O LAGO E A PAISAGEM Thais Lacerda de Castro
Fonte: JoĂŁo Campello
O ESPAÇO CONSTRUÍDO E VIVENCIADO
Universidade de Brasília FAU/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo THAU/Departamento de Teoria e História
Ensaio Teórico Aluna: Thais Lacerda de Castro Matrícula: 10|0053211 Orientadora: Luciana Sabóia
Ensaio Teórico. Trabalho apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília – FAU/UnB para submissão à banca avaliadora final, como procedimento da disciplina de Ensaio Teórico. Constitui um dos pré-requisitos para outorga de grau – graduação – como Arquiteto e Urbanista.
Professora Orientadora:
Luciana Sabóia
Banca Examinadora:
Gabriela Tenório
Miguel Gally Junho de 2016
Apresentação
 O registro fotográfico de uma paisagem é símbolo de uma visão pessoal carregada de intenções, uma representação fruto de uma apropriação pessoal presente na memória do autor. O cartão-postal aqui empregado surge com o intuito de transformar essa representação pessoal em uma paisagem passível de apropriação pelo leitor. Transformar momentos e memórias em fotografias sempre esteve presente nas minhas paixões. Agradeço à minha família e amigos que sempre me proporcionaram esses momentos e se apropriaram das paisagens ao meu lado. Agradeço ainda à minha orientadora, Luciana, por me conduzir nessa transformação pessoal perante a paisagem. Fig. 1 Apropriação nas margens opostas do Lago
Lista de figuras Fig. 1 Apropriação nas margens opostas do Lago.................. 6 Fig. 2 Atividade de pesca na margem do Lago..................... 12 Fig. 3 Horizontalidade da paisagem de Brasília. Fonte: Joana França................................................................ 16 Fig. 4 Croqui da implantação do eixo monumental em terraplenos......................................................................... 19 Fig. 5 Fenômeno do crepúsculo às margens do Lago............ 20 Fig. 6 Interferência da velocidade na capacidade de percepção........................................................ 24 Fig. 7 Dimensão e visibilidade do Lago Paranoá.................. 26 Fig. 8 Topografia do sítio ...................................................... 29 Fig. 9 Vila Amaury, antes do represamento do Lago........... 30 Fig. 10 Início do represamento do Lago e Palácio................ 30 Fig. 11 Construção do Palácio da Alvorada e represamento do Lago............................................................ 31 Fig. 12 Palácio da Alvorada durante represamento do Lago............................................................ 31 Fig. 13 Palácio da Alvorada nas margens do Lago............... 31 Fig. 14 Deslocamento do Plano Piloto em relação ao lago... 32 Fig. 15 Projeto Original do Plano Piloto............................... 33 Fig. 16 Planta Oficial na data de inauguração..................... 33 Fig. 17 Adensamento populacional, 1960............................. 34 Fig. 18 Adensamento populacional, 1964............................. 34 Fig. 19 Adensamento populacional, 1975.............................. 34 Fig. 20 Yatch Club, 1965 .................................................. 35
Fig. 21 Fig. 22 Fig. 23 Fig. 24 Fig. 25 Fig. 26 Fig. 27 Fig. 28 Fig. 29 Fig. 30 Fig. 31 Fig. 32 Fig. 33 Fig. 34 Fig. 35 Fig. 36 Fig. 37 Fig. 38 Fig. 39 Fig. 40 Fig. 41 Fig. 42 Fig. 43 Fig. 44 Fig. 45 Fig. 46
Lago Paranoá, década de 70..................................... 35 Adensamento populacional, 1986............................. 36 Projeto do Centro Lazer Beira Lago, 1987............... 36 Projeto do Centro Lazer Beira Lago, 1987............... 37 Projeto do Centro Lazer Beira Lago, 1987............... 37 Adensamento populacional, 1997............................. 37 Plano Geral do Projeto Orla, 1992........................... 38 Croqui do Lago Paranoá e os espaços públicos........ 39 Apropriação privada das margens opostas do Lago.40 Localização dos espaços analisados.......................... 41 Margem natural do Lago, inacessível....................... 42 Margem natural do Lago, acessível.......................... 44 Prainha do Lago Norte, acessos................................ 46 Prainha do Lago Norte, apropriação social.............. 48 Prainha do Lago Norte, apropriação social.............. 50 Prainha do Lago Norte, apropriação social.............. 52 Prainha do Lago Norte, apropriação social.............. 54 Pontão do Lago Sul................................................... 56 Pontão do Lago Sul................................................... 58 Pontão do Lago Sul, crepúsculo................................ 60 Centro de Lazer Beira Lago...................................... 62 Centro de Lazer Beira Lago...................................... 64 Centro de Lazer Beira Lago...................................... 66 Reflexo do lago em transformação........................... 68 Apropriação social em área privativa....................... 69 Apropriação da paisagem.......................................... 70
Índice
Introdução........................................................................ 10 Paisagem e espaço público .................................... 13 Os espaços públicos............................................................ 13 A paisagem......................................................................... 14 A percepção da paisagem ................................................. 18 Percepção e qualidade visual............................................. 21
Brasília, o lago paranoá e a configuração da paisagem.................................. 26 A paisagem urbana de Brasília.......................................... 26 O Lago Paranoá e a configuração da paisagem................ 28 O surgimento...................................................................... 28
Apropriações na Orla e as transformações da paisagem......................... 32 As paisagens no Lago Paranoá.......................................... 39
Considerações finais.................................................. 67 Bibliografia...................................................................... 72
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Introdução
A cidade é repleta de significados para quem nela vive, na qual a paisagem é uma fonte de percepção dos elementos que a compõe. Ao produzir e utilizar o espaço público, por exemplo, este se configura como um reflexo da sociedade inscrito na paisagem da cidade. Esta, resultado da ação da sociedade sobre o meio físico, apresenta sua história, cultura, e outros fatores por meio da configuração espacial da cidade. Compreender a paisagem da cidade é entendê-la como uma complexa e diversificada sobreposição de tempos, culturas, estruturas sociais e políticas materializadas no espaço físico. A paisagem no Lago Paranoá, no contexto da cidade de Brasília, está associada à ideia de construção da paisagem na história da cidade. Essa paisagem, assim entendida, é portadora de significados e expressa os diferentes momentos de desenvolvimento da sociedade, adquirindo uma dimensão simbólica passível de leituras espaços-temporais. O intenso processo de urbanização da cidade acarretou um forte impacto ambiental nas margens do lago, além de ter reduzido o contato direto com a paisagem a pontos específicos da margem, os quais, muitas vezes, são pouco acessíveis e até
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mesmo desconhecidos por grande parte da população. A falta de visibilidade do Lago Paranoá, considerado um importante elemento da cidade, provoca o distanciamento de sua paisagem, muitas vezes prejudicial. Citamos Jucá (2009): Em Brasília, [...] os pontos de observação, dentro e fora da cidade, são pouco explorados. Cabe destacar que essa visibilidade sendo parâmetro estabelecido na concepção da cidade, logo, é fator de direito e fundamental para a percepção de sua paisagem. A apreensão da cidade pelo olhar é essencial à valorização e, assim, à preservação da cidade-parque.
A visibilidade, portanto, é um dos primeiros passos para a compreensão da configuração da paisagem. A visão foi o principal sentido utilizado para a análise, porém não foi o único, pois a paisagem não está ligada apenas ao visível, mas também a tudo que é perceptível. Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível. Aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes mas também de cores, movimentos, odores, sons etc..(SANTOS, 1988: 21)
A percepção é fundamental na análise da paisagem e a sua compreensão permite uma leitura adequada da mesma a fim de identificar os processos ocorridos naquele lugar. A leitura dos elementos estáticos e dinâmicos da paisagem permite a compreensão dos fenômenos naturais e aqueles causados pelo Homem, pois sendo o reflexo da sociedade, ela é rica em movimentos de transformação.
Fig. 2 Atividade de pesca na margem do Lago
Essa leitura se faz por meio dos olhos do observador, necessitando mais uma vez de visibilidade e é inerente a cada ser humano. A individualidade na percepção da paisagem e do espaço favorece a manifestação do sentimento de identificação e pertencimento ao lugar. Por isso, a compreensão da paisagem no Lago Paranoá é de extrema importância para a comunidade, pois possibilita a criação do sentimento de pertencimento e coletividade, levando ao desenvolvimento social em conjunto.
Tendo em vista os conceitos expostos, este trabalho, além de contribuir para a compreensão histórica da paisagem no Lago Paranoá, tem como objetivo promover uma reflexão sobre a configuração dessa paisagem, sua visibilidade no contexto urbano e inserção no quotidiano dos usuários da cidade. Portanto, a questão de pesquisa que orienta este plano de trabalho é como os espaços públicos na orla do lago articulam, por meio da apropriação social, a paisagem no Lago Paranoá?
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Assim sendo, este ensaio tem como objetivo articular ideias que permitam refletir sobre a paisagem além da representação mas também enquanto fenômeno vivido. Sempre associada à ideia de representação da superfície da terra, principalmente da natureza, a paisagem apresentase como um conceito abrangente e impreciso, dependendo da área de estudo. Este estudo incita a ampliar e aprofundar a compreensão de sua natureza e significados. Para tanto e frente à problemática da configuração da paisagem no Lago Paranoá, adotou-se bases teóricas referentes ao espaço e à paisagem, analisou-se o processo de ocupação das margens do lago, aliado ao processo histórico da cidade de Brasília, tendo a paisagem como foco principal. A escolha dos locais a serem fotografados deu-se de maneira criteriosa e específica, visando à compreensão das diferentes possibilidades de paisagens no Lago Paranoá. Sendo assim, os seguintes procedimentos foram adotados: 1. Desenvolvimento de revisão bibliográfica para fundamentação teórica a partir de documentos, livros e artigos que discutam o tema dos espaços e da paisagem como, por exemplo, os estudiosos Anne Cauquelin, Milton Santos, Zeny Rosendhal, Roberto Correa, entre outros; 2. Desenvolvimento de revisão bibliográfica a partir de documentos, livros e artigos que abordem o processo histórico da criação, construção e ocupação da cidade de Brasília como, por exemplo, o Relatório da Comissão
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de Localização da Nova Capital Federal e o Relatório do Plano Piloto de Brasília; e 3. Contextualização e levantamento de três diferentes espaços públicos na orla do lago por meio de fotografias.
Paisagem e espaço público Do ponto de vista teórico, este trabalho parte, portanto, da compreensão do termo paisagem, associado a ideia de construção da paisagem na história e no espaço, de acordo com uma ambiguidade de significados perfeitamente calculada (GREGOTTI, 1972: 69). Se faz necessária a determinação dos conceitos aqui estudados a fim de melhor compreender a relação entre eles, pois muitas vezes os termos espaço e paisagem podem ser confundidos, como Santos (2006) afirma: Mas, na terminologia geográfica corrente, essas duas expressões - configuração geográfica e paisagem - substituem frequentemente e equivocadamente a palavra espaço.
Os espaços públicos Por definição comum, o espaço é uma extensão indefinida que contém e envolve todos os seres e objetos. Para Santos (2006), o espaço é a síntese, sempre provisória, entre o conteúdo social e as formas espaciais. No contexto das cidades, os espaços públicos referem-se aos lugares urbanos que, na presença de infraestruturas e equipamentos coletivos, dão suporte à vida em comum: ruas, avenidas, praças, parques. Eles podem ser definidos em duas categorias de acordo com as funções predominantes: espaços de permanência ou espaços de circulação.
Os espaços públicos são, por natureza, mais abertos e permeáveis e o que os distinguem dos espaços privados é a facilidade de acesso. O espaço público é de todos e deveria ser acessível a todos. No entanto, no caso estudado, é perceptível uma segregação espacial no uso e acesso ao lago, causando uma barreira à percepção da paisagem no Lago Paranoá, como será apresentado mais adiante. Em documento recente sobre a caracterização da Orla do Lago Paranoá e seu Modelo de Desenvolvimento, o Governo do Distrito Federal (2003:14) explicita que: Se sabe que a classe social, o nível de instrução, a faixa etária, o sexo, a violência urbana, o acesso ao espaço, limitam o lazer a uma minoria da população. Particularmente quanto ao aspecto do acesso ao espaço, para a garantia de que o lazer seja uma escolha não obrigatória, as diversas possibilidades de práticas ou consumo do lazer devem estar presentes no espaço urbano, de forma a poder atender as pessoas no seu todo. A democratização do lazer implica necessariamente a democratização do espaço.
A partir dessa caracterização tem-se que a paisagem à beira lago é privilégio da minoria, prejudicando assim a manifestação do sentimento de identificação e pertencimento ao lugar, provocando muitas vezes a alteração e deterioração dessa paisagem.
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A paisagem A paisagem é história congelada, mas participa da história viva. São as suas formas que realizam, no espaço, as funções sociais. Milton Santos (2006: 69) O significado da paisagem parece estar disseminado em nós por meio do senso comum. Mas para melhor compreensão da importância que a paisagem tem nas cidades, sobretudo em Brasília, é necessário entender as origens dessa noção tão presente na sociedade. Ao longo da história, a paisagem assumiu vários significados, sendo usada com as mais variadas conotações. Segundo Cauquelin (2007), a origem da paisagem está ligada à história da arte e à criação da perspectiva. Embora a sua origem e conceituação não se restrinjam ao contexto da pintura, foi a partir da perspectiva que a paisagem ganhou autonomia, ou seja, para a autora a paisagem torna-se uma “realidade para além do quadro”. Pode-se dizer que foi a partir das pinturas e do uso da perspectiva que adquirimos conhecimento sobre as proporções do mundo, seus limites e até mesmo sobre os sentimentos provocados por ela. A paisagem, portanto, poderia ser lida como o produto da relação direta com o mundo e, neste caso, a correspondência entre natureza e paisagem se faz evidente, no qual podemos citar:
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A paisagem participa da eternidade da natureza, um constante existir, antes do homem e, sem dúvida, depois dele. Em suma, a paisagem é uma substância. (CAUQUELIN, 2007: 39)
Relacionada às produções artísticas, às representações em imagens, a ideia de paisagem sempre esteve relacionada à sua representação e, neste caso, à pintura, que busca reproduzir objetivamente um fragmento de natureza. No entanto, o ponto de observação, o ângulo, o enquadramento da vista resultam de uma escolha que é a dimensão subjetiva dessa representação, demonstrando um caráter de intervenção do indivíduo na criação da imagem da paisagem. A fotografia dará continuidade à produção de imagens da paisagem, contribuindo consideravelmente na popularização dessas cenas de paisagens pitorescas através dos cartões postais e posteriormente associada a todo tipo de mídia produzida e desenvolvida em fins do século XX, disseminando no universo popular a imagem da paisagem. Uma vez que as intervenções humanas na natureza envolvem sua transformação em cultura, todas as paisagens possuem significados simbólicos enquanto produto da apropriação e transformação da natureza pelo homem. Nesse sentido, a paisagem existe na sua relação com um sujeito coletivo que é a sociedade que a produziu, que a reproduz e a transforma em função de uma determinada lógica. (BERQUE, 2004).
Fig. 3 Horizontalidade da paisagem de Brasília. Fonte: Joana França
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Quando pensamos na imagem da cidade de Brasília, cartões postais e fotografias dos monumentos arquitetônicos e representações da paisagem e natureza estão sempre presentes. A cidade-parque, construída durante o movimento moderno, tem características particulares, desde a escolha do sítio e sua implantação aos elementos de natureza presente na cidade. A natureza está inserida na concepção da cidade e está representada principalmente pela escala bucólica, sendo o Lago Paranoá o elemento mais imponente dessa escala, ainda assim nem sempre tão perceptível. O sítio, a paisagem e as formas naturais do terreno constituem as bases de projeto. A conservação dos rasgos naturais da paisagem permite a existência de senso de lugar e preserva a sensibilidade para o contexto; é assim que a escala percebida se torna mais contínua e complexa (ROMERO, 2011, pág. 12).
Fig. 4 Croqui da implantação do eixo monumental em terraplenos
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A percepção da paisagem A paisagem é denotada pela morfologia e conotada pelo conteúdo em um processo de captura e representação. A paisagem representada resulta da apreensão do olhar do indivíduo que, por sua vez, é condicionado por filtros fisiológicos, psicológicos, socioculturais e econômicos, e da esfera da memória e da lembrança. A percepção da paisagem baseada na visão e nos elementos visuais é apenas uma das maneiras de se reconhecer o lugar. Estando aliada principalmente à memória, ela muda de acordo com cada indivíduo, gerando diversas relações e conexões com outros espaços advindos da memória. Para Santos (2006: 45), é a partir do reconhecimento dos objetos na paisagem, e no espaço, que somos alertados para as relações que existem entre os lugares. Essas relações são respostas ao processo produtivo no sentido largo, incluindo desde a produção de mercadorias à produção simbólica. Um dos objetos mais significativos na paisagem de Brasília é o Lago Paranoá, além do céu e da vegetação. Esses podem ser percebidos em conjunto, principalmente em sua orla, e representam a ideia de paisagem-natureza. O acesso visual a esses três objetos permite sensações de encantamento, contemplação e descanso, experiência muitas vezes vivida pela minoria que possui acesso a essa orla.
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Pode-se dizer ainda do lago Paranoá que suas águas oferecem reflexos mágicos da aurora, do crepúsculo e da lua cheia, multiplicando o impacto visual destes fenômenos tão caros ao habitante de Brasília. (ROMERO, 2011, pág. 47).
Percebe-se, portanto, que a paisagem e a percepção são complementares, coexistem, pois a partir da percepção podese identificar os elementos e as qualidades da paisagem. Essa percepção, segundo Yazigi (1999), está relacionada a recepção de estímulos externos que diferem segundo: • Fatores educativos e culturais, adquiridos por meio da convivência com a sociedade; e • Fatores específicos de uma sensibilidade particular, emocional e afinidades, relativas ao modo como observador se relaciona com o ambiente. A paisagem tem sua existência condicionada pela capacidade do indivíduo em reter, reproduzir e distinguir elementos significativos. A paisagem é forma e aparência, e seu verdadeiro conteúdo só se revela por meio das funções sociais que lhe são constantemente atribuídas no processo histórico, transmitindo significados a partir dos signos e valores que lhe atribuídos. Pode-se ainda dizer que as mudanças morfológicas na paisagem são inofensivas e ineficientes, não podendo ser analisadas independentemente das praticas sociais. Já as mudanças no contexto material, daquilo que a compõe, alteram a paisagem e introduz novas funções, valores e objetos, trazendo consigo ações imbuídas de significado e Fig. 5 Fenômeno do crepúsculo às margens do Lago
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intencionalidade. É da natureza das paisagens se transformar. Consequentemente, para que a percepção e interpretação da paisagem ocorram, é necessário que o indivíduo possa reconhecer os elementos visuais existentes na paisagem, pois, conforme Cauquellin (2007), os elementos são como uma língua que encontramos pronta diante de nossas aprendizagens e que se nos desvela em nossas primeiras experiências. No caso da paisagem urbana, esses elementos são muitas vezes substituídos pelas sensações visual, auditiva, tátil ou olfativa. No entanto, a cidade de Brasília possui características específicas, por dispor de uma paisagem urbana onde as sensações predominam e, ao mesmo tempo, apresentar uma paisagem-natureza, principalmente na escala bucólica e nas margens do Lago Paranoá. Acredita-se, pela junção dos elementos urbanos e naturais, que a percepção da paisagem na cidade de Brasília, sobretudo nas margens do lago, é complementar e rica de sentidos.
Percepção e qualidade visual O surgimento da noção de paisagem vincula-se a uma maneira de ver e conceber o mundo, de compô-lo em uma cena construída por meio do olhar. A partir do momento em que essa cena é composta na mente de um indivíduo, a paisagem percebida é também construída dentro de cada um. Cabe ressaltar que a paisagem oferece a quem observa apenas uma parte da área. Segundo Cabral (2000: 37), essa limitação se liga a dois fatores: à posição do observador, que determina a extensão de seu campo visual, e ao relevo da área observada. Essas lacunas da paisagem são preenchidas pela percepção que ultrapassa o simples dado sensorial e as completa. Assim, a parte de uma área observada como paisagem nunca é considerada absolutamente isolada, é percebida como parte de um espaço mais vasto que é fornecido pela experiência direta (íntima) ou indireta (conceitual e simbólica). Na opinião de Collot (apud CABRAL, 2000: 37), a paisagem se define como o espaço ao alcance do olhar e a disposição do corpo, se revestindo de significados vinculados aos comportamentos possíveis. Desta maneira, percebe-se a importância do acesso às margens do lago para a percepção da paisagem e também da necessidade de uma apropriação desse espaço, no qual o corpo inteiro esteja envolvido nele a fim de obter-se uma experiência direta. Tais ideias nos levam a enfatizar que enquanto fenômeno, ou seja, como um conjunto dinâmico no qual o sujeito vive,
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desloca-se e busca por significados, a paisagem não pode ser considerada isoladamente e nem ser dissociada do sujeito que a vivencia. Em uma cidade onde a paisagem-urbana coexiste com a paisagem-natureza a caracterização da mesma pode ser complicada. Apesar disso, sabe-se que enquanto fenômeno, ela é indissociável do indivíduo que a vivencia. Esse é capaz de identificar a sua qualidade visual, através de algumas características como: diversidade, naturalidade, superfície e borda d’água, singularidade e recursos turísticos. A diversidade está relacionada à variação de elementos paisagísticos1 no espaço, conferindo um maior dinamismo à paisagem ao invés de monotonia. Cullen (2015) enfatiza que a diversidade raramente tem sido utilizada nas cidades e que as construções contemporâneas têm sido previsíveis, sendo marcadas pela repetição e modulação. Em relação à naturalidade, o mesmo autor a associa à uma paisagem repleta de recursos naturais e com escassez de elementos introduzidos pelo homem. A vegetação é um dos recursos mais presentes na paisagem urbana, a água também é outro importante elemento que confere naturalidade ao espaço. Segundo Cullen (2015), as bordas d’água em contraste com a superfície terrestre formam linhas de força. Essa linha do horizonte marcada pela água é enigmática e remete a uma sensação visual de infinito. Além de recurso visual, a água é ainda um elemento de diversão, capaz de atrair as pessoas 1 Tem-se como elementos paisagísticos: vegetação, terra, água, equipamentos de esporte e lazer, mobiliário urbano, pisos, iluminação.
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à prática de esportes, demonstrando sua potencialidade de integração social. Waterman (2010: 68) ressalta que água é mais que um simples recurso de sustentação de vida. Ela pode tornar a vida mais prazerosa na forma de recreação e esportes aquáticos. [...] Ela pode nos proporcionar beleza e paisagem, junto com as vistas e sons que reduzem o estresse, aumentam a felicidade e enriquecem nossas vidas.
A singularidade de um local está diretamente ligada à diversidade, suas características peculiares que tornam o local único e interessante. No caso de Brasília, a diversidade e singularidade não estão ligadas somente aos elementos paisagísticos, mas também aos valores tradicionais e a sua história que atribuem significância. O julgamento sobre a qualidade visual da paisagem só pode ser feito uma vez que ela foi percebida pelo homem, ou seja, está intimamente ligado a legibilidade da paisagem. A maneira como percebemos o espaço influencia no relacionamento que temos com os ambientes em que vivemos e essa relação é adquirida através do movimento. Quando nos movemos pelo espaço urbano, o meio de transporte que utilizamos é fundamental na relação que temos com o espaço, uma vez que o transporte condiciona nossa maneira de ver a paisagem dependendo da velocidade em que o movimento é realizado. O transporte de velocidade tão presente no dia a dia da cidade nos apresenta uma situação nova, em relação a um passado mais lento, de distâncias Fig. 6 Interferência da velocidade na capacidade de percepção
percorridas a pé. Quanto maior a velocidade do movimento mais a percepção se torna apenas visual, sendo muitas vezes pequenos fragmentos cinematográficos da paisagem da cidade. Atualmente, o hábito de se observar paisagens fica quase restrito a olhá-la de uma janela de ônibus, ou carro, ou mesmo através de fotos em revistas, mas vivenciá-la parece cada vez mais privilégio de poucos. A percepção do espaço, da paisagem, contribui para a criação da imagem da cidade em seus habitantes ou visitantes. Conforme Kevin Lynch explica, é desejável que a cidade dê margem a todo tipo de leitura e apropriação, de forma a ser legível e positiva para o maior número possível de pessoas. Vale lembrar que não se trata apenas de uma leitura visual: identificamos os ambientes também por aspectos como textura, sons, cheiros e movimento. Em seu livro “A imagem da cidade”, Kevin Lynch nos ajuda a compreender o espaço urbano por meio de alguns parâmetros: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Vias São os espaços de circulação, não se limitando a ruas e calçadas. São importantes na percepção do espaço, tanto por serem por onde as pessoas circulam, como também por seu caráter intrínseco de continuidade. O sistema viário ganha qualidade quando suas vias principais são singulares em relação às outras, seja através dos usos, da pavimentação, do tipo de construção em suas margens, amplitude, convergências ou potenciais visuais
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Limites São os contornos e barreiras visíveis que “quebram” a continuidade do espaço, por exemplo, um rio, lago, linha férrea, muros. Os limites podem ser mais visíveis e mais acessíveis, como é o caso dos rios e lagos quando eles têm algum papel no lazer ou no transporte urbano, ou quando o limite pode ser avistado de longe. Bairros São porções territoriais que contêm características comuns que os identificam, como um predomínio de construções altas ou baixas, densidade de construções, desenho viário, atividade predominante, ocupação histórica, topografia etc. São ambientes permeáveis. Pontos nodais Também são permeáveis, mas variam em relação à escala de observação, além de serem pontos estratégicos no espaço. Por exemplo, um cruzamento entre duas vias importantes configura um ponto nodal, uma praça ou mesmo o centro histórico de uma cidade também configuram pontos nodais. Os pontos nodais ganham destaque se forem bem delimitados e tiverem focos visuais e formas coerentes. Marcos São pontos de referência e não precisam ser necessariamente permeáveis. Uma construção mais alta que o entorno, uma torre de rádio, uma igreja, um monumento, qualquer objeto que se destaque do seu entorno podem ser considerados marcos. Os marcos serão mais identificáveis quanto mais clara for sua forma e quanto mais contrastante for
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a relação figura e plano de fundo. Podemos aplicar todos esses parâmetros para melhor compreensão do espaço do Lago Paranoá e suas paisagens. Kevin Lynch (2014) faz uma relação dos espaços abertos e relativos à água citando a cidade de Chicago, que se desenvolve ao longo da margem do lago Michigan e que este, acessível e visível por todos, confere enorme identidade à cidade. Rios e lagos, não por acaso, são excelentes exemplos do que o livro denomina “limites”. Em Brasília, o Lago Paranoá possui bastante visibilidade devido às características topográficas da cidade e seu caráter de horizontalidade e permeabilidade visual, no entanto, difere do lago Michigan no que diz respeito à acessibilidade e à concentração de ruas e atividades ao longo de suas margens; apesar disso, sua dimensão confere uma identidade única à capital. A identificação entre um povo e seu ambiente cria uma coesão e os une pela memória e pelo cotidiano. Conforme explica Lynch (2014: 143), a paisagem “oferece material para as lembranças e símbolos comuns que unem o grupo e permitem que seus membros se comuniquem entre si”. Sobretudo, pelo que vimos até então, paisagem é uma fonte incessante de significação e, uma vez acessível ao olhar e à mente, torna-se guia para as ações e condutas humanas; não se trata de um enquadramento fi xo e estático, mas construído de movimento, valores e sentimento. Ao incluir aquilo que tem significância para os diferentes sujeitos, a paisagem deixa de ser o pano de fundo das atividade e acontecimentos e integra-
Fig. 7 Dimensão e visibilidade do Lago Paranoá
se à existência humana. A fi m de compreender melhor essa integração da sociedade com a paisagem no Lago Paranoá, será analisada, a seguir, sua história, seu surgimento e seu desenvolvimento na paisagem da cidade. Sabe-se que essa paisagem está em constante transformação também por meio das mudanças culturais. Os significados se alteram conforme adquirimos
informação acerca de algo ou mudamos um ponto de vista como, por exemplo, o que vem ocorrendo na orla do lago com o debate acerca de sua desocupação, modificando paradigmas com resultados que se refletem no espaço urbano. É essa possibilidade que instiga: o poder de ressignificação da paisagem.
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Brasília, o lago paranoá e a configuração da paisagem
A paisagem urbana de Brasília A cidade de Brasília, fundada em 1960, tem sua história iniciada, por meio de idealizações, propostas e expedições desde o ano 1761, quando o primeiro-ministro de Portugal, Marquês de Pombal, propôs a mudança da capital do Império para o interior do Brasil Colônia. Em 1891, foi nomeada a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, liderada por Luís Cruls, na qual especialistas fizeram um levantamento sobre a topografia, o clima, a geologia, a flora, a fauna e os recursos materiais da região do Planalto Central. A área ficou conhecida como Quadrilátero Cruls e foi apresentada em 1894 ao governo republicano. A comissão designava Brasília com o nome de “Vera Cruz”. Somente no ano de 1956, o então presidente da República, Juscelino Kubitschek, lançou por meio da Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal, um concurso nacional para a criação do plano piloto para a nova Capital. Esse apresentava diversas premissas que deveriam ser contempladas pelos concorrentes, entre as quais podemos destacar o item que diz respeito ao Lago Paranoá. 4 - Represa, Hotel, Palácio Residencial e Aeroporto A represa (cujo nível corresponderá à cota 997),
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o hotel e o palácio residencial ficarão situados de acordo com a planta já fixada e à disposição dos concorrentes. O palácio do Governo projetado aguardará fixação do Plano Piloto. Nessa planta se acha também localizado o aeroporto definitivo, já em construção. (COSTA, 2014: 25)
O concurso contou com 25 propostas diferentes, sendo selecionado para a capital o plano do urbanista Lucio Costa. Esse baseava-se nos princípios do urbanismo moderno, uma forma de concepção urbana que objetivava a proposição de cidades ideais para um homem “tipo”, de maneira a priorizar a segregação por funções urbanas tendo o automóvel como elemento privilegiado(HOLSTON apud SANTOS, 2008: 78). Em termos de organização espacial, Costa adotou a setorização para estruturar seu projeto para a Nova Capital do Brasil, tendo como base uma circulação ordenada para integração e articulação dos vários setores. Segundo Costa (2014: 40), Brasília seria constituída, por um lado, da técnica rodoviária e, por outro, da técnica paisagística de parques e jardins. Sendo assim ao mesmo tempo capital aérea e rodoviária e cidade-parque. Nas palavras do autor, “Nasceu de um gesto Primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse; dois eixos cruzando-se em angulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz. Procurou-se depois a adaptação à topografia local, ao escoamento natural das águas, à melhor orientação, arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo no triângulo que define a área urbanizada” (2014: 30). O partido adotado para o Plano Piloto revelou a natureza, valorizando-a ao se
acomodar à forma do sítio. Estabeleceu um vínculo com o espaço e, escolheu para a localização o triângulo contido entre os braços do lago, enfatizando a escolha do sítio para a Nova Capital que havia sido baseada na leitura morfológica da paisagem. O sitio Castanho é um sítio convexo, é aberto a todas as influências dos ventos predominantes e, durante os períodos de calmaria, tem um forma topográfica ideal para promover a drenagem do ar através do sítio da cidade. O ar se movimenta do Planalto alto e seco através da área da cidade e se drena dentro do vale florestado do rio São Bartolomeu. Este vale florestado é de tamanho suficiente e está a uma distância suficiente para não constituir uma desvantagem. A área do sítio é bem drenada, condição esta que reduzirá a umidade a um mínimo. Ela é bem coberta com uma floresta que de árvores baixas de melhor qualidade que a de quaisquer outras áreas altas. Isto influenciará favoravelmente o microclima e dessa forma reduzirá a temperatura do solo e a influência da radiação noturna. (CODEPLAN, 1995:243 apud ROMERO: 44)
tendo o Lago Paranoá como elemento de forte composição visual. Graças a sua dimensão, o Lago Paranoá alcança uma escala geográfica e possui diversas possibilidades de apreensão da paisagem e dos sentidos. A presença do lago como elemento da paisagem será discutida adiante.
Considerando que a paisagem é imbuída de intencionalidade e produto da intervenção e apropriação da natureza pelo homem, podemos alegar que ao inserir um gesto intencional à topografia do sítio, ou seja, à natureza, Lucio Costa estabelece não apenas o início da cidade mas também a configuração de sua paisagem. Essa paisagem, definida a partir da configuração topográfica, proporcionou uma visão abrangente do horizonte, Fig. 8 Topografia do sítio
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O Lago Paranoá e a configuração da paisagem Assim como Brasília, o Lago Paranoá também teve sua construção projetada antes mesmo da construção da cidade. Constitui-se como um importante elemento da cidade ao marcar e compor a paisagem da escala bucólica.
tomará o seu lugar primitivo e formará um lago navegável [...] a abundância de peixes, que não é de menos importância, o cunho de aformoseamento, que essas belas águas correntes haviam de dar à nova capital, despertariam certamente a admiração de todas as nações.(MENESES et al, 2001).
O surgimento O lago foi criado durante a construção da cidade e visava amenizar as condições climáticas da região, permitir a geração de energia elétrica e propiciar lazer à população. As origens do Lago Paranoá remetem ao ano de 1883 durante a Missão Cruls, no qual Auguste François Marie Glaziou, botânico e paisagista francês, elaborou um relatório sobre as condições físicas, climáticas e biológicas da região, onde as águas tiveram grande destaque. Assim se referia o botânico francês ao local onde hoje se encontra o Lago Paranoá:
Fig. 9 Vila Amaury, antes do represamento do Lago
Entre dois chapadões conhecidos na localidade pelos nomes Gama e Paranoá, existe imensa planície em parte sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa; outrora era um lago devido à junção de diferentes cursos de água formando o rio Parnauá; o excedente desse lago, atravessando uma depressão do chapadão, acabou, com o carrear dos saibros e mesmo das pedras grossas, por abrir nesse ponto uma brecha funda, de paredes quase verticais, pela qual se precipitam hoje todas as águas dessas alturas. É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte [...] forçosamente a água
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Fig. 10 Início do represamento do Lago e Palácio
Fig. 11 Construção do Palácio da Alvorada e represamento do Lago
Fig. 12 Palácio da Alvorada durante represamento do Lago
Fig. 13 Palácio da Alvorada nas margens do Lago
A partir do relatório de Glaziou, pode-se compreender que o então “lago artificial”, na verdade, havia existido como um lago natural cujas águas foram escoadas no local onde se localiza a Barragem do Paranoá. Com a construção da barragem, ao fi nal de 1956, iniciava-se um processo maior de ocupação do território com a criação de acampamentos para os operários que, mais tarde, foram transferidos para o que hoje é conhecida como a cidade do Paranoá, em virtude do represamento acontecido no dia 2 de maio de 1959. O lago possui cerca de 40 quilômetros de extensão, de uma ponta a outra, com 60 milhões de metros cúbicos de água e chega a ter 40 metros de profundidade, estando a mil metros acima do nível do mar. O edital do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, lançado em 1956, previa a possível utilização do lago como forma de apoio à Capital, como se pode perceber na citação a seguir: Ao balancear os recursos essenciais ao estabelecimento de uma cidade, destinada a ser a capital do país, a água deve constituir o primeiro, desde que ela representa fonte de vida e elemento indispensável à higiene. […] O levantamento do curso desses rios, as possibilidades de junções, atentandose a particularidades topográficas, tudo está por fazer. Mas, o que é fora de dúvida é que o abastecimento de água à futura Capital da República será abundante. 2 2 (FGV/CPDOC, Arq. JP vp 1954.10.01) acessado em abril, 2016 http:// cpdoc.fgv.br/brasilia/arquivos
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No projeto de Lucio Costa, a presença do lago e sua orla era tratada, de forma teórica, como um elemento importante da paisagem: Evitou-se a localização dos bairros residenciais na orla da lagoa, a fim de preservá-la intacta, tratada com bosques e campos de feição naturalista e rústica para os passeios e amenidades bucólicas de toda a população urbana. Apenas os clubes esportivos, os restaurantes, os lugares de recreio, os balneários e núcleos de pesca poderão chegar à beira d’água. (COSTA, 1995: 294).
Lucio Costa buscava articular a paisagem construída com a natural, mantendo as áreas residenciais afastadas da margem de forma a preservar a visibilidade e a permeabilidade das margens do lago. Segundo Queiroz (1991: 228) essa articulação dar-se-ia de forma não abrupta, serena, harmonizando o efeito visual, na qual competiu realizar a cidade recuada em relação ao cerrado e à orla do lago. A orla havia sido pensada para funcionar como um espaço de conexão entre o homem e a natureza, assim como a escala bucólica, cuja função é servir de transição entre a escala residencial e a natureza.
No entanto, essa visibilidade e permeabilidade pretendida para o lago no projeto proposto por Costa sofreu alterações no momento de sua execução. Nesse sentido, o projeto inicial previa a cidade a oeste de seu espaço atual, sem referência à ocupação das penínsulas e da margem Leste do Lago Paranoá, característica criticada pela banca julgadora do concurso ao observar que haveria “demasiada quantidade indiscriminada de terra entre o centro governamental e o lago”, bem como que “a parte mais longínqua do lago e as penínsulas não são utilizadas para habitações”. 3 A mudança da localização do projeto, cerca de 800 metros em direção ao lago, ocupou um terreno mais inclinado que o planejado por Costa, gerando problemas de topografia não estudados naquele momento e que resultaram em diversas intervenções no projeto original.
E a intervenção da escala bucólica no ritmo e na harmonia dos espaços urbanos se faz sentir na passagem, sem transição do ocupado para o não ocupado - em lugar de muralhas, a cidade se propôs delimitada por área livres arborizadas. (COSTA apud QUEIROZ, 1991: 228)
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3 Relatório do Plano Piloto de Brasília, 2014: 46 Fig. 14 Deslocamento do Plano Piloto em relação ao lago
Com a aproximação do Plano em direção ao lago, habitações foram previstas para as penínsulas, sendo denominados os bairros residenciais do Lago Sul e do Lago Norte. O desenho urbano dessas regiões e a morfologia das vias principais, localizadas ao centro e não às margens, favoreceram, com o passar do tempo e a falta de fiscalização e
leis, as primeiras privatizações da orla do Lago Paranoá, cujo caráter inicial de área pública perdeu-se paulatinamente e limitou o acesso a paisagem no lago a uma minoria. A seguir, dedica-se um espaço para compreender mais detalhadamente o processo de ocupação da orla e como esse processo configurou a paisagem do Lago Paranoá.
Fig. 15 Projeto Original do Plano Piloto
Fig. 16 Planta Oficial na data de inauguração
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Apropriações na Orla e as transformações da paisagem “À medida que Brasília ia sendo edificada, a paisagem natural ia dando lugar a uma outra completamente diferente, com elementos estranhos àquele meio e de adaptação ainda por conhecer.” Martha Romero O adensamento populacional e a apropriação das margens do lago se deu incialmente em decorrência da aproximação do Plano em direção ao lago. No projeto original previa-se que a ocupação das margens restringir-se-ia a clubes, restaurantes e áreas de lazer como elementos de integração da comunidade com o lago. Entre os equipamentos localizados às margens do lago estavam previstos por Lucio Costa o “Golf Club”, o “Yatch Club”, o Palácio da Alvorada, além dos setores de residências individuais, consequência da ocupação das penínsulas. O tratamento da paisagem e da vegetação ao redor dessas construções representava uma atmosfera de parque. [...] entremeados por denso bosque que se estende até a margem da represa, bordejada nesse trecho pela alameda de contorno que intermitentemente se desprende de sua orla para embrenhar-se pelo campo que se pretende eventualmente florido e manchado de arvoredo (COSTA, 2014: 40)
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Fig. 17 Adensamento populacional, 1960
Fig. 18 Adensamento populacional, 1964
Fig. 19 Adensamento populacional, 1975
À medida que a cidade foi crescendo, bairros de lotes unifamiliares para as classes média e alta foram surgindo na margem Leste. Em 1961, já era prevista a ocupação residencial do Lago Sul (SHIS) e Lago Norte (SHIN) com registro em cartório. O Setor de Mansões do Lago Norte (SMLN) foi registrado em 1963, com a diferença de que a ocupação privada das margens foi assegurada (MEDEIROS, 2008: 65). A margem Oeste do lago ficou destinada a clubes, áreas de lazer, hotéis e aos palácios do governo. Na década de 1970, além de clubes e hotéis, também foram construídas instituições governamentais e filantrópicas. A via L5, que era a mais próxima ao lago, foi relocada, afastando a circulação da proximidade visual do lago, e a área pública existente foi integrada aos lotes dos clubes. Como afirma Seduma (2003, p. 28): [...] essa década é marcada pela diminuição dos pontos de acesso ao lago, tendo em vista a eliminação de algumas áreas públicas intersticiais aos lotes.
Fig. 20 Yatch Club, 1965
Fig. 21 Lago Paranoá, década de 70
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Já na década de 1980, apesar dos esforços da política habitacional de tentar favorecer determinados eixos de expansão, as ocupações ilegais intensificaram-se na bacia do Lago Paranoá. A preocupação com o acesso público da orla provocou questionamentos no governo que, em 1985, promoveu um estudo chamado Brasília-57/85 (do plano piloto ao Plano Piloto), priorizando a reformulação da margem Oeste. Como consequência, em 1987, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) realizou a proposta para o “Centro de Lazer Beira Lago”, o primeiro trecho de uso comercial na orla.
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Fig. 23 Projeto do Centro Lazer Beira Lago, 1987
Fig. 22 Adensamento populacional, 1986
Fig. 26 Adensamento populacional, 1997
Fig. 24 Projeto do Centro Lazer Beira Lago, 1987
Fig. 25 Projeto do Centro Lazer Beira Lago, 1987
A década de 1990 foi marcada pelo crescimento urbano com a formação dos condomínios habitacionais, tanto na orla do Lago Paranoá como nos novos núcleos de assentamento. A fim de incentivar a recuperação, preservação, uso do lago e o turismo em geral, o governo realizou o “Plano de Ordenamento e Estruturação Turística de Brasília”, conhecido como Projeto Orla, concebido em 1992 e iniciado em 1995. O projeto alertou Brasília para o potencial do Lago Paranoá no que diz respeito às suas potencialidades para implantação de atividades turística e de lazer, distribuídas em 11 polos com empreendimentos diversos. O conjunto dos polos formaria o Grande Complexo Urbanístico da Orla do Lago Paranoá e seguiria a orientação de Lucio Costa em relação à utilização do lago e sua relação com a cidade, tornando acessíveis as suas margens e democratizando sua utilização. No entanto, o projeto não questiona a questão da apropriação de área pública, uma vez
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Fig. 27 Plano Geral do Projeto Orla, 1992
que a implementação dos polos ocorreu em lotes desocupados e sem destinação específica, com o intuito de diminuir os riscos de serem invadidos. O Projeto possui as seguintes diretrizes gerais expressas em seu documento base: • Manutenção da orla livre para acesso e uso públicos; • Preservação da horizontalidade da paisagem; • Valorização de um patrimônio cultural da humanidade; • Recuperação dos princípios que nortearam a criação da cidade; e • Manutenção da predominância de espaços livres e arborizados sobre os espaços construídos, característicos da escala bucólica de Brasília. Apesar de o projeto propor um complexo urbanístico interligado, os polos são tratados de maneira isolada, citando apenas a existência de uma futura alameda que faria a conexão entre eles. O Projeto Orla pode ter sido uma boa proposta de incentivo ao uso dos espaços públicos relacionados ao lago, no entanto, a implantação dos polos se deu de forma centralizada e concentrada na zona central da orla, com exceção do Polo 1, localizado no final do Lago Norte, oposto ao Polo 3, na Concha Acústica. Essa implantação não possibilita uma ocupação abrangente e efetiva da orla pela população. O projeto também não garante a preservação ambiental das margens do lago, principalmente a margem leste, na qual não se previu nenhum polo, mantendo seu caráter de uso privado ao invés de uso público.
Mesmo após 11 anos desde o início de sua implementação, o Projeto Orla teve apenas dois polos previstos no projeto original implementados: o Polo 3 (Complexo Brasília Palace), que encontra-se abandonado, e o Polo 6 (Centro de Lazer Beira Lago), que não foi completamente implementado, porém possui uma grande utilização, sobretudo nos finais de semana. O Polo 10 (Pontão do Lago Sul) e o Polo 11 (Parque Ermida Dom Bosco) foram acrescentados na revisão do projeto em 1995.
Fig. 28 Croqui do Lago Paranoá e os espaços públicos
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São as únicas áreas que já eram utilizadas pela população e que necessitavam apenas de infraestrutura de lazer e, quando as receberam, se consagraram como espaços públicos da orla. Segundo Parente (2006), o Projeto Orla não realiza a intenção em conferir a escala bucólica desejada por Lúcio Costa, na medida em que esta não pode ser alcançada por meio de intervenções pontuais e isoladas mas sim de forma articulada e contínua, através de alamedas em toda a extensão da orla. Apesar da orla do lago apresentar apenas quatro das 11 propostas do Projeto Orla, ela possuí diversos espaços públicos de diferentes características que são utilizados pela população. No entanto, sua configuração geral ainda se apresenta de forma desarticulada e descontínua devido ao intenso processo de apropriação privada das margens do Lago Paranoá.
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Fig. 29 Apropriação privada das margens do Lago
As paisagens no Lago Paranoá As paisagens apresentadas neste capítulo são consequências diretas do processo de desenvolvimento e adensamento populacional da cidade de Brasília, nas margens do Lago Paranoá. A atual configuração urbana da orla do lago não apresenta muitos espaços públicos acessíveis, devido à localização das vias de contorno do lago afastadas do mesmo. Os três espaços aqui analisados vão além da representação
da paisagem, são amostras de seu processo de transformação, imbuídos de significados e repletos de vivência. São eles: a Prainha do Lago Norte(1), o Pontão do Lago Sul(2) e a ponte JK com o Centro de Lazer Beira Lago(3).
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Fig. 30 Localização dos espaços analisados
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Fig. 31 Margem natural do 42Lago, inacessĂvel
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Uma paisagem que se revela em meio à vegetação natural das margens do lago e as cercas das residências privadas.
Fig. 32 Margem natural do Lago, acessível
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Prainha do Lago Norte, sua configuração urbana permite a aproximação do indivíduo, possibilitando sua imerção na paisagem.
Fig. 33 Prainha do Lago Norte, acessos
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Prainha do Lago Norte, reflexo da apropriação social.
Fig. 34 Prainha do Lago Norte, apropriação social
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Prainha do Lago Norte, reflexo da realidade vivenciada.
Fig. 35 Prainha do Lago Norte, apropriação social
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Prainha do Lago Norte, paisagem de integração.
Fig. 36 Prainha do Lago Norte, apropriação social
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Prainha do Lago Norte, imersão do indivíduo na percepção da paisagem.
Fig. 37 Prainha do Lago Norte, apropriação social
PontĂŁo do Lago Sul, paisagem elitizada.
Fig. 38 PontĂŁo do Lago Sul
Pontão do Lago Sul, paisagem de integração.
Fig. 39 Pontão do Lago Sul
Pontão do Lago Sul, paisagem contemplativa do pôr do sol.
Fig. 40 Pontão do Lago Sul, crepúsculo
Centro de Lazer Beira Lago, reflexo de paisagem cenรกrio.
Fig. 41 Centro de Lazer Beira Lago
Centro de Lazer Beira Lago, reflexo de “paisagem-postal�.
Fig. 42 Centro de Lazer Beira Lago
Centro de Lazer Beira Lago, reflexo de contrapontos.
Fig. 43 Centro de Lazer Beira Lago
Centro de Lazer Beira Lago, reflexo de transformação.
Fig. 44 Reflexo do lago em transformação
Considerações finais
A configuração urbana de Brasília contribui para que a concentração de pessoas, quase sempre, se de em função de atributos não espaciais, condicionada pelas atividades desenvolvidas. Esses atributos, como a horizontalidade da paisagem, a predominância dos espaços livres e a ocupação de baixa densidade, são símbolos da escala bucólica e têm a função principal de dar unidade aos espaços da cidade, uniformizando sua linguagem como cidade-parque. No entanto, decorrente dos processos urbanos na cidade, a predominância de espaços livres e acessíveis na orla do Lago reduziu-se drasticamente. O projeto implantado dificultou o acesso pela população em geral, condição agravada ainda pela inexistente integração entre os locais de atração de pessoas, e consequentes deficiências no transporte coletivo e desqualificação dos espaços públicos. Os espaços públicos aqui analisados são alguns dos poucos onde essa apropriação social ainda é possível, e a inexistente integração entre eles ressalta diferenças significativas quanto à apropriação da paisagem, em termos de público e atividades desenvolvidas no local. Fig. 45 Apropriação social em área privativa
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As diferenças entre os três locais estudados enfatizam a questão da percepção como reflexo dos estímulos externos. Considera-se que o primeiro espaço analisado, a Prainha do Lago Norte, é repleto de significado e tem sua paisagem apropriada de forma natural e espontanêa, uma vez que a visibilidade e o acesso fácil se fazem presentes. Sua configuração favorece um espaço democrático e possibilita a percepção da paisagem e sua vivência de maneira mais natural, tornando-se parte do quotidiano dos moradores próximos da região. Já o Pontão do Lago Sul apresenta características bem diferentes, principalmente devido ao seu processo de construção e configuração na paisagem do lago. Resultado do Projeto Orla, sua apropriação sempre esteve ligada à valorização do lago por meio da exploração do comércio, a paisagem ali vivenciada está mais intimamente ligada à observação e contemplação, não estando tão presente no quotidiano e na vivência dos indivíduos justamente por não se caracterizar como um espaço verdadeiramente público e de livre acesso.
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O terceiro espaço, o Centro de Lazer Beira Lago, configura-se como um espaço de possibilidades, no qual agrega características tanto da Prainha como do Pontão. Sua configuração urbana integrada à malha viária da cidade, ao lado da Ponte JK, permite a acesso fácil e favorece a sua visibilidade, além de apresentar diversos estabelecimentos comerciais que intensificam o uso e a passagem pelo local, tornando-o um local atrativo à permanência. Percebe-se que os espaços possuem características bem diferentes, mas que mesmo assim, possibilitam a interação e a apropriação da paisagem. Ao produzir e utilizar o espaço urbano, este se configura como um retrato no qual a cidade é refletida. A paisagem da cidade e, consequentemente, no Lago Paranoá, é resultado da ação da sociedade sobre ela, sua história, cultura, meio de produção, e outros fatores espelhamse em sua configuração espacial.
Fig. 46 Apropriação da paisagem
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Cartões postais costumam vir em branco por natureza, apenas para serem observados. Um pequeno pedaço de papel que passa a ter significado a partir da intervenção do homem ao escrever sobre ele uma estória, esse passa a ter um significado e será objeto de uma futura experiência e, logo em seguida, transformada em memória. Assim como o cartão postal, a paisagem deixa de ser apenas vista e passa a ser vivida por meio da interação do homem, que vai interpretá-la e interagir de acordo com suas características pessoais, levando consigo mais uma memória, seja ela mental, virtual, espiritual, fotográfica ou até mesmo em forma de cartão postal. Paisagens são frutos de experiências.
Paisagem/paisagens Sentidos dos sentidos, Paisagens surgem de uma única paisagem. Sonhos ecoam num só espaço; acordam realidades: complexas, ambivalentes, ambíguas. Realidades que desvelam não só as inúmeras faces da paisagem, mas a busca do “olho” por um significado, por uma leitura, por um lugar onde a atenção despendida traduza ordem, sentido, valor, identidade. Paisagens são perspectivas! São espelhos que refletem nossos sentimentos e pensamentos, anseios e medos. Nossa individualidade na individualidade do entorno. Armazenadas na memória e na alma... Antes de serem efêmeras, paisagens são duradoura... antes de comporem apenas quadros e cartões postais, são “substâncias” que integram e animam nossas vidas. Luiz Otavio Cabral em “A paisagem enquanto fenômeno vivido”
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