Parque Infantil Multisenssorial

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Centro Universitรกrio do Leste de Minas Gerais Curso de Arquitetura e Urbanismo

THAร S DE OLIVEIRA ROCHA

Por uma arquitetura inclusiva: PARQUE INFANTIL MULTISSENSORIAL

Coronel Fabriciano 2013


THAÍS DE OLIVEIRA ROCHA

Por uma arquitetura inclusiva: PARQUE INFANTIL MULTISSENSORIAL

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Prof. Tiago Domingues Carvalho.

Coronel Fabriciano 2013


Dedico este trabalho aos amigos que estiveram diariamente ao meu lado, transmitindo fé, amor, alegria, determinação, paciência e coragem e principalmente à minha família que sempre me apoiou e me incentivou a lutar por meus objetivos. Sem vocês eu nada seria!


Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, por seu infinito amor, pois sem Ele eu nada sou. Agradeço aos meus pais, Marilda e Clemente, meus maiores exemplos. Obrigado por todo incentivo e orientação, pelo apoio em todos os momentos e pelo amor incondicional. Às minhas irmãs, Bruna e Paula, por todo amor, carinho e paciência. Ao professor Tiago Carvalho que, com muita paciência e atenção, dedicou do seu valioso tempo para me orientar em cada passo deste trabalho. Aos colegas de classe pelo companheirismo e por todas as dificuldades superadas juntos. À minha amiga Camilla, pelos anos de amizade, estando sempre presente em minha vida. Obrigada a todos que, mesmo não sendo aqui citados, contribuíram de alguma forma para a conclusão desta etapa tão importante.


RESUMO O presente trabalho busca servir de base para o desenvolvimento de projetos de parques infantis multissensoriais, que tenham caráter inclusivo e que ofereçam infraestrutura física e condições adequadas ao desenvolvimento infantil. Isso se torna relevante ao observar-se que atualmente os espaços para moradia estão se tornando cada vez menores sendo importante investir em áreas de lazer para crianças, quer sejam em praças, parques ou edifícios. Assim, inicialmente, procurouse por meio de uma análise histórica, estudar o sentido da infância e como isto tem criado, em tempos e espaços distintos, diferentes conceitos sobre o universo infantil. Num segundo momento, fez-se necessário conhecer um pouco sobre o surgimento dos parques infantis no mundo e no Brasil e como isso transformou o olhar da sociedade sobre a criança. Logo após, optou-se por estudar os diversos sentidos humanos (tato, olfato, paladar, audição, visão, propriocepção e vestibular) com o objetivo de inseri-los em projeto e com isso promover a inclusão de portadores de necessidades especiais em áreas de lazer e propiciar uma melhora no desenvolvimento e aprendizagem dos pequenos. Através da análise de correlatos, o estudo mostra as diretrizes projetuais que servirão como base para a elaboração do projeto proposto. Também foi preciso fazer um diagnóstico de algumas áreas de lazer infantis do município de Ipatinga, a fim de constatar seus potenciais e suas deficiências. E por último foi feito uma proposta para desenvolver o projeto de um Parque Infantil Multissensorial na cidade em questão.

PALAVRAS-CHAVE: Parque Infantil. Estimulação Multissensorial. Infância.


SUMÁRIO 01. INTRODUÇÃO................................................................................................09 01.1. Objetivos..................................................................................................10 01.2. Justificativa..............................................................................................11

02. UM CAMINHO DE BUSCAS.........................................................................13 02.1. A infância: historicizando e discutindo o seu papel.............................13 02.2. Surgimento dos Parques Infantis no mundo..........................................16 02.3. Surgimento dos Parques Infantis no Brasil...........................................19 02.4. A criança, o brincar e o espaço...............................................................22

03. PERCEPÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO GRAFISMO INFANTIL............25

04. O MUNDO SENSORIAL................................................................................29 04.1. Os sistemas sensoriais............................................................................31 04.1.1. Propriocepção........................................................................................31 04.1.2. Sistema vestibular.................................................................................32 04.1.3. Sistema gustativo..................................................................................33 04.1.4. Sistema olfativo......................................................................................33 04.1.5. Sistema auditivo.....................................................................................34 04.1.6. Sistema visual........................................................................................34 04.1.7. Sistema tátil............................................................................................35 04.2. A estimulação multissensorial como forma de aprendizagem............35 05. O DESENHO UNIVERSAL............................................................................38


05.1. Os sete princípios do Desenho Universal..............................................38

06. ANÁLISE DE CORRELATOS.......................................................................42 06.1. Equipamentos urbanos............................................................................42 06.2. Parque escultural, Schulberg..................................................................44

07. ANÁLISE DE ÁREAS DE LAZER PARA CRIANÇAS NO MUNICÍPIO DE IPATINGA............................................................................................................49 07.1. Praça das Mães.........................................................................................50 07.2. Parque Ipanema........................................................................................52

08. ESTUDO DO OBJETO..................................................................................56 08.1. Localização da área em estudo...............................................................56 08.2. Dados naturais da área.............................................................................57 08.3. Sistema viário............................................................................................57 08.4. Justificativa da escolha da área..............................................................58

09. DIRETRIZES PROJETUAIS..........................................................................59 09.1. Conceituação.............................................................................................59

10. CONCLUSÃO................................................................................................60

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................62


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01. INTRODUÇÃO “A matéria (...) não é aquela coleção de objetos sólidos e estáticos espalhados no espaço, mas a vida vivida no cenário que eles compõem; assim a realidade não é aquele cenário externo, mas a vida que nele é vivida. Realidade é ‘as coisas como elas são’.” Wallace Stevens apud OKAMOTO (2002).

Partindo desse pensamento começamos a analisar a cidade não como uma “coleção de objetos sólidos e estáticos espalhados no espaço”, mas como um lugar que vemos, tocamos, cheiramos, ouvimos; que trocamos experiências e experimentamos sensações. Um lugar que possui barreiras, texturas, movimentos. E nesse meio habitam pessoas de todos os tipos e necessidades, diferentes do homem “ideal”, ”perfeito” – imaginado por Da Vinci e Le Corbusier – possuidor de todos os sentidos em seus padrões de normalidade. Tendo em conta essas diferenças, em 1963 uma comissão em Washington foi formada com o objetivo de discutir desenhos de equipamentos, edifícios e áreas urbanas adequadas à utilização por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Na década de 70, foram reunidos arquitetos, engenheiros e desenhistas industriais para desenvolverem uma pesquisa de Desenho Ambiental na Carolina do Norte, a fim de que fossem criados ambientes e produtos que atendessem o maior número de pessoas possível, mas sem acrescer o custo final. Em 1987, o arquiteto americano Ron Mace, portador de cadeira de rodas e de um respirador artificial, criou o termo Universal Design, ditando os conceitos para orientar os profissionais na elaboração de projetos. Através do Desenho Universal surgiu uma arquitetura acessível, que cumpre seu papel de fazer com que portadores de necessidades especiais acessem os espaços e os utilizem. Mas é preciso dar um passo a frente e ao invés de se criar um mundo com espaços segregados, possam ser criados lugares inclusivos que atendam a todos da mesma maneira. Ao analisar a cidade e os espaços públicos oferecidos aos habitantes, nota-se que as crianças são as menos favorecidas e ao se considerar que suas principais atividades são as brincadeiras e a recreação a cidade não dispõe de lugares aptos


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para isso. ALMEIDA (2012) aponta a dificuldade que este público tem de encontrar áreas, meios, profissionais e outras crianças para cumprir seus objetivos infantis. Para este autor, os pequenos encontram-se em uma sociedade multicultural geradora de contradições e conflitos, industrializada, informatizada, individualista, emergencial e materialista, orientada para competir e para o consumo, onde o mundo do brincar se torna cada vez mais caro e sofisticado, exclusivo a poucos. Sendo assim, este estudo é voltado em primeiro lugar às crianças, possuindo alguma deficiência ou não, de todas as etnias, credos, sexos. Enfim, todas são diferentes em aspectos físicos, emocionais; no pensar, no falar, no agir; e é dessa forma que se tornam “normais”, cada uma com sua peculiaridade. E ainda, toda criança tem o direito de brincar, se divertir, explorar o mundo de varias maneiras e sobretudo ser feliz.

01.1. Objetivos O estudo tem por objetivo geral investigar as possibilidades de desenvolver o projeto de um Parque Infantil Multissensorial no município de Ipatinga. Especificamente busca-se: - Diagnosticar algumas áreas de lazer disponíveis para crianças na cidade de Ipatinga a fim de constatar se são adequadas, se estimulam os sentidos e tornam possível a inclusão social. - Fazer um estudo dos princípios do Desenho Universal, amparado pela legislação competente que gera normas, regulariza e verifica espaços destinados a portadores de deficiência, com o objetivo de entender como funcionam e como as regras e procedimentos devem ser aplicados em projetos - Fazer uma análise de correlatos em busca de diretrizes projetuais que servirão como base para a elaboração do projeto proposto.


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01.2. Justificativa Vive-se em uma época em que os espaços para moradia estão se tornando cada vez menores sendo importante investir em áreas de lazer para crianças, quer seja em praças, parques ou edifícios. É preciso que a cidade ofereça espaços adequados a essa parte da população, para que se desenvolvam de maneira sadia, exercitem a convivência e a criatividade, explorem seus potenciais e tornem-se mais avançadas em desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo. Principalmente ao observarmos que com a vida moderna a brincadeira tem deixado, cada vez mais, de ser presencial e passado a ser virtual. De acordo com o site Emaxilab.com, a estimulação multissensorial consiste em uma técnica que busca despertar a criança para o mundo, para que ela tenha uma melhor compreensão do presente por meio do desenvolvimento dos sentidos: visual, olfativo, gustativo, auditivo, tátil, proprioceptivo e vestibular. Os bebês, são estimulados através da audição (com chocalhos), da visão (por cores e sinais luminosos), do tato (com mordedores e brinquedos com texturas), etc. Quando aprendem a andar começam a investigar as coisas, mas são freados pelo uso do “não”: “Não corra porque vai tropeçar”, “não toque nisso porque machuca”, “não pule porque vai cair”. Até, segundo OKAMOTO (2002), chegar a idade em que serão obrigados pelo sistema de ensino a permanecerem sentados durante, mais ou menos, 12 anos em carteiras escolares, tornando-os passivos. Para que elas se desenvolvam melhor e obtenham maior conhecimento é preciso colocá-las diante de situações que permitam o contato com o mundo das sensações. Dessa forma as experiências serão transformadas em aprendizagem e esta em inteligência. Os trabalhos de PALMER (1980) apud JENSEN (2002) já alertavam sobre essa necessidade de criar algo novo que promova e enriqueça a estimulação sensório-motora. O “brincar inclusivo” torna-se relevante para que aprendam desde cedo a conviver com a diferença e cresçam de forma consciente a respeito do assunto. Além disso, é papel do arquiteto investigar todas as formas de “arquitetar”, desprendendo-se do contemplar pela forma, preso à visão. Se criarmos espaços acessíveis que explorem os diversos estímulos sensoriais (visual, olfativo, gustativo,


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auditivo, tátil, proprioceptivo e vestibular) faremos com que se tornem também inclusivos, onde todos poderão usufruir juntos do lugar, tendo cada um experiências corpóreas peculiares.


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02. UM CAMINHO DE BUSCAS Tudo que existe é passível de mudanças e as coisas nem sempre foram da maneira como conhecemos hoje. Sendo assim,

fez-se necessário para este estudo

investigar, através da história, o sentido da infância e como isto tem produzido, em tempos e espaços distintos, diferentes conceitos sobre o universo infantil.

Foi

preciso também conhecer um pouco sobre o surgimento dos parques infantis no mundo e no Brasil a fim de entender como isso influenciou na transformação, em diferentes contextos, do olhar da sociedade sobre a criança. Além disso foi de total relevância estudar a relação existente entre a criança, o espaço e o brincar, sendo este último um importante processo psicológico, fonte de aprendizagem e desenvolvimento.

02.1. A infância: historicizando e discutindo o seu papel. O conceito de infância foi sendo construído social e historicamente de acordo com a organização da sociedade, tendo que passar por inúmeras transformações até se tornar da maneira como conhecemos hoje. Na Idade Média, a infância não era reconhecida, não havendo nada que a distinguisse da vida adulta. A criança era vista como um adulto em menor escala, exercendo as mesmas atividades que ele. Até a arte desconhecia essa fase da vida ou não se preocupava em representá-la. É lógico que os artistas possuíam competência ou habilidade para isso, sendo mais provável que tal ausência se devia ao fato de não haver espaço para a infância na época. Podemos citar como exemplo uma miniatura francesa do fim do século XI, onde as três crianças que São Nicolau ressuscita se diferem dos adultos não em traços ou expressão, mas por estarem em uma escala mais reduzida. (ARIÈS, 2006). O que importava para a sociedade medieval era que os pequenos crescessem rapidamente para ajudarem nos trabalhos e nas atividades dos adultos. Assim, ao completarem sete ou nove anos, eram destinados a diferentes famílias para que aprendessem os serviços domésticos, não havendo nenhuma separação entre classes sociais, passando a serem chamados de aprendizes.


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O mestre (anfitrião) transmitia todo o seu conhecimento, experiências, todos os valores que pudesse possuir a uma criança, que não era seu filho, através dos serviços domésticos. (ARIÈS, 2006). Dessa forma, a família genitora não possuía mais controle sobre os filhos, pois estes saiam muito cedo de casa e depois de adultos raramente retornavam. A primeira concepção de infância, próxima ao nosso entendimento atual, surgiu no século XVII a partir de observações de que as crianças pequenas eram seres muito dependentes e por isso o adulto precisava preocupar-se com elas, dedicando-lhes mais cuidados, afeto e proteção. Assim a palavra infância passou a referir à primeira idade de vida, sendo que só ultrapassava esta fase aquele que deixasse de ser muito dependente dos pais. Mas a “paparicação” era considerada, segundo RODRIGUES (2009), algo prejudicial ao bom desenvolvimento infantil, pois os tornavam mimados e mal-educados. Por esse motivo foi proposto que os colégios educassem e moralizassem os pequeninos para torná-los, mais tarde, pessoas honradas e racionais. Até a primeira metade do século XVII podia-se ir ao colégio aos sete anos, mas a partir da segunda metade o começo da idade escolar foi adiado para os dez anos temendo-se a precocidade e prolongando a primeira infância dos meninos. Nos colégios era comum o uso do castigo corporal, assim como também nas famílias, o que refletia, a ideologia da época: moralização e enquadramento da criança. As meninas só puderam freqüentar a instituição a partir do século XVIII e foi nessa época em que começou a fazer distinção entre o ensino para o povo e para as classes burguesas, iniciando a discriminação social no sistema educacional RODRIGUES (2009). Dessa forma as crianças deixaram de conviver apenas com os adultos e passaram a desenvolver relacionamentos próprios à sua idade, criando seus próprios universos e características pueris. No decorrer do século XX, ampliou-se a busca pelo conhecimento da criança em diversos campos. Diversos autores como o historiador francês Philippe Ariès, ajudaram através dos seus estudos a compreendermos o significado ideológico da criança e o valor social atribuído à infância. Já KRAMER (2007, p.15) define:


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Crianças são sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas contradições das sociedades em que estão inseridas. A criança não se resume a ser alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança). Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a fantasia, a criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura. Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo de ver as crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto de vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma história humana porque o homem tem infância.

A autora apresenta o grande paradoxo em que se vive atualmente, onde por um lado existe um extenso conhecimento teórico sobre a infância, mas por outro em alguns momentos não se sabe lidar totalmente, ou não se lida de forma adequada, com essa parte da população. Problema este que instiga a pensar em: o que é ser criança nos dias de hoje? Estaria a infância desaparecendo? Uma vez que a violência contra as crianças, a pobreza e o trabalho infantil se tornaram constantes, poder-se-ia dizer que o reino encantado dos contos de fadas, as fantasias, estaria em algumas situações se desestruturando e retomando um sentido já ultrapassado como vimos ser na Idade Média. Além disso, com a mídia e a internet, o acesso dos pequenos à informação adulta teria contribuído para afastálos do jardim de infância (POSTMAN, 1999 apud RODRIGUES 2009). Para Kramer (2007, p.15): “Numa sociedade desigual, as crianças desempenham, nos diversos contextos, papéis diferentes. A idéia de infância moderna foi universalizada com base em um padrão de crianças das classes médias, a partir de critérios de idade e de dependência do adulto, característicos de sua inserção no interior dessas classes. No entanto, é preciso considerar a diversidade de aspectos sociais, culturais e políticos: no Brasil, as nações indígenas, suas línguas e seus costumes; a escravidão das populações negras; a opressão e a pobreza de expressiva parte da população; o colonialismo e o imperialismo que deixaram marcas diferenciadas no processo de socialização de crianças e adultos”.

Deste modo, é difícil conceituar e fornecer definições precisas sobre o que é ser criança na sociedade de hoje frente às diferentes realidades que a caracterizam.


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Sendo assim, é preciso que ater-se às necessidades reais deste público, para que assim possam exercitar seu direito de ter infância e ainda, que possam viver ou ao menos experimentar espaços destinados a elas e (que contribuam com) ao seu desenvolvimento.

02.2. Surgimento dos Parques Infantis no mundo Por meio de uma visão histórica, o pesquisador NIEMEYER (2005) da USP mostra como a Revolução Industrial influenciou a arquitetura e o urbanismo europeu, podendo também levar ao entendimento de como isso seria um dos fatores responsáveis por incentivar a criação dos playgrounds ou parques infantis. Para o autor, a criança era vista como um ser que necessitava de cuidados e estímulos sensoriais para se desenvolver de maneira adequada. Isto poderia ocorrer através das atividades lúdicas, que são as brincadeiras e jogos que despertam o prazer, educam e ensinam ao mesmo tempo em que os participantes se interagem. Na época existiam os jardins públicos, mas estes eram espaços de lazer próprios aos adultos, lugar de encontros românticos, de conhecer pessoas, sendo inadequados às crianças. Da mesma forma as ruas degradadas não poderiam ser usadas para brincadeiras em plena sociedade industrial. Dessa forma, era preciso que os educadores começassem a pensar em ambientes que fossem apropriados ao desenvolvimento infantil. O primeiro protótipo a surgir dessa tipologia lúdico-pedagógico foi o Jardim de Infância, criado pelo educador Froebel (1782-1827) na Alemanha em meados do século XIX. De acordo com ARANTES (2005), Froebel fundou este espaço para propiciar as crianças alguma ocupação, exercícios, atividades próprias à sua idade, união e maneiras de se relacionar uns com os outros. Inicialmente projetos pedagógicos foram implantados sistematicamente em escolas e em alguns espaços livres públicos. A partir dessa experiência européia surgiu nos Estados Unidos, na virada do século XIX para o século XX, um movimento conhecido como “Parks Movement”, de caráter conservacionista, ou seja, promovia campanhas pela conservação dos recursos naturais e pela renovação de paisagens deterioradas pelo homem. Ele foi acarretado


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pela baixa qualidade de vida nas cidades americanas gerada pela crescente urbanização e pelos processos de exploração à natureza. Em sua segunda fase, denominada “Reform Park”, o movimento buscava estabelecer uma rede de locais que fossem especialmente adequados ao desenvolvimento de atividades lúdicas, onde os primeiros equipamentos recreativos eram, segundo Niemeyer (2005), concebidos em madeira, mas por ser de pouca durabilidade foram substituídos por modelos em ferro, com design influenciado pela tecnologia vinda da industria. A principal motivação do “Reform Park” foi a preocupação com as mudanças causadas na sociedade pela Revolução Industrial e em consequência, o grande número de filhos de operários e imigrantes que ficavam nas ruas por não possuírem outro lugar para brincar, que ocasionava em marginalidade, problemas de higiene e saúde, entre outros. Em paralelo a

esta experiência norte-americana dos espaços livres, ocorre a

tentativa alemã que vai além da proposta dos Jardins de Infância “frobeliano”. Surge nos primeiros anos do século XX, um sentimento de valorização dos ambientes livres de permanência combinados aos propósitos globais da higiene urbana, para definir as novas tipologias arquitetônicas paisagísticas dotadas de uma qualificação lúdica e esportiva. Isto ficou a cargo da Deutscher Volksparbund (Associação Alemã de Parques para a População), fundada pelo arquiteto paisagista Ludwig Lesser, em 1913 (NIEMEYER,2005).


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Witt Clinton Park em Nova York 1911. Fonte: http://www.nycgovparks.org/pagefiles/20/playground9.jpg

Parque Heckscher em Nova York ,1927. Fonte: http://www.nycgovparks.org/pagefiles/20/playground10.jpg

Este modelo difundiu-se pelo mundo e sendo assim, o surgimento do “Parque Infantil” no Brasil na década de 30 (ARANTES, 2005), nos mostra a assimilação feita do exemplo de espaços livres infantis americanos e europeus, acompanhando também de perto o surgimento da moderna sociedade urbano-industrial.


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02.3. Surgimento dos Parques Infantis no Brasil Na década de 30, em muitos países da Europa, era grande o número de crianças pobres ou imigrantes, como também acontecia em São Paulo. Essa parcela da população não recebia devida atenção por parte do governo, havia apenas o atendimento prestado por senhoras da sociedade ou instituições religiosas, que ofereciam alimentos e lições de higiene e saúde aos pequenos. Era necessário que houvesse um lugar para receber os filhos da classe operária enquanto estivessem trabalhando. Além disso, ocorria muita influência das propostas do movimento escolanovista (movimento de renovação do ensino criado no fim do século XIX e fortalecido na primeira metade do século XX) europeu e americano no país, defendidas por educadores brasileiros que buscavam promover a ampliação do número de praças de jogos nas cidades, à semelhança dos Jardins de Infância de Froebel (OLIVEIRA, 1895 apud ARANTES, 2005). Nesse contexto surgem, em 1935, os primeiros parques infantis no Brasil, na cidade de São Paulo. De acordo com FARIA (1999) apud BELTRAME e OLIVEIRA (2011), seu precursor foi o escritor e membro do Governo Municipal Mário de Andrade, que propunha um espaço onde a criança pudesse brincar, pular, cantar, relacionar com outras crianças, sendo organizado primeiramente para atender a infância operária. Buscavam tirar os menores das ruas e promover um trabalho assistencialista para que tivessem melhor aprendizado, saúde e higiene, atraindo-os através do brinquedo. Os primeiros parques foram instalados em bairros onde havia grande concentração operária, beneficiando as crianças, pois, como já dito, com o surgimento da indústria as mulheres começaram a trabalhar e não podiam mais dedicar os cuidados que os filhos necessitavam e mereciam. Devido à preocupação com a qualidade da educação foram contratados, por um ano, instrutores para trabalhar nos Parques Infantis, sendo efetivados depois através de um concurso que envolvia provas e títulos. O papel desses educadores era brincar com as crianças, orientá-las a se divertir, mas sem lhes perturbar ou ameaçar a liberdade e espontaneidade; estes profissionais eram preparados para


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avaliar a criança em seus aspectos higiênicos, sociais e psicológicos e, a partir deste entendimento, desenvolver melhores maneiras de ensinar.

(BELTRAME e

OLIVEIRA, 2011).

Instrutora em passeio com as crianças. Fonte: http://saudadesampa.nafoto.net/images/photo20080112205901.jpg

Dessa forma os PI’s (Parques Infantis) surgem não como as escolas ou pré-escolas da época, mas como espaços de formação complementar. Além de ocupar o tempo livre que as crianças dispunham, era proporcionado educação e lições culturais. Outro fator importante era a socialização das crianças de diferentes idades, pois ao contrário das escolas institucionais, não havia qualquer separação entre elas. De acordo com BELTRAME e OLIVEIRA (2011), Mario de Andrade demonstrava grande preocupação em trabalhar a cultura nesses espaços, pois baseava-se na idéia de que as crianças são portadoras de tradições culturais, sendo assim fundamental obterem conhecimento da nacionalidade de suas famílias como mais um indicador dos elementos constitutivos da cultura brasileira.


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Crianças em atividade cultural. Fonte: http://www.museudacidade.sp.gov.br/imgBanco/ee5d1f1f178efea99a8c6849ba693057.jpg

Além de oferecer grandes áreas livres com equipamentos recreativos, os PI’s contavam com diversas instalações físicas. Sua planta padrão fazia parte de um programa arquitetônico que sofria constantes alterações de acordo com as necessidades demandadas de lazer e de cunho assistencialista. Os modelos mais completos da primeira fase contavam com biblioteca, refeitório, oficinas para trabalhos manuais, placo para apresentações teatrais e musicais, gabinete médicoodontológico e instalações administrativas e funcionais para a direção, os recreadores e higienistas. As salas de aulas eram ausentes, pois o espaço não era como uma escola. Os blocos funcionais eram implantados nas extremidades do terreno para que o gramado fosse liberado às atividades lúdicas e aos eventos aberto ao público. A área coberta ocupava, em geral, apenas 15% de todo o lote, e a vasta área livre restante era preenchida por equipamentos recreativos. Junto às cercas que delimitavam o lugar eram plantados arbustos e árvores com o objetivo de amenizar o calor durante o verão e caracterizar espacialmente a praça. Na segunda fase do programa arquitetônico foram incorporados pistas de corrida, locais para jogos atléticos e esportivos, campos de ginástica e piscinas, tornando-se um valioso espaço de lazer (NIEMEYER, 2005).


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Parque Infantil Dom Pedro II. Fonte: http://www.museudacidade.sp.gov.br/imgBanco/db8f28611f85f1f3a76bfa03f31a89d7.jpg

Sendo assim, os PI’s foram uma maneira encontrada para completar a educação infantil de uma classe social menos favorecida da época. Neles eram oferecidos espaços para as crianças brincarem livremente de forma instintiva enquanto seus pais trabalhavam. Valores fundamentais eram ensinados aos pequenos, tornando-os disciplinados, com boa saúde e educação.

02.4. A criança, o brincar e o espaço “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança e o adulto fruem sua liberdade de criação” (Winnicott) A brincadeira é um processo psicológico importante, fonte de desenvolvimento e aprendizagem. Nele são envolvidos processos complexos de articulação entre o já dado e o novo, entre a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia, sendo assinalado como forma particular de relação com o mundo, distanciando-se da realidade da vida comum. O brincar promove o desenvolvimento infantil a partir do momento em que a criança pode transformar e produzir novos significados, constituindo um espaço de aprendizagem (RODRIGUES, 2009).


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Para que as crianças possam se divertir, é preciso que os adultos permitam e ofereçam as condições necessárias às atividades infantis. Segundo MÜLLER (2007, p.01): Na escola não brincam, e se brincam, é rapidamente no recreio. De alguma forma, a criança acaba brincando, mas o tempo e o espaço estão restritos e, a parte de transmissão de cultura lúdica que devia passar de adulto para criança está praticamente desaparecida pela falta de convivência dos pais e mães com os seus filhos e, por outro lado, porque os espaços institucionais de frequência das crianças não potencializam o mundo da brincadeira e dos brinquedos.

Assim, é fundamental refletir sobre as áreas públicas de lazer ofertadas às crianças em tempos em que a urbanização é crescente e a organização social coloca o ser humano cada vez mais em lugares pequenos e restritos. As brincadeiras infantis devem ser ampliadas para além do espaço de casa ou o da escola. Por muito tempo as ruas e as praças foram palco de brincadeiras, de encontros e realizações sociais, de acontecimentos históricos e cotidianos, onde a vida ocorria de forma intensa e dinâmica, onde muitos se identificavam como parte integrante daquele lugar. Mas para ALMEIDA (2012), os ambientes das cidades não são mais da mesma forma, sendo que os hábitos cotidianos na vida infantil mudaram de forma radical os ritmos e as rotinas do seu dia-a-dia. Brincar na rua ou em praças tornouse em muitas cidades do mundo uma ação em vias de extinção. Assim o tempo espontâneo do imprevisível, do risco e da aventura, do confronto com o espaço físico natural, deu lugar ao tempo planejado, organizado. Com a violência dos dias atuais, os pais têm medo de deixar que os filhos se divirtam fora dos limites de casa, fazendo com que estes sejam excluídos dos domínios da vida pública. Mas para as crianças, a rua, a praça, entre outros, são lugares muito atrativos, pois neles elas podem exercer livremente sua sociabilidade infantil, suas apropriações, sua liderança, sem se preocuparem com a repreensão dos adultos. Isso pode ser trabalhado ao relembrar as cidades do interior ou até as vilas e cortiços, onde a segurança está em se conhecer os vizinhos, o dono da padaria, o dono da mercearia, tornando a rua um espaço de convivência, de encontros e aproximação das pessoas. É isso o que se pretende alcançar ao longo do desenvolvimento do projeto do Parque Infantil Multissensorial, tornando o parque


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além de um lugar de diversão, um espaço de encontros, de convivência, de conversas. Para ALMEIDA (2012), estes espaços possuem grandes potenciais para o desenvolvimento de ações lúdicas coletivas e/ou individuais, sendo que deveriam assumir um significado de iniciação dos pequenos na vida social. E afirma ainda, que são nestes ambientes que as crianças vivenciam os conflitos, atos de solidariedade e inclusão, de amizade e rompimento, de dominação, autoridade e transgressão nas relações com seus amigos. Mas MÜLLER e NASCIMENTO (2008) apontam que as cidades são pensadas, projetadas e construídas por adultos, sem valorizar e levar em consideração as necessidades e pontos de vista infantis. O mundo adulto e as cidades, da maneira como são organizadas, não consideram as crianças como produtoras de um saber próprio sobre o espaço urbano. Dessa forma, o modelo que ainda prevalece nas cidades é o de lugares feitos por e para adultos nos quais as crianças precisam se encaixar. Para que sejam projetados ambientes adequados aos pequenos é necessário compreendê-los como cidadãos, estudantes, pedestres, como seres que brincam, aprendem, observam, formadores de opiniões e de cultura, que vivenciam experiências e que também obtêm conhecimento fora do ambiente escolar. É de grande importância estudar sobre o brincar e a sua relação com os espaços, públicos ou não, a fim de observar o jogo espontâneo e a experiência lúdica em todos os âmbitos na vida infantil. Quanto maior esta vivência da criança, melhor as possibilidades, as alternativas, os caminhos para criar estratégias de ação, enriquecer seu pensamento, potencializar seus recursos motrizes, alcançar objetivos e fortalecer vínculos sociais e afetivos ALMEIDA (2012).


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03. PERCEPÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA ANÁLISE DO GRAFISMO INFANTIL No dia 10 de abril deste ano foi realizado um trabalho com crianças na fase préescolar com o objetivo de avaliar sua percepção espacial. O projeto investigativo foi executado escola Despertar Berçário e Maternal, localizada na Av. Japão, 497, Cariru na cidade de Ipatinga/MG. Trata-se de uma fase em que a criança descobre coisas novas ao seu redor a cada minuto, envolvendo nisso o espaço e as relações nele distribuídas. Foi proposto, então, analisar esta percepção por meio de atividades simples, mas que possibilitasse estudar as formas de representação infantil, bem como, a capacidade que possuem para mentalizar e reproduzir os objetos graficamente. PASSINI (1994) informa que ao desenhar, a criança desenvolve sua percepção sobre o espaço do papel. A princípio ela explica oralmente seu desenho, sendo esta explicação a ligação significante e significado que ela constrói. A respeito dos termos significante/significado, o referido autor ressalta que o primeiro diz respeito ao “desenho” e o segundo ao “pensamento”. Nesta etapa, os pequenos começam a perceber o espaço que os rodeia, evoluindo para melhores relações com o ambiente antes despercebido e pessoas neste envolvidas, podendo fazer comparações com o que está a sua frente, lado ou atrás, além das dimensões de altura, largura, comprimento e profundidade (MARTINEZ, REZENDE e SILVANA, 2001). Como metodologia deste trabalho foi sugerido que as crianças de 3 a 4 anos e as de 5 a 6 anos desenhassem a sua escola utilizando uma folha de papel tamanho A4 e os materiais que quisessem (lápis de cor, caneta hidrográfica, giz de cera, etc.). De acordo com a teoria criada por Luquet (1935) e adotada por PASSINI (1994) as fases de desenvolvimento do desenho infantil são as seguintes: - Incapacidade Sintética (3-4-5 anos) a representação é intencional, porém o objeto não tem semelhança com o representado.


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- Realismo Intelectual (6 a 9 anos) ocorre a transparência, o exagero de detalhes e falta de noção de perspectiva. - Realismo Visual (9-10 anos) aparece o cuidado com as perspectivas, proporções, medidas e as distâncias: Espaço projetivo euclidiano. Na fase que antecede a Incapacidade Sintética, a criança faz traços, mas sem criar imagens, pelo menos intencionalmente. Os traços são resultados de movimentos para imitar os adultos pelo simples prazer em deslizar o lápis pelo papel, surpreendendo-se muitas vezes com os resultados de seus movimentos (PASSINI, 1994). A pesar de existirem essas três fases, as que dizem respeito às idades estudadas, são as duas primeiras: Incapacidade sintética e Realismo Intelectual. Ao fazer uma análise dos desenhos feitos pelas crianças de 03 a 04 anos observase que os rabiscos feitos começam a tomar formas, sendo possível identificar o parquinho com os balanços e o escorregador em alguns desenhos. Há uma predominância das formas circulares e os primeiros rabiscos consistem em espirais ovaladas, executadas em um só traço, sem que a criança interrompa o gesto ou levante o lápis justamente como descreveu (MÈREDIEU, 1974 apud MARTINEZ, REZENDE e SILVANA, 2001) em seus estudos. Na fase dos 05 aos 06 anos a representação dos espaços da escola, com seus limites e formas mais precisas já podem ser vistas. A escola, as portas e janelas, agora passam a ter formas retangulares e alguns alunos tentam desenhar a sala de aula inserida no prédio da escola. Em alguns desenhos a representação de elementos externos como o parquinho, o sol, a caixa de areia, traduzem uma visão mais ampla do espaço nesta fase.


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Sala de aula – 3 anos.

Escorregador e balanços – 4 anos.

Fonte: Imagem do autor.

Fonte: Imagem do autor.

Escola e parquinho – 5 anos.

Prédio da escola – 6anos.

Fonte: Imagem do autor.

Fonte: Imagem do autor.


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Durante este exercício, pode-se acompanhar o desenvolvimento de um momento da vida infantil muito rico em criatividade e espontaneidade. É de grande importância aplicar atividades que busquem a percepção do espaço vivido pelas crianças nesta fase, trazendo maiores resultados em uma fase mais adulta. No contexto arquitetônico, a percepção espacial se torna um tema indispensável, uma vez que é papel do arquiteto estudar e avaliar as melhores formas de se conceber o espaço. A partir do entendimento do modo como a criança percebe e usa o ambiente é possível criar lugares adequados e atrativos para o desenvolvimento deste público. Ao observá-las desenhando, pode-se ter uma breve noção do quanto à criança, como ser imaginativo, tem o poder de transformar as coisas. As imagens formadas, às vezes, apenas por espirais e rabiscos possuíam para elas um grande significado, pois iam narrando o que faziam à medida que desenhavam. Isso se torna bastante relevante para a pesquisa, pois mostra que é preciso explorar ao máximo essa capacidade lúdica dos pequenos. É preferível dar-lhes, por exemplo, um cubo do que um cavalinho de brinquedo, pois este primeiro pode-se transformar através da imaginação em um carro, uma nave espacial, uma casa, enquanto o segundo será sempre um cavalo. Ao pensar no espaço público de um parque infantil observa-se que são inúmeras as possibilidades de se trabalhar esse pensamento, onde não é preciso inserir apenas equipamentos que ditem a forma de serem usados, mas brinquedos que possam ser multiusos e ainda se transformem segundo o pensamento criativo dos pequenos, o que acaba proporcionando uma melhora no desenvolvimento infantil.


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04. O MUNDO SENSORIAL Assim como as crianças, seja em uma escola ou num espaço qualquer, os adultos também se relacionam com o mundo a sua volta através dos estímulos que lhes são bombardeadas a todo instante. Através dessas constantes “mensagens sensórias” podemos compreender o lugar e nos envolver com o resto da sociedade. Boa parte dos estímulos que os seres humanos recebem se originam do próprio ambiente onde está inserido. Circundados por volumes, nuances, formas, odores, sons, gostos e sensações tácteis por meio dos quais são permanentemente convidados a interagir – muitas das vezes de forma inconsciente – determinam sua inevitável imersão no mundo material (EMERY e RHEINGANTZ, 2001). Mas apesar disso muitos não se atentam no dia-a-dia a utilização de todos os sentidos do corpo, pois vivem em uma sociedade presa a visão. Não se nota todas as coisas que se tocam durante um dia, as diferentes texturas e sensações que são transmitidas. Todos os aromas presentes no ar e como isso lhes atinge, lhes influencia. Milhões de barulhos diferentes lhes acompanham a todo instante, e mesmo quando pensam estar em completo silêncio há ainda o som da respiração. Todas as coisas que se experimenta, os sabores, as experiências, mas tudo acaba por se tornar algo comum, rotineiro, passando de forma despercebida. Imaginem agora o que acontece quando um ou mais dos sentidos não estão presentes. Como viver em um mundo projetado por e para pessoas tidas como “normais”, que possuem todos os sentidos perceptivos? Este é o problema enfrentado por muitos indivíduos da sociedade que possuem alguma limitação física, sensorial ou mental. Muitos elementos do cotidiano podem dificultar a vida dessas pessoas, como um interfone, por exemplo, pode barrar o acesso de alguém surdo a um edifício. Dessa forma há a necessidade de trabalhar uma nova forma de projetar espaços. De acordo com RHEINGANTZ, ARAÚJO E ALCANTRA (2004), os arquitetos de hoje ao desconhecerem a contribuição das ciências cognitivas, acabam se preocupando mais com as questões materiais, estéticas e geométricas dos espaços. Isso faz com que se descuidem das questões relacionadas às sensações, percepções, formações mentais e a consciência dos usuários. E completam que esses profissionais,


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geralmente, não atentam para a influência das formas visíveis, sons, odores e sabores, coisas tangíveis ou palpáveis sobre os produtos da mente – pensamentos, concepções e idéias – nas reações que terão as pessoas ao interagirem com o ambiente. Ainda de acordo com os autores, p.04: Como os ambientes projetados pelos arquitetos influenciam nossas mentes e nossos corpos, é conveniente que incorporem o conceito de união entre a matéria, as sensações e as percepções; que sejam capazes de despertar as emoções primeiras de lugar e de ser humano integrado, deixando de lado as imposições e os “ismos” do momento; que sejam capazes de considerar a matéria como condutora dos sonhos do ser humano que se emociona com as sensações por ela despertadas – as lembranças que um determinado cheiro desperta; os sentimentos provocados pelo calor do sol que entra pela janela e toca a pele; o som dos cheios e vazios que tornam um lugar familiar. Em outras palavras, os arquitetos podem se valer conscientemente da percepção de mundo, incorporando os objetos dos diferentes sentidos humanos ao seu projeto – objetos para os olhos; som para os ouvidos; matéria e vento para a pele; aromas para o nariz e gosto para a língua – e descobrir o poder de cada sentido humano e sua influência nas relações homem-ambiente.

Isso mostra a necessidade de explorar as diversas formas, de projetar, utilizando-se dos mais variados artifícios afim de que sejam criados espaços singulares, marcantes, que permitam a seus usuários experimentar o ambiente de diferentes maneiras, atendendo a todos de forma única. É isso o que se busca contemplar no desenvolvimento do projeto do TCC2, ao se pensar em um Parque Infantil Multissensorial como forma de despertar as crianças para o mundo dos sentidos e ainda promover a inclusão de portadores de necessidades especiais. Para concluir, RHEINGANTZ, ARAÚJO E ALCANTRA (2004), acreditam que ao ativar os objetos que pertencem a cada sentido, possibilita-se a construção de ambientes

sensoriais

múltiplos

e

ricos

em

sensações.

Estes

surgem

independentemente da plenitude dos sentidos e viabilizam a construção de um mundo imaginado em imagens mentais de cada indivíduo, levando-o a sentir-se bem em qualquer ambiente que fosse pensado para todos os sentidos. Como cada órgão tem um campo específico de atividade e como cada sentido pode ser trabalhado de


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forma independente dos demais, isso permite a todas as pessoas, inclusive as com necessidades especiais, ver, ouvir, sentir e pensar. Sendo assim sensações familiares que são gravadas em nosso subconsciente, virão à tona ao serem despertadas pelo lugar.

04.1. Os sistemas sensoriais O nosso mundo é rico em informações que nos são transmitidas pelos nossos sistemas sensoriais (tátil, visual, auditivo, olfativo, gustativo, proprioceptivo). Essas informações chegam primeiro em nossas estruturas receptoras, sendo depois conduzidas ao nosso sistema nervoso central para serem organizadas e para que se possa responder aos estímulos. É através dos sentidos que os seres vivos percebem e reconhecem outros organismos e as características do meio ambiente em que estão situados. Existem várias modalidades sensoriais, que incluem os sentidos classificados como ambientais (visão, audição, paladar e olfato) e os que são classificados como corporais (tato, vestibular e propriocepção). Uma boa organização de nossos sistemas sensoriais possibilita adquirir habilidades de concentração, aprendizado, pensar de modo abstrato, além de contribuírem para a autoestima, autoconfiança e autocontrole. A seguir será explicado cada um deles por meio de informações retiradas da Apostila do Curso de Fisioterapia da UFRJ –Rio de Janeiro, escrita pela professora Cláudia Vargas. A importância deste estudo se deve à busca de desenvolver um espaço que estimule os sentidos humanos, sendo assim necessário investigar cada um deles para melhor explorá-los.

04.1.1. Propriocepção A propriocepção consiste na capacidade de reconhecer à localização espacial do próprio corpo, sua posição, a força exercida pelos músculos, e a posição em relação às outras partes sem precisar fazer uso da visão. Essa percepção nos permite, por exemplo, desviar de um objeto mesmo sem saber a que distância precisa ele se encontra, ou mesmo tocar uma parte do corpo com os olhos fechados. É nas


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articulações que se encontram a maioria de seus receptores. Além disso, ela é responsável por poder-se andar, segurar e manipular objetos e coordenar movimentos. Esse sistema pode ser estimulado através de dinâmicas e atividades para explorar o próprio corpo em suas habilidades físicas e motoras. Atividades no parque em escorregador ou balanços; demonstrar controle sobre o corpo em movimento; fazer uso da força física e demonstrar resistência em brincadeiras que envolvam: subir, descer, pendurar, empurrar e puxar, entre outros exercícios.

04.1.2. Sistema vestibular O sistema vestibular localiza-se na parte mais interna de nosso ouvido, sendo capaz de nos informar sobre as mudanças de posição da cabeça e do corpo. Também é responsável pelo nosso tônus muscular, pela coordenação dos dois lados do corpo e por mantermos a cabeça em posição ereta contra a gravidade. De modo automático, o sistema vestibular coordena os movimentos de nossos olhos, cabeça e tronco. É importante para nosso equilíbrio, para a coordenação olho-mão e para a coordenação bilateral (dos dois lados do corpo). Assim, pode-se andar, manter-se sentado, jogar bola e até copiar no caderno um texto do quadro. Pode-se fazer a estimulação desse sistema através de dinâmicas e atividades que possibilitem as crianças desenvolver controle sobre o corpo. Como exemplo de atividade pode-se citar uma em que a criança se desloque pelo espaço em cima de uma corda demonstrando equilíbrio e atenção. Outras formas incluem realizar movimentos que envolvam correr, subir, descer, escorregar, pular, pendurar-se, equilibrar-se.


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04.1.3. Sistema gustativo É o sentido gustativo que permite reconhecer os gostos de substâncias colocadas sobre a língua. Nesta estão localizadas as papilas gustativas, que são estruturas compostas

por

células

sensoriais

que

transmitem

ao

cérebro

informações que permitem identificar os gostos básicos: o azedo, o doce, o amargo e o salgado. Esta percepção também é capaz de trazer lembranças e recordações de experiências passadas, diferenciando as prazerosas das não prazerosas. Porém muito do que se chamam gosto é, na verdade, olfato, pois os alimentos, ao penetrarem na boca, liberam odores que se espalham pelo nariz. Normalmente, a pessoa que está resfriada afirma não sentir gosto, mas, ao testar suas quatro sensações gustativas primárias (amargo, azedo ou ácido, salgado e doce), verifica-se que estão normais. São muitas as atividades que podem ser feitas para trabalhar o sistema gustativo. Um exemplo disso é reconhecer um alimento através do paladar; discriminar e identificar diferentes sabores.

04.1.4. Sistema olfativo O olfato é o sentido responsável pela percepção dos odores através do nariz. Este é equipado com nervos olfativos, importantes para distinguir o sabor das substâncias que se encontram dentro da boca. Assim pode-se dizer que muitas das sensações gustativas têm sua origem no olfato. Ele está associado a situações de prazer e desprazer. A estimulação deste sistema pode ser desenvolvida de diversas maneiras, com dinâmicas e atividades interessantes para as crianças. Como exemplo disso pode-se incentivar os pequenos a reconhecer diferentes objetos pelo cheiro, relacionar os aromas iguais, entre outros.


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04.1.5. Sistema auditivo O sistema auditivo é responsável por captar, reagir e distinguir à diversidade de sons existentes por meio do ouvido. Possui grande importância para o ser humano ao considerarmos o convívio social com o desenvolvimento e uso da fala e da linguagem. A audição funciona mesmo quando estamos dormindo, atuando como alerta em tempo integral. Existem diversas situações do dia-a-dia em que se pode avaliar essa importância, como por exemplo, ao escutar sons de buzina, sirene, latido de cachorro, o corpo se põem em alerta por remeter-se a uma situação de perigo. Em uma situação contrária, o prazer auditivo pode estar presente em uma música, no canto dos pássaros, no som de uma cachoeira, que fazem relaxar. Pode-se trabalhar este sentido através de atividades e dinâmicas que desenvolvam a audição apurada e sensível. Um exemplo disso é pedir que a criança identifique o amigo apenas pela voz; orientar-se em um espaço apenas pela presença do som, etc.

04.1.6. Sistema visual A visão trata-se da capacidade de receber as impressões sensoriais captadas do mundo exterior e do próprio corpo através dos olhos, seu principal órgão sensitivo, e discriminá-las, selecioná-las e identificá-las, relacionando-as com as experiências anteriores. Pode-se dizer que este é o sistema sensorial canalizador de informações mais preciso que o ser humano dispõem, sendo a percepção visual a mais importante via de relação entre o indivíduo e seu ambiente. É através da estimulação visual que a criança vai descobrindo o mundo dos objetos e das pessoas, criando-o através das imagens. Este sistema pode ser estimulado através de dinâmicas e atividades que despertem a curiosidade e o interesse dos usuários, por exemplo, por meio de sinais luminosos, cores vibrantes, movimento. Uma forma é explorar e utilizar os exercícios que exijam coordenação viso manual como brincar de acertar o alvo, peteca, ping pong, etc.


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04.1.7. Sistema tátil O sistema tátil está localizado em toda extensão do território corporal, na pele e nas mucosas. Os receptores táteis são sensibilizados através do contato com a pele, da manipulação de objetos diferenciados, das variações de temperatura, de pressão e de texturas. Este sentido é considerado um canal de aprendizagem extremamente apurado. Sua estimulação pode ser feita através de dinâmicas e atividades que explorarem e realizem com destreza progressiva os movimentos refinados; manuseio de massinha de modelar; o toque em diferentes objetos com propriedades variáveis de dureza, rugosidade, elasticidade, etc,

04.2. A estimulação multissensorial infantil como forma de aprendizagem O dia-a-dia do ser humano constitui-se e caracteriza-se pela multiplicidade de atividades, desafios, experiências, e acaba por construir de forma progressiva o seu mundo. Essa rotina diária no período da infância é igualmente construída e determinada pelas várias oportunidades de experimentações, pelos diversos desafios criados às suas competências e habilidades, pela construção do conhecimento por meio de sensações e percepções do mundo físico e social (CARVALHO, 2000). Pesquisas recentes nas diversas áreas da ciência consideram que o cérebro humano é um órgão altamente dinâmico e diferenciado, com capacidades específicas e vinculadas a redes neuronais concretas, alimentado por estímulos e experiências, e capaz de respondê-los, fortalecendo e desenvolvendo a sua teia de neurônios. Ele possui uma quantidade ainda não determinada de capacidades intelectuais, fazendo com que constantemente se levantem novos questionamentos, como por exemplo, verificar o que acontece ao nível de desenvolvimento mental se a criança não for estimulada nem desenvolvida suficiente e eficazmente no momento oportuno (DIAMOND & HOPSON, 2000 apud CARVALHO, 2005).


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A criança descobre e se relaciona com o mundo que as rodeia através das interações sensório-motoras. É assim que ela aprende como se comportar em determinadas situações, pois o conhecimento é adquirido através das suas interações com o meio e tudo o que nele se encontra. No decorrer dos dois primeiros anos de vida do ser humano os sentidos são ferramentas

essenciais

ao

seu

bom

desenvolvimento,

mas

também

ao

estabelecimento de aspectos fundamentais da sua personalidade, temperamento e das suas reações emocionais (DIAMOND & HOPSON, 2000 apud CARVALHO, 2005). Desta forma surge na criança a necessidade de descobrir novas sensações para que possa descobrir o mundo ao seu redor. É através dos cinco sentidos humanos que as crianças têm a oportunidade de aprender e apropriar de tudo que está a sua volta. Para TORRADO, 2002 nossa civilização foi a responsável por criar uma desigualdade entre os sentidos a partir do momento em que inundou o nosso meio com mensagens visuais, e fez com que os outros ficassem esquecidos e desvalorizados. O referido autor vai mais a fundo nesta questão ao dizer que para resolver esta situação deveríamos todos voltar para a educação de infância, para uma reciclagem sensorial. Podemos dizer que na maior parte das vezes os nossos outros dons são usados para complementar as informações visuais, ganhando autonomia apenas nas situações em que somos privados ou não possuímos a visão. Isso acaba por dificultar a vivência daqueles que possuem limitações sensoriais. Não se deve esquecer que o sistema nervoso integra também o toque, o movimento e a força da gravidade. A criança além de desvendar novas sensações em toda diversidade de materiais e objetos, descobre a si mesma como fonte de transformações destes objetos e como agente de suas próprias atuações (CARVALHO, 2005). Para este mesmo autor, os pequenos ao desfrutarem de interações estimulantes e adequadas com outras crianças, adultos ou objetos têm as funções do cérebro mais desenvolvidas do que aqueles que não foram sujeitos a uma estimulação atempada, oportuna e adequada. É preciso então que o ambiente seja rico e variado em


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sensações para que a estimulação ocorra de forma natural, despertando a vontade da criança de interagir com o meio. Sendo assim, é a partir das relações com o lugar que os pequeninos desenvolvem algumas habilidades, em detrimento de outras. Isso faz com que cada um desenvolva um perfil singular na medida em que seu desempenho depende quase que inteiramente da estimulação, condições e direcionamento geral existentes no meio onde estão inseridos. Mas vale ressaltar que esta não é uma questão simples, pois o termo estimulação não se aplica exatamente aquilo que está presente de forma material no lugar, mas ao que a pessoa, em si, compreende e assimila do meio (GUENTHER, 2000 apud CARVALHO,2005). Com isso pode-se dizer que é na infância, ao ser influenciado pela interação com o meio físico, onde mais se exercita e se desenvolve as inteligências e sentidos em busca de aquisições e aperfeiçoamentos de habilidades, essenciais ao pleno desenvolvimento, enquadramento pessoal, social e cultural na sociedade em que se vive. Por esse motivo a proposta deste TCC consiste em estudar as possibilidades de se projetar um Parque Infantil Multissensorial que permita as crianças explorarem e desenvolverem ao máximo suas capacidades cognitivas, além de promover a inclusão de portadores de necessidades especiais. Para isso é necessário estudar os princípios do Desenho Universal, que estabelece os parâmetros a serem seguidos na elaboração de produtos e espaços de forma que atendam o máximo de pessoas possível sem acrescer no custo final e sem que haja necessidade de projetos especiais para portadores de deficiência.


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05. O DESENHO UNIVERSAL O conceito de Desenho Universal foi desenvolvido entre profissionais de arquitetura na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos na década de 70. Seu objetivo foi definir uma tipologia de produtos e ambientes que pudesse ser usado por todos sem que houvesse necessidade de adaptação ou projeto especial para portadores de deficiência. Ao decorrer da vida mudam-se as características e atividades. Quando crianças se é impedido de alcançar ou manipular diversos objetos devido as suas dimensões, ás vezes, por uma questão de segurança, ás vezes, porque a criança não foi pensada como usuário. Quando adultos, depara-se com uma série de situações que dificultam, mesmo temporariamente, o modo de se relacionar com o ambiente, por exemplo, gestação, fraturas, torcicolos, ao se carregar pacotes muito grandes ou pesados, entre outros. Na velhice a força e resistência decrescem, os sentidos se tornam menos aguçados e a memória decai. Além disso, é possível, mesmo que com menos freqüência, que ao longo da vida se possa adquirir alguma deficiência, seja ela sensorial, física ou psíquica (CARLETTO e CAMBIAGHI). Dessa forma a idéia do Desenho Universal é, justamente, evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais para os diversos tipos de pessoas, assegurando que todos possam utilizar com segurança e autonomia os diversos espaços construídos e objetos disponíveis.

05.1. Os sete princípios do Desenho Universal Os sete princípios do Desenho Universal foram estabelecidos por um grupo de arquitetos e defensores destes ideais na década de 90. Fazia parte deste grupo o arquiteto americano Ron Mace, cadeirante e usuário de um respirador artificial, sendo ele o criador da terminologia Universal Design. Os conceitos criados são adotados mundialmente em qualquer programa que vise à plena acessibilidade. De acordo com CARLETTO e CAMBIAGHI são eles:


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(1) IGUALITÁRIO (uso equiparável): São espaços, objetos e produtos que podem ser utilizados por pessoas com diferentes capacidades, tornando os ambientes iguais para todos. Como exemplo, pode-se citar as portas com sensores que se abrem sem exigir força física ou alcance das mãos de usuários de alturas variadas.

(2) ADAPTÁVEL (uso flexível): Trata-se do design de produtos ou espaços que atendam pessoas com diferentes habilidades e diversas preferências, sendo adaptáveis para qualquer uso. Por exemplo, computador com teclado e mouse ou com programa do tipo ”DOSVOX”, primeiro programa de leitura de tela feito no Brasil. Trata-se de um sistema destinado a auxiliar o deficiente visual a fazer uso do computador através de um aparelho sintetizador de voz. O sistema foi desenvolvido no Núcleo de Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vem sendo aperfeiçoado a cada nova versão por programadores deficientes visuais.

(3) ÓBVIO (uso simples e intuitivo): Que seja de fácil entendimento para que uma pessoa possa compreender independente de sua experiência, conhecimento, habilidades de linguagem ou nível de concentração. Pode-se citar como exemplo a sinalização existente em sanitários femininos, masculinos e para portador de deficiência.

(4) CONHECIDO (informação de fácil percepção): Quando a informação necessária é transmitida de forma a atender as necessidades do receptador, seja ela uma pessoa estrangeira, com dificuldade de visão ou audição. Um exemplo é utilizar diversas maneiras de comunicação, tais como símbolos e letras em relevo, braille e sinalização auditiva.

(5) SEGURO (tolerante ao erro): Que seja previsto para minimizar os riscos e possíveis conseqüências de ações acidentais ou não intencionais. Um exemplo são os elevadores com sensores em diversas alturas que permitem às pessoas entrarem sem riscos da porta ser fechada no meio do procedimento e também as escadas e rampas com corrimão.

(6) SEM ESFORÇO (baixo esforço físico): Para ser usado de forma eficiente, confortável e com o mínimo de fadiga. Por exemplo: maçanetas tipo alavanca,


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que são de fácil utilização, podendo ser acionada sem muito esforço físico, até com o cotovelo. Esse tipo de equipamento também facilita a abertura de portas no caso de incêndios, não sendo necessário girar a mão. 

(7) ABRANGENTE (dimensão e espaço para aproximação e uso): Que estabelece dimensões e espaços apropriados para o acesso, o alcance, a manipulação e o uso, independentemente do tamanho do corpo (obesos, anões etc.), da postura ou mobilidade do usuário (pessoas em cadeira de rodas, com carrinhos de bebê, bengalas etc.). Exemplo: poltrona para obesos em teatros e cinemas.

Porta com sensor. Fonte: CARLETTO; CAMBIAGHI (2007, p.12)

Sinalização de sanitários. Fonte: CARLETTO; CAMBIAGHI (2007, p.14)

Uso adaptável. Fonte: CARLETTO;CAMBIAGHI (2007, p.13)

Sinalização de fácil percepção. Fonte: CARLETTO; CAMBIAGHI (2007, p.14)


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Elevador com sensores.

Maçaneta tipo alavanca.

Fonte: CARLETTO; CAMBIAGHI (2007, p.15)

Fonte: CARLETTO; CAMBIAGHI (2007, p.16)

Poltrona para obesos. Fonte: CARLETTO; CAMBIAGHI (2007, p.17)

O Desenho Universal existe para que as cidades estejam preparadas para receber qualquer pessoa, indiferente de sua idade ou situação, não se tratando apenas da área arquitetônica. Para que esse método seja aplicado, foram criadas diversas leis e normas, as normas para dar o rumo, para assegurar as especificações necessárias e as leis para obrigar o poder público e os cidadãos a seguirem essas especificações. Todo este estudo é de grande relevância para esta pesquisa onde o objetivo é desenvolver o projeto de um Parque Infantil Multissensorial onde serão trabalhadas formas de se estimular os sentidos humanos (tato, olfato, visão, paladar, vestibular, propriocepção) de forma adequada e divertida, promovendo também a inclusão de portadores de necessidades especiais. Busca-se criar um espaço com base nos princípios do Desenho Universal para que possa atender a todas as crianças de maneira igualitária.


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06. ANÁLISE DE CORRELATOS 06.1. Equipamentos urbanos Empresa: Microarquitectura Ano de fundação: 1995 País: Espanha A empresa está situada na cidade de Barcelona, na Espanha e é especializada na concepção de áreas de lazer e comercialização de mobiliário urbano. Atualmente possuem produtos padrões presentes em catálogos ou desenvolvem projetos especiais e personalizados de acordo com as necessidades do cliente, sejam eles da esfera pública ou privada. Permitir a acessibilidade em playgrounds é uma preocupação da empresa. Atualmente seu catálogo fornece soluções integradas para todos os tipos de áreas de lazer, indo desde estruturas tradicionais com adição de rampas e plataformas a equipamentos totalmente acessíveis especialmente projetados para crianças com deficiência, seja física, mental ou sensorial. Estes são chamados de equipamentos inclusivos. Os equipamentos inclusivos são aqueles que integram de forma correta os três seguintes aspectos: acessibilidade física, o desenvolvimento adequado à idade e atividades de estimulação sensorial. Estes proporcionam o nível necessário de estimulação sensorial e interação social de crianças com dificuldade de processamento

e

experiências

sensoriais,

como

tato,

visão,

audição,

desenvolvimento vestibular e propriocepção. Eles surgiram com o objetivo de proporcionar as crianças experiências sensoriais adequadas, sem diferenciação entre as que possuem síndrome de Down ou outras deficiências de desenvolvimento e as demais. Um grande número de brinquedos inclusivos convida todas as crianças com diferentes habilidades a brincar e imaginar juntos, sem excluir ninguém. A seguir estão alguns dos equipamentos inclusivos que a empresa fornece.


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Equipamento sensorial.

Equipamento inclusivo.

Fonte: http://es.microarquitectura.com/

Fonte: http://es.microarquitectura.com/

Estrutura de playground com rampas.

Brinquedo sensorial acessível

Fonte: http://es.microarquitectura.com/

Fonte: http://es.microarquitectura.com/

Jogo infantil de pintura acessível.

Equipamento acessível.

Fonte: http://es.microarquitectura.com/

Fonte: http://es.microarquitectura.com/


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O que mais se destaca nesta empresa é a forma como trabalha a inclusão de portadores de deficiência em seus projetos. O desenvolvimento de equipamentos sensoriais recreativos faz com que todas as crianças tenham a oportunidade de brincarem no espaço em que este é inserido. É isso o que seprocura atingir no projeto proposto para o TCC2 Parque Infantil Multissensorial, desenvolver equipamentos e espaços lúdicos sensoriais que auxiliem no desenvolvimento dos pequenos, proporcionem a diversão e permitam a inclusão.

06.2. Parque escultural, Schulberg Projeto: ANNABAU. Localização: Wiesbaden, Alemanha. Área: 3.250m². Ano: 2011. O projeto inserido na cidade de Wiesbaden, na Alemanha, cria um novo conceito em espaços públicos extraordinário. O playground com vista para o centro da cidade, está atraindo pessoas de todas as idades e partes do mundo para atender e comunicar através da ação do jogo.


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Planta do parque Fonte: http://www.annabau.com/

Devido ao seu design excepcional e escultural o novo parque destaca, por um lado, a importância urbanística do local por possuir vista para o centro histórico de Wiesbaden e, do outro lado oferece uma gama atraente e complexa de atividades de recreação.

Vista para o centro histórico. Fonte: http://www.archdaily.com/

Três elementos principais definem o parque: o primeiro é uma estrutura espacial composto por dois tubos de aço verdes sinuosos que pairam entre as árvores,


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nivelados em distância e altura. No meio desta estrutura, a escalada de uma rede tencionada cria um circuito - uma sequencia contínua de atividades de jogos para crianças e adolescentes. A forma pentagonal da estrutura é inspirada na forma histórica da cidade, enquanto os altos e baixos dos tubos se referem a situações urbanas locais.

Estrutura espacial lúdica. Fonte: http://www.annabau.com/

A estrutura não excede a altura de 3 m para cumprir as normas de segurança para projetos de parques infantis. Dentro do circuito, existem seis principais escalas de atividades lúdicas: em um jardim suspenso as crianças podem subir e descer ou balançar entre cipós com diferentes níveis de dificuldade. Placas de granulado de borracha, parcialmente rotativas, dão suporte à escalada ou simplesmente oferecem uma plataforma de descanso. Na parte mais baixa da estrutura, as placas de borracha permitem que o usuário passe sobre a rede, saltando de placa para placa. Outras atividades no parque incluem um túnel, um balanço, uma membrana de deslizamento e uma parede de escalada íngreme. A cor verde brilhante da estrutura é correspondente com as árvores no local e contrastante com os prédios de tijolos avermelhados adjacentes.


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Circuito de atividades lúdicas Fonte: http://www.annabau.com/

O segundo elemento do playground é constituído por uma topografia modelada sendo delimitada pela estrutura de escalada. Pequenas colinas e anéis, feitos a partir de granulado de borracha macia verde, cercada por areia e um conjunto de árvores, oferecem um melhor espaço de atividades às crianças mais novas ou, alternativamente, um lugar de descanso e encontros para os adolescentes e os pais.

Espaço para crianças menores. Fonte: http://www.archdaily.com/


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Um terceiro elemento do projeto é uma avenida constituída por um vasto caminho ao redor do parque fornecendo bancos para os outros usuários que chegam para assistir seus filhos brincarem ou desfrutar o panorama deslumbrante da cidade de Wiesbaden. Um meio-fio elegantemente arredondado segue o formato pentagonal do playground e separa o parque a partir desta avenida. O aspecto mais relevante deste espaço, e que se espera atingir no projeto proposto, refere-se ao seu potencial lúdico que constitui um grande diferencial. Pode-se observar que não é preciso criar espaços que ditem as formas de serem usados para que sejam divertidos. Um parque não precisa ter escorregador, balanço, giragira, para ser um parque, é necessário ir além destes padrões estabelecidos para criar

ambientes

que

proporcionem experiências

únicas

a

seus

usuários,

principalmente ao se trabalhar com crianças. Mesmo não se tratando de um projeto com acessibilidade, que atenda a todas as crianças, ele se torna relevante para a pesquisa devido suas qualidades já destacadas.


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07. ANÁLISE DE ÁREAS DE LAZER PARA CRIANÇAS NO MUNICÍPIO DE IPATINGA Atualmente pode-se observar em nossa sociedade que os espaços para moradia tornam-se cada vez menores. Dessa forma é preciso que a cidade ofereça espaços adequados a essa parte da população, para que se desenvolvam de maneira adequada e saudável, explorem seus potenciais e tornem-se mais avançadas em desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo. Principalmente ao observar que com a vida moderna a brincadeira tem deixado, cada vez mais, de ser presencial e para ser virtual. Por isso, o seguinte estudo consistiu em uma análise de 2 áreas de lazer para crianças no município de Ipatinga a fim de observar os seguintes aspectos: 

Ludicidade;

Inclusão/Acessibilidade;

Segurança;

Estimulação sensorial.

Foto aérea das duas áreas analizadas. Fonte: Google Maps - ©2013 Google.


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07.1. Praça das Mães A praça está situada na Avenida Felipe dos Santos, próximo ao número 292, no bairro Cidade Nobre. Além do parque infantil, o espaço conta com quadra de futebol e quiosques com mesas contendo tabuleiro de dama. Existem áreas pavimentadas em bloquetes e outras cimentadas que permitem o desenvolvimento de atividades como: andar de bicicleta, patinar, jogar vôlei, pega-pega, entre outras brincadeiras e jogos de origem tradicionais.

Parque Infantil. Fonte: Imagem do autor.

Ludicidade: O espaço é composto por equipamentos que ditam a forma de serem usados. As crianças como seres lúdicos por natureza, acabam inventando novas formas de brincar, mas não porque algum equipamento lhes induza a isso.

Segurança: O estado de conservação do parque infantil é precário, com áreas esburacadas, brinquedos quebrados e pouco atrativos, não havendo uso de cores que busquem a atenção dos pequenos. Isso faz com que seja pouco utilizada por crianças, havendo maior movimentação de jovens e adultos no local. Acaba também por comprometer a segurança dos usuários.


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Áreas desgastadas pelo uso.

Áreas com ausência de grama.

Fonte: Imagem do autor.

Fonte: Imagem do autor.

Balanços fora de funcionamento.

Equipamento em más condições.

Fonte: Imagem do autor.

Fonte: Imagem do autor.

Estimulação Sensorial: O parque conta com equipamentos que exercitam e fortalecem o sistema motor das crianças, mas não observou-se algum que estimule os sistemas sensoriais de uma forma eficaz.

Equipamentos que exercitam o sistema motor. Fonte: Imagem do autor.


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Acessibilidade/inclusão: Observou-se que este ítem não é contemplado neste projeto. Para acessar a praça não há rampas e nem marcação com piso tátil. E na área dos brinquedos há uma barreira que dificulta a passagem de deficientes. Além disso nenhum dos equipamentos oferece possibilidade de uso às crianças portadoras de necessidades especiais.

Ressalto que dificulta a acessibilidade. Fonte: Imagem do autor.

07.2. Parque Ipanema O Parque Ipanema está localizado na Av. Roberto Burle Marx, no bairro Jardim Panorama. Possui mais de 1.000.000m², sendo uma das maiores áreas verdes do país situada dentro de um perímetro urbano. A área de lazer foi uma das últimas obras do paisagista Roberto Burle Marx.

Panorama da lagoa do Parque Ipanema Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2b/Panor%C3%A2mica_do_Parque_Ip anema%2C_Ipatinga_MG.JPG/700pxPanor%C3%A2mica_do_Parque_Ipanema%2C_Ipatinga_MG.J PG


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O espaço é aberto a toda a população, oferecendo área de lazer com pista para caminhada e corrida, lagoa com ilha, cata-ventos, parque infantil, anfiteatro e quadras poliesportivas, galpão com palco para apresentações diversas. O lugar recebe moradores de Ipatinga e de outras cidades da região assiduamente, sendo maior a movimentação em finais de semanas e feriados. Possui iluminação, sinalização, sanitários, bebedouros e lixeiras. O estado de conservação do Parque dos Brinquedos é bom, com todos os equipamentos em funcionamento, mas nota-se também a falta de preocupação no uso de cores como forma de atrativo às crianças. 

Ludicidade: O espaço conta com um grande equipamento que permite à criança explorar a imaginação ao inventar brincadeiras. Ele conta com rampa, rampa de escalada, rede de escalada, escorregador e plataformas. Mas isso não é explorado nos outros brinquedos sendo estes ditam a forma de serem usados.

Equipamento lúdico. Fonte: Imagem do autor.

Segurança: Nota-se uma preocupação com a segurança dos usuários devido a existencia de guarda-corpo nos brinquedos que estão a uma altura do chão e ao redor dos balanços.


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Equipamento com guarda-corpo. Fonte: Imagem do autor.

Limite de idade dos usuários. Fonte: Imagem do autor.

Mas alguns brinquedos mostram-se inadequados ao uso de crianças devido sua altura, uma vez que o uso do Parque dos Brinquedos é permitido até a idade de 12 anos de acordo com sinalização no local.

Equipamento com altura imprópria. Fonte: Imagem do autor.

Balanço com altura imprópria. Fonte: Imagem do autor.


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Estimulação sensorial: Há vários equipamentos que trabalham o sistema motor dos pequenos. Mas quanto a estimulação sensorial de modo potente não foi encontrado nenhum brinquedo que a trabalhasse.

Rampa de escalada. Fonte: Imagem do autor. 

Rede de escalada. Fonte: Imagem do autor.

Acessibilidade/inclusão: Este ítem não é contemplado neste projeto. Para acessar o Parque Ipanema não há rampas e nem marcação com piso tátil. No Parque dos Brinquedos o piso é todo em areia, o que dificulta o acesso e nenhum dos equipamentos possibilita o uso de crianças portadoras de necessidades especiais de forma adequada.


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08. ESTUDO DO OBJETO 08.1. Localização da área em estudo A área em estudo está localizada no Parque Ipanema, situado na Av. Roberto Burle Marx, no bairro Jardim Panorama, onde funciona hoje o Parque dos Brinquedos. Segundo a Prefeitura de Ipatinga, localiza-se na Regional IV, estando situado a leste do território municipal. No seu entorno encontra-se o Estádio Municipal João Lamego Netto, o Kart Clube Ipatinga e residências. É característica do lugar a realização de eventos musicais, esportivos, políticos, durante todo o ano. Inicialmente têm-se essa área como escolha, mas é pensado também na possibilidade de expandir o projeto para outras áreas do Parque Ipanema, o que deverá ter um estudo mais aprofundado caso haja necessidade.

Parque ipanema em verde e área em estudo em amarelo. Fonte: Google Maps - ©2013 Google.


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08.2. Dados naturais da área O local em estudo abriga hoje o Parque dos Brinquedos, possuindo vários equipamentos recreativos, piso em areia, pequena área gramada, algumas árvores de pequeno porte e arbustos, sendo todo plano.

Espaço escolhido para implantação do projeto. Fonte: Imagem do autor.

08.3. Sistema viário A principal via de acesso ao local é a Avenida Roberto Burle Marx, que é caracterizada no sistema viário da cidade como via arterial, que faz ligação de um bairro a outro. Esta via oferece facilidade de utilização do transporte coletivo compartilhado com o tráfego em geral.


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Foto aérea sistema viário – fluxos. Fonte: Google Maps - ©2013 Google.

08.4. Justificativa da escolha da área A escolha da área para implantação do Parque Infantil Multissensorial justifica-se por ser um marco na cidade e receber visitações freqüentes de moradores locais e de regiões vizinhas a procura de lazer e descanso. Situado próximo a bairros populosos apresenta facilidade quanto às vias de acesso e transporte coletivo. Apesar de estar localizado numa via de alto tráfego o local possui aparência tranquila, e dispõem de uma grande quantidade de vagas de estacionamento.


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09. DIRETRIZES PROJETUAIS 09.1. Conceituação A proposta do trabalho é desenvolver o projeto de um Parque Infantil Multissensorial, a ser implantado no Parque Ipanema, que atenda a cidade de Ipatinga e as cidades circunvizinhas, criando-se um novo conceito em áreas de lazer. O projeto proposto para o parque baseia-se nos princípios do Desenho Universal, que busca assegurar que todos possam utilizar com segurança e autonomia os diversos espaços construídos e equipamentos disponíveis. Dentro destes princípios, a proposta atenderá a crescente preocupação em incluir na sociedade os pequenos portadores de necessidades especiais da região de forma ampla, sem que isto resulte em espaços segregados. Busca-se explorar todas as formas de estimular os sentidos humanos nas atividades que serão oferecidas no parque, como meio de inclusão de deficientes físicos/sensoriais e desenvolvimento e aprendizagem de todas as crianças. É importante que se amplie o número de espécies vegetais presentes na área para criação de sombra e melhor conforto ambiental, mas deve-se ter em conta que algumas plantas, por exemplo, as que libertam pólen podem ser problemáticas para os alérgicos. Também se deve considerar a existência de plantas venenosas, sendo preciso projeto específico de paisagismo. Promover a segurança dos usuários é de suma importância, consultando sempre que preciso ao decorrer do projeto, as normas da ABNT NBR 16071 que especifica os requisitos de segurança para os equipamentos de playground. Esses requisitos foram desenvolvidos considerando os fatores de risco baseados em dados disponíveis. Mais do que isso, busca-se desenvolver um espaço adequado onde as crianças sintam-se livres para exercitarem suas brincadeiras, seus desejos, seu direito de ter infância de maneira espontânea.


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10. CONCLUSÃO Vivencia-se uma época em que as preocupações, a correria do dia-a-dia e o alto custo de vida faz com que as pessoas tenham cada vez menos filhos, e aqueles que os tem dispõe cada dia mais de menos tempo para dedicar-lhes e a sociedade de menos espaços adequados a oferecer-lhes. A criança, como sujeito social e histórico, vivencia e se expressa de acordo com o contexto em que está inserida. Dessa forma, muito daquilo que ela socializa é característica de sua realidade vivida e, muitas vezes, sua infância não é levada a sério. É necessário assegurar à criança condições para o seu desenvolvimento, não só no que diz respeito às leis, mas na realidade vivenciada, onde o direito de brincar seja reconhecido e valorizado, assim como o seu tempo e o seu espaço sejam respeitados e ganhem também sua devida importância. Deve-se explorar novas formas de projetar. É preciso investigar ao máximo as características do público alvo que iremos trabalhar tendo-se sempre em conta as limitações de cada um, para que assim se crie alternativas para atender a todos de forma igualitária. Os espaços destinados à recreação dos pequenos devem permitir que eles exercitem suas capacidades lúdicas, imaginativas, que explorem seus potenciais e acima de tudo se divirtam ao máximo. O direito a infância é de todas as crianças, inclusive daquelas que são portadoras de necessidades especiais, sendo dever da sociedade cobrar do governo áreas infantis que permitam que o brincar inclusivo se torne uma realidade dos nossos dias. Dessa forma a proposta do TCC2 de desenvolver o projeto de um Parque Infantil Multissensorial, objetiva servir de parâmetro e criar um novo conceito em áreas de lazer infantis. Almeja-se um espaço de caráter inclusivo, que ofereça infra-estrutura física e condições adequadas ao desenvolvimento e a diversão dos pequenos. A investigação dos sentidos humanos mostrou o quanto é necessário para as crianças serem estimuladas no tempo certo, pois através disso elas tem a oportunidade de aprender e apropriar de tudo o que está a sua volta. Saber como


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cada um deles funciona foi imprescindível para a pesquisa, já que se propõe formas de estimulá-los nas atividades que serão oferecidas no projeto do parque infantil. E através dos princípios do Desenho Universal buscou-se entender os conceitos, as regras e os procedimentos necessários para elaborar um espaço singular que permita a todas as crianças experimentá-lo. Isto foi de suma importância, pois mostrou o caminho que se deve seguir para criar um mundo sem segregações.


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