Revista Jukebox

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edição 01| ano 14| 2014

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Foo Fighters

Paul McCartney

Vida de surpresas



Editorial Bem-vindo! Para você, que é da nova geração e está se perguntando de onde saiu o nome dessa revista que você tem em mãos, um jukebox nada mais é do que aparelhos que ficavam em bares e restaurantes, com uma infinidade de músicas prontas para serem tocadas, assim que alguém colocasse moedas ou fichas neles. Com isso esclarecido, esperamos que você tenha várias moedas em mãos porque a partir de agora, todos os meses você sempre terá muita música disponível na Revista Jukebox! Quem gosta de um bom som sempre procura saber mais sobre ele e nós estamos aqui para isso, como uma nova opção nesse segmento, uma publicação única, totalmente focada em música, feita para ensinar, informar e divertir. E não tem melhor momento para chegarmos do que agora: o U2 virou a indústria de ponta cabeça lançando seu álbum de graça no iTunes de todo mundo sem qualquer aviso, Rock in Rio e Lollapalooza preparam suas edições do ano que vem, Foo Fighters também lançou CD novo e com ele, uma minissérie que é uma aula de música americana e como se não bastasse, Paul McCartney está voltando ao Brasil pelo quarto ano consecutivo (quinta vez no total). Se você não acha isso suficiente, ainda viajamos no tempo (para a época dos jukeboxes, claro) e relembramos a história do funk (o primeiro, único e original) e a carreira do lendário Bruce Springsteen, apresentamos novas e promissoras bandas e falamos até de música clássica! Rock, pop, funk, soul, country, festivais... tem lugar para todo mundo, portanto, aproveite essa edição de estreia porque já estamos começando com tudo, cheios de grandes ideias. Boa leitura! 4|JUKEBOX

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Viagem no tempo

23 Intimidade 29 Comportamento 41 U2 - Especial 55 Trilha Sonora

jornalismo alan arrivabene marcelo silva priscila miranda rebeca serpa sâmela priscila thalita azevedo diagramação thalita azevedo fotos divulgação gráfica facility print

67 Guia Musical 72 Aconteceu 5|JUKEBOX


love of music

VIAGEM

the official Bruce Springsteen

NO TEMPO


Paul McCartney, uma vida de surpresas

Por Rebeca Serpa

Ao ir a um show, todos esperamos ser surpreendidos de alguma forma, seja com canções diferentes, danças, ritmos e abordagens inovadoras ou simplesmente com a naturalidade arrebatadora do show. Com cantores de gerações passadas, a expectativa é ainda maior já que as bagagens culturais e musicais são infinitamente maiores. Em meio a isso tudo, o maior desafio de todos eles é permanecer com a sensação de realização a cada novo trabalho lançado. E é exatamente isso que acontece com Paul McCartney, que aos 72 anos de idade, voltou ao Brasil novamente. Não contente em ser marca registrada de uma única geração, Paul faz questão de se eternizar a cada novo sucesso. Com ele, não há um show sequer que não se torne um espetáculo afinal, além da voz marcante e incomparável, Paul toca cinco instrumentos (guitarra, baixo, piano, violão

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A estudante de engenharia civil Mariana Goulart, conta que já foi a dois shows de Paul em São Paulo e que “ele é um artista completo porque dança, toca e canta de formas especiais, que ficam na memória do público para sempre”. Ela ainda ressalta que suas maiores influências vêm do pai, que é vocalista de uma banda cover e sempre a incentivou a ouvir Beatles, “Minha paixão é antiga. Desde que me entendo por gente ouço Beatles. Era minha mãe que cantava pra eu dormir. Quando ela morreu, meu pai passou a cantar ‘Yesterday’ todas as noites e dizia que esta era a música dela. Sempre que a ouço, choro. Tenho certeza que no show não será diferente”, complementa Mariana, enquanto enxuga algumas lágrimas.

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Divulgação

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e acredite, ukelele – um instrumento havaiano que se assemelha ao banjo), é produtor musical e cinematográfico, e ainda encontra tempo para suas atividades particulares como o ativismo social, ambiental e animal (declarando e apoiando, inclusive, o vegetarianismo e o veganismo). Paul é a prova viva de que a jovialidade está na mente e não completamente no corpo. E ah, ele ainda divide o tempo entre o trabalho e sua filha caçula, Heather McCartney, de 8 anos. Ao lado de artistas como Bruce Springsteen e Mick Jagger, Paul mostra ao mundo que o segredo para se conquistar uma vida longa é amar o que se faz, valorizar a família, os amigos e jamais abrir mão do sonho. Em uma entrevista concedida à Rolling Stones em novembro de 2010, Paul foi incisivo ao afirmar que a música é o que o deixa feliz: “Conheci uma pessoa que explicou isso muito bem, ela disse: ‘Eu não conseguiria respirar sem a música’. Achei muito legal e respondi que entendia o que ela queria dizer. Acho isso muito verdadeiro e creio que muita gente sente isso".


Show em Goiânia, em 2012

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Até o universo conspira a favor de Paul. Em 2010, ele descreveu o show em São Paulo como o melhor de toda sua carreira solo. Em 2012, no Rio, foi a vez do público surpreender o astro com plaquinhas escritas “Na Na Na” levantadas em direção a ele no momento em que começou cantar “Hey Jude”. Em Goiânia, no ano passado, gafanhotos e grilos fizeram companhia a Paul, pousando em seus ombros e o ouvindo enquanto ele tocava “New” – as imagens entraram até para o clipe oficial da música. Paul conversou e deu até o nome Harold a um deles. Em novembro de 2014, Paul voltou ao Brasil com a turnê Out There e fez seu primeiro show no Espírito Santo. Logo em seguida, partiu para o Rio de Janeiro, onde fez um show no dia 12. O advogado carioca Danilo Souza, que é fã de carteirinha de Paul, afirmou que “não houve surpresas, mas ouvir ‘Let It Be’, ‘Queenie Eye’ e ‘Obladi Oblada’ ao vivo já foi o suficiente para arrancar lágrimas da maioria dos presentes ali”. Nos dias 25 e 26 foram as vezes de São Paulo receber o ex-beatle e curtir de perto toda essa magia; são esperadas, pelo menos, 80 mil pessoas nos dois dias. Paul garante que “toca para que a plateia consiga sentir que a banda está feliz por estar ali e que não é uma missão fácil”. Sir. Paul, keep calm, sua missão está sendo cumprida com sucesso.


CLÁSSICOS

DISCOGRAFIA NA JUKEBOX

Born to Run (1975)

À moda do Chefe Analisando a discografia do incansável Bruce Springsteen Sem som plugs

MARCELO SILVA

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Com mais de 40 anos de carreira (e 65 de idade), Bruce Springsteen (ou “O Chefe”, como é conhecido entre os fãs e colegas da sua lendária banda de apoio E Street Band - “The Boss” no original) já passou pela maior parte dos gêneros musicais conhecidos nos Estados Unidos: sua discografia tem momentos de rock, pop, folk, country, jazz, blues, soul e até mesmo gospel. Responsável pelo melhor show da atualidade segundo a Rolling Stone americana, o “Chefe” não é tão popular por aqui, consequência de mais de duas décadas sem visitar o Brasil, mas depois de passar como um rolo compressor pelo país em 2013, com um show descrito como “histórico” em São Paulo e uma apresentação carismática e vigorosa no Rock in Rio, todo mundo ficou curioso para conhecê-lo melhor. E se você ainda não fez isso, a Jukebox te ajuda e aponta tudo o que vale (e o que não vale tanto assim) ser ouvido quando o assunto é Bruce Springsteen. Confira:

Existe uma discussão interminável entre os fãs de Bruce Springsteen, sobre qual álbum é o melhor de sua carreira: esse ou Born in the USA. Sua primeira obra-prima, Born to Run é um álbum onde ele apostou tudo, numa cartada final para entrar nas paradas de sucesso. Felizmente, a aposta deu certo e ele se tornou um dos trabalhos mais emblemáticos do Chefe, mostrando o seu talento como compositor em faixas como “Thunder Road” e a inesquecível faixa-título. A divertida “Tenth Avenue Freeze-Out” virou um momento crucial nos shows dele. Antes do lançamento, a Newsweek tentou rotulá-lo como “o novo Dylan”. Born to Run mostrou que ele não estava ali para suceder ninguém, e sim para começar uma nova era.

Born in the USA (1984) Quase 10 anos após ganhar o devido reconhecimento, Springsteen reinventou seu som, deixando o folk de lado e abraçando o pop rock radiofônico, criando com isso uma nova obra-prima que hoje é quase uma coletânea de maiores sucessos por si só. A irresistível “Dancing in the Dark”, a nostálgica e divertida “Glory Days” e a bela “No Surrender” dão um pouco do tom do álbum, mas é claro, nenhuma ficou mais famosa do que a faixa-título, um dos hinos absolutos do rock nos anos 80, é um belo protesto lamentavelmente mal-interpretado no início (a crítica achou que a música exaltava os EUA), mas que tem poder até hoje graças aos vocais rasgados e trovejantes de Springsteen. Ele já era famoso na época em que esse álbum saiu, mas daí em diante, o Chefe virou um rockstar.

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the rising (2002) “Precisamos de você agora”. A frase, dita por um desconhecido a Bruce Springsteen alguns dias depois dos ataques de 11 de setembro nos EUA foi o que o levou a gravar seu primeiro álbum em sete anos. The Rising tem como base os ataques as Torres Gêmeas e ao invés de sucumbir à tristeza ou a raiva, o Chefe acende uma chama de esperança e mostra o caminho para um povo que ainda estava perdido. Há sim, momentos para o luto como na devastadora “My City of Ruins”, mas o destaque fica por conta da alegria de “Waitin’ on a Sunny Day” e da faixa-título, a mais poderosa de Springsteen desde “Born in the USA”, mostrando que mesmo nos nossos momentos mais sombrios, ainda existe algo que nos faça erguer a cabeça e seguir em frente. Um retorno mais do que triunfal do Chefe, mostrando mais uma vez porque ele tem esse título.

Indispensáveis greetings from asbury parj n.j. (1973) A estreia de Bruce Springsteen não foi muito notada pelo público, mas teve destaque na crítica, que elogiou as composições maduras e a poesia nas letras de todas as músicas do álbum, mostrando que isso foi um talento que o artista sempre possuiu. As melodias são mais simples do que nos trabalhos posteriores, canções como “Growin’ Up” e “Spirit in the Night” (obrigatória nos shows até hoje) mostravam que desde o início Springsteen já mostrava que tinha um estilo único, e um

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darkness on the edge of town (1978) Este álbum tinha a missão ingrata de suceder o espetacular Born to Run e felizmente, não fez feio (ainda que as críticas na época não tenham sido tão entusiasmadas). Utilizandose da regra milenar de que “em time que está ganhando não se mexe”, Springsteen mantém o mesmo estilo do trabalho anterior e entrega músicas empolgantes (como a canção que abre o disco, “Badlands”) e extremamente consistentes. A faixa-título é um clássico a parte.

nebraskaw (1982) Um dos principais nomes de uma das maiores gravadoras do mundo (a Columbia), Bruce Springsteen desafiou as possibilidades quando lançou este álbum, com músicas melancólicas que lidavam com personagens sombrios como assassinos (“Johnny 99”) e pessoas sem esperança de um futuro (“Atlantic City”). Mas expor seu lado menos feliz funcionou: o álbum é um dos trabalhos mais densos e surpreendentes do Chefe com músicas regravadas por incontáveis artistas como Johnny Cash, Bem Harper e Aimee Mann.

wrecking ball (2012)

potencial

gigantesco.

Reflexo da crise econômica que assombrava os EUA na época, Wrecking Ball traz momentos de fúria e protesto sobre a situação econômica do país e o governo americano, como podemos ouvir na poderosa marcha de “Death to My Hometown”. Claro, também há momentos de luz, como na fantástica “Land of Hope and Dreams”, cujo significado ambíguo (fala do “sonho americano”, mas também da partida deste mundo para um lugar melhor) serviu como uma bela despedida ao saxofonista da banda de Springsteen, Clarence Clemons, que faleceu em 2011 (esta foi a última música gravada por ele).

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Magic (2007)

High Hopes (2014) Para muitos artistas, lançar um álbum de covers, versões atualizadas de músicas antigas e outtakes (canções cortadas de trabalhos anteriores) é sinal de falta de criatividade. Para Springsteen, no entanto, isso é compartilhar o ouro que estava escondido até então. Há recriações inacreditáveis de canções esquecidas pelos fãs como “The Ghost of Tom Joad” (que conta com a participação de Tom Morello, guitarrista do Rage Against the Machine) e a comovente “American Skin (41 Shots)” (sobre um jovem imigrante assassinado pela polícia americana), além de divertidos covers como a faixa-título e “Just Like Fire Would”. Não é nada exatamente novo, não que isso seja necessário, quando se tem tanta coisa boa de outros tempos para mostrar.

Subestimados The Ghost of Tom Joad (1995) Os anos 90 foram complicados para Bruce Springsteen. O próprio músico diz que sente que “não trabalhou” nesse período. Sem a E Street Band, seus álbuns tiveram outra abordagem e a popularidade caiu drasticamente. No entanto, esse é o melhor trabalho dessa época, ainda que seja ignorado pelos fãs por fazer parte dela. Quase todo acústico, com belas composições e um ar contemplativo, tem pérolas como “The New Timer” e a faixa-título (que vale ser ouvida na sua versão original, apesar da explosiva reinvenção com Tom Morello em 2014). Merece uma chance.

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Quase ignorado nas rádios, o que impediu que qualquer música dele se sobressaísse, Magic retoma de vez a parceria entre o Chefe e sua lendária banda de apoio. Ironicamente, o álbum inteiro é um pop rock feito sob medida para tocar na rádio. “Radio Nowhere” (a mais reconhecida do disco, com dois Grammys), “Livin’ in the Future” e “Your Own Worst Enemy” são os destaques deste trabalho divertido de ouvir e sem qualquer compromisso.

Working on a Dream (2009) Pouco lembrado pelos fãs e menos reconhecido pela crítica do que merece, Working on a Dream é quase como a “segunda parte” de Magic. Trazendo os mesmos temas, mas musicalmente mais bem trabalhado, ele possui momentos brilhantes como a épica “Outlaw Pete” (uma história de faroeste sobre um fora-da-lei contada em oito minutos), a edificante faixa-título e a divertida “My Lucky Day”. Mas nada supera “The Wrestler”, uma das mais fortes e comoventes canções de Springsteen, criada para o filme de mesmo nome (e imperdoavelmente esnobada no Oscar). Não é tão grande nem tão relevante quanto seus melhores trabalhos, mas sem dúvida vale ser ouvido.

O PONTO FRACO Human Touch (1992) Bruce Springsteen ficou um tanto perdido na sua primeira experiência sem a E Street Band. Sozinho, tentou fazer músicas felizes e manter o espirito de seus melhores álbuns, mas o resultado foi um pop genérico e um trabalho menor e lamentavelmente esquecível. Foi o início de uma fase turbulenta na carreira do músico (a única, deve-se dizer), que tanto ele quanto os fãs fizeram muito bem em esquecer.

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Evolução dos gêneros musicais

impediu o ritmo de ganhar cada vez Nas jam sessions (uma espécie de improviso que os músicos faziam juntos ao final de seus shows), eles costumavam incentivar seus colegas a “apimentar” mais as músicas, dizendo: Now, put some stank (stink/funk) on it!” (algo como “coloque mais ‘funk’ nisso!”). A palavra funk se torna um adjetivo para a Muitos desconhecem que o pai do funk foi o pianista norte-americano Horace Silver, que uniu o jazz à soul music e começou a difundir a expressão “funk style” ou Funk Dance (nome utilizado para definir as danças de rua). Mas foi com James Brown que o estilo tornou-se popular e ganhou o mundo, nesta época, o funk ainda não tinha a sua principal característica: o swing.

HORACE SILVER

Funk no Brasil

Por Sâmela Priscila

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O ritmo Funk surgiu nos anos 60, com uma mistura feita por musicos afro-americanos entre os estilos jazz, soul e rhythm and blues, criando uma nova onda de musica dançante e ritimada. O surgimento do funk tira os olofortes dos ritmos ja existente com suas melodias e harmonias trazendo uma pegada groove (quando os sons encaixam ou combinam de forma satisfatória) com baixo e bateria ao fundo. O funk também tem suas raízes nos Spirituals, nas canções de trabalho, nos gritos de louvor, no gospel e no blues. O gospel, o blues e suas variantes tendem a fundir-se, o funk se torna assim uma mistura de elementos diversos do soul, do jazz e do R&B. Os musicos negros norte americanos falavam do funk como uma música mais lenta, frases repetitivas, contudo foi assumindo uma pegada mais sensual. Quando surgiu foi considerado indecente, pois a palavra funk tráz conotações sexuais, porém isso nao

Na década de 70 surgiram os primeiros bailes no Rio de Janeiro, onde foram lançadas músicas em português. Cantores como Tim Maia, Carlos Dafé e Tony Tornado começaram a tocar os sucessos do soul, fundando o movimento Black O surgimento desse ritmo no Brasil esta ligado, como muitos outros, aos Estados Unidos. Gerson King Combo foi um dos cantores que trouxe o ritmo ao país, lançando seu disco: Gerson Brazilian Soul com a batida importada, onde sucessos brasileiros também estavam presentes. Com o tempo, os DJs foram buscando outros ritmos de música negra, isso fez o funk perder sua essência original, mas o nome permaneceu o mesmo. O funk carioca é um estilo musical vindo das favelas do estado do Rio de Janeiro A pricípio elas retratavam o cotidiano dos frequentadores, retratando a violênca, a dura realidade das favelas, drogas, armas e os comandos. Mas artistas como Claudinho e Buchexa trouxerm uma nova dinâmica

CARLOS DAFÉ

TONY TORNADO

TIM MAIA

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para o ritmo no Brasil, com canções mais lentas e sensuais. O funk paulista mais conhecido como funk ostentação, foi criado em 2008 como uma vertente do funk carioca e da baixada Santista. Os temas destas cançoes referemse a bens materiais, mulheres, carros, a saida da favela em busca de uma vida melhor, e a propriamente dita ostentação. Assim como o samba em seu inicio, o ritmo tem sofrido preconceito, mas vem crescendo e se firmando como um ritmo forte. Por muito tempo foi considerado como “o ritmo da peliferia”, mas esse paradigma foi quebrado, e jovens de todas as clases curtem e gostam da batida do funk.melhores. Cantores como Tim Maia, Carlos Dafé e Tony Tornado começaram a tocar os sucessos do soul, fundando o movimento Black Rio. Com o surgimento dos bailes foram lançadas músicas em português. A

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pricípio elas retratavam o cotidiano dos frequentadores, abordando a violênca, a dura realidade das favelas, drogas, armas e os comondos. Mas artistas como Claudinho e Buchexa trouxerm uma nova dinâmica para o ritmo no Brasil, com canções mais lentas e sensuais. O funk paulista mais conhecido como funk ostentação, foi criado em 2008 como uma vertente do funk carioca e da baixada Santista. Os temas destas cançoes referemse a bens materias, mulheres,carros, a saida da favela em busca de uma vida melhor, e a propriamente dita ostentação. Assim como o samba em seu inicio, o funk tem sofrido preconceito, mas vem crescendo e se firmando como um ritmo forte. Por muito tempo foi considerado como“o ritmo da peliferia”, mas esse paradigma foi quebrado,e jovens de todas as clases curtem e gostam da batida do funk.


Por Thalita Azevedo Daniel na bateria, vocal com Diana, Cabeça no baixo e Rodrigo é o guitarrista da banda No Way. Fundada em 2004, os quatro amigos fazem barulho no cenário heavy metal. Com dez anos de estrada, a No Way já tocou no Festival Solidário, conhecido como “Osasco Rock Fest”, e também já dividiram o palco com as veteranas Krisiun, Matanza, Velhas Virgens, Nervosa e Ratos do Porão. No Way participou da seleção de bandas para abrir shows do Festival “Monsters Of Rock” e ficou entre os cinco finalistas. O evento, criado em 1980, na Inglaterra, já contou apresentações das 23| JUKEBOX

bandas Aerosmith, Korn, Buckcherry e Whitesnake. O festival, entre os preferidos do fãs de rock pesado, já teve quatro edições no Brasil entre 1994 e 1998, com atrações como Black Sabbath, Slayer, Kiss e Ozzy Osbourne. Em 2013, a banda iniciou o processo de produção do primeiro álbum Rise Of Insanity, no Acustica Studios em São Caetano do Sul. O membro fundador e baterista Daniel Biachi conta como começou a banda, de onde surgiu a escolha do nome da banda e quais serão os próximos shows. Como surgiu o nome No Way? O nome “No Way” surgiu inspirado

no trecho de uma música da banda Californiada “Gone Jackals”, que tinha influências do rock de garagem, blues rock, heavy metal e rock psidélico. Vocês se inspiram em algum artista? Temos algumas bandas que são nossas maiores influências musicais como Testament, Pantera, Black Label Society, Metallica. Essas bandas têm o tipo de som que nós gostamos e nos identificamos, então são nossas maiores inspirações. Como vocês fazem para conciliar a carreira profissional com a música? Ultimamente está sendo bem difícil conciliar as duas coisas, uma vez

que estamos tentando transformar a música em nossa profissão. (risos) É bem complicado. Nós nos dedicamos muito a isso, praticamente todo nosso tempo está focado na banda. Ensaios, reuniões, shows e problemas... É bastante trabalho! Como foi a produção? A produção foi muito, muito, muito trabalhosa. (risos) É bem complicado. Nós nos dedicamos muitos a isso, então praticamente todo nosso tempo está focado na banda. Ensaios, reuniões, shows e problemas. 24| JUKEBOX


Conte algum momento da carreira que marcou vocês. Nesses 10 anos de estrada tivemos vários momentos marcantes, mas há dois que se destacam: o primeiro foi a nossa participação na seletiva do “Monsters Of Rock” de 2013. Ficamos entre os cinco finalistas de mais de 1.000 bandas. Infelizmente não fomos os vencedores, mas foi uma experiência muito bacana. O segundo foi nossa participação no “Osasco Rock Fest”, também em 2013. Esse foi o maior evento de rock que já aconteceu em Osasco. Uma estrutura monstruosa, público de mais de 15 mil pessoas... Foi

um evento que, sem dúvidas, nos abriu muitas portas. Tem alguma música que marcou o grupo? Nosso 1º single (e uma das primeiras composições da banda) Leading Way To Suicide fala sobre um tema bem complexo. Essa música foi baseada numa história bem próxima da gente, onde um conhecido nosso acabou cometendo suicídio. Esse fato, que chamou bastante a nossa atenção, juntamente com várias pesquisas de artigos de psicologia sobre o tema inspirando essa composição.

DANIEL Técnico em Artes Gráficas e tecnólogo em Logística Industrial, começou a tocar com 12 anos. Ouvindo rock desde cedo, entrou em sua primeira banda em 2002, onde conheceu o guitarrista Danilo Boccato, co-fundador do No Way.

DIANA

Programadora e bacharel em Ciência da Computação. Começou gostar de música muito nova, além de ter sido influenciada principalmente pelo pai que é baixista e costumava tocar aos fins de semana. Gosta de cantar de tudo, de Adele à Pantera.

CABEÇA

Cursando a faculdade de Música, começou a tocar contrabaixo aos 16 anos, tendo como influência bandas de funk rock. Após alguns anos de estudo descobriu o heavy metal, mas sem deixar de lado suas origens.

RODRIGO

Bacharel em Direito, teve como professor de guitarra o ex-integrante e co-fundador da banda, Danilo Boccato. Tendo como principal influência o heavy metal, se inspira em guitarristas como Alex Skolnick (Testament) e Dimebag Darrell (Pantera).

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COMPORTAMENTO Uma grande jukebox chamada São Paulo

Por Thalita Azevedo Nada como ouvir uma música na hora da atividade física ou enquanto encara o trânsito ou o transporte público lotado. Seja na grande São Paulo, interior ou litoral, a música é uma ótima companheira do dia a dia. Das letras apaixonadas do sertanejo, passando pelos estilos dançantes do pop e os acordes do rock, o estado é uma verdadeira jukebox, onde cabem todos os gêneros musicais em rádios FM de São Paulo, Campinas, São José dos Campos e Taubaté, além de Ubatuba e Caraguatatuba. O editor da plataforma YouPix, Renan Dissenha Fagundos, realizou uma pesquisa com o objetivo de descobrir qual é o estilo que mais agrada o público do estado de São Paulo. O rock chama a atenção de 96% da população. E mais, a região de Campinas aparece com a maior porcentagem. O administrador de empresas Henrique Souza, de Artur Nogueira, região de Campinas, comentou que embora seja interior, a região não tem muita influência do sertanejo como nas regiões de Pinhal e Piracicaba. “Claro que o sertanejo ainda é forte, mas como estamos perto de São Paulo, ainda conseguimos ter algumas vertentes diferentes de música, como a eletrônica”. O rock surgiu nos Estados Unidos nos anos de 1940 e 1950. É uma mistura de country, blues e gospel que se espalhou pelo mundo de forma rápida e ganhou várias vertentes e subgêneros ao longo dos anos, como britpop, grunge, punk, heavy metal, entre outros. A estudante de Campinas Erica Grecco, de 25 anos, 29| JUKEBOX

comentou que sempre ouvia muita música em casa com os seus pais. “Eu gosto de rock em geral, indie rock, folk, reggae, samba, MPB e jazz. São estilos que agradam meus ouvidos. Me identifico com as letras e são ritmos diversificados que permitem dançar”. Calvin Harris, Coldplay, The Black Keys, Capital Inicial, Detonautas e The Offspring são os hits que ficam entre as mais tocadas no litoral. Com um som mais suave, o gênero musical pop rock se destaca no mercado jovem. A caiçara Luanna Lima brincou que ouve música 24 horas por dia. “Adoro praticar esportes, trabalhar e estudar com o fone de ouvido. Acredito que o som faz o dia ficar melhor, além de ajudar pensar”. O coordenador de programação da rádio Beira Mar, de Ubatuba, Fred Fortunado disse que as músicas são escolhidas dentro do perfil da gravadora. “Desde bem antes da Beira Mar ser o que é hoje, o perfil da rádio sempre foi pop. Como na cidade temos muitos surfistas, existe a possibilidade de explorar vários ritmos. Não tocamos muitos sons populares como pagode, samba e sertanejo”. Ele também esclareceu que a triagem é feita a partir das músicas tocadas nas principais rádios de São Paulo. Afinal, o estado de São Paulo é uma grande caixa com várias estilos musicais, uma grande jukebox.

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A (r)evolução do entretenimento Bandas independentes e artistas anônimos investem em novas plataformas digitais; YouTube e VEVO lideram o ranking de adesões Por Rebeca Serpa ​ á muito tempo, as maneiras de divulgação de trabalhos, campanhas H publicitárias e notícias vêm se modificando. As estratégias de marketing são utilizadas de formas minuciosas e detalhadas, a fim de que se tornem a cada passo mais atrativos e atinjam seu público-alvo. Engana-se quem imagina que para fazer sucesso, basta investir em produções caras e rebuscadas. A divulgação dos trabalhos é essencial para estabilizar o nome no mercado e alavancar carreiras. Sejam atores, cantores, maquiadores, estilistas, músicos ou até mesmo chefes de cozinha, todos trabalham incansavelmente e angariam meios de se fixar na mente do público. Na web, tudo é válido. ​No caso das bandas independentes (como são chamados os grupos que não contam com patrocínios) não é diferente. A grande sorte (se é que podemos chamar assim), é que o incentivo à cultura vem crescendo gradativamente e, com isso, o cenário musical vem se fortalecendo. Outro fator que valoriza e inspira novos talentos é a facilidade em participar de concursos, festivais e competições que podem, de uma forma ou outra, estampar seus nomes nas capas dos jornais e revistas do segmento. A imersão ao mundo das ferramentas virtuais também disponibiliza um leque 31| JUKEBOX

gigantesco de oportunidades. Uma delas é a facilidade de se adaptar às tecnologias que surgem a cada dia, visto que boa parte destes usuários é composta por jovens de 18 a 25 anos. Os mais velhos que se arriscam a fazer vlogs ou divulgação de suas marcas na web, das duas uma: ou são experientes no ramo e sabem os riscos que correm, ou estão experimentando novos caminhos e traçando outros desafios, como o aprendizado, por exemplo. O YouTube e o VEVO são dois destes grandes facilitadores. Plataformas gratuitas, os canais pertencem ao maior guia de busca da internet, o Google. De acordo com estudos levantados pelo próprio YouTube em parceria com a Nielsen, empresa especialista em consultoria digital, são mais de dois bilhões de acessos por mês e destes, 80% são de fora dos EUA, seu país de origem. O VEVO tem o mesmo intuito do YouTube, mas se diferencia pelo fato de ser destinado a artistas que já possuem um número específico de visualizações e inscrições. O YouTube, por sua vez, é destinado à massa. Qualquer pessoa pode produzir conteúdos e disponibilizar para visualização de todos. Porém, como em quase todas as plataformas e grandes redes sociais, para o seu canal ou perfil ser destaque em outros vídeos, é necessário desembolsar alguns reais. Nenhum valor exorbitante se comparado com o retorno que terá. Alguns cantores passam a viver do sonho da música por causa do YouTube, que doa US$100 para o dono do canal a cada 1000 visualizações do seu vídeo. Segundo o publicitário Moacir Domingues, “o público é muito imprevisível e nem sempre dá preferência para vídeos produzidos por profissionais. Isso acaba gerando uma curiosidade pelo inusitado, como por exemplo o 'segura o forninho, Giovanna' ou o sucesso do momento 'taca-lhe pau, Marco', que se tornaram virais com quase 1 milhão de acessos”. ​Outro desafio encontrado no YouTube é a questão dos anúncios que antecipam os vídeos. O público tende a não esperar o fim da proaganda e, muitas vezes, acaba optando por outros conteúdos. Tudo isso para fugir das publicidades 'nongratas'. Para o compositor e cantor mato-grossense Fábio Adames, de 24 anos e vocalista da Banda Rozeta, o YouTube é uma ferramentademocrática e que permite produções e ações que as emissoras comuns não permitem. “Para nós, ter quase 40 mil visualizações no vídeo de uma de nossas músicas significou a concretização de um sonho antigo. Aqueles números provaram que podemos chegar onde queremos e que o caminho, finalmente, foi traçado de forma correta”, afirma o cantor. A banda de Fábio já conta com quase mil inscritos no canal e a música 'Minha Voz', lançada em agosto, já possui 39.500 visualizações, o que, segundo ele, é um grande feito já que a Rozeta é uma banda da capital do Mato Grosso do Sul mas nunca fez shows fora do Estado. ​O YouTube e o VEVO têm parceria com redes sociais como Twitter, Instagram 32| JUKEBOX


e claro, Facebook, o rei da web. Por falar nele, o Facebook registrou tráfego de aproximadamente 30 milhões de acessos por dia; o Instagram conta com 200 milhões de usuários e o Twitter, mesmo com queda na adesão de novos usuários segundo relatório divulgado pela própria empresa, não se abateu afinal, já conta também com 200 milhões de usuários ativos por mês. ​Reza a lenda que se você tiver cinco amigos e cada um deles mais cinco amigos, em sete anos você poderá chegar ao presidente dos Estados Unidos. Bom ou não, bem ou mal, sabemos e percebemos que as plataformas digitais têm transformado a vida de todos nós em um verdadeiro reality show. Hoje, mais do que nunca, é fácil fazer sucesso, desde que se tenha uma mistura entre trabalho, disposição e claro, um pouquinho de dinheiro. Porém, o segredo é nunca desistir e se aprimorar cada vez mais, como aconselham Fábio e Moacir.

Um estilo de vida diferente daquilo que você esperava

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Por Alan Arrivabene Gravações dos novos capítulos da novela, decorar as falas da próxima peça teatral que terá a estreia no Rio de Janeiro, ter que viajar para o outro lado do país para ajustar alguns detalhes contratuais do seu próximo projeto. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Geralmente é assim que pensamos que é a vida de um artista famoso. Mas eles também são seres humanos e precisam descansar. Na maioria das vezes, eles preferem ficar em casa com sua família, aproveitando o tempo restante fora do sets de gravação. Outros preferem praticar esportes ou alguma atividade física. São diversas as alternativas usadas pelos famosos. Porém, como somos uma revista especializada em musica, mostraremos alguns artistas que usam o seu tempo disponível para enriquecer nossos ouvidos com timbres e notas musicais:

o r e N e r d Alexan

Vídeo Taca le Pau, Marcos possuí 1.174,259 visiualizações! É sucesso no youtube

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COMPORTAMENTO

Hoje, mais conhecido como Jose Alfredo de Medeiros, o Comendador de Imperio, personagem da novela da Rede Globo, Nero além de ator, também é musico, cantor, compositor, arranjador e sonoplasta. Como músico, gravou diversos trabalhos, alguns CDs e um DVD. Uma curiosidade de grande relevância sobre Nero seria que durante a sua estadia em Curitiba, foi idealizador e criador da associação de compositores da cidade. 34| JUKEBOX


Daniel Boaventura

Diferentemente dos demais atores nacionais, Boaventura é conhecido tanto pelo seu trabalho em novelas, quanto pela parte musical – ele já tem no currículo CDs e um DVD ao vivo gravado em São Paulo. Boaventura é um dos poucos artistas que têm o seu trabalho musical reconhecido, tanto que as suas participações em peças teatrais são em musicais, como “Chicago”, em 2004 e a “Familia Addams”, em 2012. Todos com uma grande procura pelo publico e ótimas criticas.

Steven Seagal Ator mundialmente famoso pelos seus filmes nos quais exibe toda a sua experiência em diversos estilos de artes marciais, Seagal possui uma atividade fora dos estúdios de Hollywood: ele participa de uma banda, onde toca guitarra. Em alguns de seus CDs houve até participações especiais, como a de Stevie Wonder. Outra curiosidade sobre Seagal é que ele é considerado uma das grandes referencias do blues norte-americano, além das ótimas criticas recebidas nos últimos álbuns lançados. Atualmente, Seagal está numa turnê nos Estados Unidos, conhecida como Steven Seagal Blues Music Tour 2014. 35| JUKEBOX

e c i r Cla o ã c l Fa

Filha do cineasta, João Falcão e da roteirista e escritora Adriana Falcão, iniciou a sua carreira fazendo curtas-metragens. Em 2007 estrelou o curta-metragem “Laços”, que ganhou o premio Project Direct, promovido pelo Youtube, para o curta mais visto daquele período. Além do seu trabalho como atriz, Clarice também possui uma carreira musical muito bem sucedida, com a gravação de dois álbuns: um que leva o seu nome e outro denominado Monomania. Além disso, ela trabalha na criação de algumas trilhas sonoras, como a musica “Para o diabo os conselhos de vocês” para o filme “Lisbela e o Prisioneiro”, lançado em 2003. Um fato muito curioso foi a sua indicação ao Grammy Latino de 2013, como artista revelação .

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o concurso brasileiro de música clássica A ascensão do gênero e as transformações de sonhos em verdadeiros espetáculos de vida A música sempre foi um dos movimentos culturais mais importantes no mundo. Ela, em sua essência, tem o poder de narrar histórias, embalar épocas e até o de transformar vidas. O fato é que se viu – e ouviu – tantas pessoas interessadas em disseminar a cultura musical e trazer à tona as características enraizadas nas letras, melodias, ritmos e acordes. A musicalidade do povo brasileiro tem sido colocada a mostra com mais evidência e por este motivo, a procura tem crescido ininterruptamente. Atualmente, o número de reality shows e concursos de música têm crescido com bastante frequência e a cada dia vêm fazendo mais sucesso. São jovens, velhos, crianças e até freiras participando ativamente de concursos 37| JUKEBOX

e disputas que revelam os talentos das novas gerações sob a influência da história musical, cultural, filosófica e antropológica do tema. Exemplo disso é o Prelúdio, um concurso de música clássica que revela jovens talentos e que vai ao ar todos os domingos a partir das 13h, pela TV Cultura. “A oportunidade de se apresentar com orquestra, no Brasil, é muito rara para um jovem talento. A chance, então, dessa apresentação ser gravada e transmitida em HD para todo o território nacional é excepcional. Mesmo o candidato "derrotado" sai do programa com, no mínimo, um belo portfólio digital, um documento de seu talento. Além disso, ao ser transmitido em TV aberta, Prelúdio é a porta de entrada de muita gente para o universo

da música clássica. Acho o programa apaixonante. Eu acharia lindo que esse tipo de iniciativa fosse emulado pelas outras emissoras. Infelizmente, a TV Cultura é a única emissora aberta que abre espaço para a música clássica”, explica Irineu Franco Perpétuo, um dos jurados do programa. A música erudita sempre teve a fama de ser apreciada apenas pela elite pelo fato de ser reproduzida somente em teatros e restaurantes de luxo nas cidades. Porém, esta realidade vem mudando. A simetria e o equilíbrio sonoro fogem do trivial desde seu significado. Nascida para representar as necessidades religiosas de um povo. Diferente da ópera, a música clássica é a evolução musical do século XIX, os cem anos de ouro, que revelaram grandes compositores como Handel, Bach, Haydn, Mozart e ele, Beethoven. De acordo com uma pesquisa feita pela NEA Report (National Environment Agency), uma instituição especializada em pesquisas culturais e ambientais dos EUA, em parceria com a BBC de Nova York, entre os anos de 2008 e 2012, o número de jovens interessados em músicas eruditas

cresceu consideravelmente, enquanto o número de adultos caiu de 9,3% para 8,8% [ver resultados abaixo]. O programa apresentado por Roberta Martinelli e pelo maestro Julio Medaglia, tem seu juri composto por grandes nomes do jornalismo especializado e técnico do gênero, como Irineu Franco Perpétuo, Gilberto Tinetti, Patrícia Endo e Luís Antônio Giron. “A cada dia os jovens têm se interessado pela música erudita em geral, não só a clássica mas também a barroca e romântica. Isso se deve à oportunidade que ees têm afinal, hoje é mais fácil estudar e também se adquire com mais facilidade o material de pesquisa”, conta o maestro e trompetista Higor Lopes, da Escola de Música do Estado de São Paulo. A música clássica inspira a vida. Alguns dizem que não se pode apenas escutar uma música; interessa que ela seja ouvida, degustada, apreciada. Outros, afirmam que as melodias servem única e exclusivamente para relaxar, acalmar e até ajudar nas decisões difícies a serem tomadas. A verdade é que a música, em seu mais puro significado, enreda a história e, sem ela, talvez o mundo fosse mais cinza.



O Milagre

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(da mĂşsica gratuita)


Por Marcelo Silva

O lançamento histórico do novo álbum do U2 mostra uma nova opção para os artistas e prova, mais do que nunca, que a indústria musical ainda não está pronta para o universo de possibilidades da internet 43| JUKEBOX

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no DNA da Apple, eis que ele anuncia: “O U2 vai tocar para vocês hoje”. A banda entra em cena, tocando uma música nova, à qual Bono anunciou como “The Miracle (of Joey Ramone)” ao final da apresentação. Uma agradável surpresa, mas nada tão explosivo a ponto de merecer o sagrado “Só mais uma coisa...”. Isso porque a bomba viria depois. Tim Cook cumprimentou a banda e disse como quem não quer nada: “Este não é o melhor single que vocês já ouviram? Queremos um álbum inteiro assim!” E, depois de um diálogo ensaiado e levemente constrangedor que só serviu para o público saber que o U2 tinha um álbum pronto chamado “Songs of Innocence”, Bono enfim solta a grande surpresa do evento: “Você consideraria colocar ‘Songs of Innocence’ de graça para 500 milhões de assinantes do iTunes, daqui a 5 segundos?”. Cook deu a afirmativa e, cinco segundos depois, o álbum que ninguém sequer esperava estava nos aparelhos de mais demeio bilhão de pessoas. No começo, foi algo tão absurdo que ninguém se deu conta da grandiosidade do acontecimento. Mas era verdade: o novo álbum do U2 estava no seu iPhone, isso não era ótimo? Para horror da Apple e de Bono, no entanto, as pessoas não ficaram exatamente felizes com essa “revolução”, acusando a empresa e a banda de “invadirem sua privacidade” e obrigarem a “ter algo que não pediram”. A internet, que não perdoa, transformou o lançamento em piada e as pessoas não pouparam críticas, de tal modo que a Apple precisou criar um aplicativo feito especialmente para apagar o álbum.

Músicas da relevância

O dia 9 de setembro de 2014 começou como qualquer outro. Para os fãs da Apple e de tecnologia em geral, sabia-se apenas que o tradicional evento da empresa para anunciar os iPhones da vez e as novidades do sistema iria acontecer pela manhã (nos EUA, à tarde no horário de Brasília). E tudo ocorreu exatamente como o planejado: o CEO da Apple, Tim Cook, anunciou dois novos iPhones e todas as funcionalidades, falou do nova versão do sistema operacional e ainda surpreendeu a todos ao oficializar o iWatch, o relógio moderno (e um pouco esquisito, convenhamos) da marca da maçã. O evento parecia chegar ao fim, mas Cook, utilizando-se da mais icônica frase de Steve Jobs quando estava prestes a anunciar algo revolucionário disse, timidamente: “Só tem mais uma coisa que eu gostaria de falar”. Após uma breve introdução falando do quanto a música é importante e está 45| JUKEBOX

Polêmicas à parte, o U2 colocou a indústria musical inteira para refletir. Outros lançamentos parecidos já haviam acontecido antes, como o Radiohead que disponibilizou o álbum “In Rainbows” para as pessoas pagarem o quanto achavam que valia, ou Kanye West, que lançou música a música de “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” a cada sexta-feira que antecedia o lançamento oficial do álbum, mas nenhum havia sido feito de forma tão grandiosa e alardeada como a de “Songs of Innocence”. Seria esse o futuro, com álbuns sendo disponibilizados gratuitamente antes do lançamento da mídia física? Ainda vale a pena investir no modelo tradicional? Mais do que qualquer outra coisa, isso reacendeu uma discussão que parecia resolvida há anos: como a música deve lidar com essa era digital? “Disponibilizar música gratuitamente é uma inovação que deve ser usada e pensada como algo bom, principalmente porque é uma ferramenta que divulga o trabalho do artista como nunca se viu. O U2 fornecer seu novo álbum gratuitamente para todos os usuários do iTunes é mais uma forma de disseminar o trabalho deles”, diz Diego Henri, fundador e vocalista da banda Whyever. 46| JUKEBOX


De fato, os irlandeses seguiram o exemplo de tantas outras bandas e viram na plataforma digital não uma ameaça, mas um apoio valioso. Junto com a Apple, o U2 escapou da frustração de ver seu álbum vazando por downloads ilegais quando colocaram SongsofInnocence à disposição de todos os usuários do iTunes e ter o mérito de ser considerada “uma das maiores bandas do mundo” aliado ao fato de ter que recuperar um pouco da relevância perdida nos anos entre um álbum e outro fazia essa ação parecer perfeita. Afinal, foram cinco anos sem nenhuma novidade (e três completamente distantes dos holofotes, mais exatamente desde o fim da turnê 360º) e terminar um novo álbum e simplesmente anunciar seu nome e uma data de lançamento como sempre é feito não parecia correto: estamos falando de uma banda que passou dois anos se apresentando num palco com 51 metros de altura (e não custa nada mencionar que ele tinha um design em 360 graus). Eles não se contentam com pouco. Por isso, a ideia de dar o álbum de graça para 500 milhões de pessoas parecia unir o útil ao agradável: iria surpreender os fãs, causar o impacto que eles queriam e o mais importante: traria o U2 de volta às rodas de conversa. De uma forma meio atrapalhada, os objetivos foram alcançados. O sucessor de No LineontheHorizon, de 2009, era um dos álbuns mais aguardados dos últimos anos e lançá-lo sem aviso prévio, minutos depois de avisar que ele está pronto, chocou os fãs. E colocando à prova a velha frase “falem bem ou mal, mas falem de mim”, não se falou em outro nome no mundo da música durante semanas. O impacto, entretanto, não foi de todo negativo. A ideia da banda de “forçar” sua música para o público fez com que ela ganhasse muitos admiradores, tanto pela ousadia na ação quanto pelo que ela tinha a oferecer. Bruno Ferreira, 21, é usuário do iTunes e só deu uma chance à banda depois que SongsofInnocenceapareceu em seu iPod: “Tentei apagar várias vezes e não consegui. Fiz então o download ‘obrigatório’ para ver se conseguia excluir, mas por curiosidade dei uma conferida nas músicas antes (...) se o U2 queria conquistar novos fãs ‘a força’, soube fazer isso muito bem. Eles conquistaram pessoas que muitas vezes por preconceito não haviam conhecido seus trabalhos anteriores”. De fato, 17 álbuns da banda apareceram no top 100 do iTunes nos dias seguintes ao lançamento-surpresa. A coletânea U218 Singles, por exemplo, chegou a ficar em segundo lugar na lista dos mais baixados aqui no Brasil. Muita gente quis saber mais sobre essa banda que teve a audácia de colocar um álbum inteiro nos aparelhos Apple de todo 47| JUKEBOX

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mundo. E isso não se limitou só ao iTunes: serviços de streaming como o Deezer e o Rdioviram as execuções das músicas do U2 aumentarem exponencialmente.

“Resistir é inútil” Mas se por um lado os irlandeses abraçaram o mundo digital e talvez até começaram uma nova era para a indústria musical, outros artistas ainda não estão tão confortáveis com tudo isso, mesmo depois da internet ter evoluído tanto no aspecto de distribuição de música. O serviço de streaming Spotify está sendo o protagonista de uma constrangedora história que tem relação direta com toda essa situação, já que recentemente a cantora Taylor Swift tirou todas as suas músicas da plataforma. Ela já havia mostrado sua insatisfação com esse tipo de serviço num artigo publicado no The Wall Street Journal em julho, onde dizia que música, como arte, é algo valioso e deve ser vendido e que “esses serviços haviam encolhido drasticamente os números de álbuns pagos”. Ironicamente, seu novo álbum, lançado no final de outubro, vendeu mais de 1 milhão de cópias em mídia física

na primeira semana, um número que não era alcançado desde 2002. “É um absurdo alguém como a Taylor Swift afirmar isso”, critica Diego Henri do Whyever. “A arte existe há muito mais tempo que essa visão capitalista de vendê-la. O músico de fato precisa ganhar dinheiro, mas dá para vender o seu trabalho de várias maneiras”. Isso se aplica à própria cantora americana, que faturou aproximadamente 40 milhões de dólares em 2013, numa soma de shows, clipes, royalties e claro, os discos em si. Após a polêmica, Swift disse em uma entrevista que tomou essa atitude porque o Spotify “não paga o suficiente aos artistas”, declaração rapidamente rebatida por Daniel Ek, CEO do serviço de streaming, que afirmou que já pagou 2 bilhões de dólares aos artistas que tem músicas na plataforma, sendo 6 milhões somente à cantora. Até o fechamento dessa edição, essa polêmica ainda não havia sido resolvida, mas apesar dela, para muita gente serviços como o Spotify, a distribuição gratuita de músicas ou até mesmo o download ilegal são ferramentas perfeitas para criar público para a banda. “A internet com certeza ajudou artistas como a própria Swift a ganhar público. Todas essas bandas e artistas novos usam a internet para criar público. Se não fosse a internet, talvez ela só conseguisse esse público enorme que tem depois de muitos anos de carreira”, afirma Henri. Ela não é o único caso, vale dizer. Nomes como ArcticMonkeys e Katy Perry viram seus primeiros álbuns explodirem em vendas depois de meses com algumas músicas disponibilizadas gratuitamente na internet. E o que dizer de Justin Bieber, que foi descoberto pelo empresário ScooterBraun só por alguns vídeos postados no Youtube em que ele cantava e tocava violão aos 15 anos? Esses são exemplos de quem começou no meio digital e depois cresceu para o mundo. Mas quando se pensa que uma banda como o U2, que já está plenamente estabelecida há muitos anos e que viu suas vendas aumentarem depois de darem um álbum de graça para o público, fica difícil negar o poder, alcance e relevância da internet para a música. Na prática, as vendas de SongsofInnocencetêm sido relativamente baixas, mas já não é algo que afete Bono e seus companheiros, que não só esperavam tal resultado, mas estão mais preocupados em fazer sua música ser ouvida e ganhar novos fãs.

Uma nova esperança 50| JUKEBOX


O líder do grupo anunciou alguns dias depois do lançamento gratuito do álbum, que eles ainda estavam trabalhando em outro projeto com a Apple, um novo formato para os arquivos de música que “será tão incrível que fará os consumidores voltarem a comprar música digital”. Não se sabe ainda do que se trata essa novidade, mas só por isso já dá para ver que apesar de toda essa história, o U2 não está com a intenção de passar o resto da vida distribuindo suas músicas à vontade para o público (na prática, Innocencesó foi gratuito para o consumidor final, já que a Apple pagou uma quantia alta pela ação). Independente do que será esse novo serviço, há quem veja a música gratuita pela internet como a única saída para os artistas no futuro. Para Henri, não terá outra opção a não ser essa. “Como qualquer outro negócio, o mercado musical precisa inovar. No caso do Whyever, estamos investindo em assessoria de imprensa para o segundo disco e ela investe muito na internet. Algumas trabalham só com revistas e internet, sequer correm atrás de televisão”. No caso do U2, a ação com SongsofInnocence, segundo o próprio Bono, foi um misto de “megalomania, com um toque de generosidade, um pouco de autopromoção e o temor profundo de que essas músicas as quais eles consagraram as vidas nos últimos anos não fossem ouvidas”. Na teoria, uma forma de mostrar como são uma banda independente que vivem apenas de música, na prática, uma medida levemente desesperada de continuar relevante para a indústria. Mas existe um grande potencial para que outros artistas acabem se espelhando na banda. Não no sentido de colocar um álbum de graça no aparelho dos outros sem permissão, mas em disponibilizar a própria música gratuitamente e focar seus esforços em shows e outras formas de ganhar dinheiro, limitando o CD ao que o vinil é hoje: um item para colecionadores e verdadeiros fãs e seguidores da banda. Foi um movimento iniciado timidamente pelo Radiohead, seguido por artistas como Kanye West, Jay-Z (que disponibilizou seu álbum para usuários Samsung) e Demi Lovato (que deixou seu álbum de graça no Google Play por uma semana) e agora ganhou o apoio histórico do U2. Porque independentemente de quais foram os resultados e de como isso pode moldar a indústria daqui pra frente, a atitude da banda irlandesa já é parte da história da música e provavelmente será lembrada no futuro. Nada mal para quem só queria ter sua música sendo ouvida. 51| JUKEBOX

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SONGS OF INNOCENCE

Polêmicas a parte, o U2 mais uma vez procura no passado uma forma de traçar seu futuro O engajamento político de Bono é uma das coisas que mais chama a atenção no U2 e o reflexo disso na sua música sempre rendeu boas canções: “SundayBloodySunday”, “Pride (In the Name of Love)”, “Walk On”, “Crumbs of Your Table”. No entanto, ninguém supera a banda quando ela resolve explorar um lado mais pessoal. E depois de um álbum recebido com certa indiferença por público e crítica em 2009 (compensado pela megalomaníaca - e impressionante - 360º Tour), eles resolveram deixar um pouco a política de lado para abraçar o próprio passado e as alegrias, tristezas e frustrações dele. Com isso, “Songs of Innocence” se consagra como o melhor trabalho do U2 desde “All That You Can’t Leave Behind”, de 2000 (que não por acaso, carregava as mesmas características). Cada música é cantada com força e uma dura sinceridade por Bono e fazia tempo que a banda não soava tão harmoniosa. Nas letras, o vocalista e líder do grupo relembra o momento em que se apaixonou pela música (“The Miracle (of Joey Ramone)”, viciante), se declara para a esposa (na bela “Song for Someone”) e emociona ao falar da mãe em “Iris (Hold Me Close)”. Musicalmente falando, trabalhar com quatro produtores fez muito bem para eles. Há uma variação entre o estilo mais tradicional do grupo e algumas curiosas experimentações. “Every Breaking Wave”, por exemplo, é a inconfundível balada “estilo U2” (uma das melhores canções do álbum, diga-se de passagem), enquanto a furiosa “Raised By Wolves” e a vibrante “Volcano” parecem, como bem exemplifica o titulo da segunda, prestes a explodirem, com o poderoso baixo de Adam Clayton e a guitarra de Edge ditando o caminho (candidatas fortes a serem favoritas de shows). Já os momentos finais do álbum guardam momentos peculiares, com Bono alcançando agudos que há muito não ouvíamos embalado por uma batida eletrônica em “Sleep Like a Baby Tonight” e a participação especial da sueca Lykke Ki em “The Troubles”, que fecha o trabalho de forma triunfante. Tanto quanto um álbum de redescoberta, “Songs of Innocence” é uma reverência ao rock. A já citada faixa de abertura relembra os Ramones, “California (Thereis No Endto Love)” é uma bela lembrança ao rock ensolarado dos Beach Boys e “This Is Where You Can Reach Me Now” homenageia The Clash. Para uma banda como o U2, que já se encaminha para os 40 anos de carreira, prestar homenagem aos ídolos e heróis da música na juventude, lembrar-se de amizades antigas e lugares da infância é algo admirável e que poucas bandas com o tempo de estrada e o status deles se dão ao luxo de fazer. Em “The Miracle (of Joey Ramone)”, Bono promete que “as vozes roubadas um dia irão voltar”... Depois de um trabalho tão bom, esperamos que a voz dele não demore cinco anos para ser ouvida novamente.


TRILHA

SONORA

Foo Fighters e uma odisseia na América Por Marcelo Silva Em 2012, o vocalista e líder do Foo Fighters, Dave Grohl deixou os fãs da banda desesperados quando deu a entender, durante um show em New York, que ela poderia acabar. Na verdade, como foi confirmado mais tarde, Grohl quis dizer que eles dariam um tempo, talvez de vários anos, para gravar novas músicas e sair em uma nova turnê. Ele já havia anunciado algo parecido em turnês anteriores e assim como nessas outras ocasiões, a banda acabou não parando por tanto tempo quanto se esperava. Logo no começo desse ano, o líder do Foo Fighters já anunciou que o novo álbum “seria diferente de tudo que já fizeram antes” e logo o público descobriu do que ele falava: Sonic Highways, o título do novo trabalho da banda, seria gravado em oito cidades diferentes dos EUA e, como se não bastasse, todo esse processo seria documentado e exibido em oito episódios (claro) pela HBO, levando o mesmo nome. 55| JUKEBOX

“Quando Dave disse aquilo no show, foi pensando que eles levariam muito mais tempo para criar material que valesse a pena investir, em várias entrevistas ele já havia demonstrado que pretendia reinventar o som e o processo de gravar do Foo Fighters, não queria simplesmente juntar a banda, gravar mais um álbum e sair em turnê, principalmente depois que o último álbum, Wasting Light, se tornou o maior sucesso da carreira deles”, diz Lucas Cardozo, membro do fã clube da banda em São Paulo. O trabalho mencionado, lançado em 2011, foi gravado inteiramente na garagem de Grohl, na intenção de criar as músicas mais cruas e furiosas possíveis e o resultado foi aclamação unânime de público e crítica e cinco Grammys na estante. E foi exatamente esse sucesso que fez a banda parar e analisar com calma qual seria o próximo passo: “A recepção que Wasting Light teve levou o Foo Fighters para o ápice que eles sempre estiveram próximos de

alcançar, mas nunca tinham conseguido até então. Era a oportunidade perfeita para tentarem algo maluco e fora do padrão, reinventarem seu som. A banda chegou num ponto da carreira que já tem crédito o suficiente para fazer algo assim sem perder espaço”,

complementa Cardozo. A ambiciosa ideia de gravar em estúdios diferentes e de filmar o processo se originou do documentário Sound City (sobre o histórico estúdio homônimo de Los Angeles, fechado em 2011), também dirigido por Grohl. 56| JUKEBOX


As histórias contadas por músicos e produtores sobre o lugar mostraram a força que boas memórias podem ter dentro da música e foi esse desafio que o líder do Foo Fighters impôs à banda: novos ambientes, novas histórias e novos sons, dando origem a novas músicas. O plano para Sonic Highways era ainda mais insano do que já parece: Grohl tinha a intenção de gravar em estúdios ao redor do mundo e não apenas dos EUA. Até São Paulo estava nos planos do vocalista, que acabou abandonando a ideia quando viu que o valor dessa “brincadeira” era absolutamente impraticável mesmo para uma banda como eles. Mas no fim das contas, ele chegou à conclusão de que se limitar apenas aos Estados Unidos acabaria sendo melhor ainda, pois daria a oportunidade deles conhecerem melhor as diferentes culturas e estilos do próprio país, fazendo um álbum tão rico quanto pretendiam. Claro que o Foo Fighters não pretendia mudar sua música com isso: “A ideia é deixar pequenos detalhes, como uma história, um lugar específico, até o mesmo o tempo na cidade, influenciar no resultado final. Muita gente esperava que eles fossem gravar uma música country em Nashville ou um jazz em New Orleans, mas essa não é a intenção porque isso não tem a ver com a banda”, explica Cardozo. Na coletiva de imprensa sobre a série, Grohl explicou que a música em si só surgia no último dia deles em cada cidade. Havia criações de riffs aqui e ali, mas era só depois do vocalista processar tudo o que viu e ouviu que surgia uma letra e eles iam gravar. Essa urgência também foi outro desafio que eles abraçaram e apesar da correria, o resultado final foi um álbum super produzido, reflexivo e mais denso do que qualquer outro trabalho que a banda já fez (ver crítica na pag. 59). Em entrevista concedida ao site CoCreate em outubro, o líder do Foo Fighters disse: “Quando eu ouço qualquer um dos nossos álbuns, eles soam como folhas de diário, parecem álbuns de fotos para mim. Eu me lembro de tudo como memórias”. Sonic Highways, a série, foi criada para tirar esse sentimento do âmbito particular e levar a todos os fãs. Convenhamos que no fim das contas, essa é uma atitude quase previsível, já que estamos falando de alguém que é conhecido como “o cara mais legal do rock”.

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JUKEBOK JÁ VIU...

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Foo Fighters: Sonic Highways une o útil ao agradável ao promover o álbum homônimo do Foo Fighters ao mesmo tempo em que dá uma aula sobre música americana O Foo Fighters tem uma carreira feita de acertos desde que surgiu em 1995 e se a ideia insana de Dave Grohl de gravar em oito cidades diferentes parecia até um pouco pretensiosa a principio, esse documentário dá sentido a ela e mostra que felizmente é mais um ponto a favor da banda. A série intercala a gravação das músicas para o novo álbum com depoimentos de artistas e produtores de cada cidade, desde nomes pouco conhecidos como Amy Pickering, vocalista de uma banda punk dos anos 80 chamada Fire Party (em Washington D.C.) até ícones da música como Buddy Guy (em Chicago), Dolly Parton e Willie Nelson (ambos em Nashville). Nenhuma história ou palavra contada pelos entrevistados é desperdiçada por Grohl, que como diretor, faz um ótimo trabalho ao mostrar de forma curiosa como um mesmo lugar possui estilos contrastantes (o punk dividia espaço com o blues em Chicago e com o “go-go”, um subgênero do funk, em Washington, por exemplo) e cumpre com maestria a intenção de fazer “uma carta de amor à música americana”. Há também espaço para mostrar o processo de criação da banda, o que rende momentos no mínimo cômicos, pelo ambiente familiar que eles criam em cada lugar. Na visita a Nashville, por exemplo, o choque de Dave Grohl quando percebe que estavam criando uma música country por influência do lugar e a sua indignação com isso, por estar fugindo do que a banda faz, ao invés de surgir como algo preocupante ou tenso, é engraçado, pela forma com que o vocalista lida com a situação. Ao final de cada episódio, vemos o resultado de toda essa viagem no tempo de cada cidade na forma da música gravada pela banda no local. E vemos coisas como uma frase de Buddy Guy, a história dos jovens de Washington não terem um estilo ou uma ideologia para se apoiar, a influência da igreja na música country e a tradição do jukebox nos bares de Nashville virando música nas mãos do Foo Fighters. Mais do que contar um pouco da história da cultura dessas cidades dos EUA, Sonic Highways abre as portas para a mente insana de Dave Grohl e sua forma de compor e ver o mundo. É desnecessário ser fã de Foo Fighters para gostar de Sonic Highways. Para quem gosta de boa música, mais do que recomendada, é uma série praticamente obrigatória.

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Ainda que tenha ótimas músicas, novo álbum é uma experiência incompleta Dave Grohl tinha a melhor das intenções quando teve a ideia de gravar o novo álbum do Foo Fighters em oito cidades diferentes. Era uma chance de reinventar o som da banda e trazer algo de novo depois de chegarem ao ápice com seu último trabalho, Wasting Light. A estratégia deu certo... Mas só para quem acompanhar a série que documenta todo o processo de gravação do disco e a visita dos integrantes em cada uma das cidades (ver matéria na página X). Para quem não sabe da existência dessa série ou mesmo da forma como esse trabalho foi gravado, Sonic Highways é, no máximo, um álbum do Foo Fighters que soa um pouco diferente dos outros, mas nada que denote uma reinvenção completa. A todo o momento, a sensação é de que há muito mais a mostrar e se isso por um lado é instigante e pode levar o ouvinte a buscar o que fez o Foo Fighters ficar diferente, por outro não deixa de ser um pouco frustrante. Apesar disso, para quem está acompanhando a série na HBO (ou para quem não se importa com nada disso que foi falado), Sonic Highways é um álbum consistente, interessante e, mais do que isso:surpreendentemente maduro. Maior prova disso é a introspectiva “Subterranean” (gravada em Seattle, onde a primeira banda de Dave Grohl, o Nirvana, começou). É a música mais difícil de ouvir do álbum e dificilmente vai agradar os fãs logo de cara. Mas no fim, acaba sendo um de seus melhores momentos, pois é nela que Grohl finalmente remexe nas memórias e nas dores causadas pela morte do amigo Kurt Cobain. Uma música com esse tema poderia ser cheia de raiva e frustração há alguns anos, mas “Subterranean” é reflexiva, como se testemunhássemos alguém enfrentando lembranças e mágoas há muito enterradas, mas nunca esquecidas. Há sim, um espaço para o Foo Fighters tradicional, como podemos ouvir na insana “The FeastandtheFamine” (e o fato de ser a única música a lembrar da banda de sempre é o da música ter sido gravada em Washington, onde eles começaram há 20 anos), mas o que reina mesmo é o inusitado: o acompanhamento de instrumentos de sopro na excelente “In theClear”, o conjunto de metais que ajuda a tornar “I Am a River” um final grandioso, o estilo quase country da fantástica “Congregation” ou uma introdução de baixo (algo nunca feito pela banda) em “Outside”. Mesmo assim, a banda consegue o mais difícil: a essência do Foo Fighters se mantém intacta a todo o momento, de forma que é impossível ouvir qualquer música e não reconhecê-los, por mais diferente que elas sejam de trabalhos anteriores. Mesmo que se apoie em outras mídias para ser totalmente compreendido, Sonic Highways mostra que, acima de tudo, o Foo Fighters quer ser levado a sério e tem planos de figurar entre os grandes nomes da história do rock no futuro. Claro que, sendo uma das maiores bandas da atualidade, fazer um álbum inteiro com essa intenção não era exatamente necessário... De qualquer maneira, os fãs agradecem.

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Quando a vida ĂŠ uma arte! Tim Maia finalmente ganha sua cinebiografia e se junta a outros grandes artistas que jĂĄ foram representados no cinema


Atrasos, não comparecimentos e chiliques com a própria equipe no meio de apresentações, problemas sérios com bebidas e drogas, uma vida desregrada... e uma das maiores (senão a maior) voz que o Brasil já teve em toda a sua história. Tim Maia conseguiu se tornar uma lenda para a música brasileira, com suas composições ofuscando todos os problemas que tinha. Sua vida já havia sido retratada com maestria na biografia Vale Tudo, de Nelson Motta e, esse ano, finalmente ganhou sua versão para os cinemas, dirigida por Mauro Lima e protagonizada por Robson Nunes (na juventude) e Babu Santana (nos anos de sucesso, já adulto). O filme é baseado no livro de Motta e apesar de tomar várias liberdades poéticas, conta de forma eficiente toda a trajetória de Tim Maia, de entregador de marmita no Rio a ícone da música nacional. Tanto no Brasil quanto em Hollywood, diversos artistas já tiveram suas vidas contadas na tela, alguns de formas mais competentes que outros. A Jukebox selecionou as cinco melhores cinebiografias do cinema para você conferir ou relembrar. Confira:

#5

#4 The Doors Um dos melhores filmes de Oliver Stone passou quase 20 anos em produção, mas no fim das contas terminou nas mãos certas. Lançado em 1991, ele desagradou um pouco os membros remanescentes da banda, por diversas liberdades tomadas por Stone na história real, mas essas adaptações foram compensadas pelo surpreendente trabalho de Val Kilmer no papel de Jim Morrison, de tal forma que as pessoas que conheceram o músico pessoalmente não conseguiam diferenciá-lo do ator. Não é exatamente um documento sobre The Doors, mas é ótimo como obra cinematográfica.

Ray Dreamgirls: Em Busca de um Sonho Apesar de não ser uma biografia oficial, Dreamgirls se baseia na história da carreira do grupo feminino americano The Supremes (formado por Diana Ross, Florence Ballard, Mary Wilson e Barbara Martin) e é uma competente adaptação de um dos mais famosos musicais da Broadway. Com uma das melhores performances da carreira de Eddie Murphy, boas músicas e muita carga dramática, pode pecar por alguns inevitáveis clichês, mas vale principalmente pela arrasadora atuação de Jennifer Hudson, que de candidata eliminada do reality show American Idol, virou vencedora do Oscar graças ao filme. 63| JUKEBOX

#3

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De todos os atores que já tiveram a enorme responsabilidade de interpretar grandes nomes da música, poucos conseguiram reproduzir com tanta eficiência o lado musical e ficaram tão parecidos fisicamente quanto Jamie Foxx como Ray Charles. Vencedor do Oscar (com muita justiça), Foxx foi além da interpretação e realmente personificou o lendário pianista de corpo e alma. É outro filme com drama intenso. Cenas como a criação de “Hit the Road Jack”, o maior sucesso de Charles, são destruidoras (ainda que termine fazendo qualquer um que conheça a música cantar junto).

#2

Amadeus

Vencedor de oito Oscar (inclusive Melhor Filme), esta é uma cinebiografia que traça um caminho diferente, tanto pelo gênero que aborda quanto pela forma como é conduzida. Amadeus conta a história de ninguém menos que Mozart, mas pelos olhos de AntonioSalieri, um homem que (diz a lenda, reforçada no cinema e no teatro) invejava seus feitos e se irritava pela forma como Mozart criava, mas se emocionava como ninguém com suas obras. Atuações inesquecíveis e uma narrativa hipnotizante fazem as três horas de duração do filme passarem rápido, nesta obra-prima de Milos Forman.

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Não Estou Lá O diretor Todd Haynes fez uma cinebiografia inovadora e um dos filmes mais criativos dos últimos anos, ao trazer seis personagens diferentes, cada um representando uma fase da vida de Bob Dylan. Entre eles, temos Jack Rollins e Pastor John,uma visão do artista na sua fase acústica e como cristão convertido (ambos interpretados por Christian Bale já que são momentos praticamente interligados da vida de Dylan) e Jude Quinn (interpretada brilhantemente por Cate Blanchett) fazendo uma artista que largou o violão e passou a usar guitarras, causando controvérsia entre seus fãs, uma referência a essa que foi a fase mais polêmica de Dylan. Um dos últimos filmes de HeathLedger, Não Estou Lá é um filme único e diferente de qualquer biografia já produzida no cinema. Nada mais apropriado para Bob Dylan.

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Um tour pelos festivais Mix de Lolla & RiR Por Priscila Miranda


Quem é que nunca ouviu falar sobre o Lollapalooza? Ou ainda, quem é que já não sofreu desesperadamente por não conseguir um ingresso para ir ao Rock in Rio? Para os“leigos”no assunto, tudo não passa de eventos tolos, sem importância e, para os mais dramáticos, um grande desperdício de tempo e dinheiro. Mas, para os entendedores, os frequentadores, os fanáticos, os lunáticos e os fãs de carteririnha... Trata-se de dois dos maiores festivais de música do mundo. E foi em Chicago no ano de 1991, durante a turnê de despedida da banda Jane's Addiction, que nascia o Lollapalooza. Originalmente criado pelo cantor Perry Farrell (integrante da Jane’s Addiction), o Lolla foi “concebido” em meio aos shows da banda e dos grupos convidados, com a ideia de misturar o natural com o urbano. Tanto é assim que, em Chicago, o evento acontece num parque enorme no meio da cidade. Com o tempo, o evento foi se expandindo e ganhando força em outros países, mas sempre conservando o mesmo princípio de festival alternativo que traz apenas três ou quatro atrações musicais famosas e renomadas para liderar o espetáculo. O diferencial é que o Lolla abre espaço para bandas e artistas quase desconhecidos, que na maioria das vezes ganham destaque e são projetados durante essas participações. Apesar de se tratar de dois grandes eventos do meio musical, ambos são distintos. Ao contrário do Lolla, o Rock in Rio tem como objetivo principal reunir grandes nomes da música e, por conta disso se sobressai no quesito lineup, justamente por trazer apenas artistas e grupos já consagrados. O RiR foi idealizado pelo empresário brasileiro Roberto Medina, em 1985, originalmente organizado no Rio de Janeiro, daí o nome “Rock in Rio”. Ao longo dos anos, o festival também passou a ter edições internacionais e atualmente tem repercussão mundial, mas manteve a nuance original – mesmo que isso cause alguma confusão, como o “Rock in Rio Lisboa”. É evidente que os dois festivais são radicalmente diferentes, porém a semelhança que se pode notar entre eles é o impacto que têm no mundo da música, tanto para os que a criam como para os que a apreciam.

Jukebox na Night

EU, TU, ELES - PAULISTA

(11) 3071-4535 Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2902

AK RESTAURANTE- VILA MADALENA (11) 3231-4496 R. Fradique Coutinho, 1240 70| JUKEBOX


ACONTECEU STONES MUSIC BAR - VILA PRUDENTE (11) 2211 1225 Avenida Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello, 2935

Paul McCartney encerrou sua turnê atual da mesma forma que começou: no Brasil. Foram cinco shows, sendo que nos três últimos (Brasília e dois em São Paulo), o ex-beatle travou um corajoso duelo contra a chuva. Nas três ocasiões, obviamente, saiu vitorioso Maré de azar para Bono, do U2: primeiro, a porta de seu avião saiu no meio do voo. Depois, sofreu nove fraturas após uma queda de bicicleta. Melhor não colocar músicas nos aparelhos dos outros de novo...

WOOD´S - VILA OLÍMPIA 3849-6868 R. Quatá, 1016

LAB CLUB - CONSOLAÇÃO (11)3159-1745 Rua Augusta, 523

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O ArcticMonkeys também saiu da Inglaterra para vir ao Brasil, trazendo The Hives diretamente da Suécia como banda de abertura. A atração principal fez um show eficiente, mas foram os suecos que brilharam na noite

Debandada no Megadeth: Guitarrista e baterista deixaram a banda, no mesmo dia, deixando só os dois membros fundadores (Dave Mustaine e Dave Ellefson) Vocalista do Creed fez vídeo dizendo que está falido e morando dentro de um carro. Não está fácil pra ninguém...

Amy Adams deve ser Janis Joplin nos cinemas, em filme dirigido por Jean-Marc Vallee, de Clube de Compras Dallas. Vai muita maquiagem aí... Com formação nova pela primeira vez em vinte anos, o AC/DC lançou seu novo álbum “Rock orBust” mundialmente e prepara nova turnê. A banda perdeu o guitarrista Malcolm Young, que se aposentou por estar com demência e corre o risco de perder o baterista, que está preso, acusado de porte de drogas

Ainda falando de shows, 2015 já começou na agenda de apresentações no Brasil: Foo Fighters, Slash e Ed Sheeran confirmaram shows por aqui, Rock in Rio trará System of a Down e o Lollapalooza divulgou seu line-up, com Robert Plant, Pharrell Williams e SmashingPumpkins encabeçando a lista e esfriando os ânimos de quem estava ansioso pela edição do ano que vem 72| JUKEBOX



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