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Ano 1 2011/2

a revista do poeta Jacinto Fabio Corrêa

Obras Publicadas: Nas palavras do poeta, saiba mais sobre o peculiar livro “O Derrame das Pedras”. › 10

Imprensa: Veja o recorte da opinião da imprensa acerca do livro “Poemas Casados”. › 15


modrý do Tcheco, azul. adj. 2 g. 1. Diz-se da cor do céu sem nuvens. s. m. 2. A cor do espectro solar que se confunde com a do céu. 3. [Figurado] O céu; o espaço aéreo. azul ultramarino: tinta ou cor azul extraída do lápis-lazúli. = ULTRAMAR

Constatação Eu não sabia que Roma era azul nem que azul era o tom da aurora. Não podia imaginar que se bebia azul no ar ou que o azul se fazia chão para a poesia. Sequer supunha azul a palavra confessada quanto mais que o perdão se vestia de azul. Não desconfiava que se morria de azul para no azul novamente amanhecer. Quem dera reconhecer azul toda saudade ou que para o azul se convertia toda decência. Eu não sabia que os seus olhos eram azuis que de tão azuis, negros.


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editorial

www.jacintocorrea.com.br jacintocorrea@gmail.com Ano 1 - 2011/2

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A poesia do detalhe... QUANDO APRESENTADOS ao trabalho de Jacinto Fabio Corrêa, o que primeiro nos chamou atenção foi, obviamente, o trabalho gráfico de nossa professora, a designer parceira do Jacinto, Heliana Soneghet Pacheco. Passado o estusiasmo, porém, nos focamos no nosso obje-to de estudo: o site das poesias do Jacinto, e consequentemente, no trabalho dele como um todo. Se até o momento nosso contato com poesias era ínfimo, após duas semanas mergulhadas nesse munto de amores, inocência, lirismo, despedidas e demais sutilezas, pode-se dizer que tornamo-nos íntimos desse trabalho lindo feito pelo poeta, e, porque não citar, os parceiros dele, escolhidos, tenho certeza, com a minúcia típica do autor. Essa primeira edição procura aprensetar à você leitor quem é o Jacinto - caso já não o conheça - e intenta ainda fazê-lo se apaixonar: seja por ele, seja pela poesia, seja simplesmente pelo ato de se apaixonar...

Thaís Imbroisi e Breno Serafini, designers 2011.2

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Sumário

Edição 01

jacinto

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Saiba sobre o peculiar livro “O Derrame das Pedras”. onde o autor retrata o amor tempestuoso.

obras publicadas

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Veja o recorte da opinião da imprensa acerca do livro “Poemas Casados”.

novidades & curiosidades

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Confira o álbum de fotos do lançamento do livro Silenciário, no ano de 2010.

fotopoemas

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Amigos do poeta, membros da equipe e demais queridos deixaram recados para o Jacinto.

Conheça a figura de Jacinto Fabio Corrêa, o poeta dos detalhes, da minúcia.

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obras publicadas

O livro que homenageia São Damasceno, o padroeiro das poesas de Jacinto.

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imprensa

Do primeiro recital até a prática comum de hoje em dia.

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galeria

Um retrato da importância do imagético no trabalho do poeta.

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recados



Foto: Fabio Alves Corrêa

Para o livro O diário do trapezista cego. Com o pai na Lagoa, RJ, 1961


A poesia do

detalhe

Jacinto Fabio Corrêa

Foto: Anna Agonigi

Para o livro Jogos urbanos.

O POETA carioca Jacinto Fabio Corrêa, nascido em 1960, surgiu no cenário literário brasileiro em 1989, com a publicação de Entre Dois Invernos, produção independente que anunciava a opção do escritor pela poesia do detalhe, retratando, com particular sutileza, as situações do dia-a-dia. O caos urbano, as chegadas e despedidas amorosas, a potência e a inocência das artes são alguns dos temas que habitam os livros de poesia de Jacinto. Outra particularidade marcante de sua obra é o casamento essencial entre a palavra e o visual - para o poeta, tão importante quanto apresentar os poemas escolhidos é ter a certeza de que eles receberam o tratamento gráfico adequado: “Na verdade, faço mais roteiros do que livros. Conto histórias através de versos e, para isso, preciso de uma parceria visual”. Essa proposta de trabalho é marcada principalmente pelo aspecto artesanal dos seus livros, em que cada exemplar é tratado individualmente, por meio de colagens de papéis, metais, madeiras e de acabamentos que se utilizam de cordas ou silk-screen para traduzir o lirismo dos poemas do autor. Além de Entre Dois Invernos, Jacinto já lançou outros oito livros de poesia seguindo essa mesma linha de trabalho, com a criação visual sempre assinada pela designer Heliana Soneghet Pacheco: Cenas Nuas (1990), Jogos Urbanos (1992), O Derrame das Pedras (1994), Pedaços – O Parasempre da Hora (1996), O Diário do Trapezista Cego (1999), Poemas Casados (2003), Poemas Caseiros e Poemas Simples (2007), e Silenciário (2010). Além disso, em 2008 lançou o DVD Um diário para dois e, em 2005, em conjunto com seu irmão, o cantor e compositor e cantor Paulo Corrêa, o CD de música e poesia Sinais Urbanos, Jacinto, que é jornalista e publicitário, atualmente integra o grupo Nós da Poesia, formado ainda pelas poetas Adele Weber, Lila Maia, Maria Dolores Wanderley e Helena Ortiz, e trabalha como diretor de Planejamento e Comunicação do Senac Nacional.

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obras publicadas

Nas palavras do poeta

O Derrame das Pedras: 1989

1990

1992

Entre dois Invernos

Cenas Nuas

Jogos Urbanos

o poeta, seu itinerário, suas senhas Foto: Breno Serafini

A IDÉIA do livro nasceu pronta: um poeta que, para não deixar que

seu amor seja esquecido, espalha sete senhas em forma de poesias pelos postes da cidade. O derrame das pedras é o registro literal – e literário – de uma história de amor profunda. As sete senhas não funcionam como sete capítulos, apenas como marcações, momentos em que o poeta sai às ruas para fazer a sua peregrinação. É o livro que mais gosto, porque acho que consegui concretizar plenamente o roteiro que pensei. Além dos poemas de amor, o livro reforça personagens e temas dos livros anteriores, como Deus, Rio de Janeiro, a arte de uma maneira geral. São textos curtos, cheios de significados ocultos, de sutilezas. Uma cena inesquecível O título é fruto de uma cena que vi na infância. No sítio de minha avó em Araras, Petrópolis (RJ), da montanha que ficava em frente à sala, num dia de chuva, no início dos anos 70, uma cachoeira de pedras, num barulho ensurdecedor, nos fez todos sair do casarão e, abismados, olhar aquele espetáculo de força, pavor, beleza. Foi tudo tão rápido e inesquecível. Essa imagem voltou com muita força e exatidão à minha cabeça quando tentei definir para mim mesmo o que era amar perdidamente alguém estando diariamente apaixonado. Eu lembrei do maravilhoso espetáculo das imensas pedras rolando, fazendo um barulho ensurdecedor, só que caindo num mar acolhedor e não na terra, como realmente aconteceu. Então, O derrame das pedras é isso: a paixão alucinada dentro do amor alucinado. O livro, em segredo, é um extenso bilhete a um amor desaparecido, que, ao lê-lo sem querer, deu sinais de vida.

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Primeira e quarta capa do O Derrame das Pedras.


1994

1996

1999

O Derrame das Pedras

Pedaços:

O Diário do

O parasempre da hora

Trapezista Cego

Um poema marcante para mim é o de abertura “O tratado dos mágicos”, que, no final, diz (...) Versos para que em dias de saudade mortal roubá-los seja a única e inevitável saída .

Estrutura gráfica e lançamento A imagem que sempre surgia em mim era a de uma colagem, como que retratando o movimento das pedras rolando. Falei isso com com a designer

Heliana Soneghet Pacheco e ela pediu para eu selecionar as fotos, os desenhos, os manuscritos, os documentos que, de uma maneira ou de outra, estavam relacionados ao livro. Ampliei um pouco a idéia e separei imagens relacionadas à minha vida. Adoro a capa e principalmente a forma como os títulos dos poemas foram diagramados. É o livro com o qual eu gostaria de ser lembrado. O lançamento aconteceu na sede do Instituto de Estudos da Religião (Iser), no Rio de Janeiro, onde eu trabalhava, no dia 4 de maio de 1994. Para comemorar mais um livro, ofereci aos convidados uma festa matinê, com muita música, dança e alegria. Só faltou a designer Silvana César Vargas, minha amiga que falecera há seis meses. Faltou não: estava literalmente no meu peito, no colete que mandei fazer com o pano do vestido de trapézio, preto e amarelo, que ela tanto gostava de usar.

Seu beijo era nocivo a meu desejo Seus amigos nunca foram os meus Sua arrogância era de funcionário público Seu silêncio, crime hediondo Sua frieza, impublicável. Verdadeiramente sinto sua falta. Pedaços IX (poema retirado do livro)

O derrame das pedras Rio de Janeiro, 1994 104 páginas, 102 poemas Programação visual: Heliana Soneghet Pacheco Coordenação editorial: Cecilia Leal Editoração eletrônica: Hares Fotografia: Mara Lúcia Martins Gráfica: Reproarte


obras publicadas

Nas palavras do poeta

2003

Poemas Casados

Poemas casados:

retalhos para muitas colchas

PARA MIM, a montagem de um livro é muito diferente do processo de criação de um poema. A poesia nasce livre, sem qualquer grilhão: pode ser bela, feia, às vezes pouco importa, às vezes o que importa é vê-la parida. Já montar um livro me exige muitos pensamentos, muitas horas de respiração (são raras às vezes em que ele chega pronto). Poemas casados foi, até hoje, o livro mais difícil de ser finalizado, passando por fases variadas. Na verdade, a idéia inicial era montar um livro chamado “Diária” que registrasse a minha relação cotidiana, seja escrevendo, seja lendo, com a poesia. Todos os poemas fariam alusão à poética, de uma forma ou de outra. Mas logo depois da idéia nascida, o livro resolveu dormir um pouco e passei uns dois, três anos pensando, respirando, até que descobri que ele era outra coisa. Surgiu a necessidade de falar do tempo, da infância, da adolescência e da maturidade de uma forma amorosa. A partir daí, fui buscar os poemas em meus cadernos que passassem esse sentimento. Durante a viagem, percebei que alguns poemas estavam muito ligados a outros, como se falassem entre si. Aí percebi que o tempo sobre o qual queria falar era o da proximidade, o do toque ou do quasetoque, todas as sutilizes, todas as lutas, todas as conquistas que envolviam a minha vida com o tempo.

Minha avó e São Damasceno Tudo isso me remeteu, de imediato, à minha avó paterna, Emília, e às tardes que eu passava a seu lado espionando-lhe as mãos de costureira entre agulhas, linhas, panos, máquina de costura e muita sabedoria de fazer valer a sua vontade diante do tempo:

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Correnteza Ainda posso ver minha avó no quarto de costura a pregar botões em vestidos turquesa e a me revelar em silêncio: são estrelas redondas que bordo no céu. Também em silêncio eu lhe sorria de volta. Até hoje minha poesia se veste com o resto das linhas coloridas daquelas tardes. Poemas casados é um tributo a ela e ao seu poder (ela venceu o tempo) – há várias citações a ela durante o livro. Também é uma homenagem a São Damasceno, a quem o livro é dedicado, santo que inventei (na verdade, ele existe, mas nunca deixou registro histórico na Terra) como padroeiro de minha poesia. Há muitos anos escrevo sobre ele, um santo mais humano do que qualquer outro, cheio de versos e vícios para contar: A quatro mãos Quando apareceu bêbado na porta de minha inspiração, quase não o deixei entrar: homem esquisito, mal vestido, cabelo despenteado, relógio de pulso parado. Se dizendo um santo desertor,


2007

2010

Poemas Caseiros Poemas Simples

Silenciário

pedia, sem qualquer pudor, para passar a noite em minha casa. Não portava auréola nem aparentava poderes, sequer sabia abençoar ou voar de verdade. Não havia garantias, mas alguma sinceridade eu conseguia perceber: os olhos de criança e a voz de avô me fizeram acolhê-lo.

destino. E lhe dei a promessa do verso mais bonito, lhe dei um outro copo de tinto, lhe dei o meu respeito. Antes de questionar o motivo de ter se banido do bando de Deus, contou ser um santo de hábitos exóticos, pouco condizentes com Foto: Thaís Imbroisi

Poemas casados Rio de Janeiro, 2003 98 páginas, 78 poemas + 2 textos (abertura e término) Programação visual: Heliana Soneghet Pacheco Revisão: Marcelo Secron Bessa Ilustração: Pablo Esdras Assessoria técnica da capa (patchwork): Daniêla Soneghet Gráfica: Reproarte Dei de comer, dei de beber, dei de observar aquela estranha figura, já alegria, mas ainda mácula, uma figura que mais parecia um anjo envelhecido. Deu de comer, deu de beber, deu de contar história sobre a minha vida, já folia, mas ainda páscoa, uma vida que mais parecia um filme desconhecido. Quando perguntei por que o exílio em meu apartamento, falou do meu nascimento, de ser ele o piloto de pouco talento daquele objeto voador não-identificado que me deu as boas-vindas ao mundo. Afirmou ser ele o padroeiro de minha poesia. Aceitei e reconheci aquele dia como a sua palavra e o meu 2011.2

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obras publicadas

Nas palavras do poeta

as regras divinas. Gostava de permabular pelas esquinas, de contar piadas, de namorar e de sempre estar ao lado dos que não temiam a criação. Sua intenção, quando ainda um anjo pequeno, era a de ser poeta. Esperou tantas eras pela autorização, mas a nomeação nunca vinha. E o que é pior: considerado distraído demais pelos santos mais adorados, acabava sempre preterido por José, Tomé, Expedito ou Benedito na limpeza diária das letras dos mandamentos recomendados. A missão a ele destinada foi a de guardião dos asteróides combalidos. Perdido, não conseguiu cumprir as expectativas. Após a primeira tentativa, quando ficou dias esperando a chegada de uma poeira estelar que fosse e nada apareceu, ele entendeu que a sua eternidade ou futuro valia tão somente a decisão de partir e não mais voltar ao sideral. (...) - Meu santo, esteja sempre comigo. Faça-me cair em tentação e me convide para um turbilhão de chuva do interior. Não me valha com recato ou com recado sem remetente. Roube-me a semente para que eu lhe traga a rosa, parta sem rota sempre que necessário pedir perdão. Empreste-me a aceitação da mortalidade que eu o convenço da inutilidade de um para sempre sem cor. Dê-me dores, meu santo, mas sem traição. Dê-me adeus, mas sem redenção ou remorso. Que me falte o medo, que me falte a coragem, que me falte a metade imprescindível da vida de quem só sabe viver por inteiro. Deixe-me até sem verso, meu santo. Mas nunca me deixe sem poesia. Essa prosa que fecha o livro (“A quatro mãos”) é sobre um dos meus maravilhosos momentos com São Damasceno, em que passei uma tarde inteira conversando com ele em pensamento na janela de casa. A prosa que abre o livro (“Uma espécie de anunciação”) é fruto de meu primeiro recital, que aconteceu em São Paulo, em 1999. Lembro de ter pensado: Como me apresentarei? Como falar quem sou? Ninguém me conhece. Aí a poesia me deu a resposta comentando o dia do meu nascimento: No dia em que nasci, os jornais não noticiaram nada de mais. Nenhuma garota de Ipanema inspirou Vinícius ou Jobim, nenhum texto encantou Cacilda, nenhum silêncio levou Clarice à máquina de escrever. Bergman e Godard não se encontraram para um roteiro em comum, Bardot e Marylin acordaram anônimas em suas camas, Garbo não foi fotografada ao sair para beber uma cuba-libre. Ninguém notou que apenas o F, de fronteira, separava JK de JFK, ninguém duvidou de que Elvis era o rei, nem mesmo ouviu-se falar em um rock inédito de Bill Haley e Seus Cometas. (...) Mas eu sei que, naquele dia, um objeto voador não-identificado alguns juraram ser um zepelin de cartolina, outros um disco-voador de celofane - cruzou o céu da Tijuca, no Rio de Janeiro, por volta das 4 horas da tarde. E que, independentemente do que era, um balão de metal ou uma nave de palha espacial, o objeto subiu o mais alto que

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pôde, carregando em seu mais secreto compartimento três versos magos, quer dizer, três versos mágicos, encomendados à inspiração por um trovador que, dizem, abandonou o lar por desencanto, sem deixar o novo endereço para a ex-amada, para o santo protetor nem mesmo para Deus. Desde então eu sei que aquele balaio de ágata voador - ou seria um meteoro de águas e plânctus brilhantes? -, que tanto necessitava de um destino, quer dizer, de um destinatário, fixou residência sobre a minha vida. Até hoje, 39 anos depois, por sorte ou bênção vez por outra o objeto pousa, sem que ninguém perceba e sem que eu ainda consiga defini-lo, no quintal da casa de minha poesia. Estrutura gráfica e lançamento Eu e a designer Heliana Soneghet Pacheco passamos dois anos gestando o projeto gráfico do livro. A única coisa que eu sabia era que a maioria dos poemas teria que estar próxima e que teriam uns poucos solteiros, que precisavam se esparramar sozinhos pelas páginas. Também sabia que precisava de tecido para render a devida homenagem à minha avó e que os poemas inicial e final deveriam ter algum destaque. De posse desses meus pedidos e necessidades, com suas mãos de costureira da beleza, Heliana teceu um projeto gráfico lindo, ousado, com muito branco nas páginas, e com a capa em patchwork: ela me devolveu, sob a forma de uma colcha de retalhos, toda a história da minha vida. A capa de cada um dos 500 exemplares recebeu uma combinação diferente de panos, seguindo a tradição involuntária, minha e de Heliana, de tentarmos dar a cada leitor o seu próprio livro. Poemas casados foi lançado no dia 5 de dezembro de 2003, no Espaço Cultural Lugar Comum, em Botafogo (RJ). No final da noite, eu e meu irmão Paulo Corrêa, acompanhados dos músicos Marcelo Camargo e Luís Alberto Rocha Melo, fizemos uma pequena apresentação, uma prévia do que desaguaria no CD de poesia e música Sinais urbanos.


imprensa

Jornal Rioletras (crítica), RJ, 2004

O Patchwork poético ESCRITO POR Marcus Vinicius, poeta e Doutor em Literatura Brasileira, e publicada no Jornal Rioletras do Rio de Janeiro, em 2004, o recorte ao lado parte de uma crítica acerca do patchwork poético feito sobre o livro Poemas Casados, de Jacinto Fabio Corrêa, que conta com uma surpreendente capa feita de retalhos.

Acesse o site www.jacintocorrea.com.br e, na sessão imprensa, leia a crítica de Marcus Vinicius na íntegra.

Capas do Poemas Casados.

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novidades & curiosidades O Primeiro Recital

Foto: Jackeline Nigri

1º recital no RJ, Lugar Comum, 1999.

Os recitais podem

desvendar as poesias

ATÉ SER convidado pela escritora Olga Borelli para fazer uma apresetação mais longa em São Paulo, em 1999, nunca havia recitado meus poemas em público. Achava que não daria para a coisa. De lá para cá, percebi o prazer infinito de poder, não apenas apresentar as minhas poesias, como também desvendá-las: o verso falado, muitas vezes, é melhor assimilado. Outras vezes não, é verdade, fica sendo apenas uma confissão dividida entre livro, mãos e olhos. Uma curiosidade: após aceitar o convite da Olga, fiquei dias pensando em como me apresentar a pessoas que nunca haviam ouvido falar de mim. Veio a idéia de escrever um texto poético sobre o meu nascimento, que batizei de “A espécie de anunciação”, que acabou abrindo o meu livro seguinte, Poemas casados. Depois da experiência inicial em São Paulo, meus amigos me cobraram fazer uma apresentação no Rio. Peguei carona em um dos shows de meu irmão, o cantor e compositor Paulo Corrêa, ainda em 1999, abrindo o seu espetáculo com o mesmo minirrecital que fiz na capital paulista. Foi muito legal. Um retorno que eu realmente não esperava. E passei a aceitar com mais regularidade os convites para participar de recitais coletivos. A boa recepção do minirrecital no Rio me levou a montar meu primeiro recital individual, chamado Sete senhas, no ano 2000.

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Baseado no poema inaugural do livro O derrame da pedras, “O tratado dos mágicos”, o recital conta a história de um poeta que sai pelas ruas da cidade espalhando poemas pelos postes para que a pessoa amada não se esqueça. Talvez seja o poema que ainda hoje eu mais goste. Convidei o meu irmão para fazer a trilha e uma participação musical no recital. Pablo Esdras desenhou as “sete senhas” que eu pregava em forma de ilustrações num pano vermelho cravado de botões, cenário criado pela artista plástica Alba D’Almeida.

“(...) nunca havia recitado meus poemas em público. Achava que (eu) não daria para a coisa.”


novidades & curiosidades Audiopoemas

Outra curiosidade: durante o processo e criação do Sete senhas, escrevi o texto poético “A quatro mãos”, como se fosse uma continuação de “A espécie de anunciação”. É sobre São Damasceno, santo padroeiro inventado por minha poesia, que está sempre presente. Este texto fecha o livro Poemas casados e é um dos que mais alegrias me trouxe na vida, por eu ter travado, inconscientemente, um diálogo com o Menino Jesus, de Fernando Pessoa. Vale registrar que essa participação do Paulo no Sete senhas acabou inspirando fazermos um CD e espetáculo de música e poesia juntos chamados Sinais urbanos. O espetáculo Sinais urbanos demorou um bom tempo para ser encenado. Tentamos alguns roteiros, com a ajuda do cineasta e músico Luís Alberto Rocha Melo, mas não achávamos o tom. Ficamos de 2001 a 2002 nessa gestação, até que o filho nasceu – e com um subtítulo que explicava tudo: “Itinerário poético-musical dos errantes”. Ou seja, o espetáculo era um retrato da minha poesia e da música do Paulo diante do caos urbano, das tentativas de encontro, dos abandonos, da esperança de vencer: “A um passo do nada, eu vôo” (poema final do livro O derrame das pedras). Mas antes de apresentá-lo, decidimos que faríamos um CD, gravado ao vivo no estúdio, para deixar registrado o nosso encontro poético-musical. Para ilustrar, utilizamos os desenhos do Pablo Esdras criados para o Sete senhas. As tais voltas que o mundo dá. Atualmente, estou me dedicando à criação de eu segundo recital individual, chamado Um diário para dois, baseado nos livros Poemas caseiros e Poemas simples, lançados em outubro de 2007 Se tudo correr bem, estréio no início de 2008. Bem, tudo isso para dizer que falar poesia é muito diferente de escrever, que é muito diferente de publicar. São emoções particulares que, às vezes, se complementam, às vezes, não. Escrever é uma necessidade íntima, permanente. Publicar é uma necessidade ocasional, muito ligada a sonhar e querer ver o sonho concretizado. Recitar é uma necessidade de explicar ao outro o que escrevi ou publiquei – e também uma necessidade de namorar um pouco a quem me assiste.

Audiopoemas, ouça o Jacinto Corrêa declamando aos ouvintes. O POETA, em parceria com Paulo Corrêa lancou o cd Sinais Urbanos. O cd, que possui canções de Paulo e poesias de Jacinto, pode ser escutado na íntegra no youtube, através do link:

http://www.jacintocorrea.com.br/links.htm Foto: Heliana Soneghet Pacheco

1º recital em SP, Em Cena, 1999.

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galeria

Lançamento Silenciário, RJ, 2010

Lançamento do livro Fotos: Fernando Garcia

OS VERSOS abordam a questão do silêncio em quatro dimensões: pátria, existência, natureza e amor, sintetizadas a partir da observação particular do escritor. Na dimensão ‘pátria’, poemas sobre o Brasil e os diversos países visitados pelo poeta; em ‘existência’, o silêncio diante dos desafios da infância; em ‘natureza’, a observação do meio ambiente, em especial, as árvores; em ‘amor’, poemas de encontro, desencontro, saudade e espera sob a ótica do silêncio.

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Silenciário

Próximo evento... Comemorativo aos 50 anos de Jacinto Fabio Corrêa 10 de novembro de 2011, 20h Solar de Botafogo Rua General Polidoro, 180 Botafogo - Rio de Janeiro/RJ


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Na rede da minha juventude havia peixes Na rede da minha velhice hĂĄ mensagens Do mar viemos Para o mar voltaremos

Do mar viemos Para o mar voltaremos

Foto enviada por Heliana Soneghet Pacheco. 2011.2

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recados

Sobre: Uma vida que roubei para mim, RJ, maio de 2011

Foto: Erik Barros Pinto

Recital Uma vida que roubei para mim, RJ, maio de 2011.

David (Buss, seu marido) e eu temos conversado sobre tudo que vimos e sentimos no recital. O recital estava redondinho, tudo bem orquestrado e sua performance, perfeita. Até a repetição do início de um poema foi legal porque ensina para a gente como fazer quando estivermos numa situação parecida. Você era o dono do show e orquestrava tudo muito bem, misturando diferentes coisas, fazendo do espetáculo um tributo à poesia em si através das imagens, dos códigos corporais, da música, dos convidados, dos gestos e das palavras. Você, sem querer, mostrava, da poesia que já conhecíamos, uma face nova. Legal isso de recitar porque você dá outra vida à poesia, diferente da nossa de leitores, e ganhamos, com isso, no mínimo, duas novas!!!!! Os três primeiros poemas recitados foram um tsunami de poesia! Quem estava na platéia levou um caldo atrás do outro - quem ficou de fora do teatro deve ter visto a poesia transbordando do Solar de Botafogo afora! Ali, você já mostrava a seus convidados, como se eles já não soubessem, a que veio! Uma noite maravilhosa, querido poeta e, desta vez, eu que lhe agradeço. Obrigada pelo carinho de suas palavras no final, a lembrança carinhosa do David e o privilégio de estar com você todos estes anos, sentada no camarote da sua poesia!” Heliana Soneghet Pacheco designer 15/06/2011

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Recados:

este espaço é seu!

Prestigie-o envie também o seu:

jacintocorrea@gmail.com

Parabéns pelo recital! Foi lindo demais. Amei os poemas novos e mais ainda de ouvir voce declamando os antigos. No próximo recital, estou achando que irei dormir na fila para ver se consigo entrar! Você está ficando muito requisitado, daqui a pouco terei que marcar hora para chegar perto de você!! Mais uma vez, LINDO LINDO LINDO!” Roberta Villela relações-públicas 15/06/2011


Designers

Breno Serafini Thaís Imbroisi

Colaboradores Heliana Soneghet Pacheco

Impressão e acabamento Copy Express Vitória Breno Serafini Thaís Imbroisi

Todos os textos publicados nessa revista foram retirados do site do poeta Jacinto Fabio Corrêa.

C 89 | M 59 | Y 23 | K 4,5

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C 89 | M 59 | Y 23 | K 4,5 Esta revista foi produzida com as fontes Minion Pro e UnB Office em suas respectivas variações. O miolo foi impresso em papel couchê fosco 115g/m2 e as capas em papel couchê 280g/m2.

Jacinto Fabio Corrêa • www.jacintocorrea.com.br

Editor Heliana Soneghet Pacheco


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