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Gigi Anhelli

Entrevista Gi i Anhelli

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Bambalalão, meu trenzinho divertido Meu programa preferido Que eu guardo no coração Bambalalão, onde a vida é brincadeira E a verdade verdadeira é que Eu gosto do Bambalalão Eu gosto do Bambalalão... (Bambalalão, Caetano Zamma)

Esse é um trecho da música de abertura do Bambalalão da TV Cultu ra, exibido entre 1977 e 1990.

A estrela do programa infantil foi Gigi Anhelli, que abria o programação com seu “Boa tarde pra você que está em casa, e boa tarde, criançada!”, e a meninada do auditório vinha abaixo com a resposta.

Era uma delícia assistir ao Bam balalão e poder interagir com as brincadeiras, teatro de bonecos, músicas e histórias.

Para nossa grande alegria, en contramos Gigi Anhelli no Facebook, através da amiga Ana Jalloul. Sem pestanejar, Ana sugeriu uma entrevis ta para o mês de outubro, dedicado às crianças. Então, num piscar de olhos, contatamos a Gigi, que topou conver sar conosco sobre a sua carreira e seus trabalhos artísticos voltados à infân cia. Ela é muito querida!

Gigi dividiu o palco do infan til com Mateus Esperança (o palhaço Pam Pam), Marilam Sales (o palhaço Tic Tac), João Tadeu (o palhaço Pe rereca), Memélia de Carvalho, Xyss, Silvana Texeira, Chiquinho Brandão, João Acaiabe, Fernando Gomes, Ger son de Abreu e muitos outros artistas.

Com o encerramento do progra ma, Gigi continuou o seu trabalho junto ao público infantil, dirige e desenvolve muitos trabalhos dos quais ela nos contará mais adiante.

Também é escritora e tem dois livros publicados, o mais recente foi lançado em Laboratório das Flores, com ilustrações de Augusto Minighitti.

Muito bem, muito bem, vamos passar a peteca para a Gigi, para que ela nos conte mais detalhes sobre a sua rica trajetória artística: ► Gigi, você nasceu no bairro do Cambuci, em São Paulo. Conte-nos um pouco sobre a sua família. A arte era cultivada em casa?

Eu nasci no bairro do Cambu ci e logo fui para Santo André. Vivi em Santo André até os meus 5 anos, depois mudei pro Rio de Janeiro. Eu tive uma infância bem feliz, meus pais sempre foram muito dedicados e aten ciosos. Meu pai gostava muito de contar histórias.

Todas as noites ele botava eu e minha irmã pra dormir e contava his tórias que ele inventava. Geralmente,

falavam de animais. Lembro de uma que falava de um cachorrinho que tinha se perdido ou tinha sido abandonado e as agruras que ele passava pelas ruas.

Talvez por isso, até hoje, eu tenha essa ligação com animais, essa preo cupação com animais abandonados e amor e respeito por todos os animais.

Lembro que sempre tivemos muitos livros em casa. Tanto meu pai como minha mãe gostavam muito de ler, e papai me ensinou a ler e a escre ver quando eu era ainda bem pequena. Com 5 anos eu já lia e escrevia, acho que isso foi um grande estímulo. Mi nha mãe diz que não se lembra de mim sem um livro nas mãos. Eu lia o tempo inteiro. Às vezes, tomava uma bronca porque ia almoçar e queria continuar lendo... Rsss

Li toda a coleção de Monteiro Lo bato e adorava as histórias da mitologia grega, desde pequena era apaixonada pela mitologia grega. Li a enciclopé dia Barsa praticamente inteira... Eu lia a Bíblia e o Dicionário, e até bula de remédio.

Li também algumas coisas que não eram para crianças, não que alguém me oferecesse, mas meu pai tinha uma co leção de psicologia de Freud. Eu achei aqueles livros e me interessei, mas eu era muito pequena, entendia muito pouca coisa, apareciam muitas pala vras que eu não conhecia, então eu lia com o dicionário do lado, e ia pesqui sando para tentar entender. Até que um dia, meu pai descobriu que eu estava lendo Freud. Ficou apavorado e escon deu toda a coleção. Mas eu encontrei... Pegava o livro e me escondia no alto, em cima do guarda-roupa, para eles não me acharem... Era bem sapeca...

Acho que eles me estimulavam muito também para pintar e desenhar. Eu gostava muito de pintar, gosto até hoje. Cheguei a fazer duas exposições de Batik. Gosto muito de óleo sobre tela e pintei vários quadros. Mas sou inconstante, passo três, quatro meses pintando direto, sem parar. Depois dou uma pausa de dois, três anos. Rsss

► Como foi sua infância e adolescên cia na “Cidade Maravilhosa”? Lá, você chegou a participar de atividades artísticas ou já pensava em tornar-se artista?

Quando mudei pro Rio, fomos morar no bairro de Vila Isabel, em uma casa muito gostosa com um quintal enorme, cheio de árvores. Tinha pé de abil, caja-manga, sapoti, muitas man gueiras, goiabeiras... Adorava aquele quintal! Passava um bom tempo em cima das árvores. Eu gostava muito de brincar no quintal com a minha irmã Tânia, minha grande companheira. Nós tínhamos uma brincadeira que chamá vamos de “expedição”, a gente inventava histórias como se estivéssemos desbravando novos caminhos, flores tas, planetas... A cada dia, inventávamos uma história diferente e vivíamos aquela história, criávamos os persona gens. Foi uma infância bem divertida.

Era um quintal mágico. Depois de décadas, Fiz até uma música, em parceria com o Xyss, falando daquele quintal:

“Eu queria que ainda existisse para cada criança um quintal Onde a vida é maré Mansa, de repente é Vendaval Com bolas rolando, heróis em perigo, forte Apache, roupa no varal, Fada madrinha, duende mágico e um filhote de pardal. Um gato lambendo leite no pires, aquarela, espaço e vento, Um pote de ouro no fim do arco-íris, se nada existir, eu invento. Manga madura, noite escura, fantas mas e bruxas e uma bota no anzol. Depois de tanta loucura, a manhã me traz o Sol. Então, eu vou correr, pois não há nada de mal Em inventar os meus amigos, brincar, viajar no fundo do quintal...”

Nós tínhamos também uma brinca deira, que eu acho que é a raiz do Bambalalão.

Todos os dias, nós montávamos um espetáculo que à noite apresentá vamos para a família, meu pai, minha mãe e minha nona (nossa avó paterna). Durante o dia, produzíamos todo o es petáculo, com fantoches. Construí um teatrinho de fantoches e criávamos as historinhas que apresentávamos de noi te. O espetáculo tinha uma parte musical também, minha irmã cantava e eu fazia mágicas. Eu gostava de fazer mágicas. Mais tarde, no Circo Bamba lalão, me apresentei fazendo vários números de mágica.

Outra coisa que lembro com sau dade é que meu pai fazia teatro de sombras para nos entreter. Eu torcia pra eletricidade acabar porque papai acendia uma vela e fazia sombras na parede. Eram sombras com as mãos, ele fazia bichinhos e eu adorava. Era um teatro de sombras muito divertido.

Acho que meus pais sempre es timularam esse lado artístico. Minha mãe, quando criança foi muito sapeca. Andava em cima dos muros, andava em arame, se equilibrando. Lembro dela tentando nos ensinar a nos equilibrar mos sobre uma prancha de madeira.

Perto de minha casa tinha um par que, acho que se chamava Parque Viveiros, era o Jardim Zoológico antigo. Eu saía de casa e caminhava uns 2 km com os meus livros e cadernos. Ia lá pro parque sozinha, sentava perto do lago e ficava olhando os patinhos e cisnes, lendo e escrevendo. O lago era cercado por muitas árvores.

Nessa época, devia ter uns 10 anos, eu passava muito tempo também nas bibliotecas.

Meu pai também gostava de nos levar pra passear, não lembro de ficar nem um fim de semana sem passear. Eu, realmente, sou muito afortunada. Tive um pai e uma mãe muito dedica dos, maravilhosos.

Minha mãe tem 93 anos é forte, lúcida e gosta de brincar com os bisne tos. Agora ela parou de pular corda porque a médica disse que ela está ótima, mas é melhor evitar certas coisas como pular corda porque pode escorregar e depois dos 90 os ossos já não são tão fortes. Então ela está maneirando um pouco... Rsss

Tânia e Gigi na Quinta da Boa Vista

F

Ál míli um d Anhelli

Aqui vemos fotografias de Gigi, sua irmã Tânia, e seus pais, d. Irma Irene e sr. Riccieri Anhelli

► Você regressa a São Paulo para estudar Comunicação na ECA/USP?

Voltei pra São Paulo em 1969, eu ainda não tinha muito claro é o que eu queria fazer, o que escolher como pro fissão.

Fiz uns testes vocacionais na Fun dação Getúlio Vargas no Rio e os resultados indicaram que eu era pluriapta, então não resolveu muito porque eu po dia fazer qualquer coisa. Rssss... Mas me aconselharam a seguir uma carreira em Química e Física. Resolvi tentar a área de exatas e cursei um ano de Cien tífico. Naquela época, existiam os cursos Clássico e Científico (antigo Ensino Médio). Quem ia pra área de exatas fazia Científico, quem ia pra área de humanas cursava o Clássico. Eu me dei bem no Científico, cheguei a organizar exposições de Biologia, Física e Quí mica, mas alguma coisa não encaixava.

Quando eu vim para São Paulo, resolvi mudar e consegui ingressar no segundo ano do Clássico, mas precisei cursar algumas matérias de adaptação, como latim e francês. Naquela época, a gente estudava latim, então eu fiz curso particular de latim... Imagine... Rsss

Eu já gostava de teatro, já tinha feito teatro na escola, mas o que deu um impulso foi quando assisti a peça Peer Gynt. Quando eu vi o Stênio Gar cia em cena, e eu fiquei completamente apaixonada pelo teatro. Vendo a atua ção dele eu pensei: “— É isso que eu quero fazer! É isso!”.

Resolvi prestar vestibular pra Co municações e Artes.

Meu pai insistiu para que eu fizesse Direito, achava que eu ia ser diploma ta. Mas sou teimosa e prestei vestibular para a ECA, Escola de Comunicações e Artes, na USP. Entrei com boa colo cação e, como ainda tinha algumas dúvidas, cursei comunicações pela manhã e, à tarde, a faculdade de Artes. Eu pas sava o dia inteiro na faculdade e à noite fazia algumas matérias de Pedagogia. No sexto semestre, optei por Rádio e TV. Como o curso era em período in tegral, tive que parar com a faculdade de artes. Minha turma de rádio e TV foi uma turma muito interessante porque nós éramos em 6 alunos e tínhamos uns 15 professores, muito mais professores do que alunos. Uma turma que pôde aprender e praticar bastante. Uma tur ma super pequena e dedicada.

► Como surgiu a oportunidade de estagiar na Fundação Padre Anchieta? Na época, as instalações do rádio e TV já funcionavam no bairro da Água Branca?

Sim, já estava localizada na Rua Cenno Sbrighi, na Água Branca.

Havia um convênio entre ECA e a TV Cultura, então os alunos de TV já estagiavam na Fundação Padre An chieta. Meu estágio foi muito produtivo porque eu estagiei no Tele Teatro. As sim que comecei, me pediram pra organizar os arquivos de fotos dos atores e figurantes. Centenas de fotos... Rsss... mas eu gostei de fazer. Estagiar no Tele Teatro Cultura foi uma experiência en riquecedora porque sempre apresentavam pelo menos quatro peças todos os meses. Então, enquanto uma estava em fase de produção, escolha de elenco, figurino, outra estava sendo ensaiada,

outra estava em gravação. Foi muito bom. Convivi com muitos profissio nais experientes, com grandes diretores como Abujamra, Ademar Guerra, An tunes Filho e tantos outros. Tive muita sorte.

Nessa época também eu já come cei a apresentar o programa Som, Forma & Movimento.

► Qual foi o seu primeiro programa apresentado na TV Cultura?

O primeiro programa que eu apre sentei foi o Som, Forma & Movimento, um programa experimental, muito artístico, produzido e dirigido por Luiz Antônio Simões de Carvalho. Eu par ticipava também da produção, escrevia textos, participava da criação e apre sentava. Era um jeito diferente de apresentar, não ficava paradinha no estúdio, estava sempre em movimento. Às ve zes eu estava pendurada em uma rede no alto, outras vezes numa charrete, deitada em cubos ou no chão. Os textos eram poéticos e filosóficos.

Fazíamos muitas externas, muitas coisas eram gravadas com câmera de cinema e então eram coloridas. A TV ainda não era colorida, o nosso foi um dos primeiros programas coloridos por que usávamos película de cinema, gravávamos com câmeras de cinema. Os cinegrafistas também vestiam a camisa. Jorge Silva, excelente câmera, era ou sado e criativo e conseguia tomadas incríveis. Toda a equipe era sensacional, todo mundo curtia fazer coisas experi mentais.

Éramos um grupo de jovens curiosos, irreverentes, questionadores, dispostos a arriscar. Tudo no programa era inovador, a proposta era ter uma estética experimental. Cada programa tinha um cenário diferente. Os cená rios, de Waldir Gunther, artísticos e ousados, estavam sempre em consonância com o tema do programa. Roberto Miller, que já era um profissional bem conceituado, e também foi o primeiro diretor do Bambalalão, participou do Som, Forma & Movimento, realizan do animações experimentais. Criava vinhetas no table top e surgiam coisas muito interessantes. Como ele gostava bastante de mim, deixava eu ajudá-lo nas experiências. Aprendi muito com o mestre Roberto Miller.

Som, Forma & Movimento foi uma escola.

► Você também trabalhou na Rádio Cultura. Comente sobre sua trajetória radiofônica.

Sim ,eu produzi, dirigi e apresentei programas na Rádio Cultura AM.

Uma série chamada A Medida da Mulher, na qual entrevistávamos mulheres que tinham grande reconhe cimento profissional e mostrávamos como elas conseguiam aliar a carreira com a vida doméstica. Naquela época, na década de 1970, as mulheres come çaram a conquistar o mercado de trabalho e se falava muito sobre essa questão da dupla jornada de trabalho. A mulher tinha que se dedicar a uma carreira e, ao mesmo tempo, precisava cuidar da casa, dos filhos, do marido.

Nós entrevistamos mulheres muito interessantes como Tônia Carreiro, Hilde Weber, que foi uma

artista plástica, chargista e ilustradora brasileira de origem alemã. Foi a primeira mulher chargista da imprensa brasileira, e várias outras mulheres fortes e bem-sucedidas.

Dirigi e produzi também a série Orientação Profissional, uma parce ria com o CIEE, Centro de Integração Empresa Escola. Nesses programas, abordávamos as diferentes profissões, o mercado de trabalho, as qualidades requeridas pra exercer determinada ati vidade...

Desenvolvi programas radiofôni cos também para a rede American Sat.

Eu e o Xyss, produzimos e apre sentamos um infantil chamado Rádio Ação, que era transmitido ao vivo para vários estados e contava com a parti cipação dos ouvintes, que interagiam com o programa através de jogos, adi vinhas, escolhendo a história que queriam ouvir, as músicas... Era bem dinâmico e divertido.

Também na American Sat fiz uma série sobre numerologia.

Na rádio Boa Nova de Guarulhos, produzi e apresentei uma série sobre astrologia chamada Conexão Astral.

► Você participou da primeira edição Bambalalão? Como foram os primei ros tempos do programa, quadros, etc.

Sim, apresentei o Bambalalão des de o primeiro programa. No começo, tínhamos quadros gravados com vários artistas, como Mira Haar, que ensina va a fazer brinquedos com sucata, Teia com dobradura, o mímico Tadeu, ma rionetes lindas com um italiano incrível.

Eu fui convidada para apresentar o programa, costurar os quadros e interagir com as crianças, tanto com os telespectadores quanto com convidados que participavam das gravações. No estúdio, tínhamos um painel onde expúnhamos os desenhos e as histórias que recebíamos das crianças e também o Correio Metuia que em língua tupi quer dizer “amigo”.

O cenário, de Waldir Gunther, era um painel com um trenzinho que ficou famoso, as crianças adoravam. Até hoje falam no “trenzinho que carrega a alegria”. Mais tarde, no novo Bambalalão, Waldir criou também o primeiro cenário, aquele com os escorregadores e o teatrinho no centro do palco.

Roberto Miller foi o primeiro diretor do programa e, sempre inventivo, colocou no estúdio uma máquina de bolinhas de sabão. Eu saía da gravação totalmente ensaboada. Rsss

Era muito divertido!

Depois de alguns meses, resolveram que eu apresentaria o programa ao vivo. Isso deu um novo ritmo ao programa e me causou um frio na barriga, foi emocionante. A atenção tinha que ser total e alguns “amigos da onça” me provocavam dizendo “— Agora é que vamos ver se você é boa mesmo.”

No dia em que estreamos ao vivo, tinha tanta gente no estúdio que não deu pra fechar a porta. Eu estava muito assustada e dizia pra mim mesma: “— No intervalo, vou embora!”

Mas não fui. Apresentei o programa ao vivo por mais de uma década.

Um dia, o professor André Casquel Madrid, o diretor de programação, me

Fotos: acervo Gigi Anhelli

chamou e disse que estava na hora de incrementar o programa. Contou que tinha visto no México um programa onde a apresentadora interagia com fantoches e perguntou se eu gostaria de tentar. Eu adorei a ideia e ele convidou Maria Amélia de Carvalho, nossa querida “Memélia” que havia trabalhado no (programa) Vila Sésamo. Foi assim que o sapo Agapito e o macaco Chiquinho se tornaram meus primeiros companheiros no Bambalalão.

► O ambiente encantador e interativo do Bambalalão era diferente dos programas infantis da época. A garotada recebia um conteúdo de qualidade, um misto de circo, teatro, música, contação de história, dicas de história, de livros e tantos temas relevantes. Além da apresentação, você também participava da produção?

Sim. No início eu apresentava e “costurava” os vários quadros do programa, interagia com as crianças e selecionava os assuntos que ia abordar com elas. Depois de algum tempo, resolvemos reformular o programa. Levamos alguns meses preparando o novo Bambalalão. Toda a equipe participava da criação dos quadros. Depois da estreia, durante os primeiros anos, nos reuníamos logo após o programa terminar e discutíamos cada detalhe e o que poderia melhorar. Era muito cansativo, mas foi fundamental pra traçarmos um caminho.

No quadro dos jogos e brincadeiras, eu e o Marilam (palhaço Tic Tac) nos reuníamos todos os dias com a professora de educação física e recreadora Sueli Nascimbeni. Escolhíamos as brincadeiras e estudávamos as regras de cada jogo.

Durante todo o programa improvisávamos muito também. Tínhamos um roteiro, mas não um script com falas. Se eu quisesse abordar algum assunto, sempre tinha de pesquisar. Hoje, com a Internet, seria bem mais fácil. Rsss

► Você sempre gostou de trabalhar com crianças?

Sim. Crianças são autênticas, diretas, curiosas, estimulantes. Fico muito à vontade com elas.

Um dia desses, encontrei uma foto na qual eu estava brincando de roda com um grupo de crianças. Eu era adolescente. Rss... Parece que é paixão antiga.

► Nos 13 anos do Bambalalão, tem alguns momentos que deseja destacar?

Bem... 13 anos x 365... Mais de 3.500 programas. Muita água rolou por baixo da ponte... Muitas histórias.

Lembro de um momento emocionante. (O filme) E.T. o extra-terrestre estava sendo lançado nos cinemas e recebi a visita do ET.

Prepararam um clima mágico e entrei no estúdio de mãos dadas com o ET.

As crianças suspiravam e eu também. kkk... Sou uma criança grande.

Outro momento emocionante foi quando gravamos um programa comemorando o Dia das Crianças no Palmeiras.

► Além do Bambalalão, apresentou outros programas na TV Cultura?

Sim. * Som, Forma & Movimento; * Ligue para um clássico (substituindo Silvana Teixeira durante suas férias); * Glub Glub (durante os primeiros meses); * Revistinha (a estreia e os primeiros programas); * Cultura nas Eleições; * Circo Bambalalão – programa semanal, gravado ao vivo no circo Anhembi. Todos os sábados, recebíamos mais de 3 mil crianças que vinham de diversas cidades. Foi uma experiência maravilhosa. Aprendi muito com o circo. Zita Bressane, a primeira diretora do programa, me estimulava muito pra que eu me desenvolvesse profissionalmente. Fiz curso de mágica, aprendi a andar em “andas” (perna-de-pau baixinha), aprendi a manusear “chicote” e “fitas”.

Ela queria que cada abertura de programa causasse impacto. Assim, na abertura do programa, já entrei montada em lhama, dentro de um carrinho de mão todo enfeitado, de mãos dadas com um gorila... kkkk

Realmente, causava impacto, pelo menos em mim. Rsss

Participei também de episódios do Cabaret Literário.

Após sair da TV Cultura, em 1991, produzi e dirigi o programa Integração, na TV São Caetano, canal 45 UHF, era um programa voltado para o público jovem, apresentado por mim e pelo Xyss, que abordava música, teatro, dança, literatura, ufologia, esportes, computação gráfica de uma maneira inovadora.

Como encara o assédio dos fãs?

Com tranquilidade. São muito carinhosos comigo. Sinto, de verdade, que são, até hoje, as minhas crianças. Não existe nada melhor do que esse reconhecimento.

► Foi na TV Cultura que você conheceu o Xyss, seu marido e parceiro de trabalho?

Na verdade, conheci o Xyss no palco do Teatro Brigadeiro, hoje Teatro Jardel Filho. Foi durante os ensaios do musical Gigi no Mundo das Duas Caras, que falava sobre a hipocrisia e as várias máscaras que as pessoas usam em seus relacionamentos.

O Xyss foi convidado pra gravar a trilha musical com sua banda Bandrix.

Ele resolveu acompanhar os ensaios e aquele menino bonito de cabelos cacheados chamou minha atenção.

Desde 1985 ele continua me intrigando. Kkk ► Após o término do Bambalalão, você continuou seu trabalho com o público infantil. Fale-nos um pouco dos projetos idealizados e apresentados por você e o Xyss no teatro e em espetáculos por todo o Brasil.

Profissionalmente, eu cresci muito depois que o Bambalalão terminou. Escrevi e produzi muitos espetáculos.

Gigi e Xyss

Lançamento do livro Laboratório das Flores

O primeiro foi em 1993, Verdherança, um musical ecológico, que alertava para a necessidade de preservarmos o meio ambiente.

A partir daí produzi e atuei em vários outros como Maravilhas de Grimm, O Livro Nosso de Cada Dia, Karingana Ua Karingana – Lendas Africanas, Baú de Piratas, Olha o Cascudo, Lendas da Água, Bandeira, Poesia e Outros Bichos, Emília, Boneca Sapeca Levada da Breca, No Reino do Sol Nascente, Brincando de Bambalalão (30 espetáculos com temáticas diferentes), Pindorama – A Magia das Árvores, Lendas Aladas; Mulher, Poesia e Companhia (esse para adultos. Uma homenagem ao feminino), e vários outros. Passei anos escrevendo.

Eu cuido do texto, cenários, figurinos, adereços e confecciono os bonecos.

O Xyss compõe as músicas e trilhas musicais, faz as gravações de áudio, atua e dá vida aos bonecos. E, se for preciso, conforme o espaço monta e opera o som, ao mesmo tempo em que atua. Formamos uma boa dupla.

► Você é uma artista multimídia. Está na internet, tem blog, redes sociais e é bastante atenciosa. Gosta também do mundo virtual e interagir com os fãs?

Sim, gosto muito. Gosto tanto que produzi e apresentei na Internet, pela Clictv/UOL, o Brincando de Bambalalão, durante 2010 e 2011. No começo, tinha duas horas de duração, o que pra época é insano. Rssss... Contava com a participação do Xyss, do palhaço Perereca e do Eduardo Coelho.

Produzi e apresentei também pela TV CLIC o Momento Animal, um programa para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de respeitarmos todos os animais. Através do programa, conheci muitos protetores. São pessoas sérias e empenhadas em melhorar a vida desses seres, são a voz dos que sofrem e não podem falar.

Na rede social, adoro interagir com os fãs, só recebo afagos... São muito amorosos comigo e isso é gratificante. ► Você também chegou a lecionar?

Durante vários anos, lecionei na FAAP, Fundação Armando Álvares Penteado, nos cursos de Rádio e TV e Publicidade e Propaganda.

Entre 1996 e 2004, ministrei aulas de teatro na Oficina Gigi Anhelli, no TAIB (Teatro de Arte Israelita Brasileiro). Desenvolvi também várias oficinas em unidades do SESC e Secretarias de Educação de várias cidades. Em São Roque, lecionei durante anos e juntamente com a diretora de educação, minha amiga Márcia Nunes, criamos o Festival de Teatro de São Roque. Ministrei também oficinas no Festival de Ouro Preto e Mariana.

► Como surgiu a ideia para escrever Laboratório das Flores?

O livro é antigo, escrevi na década de 1980. Meu amigo Waldir Gunther me deu de presente uma linda coleção de mini-livros sobre flores e fadas. Fiquei encantada. Foi isso que me inspirou a escrever essa história. Em 2008, meu amigo o ilustrador Augusto Minighitti, insistiu para que eu publicasse o Laboratório das Flores e fez umas ilustrações tão lindas que fiquei encantada. Lançamos o livro em fevereiro de 2011.

O livro fala sobre a importância de preservar a Natureza. Há um tempo, uma amiga leu o livro pra sua netinha de cinco anos. Quando terminou, a menina pegou uma jarra, encheu de água e foi molhar os vasos. Disse: - Vovó! Nós temos que cuidar das plantas. Eu me senti realizada. A mensagem foi transmitida com sucesso.

O outro livro que publiquei, em 1988, tem ilustrações de Geandré e também fala de fadas, é A Fada que vi rou estrela. A história de uma fada que queria ser bailarina.

Escrevi muitos contos, mas dá muito trabalho publicar. Rsss

Colaborei também escrevendo contos pro Estadinho e adaptei vários contos de fadas para CDs e programas radiofônicos. Inclusive lancei dois CDs pela gravadora Allegretto chamados As mais belas histórias infantis contadas por Gigi do Bambalalão, e pela grava dora “Galeão” escrevi e gravei várias histórias que podem ser ouvidas nas plataformas digitais, tais como, Spoti fy, Rdio e outras. ► Devido à pandemia do Covid-19 todas as atividades artísticas foram paralisadas no Brasil. Assim que esse período terminar e voltarem a abrir, você tem projetos em pauta para apre sentar?

Não sei quanto tempo vamos ter de esperar... Prefiro não criar muitas expectativas. Mas, certamente quero voltar com um projeto de teatro que desenvolvo há alguns anos com minha amiga Maria Júlia Beverinotti, no lito ral de São Paulo. É um projeto que leva as escolas ao teatro. Já nos apresenta mos em vários teatros de Santos, Guarujá, Mongaguá... Esse ano, por causa da pandemia, tivemos de cancelar todos os espetáculos.

Penso também em voltar a criar programas para a Internet.

Para finalizar, só tenho a agradecer a pelo carinho e atenção. Muito obri gada!

Quero deixar registrado meu agra decimento a todos os meus colegas de trabalho que me acompanharam duran te tantos anos, atores, diretores, produtores e toda a equipe técnica e pedagógica.

Muito obrigada a todos os meus fãs que me acarinham e me incentivam pra que eu continue produzindo.

Vamos em frente!

Beijos e mais beijos sabor morango.

► Contatos Instagram: @gigi.bambalalao Facebook: Gigi Anhelli Gigi Anhelli II E-mail: gigi.bambalalao@gmail.com

Gigi e Xyss. Foto: Maria Júlia Beverinotti

Programa Integração - TV São Caetano - 1996

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