Paraléxicos

Nota do autor Um tangram emocional é o que melhor define o ParaLéxicos. É um livro de encontros, rupturas e sensações e por isso mesmo um livro de acertos e de muitos erros. Alguns intencionais, outros não. Mas aceitos e bem vindos a sentar-se à mesa de um Deus Nórdico de camiseta. Celebrando um carnaval durante um funeral viking. Aqui Memória e Pensamento são corvos de tinta e sobrevoam precipícios e vales interiores. Voam buscando Elah, que só passou a existir depois do fim. Voam de forma Genuína em busca de algo que não pode ser nomeado, tangível, palpável.

ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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Capa Leonardo Lima

Ilustração Alexander Lopes

Edição / Diagramação / Revisão Daniele Pestana

Colaboração Marcelo Sousa

Texto / Revisão Thauan Raposo

Thauan Raposo

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Sumário Prefácio ....................................................................................... 9 pílula(h) .................................................................................... 13 me(n)tira ................................................................................... 13 do traço ..................................................................................... 14 mente ......................................................................................... 15 meia hora .................................................................................. 16 in... ............................................................................................ 18 marasmo.................................................................................... 19 vestígio ...................................................................................... 20 leve ............................................................................................ 21 Moça ......................................................................................... 22 Toca .......................................................................................... 24 trincheira .................................................................................. 25 fios ............................................................................................. 25 estimo ........................................................................................ 26 NDO... ....................................................................................... 27 Salve Agricultura Celeste ......................................................... 28 éfê(f)mero .................................................................................. 29 papel velho ................................................................................ 30 de esperto, desperto, acordado, combinado... .......................... 31 traços sóbrios ............................................................................ 31 tira colo ..................................................................................... 33 quem Prometeu ......................................................................... 34 dialética aleatória ..................................................................... 35 nicho.......................................................................................... 36 pensamento de aluvião .............................................................. 37 espasmo ..................................................................................... 38 praia calçada ............................................................................ 38 jogado ....................................................................................... 39 ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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uns tantos .................................................................................. 40 Um Pierrot pensou assim... ....................................................... 41 “Coringal”................................................................................ 43 reboliço ..................................................................................... 44 pra que? .................................................................................... 45 inesperado ................................................................................. 46 alvo............................................................................................ 47 fios soltos .................................................................................. 48 devaneios diurnos ..................................................................... 49 retórica...................................................................................... 50 cascos vazios ............................................................................. 51 um primeiro............................................................................... 52 café ............................................................................................ 54 eu sapo. Flor canela? vi o Pedro! ............................................ 55 tá tão assim... ............................................................................ 56 Trio Pé de Cabra ...................................................................... 56 grafite malhado ......................................................................... 57 bye bye beijos ............................................................................ 58 riste ........................................................................................... 58 sonora anomalia... .................................................................... 59 in... Transe! ............................................................................... 60 Joguetes .................................................................................... 61 Pântanos ................................................................................... 62 expoentes.... ............................................................................... 64 Delas.... ..................................................................................... 65 Má(ria) ...................................................................................... 66 Verocai ...................................................................................... 67 ma(n)chado ............................................................................... 68 Laranja mecânica ..................................................................... 69 3:17 ........................................................................................... 70 parágarfo .................................................................................. 71 Pique ......................................................................................... 73 Thauan Raposo

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happy hour ................................................................................ 74 pen(s)ar ..................................................................................... 75 topada... .................................................................................... 76 NaPalm(a) ................................................................................. 78 Para(L)éxico ............................................................................. 79 Idéia“ficça” .............................................................................. 80 Assobio pólvora ........................................................................ 81 "O Resto é Carbono!" ............................................................... 83 Onze, 11 .................................................................................... 85 Por teu ventre de espelhos ........................................................ 85 Casa Livre ................................................................................. 87 Minha sombra ........................................................................... 88 Mundo novo .............................................................................. 89 Possível texto ............................................................................ 90 O Zé legal.................................................................................. 91 acalma ....................................................................................... 92 Sidarta ....................................................................................... 93 Forca ......................................................................................... 93 rompantes.................................................................................. 94 Medo-sela .................................................................................. 95 QUID PRO QUO ...................................................................... 96 Babel ......................................................................................... 98 Guache gauche ......................................................................... 99 Cavalo ..................................................................................... 100 prima Marília .......................................................................... 101 Encalço ................................................................................... 101 Banco verde ............................................................................ 102 Ao Pã que habita aqui ............................................................ 103 Fornalha ................................................................................. 105 Amigo do rei............................................................................ 106 Versos Brancos ....................................................................... 107 pra não eis que ser .................................................................. 108 ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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COMO NASCEM AS ESTRELAS? ......................................... 109 sim, ápices ............................................................................... 110 Gregório.................................................................................. 111 Bloco ....................................................................................... 111 plutão ...................................................................................... 112 O Leão, a Feiticeira e o chão guarda as roupas .................... 112 docas ....................................................................................... 113 pá, Lia ..................................................................................... 114 experimento ............................................................................. 114 Um dia não vi São Jorge, mas um coelho na Lua .................. 115 cadarço caleidoscópio ............................................................ 117 Alguma coisa de vitae ............................................................. 119 inacabado andamento da síndrome "poli"... .......................... 120 roubei um Buda ....................................................................... 122 questão de pronome ................................................................ 123 Tangram emocional ................................................................ 126

Thauan Raposo

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Prefácio Com uma roupagem tão liberta e contemporânea, o ParaLéxicos seduz o leitor como poucos livros conseguem fazer essa proeza. E eu, fui seduzida.

Com uma forma de escrita própria, dando novos sentidos às palavras, nos tirando um pouco do chão de concreto que tanto nos firma e não nos deixa pensar para além dele, o ParaLéxicos nos coloca à frente de algo um pouco enigmático, por nos tirar do alicerce, e até simples.

Seus textos nos levam à varanda, que tanto nos aconchega e nos faz refletir, às suas amizades tão presentes, à casa do seu pai, às histórias de seu avô, às ruas do bairro onde mora e às suas origens, que trazem tantas lembranças da infância, reverberando algo nostálgico e que nos faz pensar sobre o nosso passado.

Também nos levam à sociedade, nos colocando à frente do nosso tempo como se olhássemos tudo em um reflexo no espelho e pudéssemos analisá-la. Nos trazem questões, nos trazem os medos e as incertezas atuais, nos retiram da obviedade dos dias corriqueiros e fazem com que pensemos se é isso mesmo que queremos. Nos joga num mundo de recorte e colagem de palavras.

Além disso, também nos trazem histórias únicas dos seus tantos amores. Até porque poetas amam também, de forma única e que nem sempre conseguimos entender na sua plenitude, mas eles amam.

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A história do seu Grande Amor por Elah perpassa todo o livro. Se ele escreve é para Elah, se ele se questiona sobre as coisas, o mundo, sua vida e suas crenças foi por ter amado Elah, por ter sentido algo que lhe tirou o chão e as certezas, e por terem colocado um mundo cheio de escolhas na sua frente.

Escolhas essas que são muito caracterizadas como “as certas” e “as erradas” e que tanto nos acompanham durante a vida.

Os textos do ParaLéxicos transmitem um amor e vários questionamentos desconcertantes sobre a vida de forma entrelaçada e simples (às vezes “simplesmente” com a mudança do sentido de uma palavra, ou com ironias suaves). Coloca-nos à vista de um desmontar e remontar de peças, que se encaixam e se separam, nos mostram imagens inimagináveis, ideias para além do já pensado. Demonstra-nos uma liberdade invejável e questionável.

Para além disso, mostra uma paixão pelas histórias que a estadia nesse mundo proporciona. Paixão essa por contá-las e por vivê-las na sua plenitude, se jogando de cabeça nos afetos e no que a vida pode nos trazer de “bom” e de “ruim”, como tanto gostamos de caracterizar.

ParaLéxicos é um livro simples, atual, verdadeiro e aberto, que nos faz ir além do que está escrito com muita facilidade, justamente por ser muito aberto às interpretações e sentidos. Ele nos dá a chance de sermos escritores também, de nos colocarmos dentro do livro, de viajarmos junto com ele e assim nos jogarmos de cabeça na vida.

Thauan Raposo

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É um livro intenso, cheio de vida e realidade, por mais que não tenha tragédias. Proporciona sentimentos paradoxais e desconcertantes, e que a cada momento que lemos, teremos diferentes interpretações e afetos.

O autor é um Pirralho. Pirralho este que sabe das coisas, que é quase um Chico Xavier de tanto que sabe. Ele é múltiplo, é vários e um, é paradoxal, troca de papeis. Ele não se diz um poeta, mas sim alguém que escreve para registrar as coisas que poderá esquecer. Seus textos, tão bem criticados e vangloriados por pessoas que não cansam de lê-los, ele os chama de “filhos bobos”.

Esses filhos nasceram em momentos intensos de sua vida, daí a tamanha realidade deles. Eles vieram ao mundo em contextos de grandes questionamentos, de grande vontade de mudar tudo, em que pensava em Um Amor, ou em vários ao mesmo tempo.

Seus “filhos bobos” encantam com a sua tamanha veracidade, por sabermos que alguém os viveu e os sentiu intensamente. Por isso eles possuem alma, e por isso eles geram tantas coisas em quem os lê, mudando, gerando ou criando algo novo.

Daniele Pestana

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Thauan Raposo

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pílula(h) Alguém quer me provar o contrário daquilo que minha mágoa suja, heroína, me salvou. Droga! Essa molestação da alma se dá pelo meio torto que fazemos as coisas erradas. Ela modesta, provoca a toda hora que puder. Serena, amena é volumosa, ideal, vai ocupar todo espaço que puder. Criança, não te atenta o fato que entre palavras e ações, anjos se calam resignadamente e voam entre crianças provocando a sorte de não quebrar o vidro com a bola. Tola. Não tenho dessas vaidades mornas que se contentam os que querem tudo. Meio ou pouco basta, nada é que é meio difícil. Vai me faltar vírgulas para me fazer entender. Clareza é manhã e só.

No pós-maca é curta a relutância.

me(n)tira Hoje eu tô querendo rasgar o dia e fazer confete pro teu carnaval. Tô acelerando forte no Djavan, querendo simplesmente complicar, só pra encher teus olhos de mim.

Quero caber sem me encaixar ou nem mesmo saber o que vai achar. Ache bem, ache bom. Venha também. Hoje a 1º pessoa do meu dia é um pronome do bom tratamento a você. E os menores que andem na linha, pois a faixa etária não permite delírios legalizados, tão imorais, que se fossem com outra ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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seriam banais. Hoje eu quis te guardar no globo ocultar, egoísta ser. Quis barganhar tua simpatia, sem mandinga, na cara limpa, para o coração prevalecer. Quis destoar e pingar letras até a maré encher e te levar praia mim.

Errar a propósito é ato simbólico, releva, revele. Na gramática a letra soletra erre. Estamos em mais que três... desaforo de folga. Hoje eu quero rasgar o dia... E esses enfeites.

do traço A apatia de uma maioria, os largados fodidos, os políticos corruptos, a própria corrupção, a violência gratuita, quem ganha muito e quer mais, quem quer algo, as classes. Aqui o risco de pobreza é igual para todos.

Não sou anarquista, mas vejo no caos a oportunidade de domínio, de sobrevida. É vertiginosa a sensação causada por esta percepção. E tudo pode mudar. Justiça social me parece um termo falho. Uma sigla de imposto. Não importa. Dias de tocaia.

E daí se o Daniel Dantas foi solto, se a PF batiza suas operações com nomes fabulosos e engenhosos. No jogo de alegorias, vestir a fantasia é fazer um bom carnaval. No caos está a oportunidade de se descobrir e obter o que se quer. Tudo tão amplo. Sistema? Esquece isso. Vivencie ele, lute por ele e se no final ainda quiser jogar algumas migalhas aos patos, pelo retoque da imagem ou por desencargo de consciência, jogue.

Thauan Raposo

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O que te digo soa (in)feliz. A indecisão prova-se com coerência pedagógica. Todos se armando ou amando. Tanto faz.

Acham que estou vestido, vendido, rendido. Tanto faz. Eu tô nu.

Eu tô brindando o caos de cada dia. Sou um pescador. Tanto faz.

E não confunda com política, ou confunda, é porque me sinto bem com isso. “Hora acaba, hora vira”.

mente Me dê cabeça, demente.

A imortalidade, eternamente Pouco de sono, dormente Você fala, mente Eu vejo você Levo de carona Pelos olhos, mente Dolores, dólares e dores

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meia hora Minguava enquanto pensava, minguava enquanto pendia, querendo a adequação dos mortais. Ser par, ser ímpar, tão bobo, morno, vaidades da personificação. Te achava tão espontânea e percebo hoje o quão lamentável você é. Doce e lamentável.

Queria sentir saudades. Sempre insistente e tortuosa, adorável saudade. Não sinto. Prefiro meus poucos livros e alguma música do Los Hermanos. Certamente disso sinto saudades. Até o cigarro não queimo pensando em ti e se comento agora é por consideração forçada. A TV se tornou tão interessante, a varanda tão aconchegante. Visito outros corpos e acabamos nos esvaindo na mesma falta de criatividade. Mais do mesmo e a vida em um círculo de futuros previstos, prescritos para não darem nada diferente do erro. Probabilidades. Algum matemático vai enveredar e pendurar teorias aos montes. Vai dormir e no meio do sono perceber algo que não havia notado o óbvio. Casacos. Irei guardar alguns, outros serão doados. Os mais novos, os mais velhos, os mais chatos. Culpa. Queria sentir culpa ou ressentimento. O cãozinho da minha infância em sua imagem remota remete coisas boas. Temos tão pouco das coisas boas. Esquinas, ele adoraria as que são marcadas com placas de contra mão. Teria deixado surpresas na calçada para outros transeuntes. Cada expressão. Ler o dicionário traz a graça que acabou na sua constante busca por mudar. Você não muda.

Sempre quer mudar. Sabe-se lá o porquê de tantas vontades, tanta fome por tão pouco. Pensar é tão bom e a varanda anda tão aconchegante. Palmas. Talvez eu fique à beira mar, talvez apenas perto do uísque. Agora consigo pensar na cinza dos dias, das horas. Surtos de euforia e psicodélicas sensações exauridas na mesmíssima falta de criatividade. Não sei nada sobre Thauan Raposo

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ditadores, mas dominaria seu centro sem pudor algum. Já penso em outra, alguém de relevância em pensamento. Pelo menos agora está sendo. Vitalidade. Preguiça traz à tona uma falta de me jogar no tacanho breu que se tornou cumprimentar os vizinhos. Estímulos são jorrados de fontes diversas, imersas na coalizão que formamos com Deus ou com qualquer outro que venha nos proteger. Só afogados se debatem. Que graça. Lindo.

Ares de tão reluzente personalidade, vitoriosa na certeza da segura escolha. Como sou bom. Dispensei o Vencedor, mas não faço o melhor que sou capaz. Ainda há algo maior que o mar.

Giz de cera. Alguns desenhos cairiam bem. Descontração. Total Despropósito Intermediário Alicerce, amigo ócio. Arquétipos de monotonia. Doses. Alguém pragueja. Uma mãe para com um filho. Reticências escorrem e pingam. Eu morro. Eu monte...

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in... É um caso sério. Alice, Salete, Mattos, Freitas, Luciana.

Estou envolvido com cada um deles. Alcino, Climério e Nelson.

A memória às vezes falha. São tantos. Os vejo de fora, por dentro e ainda assim beirando a cada virada do papel a constante surpresa. É um caso sério. Estou até o pescoço, e deixar de lado não é opção. Cada um deles. Rompantes e familiaridades, transgressões e buscas pessoais. Poder, conquistas e discursos sinuosos. Chuva de eufemismos.

Beirei imensas sensações nessa megalomania juvenil.

Fracasso? Não tenho essa sensação, não devo ter percebido.

Sobraram mais equívocos do que decepções. Sobraram ideias.

Pros dias serem ardilosamente férteis requer fé, só...

Vou ler o jornal local, talvez as cotações do dólar me animem, ou não.

Thauan Raposo

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marasmo...

Tem coisas que não dá para antever ou mesmo atrever a tentar. "Você parece um eremita." Balela. Adorável balela.

Ando preguiçoso com relação aos cativos da minha cabeça.

Anda tão estreita, viela. Vi ela. Errado assim mesmo. Na gramática, no tempo e ação. Vi ela. Atento vigilante, sentinela à distância. Dispersa, nuvem elegante sem esforço fazer. O que se atrela se faz nó. Ponto cicatriza e plástica corrige. Fios soltos correm atrás de mim. Delírios frescos, vivos, de preferência em um vaso bonito. Um vaso que quando cair... Estilhace! Porque o vidro que se parte e não estilhaça é politicamente correto. Só corta o intransigente e os dias não são assim. Cavalo que tem sorte e casco de vidro, não aposta corrida. Exercícios cinematográficos. A sinopse da sinapse que é curta. Até os jornais andam sumindo.

O marasmo intelectual é como uma greve, quase espiritual.

Atabalhoado em nada, tenho a impressão de que estou gritando no lugar errado. Olho e não vejo mesmo algo que desperte algum interesse genuíno. Continuo olhando.

Hoje pela manhã, tirei um tempo para lembrar de cada uma delas. Manias, olhares, palavras, roupas. Alguns momentos e até lugares. As passageiras, as duradouras. Engraçado como certas coisas parecem maiores do que realmente foram. Lembrar aumenta os fatos, sentimentos. A conclusão que cheguei: terceirizar pode ser vantajoso. O boquete pode até ser mais caro que o vinho.

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vestígio Te roubei uns anos amor. Você entendeu, pois roubou muitos mais. Eu me resguardei nas leis que o Universo deixou. Passada a lábios pelos ancestrais. E mesmo assim neguei tuas verdades, amor. Elas não cabiam ao meu sublime domínio. Te expliquei a sobriedade amor e a coragem deixei pro Destino. Você se debateu e quase afogou. Dando-se conta de que é um menino. Já de encontro à dor. Desacreditando do Destino. Buscando o mar serenar, as angústias atuais transferidas. Heranças de presença peculiar, aflições de garrafas vazias. Histórias lapidadas ao custo de amor alheio e ruas atravessadas. Não há volta para nós e uma ida é discórdia propensa a desacordos. Eu estacionei sem me envergonhar, o que a cada dia me tornava. Alguém te disse para não mudar. Eis aqui minha ruína. Te protegerei enquanto guardar sua alma na minha cômoda. Dessa rebelião você cairá.

Não precisa de trono. Prove meu engano, mas me ame ao final de tudo. Já tem tantos muros. Você fez casas em seu coração.

Você fez casas em meu coração.

Tantos muros brechas. Brocham murros impotentes. Na dúvida conduta. Joguete de transparente. Atue dissimulada. À tarde contente. Aflui desencontrada. Arremessa valente.

Simpatia retratada. Calor perene. Suja desaforada. Murro brecha brocha impotente...

Thauan Raposo

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leve Leva toda carga que habita no sótão do teu pensar. Porque tua escurecida visão de alguns fatos se eleva acima das cabeças.

Para que porões? Os ratos com quem andava não sobem em árvores nem olham para o céu. Leve, tá vazio, mais tranquilo, mais espaço pras velhas novidades. A poeira dá um tom. Não de abandono, só de tempo. A poeira insiste em dizer que ele está ali. Infinito. Até que a morte nos separe. Envelheço enquanto o pano passa por um lugar que em breve voltará. Marcar continuamente, todo espaço que puder ocupar. Desenho no vidro do carro. Alguém diz que vai manchar, que manche. Eu gosto do desbotado, quando é feito sem querer. Desbotado da tendência do ano tal, blergh. Uma pauta dessas é cansativa. Que escrevam, que cansem. Exaustão sem suor ou prazer. Desvios do momento. Traços vão sendo formados e deformados. Prefixos.

Chovem aos montes e a substância substantivo evolui ou implode. Sei lá. "Sei lá." Me inclino pra essa expressão sem acanhamento ou vergonha. Não se é imortal todo dia. Nem mesmo interessado, em algo. Qualquer coisa. Voltando aos muitos motivos de hoje. Intenções. Sempre permeando a vereda diária. Quando é divertido pensar.

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Moça Moça, mesmo que eu vá agora Saiba que não vou embora Por enquanto, por espanto, Petrifico nuvens, ponho fogo no mar E o silêncio estrondoso do meu canto É uma prece que teço sem pressa Olhando teu voo de ave-moça Cheia de graça se despedindo Dando adeus como quem quer ficar.

Moça, essa tua bossa Parece chuva fina, água em poças, Areia movediça, floresta de rimas Que não rimam com verso algum Porque teu voo de ave-menina Não deixa rastro no céu Só o perfume de saudade De quem ficou só na vontade De capturar o que foi feito pra voar Voar sem limite, sem véu, Ao léu.

Moça, essa tua prosa, toda prosa Esconde o mesmo que todas as rosas Semeando cores e odores pelo caminho Sem contar onde guardou seus espinhos.

Tua presença arrasta olhares para alhures Brincando no céu como faz a gaivota Fazendo seu ninho lá nas alturas Thauan Raposo

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Onde minha alma de menino te procura.

Moça, teu olhar de quem perdeu o mapa É puro charme, porque tua presença sem pressa Traz nos gestos descomplicados e incontidos Uma paz estranha, uma sabedoria enorme de séculos sonhados mas não vividos De risos precisos, preciosos, poderosos, Que jamais deveriam ser interrompidos.

Moça, ave-menina cheia de graça, Toda classuda, teu olhar nem disfarça Que quando o sol aparece Ou quando o vento muda É você que manda, comanda, exige Que as leis da Física te obedeçam Enquanto você vai para além do tempo e do espaço Deixando secretas vontades tatuadas nos meus ossos.

Moça, teus modos de ave marinha São meu farol, minha bússola, estrela sobre o mar.

Não é preciso viver, só é preciso navegar.

Eu, bucaneiro sem rumo e sem rum Sigo a navegar pra lugar nenhum.

Persigo teu voo sem mapa, eu pirata Traficando desejos tranquilos como uma tormenta Ouço trovões como se fossem uma fina bossa E lembro que sou barco, e meu mar é você, moça!

Thauan Raposo e Marcelo Sousa Outro desse, outro dia, ou vida.

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Toca Eu estou com uma puta vontade de gritar cala a boca!

Observo a disputa pelo território, pelo centro da razão. Eu não sei o que se passa no interior dos demais. Mal entendo o que se passa comigo. Um pouco mais cedo, percebo que qualquer emissão, verbalização em som de algum pensamento, se captado pelo radar, é questionado. Silêncio não protege como antes, agressividade não protege. Depois de castrado, você perde a sensibilidade para certas coisas. O medo também sufoca. Tento tornar tudo menos pior. Minha densidade realmente não permite.

Vivo das experimentações. Não me sinto conectado. Só trucido meus neurônios de formas distintas. É um coma induzido.

Desviar o recurso, a energia para o vital. Viver. Se não der tempo de existir, pelo menos vivi cobrando, cobrado. Algo rústico aflora na falta do tato. Faço com palavras, o mesmo que faço com as roupas. As possuo e uso as mesmas. Por questão de gosto, acho. Até as mais íntimas se repetem. Marginalizado. Sou cativo do preventivo e a gratidão parece ser essencial. Descuidome e xingo. Às vezes machuco. Às vezes algo parece claro.

Cagam em cima. Marginalizam, rotulam, fofocam, alimentam, abrigam e não exploram. Nem para o bem, nem para o mal. Sem perceber o limbo criado, são dobrados, fundidos. São aspectos desse limbo com voz e personalidade. Esperam o melhor, rezam pelo melhor. Não quero a heresia, nem a profanação. No limbo cativo, medos são sinos que o silêncio acoberta.

Thauan Raposo

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trincheira Quando o vinho acaba e o cigarro também, o jeito é cambalear educadamente até a padaria. Enganar o domingo requer uma astúcia barata e corajosa. Coisa só de quem namora.

Extrapolação delicada, sutil. Obras em infraestrutura, é isso, obras em infraestrutura. Não há melhor amigo que uma calçada lisa. É um cúmplice sempre presente. Passo a frente e adiante.

Passo. Embarco nos bilhetes encontrados pela rua. Alguns me lembram de Deus. Outros de alguma possível chance. Quem dá esses pequenos recados têm feições camaradas, mas ser amigável é difícil. Esbarro na familiaridade que só o tempo e marcados trajetos podem oferecer. Confortável nesse reduto conhecido, caminhar é enganar o domingo. Ela é um suicídio emocional. Saudades do sexo fácil, frágil, decadente. Obras em infraestrutura...

fios Visto uns fios todos os dias. E mesmo assim, alguns ficam pendurados. Os do cabelo andam agitados e os fios do cabelo dela, molhados. A marionete anda sem fios, o mouse também. O impaciente é um curto pavio. A luz roubada exige maiores e os que nos prendem, invisíveis. A navalha é cega se não for chateada, se não for amolada. A navalha é cega se não for educada, se não for fina.

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estimo Toda manhã é ressaca. A noite anterior não foi desvairada, não foi regada de rendas e prendas, nem de longe abençoada por uma santa ou amaldiçoada por uma bruxa. Toda manha é escassa. Toda manhã é uma ressaca embrulhada e enfeitada de laço. Dádiva é o adorno da xícara e do carinho amargo no café que faz o corpo pulsar. Parece aquele amor de fim de tarde, com gosto de dia cinza, de vinho queimado. Toda hora acontece uma trapaça, a cinta desliga os sentidos. O blecaute no cérebro, toca sinos no asfalto pele que é parque e céu. Lençol barato, vira seda, vira cela, vira véu. O pensamento barato vira sacanagem mesmo. Jornais continuam a manchar meus dedos de tinta e borrando meus olhos. Não sei se fiquei míope por ofício ou de choque com umas colunas alicerçadas em fama e diploma. Todo dia é uma trapaça, cada respiro é respingo de alguma palavra. O efeito contínuo de que nada entre o Acaso e você faça sentido, já lá atrás, aqui em cima, meio perdido. Tem devaneio que não larga a reincidência de me causar acidentes. Os primeiros sempre trazem os erros...

A minha prece é caixote de madeira, aqueles de feira. Sabe qual? Esse mesmo. Eu ripo as ideias e as prego. Meu maço de incensos com pão pra ser dividido. O caco da janela de grade, corta sem querer a de vidro. Paralelepípedo bordado no estandarte. Não sei. Religiosamente me confundo.

Thauan Raposo

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NDO...

"Ah! Se não fosse o samba..." Falou o locutor da rádio, anunciando o programa de domingo. E perto do meio do dia, ouvia isso sentado, comendo um misto sem graça e de calor apressado. A manteiga derretida e o queijo amarrado, embotado.

Eu fazia hora, ou perdia. No fim esperava. Eu sei que naquela hora eu percebi que as moças que passavam se vestiam iguais e tinham corpos iguais. Achei engraçada a semelhança. As poses, os rostos, a maquiagem, maquinagem. Roupas, trouxas e bolsas malas, tão vastas e coloridas. Passava, passou. "Não sou, eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer a tristeza que um amor lhe causou. Não, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer, na manhã de um novo amor..." O rádio tocava e essa música é especial. As músicas têm esse dom todo especial de nos dar vozes. Aquele cara lá sou eu dizendo o que nunca consegui pensar, mas que nunca parei de sentir. É meu universo coagido nas letras que não arrumei. Algum tempo. Logo fui para o ponto, onde alguém me esperava. Mero plano. Planos...

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Salve Agricultura Celeste Vai ser um cometa com uma média calda. Na calda vai ter uma plantação de milho, quase maduro, quase pronto para ser colhido, acolhido, bem feito e usado. No cometa, um Dom Quixote estático, não irá parar sua busca. Boa busca. Um louco.

Se fosse lúcido, seria apenas um fidalgo, um filho de algo, nem mesmo um filho da puta. Uma cachoeira, com pedras em seu topo, plantará bananeira para regar as raízes do milharal, água doce, água viva. E o que seria tudo isso? Nada além do que quiser que seja. Se os astros estão desalinhados na quinta casa.

Se aquário serve de pote pra leão beber água. Buda virou grunge e descobriu o nirvana. Odin pode ser caolho, mas escolhe bem suas doces Valquírias, impetuosamente divinas. Brahma não entende porque virou nome de cerveja e Ganesh um elefante asiático em extinção. Javé bronqueou com Jacó, que era também Israel e não sofria de dupla personalidade. Jorge matava o Dragão, Iemanjá reinando no mar. Uma tartaruga carregava o mundo no casco. Jesus apenas olhava, até que falou...

Entre tantos Mistérios do Planeta: Vou mostrando como sou e vou sendo como posso/Eu deixo e recebo um tanto/ E passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas/Passado presente, participo sendo o mistério do planeta/Eu não passo de um moleque do Brasil...

Só que isso foram uns velhos, novos baianos que disseram.

Thauan Raposo

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éfê(f)mero Não muda a conduta da beira de rua. Faz do asfalto mapa, do salto, agulha. Costura. Pinta... Borda. Acho que já falei algo perto disso, ou daquilo lá do começo. Um sujeito sem jeito é também sem predicado. Nessa rinha de galo sentimental, acabamos andando sobre ovos. Tudo bem composto, tudo a gosto. Quem faz, desfaz o desfeito. Quem alinha, ajeita o torto do receio, o torto medo. Passo é trilha marcada, segura de alguém que chegou até ali e adiante. Um pouco depois. Avós, aves e netos. Recordo-me de salvar os pescadores, de pedir que os salvem. Naquela prancha de surf cheguei bem longe no mar.

Casa de tijolo com beirada molhada. Casa de tijolo.

Manhãs e madrugadas se misturam. Os sonhos delirantes, são fruto da febre, da ausência e dos excessos. Usar o vocábulo como malabarismo e tirar um ósculo da cartola. O circo pega fogo e eu plateia, aplaudo. As notas medíocres notas. As notas que dizem o quanto eu tô valendo. Esse capital intelectual medido em notas, desvalido em notas. Balas de coco e sucos de uva. Os nomes das letras, as suas letras, seu nome. Uma oração inteira. Uma oração... Daqui a parede do teto é tão bonita.

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papel velho Não existe força ou fúria que mova asas cansadas. O cansaço é inevitável. Ora explicável, ora não. Querer, ser estar, ser alienado, ser consciente, corrupto ou super decente. Na moral, com moral, banal superficial ou teórico existencialista.

Transitando em círculos de fé, orações ou simpatias. Políticos na leva da maré, interesses pessoais únicos, ou pessoal maioria.

Democracia, anarquia, a república federativo monarquista sócio ambiental do desdentamento norte vietnamita. Vitamina de banana com bolinhos, o café de leve na padaria. Nossa casa, nossas marcas. O marketing criminoso, legalizado, narcisista.

Quem vende, quem é usuário. O médico, o mendigo, os especialistas. Barro de pau a pique no barbeiro trás felicidade, cagar em cima das feridas, chagas fazem parte. O rio com excesso de orgânico, vira lixo. Uma tribo para o caritó. Outra tribo indie pop dub vishinu. Calcular o superávit primário, nominal. Dar nomes aos bois, aos carros e aos carreiros.

Batismos de navios, com nomes funções adventos.

Bombardeando imagens de amores plausíveis e inaceitáveis.

Amores cansados, amores de casado. A chuva do banho da noite, a gripe da madrugada adentra. Adentro do quarto cheio de um par a tudo preencher. Cobrança pra poder sonhar, cobrança do trocador. O tocador a vacilar, discos arranhados, sons deturpados, adeus mal dado. Aos jogos de azar, sorte.

Matemática aos nobres, impostos aos condenados. Esbarrando em tudo, esbarrando em nada. Os olhos doem com tantas imagens, os olhos de velho, passeando na estranheza dos dias.

Thauan Raposo

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de esperto, desperto, acordado, combinado...

Hoje você vai dizer que tem algo de esperto, que tem algo imerso e também acordado. Pode ser até combinado, só não vale ser com certeza. Vale mentir de verdade e dizer que saudade é nostalgia, que as xícaras de café transformam em vórtex de chocolate, com colher girando fazendo sua magia. Algum estalo que vem do som de outro alguém ou de caixas e surdos que faz com que o bem se manifeste no ressoar de suas notas.

Algo que me ocorreu enquanto estava em uma paz de espírito genuína. Um momento que durou pouco, pois logo vem a normalidade, ou o que em voga, está sempre presente. Veio-me com um ar de quem está apenas parado olhando algo...

traços sóbrios O que você transcreve enquanto eu discordo e que se reflete nos olhares perdidos. Olhares preguiçosos. Tanta maldade contida nas ultimas fileiras, pronta a invadir o território amigo.

Fogo funde o ferro do ataque, estarrecedor. Cortinas puxadas e as mesmas palavras. O que importa? Diga-me algo que não pareça louco, mas que me empolgue como se o mundo fosse acabar amanhã. Algo que abra ou feche um dia. Um bom dia.

Tantos fragmentos que pensar inteiro parece bobo. Tudo não é nosso. Nosso jeito, roupas, verbos. Inventamos e nos damos por ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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feliz. A unidade de agregar o que não é nosso. Dar um troço se conseguir, dar um treco se não aguentar. Anos teimam em brincar, teimam em teimar, em subverter as pessoas. Nunca imaginei achar o dicionário pequeno, ainda não acho. Só me apego muito àquelas palavras e seus radicais tão radicais.

Pormenores e outros causos, retratos e sorrisos. Não sei.

Transbordar já não é tão eficiente. A tal busca é tacanha.

Contínua. Agora tacanha. Amanhã quem sabe? É tudo muito divertido e interessante enquanto tem esse ar sujo. Coincidências são empolgantes encontros. A cara contra o muro no dia seguinte é só um corpo fraco que gozou demais e só pensa em dormir. Em deitar. Nem quer sonho. Quer dormir e gozar mais na noite seguinte, a que vem, já pensando na saudade que vai ter... Quando ela for.

Preenchi de vermelho um quadrado desse cubo tão mágico, tão chato. Fiz carnaval.

Thauan Raposo

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tira colo Sento para realizar o fenômeno que é pensar. Amolo o ócio e o deixo afiado feito faca cega. Ideias atropelam lembranças e se fundem de forma grossa, atabalhoada. A inércia é confortavelmente enganosa. A revista do mês que ainda não chegou, já chegou, falando do mês que ainda não passou. A revista do mês que ainda não foi, fala bem, fala muito daqueles dias já falecidos. O policial continua a revista, a rave continua.

Doces rolam e crianças se divertem. Vamos em frente, a vida segue. O jornaleiro anda preocupado. Ele consome o que vende, ele sente o que vende. O Jornaleiro é do tempo das vanguardas modernistas. Revoluções sanadas, revoluções postas. Ele sente o peso da idade, sente a tinta do papel escorrendo sem querer.

Lágrimas nos gráficos, cachaça nas colunas sociais e dores na lombar. Falta aquela magia Disney.

As compras no mercado e a gravidade me lembram de certa pessoa. Tiram o ar, maltratam o coração, exibe nossas fraquezas e nos deixa mais forte. Ofegante, bebo água. As pessoas andam partindo. Nada mudou. Fazer coisas diferentes, com pessoas diferentes, outros apelidos. Prosas e até brigas. Penso no vinil...

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quem Prometeu Peguei um copo d'água pra agitar fazer tempestade. Que jeito torto de fazer amor, parece pouco, parece tosco. Nem parece amor. Pontuo reticências. Quebrei meu biscoito da sorte e o papel não dizia nada, tinha apenas uma filosofia barata. Cuidado com puta de beira de estrada! Tão indiferente vi que as diferenças nem sempre acrescentam algo, a coexistência pacífica é algo teórico e só. Blá blá blá e só. Aprender com o diferente?

Não sei. Na minha indiferença sou ignorante ou intolerante por não me importar com tais diferenças que me desagradam? Não tolero lactose e amo o leite e a forma como ele demonstra seu amor me fere, causa dor. Procuro um substituto, procuro novas químicas. Tudo ilusão. O que amo não me tolera, ou é minha natureza não absorver. Vai ver o platônico é mais imperativo.

Darei meu amor às vaquinhas, pois a lactose delas vai fortalecer a outros. Não eu. Mas as vaquinhas posso amar. O que realmente aprendi com elas a não ser ruminação? Não é no paladar, nem no tato. Não beijo, não abraço. É na transformação. Como chega e não fica. Até esbarramos com substitutos ou outras atrações. Mais aquilo que não nos completa e por não estar presente não nos deixa terminar de crescer é um paradoxo que fica circulante no peito. Ainda bem que os cientistas explicam tudo, com seus tubos poderosos e seus cérebros de titânio. Enquanto nós esperamos pelo fogo do amor celestial. Esperando que algum Titã tenha coragem de jogar uma luz sobre nossos corações e estômagos fracos...

Thauan Raposo

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dialética aleatória Sentar na varanda para olhar as nuvens é sempre interessante.

Só desconfio das nuvens paradas, que se movem devagar e daquelas que o vento não desfaz. Nuvens, hum, tenho lá minhas dúvidas. Muito firmes para meu gosto, uma bela erosão branca.

Falando em branco, os anjos são tão bem humorados.

Vestindo-se de pipas avoadas e soltas no vento. Mal disfarçam a felicidade em planar. E as crianças correndo pra pegar, para por no alto e avoar o anjo de novo. Eu mesmo tentei aparar, mas o cabresto do anjo apontava pra Lua, o meu cabresto apontava pra rua e meus livros me apontavam as orelhas querendo meus olhos... "... alguém me avisou pra eu pisar nesse chão devagarinho. Eu vim de lá, eu vim de lá, pequenininho... alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho...".

Engraçado pensar que o presente é embalado e o futuro pósembrulho. Andam conjugando previsões em cabelo de ovo.

Acho eu.

O pensamento solto é como um fuxico com pontos mal dados. É pano, retalho e beleza. Tá beleza. Fecha e deixa...

A pauta linha, aponta a dor e escreve, afia a vingança que cresce, afia e esquece e escreve. E pontue.

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nicho Tem algo na vida que ainda não consegui sentir. A solidão física tem me acompanhado. Flerto, dissimulo com ela da melhor maneira possível. Sinto, contudo, que o que está aparentemente longe, está muito mais próximo. Continuo a levar como se tudo fosse fácil. Não é. O desabrigo me desconforta e já não vejo porque ousar bater em outras portas. A alegria é tão passageira, tão ligeira. Sinto-me nulo. Tento manter a pose, em vão. No vão do meu agudo íntimo sei que tem lágrimas detidas por barreiras. Por bloqueios. Conceitos não são revisados, revertidos. São pisados e postos de lado. Tanto a ponderar. O que se abate é bem mais que o calor. É a vontade de gritar.

Enveredei por um caminho com volta. Espinhosa. Livrar o peso da alma parece uma tarefa hercúlea. Arreios e programações. As emoções tão a flor da pele que até um episódio final de um desenho qualquer, desatrela o choro contido. O menino bobo reside em sua forma auricular, pulsante. Diante de tantos olhares de reprovação. Finjo não ligar, finjo muito bem. E a soberba só me crucifica mais e mais. Quimeras meu jovem rapaz. Os sonhos, os santos, os homens são feitos de barro. O sonho do homem santo, o santo sonho do homem, o barro e Deus a brincar, modelando latitudes e longitudes interiores que nenhum mapa mostraria. E ria, só ria, sorria, só, ria. Da mentira que ele cria, a ciranda que gira corta, pra contar que meu anel era de vidro. Quebrou-se. A alforria é algo caro e o preço nunca é o bastante. Quem escolhe o adverso se encontra na pose de modesto vendedor nômade. Viajando sempre só, com seu bloco, sua trupe. O leão vive no seio. Oculto ao deleite da vida. Sem saber. Sem que, nem por quê. Não se destina, nem se desvia do seu curso. Beirando retas, flores e muros...

Thauan Raposo

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pensamento de aluvião Quando virou pó um pouco daquelas peças de alegria. Tão montadas, tão bem feitas. Incorrigíveis, lindamente incorrigíveis. Sobrou espaço até no telhado do armário. Muitos até pensaram que colocaram para baixo, mais acho que era algo na água. A mesa de concreto e a conversa nada sólida. No tabuleiro dois lados, damas postas. Na mesa quatro lugares, moças dispostas. Uma hora tem cara de conversa, outra hora parece prosa. Na cantiga que marca o tempo, criança é inteiro quem conta as horas. Contra as horas o advento de não desperdiçar. Um pouco de pressa aqui, outro pouco de pressa lá a salpicar, a colocar e perceber. Ponderar que tudo não vá como água do banho, para o fundo do ralo correr. Estou roendo minhas unhas, uns roem as vidas, outros riem das vindas, das bem vindas, das bem idas. Senhora que enrola e finge que vai matar a cobra. Tem hora pra serpentear e pra sapatear de salto. E no salto a queda livre, totalmente presa à gravidade, da queda, da Terra. Ócio, ócio e ócio. Olhos sedentários, obesos, indolentes. Fui peneirar as pálpebras. Acabei de levantar, tem um café para me distrair...

"Colombina tão encantada, eu vestido de Pierrot, no cantinho ali na praça. Ela toda prosa, meia longa e com bordado na saia.

Maquiagem no cabelo, Colombina destoava. Eu Pierrot menino, uma gota, querendo salgar lágrima, uma cerveja querendo salgar mágoa. Fui despido de supetão. Foi em solo sagrado do seu quarto, porta fechando, descobrindo um coração. Ela nada menina, meia louca, fazia óculos bufar. Eu Arlequim tímido já estava pensando em andar...apenas pensei que ia andar...".

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espasmo O espírito quando é largo, o fogo consome ele. Vários tipos de fogo, várias formas. Várias ideias. O Vário é quase um elemento químico presente no espírito largo. Não grande. Talvez grande. Largo. Quando sons entram em conflito, dificilmente o arranjo lhe cai bem. Se bem que em pensamento é tudo muito brilho, muito fosco, muito misto do etéreo. Seguindo na sutil tomada de imbecilidades o tato e cãibras brigam. Atrito. Penso nas travessas da cozinha e nas tantas entre ruas. E nas suas cozinhas entre ruas. Peno em resistir e em existir... Penso em picar papel, matérias escritas, esquinas escritas. Penso, peno e sinto a alegria de se sobreviver a outro carnaval. O tempo anda muito confuso, anda mexido, revirado. Tempo anda meio curto, de vara curta. Sensato?

praia calçada A cada passo dado nesses dias tão festivos, um nariz de palhaço fará toda a diferença. Vai se juntar com as ilusões de cada dia e virar pó no brilho das purpurinas e paetês. Umas asas de plumas para não poder voar, um suspensório para segurar um peito que pede o encontro com o chão. A cartola e sua auréola circular e um nariz vermelho para todos os enganos. Tanto encanto, dançando com desconhecidos, sorrindo em cima dos paralelepípedos da rua. Na escadaria de uma igreja, após tanta folia o bloco do ar volta a fazer concentração na praça dos Thauan Raposo

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pulmões. Contando o dinheiro da passagem, guardando o sorriso no nariz que vai ao bolso, na bolsa, onde couber. Não em mim.

O som de risadas próximas e algumas lembranças que parecem distantes. Só parecem. O ontem se vestiu de saudade e veio sentar do meu lado e tocar uma flauta suave em tom de reprovação. O ontem se esqueceu do verão e desceu na estação errada. Eu já havia descido em casa, perto de outros paralelepípedos e longe de algum ponto reduzido a fração. E fui pensar em leões e laranjas e na mágica escondida na vibração do som... Fui ver o forno e o calendário.

Eu não sei dizer metade das coisas que gostaria de dizer. A lógica parece fugir e logicamente sou ilógico, analógico e não digital. Sou quase um instrumento vivo e com tempo desafino e com toques desalinho. Sou de corda e me penduram. Perduram.

Perturbam. Queria ser surdo, oco e marcar outros passos...

jogado O melhor patrão, certamente é Deus, que dá asas aos seus subordinados e transforma santos em estrelas suspensas, misteriosamente, no Cosmos, com suas lamparinas movidas a milagres e torrando hélio a todo vapor. Tem hora que uma indulgência vai tão bem quanto um bom uísque.

Enquanto isso o contraventor celestial trafica milagres semanalmente. Com deuses mortos faz acordos e barganha

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vitórias. Tão adorável a arte de piratear o Paraíso. Pedro que segure as chaves porque de purgatório a imobiliária é um pulo.

Resolvi certa manhã abrir um bordel para os meus pensamentos mais indecentes. Cansei de ver minhas ideias sendo prostituídas por qualquer um. Resolvi toma-las ao meu bel prazer e ter algum momento de luxúria. Algumas ideias são putas e infiéis. Abrem-se melhor com estranhos.

Embebido em reticências, pareço ganhar o mesmo jogo... Três pontos...

uns tantos Mire-me como se eu fosse o nada e me acerte sem me tocar.

Estique-me como se eu fosse borracha, mas não me use para apagar. Não converta minhas... Como pontos dados pela agulha.

Não sou do corte, nem da costura, só te bordo, te pinto, te abordo, me insinuo para te pescar. Ave Maria cheia de Graça.

Rogai por nós Pescadores agora e um tanto sempre... Aponto o dedo e te mostro onde você poderia tomar algo conveniente ao seu ser. Sinalizo a direção do bar. Essa conversa de gaita anda tão fora de forma...

E hoje, logo hoje a bula culta me insulta. No seu aprumo de quem contra indica se diz mais que mãe. A bula burra é curta e não conhece a dor, elitista fala comigo altiva e temperamental.

Thauan Raposo

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Assim, assado meu caro, diferente disso é mortal ou pouco de mal. Foda mesmo é um genérico que faz o mesmo e vem com uma bula vagabunda, uma bula burra, uma bula-bula...

As luzes do shopping fazem mal. Soterram, confundem, iludem. Perder o tato é questão de tempo. Hoje, ler vai ser como trepar sem vontade. Será bem vindo de qualquer forma. Um cigarro vai me contar algo, o mal filtrado que trago para mim é o espaço entre outro estalo qualquer. Outro pensamento qualquer.

O ato de agradar é corrupto, condescendente. E me deixa quieto... Calvície de um anjo...

Um Pierrot pensou assim...

Eu luto há tanto tempo contra esse luto. Não que tenha morrido alguém, mas a certeza da partida sem retorno me causa essa sensação. Joguei-me de cabeça em tudo que veio depois e assim que o gosto abandonou a empreitada, eu pulei fora.

Sempre pensando e padecendo. Criando, tentando justificar as incertezas e as tristezas, subvertendo tudo sem motivo.

Magoando com velocidade e com fome de quem não entende o amor. Quanto tempo vejo essas fotos? Fotos poderosas, devastadoras. Acho que todos os adjetivos que aprendi foram para elas. Que saudade inoportuna, meu cigarro acaba. Outro nem faz sentido. Vou a um parque, vou a um show. Sem satisfação a dar, nem a ter. Fujo. A propósito enxergo no meu despropósito alguma lastimável graça. Consumo. Tento ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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justificar, tento não me importar, ir embora. Faço pela metade.

Que fotos poderosas. Diminuo a altura de um verme. De longe sinto até orgulho. Arrogante e tola participação. Tanta liberdade que procurei, tantas filosofias que persegui, tantas folhas que li e outras tantas que desejei ler e para quê? Até do que abri mão pouco me importei. Que fotos poderosas. Registro sempre tudo, para não cair na mesma piada. Já não ligo, tento perceber algo mais. O cara que eu queria ser. Durão por osmose. Não sinto vergonha das péssimas escolhas, nem muitos arrependimentos.

Porque tudo se resumiu do ponto onde perdi os sonhos. E olha que sonhar é muito difícil. Até com o plausível eu perdi a fé.

Não vou ser rebuscado, a verdade é que engano bem escrevendo. Que fotos poderosas. Como queria fazer parte delas de novo. Essa dor desbotada que não perde o fio da meada.

Circulei à toa. Sempre soube, sempre serei convicto nessa ideia.

Que fotos...

Imagino que está lendo agora com desdém de quem tem pressa para viajar. Articula com veemência que o coração desatina quando olha para o céu. Vê bobagem em mim. É recíproco. Tempo que não nos falamos e tempo ainda até a próxima. Nem sei se vai ter. Talvez possamos nos contradizer em outra vida. Você é como fluido de isqueiro. Tenho vontade de dizer que te sinto tão perdida quanto eu, mas sei que você mente bem. Você me ensinou a mentir, a ler as pessoas, a entender detalhes. A gostar de forma fina, sutil. Ensinou-me a conquistar, a explorar e tatear com delicadeza. Até com minha deficiente aptidão para o inglês você se envolveu. Sempre pronta uns três passos adiante. Surpreender-te foi algo difícil, que ia ficando escasso. Agente sempre soube no que ia dar.

Sabia ser vulgar com muita maestria. Que fotos poderosas.

Thauan Raposo

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Como enganam bem. Jogar, destilar, iludir. Tão talentosa. Uma quimera celestina. Repasso as lições, pois com elas vêm saborosas lembranças. E disso, entre portas abertas ou luzes acesas, não abro mão.

E vinhos serão abertos, junto do meu cinzeiro nessa tarde tão fria. Concreto que solidifica a parede, entrega na rede a mole isca. Você provocou em mim grande exultação. A dúvida do seu caráter fez assim comunhão. Aquilo que raia no dia pré amanhecer, há de serem suas pernas delicadas enroladas entre o lençol e o colchão. Suspiro na leveza do afago que a força incumbida de tanto tesão. Saudade é andar de barco, sorrindo acordado, perdido palhaço, de canto, de lado jogado no Centro de algo pequeno como seu coração.

Brindemos a Clowd, que descobriu porque Ícaro caiu.

“Coringal” Quero que algo exploda com intolerância soberba e abundante de coragem. Molhado na fina cegueira de reis benevolentes, de alto Ás pessoal. O respeito medido a polegares, sinais positivos medidos com um polegar. Joelhos. Salgados e ricos de cálcio que mora nas conchas salgadas pelo mar. Minha revolta serena é doce e solitária. São noites de tourada. Pensamentos a lhe chifrar as carnes. Aja vontade, pego quantos posso pelo chifre. Bebo, brindo, omito desejo e minto. Minha fadiga é repetitiva, é fadiga concursada. Tem estabilidade. Açoite garantido. Imperativo.

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Vejo nos nomes compostos, palavras mágicas. Adjetivos certos e xingamentos calorosos. Caralho! Puro bocejo.

Nem vi meia noite, nem vi inteira. Tem um esforço em relevar, em revelar. Quem grita, entende o ouvido que quer ferir, quem come sabe do gosto do ali e do desgosto do antes e talvez depois. Preposições e ligações se repetem. O que muda planta calada cresce. No solto do pensar. Na chifrada do pensar. A discórdia é uma codorna que se for alimentada vira um pavão.

As palavras. Caço-as, as cato. Rearrumo, invento e procuro novas, para dizer o mesmo. Palavras... Quase ofendo a alma.

reboliço Você me diz que sabe brincar, mas não embala meus presentes e ainda enche de papel picado o interior da embalagem... Você brinca pensando que vai subverter minha opinião. Eu não pingo na sua mão porque teu humor não me cativa apenas me obriga a lhe sorrir educado. Hoje eu sou reflexo da tua gula, sou antiácido pra acabar com tua agonia.

Barra forte de barco quebrado, vela sem pavio, cera parafina.

Será que nesse jogo tolo, bobo de intenções sádicas, você consegue ler que não há mitos gregos, nem heróis e semideuses.

O culto do seu modo e meu culto ao ócio e a vontade latente e perene em querer se estar e atravessar conturbadas pontes nos impõe uma busca devastadora dentro de nós. Trás a tona o tinto do vinho derramado no carpete. Noite de quarta, ar condicionado e eu condicionado a te encarar sempre como se Thauan Raposo

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fosse à primeira vez. Quer ser uma eterna desconhecida, quer sempre ser nada mais ou nada menos que breve lasciva. Vem de cara na mesa pequena do jantar ameno, pura desculpa para contemplar a cama, mesa e banho. Se esse anseio não acabar com essa "gastura", tem algo na alma faltando e não é coragem.

pra que?

Tem algo murmurando meu nome ao pé do meu ouvido. Já não sei se são sutis avisos ou crueldade de anjos brincalhões.

Sinto no cansaço o maior estado de glória no sentido oposto da vitória. Permito inclinações fortíssimas em direções vagas, certamente vagas. Tão certas, que não perco a direção do olhar.

Sem saber nada, sem ser nada, sem nada ter. Cansaço repouso tranquilo e inerte. Estonteante sonho que badala minha cabeça como sinos silvestres. Olhe meu amigo, os tempos já não são os mesmos. Os custos de pobres enredos, balançamos pobres fantasias. Olhe meu amigo, ando de briga com meu adereço, que sem endereço se perde em mim. Copo d'água sufoca e desafoga essa clemência presente. Tem um polvo de beterraba e seus tentáculos de morango sendo construído. As conversas são muito mais importantes, trazem à tona improvisos luxuosos.

Dias etílicos são frágeis. Desejo que não sejam aparentes. Tanta ansiedade por certezas sórdidas. Será que vou caber apenas em pequenos ladrilhos?

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inesperado Fui atendido e abençoado pelo acaso de mergulhar em frases soltas, risos frouxos. Tantos amores e o meus bons amigos quando os vejo, é festa. É carnaval. É padecer no confete e serpentina, é um copo de vidro, de plástico, um copo de vida. A solidão traz esse tipo de percepção. Tantas escolhas e preocupações em um cotidiano cinza. Clichê ou não, é cinza e muitíssimo demagogo, que nos enche de si em sua vasta cara malvada. E só sabemos daquilo que nos falta, mergulhado em virtudes que não são nossas. Virtudes hereditárias, sonhos hereditários. Talvez eu não habite mais naquela casa de palha tão idealizada. Talvez eu peque pela indolência, pelo cigarro, pela fumaça dos carros. Tão complicado se engajar na vida. O empreendimento de Deus, sermos meros contraventores celestiais. Mas isso fica para outro dia. Para um dia em que eu poça mentir ao construir alguém que não exista, algum dia que eu não me culpe por tantos pecados. Algum dia que eu possa atender a minha árvore genealógica. Sou desses, culpo meu sangue. Meu defeito é de fabricação e nem mesmo uma autorizada resolverá. Deixa. Hoje tosco e comum, procurando algo sem nome ou forma. A utopia doce que os hormônios oferecem. Os entorpecentes que habitam em mim são terríveis, causam tonturas e nos levam por ai. Quem sabe o que se pode encontrar fora da toca. Quanto tempo realmente se tem? Sei lá.

Cada dia sei menos. Cada dia me torno mais bruto e calejado.

Puro reflexo disso é minha pressa e meu vocabulário reduzido, que medo terrível me assola em não expressar aquilo que faz cócegas perto do córtex. Terrível. Acéfalo? Negativo, a fadiga é presente da falta de ancora. O que nos liga é muito mais. Algo capaz de sobrepor contas e tempo. Pisar num chiclete é mais ou menos isso. Depende de onde vem.

Thauan Raposo

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alvo Um panorama sólido, lúcido. Sem gases a se espalhar e ocupar todo volume que puder. Sem muita química ou física.

Envelheci e pouco lembro, muito esqueci. Deixando de lado, pra levar em um ombro só. Sinto passos tortos em desejos bobos, em medos bobos, em coragem nula. É no impulso que decisões catastróficas vêm e derrubam uma sanidade perfeitamente distorcida. Resignação. Tenho encarado essa palavra com afinco. A desconstrução do pensar e a decantação da alma perecem quando essa palavra surge. Imponente, sábia, radiante em sua boçalidade acadêmica. Daquelas vendidas em parcelas de tortura e ameaças constantes do SPC. Cai imensamente bem hoje não ser ontem, no simples fato que eu vou lhe dar algo, eu vou lidar com algo, no cantinho mais reservado do meu ser intimamente castrado. Não me culpo por sempre que entrar em uma igreja olho direto para o teto. Vejo as fitas coloridas, ornando todo perímetro e as cordas do trapezista ao centro. Sem rede, lógico, que é para não atrapalhar um mágico me iludir e fingir que vai sumir na cartola. E se cartola me lembrar daquele sambista da verde e rosa, eu peço mais uma e contemplo minha total afinidade por cordas que não nos tornam marionetes, apenas nos ligam de alguma forma a qualquer coisa parecida com o que estávamos vendo defronte aquele quadro. Não faço promessas que posso cumprir. Em seios paralelos repousa a vontade de seguir.

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fios soltos Estou em grande luta com meu homem branco interior. E isso vai me custar caro. Aquele momento onde o esplendor da vida se mostra e explode e dá sequências a tristes despedidas que resultarão em novos encontros, cercados de apegos e abraços.

Retratando apenas o que se poderia ser compartilhado de maneira analógica a qualquer um. Uma rodada a mais e a vida se oculta na penumbra do sublime acaso. Deuses sonham com a vida humana? Eu sonho com uma vida Titânica. Onde resida minha sanidade cercada de surreais deleites e esclarecimentos amarelados por profecias e previsões. É a decantação da alma que é poluída diariamente, intoxicada pela sua janela, aberta de maneira forçosa. Uma vez disseram que por ofício até o diabo é ruim. Total área de Holocausto interior. Naufragar é preciso.

Tem algo nos biscoitos que traz bonança e ventura. Bolsas d'água, cargas d'água. Burros n'água. Reticente na veemente, demente, afirmação. Tem algo se deteriorando ao ar preso. Tem algo soprando aquele cata vento. Tem algo sobrando de fora e ausente de dentro. Uma mão boa nem sempre trás uma vitória certa.

Thauan Raposo

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devaneios diurnos E quando você chamar o taxi espere, só não espere muito.

Deixe-o vir na pressa que a rua pode dar a ele. Aí é outra história. Quando ele chegar, entre. Mas enquanto espera, olhe os anjos. Envergaram mais para um lado do que para outro e se entrelaçam aos fios da mais alta tensão. Sentindo correr no corpo o gosto da energia que trás luz há esses dias tão cinzas. De serem conduzidos por crianças descalças, realizadas em vencer a gravidade da vida e do planeta. Como eu queria uma rede para balançar enquanto olhava o tempo descer e pular feliz, roubando bocejos, beijos e roupas.

E se depois do adiante eu voltasse atrás no que mesmo eu ia me especializar?

A arte de ser redundante requer uma coexistência pacífica com o grande entulho que viramos, acredito sermos as obras completas do Grande Arquiteto. Somos arquétipos de nós mesmos. Somos um brinde do acaso que rir de tudo que é quântico e aprova tudo que transborda. Somos grandes átomos falantes. Ligamo-nos a pessoas de forma eletrônica, balancear o que nos falta. Negativo, positivo?

Qualquer catálise como troco.

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retórica Quimera é o monstro, sonho, utopia. Belerofonte é o herói, a realidade. Logo a realidade é salvadora e contra os sonhos.

Sonhar é ser vilão. É padecer no paraíso do ócio. Delinear cada curva cartograficamente. Ser déspota e submisso a sua legislação. Contemplar fusões nucleares. Saudar o pó que gira veloz e arde em calor e luz. Consumir cada pedaço de si.

Abstrair e se render a si.

Um pouco de luz não vai faltar nesses meus dias cinza. Um pouco de livros. Amores. Um pouco de vida. Pueris retóricas de fidelidade à vida, capenga.

Thauan Raposo

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cascos vazios Destila moça seu ar de quem não quer nada.

Me conta histórias de prosas que teve na gandaia.

Imagina ser mais importante que o samba na madrugada Destoa, inflige e agride meu ego.

Sincero, tento dizer que não acredito.

Pra que tanto mistério.

E lhe conto que já vim de um tempo passado.

Escrevo, redijo coloco no papel almaço.

Folheio revista com sonhos que não são meus.

Invejo quem olha teus olhos quando o céu nasceu.

Findou tantas proeza e suas aventuras.

Bonança é te ter por perto Que boa ventura.

Criança, querendo a ciranda como quem quer o ar.

Menina, de moça divina pro meu sonhar.

Um samba não justifica teu enaltecer Costura com sua conduta a linha na seda Majestosa, olhar carinhosa de uma princesa.

Uma porção a mais por favor.

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um primeiro...

Tatu era um homem misterioso. Sua origem é desconhecida.

Nome, idade, pais, país. O que se sabe sobre, é sua história de vida no Centro do Rio. Parece que sempre existiu lá. Golpista, mulherengo inveterado, poeta e boêmio. Tatu recebeu esse apelido, devido a sua enorme habilidade de ocultar-se. Ninguém o encontrava. Quando se “emburacava”, sumia.

Fez muitas maldades, destruiu amores, famílias, finanças.

Depois de velho, aposentou-se e foi morar próximo a um braço de rio. Em um lugar distante, desconhecido. O Mito se consolidara. Era um lugar bonito, bem simples. Ele tinha uma pequena horta e um pomar próximos ao riacho. E nessa horta, havia um tatu dourado, que vivia a esburacar o terreno.

Próximo ao riacho também havia flores belíssimas, roxas, cada uma delas. E sempre eram assediadas, as flores, por uma família de besouros, cujo patriarca era um besouro muito velho.

Com o exoesqueleto meio desbotado e alguns pelos brancos.

Tatu o chamava de Chico.

Assim Tatu passava seus dias. Caçando o tatu dourado e conversando com Chico e suas belas flores roxas. Não convivia com nenhum remorso ou arrependimento, dono de ordem e maestria própria, única.

Mas um dia, e esse dia custou a chegar, Tatu foi descoberto pelos "herdeiros" daqueles que ele fez mal. A perseguição por vingança, justiça, vingança, não sei, foi veloz. Feroz.

Ele correu em direção ao riacho, onde havia um barco. Tatu infelizmente pisou em um buraco feito pelo tatu dourado e quebrou a perna. Foi pego. E pelo fio da vingança, caiu. Assim

Thauan Raposo

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nasceu Zé Tatu. Com seu tatu dourado e o Chico, com suas flores roxas.

Em ritmo de ciranda... Ô Zé Tatu Em que buraco está você?

Besouro Chico Quer fazer zum zum aê Ô Zé Tatu Em que buraco se enfiou?

Na beira do Rio (rio) Minha vida, meu amor.

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café Por que tem que ser assim? Perguntas clichês e desejos correntes, desgostos transbordam e pingam contentes. E Deus a tocar sua viola, olhando de leve para mim. Escondendo o que tanto planeja, me fazendo queimar a mufa. A tela não me diz nada além de letras tortas e linhas curvas. Das fábulas, a da raposa é a que mais me atrai. E eu a olhar para Deus e Ele sorrindo para mim. Eu não sou meu avô e mesmo assim ainda sinto suas histórias de patinetes e preguiçosas tardes de aposentadoria.

No moedor grãos se transformam em pó do fim do amanhã.

Outra noite morna. Café para não dormir e músicas sinuosas. Eu querendo seu sorrir, você esperando meu cantar. Não sei, já é tarde e talvez possamos sonhar algo bom. Algo que venha da padaria, que passe na TV, que diga que anéis cósmicos cairão do céu em nossos dedos miúdos, em nossos dias miúdos, nossas vidas miúdas.

Aquela caneca de flor, o azulejo hidráulico, uma forma para um sabor, um bolo no prato. Já que meu tamanho me torna bobo. Do jornal só tiro pequenos fatos...

Thauan Raposo

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eu sapo. Flor canela? vi o Pedro!

Era um sapo branquinho de olhos azuis e mente grande.

Cheio de especiarias. Pensava canela todos os dias e quando não pensava... Vazio. Cheio de bastões na cabeça, serenidade de quem sabe temperar um café, um bolo, um chá. Pensava canela todos os dias e isso não lhe custava nada.

O Chico sempre gostou, sempre vai gostar daquelas flores roxas. Na vida só elas têm cor. É preto no branco, ação! O Chico não liga, é da sua natureza. O que ele poliniza é legado para ele e delegado carinhosamente a flor. É delegado a sua genealogia, antes, durante e até depois.

E falando de flores, uma Flor pelo caminho. Terrível descobrir uma cor e não poder pincelar. Parece tesouro de pirata.

O X marca o local. Olha, que se eu tivesse as asas do Chico, ia lá polinizar aquele alegre sorriso. Às vezes agente acerta e adiciona pessoas ideais ao nosso cotidiano. De graça, quanta graça. De humor ou jeito? Os dois. Tantos depois e porém.

Ao meu amigo Pedro. Histórias e mais histórias. Como gosta de longas caminhadas. Nunca está sozinho. É o principal coadjuvante nessa brincadeira. Não faltarão causos e cousas.

E hoje eu corri demais? Não! Foi só para não esquecer o essencial. Trivialidades são melhores que sucrilhos.

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tá tão assim...

Bem fácil. Cama meio bagunçada, sentados, encostados na cabeceira. A TV ligada em um canal qualquer, bem baixinha para eu poder te ouvir, em alto e bom tom. Brigadeiro de panela e conversas e só. É noite, é dia? Tanto faz. Bem simples.

Vontades e expectativas não se misturam, nem somam ou se anulam. Apenas flertam insolentes uma com a outra. Dou de braço com a vontade para ela dar e não arredar o pé. Deixo a expectativa criar o que eu quero preencher com a cor que você tem. Esse afago com jeito de trago que me acende ponta, alma cigarro, você quase canta, eu caindo de lado. Sorvendo querendo teu balanço, teu abraço. E nem vou falar de beijos. Que de desajeitado, tomou tanto espaço e faltaria almaços pautados e maços queimados. Enfim, hoje é de você, para você, pelo tanto em mim. Hoje não tem becos nem ladeiras. Não precisa. E só um conectivo que me leve a você. Ter...

Trio Pé de Cabra E lá se vão três cabras...

Um Cabra Macho. Não bole e não se cria.

Um Cabra Cega. Com o tal rabo do burro.

E um Cabrobó. Esse foi carnaval a vida toda.

Por todo tempo que não existiram e habitaram nas minhas ideias.

Thauan Raposo

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grafite malhado Sinceramente não vejo porque me manter acordado. Apesar de que, ultimamente, nem dormindo eu acho aquele algo. Tô em estado de frasco, fraco e vazio e comprimido. Dados dispersos relatos, passo pontos a divagar. Devagar. Queimo no papel falsas revoluções. Inclino ao verbo, ao verso, as canções. Pulo do muro rachado. Reinvento uma oração. Penso numa simpatia que tenha empatia com o que eu digo, dito, externo. Trago, por milagre da ocasião, o milagre de se tentar dedilhar um violão sem cordas. Assim como paro para brincar e apostar sementes de rosas. Sinceramente não vejo projetos nem afins. Não vejo montanhas, nem véus. Um céu sujo, curto, o fluído... Corporal.

Sentei para mentir e lembrei-me do seu doce favorito. Pensei em ligar só para saber se ainda joga bem, ou se gosta de mim. Se vai encarnar na minha pessoa ou em outra qualquer. Eu já sou taribado em flertar enganado, deixando de troco a ingratidão.

Você já conhece tantas flechas e arcos, elásticos frouxos a prender a razão. Distorce sorrindo, segreda os fatos. Pintando com verdes sucintos meus breves relatos. Jogando com o branco sorriso, minimiza meus atos. Reclama do que eu não digo. Não se esquece do que eu falo. Usa-me com tanto ritmo. E eu ainda a questionar se você joga bem... Alô.

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bye bye beijos Vivemos buscando pretextos para dar de comer aos nossos desejos e vaidades. Hoje sei um pouco mais sobre erros, do que sobre algo que chamam de verdade. Hoje sinto falta do teu seio, do teu colo e dos seus disparates. Arrogância já não tem tanta graça, mas não largo minha amada vaidade... Até uma semana qualquer...

riste A Apatia e a Relevância andam juntas a sorrir. Falta pouco, o não será dito. Por mim, para mim, meu. Pronomes possessivos e meu pequeno déspota interior são outros pares ordenados. Sem castigo, retaliação e trégua. Não me envergonho de ser chato.

Da sala, saladas brincam de sueca a moda russa.

Thauan Raposo

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sonora anomalia...

Tô rubro nesse largo escuro com céu a tilintar suas estrelas.

Na mesa posta, vem à proposta de satisfação. No coração o leão de circo sem brilho nos olhos. O caldo engrossa e a ultima gota cai. Retrai conta e respira, para não haver intriga. Puta comunista. Meu cérebro tem poros e eu me esqueço das coisas e das pessoas. Meu terreno neural nem tem demarcação, foi invadido e o que me resta é um sótão e meio porão. Já nem vejo direito com meu olho esquerdo e algo faz tremular bandeiras velhas, puídas e ordinárias. E as palavras tão ordinárias que fazem cócegas antes de caírem podres e mal usadas. Melhor pensar com extravagância do que não pensar em nada e ter uma filosofia de porcelana chinesa. Linda, histórica, uma bosta de coesão. Dos elementos acéfalos é com o fogo que me dou melhor, só para ver queimar o freio que puxa o nosso retardo, o freio que arria meu pescoço, o freio que tira o inseto da árvore.

O bicho da luz é burro, surdo e cego. Por que vejo tantos faróis?

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in... Transe!

A cada nova vagabunda te descubro presente em mim, delicada, falante e cruel. Morna nos afetos e direta nos golpes.

Resvalo em você quase todas as noites. Acompanhado ou não.

Já não é um fantasma, mas transborda toda líquida e encharca o teto. Não molharia o chão. Quer meu céu, a direção que meu olho busca quando tenta retrucar, em vão. Tantas condições que não levaram a nada mais que amáveis e frágeis desconstruções de caráter. As roupas cobrindo paisagens deturpadas da sua força erosiva que invadia sem pestanejar ao primeiro sinal de sorriso. Escorria libido do teu prazer em fazer apenas reticências. Tacanha e amena encenava os toques que agradavam mentirosamente. Ausente, nem resistia, não precisava. Nem de TV, de livros, de mim. Carecia de vida cuja minha atravessava-te como um estofo para o seu cansaço, para pés descalços e pouco caso e bom uso. Continua ainda viva a cada nova vagabunda. Sinto que da cifra ternura algumas penas caem.

Havia dias em que entreter não bastava e entender falia a cada letra fosca. Não cintilava o óbito emocional que nos prendia.

Atestado a cada hora aflita, a cada comercial interminável.

Thauan Raposo

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Joguetes O santo esmola o que a inflação desbota.

Eu pago as contas com um tanto muito de sacrifício. Com contos alinho na corda os pedidos da bamba salvação. A certeza fracionada em terços. Os pontos corridos do futebol e os pontos firmando meus pensamentos. A poesia da harmoniosa diligência celestial. Um estandarte alma, fitas do meu carnaval. A água benta do domingo, a cachaça fervendo a minha semana. Arautos e contraventores. Simpatia oculta nos sorrisos, nos dias.

Dançando entre tantas crianças. E o progresso flagelo açoita o povo. Povo, povo!

Induto postiço, circulante atrevido. As correntes do mar que levam as ondas a nascerem belas em círculos de singela talhada cósmica. Deus com sua colher mexendo seu copo em uma prosa.

Não barganha nem negocia. Barcas de fogo. Circundantes dos corpos e o meu wi-fi trava...

Filhos de angu, filhos pobres da fome vencida. Guerreiros dos cavalos de vassoura. Auras semicerradas. Um pé lá, um pé cá. É o que temos para comer, meus filhos. A prática é peneira das teorias, que quanto mais sólidas mais inúteis são. A teoria tem que ser líquida. Tem que transbordar. Terrenos oníricos, loteados aos fótons, ausente de matéria e de sua memória anoluz.

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Pântanos Pego o trem no auge do cansaço. Era difícil alinhar o pensamento com algo coerente. Ainda reverberava pelas paredes cerebrais os sons produzidos durante o trabalho. Um estupro intelectual seguido de ecos nada prazerosos. A cabeça vibrava entre o cansaço e o burburinho interminável. Trem cheio, costume chato e tacanho do cotidiano. Após algumas estações o sono vem e derruba. Alguns minutos, tantos segundos depois, acordo exasperado, sem chão, com espasmos. Percebo que continuo dentro do trem com pessoas cansadas e camelôs barulhentos. O rabecão coletivo. Num lance de segundos as luzes da rua se apagam, inclusive as residenciais e automotivas.

As luzes do trem vacilam e finalmente breu. No escuro com estranhos e um belo trem em movimento. Complicado. A energia retorna e o vagão está vazio, um desespero ganha corpo, ganha o meu corpo e levanto sem compreender ao certo o que aconteceu. As pessoas sumiram! Baque, explosão e meu corpo é lançado no ar. As pessoas sumiram, o trem bateu, o meu corpo levita enquanto estilhaços do vidro iniciam seu trajeto aleatório, o ferro se contorcendo, de prazer ou de dor, o calor do fogo da explosão, meu corpo levitando. Uma linha dourada se aproxima, ela não respeita a cronologia da minha realidade, da minha iminente fatalidade. A luz dourada, um feixe em linha, cruzando todo vagão, pouco a pouco sendo destruído, alcança o meu corpo, colidindo, expandindo e dessa bola dourada saem asas cinza. Asas ligadas a um corpo, mãos, braços, pernas, me envolvem. O calor aumenta... Breu! Acordo sentado no mesmo lugar que antes, nada daquilo havia acontecido. Observo a lua pela janela. Lua mágica, cheia de segredos, principalmente os meus. E novamente o feixe de luz dourado se aproxima de mim.

Thauan Raposo

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Dessa vez ele vem perpendicular ao trem, de fora para dentro, na direção da janela em que eu me encontro a observar a lua.

Veloz, continua a não respeitar a realidade. Ao tocar a janela a linha explode e novamente sai aquele par de asas, de penas cinza, o corpo, braços, mãos, pernas. Fecho os olhos. Acordo gritando. É domingo e estou em casa. Vou ao banheiro, encaro meu rosto no espelho, percebo que foi tudo um sonho e que aquele garoto do sonho tinha apenas 21 anos. Hoje estou com 34, faz tempo que aquele jovem não existe. Encarando o espelho dou um sorriso de canto, bem leve, típico dos cínicos. Inclinado sobre a pia, abro a bica, a água corre gelada. Frescor para uma alma debilitada. Percebo que não tenho 34 anos, que hoje não é domingo. Volto a encarar o espelho que agora está rachado.

Olho para trás onde fica a porta que dá acesso ao corredor e aquela linha dourada está a caminho. Ao chegar à porta do banheiro explode. Asas cinza, braços, pernas, tronco, um sorriso malicioso. Bato a porta do banheiro. Seguro com ambas as mãos, olhos fechados, grito! Grito a plenos pulmões. Sobem os créditos ao som de um rock progressivo ou de alguma música do Lenine...

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expoentes....

Então eu vi que existia pouco nas nuances do dia. Nas brincadeiras angulares, rabiscadas a raios solares que diziam e insistiam em cantarolar. Como o tempo voa. Enquanto suprimia toda uma desgraça particular, mal distribuída, vestida e maquiada. Não sabia andar de salto agulha, nem bordar.

Trôpego existia pouco, ao choro do esforço deformado. Pratos, alimento corria, sujava, lavava, relia, mentia, ralava, dormia, dormia, sonhava. Tendia ocupar todo espaço, tendia não ser ideal. Na busca por algo que achava maior que o mar, adentrou antes do meio pelo final. Desespero passou direto em faces distantes de abandonos zelosos. E quanto mais perto, mais frouxa era a corda, a coragem, o amor. Não havia páginas amarelas no mundo que pudessem trazer a tona todo furor enigmático coibido no ato ser. Versos, inversos e versículos, até com o santo se desentendeu. Olhava de canto de olho, olhava torto, olhava morno, cego, embaçado. Um volume de capa dura, um romance, problemas com a polícia, algum lazer, sujeira no teto, verde e branco. Resplandece nas escolhas a inadimplência divina, da alma que não cabe em alma. Que cabe apenas em histórias. O sapo pensava canela todos os dias e o feijão no fogo não deixa esconder o prazer da mortalidade. Fatalmente sumia.

Foi ao final sem ao menos desacreditar na ternura que não achava nas meninas da gare. Salve a Gare, porque meus dias são ralé e eu imperador no solo cuspido, onde não vejo a lágrima lavar o cílio, onde não existe a cor sépia ou bordô. Estou em um filme trash mal dirigido, mal escrito, mal editado, medito em lembranças sapateadas. Vento, vento, vento, o tormento que se acumula não desloca nada em mim, que na inércia transborda a fúria de ser metade de algo esquecido. Cadê? Cadê? Cate as Thauan Raposo

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vogais e deixe o agudo do salto agulha acentuar a delicadas pisadas, marcantes sons de paixão afogada, sede. Mãos afogadas, corpo sede, olhos aliviados. E a TV continua ligada no mudo e nem mesmo percebi que meu refrigerante esquentava.

Chovia e o vento gélido me fez lembrar que ainda corria o sangue, em alguma direção, corria o sangue. Deitei, porque dormir é de uma ousadia terrível. Paredes caindo, a loucura tão evidente e tudo caindo. Dormir é muito necessário ao corpo.

Norte, veias e música. Disfarçamos com coito e pena...

Delas....

E não é que a tarde anoiteceu mais cedo e fez o teto do quarto se encher de Estelas. Com aquele corpo cênico, com aqueles carinhos cínicos e com aquela vontade Bárbara. Eu arranquei página por página dos meus livros e colei no teto. Página por página, para quando olhar não entender e buscar o pensamento, ou a palavra que na mente fervida, sublimava e subia aos céus. E meias rolaram por frações de segundos, por meios tortos, por vias divertidas. Cênica, cínica, atabalhoando a alma carvão, em brasa de encontro a cinza da tarde anoitecida, chovendo Estelas cadentes. Tudo um blues de raízes etílicas, ela é tamanho P com etiqueta GG e você não sabe se embalaram errado, mas deixa dançar para o Cosmos trabalhar a favor da vontade divina que é estar entre pernas Celestiais. Contraventores saciando a carne com a cabeça em Jorge Luís Borges e seus labirintos, espelhos e tigres. Enquanto Caio F Abreu nos mostrava aquela coisa ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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úmida, entorpecedora onde os dragões não conhecem o paraíso.

E o fogo tão belo crepitava. Queimava, chovia Estelas cadentes, a alma carbono e a vontade reclusa fez da cama um picadeiro, lençol lona e o sexo um grande coelho saindo da cartola.

Especialmente para Gabriela Montez Holanda que me pediu para pecar com as letras e não contra elas, todas...

Má(ria) Vem ela novamente com aquele papo de conduta de esquina.

Vem toda prosa, cantando proezas e moldurando vitórias. A conquista da noite que virou a outra curva, deixou um cheque de incerta validez. Pode ser sem fundo, lá em casa o quintal sobra e a sombra não me deixa morenar. Porque é assim, tem que parecer turista, tem que parecer guia. Tem que baixar, virar a cabeça e manter ali. Eita joguinho perigoso e ainda tem sindicato. Ainda bem que tem sindicato. Vou lá votar, para que seja legitimado o que mantém mais sólido os dias tão enfadonhos. Como eu queria uns cruzados para ela descruzar as botas. Para que falar de luzes? Minhas contas estão vencendo e funciono melhor no escuro. Porque ter esse ar de mistério capitalizável é uma maravilha. Não me seduzo por cobras, prefiro os cobres. Não peco com frutas, mas ganho algum fruto.

O choque é só uma manhã a mais, tão descabida que o único Salvador que procuro é o Dali.

Thauan Raposo

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Entre pinturas e desgostos, prefixos a gosto, antes do radical e preferências. Vem ela contando vantagem. Luta feito uma filha da puta, ama como tal. Essa luz amarela faz mal para a maquiagem...

Verocai Desatrela o não preso do espaço virtualmente dividido.

Destoa, descarta o pensamento mínimo, onde o intelecto é inato e não adjetivo. É púrpura e mal sabe que big bands sorviam, ressoavam com majestosa sinfonia, na curta inspiração do pulmão carente. A cabeça a deriva, sintetiza artifícios pegajosos e olha que mesmo na feira faltaram cores. Cobres, dores. Discos confundidos a bytes, nano do não muito. Era aquele choque tão evidente que cheguei a pensar em movimento. Diferente da estática, movimento. Diferente uma pinoia. Já nem é mais sobre aceitar ou não, é sobre sublimar esse holocausto da alma. Essa acidez que só degenera a verdade, essa acidez, plural da tua majestosa passada. Olha já desvirtuando, acho impossível não desvirtuar, não querer. Desvirtua e não solidifica, só fica a decantar por ofício. Porque decantar é fundamental. Quando a tristeza é vigorosa e burocrática a corrupção é uma contravenção divina. Sabe essas coisas que fazem outras coisas... Por isso mesmo, por isso mesmo. Arames cercavam. Arames emocionais, hereditários, arcaicos, arames amáveis. Doces arames, intempestivos. Arames. Farpados ou não, a proteção do perímetro. E aquele desenho que não sai do pote. Insisto tanto ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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nele. Sei que um dia vai ficar bonito, aquele desenho... Aqueles vínculos tão escassos, breves. Vínculos perigosos. Vínculos alegoricamente pegajosos, armados de prudência e amor. O afeto segundo o plano, do plano B. A cama era plana e o teto reto, isso bastou.

ma(n)chado Que mania felina, língua afiada, lábio gume. Enferruja no silêncio da saliva ácido, palavras ocultas. Soltas e pueris omitem verdades e lances de cílios deformam vaidades. Velhas obsessões inundam o chão e páginas no teto, céu te guarda.

Esbarro é sincero, pois é sem querer, aliena esmero cinzela prazer. Submete os mistérios, em linhas de avoadas pipas.

Herege confirma quarto, cama, sacristia. Procissão são escadas em cacho, cabelos caracóis. Não antes que pela varanda dada, os mesmos velhos lençóis. Nostalgia são pessoas que gostam de caixas. Conversam sobre a água e balões. Aludem aos velhos mestres e bordam na decadência o sistema otimista irresoluto, do naufrágio planejado de dilúvios de absurdos. Espasmos neurais e uma veia cava caminhos indecisos, pois para pecar demais não se precisa de um livro. Na antemão se explica vanguardas velhas de emburradas esquerdistas e o radicalismo mosaico, bebendo gim com tônica misturado ao pó dos rejuntes mais bestiais. Instintos coletivos, em legião são muito alheios e perenes na doce ignorância. Cara e coroa é um golpe da Divina Providência que usa da moeda espelho e das almas sapecas, Thauan Raposo

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petecas. Futuro pende pretensioso o artifício de trinta carnavais atrás. Não muito mais, além do distante ir, te ver sorrir ainda custa alto. Essa mania de ser Calíope e de monstruosamente contorcer sinapses, faz do pseudo quase tudo, voraz faminta realidade. Do resto, aja, age tanto embrulho. Laços feitos, mais espasmos, mais lençóis velhos, novos tolos absurdos.

Esquecendo tiros e abusos, contravenções muito lúdicas e as ruivas. Palmo a palmo, tato até os expoentes, elevado a mais baixa cama de rodapés estrados...

Laranja mecânica Nunca sei muito sobre o que essas coisas tão vagas querem dizer. Se as digo é para você, para entreter teu desejo de não se entediar. Essa felicidade hereditária, essa decadência genealógica, essas improváveis e contínuas afinações. Dez tons destoantes, discordantes. Essa fonética vulgar e esse chão ameno no verão e "rasdraz" no inverno. Porque falamos Nadsat sem perceber, olhamos nossos "litsos" e deixamos as "liúdes" reluzentes na pequenez do dia. Qual a Natureza da Vida?

Crônica e aguda. Qual a natureza da Natureza? Crônica e aguda.

Tudo convergindo para uma decadência homérica, do santo jeito que todo cotidiano deve ser. É tão tolo esse colo. Acho que falta destreza para anular isso que já não somos. Somos uma pintura Futurista, nessa época horrorosa transmitimos aos herdeiros degredados, soltos e perdidos as nossas virtuosas fragilidades.

Bebendo demência com pedras e pedras de afeto. Decantando as ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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horas, sobramos na embriaguez dessas angulares subversões.

Quanto mais vai me esperar crescer? Não sairei disso. Não vou envelhecer. Nessa decadência crônica e aguda, você já não mente ou mede tão bem. Alheios aos parasitas, não nos preocupamos em sermos mais ou menos, em não sermos mais vistos. Essa luz da cortina, a TV está desligada, o silêncio cabendo tranquilo perto do cesto aberto. Corremos alheios e bem alimentados. Coexistimos no pacífico abissal de nossas torpes teorias. Saudemos o falho e as castas, saudemos os braços, pernas e cabeça de Deuses imortais, saudemos o pleno precipício que beira nosso perímetro e que nos traz a sombra dos baobás. Nadamos em águas rasas de liso chão. O rejunte não combina com o piso e emudecemos enquanto cinzas nuvens tomam o céu e outras cinzas mais tomam nossos pulmões. Eu sempre te trago ao coração. "A chama vem, o amor passa, o amor fumaça" Era algo assim. Era... Dê cadência.

3:17 Mania de emburricar o rosto na mesma hora do dia.

Implicância tola, só não diz torpe por causa das fantasias.

Cismava ímpar com a hora tão desajeitada, que de tão pequena com o não gostar dela, se apertava no canto. Nem dava os tais sessentas segundos certos. Os cientistas disseram que por causa desses ultra e violentos terremotos de altíssimas escalas o eixo da Terra saiu da órbita. Quimeras. Bobagens. Foi ela... Tirou a Terra do caminho, só para encurtar aquele exato minuto. Na Thauan Raposo

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minúcia. Ora, ora, ora. Nem cruzo com ela por esses momentos intempestivos, sou pequeno para me aventurar nas auto vielas estradas que formam o início dela. Que braçada rápida, porque faz tempestade pela hora tola, faz a maldade pelo não concretizado, gira o mundo e saí para dançar tranquila. Vestido, salto, maquiagem, maquinada, linda. É mulher sempre, e não seria diferente se não divergisse da natureza e subvertesse até as mais remotas abstrações. Desejante, desejável, ela vai romper a rua. Para! Lelepípedo... Até a calçada vai gaguejar. Não era carnaval, ainda não era. Mas a avenida já corria aflita, aos saltos nós íamos, no salto ela vinha e no sobressalto corações iam se amontoando, sova vibrações, notas, dores, gemendo prazeres, iam deleitando-se, iam... Foram-se. Meu amigo a insônia é pouco se o olhar é oblíquo. Quem não chora não vê estrelas e para trazer o fogo celestial seja um titã e aguente. Corrente é pouco quando se quer a luz de arcos, de íris, ela guarda nebulosas entre os cílios. Olha a cidade prateada, tá linda? O rio é de ácido. Veja bem, vamos indo. 3:16:56,57,58,59...

parágarfo É esdrúxulo, tosco, tocante, covarde, deslumbrante.

Sobrariam adjetivos opostos ao não dito antes. Nem agora.

Compasso sem base não faz círculos e ângulos não caem do espaço. Se alguma luz própria merece alguma adoração, zonas abissais, intermitentes sobras. A calçada ocupada transgride o cotidiano. Caraminholas. Muitas delas fazem avoaço, ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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burburinho e todo tocar é leito. A natureza se revela e a salvação barganhada. Brutalmente acolhido de supetão. As pipas são anjos avoados que as crianças insistem em soltar, prendendo.

Cabresto, cada fita, cada pena. Asa envergada de lado imbica.

As folhas nos livros formigam e os personagens invadem sedentos por serem descobertos. São fantasmas abandonados aos poucos. Fruto da preguiça, do descaso, do pouco uso. Uso bem feito, dotado e escasso. Psicológicos arquétipos do repetido. A surpresa está justamente no repetido. Cinco minutos a mais não significaria nada. Existe salvação. Extorsão cometida a corruptos clacs. Passos, clacs, passos... No leve sussurrar todos querem dizer algo. Era noite e faltou dia. Empasses. Espalho dúvidas na sala. Varanda é um brejo do caos. "De que adianta a entropia, se esse trem não improvisa. Amor." As páginas decantavam. Não vai sobrar nada... Mas... Tranquilamente, rearranjo mentalmente em setas associativas. Links neurais de páginas que não se abrem aos olhos de outro, que não se abrem no esforço cego da boca cega que amola. Boca tato, que de paladar o ouvido serve-se e os olhos escutando... Quando visceral é pouco e comum.

Thauan Raposo

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Pique 1, 2, 3, Jesus! Bati primeiro. "Estava de licença, não vale."

Claro que vale. Falei primeiro. "Tô errado? Eu sou café com leite." 1, 2, 3, Jesus! Falei primeiro... Tá com você agora.

"Chato! Parei." Volta. Vai não... tá zangado? "Tô. Sem graça isso, me acuando dessa forma. Queria conhecer mais frases feitas e definições." E por quê? "Para te encurralar." Quer brincar de outra coisa? "Talvez... o que tem em mente?" Que tal amarelinha? "Você tá sempre perseguindo o céu. O além-céu." É LINDO, É PERFEITO. "Você não gosta das estrelas?" Elas não cabem no bolso. "Como assim?" Elas não cabem no bolso, são pó. E minha solidão brilha muito mais que elas. "E nosso amor? Não vale nada?" Por que acha que persigo o céu? "Não faz sentido. Vai me explicar?" Outra hora rsrs. "E as estrelas?"

Elas não cabem no bolso...

Entorno corpo perímetro em volta da competição. Torneia.

Válvula curva disseca. Torneira. Cadeira rainha travessa. Trono.

Espaço catimba a vida. O campo. Marasmo aldeia contempla.

Alusão. Voraz fome rodeia. Peão. Alude “volteia” de praia.

Canção. Mentira, verdade, mentira. Novela. Sol, Lua, passa trinca de quatro. Novena. Fase da volta espreita. Incendeia encadeia em vórtex finos. Subjuga com rendas. Atravessa o ameno, devaneia a divagar. Falta tanto nexo e coragem de me declarar que a loucura beira minha porta. Toca leve, diariamente, as ideias. Abençoa e brinca. Ecoa majestosa.

Perdendo dedos de prosa e convulso, a alma é gelo em copo.

Derreto, evaporo, sublimo até ser nada mais do que sublime...

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happy hour - Um uísque, por favor. Que seja mais velho que meu filho. Você não mudou nada. Vai, fala logo. O que tá te incomodando?

- Não vou falar da inflação, rsrsrs. Péssimo hábito. - Hábito chato. Já te custou quanto? Três, quatro casamentos? Tanto faz...

- Gaiato. Ainda nessa calma, nesse passo. Como anda Marília?

Falando em ex e futura-ex. - Viciada. Um fantasma. Não aceita o tempo. - E quem aceita? A verdade é que nos tornamos fantasmas. Só podemos escolher o jeito mais digno ou não... Ela fala de você. "Do irmãozinho degolado". - Ela é sempre muito carinhosa. - Tem se sentindo fracassada. - Por quê?

Desculpa, me pareceu idiota a pergunta. - Fracassar em três tentativas de suicídio. - Você sabe que seria o herói dela se deixasse. É o que importa no final. O que ela percebe e pensa de você. - Eu sei, mas não tenho coragem. No terraço foi algo fascinante e apavorante ao mesmo tempo. - De novo o lance da nudez? -Sim. Essa magreza alcoólica e depressiva, só atenua aquela beleza clássica dela. - Sempre soube que você era masoquista, mas poeta? Essa é nova. - Sempre fui com ela. E Aline? Ainda te enforca com pensões e compensações? Mensalmente. Continua dramática, mas graças a Deus... Sem escândalos. No público dela basta eu. - Pelo menos isso. A frieza dela é perturbadora. Mas o que se esperar dessa jogadora?

- Campos do Jordão ou Minados? Um trago? - Claro. A essa altura da vida, o deleite maltrata a alma ou o corpo. - Cigarro sempre maltratou os dois. - A volta do atormentado. Você era uma quarta de cinzas o ano todo. - De novo você com essa. Não sei de onde tira essas ideias... Mas sempre gostei das suas ideias.

- Menos de uma. - Qual? -Casar com minha irmã. - Besta rsrsrs.

-Mais? -Por favor...

Thauan Raposo

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pen(s)ar Quando uma mente aflita, se propõe ao místico íntimo de palavras debilitadas, encontra a mágica avalanche que se encontra em estado de dormência. O culto veneno de sofisticada composição. Gavetas dependuradas em armários baratos é a pura disposição. Cargas. A liturgia cotidiana e sua sacra violência entretêm os pés descalços e maltrata combalido.

Voracidade. O grotesco dança munido de deleites escabrosos.

Era o encontro perfeito e a cada palavra pouco óbvia que fugia na geografia horas, estendia-se por algumas vagas calçadas. E a loucura adjetivo para classificar a preguiça de entender. Para desclassificar a preguiça de sentir. Não vai caber. Não é úmido, nem frio. Seco e liso, ondulante talvez. Tormentas emergiam nas horas certeiras e o sofá, no máximo, é uma canoa.

Pluralizando imbróglios. "Apague as luzes!" Sei de suas contas, mas tenho meus medos. Hoje não muito diferente de ontem, existir é uma ingrata função atravessada e meio além do perdido. Enxuta oração e aros metálicos. Escovados com vigor e afinco. Dedicando labirintos e permutando as flores umedecidas pelo seco e liso, sacro, atravessado cotidiano. Quando jardins suspensos permeiam e deixam mais agradáveis o débil ato de pen(s)ar...

Na sua volta cabe o normal. À sua volta, tudo muito funcional. A bolha gênero do seu ar, preenchida. “Abobalha” o macho, translúcida feminina. Cachos, castos, casos, cortinas.

Joguete de lazer barato, prazer adrenalina. Desse lugar chato que deixei existir no tempo passado. Cada elétron em espasmo, convulsas moléculas bailando na densidade atmosférica do seu magnetismo, afunilado nesse vácuo atrito sentimental. Olhar para trás com algum carinho. Saliente cílio, guarda na retina não ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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mais que um vale ovelha em lóbulos frontais. Não mais que antes da charmosa decadência “oitentista”. Vírgula bandeira tremulante, sorvendo cadências do dia-a-dia, adia, odeia. Força a forca, corda bamba, garganta de puxador. O samba anda, apoteose desfila. Mentira, vive a fantasia, quase sempre imoral.

Altera a revelia e retalia com brindes mornos, esses mortos namorados. Reencarnados em garrafas vazias. Cachaça, mendigo, água viva...

topada...

Corre e cala que o limite é a fronteira em que chego para te olhar. Corre e cata na calada o que não vai fazer falta no momento da destituição. Pelado, de cara com azulejo, não há refreios que direcionem o vetor ao teu sentido, de módulo algum alinho a tua face. Fui construir muros que não se ligam, não formam vértices, não são resultam em morada. Fui fazer muros de veraneio e deixar os grafiteiros e pichadores trabalharem e gritarem na saraivada do spray a arte oriunda do ser. E confabularemos formas de sabotar os limites humanos e ver que o momento é passageiro. "Esse mundo horroroso é apenas um momento." Eu fui catar pupilas drásticas e compatíveis em multimarcas pirateadas. Uma mão na roda, outra na obra e atravessei a rua quando te vi. Porque não queria mais ver enquanto o mundo girava. O medo de Lampião, as flores de Iemanjá. O sol saiu e quero ver rodar. Cala e perscruta no cru vácuo que jogaste as certezas sabotadas. Cadê as proezas Thauan Raposo

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infinitas e cargas d'água? Cadê essa alma polida, tão sucinta na fina educação aristocrática? De nada é tua nata pessoal. Não me vale o berço do seio que não mamei. Fui ver flores e outras cores. Fui despenteado por currais conhecidos e me aprisionei de liberdade e me cobri de desejos e atravessei a ponte.

Atômico, explodi na fusão das ideias enquanto na arte convexa de usar a colher, joguei sopa para as moscas que zuniam, receosas da espontânea colaboração. Sai! Não há espaço para o mundo dentro do mundo, quando atravesso as vielas no chamado destoante do asfalto. A minha estandarte faliu, ruiu na economia de vontades, nos instrumentos invisíveis e nos gráficos incontroláveis. Fui atravessar meus preconceitos e de encontro ao que você nunca foi, descobri maior meu ser. E a outras joguei minha solidão e sua interessante presença e a outros musiquei canções e notícias. Discordando, acenando ou inferindo. Assinando jornais, na dúvida cíclica do horóscopo que não tinha. Ascendente IPI em conjunção com a Lua do Ministério do Turismo. Atônito, perplexo. Era enxofre nos olhos marejados. Mas lágrima é salgada e virtudes não estão à venda.

Quando sai da bolha romântica que era o universo-você e fui me jogar para onde o destino sempre me levou, descobrir como é importante pensar, produzir e criar. Descobrir como te atravessar e ao mundo perceber. A presença dele em si, cabe na verborragia que é não ser cauteloso com os diminutivos.

Calmamente irei pra varanda...

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NaPalm(a) Eu era a Praça de Tahrir e não cabia nada menos do que o caos de sentimentos atolados na degola da transformação. Um Holocausto na'lma. Cabia até onde a Fronteira Corpo descambava e saliva corria. Água nos olhos é proeza gasta, na caçada com faca é analógico qualquer artifício. Borrando os cantos com vazamentos oportunos. Respirei carbono para chamar tua atenção. Vegetei perna presa, disfuncional, não comoção. Salientei a vaidade pequena, no prestígio tardio do fim do filho e início da novena. Venerar sem coragem, minutos aflitos. Ali, cates! Clamar por ondas curtas, portas, prefixos marginais. Montando Pégasos errôneos, tropeços celestiais. O babado branco, do branco vestido despido na veracidade crônica da cena. No entanto, mudo instante, frame a frame te congelo em negativos. Frame à frente te conservo no íntimo, próximo de onde habito, costas para os Moais. Consumo cifras na chula exaltação. Improviso, contesto. Calado, consinto muito.

Cataloguei canecas e quantifiquei amores. Uma nova medida.

Labradores por metro quadrado. Esse tal "amor" arrocha. A rocha é dada, a pedra, tão perto, presente. O roxo chega, a rocha também. Um "ai" vai.

Não se passa cerol na linha da marionete...

Thauan Raposo

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Para(L)éxico ParaLéxico. Paraléxico. Adjetivo. Relativo à paralexia.

Paralexia? Perturbação da leitura caracterizada pela troca de letras ou palavras em um texto. Substantivo feminino. A classe? É. Substância feminina. Martelada bem dada é desferida pelos fantasmas mais belos. Uma alma penada, outra um tanto pena.

Naquilo que é relativo, toda lembrança é arma quando todo gatilho linka a você. A bala é de quem recebe. É suicídio lembrar sempre e sempre recorrer e correr mais um pouco a ti.

Avesso... Em leito de rio a água não afoga e só abraça o resto do afogado. Algumas crianças vão lá brincar e daquela linha a frente não passam. Criança sabe que amar transfigura-se em Deus sabe o que, quando a linha é crescer. Eu não tenho pressa, não vou lá. Só sei correr, não vou nadar. Estupor. A mais breve relutância desemboca em você. Nunca vi um beco ser mundo.

Bruxa! Sorvendo na dócil maldade do seu sorriso. Baixou os olhos tão leves e transbordava a volúpia meiga de cílios de ninfa. Ela vai me tragar e soltar fumaça, vai se encher de mim e vai soltar. Vai-me por ao lado do coração. Mas só de lado e só.

Pra eu olhar... Vai quebrar minhas pernas. A fome é voraz e nobreza não envolve esse intendo. Comportamento lúcido, aquelas luzes naquela parede. Cabia em um quarto, na fração, no cubo mágico e Deus brincava para desajeitar as cores. E nós estávamos onde sempre deveríamos estar. Entre paredes. Você instiga com breves sussurros e conta as proezas e sacrifícios que fez sem arrependimento. Atônito, sobrando e perdido tentando entender o que acontecia. Você brincava, brindava alegre, sorria. Fitava minha agonia perplexa em querer não resistir ao desencontro do encanto sôfrego que é estar entre seus braços castos. Cantarolava carambolas e plantava minhocas na ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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minha cabeça, arava. Cultivava devagar ao som latente de nossas bocas aflitas. Cabia romper, usava, sorria. Cabia destoar no encontro pré-fim. Não sabia classificar o que envolvia aquela atmosfera. Só um semideus para encarar esse monstro mitológico que é você. Quando se é apenas um mortal, o mais sábio a se fazer é morrer de amor.

Idéia“ficça” Então fui deixando pedaços e pedaços, madrugando balde pano adentro. E fui beirando o relógio, vendo até onde marinava aquele ócio frouxo. E antes de qualquer passada, uma respirada funda na primeira esquina. Oscilação badalava e marinava o ócio, beirando o relógio, deixando e deixando pedaços madrugarem. Baldes transbordavam na abundância de coragem e vontade. Dar o ouro ao bandido requer uma dose de inocência descontinuada no fim do primeiro ato. Vacilante, oscilante e não havia nem começado e só contabilizava frações dos pedaços e pedaços deixados. Catava, cavava, sorria. Pão doce da padaria, pão na chapa. Um branco total. Absurdos, todos os possíveis, plausíveis e aceitáveis. Charmosamente displicente até o ponto de esverdear a ideia, fazer joguete cacete. Maltratar a ideia boba, frouxa ociosa. Esverdeou tanto que no ramo podre sucedido pelo tronco cênico desceu ao ponto de cilada. E horas clamavam mais e mais e mais pedaços e pedaços foram sendo deixados e deixados e chovia e molhava e nada daquilo parecia fazer sentido no imbróglio da situação incumbida de neurônios Thauan Raposo

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degenerados. Não faltaram tremores. Todos aqueles tremores. A mão reta dava vergonha e o bolso guardava em seu baú torpe de camuflagem rotulada. E no entanto nada aconteceu de diferente e isso deixa um alívio vazio. Um alívio pendente de ser completo e outras alegorias foram sendo acrescentadas e muitas outras jogadas fora e novas manhas e artimanhas concebidas sem nenhum pudor ao ar livre. Ar livre de que mesmo? E horas cadenciadas iam a passos doces, ensaiados, de quem aprendeu a dançar vendo tutoriais no youtube. Então corremos de nós mesmos e do que não podemos encontrar no que ainda não somos, no que ainda nem fomos e no que mal sabemos se há de existir ou não. Valendo dessa inocência descontinuada prevalecemos, sobrevivemos a nós mesmos e aos outros e ao tempo... Somos galhos novos e favores antigos. Que faça sol amanhã e novos termos...

Assobio pólvora Indo para o trabalho, Jonas se pega com dificuldade de orar.

Meu amigo, o balanço que o trem faz desconcerta qualquer Buda. Ele tenta o Ave Maria cheia de graça. Rogai por nós pescadores. Para. Recorda. Ave Maria cheia de Graça. Rogai por nós pescadores. Pecadores. Pescadores. Fecha os olhos e logo se vê fazendo movimentos desconexos. Agitado como se estivesse em uma roda punk invisível. Começa a correr em uma realidade totalmente branca, como a sala do templo de KamiSama. Não importa a bússola, virou artigo supersticioso. Não ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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importa a direção. Começa a correr. No seu olhar uma melancolia úmida e pegajosa se desprende. Pequenos dragões negros que cabem nas conchas das mãos, levantam voo. Um, dois, três, nove. Nove. Nove dragões voam ao seu lado, baforando pequenas chamas com seu bater de asas impetuoso e juvenil.

Pressa, prece e o corpo ganha velocidade. Metro após metro.

O branco da realidade muda e vira asfalto. Jonas corre descalço, usando apenas seu velho jeans. A cidade está vazia. É o Centro, o cerne, deserto. Típico. O grupo corre, voa, voa, corre. Um cavalo de Tróia de quase sete metros, montado por um Dom Quixote de madeira, de quase três metros se une ao grupo. Um pomposo louco com cara de pau. Mogno africano. Olhos verdes.

Jade puro, bruto e a corrida avança por uma estrada de barro. No lado esquerdo tem uma floresta negra e um rio violento, frio.

Estão margeando uma cena de "Conta comigo". Conta comigo.

Na direita um deserto cheio de camelos empalhados, de uma cor fosca. Olhos castanhos que se movem. Jonas corre nu tomado por uma inexplicável alegria.

"Todo Dezembro é Domingo".

A estrada de terra batida, logo vira areia. Constelações de micro rochas calmas, imóveis. Areia. Praia. Uma bela praia.

Jonas de bermuda corre, a trupe ruma para um ponto onde somente olhos desgovernados conseguem tocar. Surge da profundeza galhos de roseira. Parecendo tentáculos de um Kraken faminto, dois pares avançam, desbravando e desenhando o chão. Mostram o que a defesa da planta faz quando transcende e transpira. Varam a areia. Varam o campo de trigo. O dourado toma conta do espaço e uma luz azul progride paralelamente. É possível notar dentro dela, minúsculas e contínuas explosões onde se destaca por sagazes segundos, braços, pernas, mãos e Thauan Raposo

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pés. Um sorriso pretensioso e um par de asas cinza. Rumam furiosos e enérgicos, colidindo grotescamente com a noite que se abate sobre o coletivo. Um vortex de energias conflituosas e pensamentos vazados engole a existência de tudo. Um furacão plural! Silêncio...

Jonas sente que emana calor de algo próximo. Os olhos estão cerrados e desprender as pestanas é algo que ele faz com cuidado, aos poucos. Encontra-se diante de uma fogueira com seus avôs. O funcionário público e o alfaiate. Estão rindo e bebendo vinho, conversa fluida, comem frutas. Jonas mal consegue respirar, perplexo, atônito. Compreensão é algo inexistente nesse momento. Percebendo sua total falta de noção, ambos os velhos perguntam: "Entende agora?", Entende o que?

Dão risada, despedem-se, dizem: "Você tem que voltar". Jonas acorda e é domingo. Acorda com fome. Acorda com vontade de comprar um vaso maior para seu comigo-ninguém-pode. Liga o rádio. É Cícero e seu Tempo de Pipa. “... mas tudo bem, o dia vai raiar pra gente se inventar de novo...”.

"O Resto é Carbono!"

Partir para o confronto, minhas veias são vielas. Vem pra rua, largo espaço, ocupe o que puder da pele de dor. A cabeça é um sertão. Não há polícia, bandidos ou postes. Converse com o que desloca a criatividade. Deixa sacudir o morro pulmão. A onda do tsunami quando quebra, enche um vulcão que explode na fúria da cansada passividade. Torto. O gado anda torto, o galho ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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cresce torto, o papo flui aberto, incerto, abraçado por células, por cédulas. O credo, o crivo, as balas. O Logo que esconde o fruto, furta o trunfo de quem atira facas. Salivo magma e cuspo fogo...

Ganesha que orna a rua, que beira o degrau das salas de justiça, que afunila as ideias, que acompanha meu amor, que saliva poesia, que transforma o pensamento em incenso e toda dor em esquecimento. Tirou o dia para me mostrar mosaicos de mim mesmo, tomar um café sem almoço e descobrir o maior sonho dos cães. Trava a tocaia, brada espada, lança roda, brilha o sol, estopa minha capa, tua Luz sublime glória. “Ganesha depois do café te conto outras histórias...”.

Lembro todo dia daquele prédio, daquele prédio que não era um castelo, mas um moço mau o fez de areia.

Lembro todo dia daquele moço que foi levado por outros moços que deveriam proteger todos os moços bons.

Lembro todo dia daquela terra seca, onde criança perde digital, perde humanidade, só não perde a força de viver.

Lembro todo dia daquele banqueiro, daquele político, daquele esquema.

Daquela escola, daquelas lorotas, daqueles calhordas, daquela escória.

Lembro e enquanto lembro vou diminuindo, vou sumindo na tristeza, porque alguém, que não me lembro bem, disse que é feio não consumir, é feio não enriquecer, é feio não postar, é feio não se exibir. E eu sem saber os pequenos caminhos da autoafirmação. A voz e a saudade. Fui tentando aos poucos, no sopro do lobo, ser cidadão.

Há de quebrar, no pernoite, no balanço mal montado, na falha inconclusiva. No desvio, no traço, no treco. Há de quebrar. Há quem suporte, há quem entorte, há quem resolva e mude...

Thauan Raposo

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Onze, 11 Onze. Parece Passarinho que não conhece meia noite, nem meio dia. Ela é cheia de nove horas, ou não. Onze onze. Parece o horário de um determinado trem, em um determinado bolero.

Talvez um tango. Não, era um Bolero mesmo. "Vou lhe fazer uma visita...". Onze onze e as mãos voltaram a ficar frias, trêmulas. Carne trêmula? Não me venha com Almodóvar. Ela gosta de Bergman. Não sei. Onze onze martela como um mosaico líquido, é o coeficiente de atração, é a gravidade das tuas coxas, é a escala Richter emocional. Como pode alguém ser um ato dúbio de uma estrela? Pois é. A nossa vida é uma quarta feira azul, pernas que tremem, ares que fogem...

Por teu ventre de espelhos Entendo seus fios, suas farpas, seus cacos, ataques e cortes.

Cama de gato, espelho oblíquo. Do lado de cá é um prazer e um precipício beijar tua paz e amar tua guerra.

Pelo ombro dela, pequenas tartarugas correm, deixando mapas e trilhas por onde passam. Ela se diverte quebrando os pratos de porcelana que seu avô trouxe da Turquia. Os pratos não fazem som de estilhaço, ela joga-os no chão e assim pode ouvir os pássaros.

Suas coxas são versos sujos, maldosos, infinitos...

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Ela amava raposas. Não ligava para os cães, gatos, peixinhos dourados. Ela amava raposas. Seu pelo de fogo e trevas, sua astúcia de várias encarnações, sua matéria orgânica que é o mais puro reflexo da alma. Ela ama tormento e liberdade, ama a incerteza diurna. Galinhas são otimistas e ela ama a raposa que todo dia rouba esses frutos-vermes e lhe faz omelete com torradas. Ela ama raposas e o céu de inverno, redondo. Uma cúpula, uma bolha, uma merda. Cama baixa cabe dois de nós, cabe nós de pés, cabe um cheiro, cabem umas esperanças, um pavilhão e uma brisa lunar...

Thauan Raposo

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Casa Livre Bati de carro no Sol. Foi sem querer, não estava correndo, mas não poderia atropelar São Jorge por capricho ou por preguiça de desviar. Quando não se tem chão e uma tempestade de realidade te pega, o mais seguro é busca uma Casa Livre. A primeira que encontrei foi a Sapo na Pedra. "Os sapos pensam canela...". Minha avó dizia isso e outras histórias. Ela nunca completava as histórias, mas isso não importava. Ela cheirava a fumo doce e adorava o esqueleto de velhos barcos. Costumava comparar sua velhice com um barco que apodrece na praia. A Taverna estava cheia. Mundos terminam o tempo todo e nascem. Quando Destruição partiu, tive vontade de gritar e um ímpeto de me jogar pelos jardins de Destino. Bater no Sol a essa altura é o menor dos meus problemas. Escolho uma mesa próxima ao balcão. Tem cinco pessoas sentadas, cada uma com uma bebida. Apresento-me, simpático e solicito. Ysminhr, uma fada irlandesa, magrela e pequena sorriu adorável. Babel, um ser de quase dois metros de altura, vestindo uma indumentária negra, que o cobria da cabeça aos pés, deixando de fora somente parte do rosto, assentiu. Colher de Prata, um cigano violinista, gargalhou alegremente. Pena de Palha, um índio cor de canela e sisudo, usando um cocar. Edgar, um pequeno dragão amarelo, completava a mesa. Estavam contando histórias para passar o tempo. Cada um deles estava viajando quando foram pegos pela Tempestade. Nesse meio tempo, contam histórias e bebem, esperando que tudo volte ao normal. Mas será como antes e mesmo numa Casa Livre eu lamento a partida do pródigo. E me pergunto por onde Ele anda?

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Minha sombra Me assombra a pequena omissão me assombram as grandes corrupções me assombra o mito e o desejo me assombram telhados furados rio seco, árvore gasta Outono vermelho, inverno em brasa tua velha memória, teu instante perverso teu intento guardado, a chave do berço a conspiração russa, o cubo secreto me assombra o mundo multifacetado O mundo mutilado as indagações sem resposta a fama sem justificativa o espetáculo vazio o Vazio banalizado Um dia fui Domingo mas fui mais feliz sendo Sábado me assombram os carimbos a hierarquia que não vemos o dinheiro sem justificativa A falta de estrutura a calçada sem pedestre a madrugada sem trepada a cerveja quente o confessionário Thauan Raposo

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os ícones sejam pop, papa ou esnobe estou ficando calvo...

Mundo novo Vou sair e rasgar tua carne de papel e transformar em confete porque tuas células-cédulas vagueiam por veias de asfalto. Por trás do pano Deuses são de papelão e bebem suco no galeto da Graça Aranha. A fome morde minha alma, grileiros cotidianos, gatunos preguiçosos, malabares baralho. Entre paralelepípedos desconexos, tenho fixação pelos rejuntes dos azulejos da cozinha... A minha violência é fajuta.

Em momentos de torpe solidão, me consolava saber que pensar é uma atitude violenta e marginal. Descobri que o silêncio torna a alma menos precária e que meias, amores e vinhos são eternos. Também não importa se você mente bem.

Para escrever é preciso Amor. Descobri que os anjos são pipas avoadas e que contraventores celestiais vendem milagres nas feiras de domingo. Viciado em plural, analógico por hereditariedade. Vi e aprendi por atraso e por acaso. Existe uma força no Acaso, existe um Algo que beira o palmo do nariz.

Ainda acredito que 3 pontos quer dizer continuar...

O contraditório varre gargantas, arma barricadas, assusta pequenos demônios interiores. Ao acaso, cortinas balançam, luzes se apagam e joelhos tocam o chão. O real é um adorno ficcional. No pós-fricção o gozo é reticente.

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Possível texto A tua solidão soa envelhecida entre notícias ultra tecnológicas. Parece fora de moda, de propósito, fora de si. E é em si que reside uma sonoridade familiar. O bule é transformador, o bule recebe e suporta a água quente, o pó de cheiro consistente e conhecido, o bule abraça as músicas do rádio e apoia o filtro. As histórias estão mudando, até aquelas já encadernadas. Estão sendo alteradas em detalhes quase passionais, quase invisíveis. Estão sendo trocadas, na solda das sinapses. Atalhos suprimidos, estradas a muito perdidas, labirintos com tigres, espelhos ornamentados, persianas bege, parede gelo. Entre pássaros desembarquei parte de mim, loteando os quintais da tua história. Não pude residir na varanda da casa da esquina. Esquivo e rápido adentrou a mata. A demagogia não diz nada. Prefiro açúcar...

Volto aquele trecho da rua que tanto me interessa. Hoje sobrou menos. Não tinha aquela luz solar que trazia alguma dignidade. Aquele trecho saudoso, o quintal de casa desapareceu. Meu bairro envelhecia de forma decrépita, meu bairro afundava e eu migrava aos poucos. O pensamento já habitava o sul, outro lado da lagoa, o centro. Meu bairro não era mais meu...

Olhos sonâmbulos confundem-se com pés insones. O tropeço embaçado, a nota fiscal. Forte naquilo que a língua desata a derramar sem a menor preocupação. Tua fala é onda e vai alcançar o outro estreito, tua fala é longa e vai te causar desprezo. Sei lá, as coisas andam mudando muito rápido. O Thauan Raposo

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assentamento da estagnação evolutiva conduz a angústia permissiva de uma passividade arbitrária. Uma explosão cognitiva ecoa quando o pavio travesseiro explode a cuca. Tudo que foi prontamente ignorado no decorrer das horas monótonas do dia, independente de ser uma segunda de outono ou não, explode como fogos de artifício num réveillon de beira de Copacabana. Haja bata, haja pano. Olhos sonâmbulos confundem-se com pés insones.

Tem algo leve, muito sutil. Algo intacto, algo que não busca olhos treinados ou humores alvoroçados, mas algo que busca o ponto tangente, o fio condutor do pelo eriçado...

O Zé legal Somos de vidro. Somos jovens imortais de vidro. O brilho arrogante e infantil da juventude que grita a plenos pulmões: Vida! Somos Deuses de pó, somos oásis urbanos, almas nucleares, somos de vidro. Somos o sono do gigante, o sonho dos magos, as nuvens da seca, somos de vidro. Entre muros, tijolo após tijolo, somos a quarta, o domingo e a sexta, somos a virada de ano, a virada de mesa. A quina, o canto. Somos de vidro. Eu vou proteger seja lá o que for, da forma que for, como eu puder. Nós vamos fazer isso porque somos nós. Cada um, dentro do que lhe é permitido faz o que pode e o coletivo cria novos milagres na força, no direcionamento, na onda. Somos de alguma forma, ligados por laços invisíveis e o que afeta um ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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hoje, afeta todos. Assim eu compreendi que o vazio no meu peito, que não é um vazio, é uma vontade de orar, assim como saiu. Por você. Amém.

acalma Sente o mar? Percebe a onda batendo? Faz tempo que essa cama virou um barco. Cada peça de roupa, cada uma delas, foi revestindo o chão. Virou um cardume, "voou". Não adianta nadar, esqueça. Batize comigo esse barco, quebra essa garrafa de Quinta. Chame-o de Limbo Ametista. Uma vela no farol, outra na sua janela, um lençol vela para a brisa lunar. Uma rosa dos ventos, plantada no vaso raso. Uma bússola tato, atenta aos trópicos, querendo esquinas. Os querubins ficam rubros e desejosos. A curiosidade lhes aumentam as asas. Pro quiabo as estrelas e as graves ofensas. Por esse instante repousa a paz genuína do encontro forte que é esse nosso. Nossas causas, nossos causos, nossos delírios...

Thauan Raposo

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Sidarta Fui cativar o tempo com minha impaciência. Num impacto, com ar sacro, pude vislumbrar um tanto de luz. Fui cativar a luz com minha insolência mundana e numa guinada cheia de força centrípeta, descobrir os dias. Quebrei de forma insistente Budas de mármore e de madeira até achar teu telefone, até achar teu endereço, até achar onde minha tosca brutalidade vira farinha para os teus biscoitos mágicos. É uma cilada gostosa e deliberada essa coisa de se encontrar no outro, é uma cilada longa, lúdica, ensurdecedora. A cada canto uma peça, de roupa, de alegria, de arte. A cada canto um versinho simples, um clichê empanado, um sorriso, um campo longo e algumas flores rochas...

Forca "Gosto de quarta-feira, assim como gosto de Odin, de outubro e de dias com número 13. A gente acha cada coisa bonita por ai e fica feliz de ter participado, de ter colaborado e lembra que é bem maior do que aquilo que se faz, então sonha um pouco mais, corre um pouco mais...".

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rompantes Um casal olha para o teto. Parados, respiram com suavidade, apreciam a luminosidade do quarto. Arrumaram, desarrumaram o tal cubo mágico. Lado a lado, um casal se encontra em estado de contemplação. Momentos atrás estavam fazendo jus a sua juventude, ao seu vigor, ao desejo desenfreado, a fome que se tem pelo outro. Um casal acaba de escrever páginas e mais páginas, é uma coisa inexplicável. Existe uma sensação de liberdade genuína. Uma série de imagens sobre postas, xilogravuras coloridas por mãos, dedos, suor, tudo entrelaçado, tudo levado ao forno. Aquecido previamente pelo calor do corpo que se encontra com outro corpo, o tecido da pele trás a saliva do lobo, atrai a flor, desmembra o cotidiano naquilo que deveria ser pelo instante que explode e ecoa. Um casal deitado olha o teto, o seu céu particular e estar vivo naquele instante em par é algo celestial.

Nossa cama é inventiva, é um laboratório de experimentações monogâmicas. É um beco sem saída, um "Beco di Vogel".

Nossa cama é expoente, eleva ao quadrado, ao cubo. Nossa cama subverte e nos submete ao que somos...

"Faz tanto tempo, mas era por aqui Passarinho que a gente corria pra se encontrar. Escondidos, vadios, boêmios, livres e ao mesmo tempo impedidos. Clandestinos num amor que soava perigoso, belicoso, que soava a coisa mais bela do outono de 1954. Hoje a brisa é mais amena e as calçadas mais firmes.

Deixamos o chão onde ele sempre esteve. - Fica ai, fica ai.

Passarinho o tempo é uma cortina, poeira. O tempo é um caule de árvore. Suas raízes são os Velhos Mistérios, sua copa, um Thauan Raposo

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Cosmos inquieto, suas flores, teus sorrisos sinceros, incertos, nervosos e cheios da graça mais litúrgica que só uma roda de madeira pode possuir. As sementes futuros, probabilidades, as sementes são alimento. Passarinho come "o que será" logo pela manhã. Passarinho vem se aninhar aqui. Beirada de cama, beirada de cama, beirada de cama. Com seu bico de marfim, vem se aninhar aqui, beirada de cama com lençol de jasmim".

Medo-sela Me pego aturdido, atravessado, no biombo que a rua forma com a outra rua, com a outra lua, com a noite curta. Me pego assentado, invadido, sem terra, sem teto, fazendo acordos, promessas. Subirei escadarias de joelhos, darei doces em dias certos, chocolates aos montes, roda de madeira para uma fada, para uma sacana fada irlandesa. Me pego envolvido por um véu de incerteza, por abas burlescas, por avenidas cruas. Amor sou um leão revestido de sementes de girassol. Meus dentes voam quando você assopra. Minhas pegadas entregam o desejo da caça, o peso mal distribuído, traições passadas, aborrecimentos presentes. Ataco roupas no varal, ataco roupas no quintal, ataco camelos em trens. Então após um grito forte, alto, carregado de mistério, o mal se afasta. A alma acha o caminho para não se render e uma oração de agradecimento surge, emana simples a sua vitalidade, seu sentido, sua presença. Meu anjo bate as asas, percebo pela brisa. Mudanças.

Não tem caule, nem mordaças suficientes. Tenho pá e boia.

ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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QUID PRO QUO A mão que lava a outra, de outrem, e a culpa rolando nos trilhos anuncia: ele vem!

Com a barriga de metal cheia de culpados, o abdômen do bonde enfastiado.

Lava minha mão que eu lavo a tua!

Mas o cheiro bom do pecado não desencrua.

Quero saber da tua vida, tua espinhela caída.

Já sei a hora da chegada, falta-me a da despedida.

Desmesuro-me, por ser anão tendo o mundo na palma da mão!

Sou pequeno, comungo com os deuses, mas só ao apagar das luzes.

Quer saber da minha vida passada?

Nem eu sei se o que passou é da minha alçada.

Meus ossos ignoram (bendita ossada) o que a carne traz de mágoa e bendizer. A carne não promulga o cerne!

Não acho tua mão, mas teu peito faz barulho no escuro e tudo é fastio e tesão por trás desses muros.

Quiprocó, dizem os corpos, pedindo recíproco deleite: mas quem tem a alma maior que o corpo, observa apenas, como enfeite.

Vê círculos, auréolas, todo circo precisa de um palhaço mas se não tenho tintas pra pintar meu rosto, como faço?

Serei domador de leões, desafiarei de peito nu todas as feras enquanto a menina bonita na plateia pela tragédia espera?

Thauan Raposo

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Não te encontro, onde estás que não te vejo?

Galante domador de corações, palavras e desejos...

Minhas orações são para ti, pecador porque quero pecar junto, com ardor!

Com ardor, com amor mas devagar com o andor!

Deve ser como a primeira vez que se anda de bicicleta subir ao picadeiro, estar entregue à mãos firmes do poeta.

Quiprocó, minha querida, pois disso dependerá nossa vida.

Te contarei baixinho nos ouvidos os meus truques e tu ouvirás os cantos gregorianos e os africanos batuques.

A mão sozinha não se lava, só leva de um lado para o outro o facho de luz que será logo treva.

Lava minha mão que eu lavo a tua: façamos o quiprocó antes que o laço do tempo puxe a corda e dê um nó!

Poesia colaborativa de Marcelo Sousa e Thauan Raposo.

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Babel Crescer não tem a ver com o círculo natural ou biologia, isso são coisas inerentes. Recuso a me abandonar por conta de desejos que não me enchem os olhos, por ideias que não me trazem paz. Recuso-me a essa loucura por loucura, que não tem lógica própria, é porque é e assim se faz. Por mais que a vaidade me assedie, o estranhamento é sempre presente. Acordei de sonhos intranquilos e resolvi caminhar, encher os pulmões...

Não acredito na paz indolente, amo esse mundo, é na guerra que encontro minha paz genuína. Cedo ou tarde o encontro com amigos acontecerá. Teremos histórias, teremos algo a mais que não sei bem o que é. Pode ser parecido com uma folha seca, talvez um chaveiro, algo que nem mesmo faço ideia. Olharei para cada canto do local onde formaremos um vértice. A cada nova frente tronos de palha, a cada novo ventre barco saia, a cada tempo urgente, o vigor que cala a força do vencido que te brocha, que te castra. E as convenções do diferente que se fodam.

Thauan Raposo

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Guache gauche Abutre cal, insolúvel, intragável. Abono do suspiro troncho.

Esguio afunila, alga encerra, lama, umedece, espalha, apodrece.

Assim marca seu tempo. Maquiagem da torpe bondade, assim antecipa o acaso. Vou ser a ferrugem do teu alicerce que sou eu.

O acaso é tão passional...

A razão promove a carnificina, onde a fome é o desejo, a percepção e a arma a vaidade, o discernimento capenga, tendencioso, que contempla o interesse. Não reagir ou reagir torna tudo nebuloso e decadente de forma estúpida. É pequeno isso? As pessoas são, de forma deformada e constante, repetitivas de maneiras diferentes. São cansativas nas suas não concordâncias, carnavalescas, furiosas. O sopro que a Natureza dá nesse acidente, degrau após degrau, ganha berço na queda inevitável, na música que a rima é cera-pavio, chama, chama, chama, chama...

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Cavalo "Você roubou o meu cavalo! Roubou! Roubou o meu cavalo!" - Eu posso te dar outro. Você quer? "Quero meu cavalo. Você vai me dar ele?" - Não poderia, não sei como ele é.

"Como pode me oferecer outro?" - Por sua vontade insana, ou por essa insanidade cheia de vontades. Te daria um cavalo para te trazer alguma paz. "Você não roubou o meu cavalo (lágrimas). Preciso ir". A porta do trem se fecha, mas nesse meio tempo em que a porta está se fechando, tranca e o trem parte, a onça bebe água. "Você roubou meu cavalo! Você! Você sim!" - Onde tu viu isso? Faca subiu do bolso e desceu pra enlamear o silêncio no ambiente confuso, um corpo convulso.

Abrindo os olhos, vendo lábios se mexendo e nenhum som conhecido, os auto falantes anunciavam qual seria a próxima estação.

Cavalo n'água, relincha o pingo sorte bate o casco valha.

Cavalo nada, trôpego compila, pulmões desata.

Cavalo "margar"... O sal fruto desbocado. O sol fruta esturrica.

Cavalo falha, farfalha.

Galhofa, galopa, dispara.

Um grupo de jóqueis se encontra no parque da cidade. O carrossel chama atenção por suas luzes. Confundidos com crianças, guerreiros compram bilhetes e rumam para a batalha.

Thauan Raposo

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prima Marília Marília tem sérios problemas com a gravidade, com o vácuo e com círculos. Marília sempre questiona Buda, acha drama no dharma, alfineta, apaga os incensos. Marília continua a mesma borboleta furiosa, salivando volumosas torrentes de insinuação.

O tempo corre por buracos de minhoca e reflete, dilata, nas latas que Marília joga fora, porque não consegue se entender com a cozinha e suas rígidas regras, receitas, rejuntes. Sobrando o frio dos azulejos...

Farinha do mesmo saco, pó da mesma estrela. Nariz vermelho e palhaço, para tanto Bolero, muito espaço, o sideral. Chinelos perto da cama. Água perto da sede. Amor perto do peito...

Encalço As meias pretas não ocultam a pele totalmente. Soam como uma película, dialogando com a tez ordenando as formas propostas pelas pernas que saltam aos olhos. O vestido com botões na frente é um convite, uma forma de erosão emocional, a essa altura a mosca na sopa tem nome e RG, o seu. O cinto marcando, a mão delicada sobre a perna, a outra mão como um cálice de garras escarlates, sustenta a câmera. O sorriso leve de quem escolhe cada pecado, o cabelo Morena Bolero solto, deixando o ar débil e o pensar rarefeito. O espelho reflete o que?

Ela tem o dom hiperbólico de deixar meus neurônios eretos.

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Vou andar na tua geografia.

Tato.

Tato.

Tato.

O som de cada passo...

Tato.

Tato.

Tato.

Banco verde A vida às vezes é incompreensível. Nos diálogos amigos, escondidos na calçada. Banco verde, marcas poucas. Tolas, bobas sensações. A história descabida ou a pérola guarita do seu corpo ilusão. Gritando as desigualdades faz o pedido certeiro, desejos a residir. Um que abraça tanta mágoa, por um momento desata a fúria por existir flor. Tem preces escondidas nesses passos. Larga abertura, salto mágico sobre a juventude delegada.

Pensamento carga d'água, laje sem razão. Trago no peito a marca, avolumando-se canção. Gostei de existir entre tuas pernas, que na fuga da existência triste tornaram-se cheias dos sonhos mais belos, da vida mais cheia. Selvagem ardia, insensata e feroz. Orbe sol adorna o dia. Quente volúpia curva atroz. Comprimo o belo-belo no frasco que a bula burra ritma.

Acende o farol descaso. Cólera de alegria, cólera de alegria.

Gira a roda. Fortunato pelo canto espia. Mato alto rompe o caminho, abelha, mel zumbia. Tilintavam taças, casa reside em Thauan Raposo

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sacristia, algo escondido revelado, litúrgica monotonia. Papéis velhos tão inoportunos, mensagens capengas desaforadas.

Matem o Governador! Ele nos açoita. Procurem o delegado.

Deolindo foi traído por Genoveva. O almirante desmascarado.

Fome de diálogo, sede de conversa. Macacos no sótão, morcegos na sala de estar. O vento aqui é tão barato. Reboco a parede da tua angústia. Alimento serpentes de perseguição.

Contemplo tuas vestes e cobiço tua nudez. Esqueço a matemática que não uso. Penso na marginalidade que é pensar.

Estou contrabandeando neurônios. Sitiando veredas esquecidas, abertas matizes esfera. Perdido trago, trago, trago. A bala resvala, uma voz grita. Reticência e eco...

Ao Pã que habita aqui É na sobreloja da tabacaria fumando um Marlboro, acompanhado de um mochaccino puro sem açúcar, que ocorre algo. Demônios andam de canoa, temem os céus, vagueiam obscuros, dragões voam aos montes. Não consigo ficar na varanda da tal tabacaria, tem muitos senhores de camisas bem engomadas e status aflorados, degustando seus preciosos charutos. Não sei, Dona Flor, Don Diego, nada que seja para o meu bico. Ao circo de cada dia, nos daí hoje Pai um nariz vermelho sem coriza. Pinóquio anda cabisbaixo, amuado com a Síria, com os alauitas, com os alexandrinos, com os excessos de Nelson, com a falta de Olavo. Ele decidiu morrer. Formigas gostam de azul e disso ninguém discorda. O rebuliço se dá quando resolvem debater o tom. Categoricamente, aposto no ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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celeste, ar sacro, manto divino, fico na minha. Alguém vai bradar pelo azul noite, pelo marinho, pelo bebê, e eu vou brandir mansinho uma bandeira vistosa, oculta no silêncio do desprezo revolvido. Vacas ruminam, pessoas ruminam, o Pinóquio rumina. Haja Jorge pra tanta luta. Próximo ao estoque tomo coragem, vou ser estuprado intelectualmente, mas tomo coragem. Ando... Soluço saltando os surtos. Salto soluçando os surtos. Surto com os saltos soluços. Tagarelo para o mármore e para a madeira. Um amigo está em turnê, outro abaixo da terra, outros mais espalhados. A massa sufoca e os abismos andam barateados. Reclama tua posse, declina os teus vícios, enaltece teu brasão, enfadonha tua vida. Queria trepar, queria um vinho, queria que mais dragões voassem, pequenos, escuros, com suas asas perturbadoramente encantadoras. Sempre acostumado com cinematográficas criações, monstros obtusos, robustos, mitológicos. E no trem, pousando apressado em um canto, um pequenino, já adulto, mas pequenino. A roupa amarrotada, a vida amarrotada, tuas pernas denunciando esperança, denunciando vida, desejo, deflagração da derme. Abusos explícitos, preces e mais preces e mais prazos. Uns tormentos, outros pombos. Até logo... Logo!

Thauan Raposo

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Fornalha Quero que exploda teu reino de naufrágios. Cada saque, pilhéria formada da vontade de terceiros. Quero mais que decaia, ladeiras te convidam e o estreito olhar do céus corrompe com louvor tua alma obscurecida. Vai cair a noite, o fogo arde, taças tilintam, a justiça vagueia. Fúrias batem asas, palmas, cílios, Fúrias sorriem. A faca que no queijo corre, no queixo mole, do osso não desfruta da paciência permanece crua. Na legalidade furta o usual, no escuro poeira subjetividade, alimenta serra, serra, é pá pra cavar o mal. Artigo esdrúxulo de gênero compacto. Gravo com cinzel meia dúzia de rosas sem talo. Serro corrente, cela-casa, selo-carta, som, o alicerce, a sapata. Afunila itinerante, fuzila intermitente, apregoa ao fútil instante. Faz da fuga tangente, do ócio pingente, pendura, deturpa, mal...

Passava Gran Torino na TV, o Clint estava caminhando pra morte que não parecia certa.

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Amigo do rei Você deixa a cama desarrumada, com cheiro de noite bem vivida. Levanta e cadencia os passos em direção ao banheiro.

No meu cansaço deito com meio corpo coberto, olhando o teto, beirando o infinito. Penso na volta pra casa, na esposa, nos filhos, nas contas, em você de costas, com os revirados e gemidos perdidos, gemidos obscuros. Algumas pessoas pecam fervorosamente. A água do chuveiro cai, bate no seu corpo, toca o chão, escuto o molhar. Logo uma dama irá se apresentar de toalha, pegando os brincos, vestindo a delicada saia e ornando a expressão com impetuosidade e doçura. Os saltos de vinil, reluzentes, ofuscam os santos da penteadeira. Desconfio que eles se arrependam um pouco da canonização. Lindo como um querubim descalço, forte e feliz como um Deus ou um Pobre diabo, demônios vagavam de canoa pelos valões, pela Lagoa Rodrigo de Freitas. O Maracanã em obras denuncia a minha fragilidade. Denuncia as oscilações, teu solavanco, teu estado de fêmea sitiada, violentando decoro, faminta por uma trepada, querendo derramar algo que atravessa o ar e deixa uma penumbra misteriosa. Logo uma dama irá se apresentar, logo irei descer a rua, descer as costas, é quarta e Marta me aguarda.

Dane-se Marta! Dane-se! Ficarei com Daniele! Dane-se Osvaldinho, a greve, os criativos e o café de um metro. Dane-se essas comemorações fajutas e essas putas baratas. As contas, um terço do salário, pensão, oração... Logo descerei a rua, o largo, dois pontos finais. Para nós, para o ônibus...

O Nelson poderia ter escrito, poderia... Talvez tenha escrito, talvez...

Thauan Raposo

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Versos Brancos Permite a permuta, dúbia troca. Caldeira cama abrasava falha, pele crua tosta braço curvo, gemido tropeço, olho umbigo, mágico e restrito. Afunila tua inércia, não segreda tua paz, não confessa tua luz. Não engana. Traga, venha. Vem a ter aqui, por baixo do algodão, deslizo melhor sem fome. Vinho barato, alma barata? Insetos cãibra...

E por todo lugar encontro um encaixe, e sigo debaixo de chuva, de aceso facho, borracho à caça de vulvas. E não me venha com filipetas, pois apostrofá-lo-ei com vitupérios candentes. Vi teus gestos de açúcar desmanchando-se em rimas brancas. Não fui poeta.

Tardei em iniciar-me em teus mistérios, mas logo desfizemos os novelo. Chupei-lhe entre as coxas, e fui entrando por entre os pelos até os confins do teu cerebelo. Permuta, dúbia troca.

Fluidos de magma na boca, derramados, ou num único jorro!

Socorro! Salvem-me do meu espelho, que de olhar umbigos já me cansei; adoeci.

Por baixo do algodão crescem corpos cavernosos: poesia ereta. Vinho barato, alma de prata. Nada combina. Verso branco não pode ter rima, mas a gente sublinha e sublima certas subversões. Somos sempre uma versão melhorada do lado negro. E no escuro, sabemo-nos distantes, mas nos tocamos. E gozamos desta missa, ócio, hóstia, nosso pão. Cãibras nas mãos, de tanto vai e vem.

Amém!

Marcelo Sousa diz que é parceria com Thauan Raposo mas julgo ser tudo fetiche.

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pra não eis que ser Passos contados, passe tomado. Gato simpático e interesse são sinônimos. Sinônimos são retas paralelas que se cruzam, sem ligar para o infinito. Tombo d'água pinga. Chuva fina que embota. Água no cabelo da menina, pinga o amor que de pouco sobra. Faz linha fina, a vida esnoba. Carinho não se mendiga.

Não pagou? Degola. Decola, dê cola, denota, déspota, esgota.

Esfola, esmola, esmola... Uma puta quando pensa é navalha.

Desde que te conheço eu não assumo teu endereço. Desde que me conheço, já não reconheço. Gaguejo, traquejo foi, lambuja.

Sem cota pro coito, de costas pra rua, de frente pra luta. Cara a cara. Uma lua. Teu relevo me revela, me releva, não relegue desatenta. E olhar nos teus olhos é como caminhar sobre cacos de vidros genuínos, rumo ao paraíso. E os anjos improvisam tão bem. Éden. Viela Éden...".

Thauan Raposo

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COMO NASCEM AS ESTRELAS? Meus heróis são anti-heróis por natureza.

Carne, osso e desequilíbrio.

Nisso consiste a sua beleza!

O olhar feérico dos caçadores de dragões.

A ternura dos esmagadores de crânios.

O espírito livre dos santos prostituídos por deuses que só desejam fornicar.

Meus heróis são anões perto de mim mas sua barba de algodão e sua capa de cetim fazem com que eles sejam tão ironicamente estranhos que só poderiam ser habitantes dos meus sonhos e todos sabem o quanto são poderosos os entes que habitam nosso subconsciente.

O cerebelo do poeta para os deuses é uma caminha aconchegante!

Vejo-os voando com uma certeza precária e torço para que caiam, para melhor fim da história!

Os meus heróis buscam fracassar com orgulho e jamais usar as sandálias de qualquer vitória!

Meus heróis são assim, os que se machucam mas levantam com um sorriso amarelo e caminham em direção ao pôr do sol dizendo: não foi nada! Amanhã tentaremos novamente! É nessas horas que transborda vida, clara e faiscante sob a alcunha de amante, mulher ou enfim, estrela.

[Deus no céu escolhe uma cor bem bonita e no manto escuro da noite Ele pinta.

Assim vamos dormir nosso sono desabrigado sem precisar de teto, portas, travas, trincos ou trincas.

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Quando um poeta sonha, uma estrela nasce e fica claro com quem o Cosmos brinca!

Thauan Raposo & Marcelo Sousa

sim, ápices Quero o coeso caos cotidiano, o gigante de amores vazios, quero a implosão reflexiva distante, Livro, prateleira...

Quero a inércia impaciente do ausente apego lírico. Quero a anarquia “burocratizante” o bater de teus finos saltos, o frescor da tua presença as roupas que te cobrem e guardam e o revelar do encanto corpo, amarras vocais.

Quero caber entre tuas obras, mesmo que as mais ficcionais.

Giro atento às órbitas horas arautos pagodeiam novos carnavais...

Quero caber em tua prosa. Marginal beleza a distrair...

Thauan Raposo

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Gregório Hoje eu acordei querendo ser inseto. Com seus exoesqueletos reluzentes, aerodinâmicos, de um abuso inato. Eles crescem e transbordam e rompem com aquilo que já são, sem deixarem de ser necessariamente aquilo de antes. São outros, os mesmos, maiores. Enquanto nossas hemoglobinas se movem a ferro, a deles se move a cobre. Valem mais por dentro em um sistema que nem ao menos lhes interessa. Eu queria ser um inseto hoje.

Bloco Um pipoqueiro encerra o expediente e joga a pipoca velha no chão. Calçamento de pedra. Um rapaz distraído pisa na pipoca, ele pensa/fala: Vou mijar no pé! O rapaz se dá conta de que não está em uma encruzilhada, aliviado, desiste de mijar no pé. É lorota de carola. É lorota de canalha. É lorota de carola. É lorota de calhorda. É calúnia da calada...

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plutão Fui salivar alcatrão, transpirando enxofre. Com a ira de Plutão, o nobre rebaixado. Fiz de inimigos meus irmãos que permitiram meu rechaço. Fiz de inimigos a minha família, que me deixaram ao acaso. Fiz de inimigo o universo, por me deixar por ultimo e frio. Em um sistema solar capitalista, fui loteado.

Fui loteado, fui loteado. Qualquer hora me invadem. Pronto! Foi só falar...

O Leão, a Feiticeira e o chão guarda as roupas Ela maltrata minhas angústias e delibera abertamente com meus desejos. Confabula com meus sonhos, arquiteta com meus pés os pulos, a corrida, a breve caminhada, o embolar.

Serpenteia, vara a sanidade adentro. Pisoteia, dança flamenco, roda a saia, entorpece os neurônios, enlouquece o vazio, causa uma inveja atômica ao Destino. Desconcerta meus braços, envolve, sublima, sublime. Existe abusada, atirada, tímida.

Cândida. Bandida sorrateira, gata ladra. Furta a solidão, suores, gemidos. Vai me matar, beatificar e canonizar tudo numa semana só. Eu vou ao encontro derradeiro do inesperado, tão escrito talhado, trabalhado em pedras celestiais. Tirei as estrelas que não cabem nos bolsos e moí. Virou o pó que tempera os bons encontros, que ilumina nossas esquinas, que trás o correr do tempo e da ânsia doida que é te querer. Vou te consumir, vou me consumir, vamos ebulir, bolar, embolar, sorrir transbordar no Thauan Raposo

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amistoso, na lua de mel com a vida. Engraçado que estava esperando apenas um café diferente, uma notícia escatológica, uma nova violência, alguma droga leve. Estava a mercê do mundo alienando umas prosas, pichando uns muros, amolando parcas horas. Passado, presente, futuro! Se grito te conjugo, se grito é por arbítrio. Confunde a felicidade, faz do beijo bélico assombrosa avalanche, faz do solavanco doce da tua cintura, a confusão bendita. Flores de balde brotam, rosas lisas, corruptas.

Música no bar, cadeira, tapioca, Jesus, com gás. Confundo as lembranças no aguardo profundo de quem vive rodeado de vida, em par, ordenado. O cansaço que esmorece no "oi". A insônia, a energia, a pose o apelo, os pelos, agraciados por ares projetados por pulmões ofegantes, assediados por um coração afoito rubro.

Afoito... Um Bolero. Dança mais um pouco comigo?

docas Sob um velho reduto toda poeira vira mar. Sob um velho reduto cavei minhas docas preferidas. Às vezes o inviável não é uma mera questão de opinião. Os cavalos explodem em velocidades astronômicas. Velhos fardos e fardas açoitam como fantasmas mal exorcizados. Os delírios em pencas andam escassos. Talvez seja a época do ano. No nosso caso, a época da vida. As cavernas continuam lá, não importa o quanto você corra, as cavernas sempre estarão lá.

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pá, Lia Um momento para desavença. O pátio será lavado. Um pio e água sanitária.

Um alento para sua onipotência. O banco do fundo é um trono maldito.

Inerte na vivacidade esdrúxula do bem valido, camburão coletivo.

Cospe sobre o diáfano prazer às horas negadas da vã sabedoria.

Palha. Palha. Palha!

A alma é palha. Assim assustamos os corvos. Assim lhe damos algum lazer.

experimento Do que você está falando?

Eriberto deu 3 tiros.

Um na mosca, outro no guarda e um na culatra. Depois disso virou judeu.

Do que você está falando?

Das placas!

De trânsito?

Não! De petri.

Do que você está falando?

De algo que vi no O Globo.

Faça-me uma anedota lunar. Sopre-me uma brisa lunar. Leve Thauan Raposo

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para um canto estelar. Provoque meu naufrágio nos mares da Lua. Fico vadiando em pensamento. Na lua não tem saneamento básico, nem favela, nem wi-fi. Pros diabos a Lua.

Um dia não vi São Jorge, mas um coelho na Lua Troco à cor da caneta para expressar um eventual pensamento. É importante trocar a cor, mudar a aura. O ato de escrever em si é múltiplo, sem se fragmentar. Ainda chego atrasado nos lugares. Hábito desagradável. Penso nas palavras que uso. Cada uma delas é 3 em um. Três em 1. Tão divinas tão multi... A corrente, o cadeado, a chave. Tem um lugar na França, uma ponte sobre um rio. Não lembro o nome da ponte, do rio. Os nomes fogem como os sinos franceses durante a Páscoa. Sei que no domingo eles irão retornar. Os nomes e os sinos alados franceses, trazendo chocolate. A grade de segurança dessa ponte é cheia de cadeados presos, trancados.

Nomes de casais gravados, unidos, fechados. O amor, aquele amor, aqueles amores soam tão hermeticamente líricos.

Em sonho passeio por essa ponte olhando o nome dos casais.

Em todos estão escrito, Você e Eu! Datados, marcados a cinzel.

O primeiro beijo, aquela chuva, o encontro clandestino, o reencontro na praça, o sorvete na cesta, aquela conversa, a primeira transa, a primeira briga, um par de biscoitos sobre o ralo, passos na Carioca, o pedido no museu. A brisa lunar dançava entre os cadeados, fazia com que eles tilintassem. O som dos metais, um pesado e sonoro Bolero. O barulho das ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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chaves fervilhava nos meus bolsos. Um a um, ia abrindo os cadeados e jogando-os no rio. Cada um deles. Pra vida raiar.

Levei uma Quaresma inteira nessa microscópica procissão.

Quando dei por mim, a sexta da Paixão se fora, o sábado era só Aleluia. Logo chegaria o domingo, logo seria a Ressurreição. E em uma bela manhã dominical, você chegaria montada nos sinos alados franceses... Trazendo chocolates.

Thauan Raposo

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cadarço caleidoscópio Perpetuei uma nota na memória do facebook.

E as palavras como um algo no açude, foram bebidas, foram tomadas.

Permeei teus exageros num lance virtual.

E como num vendaval, elas avoaram abstratas. Tão falhas, tão leves.

De centros se fazem os cernes.

De queixas se fazem doces carnificinas.

O encontro jubiloso dos degraus.

Escada após escada. Cigana no caracol.

No mármore te observo ao nada.

Bolero bravo, suave destemido. Rodada, prende, afunila o seio, palpita os segundos.

Te informa, no nobre momento o tempo que diz ser o tal instante. Foi! Há de se ver coerência no infinito.

Hoje vi um cavalo carregando ervas Ervas de banho, que curam, alimentam a alma ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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Hoje vi um cavalo velho, carregando ervas Carregando um homem Carregando um outro cavalo velho E para sorte dele... lรก beirando os cascos. Metal reluzente, anti - fiasco.

Portava quatro ferraduras novas...

Thauan Raposo

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Alguma coisa de vitae Olha só, óh meu rapaz. Tome cuidado pelos caminhos que vai andar.

Não se iluda com os prédios. Não se iluda com os prédios.

Eles não tocam e nem arranham o céu.

Olha só, óh meu rapaz, cuidado por onde vai cruzar as esquinas.

Essas ruas tão melancólicas.

Não se iluda com os prédios de empresas estatais.

Eles enganam a realidade que não é estática e a morada do perigo é a transição.

Na contra mão.

Não se iluda com os prédios das empresas privadas.

Eles transformam as pessoas com lobotomias de um milhão.

Desejando somente os dias úteis.

E quem não visita o Rh Sua carteira assinar...

Desconhece as nuvens.

E quem não visita o Rh Sua carteira assinar...

Desconhece as nuvens.

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Na boleia de uns trocados, faz a festa com sapatos e relógios Michael Kors. O crachá de exclusivo, título nobre, avante o olho do umbigo. Cidadão que já não lembra mais o meu rapaz.

inacabado andamento da síndrome "poli"... eu sou o pronome eu sou o eco de mim mesmo, o alter ego do alter ego sou exatamente quem eu quero ser

amadorismo...

eu sou o umbigo da vala produzida por esse erosivo amor... sanguíneo... o sentimento das falésias a linguagem violenta e divina das nuvens o instinto da técnica O vazio comprimido catalisador do vácuo noturno Sou as penas dos seus Thauan Raposo

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travesseiros

a dor anestesiante a ilusão multifônica...

A constante do Cru A anatomia das incertezas O declínio fumegante o sorver das tuas pernas o solavanco da tua cintura o tanger dos lábios a sobrieade telefônica a singularidade de uma pedra O fracionamento lexical A redundante maestria a vontade Dele.

A mão faminta A cortina peito a molestação da calma Muitos artigos tanto mais substantivos adjetivando a inércia deliciosa do pós gozo...".

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A velocidade da combustão mecânica industrializa e distorce a percepção do solto vento.

Zéfiro de mobilete pelas ruas da cidade em um domingo sem feira...

roubei um Buda Pensar em você é como fumar um Hilton no terraço... É irônico, intempestivo, violentamente solitário Essa toalha de mesa cobre nossos pés Dizem que não se tem como disfarçar...

Acho que ursos tocam Jazz apenas como improviso eles esperam os muxoxos taciturnos eles esperam o arfar umas cartas velhas novas oportunidades meias divididas pés divididos verdade é só o mais que prazer que fica que vai na simplicidade do não dito Thauan Raposo

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ainda te conservo um amor mais que perdido um infinito nunca pareceu tão longe e gritos nunca se pareceram tanto com facas cegas, facas velhas de mesa, de pão do alimento confundido do abraço perecível de um limbo ditoso

questão de pronome Tua solidão corrompe...

Invalida a dignidade Desorienta o lençol Permeia, permeia Tua solidão descabela Fio a fio meu calendário Imóvel, agride Calada divaga

ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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Tua solidão traz Traz o acerto ao meu relógio A morbidez da espera A esperança do atraso O final do dia Tua solidão derruba Aliena o alimento Zomba da cruz Quebra a espádua Paralisa, atrofia Tua solidão atropela Esmaga, dilacera Sorrir dança E vai Tua solidão mantém O remorso, mantém Positiva a negação Mantém o atrevimento Pinta de cinza Claro!

Tua solidão cativa desaba Thauan Raposo

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Desata, o destino Disfarça, diz faça E aconteça Arbitrária, tua solidão concede.

Tempo...

Lantejoulas de marfim Mimeógrafo pros cordéis.

Praia calçada Tua solidão é enorme E me draga E me drena Então a calefação Onomatopeia Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Eleva Não sublime

ParaLéxicos e Outras Fábulas Incompletas

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Tangram emocional Meu maior mistério é o que cabe no universo você. Beijo seus olhos porque você é inquieta como os besouros. “A vida é sua flor rocha”. Faço carinho nos seus cabelos. Bobo, mergulho a mão em cada mecha. Apalpo a noite, madrugo em você.

De acordo com o limbo, pedras de incompletude... “Há prazer na seriedade das coisas que diz respeito a nós”. Exijo pernas emboladas. Amanhã farei um ato solitário por esse direito. “É um amor quântico”. As flores de hélio levitam. Não é pólen. São estrelas. Então os besouros celestiais semeavam universos.

Você.

Produzimos versos físicos, um encontro lírico onde a separação das sílabas, é uma análise chata feita pelo tempo que divide nossa rotina. Até o próximo encontro, a cada estrofe uma palpitação, um sorriso, a cada esquina, dois copos, a cada noite, tão nossas...

Quero você onde o tato seja útil.

Petulantes alegres furtivos safados cheios de descontração e amor... Beijos!

Thauan Raposo

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“Com uma roupagem tão liberta e contemporânea, o ParaLéxicos seduz o leitor como poucos livros conseguem fazer essa proeza.

E eu, fui seduzida”.

Daniele Pestana “Diz-se que paralelo é o que corre junto, mas por outra via. É o que acontece com os textos de Thauan Raposo. Eles geram ruído, mas apenas para mostrar que há beleza na dissonância, ou que existe certa necessidade do caos sobre a ordem, um léxico paralelo tentando reinventar histórias, refazer mundos, ou pelo menos refundar o cotidiano através do verbo”.

Marcelo Sousa