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O supermercado do Teatro I Newton Nazareth
newton nazareth
Rio de Janeiro, Junho de 2021.
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Adamastor Perrier estava eufórico: ele fora convidado para montar o seu polêmico espetáculo teatral na inauguração do Supermercado Veneza.
“O Teatro do Supermercado” tivera apenas uma apresentação. E a Prefeitura do Rio de Janeiro cancelou a temporada. Mas a tamanha repercussão daquele romance policial ao vivo despertara o interesse do público carioca. E quando Adamastor recebeu a proposta para ocupar o palco do antigo cinema da Avenida Pasteur, logo aceitou.
Mas esqueceu-se de que teria de criar uma nova história e roteiro o mais rápido possível, para apresentá-los na reunião de assinatura do contrato.
Pois agora já haveria um supermercado funcionando de verdade no amplo salão daquele espaço em Botafogo, o qual já abrigara também uma casa de shows. Em plena pandemia, um poderoso grupo empresarial apostara todas as fichas naquele investimento e até um restaurante funcionaria no imenso jirau. Aqueles homens de negócio não pensariam duas vezes em cancelar uma montagem claudicante e substituí-la por outra atração. Aquele palco enorme teria de ser ocupado de qualquer jeito, na inauguração prevista para o fim do ano.
Com a geladeira cheia e sem nenhuma ideia na cabeça, Perrier telefonou para o seu novo amigo, inseparável desde então, o advogado Olegário Dante. Recém divorciado, nos braços de sua moreninha Ágatha e inebriado com a paisagem paradisíaca da Ilha de Paquetá, ele custou a reconhecer o toque de chamada de seu telefone celular.
— Ora, se não é o Shakespeare dos trópicos!? O que deseja deste recluso amigo? — Uma ideia, meu querido. Meu reino da Dinamarca por uma ideia! Antes que ele apodreça!
Ideias é que não faltavam ao inspirado amigo enamorado.
Nem àquela escritora iniciante do subúrbio da Penha Circular.
A jovem Minininha era a única autora que apresentava um lançamento naquele contexto de livrarias fechadas. Remando contra a maré, faria uma tarde de autógrafos de “A Menina Que Escrevia Livros” na seção de vinhos daquele supermercado.
Seu padrinho, o notório Professor Mesbla, divulgava em todos os canais físicos e virtuais a genialidade juvenil de sua pupila. — Eureca!! — Adamastor vibrara com a ideia de Olegário. Estava salvo o espetáculo. Que continuará.