Livro de trajetórias - projeto rascunho

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Trajetórias Livro de

Livro de Trajetórias

Histórias contadas e recontadas a partir das experiências de trabalho dos profissionais da UGP de Prevenção de Violências com adolescentes e jovens na cidade de Sobral- Ce.

LIVRO DE TRAJETÓRIAS. 2022. UNIDADE DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS DE PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIAS. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. PRODUÇÃO DE TEXTOS PLANEJAMENTO VISUAL PROJETO GRÁFICO, DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO ILUSTRAÇÕES BRUNA PEREIRA FOTOGRAFIAS THAMILA SANTOS REVISÃO MARIANA LOURENÇO, IVO DUARTE E SABRINA SÁ EDITORAÇÃO CLARA DI LERNINA E RAFAEL SANTOS BRUNA PEREIRA E THAMILA SANTOS

Trajetórias Livro de

PREFÁCIO

O que é o livro de trajetórias?

CAPÍTULO 1: DAS TRAJETÓRIAS QUE SEGUEM LUTANDO

História do Denis: “Ele é muito forte”: caminhos dos (des)afetos da trajetória de um jovem periférico residente do território I em Sobral- Ceará.

História da Rosa: Articulação de rede: meio fundamental para o cuidado integral

História do B-boy: O b-boy que tem vida(s)

História da Aurora: Aurora: Uma trajetória atravessada por mulheres

História da Maria Helena

História do Francisco Maycon: Os trajetos podem mudar quando a política pública chega e acompanha!

História da Glória: ATEMPORAL

CAPÍTULO 2: DÁ PRA FAZER NA COLETIVIDADE, NA MANHA E COM AFETO: SOMOS PROFISSIONAIS DE PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIAS!

História da Thaís

História do Diego

S U M Á R I O
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CAPÍTULO 3: A FORÇA DO COLETIVO PARA A PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIAS. Aniversário da Vila União Favela é lugar de paz, cultura, esporte e cidadania SIM! : a importância da comunicação periférica. CAPÍTULO 4: TECNOLOGIAS PARA PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIAS Comitê territorial Jogo de trajetórias CAPÍTULO 5: VIRANDO O JOGO POSFÁCIO CAPÍTULO 6: CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA ORGANIZACIONAL AFETUOSA, COLABORATIVA E FÉRTIL PARA A PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIAS Wellington Jogo de trajetórias No corpo e na trajetória
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CAPÍTULO

Das trajetórias que seguem lutando

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Ele é muito forte”: caminhos dos (des)afetos da trajetória de um jovem periférico residente do território I em Sobral- Ceará.

A história a seguir é de um jovem do território I, do município de Sobral. A primeira coisa que gostaríamos de destacar sobre ele é que ele tem 16 anos e escolhemos chamá-lo de Dênis para preservar sua imagem, já que o contexto de conflitualidade dos bairros sobralenses é uma evidência sensível. Estes são fragmentos de histórias narradas pela Articuladora da Juventude Jamile Crispim e pelo Facilitador Comunitário Rafael Santos, olhares de quem viu, sentiu e ouviu o jovem. O texto terá trechos escritos tanto na primeira pessoa do plural quanto no singular, como expressão de valorização do vínculo entre estes profissionais e o jovem.

Essa história iniciou com a territorialização da Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção de Violências (UGP-PV) Território I, região com um dos maiores indicadores de vulnerabilizações do município de Sobral-CE. A trajetória do jovem Dênis, ainda vivo, inicia semelhante às narrativas de violência: com o abandono! Ainda criança foi abandonado pelo pai biológico, que tem um histórico de uso abusivo de álcool na sua caminhada. Como muitos dos jovens periféricos, o abandono paterno e a ausência do nome do pai no registro fazem parte da sua trajetória.

Ouvimos, desde a territorialização, que Dênis é um problema. Mas o que esse moleque passou não foi brincadeira. Sua mãe biológica, a qual tinha um vínculo muito forte, foi vítima de assassinato cometido pelo companheiro, o qual o jovem ainda carrega o sentimento de vingança do padrasto.

Após essa tragédia familiar, foi acolhido por uma tia, chamada Carla. O “cuidado” e apoio era atravessado de negligências, o que proporcionou a dona Rita, vizinha, tomar a frente e exercer as funções básicas da parentalidade como: nutrir, conter, orientar e dar afeto. Carlos, o filho da dona Rita, tem um vínculo forte com o Dênis e é um dos poucos adultos que o jovem respeita, admira e escuta. Na relação familiar o vínculo seria irmão de criação, porém Dênis o considera como tio. Durante a sua trajetória, Carlos, teve envolvimento com o tráfico e já passou pelo sistema penitenciário. Atualmente deu um tempo nos “ corres ” , frequenta uma igreja evangélica e tem um empreendimento no território. Diante das necessidades de sobrevivência, o tráfico surge como uma oportunidade para muitos jovens periféricos, mesmo fugaz e mortífero. Não foi diferente com o Dênis e após a realização dos “ corres ” iniciaram os conflitos familiares com a dona Rita e com outros integrantes familiares.

A vinculação da equipe territorial da UGP - PV com o jovem foi construída principalmente pela presença cotidiana dos Articuladores de Juventude no território e pela oferta de novas possibilidades que a equipe identificava e costurava com ele. Sejam atividades como torneios de pipa, bolinha de gude e futebol, assim como cinema, oficinas de grafite e de fotografia. A relação dele com o território é bem interessante, pois foi através do espaço afetivo que pudemos nos aproximar e conhecer melhor sua trajetória.

Por ser um adolescente periférico e carregar no corpo alguns marcadores, seu processo de desenvolvimento foi perpassado por algumas situações de vulnerabilização.

O uso precoce de substâncias psicoativas surge na sua trajetória, e são episódios que vão de uso recreativo a uso prejudicial. O trabalho infantil também é uma vulnerabilização que perpassa o seu cotidiano, seja cortando capim para alimentar os animais de criação de vizinhos ou cortando chapéu de palha, como meio de conseguir dinheiro.

O corte de chapéu é uma prática muito comum nos territórios periféricos de Sobral, em que alguns atravessadores pagam valores irrisórios por milheiro cortado. Percebíamos, no processo de vinculação com o jovem, que não rolava fazer visita domiciliar na casa da tiamãe. Foi daí que, de uma forma intuitiva, nos encontrávamos próximo à caixa d’água. Faça chuva ou faça sol, o que mais a gente vê nas quebradas é a galera jogando bila, futebol e soltando pipa. Foi aí que percebemos que se quiséssemos chamar atenção do Dênis, tínhamos que fazer as visitas durante as atividades, ou melhor, teríamos que pensar como articular essas atividades com a vida real do adolescente.

Com a proximidade e a vinculação, foram realizadas as articulações com as políticas públicas para cuidar do jovem. Na época rolava na cidade um projeto municipal chamado Jovem Guarda, curso vinculado à Secretaria de Segurança e Cidadania (SESEC) e que fazia parte do Programa Ocupa Juventude da prefeitura de Sobral. Essa foi uma oportunidade desafiadora para Dênis. O desafio foi desde a entrada até a permanência. Inicialmente o empecilho foi conseguir abrir uma conta no banco, instituições que estão completamente distantes da realidade das pessoas que vivem no corpo as marcas da desigualdade social. O fato do jovem não ser registrado pelo pai biológico, da sua mãe ter sido assassinada e por não ter ninguém legalmente responsável, foi um grande empecilho para a abertura da conta. Houve um processo de sensibilização e reivindicação da coordenação da UGP-PV com o setor jurídico da SESEC para que encontrássemos alternativas que garantisse ao jovem o acesso à bolsa.

Os cursos ofertados pela gestão pública precisam ser pautados e construídos como estratégia de desvio na trajetória de quem vive situações de vulnerabilidade e não mais uma porta fechada que impede o acesso dos jovens periféricos à cidade e às políticas públicas.

Após essa batalha burocrática vencida, o outro desafio era do cotidiano - para quem mora na periferia - que é a distância da residência ao local do curso. Geograficamente se localizam nos extremos da cidade. Apesar da gratuidade no Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para os cursistas, o empecilho principal era o deslocamento da sua casa até a estação do VLT, proporcionando uma exposição e um potencial risco de ser vítima de homicídio por outro jovem de um bairro rival.

O distanciamento ou a proximidade dos familiares, profissionais das políticas públicas e da comunidade é condição determinante para o aumento ou diminuição das situações de vulnerabilidade do Dênis. Alguns dos efeitos do distanciamento foram o aumento do ódio do padrasto e o desejo de vingança pelo assassinato da mãe, assim como a entrada no tráfico. O efeito da aproximação familiar foi o fortalecimento da relação com o tio Carlos, que não desistiu dele, possibilitou, através da suas experiências, o afastamento dos “ corres ” , e conseguiu a vaga para ele cortar chapéu no bairro. Outras consequências da aproximação, mediação e sensibilização da equipe de território da UGP-PV, além da entrada no curso do Jovem Guarda, foi a manifestação de desejo em retornar para a escola, porém devido às questões de conflito territorial não foi possível.

O afeto aqui é demarcado como ferramenta mediadora das relações familiares e comunitárias, assim como método de trabalho - dos profissionais das políticas públicas territoriais - para a construção e fortalecimento de vínculos.

A política pública customizada é algo imprescindível para o tempo em que vivemos, pois fala de proximidade, criação de vínculos, conhecer histórias de vidas, de não levar nada pronto e sim de construir junto e em conjunto.

A definição deste parágrafo é para mostrar a importância das políticas sociais e os afetos caminharem juntos, para fazer a política pública chegar com mais facilidade e de forma mais acolhedora, fazendo com que os adolescentes consigam acessar os seus direitos e serem olhados de formas sensíveis. Aprendemos ao longo desse tempo, como trabalhadores das políticas de prevenção de violências, que precisamos fazer coisas que inicialmente não fazem sentido, mas que em outro momento apresentam-se como resultado de impacto quali e quantitativo.

Precisamos ser táticos e estratégicos, igual no futebol. Sempre visualizei Dênis como um cara muito forte, foi ignorado pela família sanguínea, foi ignorado em vários momentos pela Política Pública e hoje continua vivo, firme, está com uma companheira, fazendo os corres que gosta e que tem ajudado ele e a família a conseguir sustento.

Trabalhar de forma afetiva, estudar as trajetórias, vincular-se aos familiares e construir formas de aproximação, através de atividades construídas em conjunto, são estratégias que possibilitam um acompanhamento de forma mais atrativa. Para compreender os benefícios atribuídos a essas práticas é preciso pensar, construir e analisar as políticas públicas de outros lugares, pois elas são essenciais para o desenvolvimento humano, formação da cidadania e promoção de igualdades. Nesse sentido, para potencializar a compreensão do contexto sócioafetivo do jovem Dênis, apresentamos a seguir o Ecomapa, enquanto recurso técnico de análise das suas relações familiares, comunitárias e com as políticas públicas:

Ecomapa

Legenda

Hárelação,porémcompoucovínculo Relaçãocomvinculoforte Relaçãorompida Relaçãodistante Relaçãoconflituosa
A POLÍTICA PÚBLICA CUSTOMIZADA É ALGO IMPRESCINDIVEL PARA O TEMPO EM QUE VIVEMOS, POIS FALA DE APROXIMIDADE, CRIAÇÃO DE VÍNCULOS, CONHECER HISTÓRIAS DE VIDA, DE NÃO LEVAR NADA PRONTO E SIM DE CONSTRUIR JUNTO E EM CONJUNTO.

Esta história foi escrita por:

Rafael Silva: Preto, nascido, crescido e criado na periferia, instruído e formado no conhecimento comunitário.

Jamile Crispim: Articuladora da juventude e técnica em futsal feminino.

Gênesis Nunes: Preto, Nordestino, Psicólogo, acredita na potência dos encontros e compreende que o território periférico é a contra mola que resiste para existir.

Thamila Santos: Artista visual e uma psicóloga latino-americana que gosta de invenção.

Articulação de rede: meio fundamental para o cuidado integral

Rosa tem 25 anos e é mãe solo de duas crianças, uma menina chamada Rafaela e um menino chamado Ruan, são moradores de um bairro pobre e periférico de Sobral. Sua irmã foi assassinada no ano de 2018, e assim nos aproximamos de Rosa através de um estudo de caso sobre sua irmã.

Como forma de aproximação da jovem nós, Articuladores de Juventude, chegamos com a oferta dos cursos do Ocupa Juventude e percebemos que a Rosa ainda estava muito abalada com a morte da irmã. Pois elas tinham um vínculo muito forte, afinal a irmã era menor de idade e já tinha morado com ela, então os sentimentos de responsabilidade e companheirismo da Rosa para com a irmã eram muito fortes. Mas apesar de toda a dor ela tinha a consciência de que ainda tinha os filhos para cuidar, e relatava que era justamente

por eles que tinha que se manter forte. Mesmo com as dificuldades que iria enfrentar ela aceitou fazer a inscrição, e o curso escolhido por Rosa foi de Costureira Industrial e Vestuário, por meio dessa articulação conseguimos uma maior proximidade com ela.

Nas primeiras visitas percebíamos que Rosa quase não falava, era muito reservada, não sorria e nem nos olhava nos olhos. Nós tentávamos de tudo para fazer as conversas fluírem e ela conseguir se abrir um pouco conosco. Perguntávamos pelos filhos e como eles estavam na escola, como ela estava fazendo para ir ao curso, pois era em outro bairro e ficava distante para ela ir caminhando, e ainda tinha limitação de circulação de território devido a morte de sua irmã. Apesar dos nossos esforços, sentíamos a Rosa travada e sem tanta confiança na gente, bem como nela mesma.

Com o passar do tempo conseguimos fazer articulações com as redes de saúde, educação e assistência social e assim começamos a ver avanços na nossa relação. Rosa já estava mais solta e mostrava-se uma pessoa extremamente falante, alegre e mais segura de si. Ela sorria e nos contava o quanto estava feliz com o curso e a nova perspectiva de vida. Falava como tinha se identificado com o ofício de costureira, sobre seu destaque na turma sendo considerada, pela professora, uma das melhores alunas e conseguia se ver levando esse ofício para a vida. Além do ótimo desempenho, ela nos contava que havia feito muitas amizades, onde conversava com as colegas de curso não somente no período das aulas, mas também pelas redes sociais trazendo essas amizades para a vida. Era possível ver a felicidade estampada no sorriso que Rosa nos dava. Era notório o quanto aquele espaço havia sido terapêutico ajudando-a a se erguer e conseguir viver mesmo com a ausência da irmã.

Após algumas visitas domiciliares percebemos que Rosa se sentia mais confiante para nos relatar como descobriu a morte da irmã e como se sentia em relação a isso. Nos contou que quando a irmã veio a óbito já não moravam mais juntas, pois estava morando

com uma amiga, e apesar das várias insistências de Rosa para que ela voltasse a morar consigo, não teve resultados. No fatídico dia, Rosa conta que a mandou várias mensagens, mas ela não lhe respondia, o que já estava a deixando agoniada.

Quando ela recebeu uma foto e um vídeo em seu celular que aparentemente era de sua irmã morta, Rosa se desesperou e foi procurá-la na casa da amiga com a qual a irmã morava. Quando Rosa chegou na casa e não a encontrou, não lhe restou mais dúvidas de quem era aquela foto. Ela soube que havia perdido sua companheira e amiga. Rosa não conseguia acreditar, não queria aceitar, o que ela iria dizer aos filhos? O que iria dizer a filha quando perguntasse pela tia para trançar seus cabelos? Acredito que por isso Rosa bloqueou os acontecimentos seguintes, pois ela nos contou que só se lembra de estar sentada no sofá de seu apartamento com várias pessoas chorando em volta de si, e talvez tenha sido ali que sua ficha caiu, que não iria mais ver sua irmãzinha querida. E ali, nos contando aquela história, ela se permitiu chorar, se permitiu confiar em nós.

Ter conseguido chegar nessa jovem me mostra que o nosso trabalho faz sim a diferença, pois ouvir de Rosa o quanto ela é grata pela nossa presença em sua vida e pelo acompanhamento que lhe damos em nossas estratégia de cuidado, me faz sentir que estamos seguindo numa construção de uma política sensível que dialoga com a juventude.

Esta história foi escrita por:

Benilson - Facilitador de círculo de diálogo comunitário da Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção de Violências.

Bruna Pereira - Articuladora de Juventude da Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção de Violências.

Mariana Lourenço Gerente da Sala Intersetorial de informações Estratégicas e Laboratório sobre Violência Cidadania e Cultura de Paz da Unidade de Gerenciamento de Projeto de Prevenção de Violências.

Savanya Shell Gerente da Célula de Estudos de Mortes Violentas da Unidade de Gerenciamento de Projeto de Prevenção de Violências.

ELA SORRIA E NOS CONTAVA O QUANTO ESTAVA FELIZ COM O CURSO E A NOVA PERSPECTIVA DE VIDA, FALAVA COMO TINHA SE IDENTIFICADO COM O OFÍCIO DE COSTUREIRA E SOBRE SEU DESTAQUE NA TURMA SENDO CONSIDERADA, PELA PROFESSORA, UMA DAS MELHORES ALUNAS E CONSEGUIA SE VER LEVANDO ESSE OFÍCIO PARA A VIDA.

O

b-boy que tem vida(s)

Eu… eu quero que você conheça a história do bboy. Ele poderia ser um dos jovens que eu acompanho no meu trabalho, mas no fim, no fim… eu fui um dos jovens que ele acompanha. Essa história também poderia ser a minha própria, mas não é, é a história do b-boy. A história de uma pessoa que nunca conheceu o que é prevenção de violências na sua própria vida, mas que garantiu isso pra vida de muita gente. É… essa história poderia ser somente atravessada por violências, mas no fim do dia essa história é sobre as vidas que tem outras vidas caminhando juntas.

O b-boy tem uma vida que sempre experimentou as coisas ruins na pele, eu já disse pra você que não teve prevenção de violência na vida dele, né? Pois é, não houve. Só houve violência atrás de violência. B-boy é um cara qualquer da nossa cidade, nasceu, cresceu, sobreviveu e conheceu o que é sofrer violência aqui. Também foi aqui que conheceu o que é não ser violento, mas isso só depois que conheceu bem de perto os diferentes rostos da dor. Que merda, né? Por que teve que ter toda essa violência antes?

Essa é uma história toda furada de bala, pra todos os lados. Em direção ao corpo do bboy, balas proferidas por ele contra outros corpos. Essa é uma história sobre estar vivo. Quando o b-boy teve contato com trabalhos culturais, o rap, o break e o hip-hop, tudo mudou. Foi aqui que ele atravessou a minha vida, e quando o b-boy te atravessa, nada fica mais no mesmo lugar. Foi assim comigo, eu diria que ele foi a pedra que desviou o meu rio, essa pedra é ele e o hip-hop, quase que duas pedras juntas, e elas mudam toda a trajetória do meu rio, opa digo, da minha vida.

Quando a gente se conheceu ele me apresentou o hip-hop de cabeça, a gente vivia aquilo o tempo todo, dançava em todo canto. A gente respirava aquilo, ou seja, a gente respirava meia fedida! É foda, não tem uma meia e uma sala de treino que não fica com aquele cheiro!! E foi aí que fomos caminhando, ele tava em outra trajetória já, por mais que seguisse sendo perseguido por violências, tinha entendido que as violências que viveu não eram o que queria levar. Ele tava treinando junto com um cara para quem já tinha levantado faca no passado, sabe? A dança mudou a vida dele, que mudou a minha, que vou mudando a de outros pivetes, que também mudam a de outros. A gente tem um pacto, sem nem precisar falar, mas é um pacto.

Mas teve um dia, a gente tava treinando num bairro muito incrível daqui, pivetada correndo na rua, e tem uma praça massa lá, uma galera tava na resenha lá na praça, e a gente treinando numa casa que dava bem pra rua. Daí dançando de boa, rindo e de repente aquele barulho intenso daquelas armas de choque cruzando o ar. Parece até que ficou tudo frio por um segundo. Quando a gente foi ver, a guarda tava fazendo uma abordagem lá na praça e um dos meninos foi atacado com uma dessas armas de choque.

Tava uma gritaria, barulho de sirene pra todo lado, a comunidade em peso cobrando os guardas. O que eles pensam pra fazer isso, cara? eu não sei, eu não sei.

Só sei que a gente foi atravessado de novo por isso, saca? Mano a gente tava treinando, os menino rindo na rua mas de repente, não tavam mais. E se eu não tivesse dançando naquele momento e sim conversando na praça? Já me peguei perguntando: o que seria da minha vida se não tivesse sido atravessada pela vida do b-boy? Será que eu seria uma foto na estante da casa da mãe? Porra, num é isso que a gente quer. A gente quer viver.

Tipo o dia que a gente saiu daqui juntos e foi lá pra uma área rural, um vilarejo das antigas, lá pros lados da estrada de terra. Lá a gente foi pintar uma casa, na verdade era um cômodo só e um banheiro fora, mas era uma casa que tinha relação com a família do bboy. Foi nesse dia aí que ele me contou mais da vida dele, de seus medos e frustrações.

Desse dia eu só lembro do cheiro de terra depois da chuva. Ah! e da zuada da chuva quando batia na telha de cerâmica. Esse dia eu entendi um pouco mais do que era acompanhar juventudes, sem nem saber que tava ali, acompanhando e sendo acompanhado. Das coisas que aprendi com a vida, assim como o b-boy aprendeu, a de viver tem sido a mais doida, e é nisso que a gente vai se encontrando.

História contada por Moisés Sousa Lima, dentre muitas faces, um b-boy. Ouvida, recontada e imaginada por Clara di Lernia Santos

A DANÇA MUDOU A VIDA DELE, QUE MUDOU A MINHA, QUE VOU MUDANDO A DE OUTROS PIVETES, QUE TAMBÉM MUDAM A DE OUTROS, A GENTE TEM UM PACTO, SEM NEM PRECISAR FALAR, MAS É UM PACTO.

Aurora: Uma trajetóriaatravessada pormulheres

Meu nome é Aurora , tenho 14 anos, ex-moradora de um dos bairros periféricos de Sobral, mas minha família continua morando lá. Sou uma jovem que luta incansavelmente pela minha liberdade e independência. Me incomoda muito a vida que minha mãe leva com meus irmãos e meu padrasto. A gente não se dá muito bem.

Sou apaixonada pelos meus irmãos mais novos. Essa é minha maior SAU DA DE. Já tive vontade de sequestrar um deles e trazer para morar comigo no outro bairro. Gosto de poesia e tenho muitas mulheres como referência na cena poética de Sobral.

Sou a primeira mulher a conquistar muitos espaços por vezes dominados por homens na cena.

MULHERES

GOSTO DE POESIA E TENHO MUITAS
COMO REFERÊNCIA NA CENA POÉTICA DE SOBRAL.

Protagonizei junto com uma galera massa projetos muitos legais no grupo de teatro. Eu encenava, levava risos e trocava abraços, transbordava afetos. Isso aliviava a minha dor. Dores que muitas vezes eu quis cortar da minha vida. Neste período eu era acompanhada pela escola com o projeto Eu Posso te Ouvir e a UGP-PV.

Eu não tinha noção da gravidade sobre esse negócio de conflito territorial. Mas nessa história eu vi uma amiga ir embora sem ter passagem de volta.

Durante a pandemia não consegui colocar minha poesia no mundo e acabei colocando meu corpo no mundo. Minha força está nas rimas, minha potência vem das palavras, mas elas insistiam em não sair.

Então eu saí.

Busquei abrigo em outros bairros, em outras casas. Eu fecho com quem fecha comigo. Atravessada por dúvidas e certezas eu mergulhei em experimentações que chamei de liberdade e amadurecimento. Disse pra mim mesma que eu cresci. Ou será que me disseram?

Eu vi o perigo de perto. Cresci em um bairro e estava no território adversário.

No dia do meu aniversário de 14 anos, meu presente foi ser “empescoçada” no bairro onde cresci, depois de ser dada como desaparecida. Minha mãe e eu temos uma relação forte de muito conflito, confronto, reconhecimento, afeto, amor... E nessa intensidade vi meu nome por todos os cantos das redes e mídias.

PROTAGONIZEI JUNTO COM UMA GALERA MASSA PROJETOS MUITOS LEGAIS NO GRUPO DE TEATRO. EU ENCENAVA, LEVAVA RISOS E TROCAVA ABRAÇOS, TRANSBORDAVA AFETOS.

Nessa hora uma mana me acolheu. Acredito que pelo fato das nossas histórias se atravessarem. Já era a terceira ou quarta casa que eu ficava depois que saí da casa da minha mãe. A UGP-PV continuava por perto com o Articulador da Juventude me acompanhando. Passei uns dois meses nessa casa até que tive conflitos com essa pessoa e isso fez com que eu não pudesse ficar mais lá. Fui para outra casa. Outra mulher me acolheu por perceber, mais uma vez, que as nossas trajetórias se atravessam.

O filho dela não queria que eu ficasse lá. Depois disso, rolou uma articulação com o Conselho Tutelar e o CREAS para que fosse para um abrigo, um lugar de apoio, mas testei positivo para o COVID19. Fiz outro teste para confirmar se estava curada e, aí sim, ir pra esse abrigo. Nessa época a saudade já estava grande e, finalmente, pude ver minha família depois de tanto tempo longe. Num encontro articulado pelo conselho, CREAS e a UGP em parceria com a educação, vi minha mãe numa escola. Chorei, chorei muito… Minha mãe também.

Dias depois também pude ver meus irmãos. Combinamos esse encontro porque era provável que eu fosse para Fortaleza. Estavam a procura de um lugar seguro para mim até que minha família tivesse uma alternativa de onde morar, pois para o bairro onde minha família mora eu não podia mais voltar. Esse encontro foi na escola onde eu estudava.

Brinquei, brinquei muito com meus irmãos. Foi muito bom! Não deu certo a ida para Fortaleza. Depois disso fui ao posto de saúde conversar com o Conselho, a UGP e o CREAS. A opção era ir para o abrigo de crianças e adolescentes do município. Fiquei lá uns dias e fui embora por conta própria. Voltei para o bairro onde me abrigava e lá fiz acordos por conta desse retorno. Me envolvi com uma pessoa. Me envolvi com várias pessoas.

Tomei anticoncepcional. Sangrei por muito tempo.

Conheci meu namorado, mas continuei me envolvendo com outras pessoas. Aí descobri que estava grávida. Não podia seguir a mesma trajetória da minha mãe! Não podia colocar um filho no mundo e repetir essa história.

Não tenho estrutura pra criar uma criança. Sumi por uns dias.

Senti d o r e s Pedi ajuda Sumi de novo

E agora não sei onde estou.

Onde quero estar? Que lugar quero ocupar neste mundo? Qual meu próximo passo?

Facilitadora Comunitária

A história dela é muito forte. E não é o único caso que a gente acompanha. Temos muitos casos fortíssimos. Me sinto impotente. Como cuidar das situações dela e da família?

Esgotamos todas as possibilidades?

As políticas não estão dando conta! E quando “dão conta” é outra temporalidade, não é pra agora.

Os setores têm seu tempo. Eu senti medo que ela fosse assassinada. Eu vibrava a cada conquista, a cada etapa.

Conseguimos a escola para que ela encontrasse a família, deu certo o cadastro para recebimento da cesta básica, os testes de covid. Conquistas! Às vezes, me senti sozinha. Às vezes, sentia os parceiros próximos.

Eu ia dormir pensando na Aurora. Aprendi que o processo também é resultado. Não vamos solucionar os problemas das pessoas.

Enquanto estivermos fazendo plano de cuidado, trabalhando, isso também é resultado.

Articuladora da Juventude

Eu fiquei muito feliz, quando a Facilitadora Comunitária pediu para eu visitar a mãe da Aurora, dona Antônia. Porque eu iria voltar a acompanhar a família de alguma forma. Mas infelizmente depois da

última visita que fiz onde ela conta que sofreu ameaça dos próprios pivetes do bairro por conta das ações da filha, vimos que seria mais viável eu me afastar. E depois de tanta expectativa da dona Antônia em mim, pra eu ir lá dar uma atenção maior, eu não soube explicar como iria ter que me afastar novamente.

Dona Antônia me disse que se sente muito à vontade conversando com outra mulher. Fiquei feliz de acompanhar a Aurora Tenho admiração por ela! Mulher cabeça aberta. Sua potência é transcrita em versos e eu sempre disse isso a ela. Customizei um caderninho pra ela colocar suas poesias no papel, mas tinham outros elementos que estavam ocupando sua mente.

Articulador da Juventude

Fiquei com medo de, a qualquer momento, perdê-la.

Teve dia que eu achava que estava dando murro em ponta de faca.

Em outros momentos achei que a mãe estava se saindo e deixando Aurora em nossas mãos.

Eu percebo que Aurora tem vínculo forte com a gente Fiquei com medo quando ela foi para o abrigo do município. As coisas deram uma virada de ponta cabeça. Eu adoeci. Tive ansiedade, senti dores. Que passos a gente pode dar? Também me senti só. Tenho um sentimento de frustração e ao mesmo tempo de alegria.

Esta história foi escrita por:

Diego Clementino: Articulador da Juventude de um dos bairros do município de Sobral.

Bruna Lopes: Psicóloga e Facilitadora Comunitária de um dos bairros de Sobral.

Cacheada Santos: Articuladora da Juventude de um dos bairros do município de Sobral.

Hortência Veras: Coordenadora do eixo ações territoriais da UGP-PV

Maria Helena

Foi onde a UGP-PV ofereceu um curso do Ocupa Juventude, de técnico em pizzaiolo. Helena se formou no curso e conseguiu um emprego de carteira assinada na Pizzaria.

Os trajetos podem mudar quando a política pública chega e acompanha!

Quando começamos a levar atividades, como cines, os jovens colaram mais próximo e comecei a criar um vínculo de confiança e liberdade pra falar sobre quaisquer assuntos comigo.

O convenci a beber um pouco de água e começamos a falar de sonhos, realidades e o quanto ele queria ser um pai foda.

ATEMPORAL

algo que acontece em todo e qualquer lugar Preste muita atenção e amplie sua visão com o que eu vou lhe contar.

abandono paterno nunca foi algo normal

dois jovens se conheceram na festa de carnaval. Desse relacionamento, uma gravidez surgiu

o pai ao descobrir, meteu o pé e sumiu. A mãe morava em convento, mas quis continuar “Vou contar tudo pra Madre, eu consigo sustentar!”

a madre ao saber, expulsou nossa guerreira Que pegou suas coisas e saiu sem direção nas ruas de Fortaleza. Depois dessa cena triste, com muita luta deu certo!

perrengue foi passando e os amigos ajudando, lhe dando apoio e teto. A criança então nasceu e teve nome de Glória. Glória a Deus Oxalá. Essa menina é uma vitória! Viveu no Bom Jardim e lembra da situação, Com vista para o tráfico e prostituição. Por isso, vivia presa e quase não saía Sua mãe se preocupava com o que aconteceria. Ao crescer ela sentiu uma vontade de voar, Vendeu todas suas coisas, pegou a sua mochila e decidiu viajar. Ficou maravilhada com a obra do criador

É
O
E
E
E
O
Era mesmo muito bela a paisagem do exterior. O dinheiro acabou e ela voltou pro Brasil. Trabalhou com educação, profissional na função e isso todo mundo viu. Há um tempo descobriu e até relatou pra mim: A Glória está à espera, dentro da barriga dela, de um pequeno ‘culumin’. É o círculo da vida e não tem nada haver com sorte! Mesmo que esteja sozinha, acredite e seja forte. Não duvide, voe alto, veja a sua competência Ter coragem também é um fator muito importante em Prevenção de Violência! História contada por Glória Ribeiro e escrita por Sabrina Sa, jovem preta, periférica, rapper e poetisa marginal.
Capítulo 2: Dá pra fazer na coletividade, na manha e com afeto: somos profissionais de prevenção de violências!

Gestores conseguem se

as

das

conectar com
histórias
pessoas?

Quando

a justiça vai se importar com os negros e pobres da periferia, como se importam com os brancos e ricos?

Cara ou Coroa! As duas faces de uma moeda Minhas percepções enquanto Articulador de Juventude.

De início, no nosso trabalho de territorialização não sabia muito bem o que estava realizando e tinha algumas dificuldades de me ver como Articulador de Juventude, por morar no mesmo bairro que iria desempenhar esse papel de Política Pública. Se passaram alguns meses e eu ainda tinha algumas dificuldades de realização das visitas domiciliares, inseguranças bestas, por não ser nascido aqui no Ceará, ou medo de cometer alguma gafe com algum dos jovens ou famílias que nos recebiam.

Começamos a fazer acompanhamento de alguns jovens dentro das estratificações de vulnerabilização graves e gravíssimas adotadas pela Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção a Violência, a UGP-PV.

Tinha medo de me vincular com esses jovens porque os mesmos marcadores sociais deles eram os meus também, a única diferença é que eu estava do lado de cá como condutor de uma política pública.

Creio que o sentimento de medo e impotência esteve comigo em vários momentos da minha trajetória como articulador no território. Mas, isso nunca foi um fator limitador pra que deixasse de realizar meus trabalhos, devido ao cuidado que os facilitadores e os demais trabalhadores da UGP-PV recebiam e acolhiam minhas queixas.

Fui entender que eu era de fato uma política pública dentro do bairro no período de pandemia do COVID 19, foi quando pude enxergar e consegui separar os dois papéis, o de articulador de juventude e o do Diego, morador do bairro.

Tinha medo de

com

porque

sociais

pública.

me vincular
esses jovens
os mesmos marcadores
deles
eram
os meus também, a única diferença é que eu estava do lado de cá como condutor de uma política

Tenho hoje uma mistura de sentimentos: de dever cumprido, às vezes, quando vejo algumas trajetórias de vidas seguindo outros rumos e não o rumo de mais um número das estatísticas. E outro de angústia e impotência por não conseguir evoluir mais em alguns processo por conta do vínculo afetivo construído durante todo esse tempo.

A oportunidade de trabalhar dentro do território me trouxe outros horizontes, me fez perceber que o território tem sua vida própria e que não sou “salvador de vidas” e sim uma contribuição para interrupção de algumas violências.

Minhas percepções enquanto Articulador de Juventude, por Diego Clementino.
A oportunidade de trabalhar dentro do território me trouxe outros horizontes, me fez perceber que o território tem sua vida própria e que não sou “salvador de vidas” e sim uma contribuição para interrupção de algumas violências.

Capítulo 3:

A Força do Coletivo para a Prevenção de Violências.
Fotografias do aniversário da Vila União - 2018/2019

Favela é lugar de paz, cultura, esporte e cidadania SIM! : a importância da comunicação periférica.

A importância da comunicação periférica e não violenta dentro das “QUEBRADAS” nasce a partir de uma necessidade de ECOAR para os quatro cantos da cidade, que favela é lugar de paz, cultura, esporte e cidadania SIM, pois nem sempre isso é apresentado nas mídias da grande massa. Isso se dá pelo fato de que, divulgar as mazelas sociais de uma comunidade pobre e que historicamente sempre teve seus direitos negados, é mais lucrativo do que divulgar uma ação social promovida por essa mesma comunidade.

Sem a comunicação periférica nós não seríamos capazes de disputar as narrativas e mostrar para o resto do mundo que a favela não vive só de violência, mas também de cidadania e respeito. E por falar sobre respeito, é isso que a tal da ‘Comunicação NãoViolenta’ nos traz: respeito, dignidade e resistência para dia após dia lutarmos pela construção de uma imagem mais digna diante da sociedade. Essa sociedade que só nos olha com olhos de pré-conceito.

IMPACTOS DA COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA NO PROJETO VILA TN

Quando se fala do projeto Vila TN, um projeto comunitário que une esporte e comunicação periférica nos bairros Vila União e Terrenos Novos em Sobral, além do esporte lembra-se também de Comunicação Não-Violenta, pois essa tem sido de fato uma das principais atividades desenvolvidas pelo projeto.

Quando falamos de esporte e comunicação parece que estamos falando de assuntos totalmente paralelos um do outro, mas aí é que nos enganamos, pois no projeto vemos que um tem tudo a ver com outro. Um exemplo é quando nos referimos sobre futsal como esporte que precisa de uma comunicação além de passes e dribles, precisa-se de uma comunicação que seja através de falas, gestos e olhares. Uma das metodologias aplicadas no projeto é justamente essa que vai além de dribles e passes, ela é de fato aplicada no dia a dia de cada adolescente e jovem do projeto. A comunicação vai além das quatros linhas do campo, ela é uma ferramenta muito importante e precisa, principalmente nos tempos em que vivemos, tempos esses que nos amedrontam e nos tiram o sossego de saber que uma mensagem transmitida da maneira errada pode gerar todo um conflito, e aí já sabe né?

A Comunicação Não-Violenta trouxe para o Projeto Vila TN uma visibilidade bem grande, mas o mais legal e o que nos deixa orgulhosos, é saber que essa visibilidade não foi fruto de más notícias e de violações de direitos, como fazem os blogs que estampam a juventude preta e pobre morrendo no chão, mas foi uma visibilidade boa.

Sabemos que pela lógica da sociedade um canal de comunicação da periferia deveria apresentar apenas mortes, violência e operações policiais, mas decidimos lutar contra essa lógica de morte e disputar outras narrativas, mostrando o que um coletivo de periferia é capaz de fazer dentro de sua própria comunidade. Nós mostramos momentos inspiradores, histórias de vidas dos moradores onde o Projeto atua. Resgatando a cultura e memórias do próprio território, ecoando a voz e a vez, a cada uma e a cada um dos que aqui estão, mostrando que favela é um lar e aqui não existe só violência, como pensam as imagens sobre nós. Mas sim que existe esporte, lazer, cultura e juventude viva, juventude que não quer virar notícias apenas quando morrer.

A Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção de Violências acompanhou de perto a construção comunitária do projeto VilaTN. Através do programa de Articuladores da Juventude que atuava no território foi possível uma escuta acolhedora sobre o desejo dessa juventude em formar um coletivo de esporte e comunicação. A articulação entre território e juventude possibilitou encontros pedagógicos com várias atrizes e atores sobre planejamento, missão, valores, comunicação e identidade. O coração da juventude apaixonada pelo esporte e por contar outras narrativas sobre seu próprio lugar, pulsou com entusiasmo, inspiração e instiga para criar o que viria a ser o projeto VilaTN.

Isso nos mostra que o território e a juventude já tem repertório e vivência para seus quereres e seus desejos de participação. Um caminho potente para a política pública é fazer junto com a juventude, de modo que essa relação não seja verticalizada. Sempre coletiva, plural, criativa e comunitária.

Instagram: https://www.instagram.com/projeto_vilatn/?hl=pt-br Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=IZIhfPiQMvM&feature=youtu.be Facebook: https://www.facebook.com/projetovilatn Como fortalecer o projeto VILATN?

Capítulo

A experiência do Comitê Territorial em Sobral-Ce.

4:

Capítulo

Virando o jogo

5:

Capítulo

Construção de uma cultura organizacional afetuosa, colaborativa e fértil para a prevenção de violências

6:

Manifesto por uma gestão pública revolucionária e já em curso

A Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção de Violências - que com um nome comprido desses logo recebeu o apelido de UGP, que apesar de parecer abstrato, especialmente pra quem está de longe, para quem conhece e faz parte da equipe, virou uma forma afetuosa de se referenciar ao projeto, tendo até a variação criativa e fofa de UGPezinha - é uma política pública revolucionária. Aqui a gente tem, juntas e juntos, artesanado, diariamente, sonhos possíveis de uma administração pública feminista, antiracista e decolonial. É a maior concretude de esperança. Não do verbo esperar, jamais. Mas do verbo esperançar. A gente esperança uma sociedade melhor. Aliás, talvez seja esse justamente o elemento mágico que mantém a inteireza do nosso mergulho no comprometimento de fazer a gestão pública mais humana: a esperança. A administração pública por muitas vezes é dura, rígida, engessada e qualquer outro adjetivo que remeta a uma estrutura que foi construída por pilares escravocratas e colonialistas e por isso mesmo, por essência é excludente, formatada para ser protagonizada por homens, brancos, de famílias ricas de todo o país. Mas a gente acredita genuinamente que dá pra ser diferente, precisa ser diferente e isso não está mais em negociação. A gestão pública precisa ser composta por outra galera. E aqui não se trata da diversidade neoliberal, que entende a importância da diversidade no que tange a pluralidade de profissões, até fomenta a diversidade de gênero, desde que seja branca, e a questão racial acaba sendo acessório, e ainda se mantém como exceção. Não, não. Aqui a gente acredita que só dá pra ter democracia quando temos representatividade na política pública. Representatividade, lugar de fala. Jovens, negros e negras, da periferia, protagonizando a política pública, de fato. E não é a representatividade como mais um elemento, é a representatividade como pilar estruturante, como coluna vertebral.

Junto com isso, outro pilar estruturante é a garantia de direitos. A gente trabalha com prevenção à violência na juventude. Nem que a gente não quisesse ver, tá escancarado: homicídio no Brasil tem cor, idade, gênero e classe social. A política dos matáveis tá em vigor e tem se mantido, em maior e menor grau, mesmo com as mudanças das lideranças políticas. A nossa máxima aqui é que a gente previne violências garantindo direitos. Afinal, se alguém teve o último direito violado - o direito à vida - é porque todos os outros direitos foram sendo violados, historicamente e estruturalmente. E se a administração pública não for para garantir direitos, reduzir desigualdades e fazer reparações históricas, para que ela serve? Ou melhor, a quem ela serve?

Nesses três anos de trajetória da UGP-PV, a gente viu violação de direito gerando violação de direito, pessoas sendo duplamente penalizadas por condições históricas estruturantes, trajetórias sendo interrompidas. Mas a gente viu também muitas trajetórias não sendo interrompidas, seja pelas oportunidades de geração de renda advindas através das bolsas nos cursos de capacitação e nas próprias oportunidades de emprego geradas pelo curso, seja pelas oportunidades de fortalecimento do protagonismo juvenil na comunicação periférica através das oficinas de educomunicação, seja pelas mil e uma articulações transversais para aproximar a rede de proteção social como um todo dos adolescentes e jovens que historicamente a política pública não chegou. Seja qual for a ação feita, o caminho é o mesmo: garantia de direito através do reconhecimento da integralidade do ser humano. E como fazer isso? Através da territorialidade da gestão. Nenhum direito é garantido no ar-condicionado dos escritórios da Secretaria; os direitos são garantidos no território.

A gestão, então, tem o objetivo de construir estratégias que possibilitem condições de trabalho do território garantir direitos de forma mais profunda e assertiva. Arriscamos dizer que essa é a maior inovação da UGP-PV: derrubar os muros das fronteiras entre gestão e ponta, desconstruir a dualidade fixa do binarismo e expandir possibilidades de interação e reverberação.

Mas isso não é simples. Demanda um método robusto, estratégia de gestão, incorporação nas práticas sistemáticas de monitoramento. Se a desigualdade é uma estrutura histórica com múltiplas variáveis envolvidas, enfrentá-la demanda robustez de igual tamanho. De que outra forma seria? E ao mesmo tempo que é incrivelmente maravilhoso vivenciar essa revolução em curso, da co-construção de uma política pública que garante o direito à vida a quem historicamente tem tido esse direito violado, de ter uma equipe com lugar de fala, de fomentar diariamente a territorialidade da gestão… ao mesmo tempo é frustrante sentirpensar que o que deveria ser básico, pré-requisito de qualquer prática, seja visto como tão revolucionário. A gente sabe. É histórico. É contra corrente. Mas não é frustrante que elementos tão essenciais sejam tão especiais? Não falamos isso romantizando a experiência, estamos longe de ser perfeitos. Temos muitos problemas, váaarios gargalos. E seguimos caminhando para resolvê-los, enfrentá-los e reinventá-los. No fundo, é isso que também não nos paralisa: nós não somos conformados. E por isso seguimos. Focando nas nanorevoluções possíveis.

Construção da agenda de prevenção de violências e a estrutura organizacional da UGP-PV

Cursos de capacitação, qualificação e profissionalização disponibilizados pela prefeitura de Sobral através do Programa Ocupa Juventude contemplando adolescentes e jovens de 14 a 29 anos.

Qualquer pessoa que já tenha trabalho com gestão de políticas públicas, com impacto social e com direitos humanos sabe que nenhuma pauta cai do céu. As pautas são resultado de disputas de narrativas constantes, de lutas dos movimentos sociais e de articulações políticas nas diferentes esferas. A pauta da prevenção de violência no Ceará é fruto de uma construção de Agenda.

Em 2014, o estado tinha a segunda maior taxa de homicídios do Brasil: 42,9, atrás apenas do estado de Alagoas, segundo dados do Mapa da Violência. Como aponta a pesquisa Cada Vida Importa de 2016, “ os níveis acima de 10 assassinatos por 100 mil pessoas são considerados convencionalmente como cenário de epidemia” (COMITÊ

CEARENSE PELA PREVENÇÃO DE HOMICÍDIOS NA ADOLESCÊNCIA, 2016, p. 50), demonstrando, assim, a complexidade da temática da violência no estado do Ceará, situação essa que vem ocorrendo não apenas no Ceará, mas no país como um todo, com maior incidência na região nordeste.

Frente a este cenário de dados alarmantes de homicídio no Ceará, construiu-se a Agenda de prevenção de violência na adolescência e na juventude no estado, concretizada por dois movimentos: 1) Criação do Pacto por um Ceará Pacífico, encabeçado pelo Governo do Estado do Ceará e 2) instituição do Comitê Cearense de Prevenção de Homicídios na Adolescência, vinculado à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

O Pacto por um Ceará Pacífico foi criado por meio do decreto de número 31.787, de 21 de setembro de 2015.

Sua finalidade, como descrito no decreto que o institui, é “atuação articulada entre órgãos Públicos Estaduais, Municipais e Federais, e instituições da sociedade civil, objetivando a construção de uma cultura de paz, com políticas interinstitucionais de prevenção social e de segurança pública”.

O Comitê Cearense de Prevenção de Homicídios na Adolescência foi formalmente intencionado no dia 11 de dezembro de 2015, quando o Presidente da Assembleia Legislativa, a Vice-Governadora e o representante do Unicef no Brasil assinaram um protocolo de intenção para a criação do Comitê. No dia 23 de fevereiro de 2016, o Comitê foi lançado oficialmente. O objetivo do Comitê é “compreender o fenômeno da violência entre os jovens – com foco na faixa etária de 10 a 19 anos – para, a partir daí, elaborar propostas de políticas públicas que apontem para a prevenção e a redução de homicídios cometidos por adolescentes e contra adolescentes no Ceará”. O Comitê desenvolveu a pesquisa mais abrangente feita no Ceará sobre homicídios na adolescência, intitulada Cada Vida Importa, publicada em 2016. Nesse momento, o presidente do Comitê era o até então deputado estadual Ivo Gomes e o relator era o deputado estadual Renato Roseno.

Em 2017, Ivo Gomes foi eleito como prefeito do município de Sobral e institui a Agenda de prevenção de violências, reconhecendo que os municípios tem papel protagonista da prevenção de violência na juventude por serem estes entes os que estão na linha de frente da garantia de direitos e por ser nas cidades onde as pessoas vivem, trabalham, estudam, amam, compartilham os espaços, matam e morrem. A Unidade de Gerenciamento de Projetos de Prevenção de Violências do Município de Sobral (UGP-PV) foi criada por meio do decreto de número 1.950, de 19 de outubro de 2017, como parte integrante da Secretaria dos Direitos Humanos, Habitação e Assistência Social da Prefeitura Municipal de Sobral. Quatro instâncias compõe a estratégia organizacional da gestão da pauta de prevenção de violências: Disponível no site https://www.al.ce.gov.br/index.php?option=com content&view=article&id=309

Comitê Deliberativo: Reunião mensal com os líderes das forças da Segurança Pública Estadual e Federal (polícia civil, polícia militar e rodoviária federal), representantes da Defensoria Pública, do Poder Judiciário e do Ministério Público, o Prefeito do município,

o Secretário dos Direitos Humanos, Habitação e Assistência Social e o Secretário de Segurança e Cidadania do município e as representações do Ceará Pacífico (vinculado à Vice-Governadoria do Estado do Ceará) para analisar os dados de homicídio na juventude e deliberar ações concretas e comuns para a prevenção de violência, especialmente a crianças, adolescentes e jovens;

Comitê Gestor: Reunião com o alto escalão do executivo municipal (Secretários e Prefeito) para dialogar sobre as problemáticas mais latentes sobre violência juvenil e definir pautas comuns para o município e pautas específicas para cada Secretaria;

Comitê Territorial: Encontros quinzenais com os gestores de equipamento do território 1 e 2 do município para dialogar sobre prevenção de violência e co-criar estratégias comuns territoriais. Há a co-criação de tecnologias sociais de identificação e acompanhamento da juventude, que encontra-se em situações de vulnerabilidades graves e gravíssimas, para garantir direitos a partir do princípio da equidade; Círculos de Diálogo Comunitário: Encontros comunitários, conduzidos pelo Facilitador dos Círculos de Diálogos Comunitários da UGP-PV, que reúne lideranças comunitárias, religiosas e profissionais públicos para mobilizar e co-responsabilizar a comunidade para prevenção de violência.

Aqui é necessário fazermos uma ponderação referente a referida estrutura de governança apresentada. Durante a experimentação cotidiana das quatro instâncias, nós da coordenação da UGP-PV, identificamos uma lacuna e a necessidade de uma quinta instância. Uma instância que estivesse - na estrutura organizacional da prefeitura -

entre o Secretariado, gestão macro setorial, e as pessoas que gerenciam os equipamentos territoriais, gestão micro setorial. Na fronteira, no entre, no limiar. É onde nos encontramos enquanto nível de hierarquia e poder de deliberação. Denominamos, portanto, de Intergestão. A sacada foi entender que a construção de Agenda não se dá só no alto escalão: precisa ser reverberada no médio escalão. O passo seguinte foi mapear e demarcar as coordenações estratégicas para potencializar as costuras intersetoriais para a política de prevenção de violências na juventude. Abaixo segue a descrição:

Intergestão: Encontros semestrais com as coordenações da Atenção Primária à Saúde; Superintendência Municipal da Educação; Coordenadoria da Assistência Social; Coordenadoria da Juventude; Escola de Saúde Pública de Sobral; e Superintendência Estadual da Educação - CREDE 06, com o objetivo de alinhar transversalmente as demandas territoriais setoriais com a temática de prevenção de violências e pactuar agendas territoriais de integração entre as políticas públicas.

Organização, cultura e perfil de quem compõe a UGP-PV

A UGP-PV organiza-se em dois Eixos: Observatório da Violência e Gestão de Ações Territoriais. O Observatório da Violência, vem realizando, de forma sistemática, formações permanentes, consolidação de dados e informações estratégicas sobre violência e cultura de paz, assim como estudado a trajetória de vida de adolescentes e jovens que tiveram suas vidas interrompidas.

Já o Eixo de Gestão de Ações Territoriais trabalha de forma customizada, intersetorial, criativa e territorial desenvolvendo ações de integração, intervenção, articulação, formação e acompanhamento das juventudes que vivenciam, em suas trajetórias, múltiplas vulnerabilidades. Ao todo, 24 pessoas compõem a equipe da UGP-PV, sendo 10 na gestão (03 Coordenadores e 07 Gerentes) e 14 no território (04 Facilitadores Comunitários e 10 Articuladores de Juventude).

Todos os membros da equipe ocupam cargos comissionados que, a priori, são de livre nomeação e exoneração, conhecidos como “ cargos de confiança”. Em nossa experiência, optamos por realizar um processo seletivo de mais da metade da equipe, com atenção especial às equipes de gestão territorial, majoritariamente composta pelos cargos de Articuladores de Juventude e Facilitadores Comunitários.

Quando desenhamos o perfil esperado para os cargos, procuramos por jovens moradores da periferia, protagonistas no território, que tivessem uma trajetória marcada pelas vulnerabilidades e violências, com estética e ética que nosso público prioritário também possui. Consideramos importante que fossem alfabetizados, pois haveriam registros, relatórios e consolidados inerentes à função, mas não exigimos nível de escolaridade como fator excludente. Procuramos por pessoas com experiências que se aproximassem das competências esperadas para o cargo e trajetórias de vida com engajamento comunitário e sonhos comuns à coletividade. As experiências profissionais formais, os currículos acadêmicos não eram nosso foco porque, se procuramos reinventar as políticas públicas, acreditamos ser necessária a reinvenção dos métodos e a mudança de paradigmas de seleção dos gestores e profissionais públicos.

Ah, evidente que antecedentes criminais não era critério e nem documento exigido para a participação. Entendemos que esse costume acaba por reforçar estereótipos e nada agrega à seleção. Essa equipe reflete a diversidade humana que pautamos como urgente nas políticas públicas e ressalta que os afetos atravessam as instituições na medida em que compreendemos que as pessoas que ocupam os lugares de poder afetam e são afetadas pela estrutura. Chamamos essa experiência de Política dos Afetos não no sentido piegas que pode conter o termo, mas como a afirmação de uma revolução possível. Os afetos são nosso material de trabalho, são partes de uma micropolítica, nosso ponto de partida e de chegada. Estão no processo. A concepção de que nosso sistema é apenas racional e que agimos com base nas leis e regras do Estado não cabe de forma estrita com a juventude que trabalhamos porque, como qualquer ser humano, são pessoas que têm a existência baseada em diversos modos de vida e paixões. O que sugerimos com esse modelo de política é a problematização de quais afetos nos conectam socialmente e à compreensão de que é possível inseri-los nas metodologias que subsidiam o trabalho: na escuta empática da comunidade, na proposição de rodas de diálogo entre gestores territoriais, no respeito aos desejos da juventude e não imposição de modos de vida coloniais, na atenção genuína aos problemas do colega de trabalho. Poderíamos citar muitos outros exemplos de como agimos na canalização dos afetos e como eles circulam, moldam, dão curso às experiências de vida social mas, dentro do que consideramos nossos afetos (bio)políticos, a esperança e a alegria são parte intrínseca desse modelo de gerenciamento que, apesar de rígido, pode ter espaço para a ternura.

Há duas práticas desejantes que fazem parte da cultura organizacional do experimentar cotidiano da gestão da UGP-PV e que queremos deixar registrado aqui. São elas: Cogestão e territorialidade da gestão. É um desafio imenso falar e vivenciar essas perspectivas de gerenciamento quando, na prática, a orientação é diametralmente oposta. A regra e o modus operandi das experiências de gestão por esse Brasil afora são processos de trabalho verticalizados e fundamentados no imperativo onde alguns mandam e outros obedecem. Nessa perspectiva de gestão não há fronteiras e oxigênio possível para a divergência, sugestão ou um singelo questionamento feita pelos debaixo, conhecidos também como o pessoal da ponta. Os que estão na base da hierarquia, as muitas pessoas que experimentam e vivenciam as dores e delícias cotidianas do/no território, tem apenas que executar o que foi ordenado por alguns poucos que estão no andar de cima, e que em sua maioria encontram-se completamente alheios à realidade da periferia e dificilmente tiveram o prazer de serem convidados a adentrar a casa de alguém do território, sentar e tomar um café com biscoito.

Na coordenação da UGP-PV levamos muito a sério o método como nos relacionamos no cotidiano dos processos de trabalho. O fato de estarmos hierarquicamente em uma posição de poder não significa que somos mais importantes do que quem está no território. Partimos da premissa que temos saberes, expertises e funções diferentes e que juntas e juntos produzimos um efeito de potência em progressão geométrica. Ter corpo, espaço e tempo para ouvir, horizontalmente, a equipe de território é reconhecer que nós da gestão não temos nos nossos corpos o aprendizado e sabedoria diária que eles têm. Ao mesmo tempo que a equipe de território não consegue identificar os processos macro e conectados da gestão do cuidado.

Por estarmos sentindo de lugares diferentes utilizamos ferramentas diversas, o que possibilita sermos provocados pelas demandas complexas do território, assim como instigamos eles e elas a percorrerem caminhos e estratégias de intervenção até então inabitados. Nossos saberes não são maiores, são apenas complementares.

Experimentar a cogestão no cotidiano da gestão pública é transitar no desafio diário da coerência e resistir no caminhar da contra hegemonia. Todavia, não enxergamos outra maneira de operacionalizar uma gestão que não seja a partir da voz e vez daqueles e daquelas que carregam as marcas da experiência nos seus corpos e trajetórias, da abertura para a divergência, do reconhecimento das contradições e limitações, assim como através da corresponsabilização de todas as pessoas que estejam implicadas no processo.

Por fim, pensar a territorialidade da gestão é vivenciar uma máxima dos movimentos sociais do campo em que compreendem que a cabeça pensa onde os pés pisam. Faz muito sentido esse sentir-pensar o território, pois ao percebermos o cheiro, a temperatura, as potências, os desafios, necessidades e urgências, a orientação dos ventos mudam, porque o rolê não é mais fazer política para as pessoas, mas com elas. Quando compreendemos o fazer gestão a partir da experiência do pisar no chão da realidade - e não dos gabinetes e salas arrefecidas desconectadas das realidades dos que sofrem com as ausências dos direitos - e conhecemos as pessoas, conseguimos pautar, priorizar e direcionar as reais necessidades com mais concretude e otimização dos recursos públicos, produzindo uma gestão eficiente e de impacto.

Estratégias robustas de gestão para a prevenção de violências

As políticas públicas de direitos humanos tem peculiaridades que trazem desafios e potências em suas concepções. Em geral, são políticas públicas novas, com pouco recurso vinculado para a autonomia de implementação de projetos (é comum que o recurso seja exclusivo para folha de pagamento, equipamentos e materiais para o escritório), não são instituídas enquanto política pública (geralmente são criadas a partir de agendas e planos de governo associadas a um político específico e por isso podem apresentar instabilidade de continuidade), não estão vinculadas a metas e repasses de orçamentos de outras esferas de governo (seja estadual ou federal) e lidam com um tema que ultrapassa as lógicas setoriais instituídas pelas políticas públicas.

Esse seja talvez um dos elementos mais interessantes: os problemas complexos ultrapassam as lógicas setoriais. Afinal, a prevenção de violência é de competência da educação, saúde, assistência social, cultura, segurança ou trabalho? Evidente que a prevenção de violência seja competência de todas essas pastas setoriais. Ao mesmo tempo, as políticas públicas setoriais tem demandas específicas, metas internas vinculadas a repassases de recurso que se não executadas não há repasse ou há menor porcentagem de repasse.

Por conta do contexto de retrocessos nas políticas públicas de garantia de direitos do Governo Bolsonaro, muitas dessas políticas estão atuando em suas estruturas mínimas, com equipe reduzida e sem a renovação de alguns projetos. Nesse sentido, do ponto de vista prático, é complexo “ concorrer ” com as lógicas setoriais com repasse de recurso vinculantes com metas que muitas vezes não compreendem problemas que ultrapassam as próprias lógicas setoriais, sendo que a política pública de direitos humanos não tem a contrapartida do recurso para oferecer junto às demandas que elucida.

Justamente por todo esse panorama, é que contextualiza-se a importância de criar estratégias de gestão que consigam de forma sistemática costurar as demandas de prevenção de violências dentro das demandas setoriais, para que não pareça algo externo, artificial e “mais trabalho”, todavia que seja compreendido de fato como uma forma de potencializar os próprios trabalhos da política pública setorial. Afinal, se um um adolescente ou jovem tem limitações de circulação territorial e por isso não consegue acessar a Escola de Ensino Médio de referência, o direito à educação também está comprometido e, por isso, o indicador da política pública de educação também está sendo afetado. Daí a importância de ter uma instância específica para costurar a pauta de prevenção de violência com as políticas públicas setoriais. A ideia é justamente que a pauta não vire a metáfora do cachorro sem dono na rua. Ou todos os vizinhos alimentam e ele come mais do que o necessário ou nenhum vizinho alimenta porque acha que alguém deve estar fazendo isso e o cachorro morre de fome. Para não ter nem sobreposição nem ausência de trabalho, é super estratégico a presença de uma instância que esteja coordenando essas ações. A UGP-PV contextualiza-se exatamente aí.

Um dos primeiros desafios da UGP-PV foi organizar os processos internos. É isso. No final das contas é uma política pública nova, sem precedentes na história do município. E como acompanhar indicadores e encaminhamentos dos quais não é a UGP-PV que tem a governança de execução mas se relacionam com a prevenção de violências? Foi daí que surgiu a demanda do estabelecimento do planejamento estratégico enquanto cultura organizacional da UGP-PV.

O primeiro passo foi realizar um grande encontro com a equipe da gestão e os facilitadores para transformar o organograma instituído nos documentos que formalizam a UGP-PV em organograma vivo. Para isso, fizemos grandes cards com os nomes de cada célula, cada coordenação, cada eixo e colamos na parede. Coletivamente, construímos qual o problema que a UGP-PV quer enfrentar, qual o objetivo então da UGP-PV e quais os objetivos específicos de cada célula. Importante ressaltar que o objetivo da UGP-PV, bem como as atribuições de cada coordenação e célula já constava no decreto, mas construir isso coletivamente com o grupo, trazendo novas palavras e referências, foi fundamental para construir novos sentidos e aproximar as ideias concebidas na fase de formulação da política com a fase de implementação. Nesse encontro, também estruturamos os projetos de cada célula e indicamos os graus de prioridade de cada projeto, sendo o verde o menos prioritário, amarelo o médio prioritário e vermelho o mais prioritário. Essa estruturação foi fundamental para visualizarmos de forma estratégica o que estava sendo executado, qual a conexão entre eles e o que era ação guarda-chuva e que, portanto, contemplava outras ações, e o que era ação fim. A partir desse desenho, passamos a fazer encontros de planejamento estratégico todo início de semestre, sem falta.

Mas o planejamento estratégico enquanto cultura organizacional vai muito além dos encontros, é realmente uma lógica de funcionamento. A gente tá consciente que enfrentar a desigualdade é complexo pra caramba. Não dá para nos reduzirmos a lógica do apagar incêndio. Por isso, fortalecemos a perspectiva das agendas através da padronização do Google Calendário com toda a equipe. As agendas são feitas online, toda a equipe consegue visualizar a agenda de toda a equipe. As agendas são criadas com antecedência, compreendendo as prioridades do planejamento estratégico.

Criamos fluxos de reunião: todas as segundas-feiras pela manhã há reunião entre os coordenadores da UGP-PV, em paralelo, também pelas manhãs de segundas, as equipes territoriais realizam suas reuniões semanais. Já no período da tarde, às segundas, tem reunião de cada equipe de coordenação. De quinze em quinze dias, nas quartas-feiras à tarde, tem reunião com toda a equipe da gestão da UGP-PV, também quinzenalmente, nas sextas há os encontros da gerência com todos e todas articuladores e facilitadores. Já mensalmente, nas sextas-feiras, os encontros de eixo. Esse fluxo de reuniões encavaladas contribuiu para trazer fluidez às demandas de trabalho e desafogar as agendas da equipe (antes cada coordenação fazia suas reuniões em um horário e dia e, por isso, havia poucos espaços comuns para os gerentes se reunirem para trabalhos inter-coordenação).

O segundo passo foi estabelecer a Sala de Situação como estratégia de monitoramento sistemático dos indicadores das principais realizações da UGP-PV. Para isso, iniciamos com a construção coletiva dos indicadores de cada célula, que passou também por uma compreensão do que são indicadores e qual a aplicabilidade de indicadores quantitativos e qualitativos. Ah, um ponto curioso: é bem comum que os integrantes das políticas públicas de direitos humanos por vezes descredibilizem os indicadores quantitativos por entenderem que os números não contemplam a imensidão de complexidades dos impactos envolvidos nas ações de garantia de direitos. Realmente, é muito comum que análises quantitativas sejam perversas e restrinjam as percepções a números abstratos. Conscientes dessa perspectiva, coletivamente, aos poucos, fomos reconhecendo os indicadores quantitativos como aliados na disputa de narrativa dos direitos humanos. Entendemos que dá pra fazer análises quantitativas nas quais cada número seja valorizado enquanto seres humanos, não enquanto estatísticas abstratas. Foi assim que cada célula construiu indicadores e metas de processo e de resultado.

A estrutura da Sala de Situação foi feita em excel, com formatação padronizada. Uma das chaves do sucesso foi indicar uma célula da UGP-PV específica que ficaria responsável pela Sala de Situação. Esse gerente, além de executar a parte logística de reservar espaço físico para a reunião, articular datashow e computador, era a pessoa de referência das planilhas. O objetivo é: não deixar a Sala de Situação ser esquecida ou ser feita sem produção de sentido. Também tinha a missão de apoiar as outras células na construção de indicadores que concretizassem os impactos tão subjetivos feitos pela prevenção de violência. Feito esse primeiro esforço de criar indicadores que fizessem sentido para a nossa realidade, passamos a fazer Salas de Situação criteriosamente todos os meses, com agendas fixas já no Google Calendário (primeiras quintas-feiras no mês). No meio do ano fazemos a sala de situação semestral e no final do ano a anual para analisar os dados como um todo. A regra que acordamos é: mensalmente não podemos alterar os indicadores. Semestralmente podemos adicionar. E anualmente podemos fazer uma revisão geral de indicadores que se mantém e que saem. Nos encontros mensais, participam todos os integrantes da gestão mais os facilitadores. A ideia é que facilitadores multipliquem a conversa com os articuladores depois, a nível micro. Nas Salas de Situação semestral e anual, participa toda a equipe da UGP-PV. O objetivo não é só ver os indicadores, mas analisá-los de forma a pensar quais estão sendo os gargalos, como resolvê-los e para onde é mais estratégico destinar a energia no próximo mês. O pulo do gato foi criar metodologia para os encontros da Sala de Situação, determinando tempo de 15 minutos para cada gerente falar ininterruptamente, seguidos de mais 10 minutos abertos para os outros participantes fazerem análises e perguntas.

Estabelecemos que no início de cada semestre faríamos uma semana de imersão com toda a equipe da UGP-PV, agrupando várias agendas que possibilitassem mergulho na análise integral e estratégia do trabalho.

O primeiro encontro da semana de imersão é a análise dos dados de homicídio do semestre ou do ano, no qual a gerente da célula da Sala de Informações Estratégicas compartilha a apresentação dos principais dados, conduzindo uma metodologia de construção de evidências e hipóteses coletivas para o cenário apresentado. A segunda agenda da semana de imersão é a Sala de Situação. A terceira agenda é o encontro de planejamento estratégico que, em geral, tem duração de quatro turnos. E a quarta e última agenda é o encontro de integração da equipe.

Os encontros de integração fazem parte da cultura da UGP-PV. São momentos de cuidado, de acolhimento, de partilha, entendidos como parte da agenda de trabalho. Nos dividimos em Grupos de Trabalho temáticos e fazemos um encontro autogestionado. Além dos encontros de integração da semana de imersão, fazemos outros ao longo do ano, como o já famoso encontro da festa junina para celebrar o São João.

O desenvolvimento do planejamento estratégico como cultura organizacional da UGP-PV foi fundamental para trazermos robustez na organização das ações realizadas. Uma conclusão importante que temos dessa experiência é a relevância que a parte “meio” tem nas políticas públicas de direitos humanos. Gestão, planejamento, coordenação integrada com inteligência. Os temas de atuação são tão complexos, com dimensões tão impensáveis, que o fato de ter uma equipe responsável por desenhar projetos específicos para organizar dados, aprimorar processos e fluxos e trazer inteligência à gestão de informação é indispensável para que não percamos tempo e energia com retrabalhos: o tempo e a interação são potencializados para haver foco na articulação da garantia de direitos.

Nesse sentido, a otimização das sistematizações das informações e o aprimoramento da comunicação intra-inter-extra setorial foi fundamental para potencializarmos os processos de trabalho de maneira sistêmica e pautarmos com foco, estratégia e inteligência a prevenção de violências. Podemos citar três exemplos: 1- Implementação da comunicação institucional por email. Foi importante para facilitar o monitoramento dos encaminhamentos, dar sequência em uma pauta específica sem a necessidade de marcar uma agenda presencial, assim como para termos uma memória documentada das conversas formais e informais; 2- Utilização do Google Drive como ferramenta básica para a organização e armazenamento de todos os documentos, ofícios, planilhas, atas etc. Evitou a perda de arquivos importantes arquivando na nuvem; 3- Por fim, a criação do Sistema Georreferenciado de Acompanhamento de Juventudes - SIGAJU. Ferramenta de gestão dos casos de adolescentes e jovens acompanhados pela equipe de território da UGP-PV e por todos os equipamentos que compõem os Comitês Territoriais 01 e 02.

Com isso, conseguimos trazer a urgência do território para a gestão. Temos condições estruturantes institucionais para ouvir o território, receber a demanda, encaminhá-la e monitorá-la. Esses elementos são fundamentais para trazer customização em escala.

A UGP-PV pôde influenciar na implementação de alguns projetos da prefeitura para que eles incluíssem a juventude em maior condição de vulnerabilidade que, historicamente, esteve excluída dos projetos tradicionais. A ideia, assim, foi, de um lado, incluir na seleção dos participantes dos projetos critérios de vulnerabilidades, garantindo que as situações vivenciadas por essas pessoas fossem priorizadas. De outro lado, a ideia foi criar estratégias territoriais para fazer a inscrição chegar na juventude, o que inclui informar os

grupos prioritários que por muitas vezes nem acessa a informação sobre a abertura de um curso, e também o apoio na inscrição, com ajuda para entender quais documentos eram necessários e em qual local era necessário levá-los.

Foi isso que aconteceu com uma série de projetos acompanhados pela UGP-PV. O Ocupa Juventude talvez seja o exemplo mais emblemático. Uma das grandes marcas da primeira gestão do Prefeito Ivo Gomes foi a geração de oportunidades para a juventude. A UGP-PV foi protagonista na articulação para a geração de oportunidades da juventude em situação de maior vulnerabilidade. Para isso, quando a prefeitura lançava o edital dos cursos, a UGPPV ia até a juventude em situação de vulnerabilidade que a gente sabia que tinha interesse por determinados cursos e apoiava no processo de inscrição. Algumas das vulnerabilidades indicadas na Matriz de Vulnerabilidades constam no critério de seleção dos adolescentes e jovens que serão contemplados com o curso e com a bolsa, entendendo que pessoas que vivenciam tais contextos devem ser priorizadas porque seus direitos estão mais fragilizados. Quando um adolescente ou jovem era selecionado, a UGP-PV iniciava o acompanhamento dele no curso, analisando frequência, envolvimento e interesse com as aulas. De um lado, os Articuladores e Facilitadores acompanhavam diretamente os adolescentes e jovens no território. De outro lado, a equipe da gestão acompanhava a frequência e a percepção do professor junto com a instituição que fornecia os cursos. Aos poucos, a UGP-PV foi identificando alguns gargalos: para entrar na instituição e assistir às aulas é necessário calça e tênis e muitos dos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade não possuem. Alguns dos adolescentes e jovens acompanhados tinham muita dificuldade de chegar até a instituição porque não tem transporte ou porque tem limitação de circulação territorial.

Instrumental sistematizado pela UGP-PV que lista 40 vulnerabilidades (01 Leve, 20 Moderadas, 09 Graves e 10 Gravíssimas) em que estratifica-se o risco do jovem ser vítima da letalidade juvenil.

Ao identificarmos esses gargalos, iniciamos reuniões de alinhamento com a equipe da instituição com o objetivo de envolvê-las nessas questões e criar soluções conjuntas. Afinal, era de interesse também da instituição que houvesse baixas taxas de evasão. Taí uma das chaves de sucesso da transversalidade: encontrar objetivos comuns e criar soluções integradas a partir deles. Outro projeto emblemático idealizado pela UGP-PV e executado pelo Instituto ECOA foi o LabConecta, projeto que selecionou 30 adolescentes e jovens que recebem bolsa durante o projeto para estudarem conceitos e práticas sobre educomunicação e economia local e criativa. A seleção dos participantes foi totalmente baseada na Matriz de Vulnerabilidade, mais uma vez priorizando quem está em situação de vulnerabilidade grave e gravíssima e, portanto, com os direitos fragilizados ou negados. Durante três meses, os adolescentes e jovens recebem formações com professores que são referências no próprio território e são instigados a realizar ações práticas de aplicação dos conceitos, através da comunicação periférica e da economia solidária. Exemplos da concretude dos conceitos aprendidos são as criações de contas nas redes sociais de comunicação colaborativa, criativa e cidadã que trazem uma narrativa, sobre os territórios, protagonizadas pela juventude.

Com a máxima de que oportunidades geram oportunidades, reconhecemos que é indispensável termos projetos finalísticos que contemplem diretamente a juventude em maior situação de vulnerabilidade, nos quais sejam possibilitados aprendizados teóricos da educação formal, mas que também haja bolsa atrelada para que os participantes consigam se manter nos cursos.

Instrumental sistematizado pela UGP-PV que lista 40 vulnerabilidades (01 Leve, 20 Moderadas, 09 Graves e 10 Gravíssimas) em que estratifica-se o risco do jovem ser vítima da letalidade juvenil.

É super importante que sejam destinados cursos que tenham convergência com as afinidades e interesses dessa juventude e que o currículo contemple não apenas a chance de ser empregado em uma empresa, mas também forneça condições para que esse adolescente ou jovem seja protagonista do seu rolê, seja qual ele for: estúdio de tatuagem, venda de comidas, produtora musical, ateliê de grafite, confecção de camisetas, etc.

Instrumental sistematizado pela UGP-PV que lista 40 vulnerabilidades (01 Leve, 20 Moderadas, 09 Graves e 10 Gravíssimas) em que estratifica-se o risco do jovem ser vítima da letalidade juvenil.

Passos mais além para uma gestão pública que cada vez garanta mais direitos à juventude

Posfácio

No corpo e na trajetória

IVO FERREIRA GOMES PREFEITO

CHRISTIANNE MARRIE AGUIAR COELHO VICE-PREFEITA

ANDREZZA AGUIAR COELHO

SERETÁRIA DOS DIREITOS HUMANOS E DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

EQUIPE UGP-PV

ANTÔNIO ANDERSON ALBUQUERQUE SOUSA (DIM

ANTÔNIO HUMBERTO DE SOUSA (BETO)

ANTÔNIO WISLEY DO NASCIMENTO OLIVEIRA (B

BENILSON PEREIRA DA SILVA (BENY)

BIANCA DOS SANTOS GOMES (CACHEADA)

BRUNA PEREIRA DA SILVA (BRU)

DIEGO RODRIGUES CLEMENTINO

FRANCISCA SABRINA DO NASCIMENTO DE MARIA FRANCISCO IVO DUARTE DE SOUSA JACKSON ANGELINO

JAMILE CRISPIM DA PONTE HORTÊNCIA VERAS MANGABEIRA

HIRLANA CARLA DO NASCIMENTO DA SILVA LEO ALVES LIANA DE SOUSA ALCÂNTARAS (LIA)

MARIANA LOURENÇO FERREIRA MOISÉS SOUSA LIMA(B-BOY)

NIK COELHO ALEXANDRE

RAFAEL DOS SANTOS SILVA RAIANA VENÂNCIO DE SOUZA

THAMILA CRISTINA DOS SANTOS DA SILVA THAÍS XIMENES FURTADO DE LIRA THAYANE DA CONCEIÇÃO PINTO DOS SANTOS

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