mulheres que mais procuram o auxílio têm entre 20 e 35 anos e normalmente moram sozinhas ou com suas companheiras ou esposas, o perfil ideal para pedir ajuda do Mana Serviços de Manutenção Residencial, já que é composto apenas por mulheres, são acessíveis e trabalham com uma equipe pronta para realizar qualquer tipo de serviço, como explica Ana: “Atualmente temos eu e minha sócia nos atendimentos, 4 freelancers que são chamadas quando os serviços são maiores e uma equipe com contadora, social media e mais uma que nos ajuda a responder as mídias sociais. Além disso, a ideia de expansão já está em nossos planos, juntamente com algumas melhorias que temos pensado para facilitar ainda mais a vida das nossas clientes. ” Quer saber mais e conhecer o projeto? Entre em contato através do Facebook: https://www.facebook.com/manamanutencaoF ou pelo telefone: (11) 94400-0863.

PAG.55


PARCEIROS

PAG.56


PAG.57


PAG.58


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.