Jornal Na Estante

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Telescópios para o real Dez livros de ficção para transportar o leitor a lugares que de fato existem do clichê que a define como um encrave europeu no Oriente. “Por baiPara Borges, “dos diversos ins- xo de sua história grandiosa, (...) os trumentos do homem, o mais as- seus pobres ocultam a alma da cidasombroso é, sem dúvida, o livro”. de dentro de uma teia frágil”, anota O argentino comparava a leitura ao o autor. Menos surpreendente, mas ainda uso do telescópio, do telefone, do inesperada é a Cuba que emerge das microscópio, até mesmo do arado. Aqui, a literatura mostra mais um mãos de Pedro Juan Gutiérrez em fator de espanto: a capacidade de se Trilogia suja de Havana. Nessa codebruçar sobre o real e transmitir o letânea de contos, o escritor descreve o Malecón, as impalpável. De ser altas temperaturas o espelho de um Os Dez Livros e a sensualidade lugar e momento caribenha de cardeterminados, de •Budapeste, de Chico tão-postal a partir sua geografia físi- Buarque; de outro prisma: ca, humana e emo- •Istambul – Memória e o da nada turística cional. cidade, de Orhan Pamuk; miséria que assoO condutor •Trilogia suja de Havana, de la desempregados dessa experiência Pedro Juan Gutiérrez; embebidos em pode ser um cario- •Desonra, de J. M. Coetzee; rum, sexo e droca perdido, um se- •Predadores, de Pepetela, gas. dutor incorrigível Dom Quixote; Isolar-se foi o ou um ghost-wri•O país das neves, de que buscou o proter em viagem, toYasunari Kawabata; fessor universitário dos eles o mesmo •O amante, de Marguerite David Lurie, após protagonista da Duras; ter no sexo um Budapeste de Chi•Dublinenses, de James problema, e não co Buarque, peruma solução. Em sonagem que se Joyce; •As aventuras de Tom Desonra, o Nobel apaixona enquanto de 2003 J. M. Cotenta entender os Sawyer, de Mark Twain; •Cinzas do Norte, de Milton etzee traslada esse rudimentos lingümetódico intelecísticos do país que Hatoum. tual da agitação se tornará um marco em sua vida. Entre luzes feéricas da Cidade do Cabo para a aparente e recônditos de uma casa geminada paz do interior sul-africano, onde a no número 17 da rua Tóth, o autor pacata criação de ovelhas e vegetais nos leva a uma Hungria que, longe não impede que o pós-apartheid se do cinza, é “amarela, os telhados, o mostre em todas as suas cores. Chocado com a brutalidade entronizada asfalto, os parques”. Desmistificada também é a Istam- no dia-a-dia de seus compatriotas, bul do Nobel do ano passado, Orhan Lurie é advertido: “Acorde. Esta é a Pamuk. Berço da história autobio- África”. Ainda no continente negro, outro gráfica de um jovem escritor em fordespertar ganhou registro literário: mação, a capital está muito distante Denise Mota

depois de participar do processo religiosos, estudantes em busca de de independência de Angola, Pepe- emoções povoam Dublinenses, em tela detalha a nova sociedade que que James Joyce enfeixa um conjunse conformou. Em Predadores, um to de crônicas do cotidiano de seus empresário ascende através de tram- conterrâneos. biques políticos, enquanto Luanda Ainda navegamos e, em contireproduz a riqueza e a pobreza ex- nente americano, o caudaloso Mistremas, simbolizadas pelo elegante sissippi embala As aventuras de bairro do Alvalade e pelas ruínas do Tom Sawyer, herói juvenil criado Catambor. por Mark Twain. O escritor se insMais além, no Japão, um amor pirou na pequena Hannibal, cidade que é puro sacrifício e desinteresse de seu Missouri natal, para erguer a floresce em O país das neves, clás- St. Petersburg onde o esperto garoto sico de Yasunari Kawabata. Em con- órfão vivencia um sem-fim de peritraste com a gélida paisagem que o pécias. escritor tomou emprestada da estaEnfim em solo pátrio, a Amazôção termal de Yusawa, se entrecruza nia emoldura o terceiro. o ardor de sentimentos de um endinheirado escritor, uma gueixa e uma jovem provinciana. Também no Oriente, outro tipo de amor – tão pleno de satisfação sexual quanto desprovido de humanidade – tem lugar na então Indochina, materializado nos braços d’O amante de Marguerite Duras. No relato, os bondes de Saigon, o rio Mekong, o calor monótono de uma região onde “não há primavera” acompanham a transformação da jovem de 15 anos que se envolve com um rico chinês. Ainda próximo ao mar, mas em outras latitudes e sob um céu “violeta sempre mutante”, na costa da Irlanda “homens bêbados, mulheres que barganham”, Vista de Dublin, na Irlanda, cenário operários boca-suja, das crônicas de Joyce

a N

Estante Memória da Guerra

Uma seleção de livros sobre dor, esperança, angústia e solidaridade escritos por quem viveu o período nazista e as Guerras Mundais


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Ponto de Vista

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Índice Ent rev is ta :

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Crônica

entos

10Resenha

L ançam

Luis F

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Ar tigo

mo erissi

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Per f i l : Fran

Capa: Sobreviver à Guerra

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mais visível. Quando não recebe um prêmio, logo pensa que é um injustiçado, que o júri foi comprado, que é um jogo de cartas marcadas, que só funciona o lobby. Uma tática para se proteger do confronto e do julgamento é avisar que somente o tempo definirá o valor do que se escreve. Ora, não dá para ficar calado até lá, durante no mínimo meio século. Se o escritor entra na lista dos mais vendidos, é acusado pelos seus colegas de facilitar o trabalho, de piorar seu conteúdo.

Setemb ro

o leitor refugando seu livro. Até imagina, mas não suporta a idéia de não ser um futuro clássico. Não agüenta a hipótese de não ser lido simplesmente por não dar prazer, o que é uma justificava e tanto. Botou na cabeça que a unanimidade o espera. Adota uma postura extremista e autoritária. Confunde leitura obrigatória com leitura obrigada. Quem não gosta do que ele escreve é naturalmente um inimigo. Quem gosta é um aliado. Ao constatar resistência ao seu nome, o escritor insinua boicote e perseguição. Culpa a distribuição e a editora, não se envergonha de remanejar seu livro para a gôndola

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equívoco de que o escritor não depende de mais ninguém, a não ser do talento e da inspiração. E não bastam as críticas para avisar de caminhos possíveis. As resenhas desfavoráveis são classificadas de mal-intencionadas. As positivas reforçam o narcisismo. A impressão é que o escritor nasce pronto e fechado. Na verdade, não ambiciona nem o elogio, e sim a bajulação. Percebo uma passionalidade no meio autoral. Ou estão comigo ou contra mim. Não se encontra rua intermediária entre adesão e aversão. Faltam equilíbrio, humor e autocrítica, sobram pose e sectarismo. O escritor não consegue imaginar

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Literatura na arena

Ofício de escritor

O escritor não é um ser de exceção, fora de série. Não representa um semideus. Empurra o carrinho de supermercado como qualquer um. Por ser tão prosaico é capaz de observar a normalidade de um jeito especial, de se importar com a banalidade e se identificar com o que é descartado. Escrever é um trabalho solitário, mas a solidão não pode ser blindada pela arrogância. Deve ser uma solidão generosa, que abre sua varanda para as dúvidas, inquietações, diferenças e perplexidades de seus contemporâneos. Infelizmente a mistificação e a autosuficiência consolidaram o

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Da tradicional Jornada de Passo Fundo à pop Flip, eventos literários que aproximam leitores e escritores se consolidam no calendário do segundo semestre Mariana Andrade Amyr Klink diz que Parati o inspirou a viajar pelo mundo. Só não supunha que um encontro em seu barco traria o mundo a Parati, por meio da literatura. Mauro Munhoz, diretor presidente da Associação Casa Azul, conta que ao aceitar o convite do amigo navegador para passar um final de semana em seu barco acabou conhecendo uma outra hóspede, Liz Calder, editora da inglesa Bloomsbury. Encantada com o lugar, ela vendeu uma casa na França para construir uma ali e convidou Munhoz para ser o arquiteto da obra. Munhoz, engajado em um projeto urbanístico destinado a revitalizar a cidade histórica do Rio de Janeiro, conversou com a inglesa sobre o desejo de realizar ali uma atividade no plano cultural. Ela propôs: “Por que não com literatura?”. E assim nasceu a idéia que, apenas dez anos depois, se concretizaria na primeira edição da Festa Literária Internacional de Parati, que agora chega a sua quinta edição. Munhoz conta que, na época, houve quem os advertisse que evento literário no Brasil não daria certo, ainda mais fora de um grande centro. O fato é que, hoje, além da Flip, há também o Fórum das Letras de Ouro Preto, em Minas Gerais, realizado desde 2005, e a precursora Jornada Nacional de Literatura, que desde 1981 ocorre na cidade de Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul, e este ano chega a sua 12ª edição. Os três são sediados em cidades pequenas que têm conseguido voltar para elas o interesse de um público variado que, ao que tudo indica ou ao menos acreditam os envolvidos nos eventos, sai desses encontros mais motivados a ler. Essa motivação não recai somente sobre potenciais leitores. “Para os próprios escritores representam um estímulo”, diz o escritor Moacyr Scliar, que

Antonio Saggese

Vista da tenda dos autores, onde ocorrem as mesas da Flip, que chega este ano à sua quinta edição participou da Jornada de Passo Fundo e Flip. “Alguns escritores dizem: ‘Quem quer saber de minha literatura leia meus livros’, o que, teoricamente, faz sentido: o escritor se expressa através de sua obra, ou não se expressa. Mas, e sobretudo em países como o Brasil, o escritor tem também o papel de motivador e eventos como esses são uma grande oportunidade para isso”, avalia Scliar. Tânia Rösing, coordenadora da Jornada Nacional de Literatura, acompanha de perto o efeito multiplicador desses eventos. Passo Fundo é hoje a cidade com maior número de livrarias por habitante, recebeu o título de Capital Nacional da Literatura por meio de uma Lei Federal em 2006, quando também foi apontada por uma pesquisa realizada pelo Ibope como a região onde mais se lê no país. “O número de seminários de leitura ampliou-se por aqui e somos sempre procurados para viabilizar contato com autores”, destaca. O escritor Marcelino Freire, que par-

ticipou como convidado dos três eventos, e também é dado à agitação cultural, revela que todos lhes serviram de inspiração. “Os três se complementam. A Jornada é mais ‘didática’. Envolve alunos e professores e educadores em geral. O Fórum das Letras gera debates entre editores, livreiros, todos que estão na cadeia do livro. Das três, a Flip é a que é mais festa, uma celebração dionísiaca da literatura. A Flip é um evento mais pop, digamos. O que não tira o seu mérito. Depois da Flip, muitas festas e modelos assim surgiram. E a Jornada é inspiradora.” Freire idealizou, por exemplo, a Balada Literária, que este ano terá como homenageado Roberto Piva. “Esse evento veio para assumir o lado baladeiro. Os debates-papos sempre acabam em festa, show, dança. E nas mesas redondas eu procuro misturar as tribos. Outra: as mesas não têm temas. É a conversa que rolar (feito em mesa de bar) a partir da reunião daquelas pessoas.”

Embora tenham semelhanças, há também muita diferença entre esses eventos. “A Jornada de Passo Fundo é mais dirigida para professores; o ensino de literatura, por exemplo, ali tem um papel importante. O número de participantes é bem maior. Já a Flip representa uma interface entre a literatura brasileira e a literatura mundial (autores estrangeiros, a propósito, também vem a Passo Fundo)”, diz. Essa percepção reflete os objetivos dos idealizadores, ainda que nem tudo salte aos olhos de quem acompanha de fora. A Flip, por exemplo, chama a atenção pela quantidade de autores estrangeiros que traz, porém, segundo Munhoz, aposta no turismo cultural, capaz de viabilizar recursos e meios para a auto-sustentação e preservação de Parati. Ele destaca ainda a realização contínua de um programa educativo de valorização do patrimônio cultural da cidade e de capacitação de professores da região. A Flipinha, este ano, contará com uma participação 30% maior das escolas locais, embora autores de literatura infantil não tenham obtido ainda espaço apropriado. Divulgação

Bonecos desfilam durante a 11ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo


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Lá vem o Saci

Perfil

Há 90 anos, após inquérito de Monteiro Lobato, o personagem estreou na literatura Gabriela Romeu O saci completa agora 90 anos de nascimento literário pela pena do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948), principal responsável por propagar essa figura do imaginário popular nacional. O personagem, cujo nome é uma corruptela de Çaa cy perereg, do tupi-guarani, saltou do universo oral para o mundo das letras após pesquisa realizada por Lobato no começo do século XX. O livro O sacy-perere – resultado de um inquérito (1918) foi publicado pouco depois de o escritor paulista reunir, para o Estadinho, edição vespertina do jornal O Estado de S. Paulo, muitos dos “causos” sobre o duende relatados por leitores de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e, principalmente, do interior paulista. O futuro criador do Sítio do Picapau Amarelo convocara leitores a compartilhar informações sobre a criatura “genuinamente nacional”. A obra, que antecedeu até mesmo Urupês, trazia o inquérito sobre o moleque: havia relatos de constantes aparições nas zonas rurais, a informação de que adorava praticar diabruras, como azedar o leite, embaraçar a crina dos cavalos e esconder objetos da casa. Um dos leitores garantiu: “(...) era um negrinho muito magro, muito esperto, de cima de uma perna só, do tamanho de um menino de doze anos, muito feio, banguela, olhos vivos, rindo sempre um riso velhaco de corretor de praça”. O saci surgiu nas fronteiras do Paraguai, entre os índios guaranis. Mas foram os negros escravizados no país que se apropriaram da figura. E foi então que ganhou feições africanas, gorro vermelho e pito de barro,

segundo Mario Cândido, presidente da Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci), associação engajada na missão de não deixar bruxas de Halloween apagarem a imagem do homenzinho perneta no imaginário das crianças brasileiras – hoje, no país, 31 de outubro é dia do saci. E o duende perneta no universo lobatiano ressurge com destaque no livro O saci, de 1921. E ali é Pedrinho, mais uma vez de férias na casa da avó, que “andava com a cabeça cheia de sacis”. Com tanta curiosidade quanto medo, o menino vai perguntar sobre a criaturinha para tio Barnabé, aquwrwhrele que “entende de todççças as feitiçarias, e de saci, de mjhkjula-sem-cabeça, de lobisomem – de tudo”. Até que um dia Pedrinho consegue capturar um saci num rodamoinho que chega ao sítio com uma peneira de cruzeta. E, no meio da mata, perto de taquaruçus, espécie de bambu onde os sacis nascem, os dois travam diálogos filosóficos so-

bre a lei da floresta, a vida na cidade, a sabedoria dos homens, a importância da erudição – questionamentos lobatianos. Só é lamentável que o livro (editora Brasiliense) seja pouco atraente para meninas e meninos de hoje, já acostumados com edições cada vez mais sofisticadas nas capas, no projeto gráfico e nas ilustrações. Mas em 2007, ano em que o escritor de Taubaté completaria 125 anos de nascimento, a disputa judicial pela obra do autor está na reta final – e tudo indica que novas edições das aventuras do Sítio do Picapau Amarelo estejam bem próximas. Os sacis, no entanto, continuam aprontando poucas e boas na literatura infantil. A veterana Tatiana Belinky foi premiada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) por Dez sacizinhos (Paulinas), com as ilustrações de Roberto Weigand. Belinky faz versos sobre o desaparecimento de sacis, que, um a um, vão sendo subtraídos da história: “Eram dez os sacizinhos; um ficou imóvel e nunca mais se moveu,

e sobraram nove”. Em Nas pegadas do Saci (Conex), Marcia Camargos, co-autora do premiado Monteiro Lobato – furacão na Botocúndia (Senac), coloca um grupo de amigos no rastro biográfico do moleque de uma perna só. Os diálogos entre adultos e crianças, recheados de informações históricas e mensagens ecológicas, soam, às vezes, um pouco artificiais. Mas, se a obra carece de recursos literários, o livro com ilustrações de Marcos Cartum destaca-se justamente por oferecer informação de qualidade sobre a criatura folclórica – é boa fonte de pesquisa para crianças em idade escolar. Já Pererêêê Pororóóó (DCL), de Lenice Gomes, escritora de livros que resgatam o aspecto folclórico com roupagem contemporânea, é uma prosa poética cheia de adivinhas – “Pererêêê / Pororóóó / Saci-Pererê! / Adivinha o quê?”. Em versos livres, é contada a história do encontro de Raul e Diva, duas crianças, e três sacis que rodopiam feito “piões enlouquecidos” em um casarão abandonado na cidade. As colagens de André Neves dão um adequado toque folclórico aos personagens. É também na cidade, em sua periferia, que o enredo de O caso do saci (Cosac Naify), do ilustrador e escritor Nelson Cruz, se desenrola. Os irmãos Manfredinho e Andréa desconfiam que é o duende que anda escondendo o dinheiro do pai, vítima de malandros do bairro. Depois de roubar o gorro vermelho do Saci, o que deixa o duende sem força, os dois acompanham o negrinho até o vale onde estão os objetos escondidos pelo moleque que migrou das zonas rurais para os centros urbanos – pelo menos na literatura .

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Reprodução

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Franz

Renato Roschel Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883, cidade que durante todos os 40 anos da vida do escritor pertenceu à monarquia austro-húngara. Filho de um abastado comerciante judeu, Kafka cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã. Formado em direito, ele fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Esse híbrido de ironia e lucidez aparece na maioria dos textos de Kafka. Reprodução Suas obras também conseguem formalizar e abrigar leituras totalmente relacionadas com a condição do ser humano moderno.O olhar kafkiano é direcionado para coisas como a opressão burocrática das instituições, a

“justiça” e a fragilidade do homem comum frente a problemas cotidianos. O primeiro livro de Kafka foi “Consideração”, publicado em 1913. No ano seguinte à publicação da sua primeira obra, Kafka sofreu uma grande crise emocional. Alguns estudiosos afirmam que esta crise foi causada por motivo de seu noivado, outros defendem que o autor tcheco teria ficado emocionalmente abalado com início da 1ª Guerra Mundial ocorrido no mesmo ano. As obras mais famosas de Kafka foram escritas entre 1913 e 1921, são elas: “A Metamorfose”, “O Processo”, “O Castelo”, “O Foguista” (que é na verdade o primeiro capítulo de “América”), “A Sentença” e “O Artista da Fome”. Em 1920, Kafka abandonou seu emprego em uma companhia de seguros por razões de saúde. Havia contraído tuberculose. Nos anos 1920 e 1921, Kafka relacionou-se com a escritora tcheca Milena Jesenká-Pollak, mas seu grande amor foi por uma mulher que conheceria apenas no final de sua vida, Dora Dyamant.

As histórias criadas por esse judeu tcheco que escrevia em alemão deram voz ao indivíduo que caminha nas ruas das grandes cidades contemporâneas. O personagem Gregor Samsa, de Metamorfose, é o homem tornado inseto frente à realidade urbana avassaladora, burocrática e tão cheia de gigantismos. Samsa reproduz a sensação do homem que virou o inseto insignificante das cidades modernas e que, quando em vez, morre aos milhões nos campos de guerra. Nenhum autor representou de forma tão contundente a modernidade. Segundo o crítico literário George Steiner, “o extremismo da posição literária de Kafka (...) torna a estrutura representativa e a centralidade de sua façanha mais notáveis. Nenhuma outra voz foi testemunha mais verdadeira da natureza de nossos tempos.” Para ler Kafka são necessários alguns cuidados especiais, entre eles, contar com uma certa atenção à maneira com que toda obra se constrói, principalmente seus períodos; estar sempre consciente de que toda a criação literária de Kafka foi dolorida, feita com o intuito de não parecer

“Há esperanças, só não para nós.”

bonita, de ser, principalmente, uma obra baseada na dor; ficar atento a todos os detalhes do texto, pois em Kafka, até as imperfeições são propositais, ou seja, segundo Theodor Adorno, até “as deformações em Kafka são precisas”. Durante sua vida, Kafka nunca conseguiu atingir grande fama com seus livros, porém, algum tempo depois de sua morte, no dia 3 de junho de 1924, em um sanatório perto de Viena, onde internara-se por causa de sua tuberculose, sua obra literária atingiria enorme influência sobre as pessoas, passando a ser cultuada por leitores de quase todo o planeta.

Principais Obras:


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Entrevista com Luis Fernando Verissimo:

Leitores Incomuns

Márcio Vassallo - Um pensamento seu: “A atividade de cronista me realiza completamente e acredito que é perfeitamente possível atingir a profundidade ficando na superfície.” O que há de mais profundo nas superfícies?

O observador sabe que lá no alto, sentado num galho, alguém olha para um livro

ARTIGO

Há tanta diferença entre a “atitude” de quem lê e a de quem escreve? Um dos problemas cruciais do leitor e do escritor é a falta de tempo, decorrente da pressão do dia-a-dia. Os escritores que vivem de sua pena não podem escolher uma hora do dia ou da noite para trabalhar. Mesmo os que tiveram ou têm a sorte de não depender do trabalho da escrita, revelam-se compulsivos, ávidos para narrar. O que deve ser escrito é inadiável. Deixar para escrever mais tarde, amanhã ou outro dia qualquer só atrapalha o andamento da narrativa. Adiar um trabalho pode ser um alívio para um burocrata, não para um escritor. Ainda assim, há momentos de pausa e reflexão, de pesquisa e anotações, e, às vezes, de interrupções forçadas, um verdadeiro castigo para quem escreve. E há também pausas para leitura: a urgência de escrever não é menor nem menos intensa do que a urgência de ler. “Escrevo porque leio”, afirmam alguns escritores. Mas um leitor poderia dizer: não escrevo nada, mas é como se a leitura fosse um modo de escrever, de imaginar situações, diálogos e cenas que a memória registra no ato da leitura. O pior leitor é o passivo, resignado, que aceita tudo e lê o livro como uma receita ou bula para o bem viver. Este é o não-leitor. Porque o texto de auto-ajuda é um compêndio de trivialidades, palavras que não questionam, não intrigam nem fazem refletir sobre o mundo e sobre nós mesmos. Um bom leitor reescreve o livro com a imaginação de um escritor. Alguns vão mais longe. Com os olhos no texto e um lápis na mão, eles fazem anotações nas margens das páginas, sublinham frases, cravam aqui e ali pontos de interrogação. Há os que elaboram fichas com resumos ou esquemas do enredo, árvores genealógicas, comentários

sobre o tempo da narrativa, posição do narrador, personagens, idéias, metáforas, ambiente político, social etc. Esse leitor incansável seria o leitor ideal, mencionado por Umberto Eco no ensaio Seis passeios pelo bosque da ficção. No Tempo redescoberto – último volume do Em busca do tempo perdido –, o narrador de Proust faz uma reflexão sobre esse tema. Um livro, diz o narrador proustiano, pode ser sábio demais, obscuro demais para um leitor ingênuo. A imagem que Proust evoca é a de uma lente embaçada entre o olhar e as palavras: um anteparo à leitura. Mas o inverso também acontece quando o leitor astucioso revela capacidade e talento para ler bem. De acordo com o autor francês, “cada leitor é, quando está lendo, o leitor de si próprio”. Ou seja, uma obra literária permite ao leitor discernir tudo aquilo que, sem a leitura dessa obra, ele não teria visto ou percebido em sua própria vida. No quarto capítulo de seu belo ensaio O último leitor, o argentino Ricardo Piglia lembra a figura de um leitor incomum: o revolucionário e guerrilheiro Ernesto Guevara. O comandante Che sonhava ser escritor, mas o compromisso político-social o conduziu a outras veredas. No entanto, ele escreveu diários de viagem, textos sobre técnicas e estratégias de guerrilha, relatos inspirados diretamente em sua experiência revolucionária em Cuba, na África e na América do Sul. O que não falta em suas incansáveis viagens – inclusive a última, pouco antes de morrer – é o livro, a leitura. “A marcha, escreve Piglia, supõe leveza, agilidade, rapidez. É preciso desprender-se por completo, estar leve e andar. Mas Guevara mantém um certo peso. Na Bolívia, já sem forças, carregava livros. Ao ser detido em Ñancahuazu, quando é capturado depois da odisséia que conhecemos, uma odisséia que supõe a necessidade de movimento incessante e de fuga ao cerco, a única coisa que ele conserva (porque perdeu tudo, não tem nem sapatos) é uma pasta de couro, que leva amarrada ao cinturão, sobre a ilharga direita, onde guarda seu diário de campanha

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e seus livros. Todos se desfazem daquilo que dificulta a marcha e a fuga, mas Guevara continua mantendo seus livros, que pesam e são o oposto da leveza exigida pela marcha.” (pág. 103) A capa do livro (da autoria de Angelo Venosa) foi inspirada numa fotografia de Ernesto Guevara lendo no alto de uma árvore. É uma imagem notável do guerrilheiro – homem de ação – que faz uma pausa para ler. Armas e letras, dois temas medievais explorados no Dom Quixote, parecem reviver nessa imagem em que o leitor, significativa e simbolicamente, situa-se no alto. Longe de ser uma posição de quem se sente elevado, a altura, aqui, é uma posição precária, que denota perigo e instabilidade. O inimigo pode estar por perto, pode surgir a qualquer hora e matar o guerrilheiro-leitor. Na fotografia é impossível reconhecer com nitidez a figura de Guevara, mas o observador sabe que lá no alto, sentado num galho, alguém olha para um livro. O fundo da fotografia é alaranjado, de uma tonalidade que evoca o fogo crepuscular: começo ou fim do dia. Ou luz que se esvai, anunciando a noite, o enigma do que vem por aí. Não sabemos se este livro é o último que Guevara leu. O último leitor é a metáfora de uma atitude diante da leitura: alguém que não pode viver sem livros. Narrar para não morrer é a mensagem de Sherazade ao rei Shariar (e ao leitor) em cada conto do Livro das mil e uma noites. Ernesto Guevara lê para viver. Ou suportar a vida: fado de um homem que vivia perigosamente à beira da morte. Mas ler é também o destino de tantos outros seres que não se lançam à aventura utópica de transformar o mundo por meio da ação revolucionária. Esse leitor apaixonado forma o duplo do escritor. E ambos justificam a literatura.

Luis Fernando Verissimo – A gente pode escrever sobre todo tipo de coisa, de uma maneira leve. Para escrever sobre um assunto sério, ou pretensamente sério, o autor não precisa escrever de forma empolada, formal. Vassallo - Seu próximo romance vai fazer parte da coleção Cinco dedos de prosa, da editora Objetiva. Nessa coleção, cinco autores convidados escrevem uma história inspirada em cada um dos dedos da nossa mão. E você ficou com o polegar. Afinal, o que o polegar tem de mais atraente? Verissimo – O livro vai se chamar O Opositor. Mas até agora só tenho o título. Acho que o movimento de juntar o dedão com o dedo indicador foi o grande passo na evolução da humanidade. Afinal, foi a partir desse movimento que o homem conseguiu pegar a larva, para comer com mais precisão, e também estrangular o próximo. Vassallo - Você já escreveu uma vez: “Examine suas mãos. Coisas estranhas, não são? Nos pertencem e ao mesmo tempo não nos pertencem. Parecem ter vida e opiniões próprias.” Em que momentos você mais discorda das suas mãos?

Reprodução

Milton Hatoum

Verissimo – Tem gestos que agem por conta própria, mesmo que você não concorde com eles e que não tenha a intenção de fazê-los. E como eu sou

Na Estante uma pessoa que tem certa dificuldade de expressão verbal, que tem uma certa timidez, muitas vezes acho que consigo falar melhor com as mãos, com os gestos. Só que nunca sabemos ao certo que gestos vamos fazer. O gesto é uma coisa que a gente não controla muito. Vassallo - O Opositor é um livro de encomenda, feito O Clube dos Anjos (Objetiva), da coleção Plenos Pecados, e Borges e os Orangotangos Eternos (Companhia das Letras), da série Literatura ou Morte. Você costuma dizer que quando o trabalho é encomendado, meio caminho já está andado, e que a musa inspiradora do cronista é o prazo de entrega. A urgência de voar faz você andar? Verissimo – O prazo é um desafio. Mas, na realidade, o que provoca a criação do livro não tem tanta importância assim. Isso não é o mais importante. O fundamental é que o livro saia bom. E acho que o livro encomendado é uma forma de desafio. A pessoa inventa o tema e você topa esse desafio de criar, para chegar a um ponto pré-estabelecido. E uma encomenda não significa que o livro tenha que ser a favor ou contra alguma coisa. É só uma provocação para o autor. Vassallo - Outro pensamento seu: “Só começo a escrever quando estou na frente do computador. Já tentei andar com um caderninho para anotar as idéias, mas acabava esquecendo o caderninho e as idéias.” As idéias é que não se esquecem de você? Verissimo – Olha, acho que estou sempre com idéias na cabeça, estou sempre pensando em coisas para escrever, mas na maioria das vezes de forma inconsciente. Então, é quando sento em frente ao computador que organizo melhor o meu pensamento. Vassallo - Em uma entrevista, na TVE, o jornalista Roberto D`Ávilla lhe perguntou com que frase você conquistou a Lúcia, sua mulher. E você respondeu: “Acho que foi com um silêncio eloqüente.” Qual a poesia do silêncio? Verissimo – Quando não dizemos nada, ampliamos no outro as possibilidades de

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interpretação. O silêncio permite mais interpretações que a palavra. Acho que o silêncio é bem mais amplo, é bem mais rico que a palavra. Na realidade, a palavra tem mais limites do que o silêncio. Vassallo - Numa entrevista à Clarice Lispector, o poeta Pablo Neruda disse que uma mulher realmente bela é feita de muitas mulheres. Você concorda? Verissimo – Essa é uma frase de efeito, é um pensamento poético bonito, mas acho que não reflete a realidade. O que chama a atenção numa mulher, o que faz um homem amar uma mulher, é o que ela mais tem de diferente, mais pessoal, mais singular. Vassallo - Quando meninos, adoramos determinados pratos e achamos outros esquisitos. Depois, com o tempo, muitas vezes o que a gente achava esquisito passa a ser bem atraente. Da mesma forma, será que a maturidade aprimora nos homens o gosto pelas mulheres? Verissimo – É um bom paralelo, é um bom paralelo... Só que tem o outro lado dessa história. Também tem coisas que nunca deixamos de gostar. E com o tempo, quando ficamos mais velhos, não podemos comer mais. Vassallo - Aliás, no livro O Clube dos Anjos, você fala sobre o que o tempo faz conosco, com o nosso corpo, com as nossas intenções. E o que a gente faz com o tempo? Verissimo – O tempo é o nosso inimigo mais terrível. Não temos nenhum recurso para combatêlo. Ningkljwehmnbc u é m enxerga o tempo. Ele age de uma maneira subversiva.

Não Pode FALTAR

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? r e v r e Qu

A arte de fazer uma radiografia bem-humorada da alma do brasileiro transformou Luis Fernando Verissimo num campeão da literatura Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone. É casado com Lúcia e tem três filhos. Jornalista, iniciou sua carreira no jornal Zero Hora, em Porto Alegre, em fins de 1966, onde começou como copydesk mas trabalhou em diversas seções (“editor de frescuras”, redator, editor nacional e internacional). Além disso, sobreviveu um tempo como tradutor, no Rio de Janeiro. A partir de 1969, passou a escrever matéria assinada, quando substituiu a coluna do Jockyman, na Zero Hora. Em 1970 mudou-se para o jornal Folha da Manhã, mas

voltou ao antigo emprego em 1975, na Cabeça, O Gigolô das Palavras, e passou a ser publicado no Rio de O Analista de Bagé, A Mão Do Janeiro também. O sucesso de sua Freud, Orgias, As Aventuras da Facoluna garantiu o lançamento, na- mília Brasil, O Analista de Bagé,O quele ano, do livro “A Grande Mu- Analista de Bagé em Quadrinhos, lher Nua”, uma coletânea de seus Outras do Analista de Bagé, A Vetextos. lhinha de Taubaté, A Mulher do SilParticipou também da televisão, va, O Marido do Doutor Pompeu, criando quadros para o programa publicados pela L&PM Editores, e “Planeta dos Homens”, na Rede A Mesa Voadora, pela Editora GloGlobo e, mais recentemente, forne- bo e Traçando Paris, pela Artes e cendo material para Ofícios. a série “Comédias Com 3 milhões de livros Além disso, tem da Vida Privada”, textos de ficção e vendidos em 3 anos, crônicas publicadas baseada em livro Verissimo é o escritor nas revistas Playboy, homônimo. Escritor prolífeCláudia, Domingo mais lido do país ro, são de sua au(do Jornal do Bratoria, dentre outros, sil), Veja, e nos jorO Popular, A Grande Mulher Nua, nais Zero Hora, Folha de São Paulo, Amor Brasileiro, publicados pela Jornal do Brasil e, a partir de junho José Olympio Editora; As Cobras de 2.000, no jornal O Globo. e Outros Bichos, Pega pra Kapput!, Na opinião de Jaguar “Verissimo Ed Mort em “Procurando o Silva”, é uma fábrica de fazer humor. MuiEd Mort em “Disneyworld Blues”, to e bom. Meu consolo — compaEd Mort em “Com a Mão no Mi- rando meu artesanato de chistes e lhão”, Ed Mort em “A Conexão cartuns com sua fábrica — era que, Nazista”, Ed Mort em “O Seqües- enquanto eu rodo pelaí com minha tro do Zagueiro Central”, Ed Mort e grande capacidade ociosa pelos baOutras Histórias, O Jardim do Dia- res da vida, na busca insaciável do bo, Pai não Entende Nada, Peças prazer (B.I.P.), o campeão do humor Íntimas, O Santinho, Zoeira , Sexo trabalha como um mouro (se é que

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A literatura do vestibular

Verissimo! Rodrigo Miranda

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os mouros trabalham). Pensava que, com aquela vasta produção, ele só podia levantar os olhos da máquina de escrever para pingar colírio, como dizia o Stanislaw Ponte Preta. Boemia, papos furados pela noite a dentro, curtir restaurantes malocados, lazer em suma, nem pensar. De manhã à noite, sempre com a placa “Homens Trabalhando” pendurada no pescoço.” Extremamente tímido, foi homenageado por uma escola de samba de sua terra natal no carnaval de 2.000.

Especialistas dão as dicas de como ler corretamente as obras literárias pedidas nos vestibulares Amanda Cardoso Como estudar uma obra literária para o vestibular? Em que prestar mais atenção? Que tipo de relação fazer? Estas são algumas das dúvidas mais comuns dos candidatos que julgam que, para se preparar, basta se concentrar no enredo da história ou nos detalhes dos personagens. Entretanto, as universidades pedem algo além desta análise superficial e solicitam dos estudantes comparações com outras disciplinas. “Conhecer alguma coisa do autor e do movimento em que está inserido é bom, mas não é tão importante quanto conhecer a construção e a linguagem da obra para saber fazer analogias”, afirma a chefe do departamento de semiótica e teoria da literatura da Faculdade de Letras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Marli Fantini Scarpelli. “Para compreender a obra em si, como os vestibulares pedem, é preciso entender a perspectiva a partir da qual o mundo é observado e analisado por narrador e personagem.” Em “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, por exemplo, Marli afirma que o personagem principal relata a experiência de quem vive em um campo de batalha permanente de jagunços, comparável à atual luta dos sem-terra. “A imagem que se capta é a de um Brasil arcaico e truculento, de um local de constante luta pela oligarquia de terras”, explica. Outro exemplo dado pela professora é o livro “Memórias Póstumas

Reprodução

de Brás Cubas”, do escritor Macha- dos dos escritores, do de Assis. “Neste caso, a História é bom conhecer do Brasil é retratada por metonímia. o movimento liO morrer e o reviver do narrador são terário em que se a imagem da repetição de uma políti- encaixam para ca brasileira marcada por corrupção, conseguir fazer nepotismo e estagnação. Relacionar associações entre a obra a disciplinas como História, obras do período. Psicologia e Geografia é uma ten- “Mas não signifidência das instituições, já que por ca memorizar as meio da interdisciplinaridade é pos- características do sível analisar a fundo o conhecimen- estilo. Os vestibuto do aluno”. lares não pergunAlém da comparação com situa- tam este tipo de É necessário ir mais a fundo, compreender a obra e entender seu tempo ções atuais, é fundamental que o ves- coisa. É necestibulando saiba sobre a época em que sário ir mais a livro. Ou seja, deve-se prestar ateno livro foi escrito. Como na maioria fundo, compreender a obra e enten- ção no foco e na estrutura narrativa dos vestibulares muitas das obras der seu tempo”, afirma a professora e não se ater ao nome das personacobradas são de antes da segunda do curso de Jornalismo da UFSC gens e ao enredo da obra. “Só assim metade do século XX, os estudantes (Universidade Federal de Santa é possível captar o lugar a partir do entram em contato com um olhar de Catarina), Regina Carvalho. Para qual narrador e personagem lançam mundo diferente daquele com que compreender a sociedade retratada, o olhar sobre o mundo. Prestando estão acostumaa professora diz que atenção à linguagem e às imagens, dos. A professora Como estudar uma os candidatos devem ou seja, à descrição do espaço, dos titular de literaestar atentos aos cos- objetos e das atitudes das personaobra literária para o tura brasileira da tumes e à psicologia é possível perceber se o lugar vestibular? Em que das personagens. “É gens, UFBA (Universiretratado é ideológico, revolucionádade Federal da prestar mais atenção? extremamente im- rio, preconceituoso ou retrógrado”. Bahia), Eneida portante prestar aten- Segundo a professora mineira, toda Leal Cunha, afirção na linguagem do obra literária contém uma imagem ma que captar a visão do autor é ex- livro. As obras antigas têm uma for- do mundo e é importante verificar a temamente importante. “Com ela, os ma de tratar a língua muito diferen- forma como o autor constrói a sua no vestibulandos ampliam a experiên- te da atual”, diz. Regina alerta que livro estudado. Por este motivo, as cia de mundo que possuem. Por isso, se o candidato interpretar a história três especialistas defendem que não a literatura é importante para todos e os diálogos literalmente corre o é suficiente ler apenas os resumos os candidatos, sejam eles de Medici- risco de não entender grande parte fornecidos pelos cursos pré-vestibuna, Letras ou Matemática. O que se do enredo. “Antigamente, a língua lar. “Não dá para analisar a linguaespera é que eles sejam capazes de se escondia atrás de muitas coisas gem e captar a mensagem do livro perceber aquilo como uma experiên- como, por exemplo, a ironia - que, em um resumo”, sentencia Eneida. cia diferente da sua e característica em alguns momentos, era muito ca- Já para Regina, eles podem servir de uma época”. muflada”. como uma “primeira leitura de conSegundo Eneida, apesar das proNa opinião de Marli, é preciso tato”. Mas, em seguida, o estudante vas de vestibular não cobrarem da- ainda compreender a construção do deve ler a obra toda.


Na Estante O amor sentado ao lado

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...A moça está tão interessada no papo de sua colega de mesa que simplesmente não olha para outro lugar. Talvez tenham 17 ou 18 anos, não mais. O que devem estar conversando? Simplesmente vidrei na garota. Que lindos olhos negros. Esqueci de tomar meu chope. O cigarro é uma centopéia de cinzas delicadamente debruçada ao fundo do cinzeiro. Esqueci que sentara ali apenas para ler o jornal do dia, emprestado pelo Café Express, fazer um tempo... Tento ler os lábios dela mas não consigo. O que estariam falando? Qual o motivo de tamanho interesse? Será que estou apaixonado? Não pode ser, conheci a moça faz poucos minutos. ...Terça-feira, 3 da tarde. O Shopping é um lugar grande, crivado de pessoas vazias. Talvez a menina de olhos e cabelos negros tenha algo a me acrescentar, talvez nem ela, mas vou investir. Consigo finalmente ler seus lábios, ela diz: “Juuura? E daí?”. Acho que ouvi mesmo foi pela sua exaltação. O que a deixaria com tamanha excitação? Passados mais de quarenta minutos, percebo que já não há o mesmo interesse dela pelo papo da colega, como antes. Por vezes já desvia o olhar quando passa alguém interessante. Quem lhe chama a atenção? Um moreno alto, tipo Gianechini. Ora, este chamaria a atenção de qualquer uma. Continuo no páreo. Gosto tanto dela

que cuido de quem ela cuida. Quem sabe se eu me posicionar melhor ela também me notará? Pago o chope, entrego o jornal e saio. ...Caminho até a banca de revistas no primeiro piso, desviando das pessoas, todas sem rosto: “... poderia me passar a Geográfica deste mês?”. O que Reprodução ela vai pensar disto? Pode encarar de duas maneiras, uma: que eu sou uma pessoa que gosta de viajar. Bom, muito bom. A segunda, e pior: viajar é coisa de velho. Ainda mais com a revista Geográfica, que coisa mais antiga, conhecer o Velho Mundo, não tem coisa mais velha... “Me dá também uma Bizz e uma Trip...”, acho que agora ela vai gostar, se não quiser conhecer o Coliseu, talvez se interesse pelo Zooropa do U2, estampado na capa. ...Subo mais do que depressa peço mais um chope, e vou procurar uma mesa a mais próxima possível. Consigo uma excelente

bem do lado da delas, nas costas de sua colega, de frente pra ela. Se for pra acontecer vai ser agora. Nada mais está conspirando contra. Disponho as revistas em cima da mesa de granito, a Geográfica embaixo da Trip, pego a Bizz, semi-aberta na altura do meu peito, de modo que de vez em quando possa dar uma espiada por cima. Ela percebeu pois me deu uma leve olhada, acho que tudo está indo bem, acho que ela gosta do U2, e de mim. ...Vou pedir mais um chope, enganarei minha timidez, quando ela perceber já estarei dando gargalhadas junto com as garotas, a amiga dela vai sentir o clima e nos deixará sozinhos e aí não existirão mais barreiras para nosso infinito amor. Acho que exagerei... não existirão mais barreiras para que a gente possa ficar juntos. Só ficar, como é normal na idade dela. ...Ela levanta e vai até a sorveteria e eu a

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acompanho com os olhos. Uva, ao longe me parece que ela gosta de sorvete de uva, temos muito em comum mesmo. Como ela come bonito. ...Agora o meu olhar já causa um certo mal estar nela, a meu juízo talvez até um frisson. Desvia rapidamente sem fixar nada, só para desviar mesmo. ...Será que eu deveria comer um sorvete de uva para provar o nosso amor? ...Já me sinto mais alegre, motivado. Poderia pedir fogo para elas. Será que elas fumam? Até agora não fumaram. Talvez estejam sem cigarros, eu poderia oferecer. Não, acho que elas odeiam fumantes. Pena não estarem tomando chope, eu poderia oferecerlhes o quarto que ganhei do Café na promoção. Daria a desculpa de que não agüento 4 chopes. ...Meu celular toca: “Sim amor... claro... onde ela está? Eu passo lá sim, às 5 e meia, na Angélica né? Ok... ok... certo... beeeijo”. Perdi preciosos 50 segundos que me separaram dela. Talvez para sempre, pois elas se levantaram da mesa e desceram a escada rolante. Não era para ser mesmo. Talvez tenha se espantado com meus fartos cabelos grisalhos. ...Tomo uma água mineral com Halls para tirar um pouco do cheiro da cerveja e saio, vou buscar minha filha que está fazendo um trabalho para a faculdade na casa de uma amiga. O Shopping continua grande e crivado de pessoas, vazias...

C RÔNICaS

Pequenos delitos e grandes aviões Já ouvi por aí: pobre quando rouba é ladrão; rico quando rouba é cleptomaníaco. Este último termo, que poucos integrantes das castas inferiores sabem o que é, ganha no Aurélio a definição: pessoas com impulsos mórbidos para o furto. Pobres e ricos, cleptomaníacos e não-cleptomaníacos, se unem num ponto: todos parecem gostam de levar para casa cinzeirinhos de hotel e talheres de avião. Funcionam como suvenires daquela-viagem-inesquecível-do-verão-passado. Atire a primeira pedra quem não tentou surrupiar cinzeirinhos de hotéis de Miami. Ou de Caldas Novas. Ou aquele cobertorzinho do avião que o trouxe daquele tour por setecidades-européias-em-cinco-dias.

Ainda infante, involuntariamente, quase mergulhei nesse mundo dos pequenos delitos. Fato ocorrido em Feira de Santana, Bahia, no entanto, me arrancou da trilha do crime. Fascinado com aquelas minigarrafinhas de bebidas que enfeitam frigobares de hotéis, enfiei uma no bolso. Na hora de pagar a conta, primo-mais-velho-com-quem-viajava não aceitou pagar dose de uísque que, achava com razão, não havia sido consumida. Tremia cheio de culpa. Incapaz de me assumir como o autor do furto involuntário (afinal pensara que as garrafinhas estavam ali para serem levadas

gratuitamente pelos hóspedes), corri para a rua e atirei o objeto cobiçado a metros de distância. Voltei a tempo de impedir que primo-mais-velho e recepcionista do hotel se engalfinhassem. Carregaria para sempre, no entanto, esse trauma. Não levo nada de lugar nenhum antes de perguntar se posso. A maioria dos mortais, parece, não carregou experiência tão traumática assim para o resto da vida. Efeito paralelo das rigorosas revistas de bagagens nos aeroportos nacionais, muitos brasileiros que fazem conexões para outros vôos no Aeroporto Internacional de Brasília

Pobre quando rouba é ladrão; rico quando rouba é cleptomaníaco

Cléo de Oliveira

Rogério Menezes

estão sendo pegos com a boca na botija. Vetustas senhoras e vetustos senhores vêm sendo flagrados com coleções de talheres de bordo escondidas entre peças íntimas. Vexame maior viveu senhora que havia surrupiado baixela quase completa em vôo Teresina-São Paulo, conexão em Brasília. Utilizando aqueles aparelhos que permitem visão total do conteúdo de bagagens, funcionários do aeroporto flagraram garfos, facas e colheres na sacola de mão da tal passageira. Questionada sobre a origem daquelas, nesses tempos de guerra, poderosas armas, a passageira cacarejou: — Devem ter caído dentro da sacola na hora da turbulência.

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a s o r P k rso Ve LIVRE ALEXANDRE SIMAS Hoje, acordei e percebi qual era o meu problema! Levantei-me, fui até à cozinha, mas não tinha nenhuma faca de jeito. Saí porta fora, desci as escadas e fui até à loja em frente. Comprei detergente da roupa com um brinde de uma faca. Uma boa faca, que um qualquer inteligente marketista se lembrou para promover o pó branco. Voltei para casa. Entrei e fui até à casa de banho. Lavei os dentes e, não antes de recitar uma oração budista para estancar o sangue, peguei na faca nova acabada de trazer da loja (estava um bocado gordurosa, com sarro) e com a ponta arranquei os olhos. De facto, nenhum sangue jorrou. Mesmo assim, puxei de quatro pensos rápidos e tapei os buracos inaugurados com dois pensos em cada um, assim em forma de xis. Resolvi o meu problema. Deixei de ter olhos para ver o mundo. Sou livre! Agora só falo, digo, penso e vejo aquilo que os outros me disserem para falar, dizer, pensar e ver.

Na Estante ALÇA DO CAIXÃO JOSÉ NOGUEIRA Era uma noite de lua cheia. Quando me veio aquela notícia. Daquele que ia partir. Segui rumo ao seu sepulcro. E lá estava como imaginava. Mas antes de fecharem a tampa de seu caixão. Uma mosca veio e repousou sobre sua face. Sugando todos os seus sentimentos. Aquela mosca se transformou num enorme ser. Guardiã de seu corpo. Não deixando que ninguém se aproximasse. E a cada tentativa mostrava-se agitada. Então o único jeito era pegar a alça. E levá-lo mesmo assim. E foi sepultado sem a tampa. Essa mesma mosca me perseguiu por todo o cemitério. E hoje ela representa um grande mistério. Será que o mesmo estava lá ?

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Conferência “Os mundos do Popol Vuh, cosmogonia maia-quiché” 20.09.2007 - 19h30 A conferência sobre Popol Vuh - longo poema maia que sobreviveu à invasão espanhola - será proferida por Sergio Medeiros - tradutor da íntegra do poema. Popol Vuh traz uma versão inusitada da criação do mundo e serviu como fonte de inspiração para muitos escritores latinoamericanos, de Borges a García Márquez.

COLÔNIA DE FÉRIAS PAULO SILVEIRA - Estou além dos meus dias. Todos já morreram. Até meu irmão caçula, muito louro, muito bonito. Foi um sofrimento ver seu corpo esticado no caixão. Morreu sem ficar doente com oitenta três anos. Três menos do que eu. Depois da morte do meu marido, a perda do meu irmão foi uma dor muito grande. Uma dor profunda. Uma dor muito profunda, meu Deus. - Toma um remedinho, toma um remedinho. Não há dor sem remédio. Eu mesmo resolvi minha artrose com um remedinho que fez mal pro fígado mas curou a artrose. - José, cala a boca, José. A dona Arminda está falando da dor da morte, José. Não está falando da artrose. José, você já não escuta mais, José.

Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas - Fliporto 2007 De 27.09.2007 a 30.09.2007 O evento este ano irá explorar o paradoxo existente entre as dificuldades de ordem econômica e a extrema riqueza das produções culturais latino-americanas através de palestras, painéis, mesas-redondas, oficinas, lançamentos de livros, recitais poéticos e apresentações teatrais e musicais. O objetivo dos organizadores é ultrapassar as barreiras nacionais e seguir em direção dos países latino-americanos.


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IRMÃO LOBO:

Resenha

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Serviço

Lançamentos do mês

A jornada de um menino e um lobo

Cadorno Teles

Imaginem um livro que, mesmo antes de ser publicado, já rendeu ao autor um adiantamento milionário, e olha que era a sua estréia na Literatura. Um livro que o consagrado ator Ian McKellen (o mago Gandalf de O Senhor dos Anéis e o Magneto da trilogia X-Men, entre outros memoráveis personagens), ao emprestar sua voz para o áudio-livro do best-seller, considerou uma das obras mais cativantes que recentemente já leu. Um livro com um êxito tamanho em vendas que o conhecido diretor Ridley Scott (Alien – O Oitavo Passageiro; Blade Runner; Gladiador; Hannibal) comprou seus direitos para levá-lo ao Cinema. O autor, ou melhor, a autora em questão, é a inglesa Michelle Paver, que recebeu um adiantamento de cinco milhões para escrever Irmão Lobo (Rocco, tradução de Domingos Demasi, 248 págs.) o primeiro livro da saga Crônicas das Trevas Antigas, formada por cinco volumes. É sua primeira incursão à literatura fantástica, conseguindo ser aclamada tanto pelo público como pela crítica especializada. O livro já vendeu mais de um milhão de exemplares em todo o mundo, um título de aventura que atrai jovens e adultos em mais de 35 idiomas. Michelle Paver já está sendo considerada a nova JK Rowling.

O seu Irmão Lobo transporta garoto, uma aventura que provará o leitor à Idade da Pedra, há uns o seu valor, inteligência e a capa6.000 anos, em uma Europa an- cidade de caçador em uma região tiga, paleolítica. Uma época que cheia de adversidades. Com uma narrativa precisa, o homem ainda era nômade e vivia em clãs, retirando da natu- Michelle Paver consegue desperreza somente o necessário. Onde tar a curiosidade de uma época a identidade tribal era superior e distante, logo após a idade do a magia estava atrelada às forças Gelo, mas bem antes do apareda criação. Uma história consi- cimento da agricultura. Em capíderada fantástica, que a autora tulos curtos, rápidas descrições, ressalta que não é mágica, e sim belos diálogos, dando até voz ao real, pois poderia ter ocorrido. Lobo, que ao seu modo, narra trePaver construiu sua história com chos da aventura, Paver faz desta sua experiência, vivida em uma história um épico com desafios floresta para dar autenticidade ancestrais e grandes perigos, uma aos seus personagens, e pesquisa: história sobre honra e respeito, “viajei para a Lapônia, Noruega, que diverte, ensina e delicia. Curiosidades onde dormi sobre pele de rena, Recentemente o diretor Ridprovei bagas cavadas debaixo da ley Scoot comterra e aprendi como carregar Uma busca impossível... prou os direitos de filmagem da fogo no rolo de Um herói... A jornada autora por quatro casca de bétuépica de um menino e milhões de dólala”. res. Segundo ele, A história um lobo “Irmão Lobo é Torak é um um livro encanjovem de 12 anos, órfão, que vive em uma flo- tador. Michele criou um mundo resta. Seu pai acabou de deixá-lo, que não vimos em nenhum filme. assassinado por um estranho urso Estamos encantados ao trabalhar gigante e maléfico, possuído por com ela neste projeto”. A produum demônio. Antes de morrer, ção está nas mãos de Erin Upson seu pai o faz jurar que encontra- e provavelmente as primeiras ceria A Montanha do Espírito do nas serão gravadas no próximo Mundo, para destruir o Urso que ano. Paver construiu sua história ameaçava destruir todos os clãs com sua experiência, vivida em das florestas como também todos os animais e poderia se tornar in- uma floresta para dar autentivencível até certa data, que seria cidade aos seus personagens, e no aparecimento da Lua de San- pesquisa: “viajei para a Lapônia, gue Vermelho no céu. Sozinho e Noruega, onde dormi sobre pele de rena, provei bagas cavadas longe de seu clã, Torak encontra debaixo da terra e aprendi como o seu animal guia, porém nem carregar fogo no rolo de casca de imaginaria que seria um lobo fi- bétula”. lhote, órfão como ele. Começa Michelle Paver nasceu no Maassim a missão desesperada do lawi, onde seu pai, sul-africano,

Divulgação

Entre Duas Mortes - instantâneos literários Alberti, Frederico (org). Belo Horizonte: independente, 2006

Publicado em dezembro de 2006, a obra tem edição bilíngue português/espanhol. São 8 autores, em sua maioria jornalistas e acadêmicos. Os textos - narrativas de até 150 palavras - giram em torno do tema Morte

O livro que já é sucesso de vendas dirigia um pequeno jornal e sua mãe, belga, escrevia uma coluna de fofocas semônias, estabelecendo-se em Wimbledon. Michelle sempre gostou e quis escrever, mas como acreditava que esta profissão não poderia sustentála, escolheu o Direito como carreira oficial. Em 1996, a morte de seu pai e a insatisfação profissional fizeram Michell e buscar algo que a fizesse mais feliz. Ela negociou um ano de licença no trabalho e partiu para uma longa viagem de pesquisa pelas Américas, África do Sul e Europa, que resultou no rascunho de seu primeiro livro.

Mínimos, múltiplos, comuns João Gilberto Noll. São Paulo: Francis, 2003 338 romances de até 130 palavras divididos em “cinco grandes conjuntos que pressupõem uma cronologia da criação: gênese, os elementos, as criaturas, o mundo, o retorno”. Prêmio ABL de ficção - 2004.

Os cem menores contos brasileiros do século Marcelino Freire (org). São Paulo: eraOdito, 2004 Fazendo uma paródia com o título do livro Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, organizado por Ítalo Moriconi, Marcelino Freire, que vem ganhando presença no cenário da literatura nacional e contemporânea, nos traz uma novidade. Neste livro Marcelino convidou cem autores brasileiros contemporâneos, novos e consagrados, para escreverem uma história inédita de até 50 letras (sem contar o título e a pontuação). O trabalho foi árduo, mas o resultado surpreendeu. No século XXI, das mensagens abreviadas da Internet, das senhas e dos códigos, a literatura nos mostra que pode se renovar e, acompanhando a velocidade dos tempos, em poucas letras nos revelar uma história

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Sobreviver à Guerra Uma seleção de livros sobre dor, esperança, angústia e solidariedade escritos por quem viveu o conflito nas cidades bombardeadas ou nos campos de concentração e de extermínio nazistas

JOSEP MARIA RUÉ/

Ida Fink, polonesa que revive a guerra no romance A viagem JOSEP MARIA RUÉ/

Semprun, escritor espanhol que escreveu sobre sua experiência em campo de concentração.

Anita C. De Mello Uma lista que reúna os livros mais emocionantes escritos por aqueles que viveram o horror da Segunda Guerra Mundial e depois o relataram começa, obrigatoriamente, com a obra de uma garota judia que não sobreviveu nem sequer pensou que um dia suas anotações seriam publicadas. O diário de Anne Frank (Record) – durante muito tempo editado por aqui com o título O diário de uma jovem – é, talvez, o mais conhecido dos testemunhos da barbárie nazista. Anne Frank (1929-1945), seus pais e a irmã, Margot, e mais quatro amigos da família, num total de oito pessoas, permaneceram quase dois anos escondidos no anexo secreto de um edifício comercial em Amsterdã. A família Frank, de origem alemã, deixara o país natal logo depois que Hitler assumiu o poder e a perseguição aos judeus se intensificou, no final da década de 30. Na Holanda, os Frank encontraram tranqüilidade, mas só por algum tempo. Na tentativa de evitar a deportação iminente, optaram pelo esconderijo, e não pela fuga. Após uma denúncia anônima, em agosto de 1944, foram presos e levados para Auschwitz. Anne e Margot tiveram de seguir pouco depois para Bergen-Belsen, onde morreriam de tifo duas semanas antes de o campo ser libertado por soldados britânicos. Seu diário foi encontrado pelo pai, Otto Frank, único sobrevivente dos oito habitantes do anexo secreto, assim que retornou de Auschwitz, em 1945. Em di-

versos depoimentos, o pai contou do seu espanto ao descobrir a face da filha que desconhecia: nas páginas manuscritas, havia observações sensíveis sobre o diaa-dia marcado por angústia e também por esperança. O diário, um presente de aniversário de 13 anos, pouco antes de se mudarem para o esconderijo, havia se transformado em amigo e confidente da garota, que o chamava de “Kitty”. Por iniciativa de Otto Frank, os papéis da filha chegaram pouco depois às mãos dos historiadores holandeses Jan Romein e Anie Romein-Verschoor. Logo o diário seria publicado, em 1947, e mereceria edições na Alemanha, na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Tornou-se ainda mais popular quando, nos anos 50, foi levado aos palcos e depois às telas do cinema em uma produção americana. Anne Frank é a vítima mais conhecida do nazismo: seu diário está traduzido hoje em mais de 70 idiomas. O anexo secreto é hoje a sede de um museu permanente dedicado a diversas atividades. Obras que se inspiraram em sua história ou que, de algum modo, a tangenciam, continuam a ser publicadas: recentemente, saíram edições brasileiras de O menino que amava Anne Frank, de Ellen Feldman (Record), romance que tem como personagem Peter van Pels, garoto que esteve no mesmo cativeiro; e de A família Frank que sobreviveu, de Gordon F. Sander (Jorge Zahar), jornalista que reconstitui a trajetória de outra parte da família. Se Anne Frank é a autora do relato mais conhecido, o judeu italiano Primo

Levi (1919-1987) é talvez o que alcançou Como Levi e Wiesel, outros sobrevimaior reconhecimento por parte da crítica ventes se dedicaram ao ofício de escrever devido à qualidade de sua obra, princi- e, invariavelmente, registraram suas mepalmente de dois livros que se tornaram mórias da guerra, algumas mais integrais, clássicos: É isto um homem? (Rocco) e A outras recriadas por meio da ficção. Jorge trégua (esgotado), ambos baseados na ex- Semprun (1923-), autor espanhol, memperiência como prisioneiro em Auschwitz, bro da Resistência francesa, foi deportapara onde ele, então um jovem químico, do de Paris em 1943 para Buchenwald, havia sido levado em 1944 após partici- campo nazista na Alemanha, e sobre esse par de um grupo de resistência ao fascis- período escreveu diversos livros, como mo na Itália de Mussolini. Levi esteve no a ficção A longa viagem (esgotado) e as chamado campo da morte por 11 meses memórias A escrita ou a vida (Companhia e sobreviveu por alguns fatores, entre os das Letras), apenas para citar dois livros quais o fato de compreender um pouco do de uma obra vasta atravessada pelo tema idioma alemão e por do Holocausto. Os livros mais ter sido considerado Relatos de dor, anútil trabalhando no emocionantes escritos gústia, esperança e laboratório. É isto um solidariedade durante por aqueles que homem? foi publicaa Segunda Guerra podo logo após a guerra, ser encontrados viveram o horror da dem mas Levi se tornaria em obras de diversos conhecido somente na autores, em sua maioria Segunda Guerra década de 60. de origem judaica, que As circunstâncias de sua morte, após descrevem não somente a sobrevivência cair da escada de sua casa, fazem alguns nos campos de concentração e de exterbiógrafos acreditarem na hipótese de sui- mínio, como também a perseguição que cídio. “Primo Levi morreu em Auschwitz enfrentaram e a dificuldade da vida nos 40 anos depois”, disse Elie Wiesel (1928- guetos de cidades dominadas pelo nazis), judeu romeno naturalizado americano, mo em toda a Europa. Para citar algumas também sobrevivente dos campos de con- obras, de ficção e de memórias, que mecentração, vencedor do Nobel da Paz em recem destaque e tiveram tradução no 1986 pelo conjunto de sua obra, que in- Brasil: A viagem (Imago), romance da clui outro clássico da chamada literatura polonesa Ida Fink; Os diários de Victor de testemunho, A noite (Ediouro). A pri- Klemperer: testemunho clandestino de meira versão continha 900 páginas; a que um judeu na Alemanha nazista (Compaprevaleceu tem pouco mais de 100, e em nhia das Letras), do alemão Victor Klemseu trecho mais dramático Wiesel relata a perer; Uma vida interrompida: os diários morte do pai, também prisioneiro. de Etty Hillesum – 1941 a 1943 (Record),

da holandesa Etty Hillesum; Inverno na seus livros foram adaptados para o cinemanhã – Uma jovem no gueto de Varsó- ma. Como a do judeu polonês Wladyslaw via (Zahar), da polonesa Janina Bauman; Szpilman (1911-2000), pianista clássiPaisagens da memória: autobiografia de co de uma rádio de Varsóvia quando seu uma sobrevivente do Holocausto (Edito- país é invadido pelas tropas nazistas, em ra 34), da austríaca Ruth Klüger; Diário 1939. Quando sua família é deportada, do gueto (Perspectiva), do polonês Janusz ele consegue escapar por acaso. EscondeKorczak. se no gueto de Varsóvia e, quando este é Como classificar, entre tantos testemu- desocupado, transforma em esconderijo nhos, obras de ficção como a do húngaro edifícios abandonados da cidade duranImre Kertész (1929-), Nobel de Literatura te mais de dois anos. É salvo, ao final de de 2002? Judeu que também esteve em uma combinação de sorte e astúcia, por Auschwitz, Kertész publicou livros como um oficial nazista que também gostava de Sem destino (Planeta), cuja história de um música clássica. rapaz de 15 anos que passa por Auschwitz, Spzilman escreveu suas memórias Buchenwald e Zeitz lembra bastante a pouco depois do fim da guerra. O livro foi sua, mas ele costuma desvincular ficção publicado em 1946 com o título. e biografia. Na ponta oposta, Anne Frank Founds há casos como o da ucraniana Irene Nemirovsky (1903-1942), que já era escritora quando foi capturada num vilarejo francês e levada para Auschwitz. Seis décadas depois de sua morte, a família descobriu que o pequeno caderno escrito com letras miúdas por ela abandonado era Suíte francesa (Companhia das Letras), romance que se tornou sucesso editorial na Europa nos últimos anos. Trata-se de uma escritora cuja obra sobressai pelas circunstâncias em que escreveu a história, a França recémocupada. Algumas histórias de sobreviventes se tornaram especialmente conhecidas depois que Anne Frank, em foto célebre de 1942

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