Relatório Infâncias em Rede | PORTFÓLIO

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Relatório Infâncias em Rede Autor e Editor Avante - Educação e Mobilização Social Organização Ana Oliva Marcilio Andréa Fernandes Pereira Thaís Santos 1ª Edição Avante – Educação e Mobilização Social 2016


Ficha Técnica Grupo Gestor Gestão Institucional Maria Thereza Marcilio Linha de Formação de Educadores e Tecnologias Educacionais Rita Margarete Santos Linha de Formação para Mobilização e Controle Social José Humberto Silva Linha de Formação para o Trabalho Carol Duarte Comunicação Institucional Andréa Fernandes Administrativo Financeiro Rita Margarete Santos José Humberto Silva Equipe do Projeto Infâncias em Rede Coordenação Ana Marcilio Mobilizadores brincantes Fernanda Pondé, Juraci do Amor e Sapoti Projeto Gráfico e Diagramação Thaís Santos


índice Apresentação

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1) Ação Direta de Fortalecimento da Participação Infantil

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A. Desafios da ação direta no Calabar

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A. Desafios da ação direta em Pedra de Guaratiba (RJ)

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B. Resultados alcançados no Calabar

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B. Resultados alcançados em Pedra de Guaratiba (RJ)

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C. Lições aprendidas

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D. Soluções

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E. Próximos passos

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2) Incidência Política, Mobilização Social e Advocacy

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A. Desafios

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B. Resultados

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C. Lições aprendidas

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D. Soluções

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E. Próximos passos

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FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária: Maria das Mercês Valverde – CRB 5/1109

Relatório infâncias em rede (livro eletrônico) / Org. Ana Olivia Marcilio, Andréa Fernandes Pereira, Thaís Santos. 1.ed. - Salvador: Avante, 2016. 34 p.: il. Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-60828-10-4

1. Crianças - Assistência social - Calabar, Salvador (BA). 2. Crianças - Assistência social Pedra de Guaratiba (RJ). 3. Infância - Aspectos sociais - Relatórios. I. Marcilio, Ana Olivia. II. Pereira, Andrea Fernandes. III. Santos, Thaís. IV. Avante - Educação e Mobilização Social. CDD: 362.7098142



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ste relatório refere-se à última etapa do projeto Infâncias em Rede (entre maio e dezembro 2015): realização Avante - Educação e Mobilização Social, em parceria com a Fundação Xuxa Meneghel e com apoio da Fundação Bernard van Leer.

bilização Social e Advocacy - por meio do Grupo de Trabalho em Participação Infantil da Rede Nacional Primeira Infância (Brasil) e do Grupo de trabalho on Children’s Right / Comitê Voices of Children (VoC) da World Fórum Foundation for Early Childhood Care and Education (internacional).

O Infâncias em Rede, tem como premissa a coletivização da luta pela garantia de direitos. Pauta a participação de crianças a partir do direito de organização em grupos para que, em conjunto, suas vozes sejam mais fortes e suas ideias tenham melhor possibilidade de influenciar os programas e ações que lhes atendem. Em âmbito federal, o projeto também priorizou o trabalho em coletivo, incidindo sobre políticas e programas a partir das redes, conselhos e movimentos sociais focados na garantia de direitos das crianças. Assim, seja na ação direta com as crianças, seja no advocacy em nível nacional, o Infâncias em Rede teve como estratégia chave, fio condutor de suas ações, o trabalho em e com coletivos.

Este relatório apresenta o percurso feito ao longo do ano de 2015. Compartilhamos essa caminhada a partir da seguinte estrutura: a) Desafios; b) Resultados Alcançados; c) Lições Aprendidas; d) Soluções; e e) Próximos Passos.

Em 2015 o projeto visou ao fortalecimento da participação cidadã de crianças e adolescentes sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador. Para lograr seu objetivo, duas estratégias foram implementadas: 1) Ação Direta de Fortalecimento da Participação Infantil, junto ao Grupo de Crianças Calabar e ao Núcleo Mobilizador de Pedra de Guaratiba / Rede +Criança; e 2) Incidência Política, Mo-

Para uma melhor compreensão, apresentaremos os caminhos percorridos com a Ação Direta de Fortalecimento da Participação Infantil e com a Incidência Política, Mobilização Social e Advocacy, separadamente. Sendo assim, é importante destacar que, ao longo do trabalho, essas ações integravam um todo. Em nível nacional, a pauta de advocacy foi realizada a partir do que as crianças planejaram em seus coletivos. Do mesmo modo, as ações de advocacy alimentaram espaços e movimentos de crianças: informando, sensibilizando e articulando-as de maneira que pudessem alcançar seus objetivos e garantir suas pautas.


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1) AÇÃO DIRETA DE FORTALECIMENTO DA PARTICIPAÇÃO INFANTIL A estratégia de Ação Direta de Fortalecimento da Participação Infantil apoiou a articulação e mobilização do Grupo de Crianças Calabar (BA) e do Núcleo Mobilizador da Rede +Criança de Pedra de Guaratiba (RJ) em suas propostas de intervenção comunitária visando a garantia de direitos. Na Bahia, o Grupo de Crianças Calabar se propunha ao enfrentamento da violência doméstica por meio de campanhas que mobilizassem a própria comunidade. As crianças também queriam garantir o direito ao brincar no espaço público/comunitário, buscando sua melhoria. No Rio de Janeiro, as crianças da Rede +Criança queriam “tirar do papel” a Lei que criou a Área de Proteção Ambiental (APA) das Brisas. A APA integra a comunidade da Pedra de Guaratiba, foi criada há 23 anos e, apesar da garantia de proteção, o local se encontrava abandonado e era utilizado como depósito de lixo, para atividades ilícitas e alvo de explorarão. A seguir, apresentaremos, primeiramente, nossos desafios. Aqueles que foram propostos pelas crianças e aqueles com os quais nos deparamos as longo do percurso. Desafios estes que foram pontos de partida e de reflexão para que chegássemos ao alcance de nossos resultados. A partir deles, buscamos soluções e fizemos uma caminhada de muito aprendizado.


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A. DESAFIOS DA AÇÃO DIRETA - No Calabar Muitos desafios se fizeram presentes no cotidiano do projeto, seja na relação com as crianças; entre as crianças; com suas famílias; entre as crianças e a família; e da criança na própria cidade. Principalmente numa cidade marcada pela desigualdade econômica e social, e violação de direitos. •

Conversar com adultos, principalmente familiares sobre violência doméstica e castigos físicos;

Ampliar a possibilidade de diálogo intergeracional, principalmente intrafamiliar, e com as lideranças locais;

(Grupo de Crianças Calabar)

Incluir, sem restrições, crianças em situações severas de vulnerabilidade social:

Vencer o preconceito e estereótipo que algumas crianças já carregavam na comunidade;

“As pessoas batem em você porque isso vem de geração em geração... tava vendo isso com minha cachorra, minha mãe me bate e eu quero descontar em cima de minha cachorra, mas isso não tá certo!”.

Transitar com as crianças para a além das fronteiras e barreiras sociais da própria comunidade, frequentando outros espaços e exercendo um convívio social mais amplo;

Garantir espaços e tempos para o brincar em espaços públicos;

Trabalhar em espaço público, na rua, ao ar livre, ocupando a praça e sem sede;

“Conseguir fazer os pais entenderem que não pode bater em criança; ter ajuda da comunidade para ajudar a cuidar da praça é o maior desafio”

(Grupo de Crianças Calabar)

”Um dos maiores desafios foi lidar com a violência cotidiana na forma de interação entre as crianças. O trabalho era constante de tornar coerente o discurso das nossas rodas de conversa, e a prática da relação entre eles. (Educadores)


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Qualificar os espaços comunitários;

Envolver o poder público na construção de um parque na comunidade;

Ensaiar e gravar a música da Lei Menino Bernardo.

A. DESAFIOS DA AÇÃO DIRETA - em pedra de guaratiba (rj) •

Garantir a participação das crianças em espaços de participação e controle social de adultos, a exemplo de audiências públicas, assembleias, conselhos e etc;

Falar com o Secretário de Meio Ambiente;

Maior visibilidade aos limites da APA com placas e cercas;

Advocacy: abandono do poder público e falta de cuidado da própria comunidade;

Mobilização da própria comunidade de Pedra de Guaratiba;

Envolvimento do Poder Público nas ações propostas pelas crianças.

“A APA (área de proteção ambiental) das Brisas foi o lugar que escolhemos melhorar. Para ajudar a comunidade, para termos uma área de lazer, porque lá é um ponto de uso de drogas e outros problemas que tem lá, como a violência e abuso sexual”. (Núcleo Mobilizador da Rede +Criança de Pedra de Guaratiba) “Tirar a lei do papel é o maior de todos”. (Núcleo Mobilizador da Rede +Criança de Pedra de Guaratiba) “O grande desafio era de garantir que o direito à participação de crianças e adolescentes fosse respeitado em instâncias de participação e controle social que ainda tem dificuldades de incluir as crianças nesse espaços de participação e controle social.” (educadores)


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b. RESULTADOS ALCANÇADOS - No Calabar O brincar •

Famílias participam das atividades desenvolvidas na praça e brincam juntas, ampliando e fortalecendo a convivência familiar e intergeracional;

Ocupação, pela criança, do espaço público, garantindo seu direito à convivência comunitária e ao brincar;

“No contexto do Calabar posso afirmar que juntos desenvolvemos melhor a sensibilidade, a percepção, a atenção e a importância de saber ouvir/perceber o outro, aspectos associados à conquista de uma boa comunicação grupal”. (Educadora)


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Reconhecimento e garantia, por parte da comunidade, de espaços para a criança brincar.

Convivência comunitária •

Moradores percebem mudanças positivas significativas no comportamento das crianças, principalmente das que eram conhecidas na comunidade como “crianças difíceis”;

Crianças pedem ajuda a adultos para resolver conflitos e disputas sem briga;

Maior abertura para o diálogo como instrumento para a resolução de conflito;

Ampliação do Cinema Comunitário, a partir da articulação com a biblioteca comunitária, possibilitando juntar as crianças que frequentam a praça com as que frequentam a biblioteca, transpondo uma das barreiras invisíveis desse gueto;

Realização do “Novembro Negro Calabar” em articulação com o Instituto de Saúde Coletiva, a Biblioteca Comunitária, envolvendo as lideranças que promovem futebol, capoeira, leitura, dança, cultura, história arte e saúde no bairro. Houve a presença e co-


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laboração de artistas e referencias na luta pela negritude e contra o Racismo como o DJ Sankofa, o coletivo Fale de Amor Todo Dia e Fumax. Participação •

Crianças passaram a se reconhecer como capazes de criar soluções e responsabilizaremse por implementar, na comunidade, suas propostas, voltadas ao cuidado, respeito entre as pessoas, limpeza do espaço e ressignificação dos mesmos; Comunidade mapeada pelas crianças, que apontam suas demandas como praças e áreas de convívio sócio cultural.

Contra castigos físicos •

Criação e Execução da Campanha pela Aplicação da Lei Menino Bernardo. A parceria com o Studio Attitude possibilitou um acolhimento saudável para gravação do jingle> “Amor, Beijinhos e Carinhos - Lei Menino Bernardo”.

Gravação e Lançamento da Campanha Bata na Porta (baseada na campanha Ring the Bell

- Breakthrough TV) no Calabar; •

Campanha Bata na Porta ganha alcance nacional e aparece em programa da TV fechada. Inspira outras crianças a fazer mais;

Ampliação do diálogo com famílias e comunidade acerca da educação sem violência, livre de castigos físicos e humilhantes. Havendo inclusive maior abertura para o diálogo com as crianças;

Mudança de atitude, por parte de famílias e moradores da comunidade, no que tange a castigos físicos e humilhantes.


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b. RESULTADOS ALCANÇADOS - Em pedra de guaratiba (Rj) Participação e incidência política •

Maior participação efetiva das crianças do projeto +Criança nas questões comunitárias, reunindo parceiros da região para ouvi-las e debater encaminhamentos e juntar esforços para mudanças propostas por elas; Reunião para apresentação da ação local APA das Brisas e as propostas das crianças, realizada na SMAC Rio [Secretaria Municipal de Meio Ambiente], que envolveu o subsecretário Altamirando Fernandes, coordenadores de três áreas da SMAC (Proteção Ambiental, Unidades de Conservação e Educação Ambiental), 02 gestores de APAS e as crianças da Rede +Criança; Estratégias criadas pelas crianças para ampliar a mobilização em torno da APA: abaixo assinado que reuniu cerca de 400 assinaturas e também foi explicitada na Pré-Conferência de Meio Ambiente da Zona Oeste, onde as crianças participaram da mesa de abertura; elaboração da Carta das Crianças para APA das Brisas, visitas na APA para entrevistas com moradores e divulgação da importância do local; Aprovação das propostas apontadas pelas crianças no grupo de unidades de conser-

vação na plenária final da pré-conferência de Meio Ambiente da Zona Oeste - Rio de Janeiro; •

Encaminhamento das propostas para a Conferência Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro;

Possibilidade proposta na reunião com a SMAC de criar o conselho gestor da APA das Brisas, ainda a ser criado na comunidade, que já tem discussão para incluir representações de crianças;

Conquista de novos parceiros para apoiar a caminhada pela revitalização da APA das Brisas: agentes ambientais, lideranças da comunidade ligadas a ecologia, Comlurb, Smac, NEMA (Núcleo de Estudos de Manguezais- UERJ), Defesa Civil;

Nomeação do gestor para a APA das Brisas (RESOLUÇÃO SMAC “P” Nº 205 DE 26 DE NOVEMBRO DE 2015 O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE, no uso das atribuições que lhe são conferidas pela legislação em vigor, RESOLVE Designar ROGÉRIO BORGES DA CUNHA, Engenheiro Químico, matrícula nº 10/274.447-2, para o exercício


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da função de Gestor da APA da Orla da Baia de Sepetiba, APA das Brisas e APA do Morro do Silvério); •

Na comunidade houve maior reconhecimento da Área de Proteção Ambiental- APA das Brisas, que muitos não sabiam nem que existia e agora já querem até participar junto com as crianças. As lideranças comunitárias e representantes de órgãos públicos, como o gestor da APA, reconhecem publicamente a ação das crianças na comunidade.

Melhoria do espaço público e da comunidade • Produção de nova placa da entrada da APA das Brisas, com autonomia das crianças na confecção, produção de textos, desenhos e escolha do layout, com evento de reinauguração, caminhada de mobilização comunitária, distribuição de panfletos com história da APA, oficinas de educação ambiental, mutirão de limpeza reunindo agentes ambientais, lideranças da comunidade e órgãos como a COMLURB [Companhia Municipal de Limpeza Urbana] e SMAC Rio; •

Pactuação das propostas discutidas na reunião das crianças na SMAC Rio e que foram

acolhidas pelo subsecretário da Secretaria curto, médio e longo prazo; •

reunião local com gestor e as crianças para vistoria na APA das Brisas, e possível denúncia sobre empresas que degradam o local;

Elaboração de projeto para implantação de uma ciclovia na APA das Brisas;

Parceria da SMAC para organização do evento de reinauguração da placa da APA, com oficinas de educação ambiental, plantio de mudas, distribuição de panfletos educativos;

Restauração de espaço para reconstituir a sede da APA das Brisas que não existe mais;

Nomeação de um guarda fixo para o local;

Novas placas informativas no local, por meio de recurso de multas compensatórias.

c. Lições aprendidas Aprendemos todas/os que dessa jornada participaram: crianças, educadores, famílias e a própria sociedade civil e o poder público. A melhor forma de comunicar nosso aprendizado ao longo de nossa caminhada é pela voz dos que dela participaram.


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Assim, compartilhamos aqui depoimentos colhidos em entrevistas, questionários e, principalmente na interação direta com as crianças e comunidades.

E D U C A D O R “Para que haja garantia de diretos é necessário investimento público, participação e controle social. Foi importante ter recursos próprios para garantir que as propostas fossem encaminhadas e implementadas, motivando, inclusive, outros investimentos, a partir da pressão das crianças”. ꖴ “Perceber que‚‘simples ações’ como o brincar com uma corda em uma pracinha com crianças pode se desdobrar em uma infinidade de outras relações e vinculações, sem a necessidade de grandes instrumentalizações para realizar uma ação de grande impacto”. ꖴ “Na verdade aprendemos muito com as crianças, pois são espontâneas e objetivas e suas opiniões nos incentivaram muito na visão de cuidar e lutar por lugares/causas que estão esquecidos”. ꖴ “Ter me aproximado da infância que por lá (Calabar) vive, gerou-me uma amplitude do entendimento das relações ali firmadas com estes sujeitos, que muitas vezes se apresentavam como verda-

deiros ‘adultos em miniatura’ dado a situações que eram expostos, e incentivar o lúdico e o brincar foi muito valioso na defesa de que estas crianças possam viver e serem respeitadas enquanto criança”. ꖴ “Um projeto de grande impacto na minha vida. Primeiro por fortalecer a minha percepção sobre a importância da presença e vínculo amoroso na relação com as crianças como instrumento de grande potencial transformador”. ꖴ “A permanência do adulto referência disponível para a criança através da ocupação da praça do bairro foi uma das coisas mais belas e impactantes do projeto”. ꖴ “O ‘estar junto’ alimentou os processos de criação, e o sentimento de pertencer a um grupo foi incrível”. ꖴ “A escuta das crianças pelos adultos é ainda um grande desafio, e precisa ser provocado, não é natural”.


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C R I A N Ç A S “A criança tem voz para ‘correr atrás’ de seus direitos” ꖴ “Conseguir fazer os pais entenderem que não pode bater em criança; ter ajuda da comunidade para ajudar a cuidar da praça”. ꖴ “As pessoas batem em você porque isso vem de geração em geração... tava vendo isso com minha cachorra, minha mãe me bate e eu quero descontar em cima de minha cachorra, mas isso não tá certo!” ꖴ “Se nossas mães nos ensinam batendo, como é que a gente vai ensinar nossos filhos, se é a mãe que ensina a educação pra gente, quando não é a fase da professora.” ꖴ “Por exemplo, se minha mãe me bater, e eu, mesmo chorando fique falando sobre a lei Menino Bernardo, e eu ficar falando pra ela todo dia, todo dia, aí ela vai acreditar. ꖴ “A gente conhece mais sobre nossos direitos; a praça ficou pintada e a gente brinca mais lá”.


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D. Soluções Ao longo do processo, algumas estratégias foram utilizadas para conseguirmos alcançar nossos objetivos e superar os desafios. O grupo de crianças de Pedra de Guaratiba, resume as estratégias iniciais para a incidência política:

Muitas outras estratégias e ações foram postas em prática, o conjunto delas é que possibilitou os resultados que obtivemos. A seguir, algumas das soluções que adotamos no Rio de Janeiro e em Salvador:

“Falamos com o subsecretário de meio ambiente do Rio de Janeiro (marcamos uma reunião), fomos na pré-conferência de meio ambiente da zona Oeste falar das propostas da nossa comunidade e também no II Seminário Criança e Participação na Cidade.Também começamos umas conversas com moradores para falar o que é a APA das Brisas”. (Núcleo Mobilizador de Pedra de Guaratiba).

Parceria com a oficina de coral (Neojibá/Berimbanda) para ensaio da música da Lei Menino Bernardo;

Garantia de presença masculina no cuidado e na educação pela inserção de educador, reduzindo alguns desafios relativos a questões de gênero e violência;

Já em Salvador, quem sintetiza as soluções que o Grupo de Crianças lançou mão para enfrentar seus desafios e dar o recado para a comunidade sobre direitos da criança é Luane, 10 anos.

Disponibilidade para o brincar e para a inclusão;

Investimento na resolução de conflitos, por meio do diálogo e da educação para a paz e com ternura;

Utilizar-se da psicologia social de Pichon Rivière para o trabalho grupal e de formação de multiplicadores;

Utilizar a metodologia da rede e da arvore trazida pela Fundação Xuxa Meneghel e Rede +Criança para potencializar a participação das crianças no Calabar;

“Fizemos pesquisa sobre o uso e cuidado com a praça; fizemos pesquisa no Calabar e no bairro do Santo Antônio sobre a Lei Menino Bernardo; criamos uma peça de teatro para apresentar para a comunidade mas não conseguimos ensaiar para apresentar; criamos uma música que virou uma campanha na internet sobre a Lei Menino Bernardo; viajamos para o Rio de Janeiro para conhecer as crianças da Fundação Xuxa para contar sobre nosso projeto e conhecer o projeto deles”. (Luane, 10 anos)


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Construção de Mapas Afetivos com possibilidades de intervenções urbanas que garantam o direito pelo brincar pelas próprias crianças;

Articulação comunitária com outros movimentos e lideranças locais: (Biblioteca, capoeira, cooperativas, futebol);

Conhecimento e informação acerca da Lei que institui a APA da Brisas: visita a outras áreas de proteção, conversa com especialistas, visitas e vivências na APA das Brisas;

Participação na Conferência Municipal de Meio Ambiente;

Utilização de mecanismos e instrumentos de participação e controle social pelas próprias crianças (compartilhamento de informações, levantamento de dados; abaixo assinados, audiência pública e passeata são alguns exemplos);

Pedido de Audiência com o Secretário para apresentar propostas aprovadas na Conferência Municipal;

Intercâmbio Bahia-Rio para trocas de experiências, oficina de vídeo como advocacy.


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E. Próximos PAssos Os próximos passos foram pensados junto com as próprias crianças, elas propõem sequências, tanto dos temas a serem trabalhados, como do formato das ações. É interessante perceber que as propostas de um grupo de crianças inspiram a continuidade das ações do outro, entrelaçando ainda mais os pontos que os une em rede, dando mais força a seus movimentos: •

Dar continuidade ao brincar na praça;

Discutir outros temas interessantes como Trabalho Infantil e Educação;

Promover outros espaços e formatos de intercâmbio onde as crianças possam falar e conviver com diversas outras crianças;

Construção de maquete para acompanhamento da implementação das ações na APA das brisas;

Gravar uma versão carioca da Campanha Bata na Porta;

Compor e gravar o RAP contra os castigos físicos;

Produzir vídeo do projeto onde as próprias crianças organizem roteiro, contando essa experiência e mostrando a importância da

participação e o fortalecimento das ações via intercâmbio infantil; •

Agregar novas crianças ao projeto, realizar a pedagogia do encontro e do desejo como novas possibilidades de trabalho. Fomentar novas parcerias na comunidade e fora dela. Termos acesso a mais materiais pedagógicos e possibilidades de mobilidade urbana com estas crianças, apresentando outros contextos e formas de se viver;

Apresentar a nossa música (Amor, Beijinhos e Carinhos - Lei Menino Bernardo) em outros lugares.


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2) INCIDÊNCIA POLÍTICA, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E ADVOCACY No plano da incidência política, o trabalho em redes e coletivos nacionais e internacionais na promoção e garantia de direitos foram o foco da atuação do Infâncias em Rede, em consonância com o ideal geral do projeto. O GT de participação infantil da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) e o GT de direitos da criança da World Forum Foundation foram as principais esferas de incidência.

A. Desafios Diferente do que foi apresentado na estratégia de Ação Direta, os desafios aqui serão apresentados em conjunto, pois muitos são os desafios em comum enfrentados por ambos os grupos de trabalho, seja no plano nacional, seja no internacional, conforme vê-se abaixo: •

Dificuldade de conciliação de agendas em articulações dispersas geograficamente;

Tempo dos integrantes;

Realizar ações coletivas;

Captar recursos;

Alinhar e alinhavar conceitos, princípios éticos, estratégicos e metodológicos acerca da participação infantil entre os integrantes;

Ampliar o conhecimento teórico, legal, metodológico e ético acerca desta temática;

Enfocar na participação de crianças especificamente da primeira infância;

Pautar a primeira infância e a participação infantil em espaços de direitos humanos;

Garantir o direito à participação infantil na agenda política, na escola, em casa e na comunidade;

Fomentar o reconhecimento tanto da sociedade civil como do poder público acerca da participação infantil como um direito a ser garantido;

Além dos desafios comuns a ambos os GT, também houve desafios bem específicos do contexto nacional: •

Promover ações inter GT (Brincar, Proteção contra violências);

Contribuir para a elaboração de metodologia de participação de crianças na X Conferência de Direitos da Criança e do Adolescente;

Engajar-se na agenda nacional de direitos DCA;


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collaborations in understanding and documenting the meaning of children’s rights through dialogue and video para o livro: “Collaborative Cross Cultural Research Methodologies in Diverse Early Care and Education Context”;

Garantir a presença de crianças na X Conferência de Direitos da Criança e do Adolescente.

B. resultados alcançados •

Mapeamento sobre projetos de 1ª Infância com Participação Infantil;

Gravação do vídeo Voices of Children em Salvador;

Carta sobre Direito à Participação Infantil;

Articulação com Conanda;

Participação qualificada das crianças na X Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente;

Organização de um toolkit para a participação infantil que serve de base para incentivar a adesão ao vídeo-documentário: oficina sobre os direitos da criança com ênfase na participação e oficina para educadores - usando vídeo-mobile como estratégia de advocacy;

Agenda Compartilhada entre os membros do GT permitindo maior fluência no diálogo e facilitando a incidência do GT;

Captação de recursos para o capítulo seguinte do documentário a ser realizado na Índia e Singapura.

Realização de Seminário Internacional acerca da Participação Infantil com a presença de Natalia Fernandes (Universidade do Minho) e Juliana Prates Universidade Federal da Bahia;

Entrada de novos integrantes tanto no GT da RNPI como no GT do World Forum;

Capítulo: Voices of children: Cross-cultural

c. lições aprendidas As lições aprendidas foram muitas, a maior talvez seja a de garantir que é possível sensibilizar e mobilizar stakeholders para que se garanta a participação infantil. Outras lições aprendidas


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do interesse em compreender a participação das crianças na Conferência realizado pelo Conselho e propondo uma conversa para atuação parceira;

listadas logo abaixo: •

O uso de tecnologias como facilitador do processo de participação infantil;

A importaria de uma postura acolhedora e de uma escuta atenta;

Escuta para Planos Municipais da Primeira Infância (PMPI);

A dificuldade de lidar com os silêncios durante as conversas com as crianças;

Escuta e Participação em Conselhos de Direitos das Crianças e Adolescentes;

Respeitar os tempos da infância;

Carta do GT de participação infantil da RNPI apresentando formalmente à presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), demonstrando interesse em compreender a participação das crianças na Conferência realizado pelo Conselho e propondo uma conversa para atuação parceira;

Escuta para Planos Municipais da Primeira Infância (PMPI);

Escuta e Participação em Conselhos de Direitos das Crianças e Adolescentes;

Compartilhamento de referencias teóricas;

Encontros e diálogos para alinhamento e troca de experiências;

• Compreender as diversas linguagens da criança; • Garantir que não haja revitimização ou violação de direitos ao longo do processo de escuta; •

Alinhar os pressupostos teóricos, metodológicos e éticos dos diversos integrantes dos GT.

d. soluções •

Carta do GT de participação infantil da RNPI apresentando formalmente à presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), demonstran-


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Sistematização de experiências;

Desenvolvimento de ações em conjunto (escrita de artigos e cartas; realização de seminários e eventos e outros mais).

E. próximos passos •

Sistematização de metodologias - caderno do GT de participação infantil da RNPI;

Acampamento de crianças transformadoras;

Um encontro do GT de participação infantil da RNPI - Troca de experiências;

Revisão das estratégias de participação infantil para a elaboração dos Planos Municipais de Primeira Infância;

Realização das oficinas de participação infantil na X Conferência de Direitos da Criança e do Adolescente, que foi prorrogada para Abril de 2016;

Gravação do Capítulo Índia e Cingapura (previstos para fevereiro 2016), para o documentário Voice of Children;

Captação de recurso para o capítulo Amé-

ricas e África, para o documentário Voice of Children; •

Finalização do Documentário para apresentação no Word Forum 2017 - Auckland.


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