TFG - Cultura, Arte e Apoio à População de Rua

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CULTURA, ARTE E APOIO À POPULAÇÃO DE RUA

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INVISIB

INCLUSAO ARTE D CULTURA SEGRE

IGUAL

POPULAÇÃO


ILIDADE

O SOCIAL DE RUA E APOIO EGAÇÃO

LDADE

DE RUA

3 UNIFEOB CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

CULTURA, ARTE E APOIO À POPULAÇÃO DE RUA

THAYANE DEVECCHI MATIAS ORIENTADOR: MSC CAIO VINÍCIUS HIGA DEZEMBRO 2020


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Sosek


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“O que te detém não é quem você é, mas quem você acha que não é capaz de ser.” - JEAN-MICHEL BASQUIAT


Sosek


AGRADECIMENTO

À todos que participaram de toda esta etapa, contribuindo e apoiando em todos os desafios e decisões. Fornecendo suporte durante toda graduação, e, para a realização deste trabalho. Agradeço à minha família, na qual sempre me reergueram, deram força, coragem e amor para seguir este caminho. Aos meus colegas de curso, que compartilharam todos os momentos de alegria e dificuldades, proporcionando apoio e paciência durante esses últimos anos, juntos, sempre quando fosse necessário. Agradeço a todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFEOB, que estiveram presente durante toda os momentos, e, ensinando e transmitindo diversos conhecimentos de forma exemplar, através de um curso de qualidade profissional e pessoal. E, ao meu orientador e professor Caio Higa, pela atenção, apoio e auxílio na execução desta proposta de pesquisa, com ideias e ensinamentos que foram fundamentais para realização deste trabalho.


Palavras-chave: Situação de rua, Desigualdade social, Exclusão, Arte, Centro Cultural, Andaimes.

ABSTRACT

RESUMO

O trabalho de pesquisa apresentado busca entender as razões que levaram a um crescente número de população habitando as ruas do país, especificando a cidade de Campinas. São diversos fatores que podem ter levado uma pessoa a transformar logradouros públicos em uma moradia, como, por exemplo, a desigualdade social, um fator que atinge a população em situação de pobreza. A população que vive nestas condições passa por uma situação de exclusão, sendo invisíveis de uma sociedade, sendo isentas dos direitos humanos . Busca-se entender, também, como se trata a vivência deste grupo heterogêneo na rua. Através de estudos ligando o meio cultural e de assistência pode se entender que existem maneiras e locais que essas pessoas querem estar para se sentirem confortáveis socialmente. Deste modo, como forma de inclusão social e igualdade, desenvolve-se através deste Trabalho Final de Graduação, um forma de suprir necessidades dessas pessoas, como um espaço cultural como forma de integração do morador de rua à sociedade e aos meios artísticos, em um ambiente de acolhimento, digno, e de liberdade de expressão para a população em situação de rua.

The research paper presented seeks to understand the reasons that led to an increasing number of populations inhabiting the streets of the country, specifying the city of Campinas. There are several factors that may have led a person to transform public places into a dwelling, such as social inequality, a factor that affects the population in poverty. The population living in these conditions goes through a situation of exclusion, being invisible from a society, being exempt from human rights. It also seeks to understand how the experience of this heterogeneous group is being treated in the street. Through studies that connect the cultural and assistance environment, it can be understood that there are ways and places that these people want to be to feel socially comfortable. Thus, as a form of social inclusion and equality, a way to meet these people’s needs is developed through this Final Undergraduate Work, a way to meet the needs of these people, with a cultural space as a way of integrating the homeless person into society and artistic means, in a welcoming, dignified, and free speech environment for the homeless population.

Keywords: Homeless, Social inequality, Exclusion, Art, Cultural Center., Scaffolding.


LISTAS

FIGURAS FIGURA 1: Carlos Alberto Santos (no canto direito). / 14 FIGURA 2: Moradores em situação de rua na região central de SP. / 16 FIGURA 3: Protesto de moradores de rua. / 19 FIGURA 4: A complexidade da desigualdade social no Brasil. / 20 FIGURA 5: Pessoas em situação de rua embaixo do viaduto Jaceguai. / 22 FIGURA 6: Brasil. / 30 FIGURA 7: Sem descrição. / 41 FIGURA 8: Moradores de rua fazem parte do cenário do Centro de Campinas. / 48 FIGURA 9: Edificações abandonadas no centro de Campinas/SP. / 51 FIGURA 10: Sem descrição. / 53 FIGURA 11: Andréa. / 56 FIGURA 12: Carlinhos. / 56 FIGURA 13: Camila. / 56 FIGURA 14: Ingrid. / 57 FIGURA 15: Hippie. /57 FIGURA 16: Danilo. / 57 FIGURA 17: Avenida do Chá. / 58 FIGURA 18: Meios de moradias destinadas aos moradores de rua. / 61 FIGURA 19: Sem descrição. / 67 FIGURA 20: Colagem. / 71 FIGURA 21: Fachada do The Bridge. / 74 FIGURA 22: Localização do The Bridge. / 76 FIGURA 23: Isométrica de insolação. / 79 FIGURA 24: The Bridge . / 81 FIGURA 25: The Bridge. / 81 FIGURA 26: Renderização 3D representando o Homed. / 82 FIGURA 27: Verticalização. / 83 FIGURA 28: Processo de utilização e montagem do Homed. / 84 FIGURA 29: Tecnologia do vidro na face frontal. 84 FIGURA 30: Ambientes e layouts do Homed. / 85

FIGURA 31: Homed. 85 FIGURA 32: Interior Centro Cultural São Paulo. / 86 FIGURA 33: Sem Descrição. / 87 FIGURA 34: Implantação do CCSP em 1979. / 88 FIGURA 35: Localização do CCSP. / 88 FIGURA 36: Estudo solar e ventos predominantes. / 90 FIGURA 37: Estudo das plantas e programa de necessidades. / 91 FIGURA 38: Fotografias do interior e exterior do edifício. / 92 FIGURA 39: Fotografias do interior e exterior do edifício detalhando a estrutura. / 93 FIGURA 40: Fachada Praça das Artes. /94 FIGURA 41: Croquis em aquarela da Praça das Artes. / 95 FIGURA 42: Fotografia das fachadas externas. / 95 FIGURA 43: Situação e Implantação. / 96 FIGURA 44: Localização da Praça das Artes. / 96 FIGURA 45: Desenhos técnicos e setorização. / 98 FIGURA 46: Programa de Necessidades. / 99 FIGURA 47: Fotografias do interior e exterior do edifício. / 100 FIGURA 48: Sem descrição. / 102 FIGURA 49: Macrozona 4. / 107 FIGURA 50: Sem descrição. / 109 FIGURA 51: Situação. / 118 FIGURA 52: Muros. / 123 FIGURA 53: Projeto. / 124 FIGURA 54: Sem descrição. /127 FIGURA 55: Programa de Necessidades. / 129 FIGURA 56: Concepção. / 130 FIGURA 57: Perspectiva Explodida. / 131 FIGURA 58: Andaimes. / 133 FIGURA 59: Andaimes. / 134 FIGURA 59: Andaimes. / 134 FIGURA 60: Estruturas. / 135 FIGURA 61: Análise de Conforto. / 137


FIGURA 62: Planta Térreo. / 138 FIGURA 63: Planta Pavimento. / 139 FIGURA 64: Externo. / 142 FIGURA 65: Palco. / 144 FIGURA 66: Biblioteca. / 146 FIGURA 67: Exposição. / 148 FIGURA 68: Restaurante. / 150 FIGURA 69: Ateliês. / 152 FIGURA 70: Apoios. / 154 FIGURA 71: Apoios. / 156 FIGURA 72: Ensaio. / 157 FIGURA 73: Restaurante. /158 FIGURA 74: Biblioteca e Exposição. / 159 FIGURA 75: Basquiat. / 160

GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Acesso à alimentação no Brasil. /28 GRÁFICO 2 - Locais utilizados para banho. /29 GRÁFICO 3 - Locais utilizados para necessidades fisiológicas. /29 GRÁFICO 4 - População de rua no Brasil. /32 GRÁFICO 5 - Descriminação, impedimento de acessos ou realizações de atividades. /32 GRÁFICO 6 - Vínculos familiares. /32 GRÁFICO 7 - Formação escolar. /32 GRÁFICO 8 - População em situação de rua na capital de São Paulo. /33 GRÁFICO 9 - Índice das vítimas de violência nas ruas por orientação sexual e identidade de gênero em São Paulo. /36 GRÁFICO 10 - Etnia ou cor da pele das vítimas de violência nas ruas. /36 GRÁFICO 11 - Tipos de violência provocadas nas ruas. /36 GRÁFICO 12 - Censo de moradores de rua em Campinas/SP. /44 GRÁFICO 13 - Gênero da população de rua em Campinas/SP. /44 GRÁFICO 14 - Número de pessoas com nível escolar em Campinas/SP. /44 GRÁFICO 15 -Crescimento de moradores de rua em Campinas. /47 GRÁFICO 16: Temperaturas. /116 GRÁFICO 17: Zonas de conforto. /116 GRÁFICO 18: Chuvas. /116 GRÁFICO 19: Radiação média. /117 GRÁFICO 20: Umidade relativa. /117 GRÁFICO 21: Rosa dos Ventos. /117


MAPAS

SIGLAS

MAPA - Indicação do maior número de moradores de rua na área central de São Paulo (2019) /34 MAPA 2 - Censo da População de Rua em São Paulo (2015). /35 MAPA 3 - Censo da População de Rua em São Paulo (2011). /35 MAPA 4 - Locais de ocupação por moradores de rua de Campinas. /47 MAPA 5 - Locais de ocupação por moradores de rua de Campinas na região central. /49 MAPA 6: Localização Campinas. Fonte: Desenvolvido pela autora. /106 MAPA 7: Potências. /110 MAPA 8: Cultura. /111 MAPA 9: Cheios e Vázios. /112 MAPA 10: Vias. /113 MAPA 11: Usos de solo. /114 MAPA 12: Gabarito. /115 MAPA 13: Leitura Geral. /120 MAPA 14:Plano de Massas. /121

AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte APG - Área de Planejamento ATENDE’s - Atendimento Diário Emergencial BRIC - Brasil, Rússia, Índia, China CAPE - Centro de Apoio Pedagógico Especializado CAPs - Centro de Atenção Psicossocial CCSP - Centro Cultural de São Paulo CENTRO POP - Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua CGPOPRUA - Coordenação Geral dos Direitos da População em Situação de Rua CIS – Guanabara - Centro Cultural Unicamp CONDEPACC - Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico CRAS - Centro de Referência da Assistência Social CRAS - Centro de Referência de Assistência Social CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social CSEI - Comércio, Serviço, Institucional, Industrial CTA - Centro Temporal de Atendimento DAS - Documento de Arrecadação do Simples Nacional DECEA - Departamento de Controle do Espaço Aéreo DPBEA - Departamento de Proteção e Bem Estar Animal DSTs - Doenças Sexualmente Transmissíveis FASPG - Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa FEPASA - Ferrovia Paulista S/A FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas HCSEI - Habitação, Comércio, Serviço, Institucional e Industrial HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana


HMV - Habitações Multifamiliares Verticais IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LGBTs - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis MDH - Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos MDS - Ministério da Cidadania ONGs - Organizações Não Governamentais ONU - Organização das Nações Unidas RMC - Região Metropolitana de Campinas RMSP - Região Metropolitana de São Paulo SAGI/MDS SAMIM - Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante SANASA - Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A SEAS - Serviço Especializado de Abordagem Social SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SETEC - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação SMADS - Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social SMASDH - Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos SMDHS - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social SMPPS - Secretaria Municipal de Políticas Públicas e Sociais SNC - Secretaria Nacional de Cidadania SUS - Sistema Único de Saúde USP - Universidade de São Paulo



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FIGURA 1: Carlos Alberto Santos (no canto direito), 55, se aloja na rua Direita da Piedade, em Salvador, que registrava 5.900 pessoas cadastradas nos centros de atendimento municipais. Fonte: Raul SpinassĂŠ/Folhapress.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO / 16 1. DESIGUALDADE SOCIAL / 20 2. CONCEITO E CONTEXTUALIZAÇÃO / 20 2.1. TIPOLOGIAS DE MORADORES DE RUA 2.2. RELAÇÕES E SITUAÇÕES COM A RUA 2.3. ACESSOS A MEIOS DE SAÚDE, ALIMENTAÇÃO E HIGIENE 3. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL / 30 3.1. NAS RUAS DAS CAPITAIS 3.2. SOBREVIVÊNCIA À VIOLÊNCIA E AO DIREITO À CIDADE 3.3. ASSISTÊNCIAS GOVERNAMENTAIS 3.4. SITUAÇÃO DOS MEIOS DE ABRIGOS NO PAÍS 3.5. DÉFICIT DE CONTAGEM 4. ENTRE AS RUA DE CAMPINAS / 42 4.1. O APOIO DA CIDADE 4.2. LOCAIS DE PERMANÊNCIA E OCUPAÇÃO 4.3. INVISIBILIDADE DA ÁREA CENTRAL 4.4. ABANDONO E DEGRADAÇÃO DO CENTRO 5. VIVENDO NAS RUAS / 53 6. ASPECTOS CULTURAIS E O PROBLEMA DA MORADIA / 58 6.1. ABORDAGENS À MORADIA 6.2. VAZIOS URBANOS 6.3. CENTROS CULTURAIS 6.4. CULTURA E ARTE COMO REFÚGIO 6.5. MEIOS ARTÍSTICOS DE EXPRESSÃO 7. ESTUDOS DE CASO / 72 7.1. The Bridge Homeless Assistance Center 7.2. Homed 7.3. Centro Cultural São Paulo 7.4. Praça das Artes de São Paulo 8. LOCAL / 102 9. CA+Rua: CULTURA, ARTE E APOIO AO MORADOR DE RUA / 124 CONSIDERAÇÕES FINAIS / 160 REFERÊNCIAS / 162


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FIGURA 2: Moradores em situação de rua na região central de SP. Fonte: Catraca Livre.


17 INTRODUÇÃO O tema de estudo e pesquisa obtido nesta monografia surge através das necessidades impostas às pessoas que se encontram em situação de rua, onde são encontradas especificamente nas áreas centrais de grandes metrópoles, como no caso de Campinas, região metropolitana de São Paulo, onde nos últimos anos, segundo o censo de contagem realizado pela Prefeitura Municipal e a SMASDH, possui um alto índice de crescimento de desabrigados, sendo o total de 822 moradores de rua em 2019. Há motivos variantes nas quais levaram estas pessoas estarem em uma situação de extrema pobreza, principalmente por conta da desigualdade social, conflitos sociais, a segregação social, a carência em questão habitacional, conflitos e closes econômicas e má aplicação de políticas públicas impostas no país. Porém, este efeito tem ocorrido há muitos anos, através de um contexto histórico de grandes transformações econômicas, na qual levaram grande parte da população à crises entre empresas, gerando demissões, despejos por não haver mais condições de sustento, e, a falta de apoio político a esta população (NEVES, 2013). Diante deste cenário, viver na rua se tornou algo além de uma única opção, tornando-se uma forma de moradia para muitas famílias e pessoas que passaram por algum problema em suas vidas, seja desemprego, abandono, conflitos familiares ou dependência química. Os centros das cidades tem sido um local de grande parte das ocupações, seja em frente as calçadas de comércios, marquises, praças ou viadutos, passando por situações de violência, desrespeito, fome, prejudicando a saúde, e, em uma constante sensação de fome e sede (BASTOS, 2003). Assim, tratando-se

de uma situação onde a cidade necessita de uma proposta arquitetônica e urbanística que possa ofertar um programa de necessidades integrado, como forma de inserção dos moradores de rua em meio a sociedade. A população que vive nestas condições de invisibilidade, passa por uma situação de exclusão, sentindo-se invisíveis, além de, passarem por situações diversas, como desigualdade social e descaso pela sociedade (MONTEIRO, 2017, p.6).

JUSTIFCATIVA

Um exemplo sobre a arquitetura envolvida para atendimento aos moradores de rua, como albergues, abrigos centros de apoio e acolhimento. Porém, por mais que seja uma maneira breve de conterem a problemática de haver pessoas vivendo às ruas, essas soluções estão sendo tratadas de uma forma incerta, na qual muitos moradores de rua estão tendo a preferência de permanência nas ruas em vez de recorrer à algum meio de acolhimento. Esse sentimento de repúdio pela questão de abrigagem temporária, ocorre, principalmente, pela questão de regras mal impostas nos locais que estão em estado de abandono, burocracia e restrições, como no caso da SAMIM em Campinas, na qual possui escassez de água, energia e sanitários, além, da população, na qual busca recorrer a este meio, são tratados de forma desrespeitosa e através de representações sociais pejorativas, sem apoio, e com descaso, sendo proibidos até mesmo de estarem junto aos seus pertences pessoais, deixando-as apenas com a opção de encontrarem novos meios para pertencerem sem serem despejados. Porém, nas ruas, a Prefeitura de Campinas em parceria com a SETEC, bucam maneiras de intervir essas


18 pessoas de estarem nas ruas, assim, buscam a implantação de leis, como no caso, a restrição de artistas de rua e ONG’s e outros meios de apoio à levarem refeições para a população em situação de rua nas áreas centrais. Uma maneira de conter esse sentimento de exclusão, é a implantação de espaços públicos culturais. Para algumas pessoas, a cultura e a arte, são formas de exposições que propõe sensações, lembranças, seja já vivenciadas, ou um pensamento de mudanças na maneira de vida, além de proporcionar acolhimento e inclusão.

OBJETIVOS É possível identificar a necessidade da cultura, tanto para as pessoas, quanto para própria cidade, deparando com diversas formas de artes pelas calçadas de forma gratuita ao público e de forma acessível. Esses espaços deve ser destinado para toda população da cidade, mas como principal públicos, a população de rua, com intuito de conectar a cultura com a sociedade. A integração é um fator importante para um convívio respeitoso dessas pessoas, assim, é possível idealizar um espaço onde não há dúvidas de que são bem-vindos, e não vão julgar pela trajetória de vida de um morador de rua. Desta forma, como objetivo principal para realização de um espaço, é utilizar manifestações culturais que podem unificar essas características, sendo um espaço sem distinção entre os participantes, na qual estão realizando atividades socioculturais, assim como todos que estão frequentando o centro cultural, onde a única preocupação é a criação de artes. A ideia principal é a realização de uma rua cultural na área central de Campinas, onde irá abrigar espaços com um amplo

programa de necessidade. Todo desenvolvimento do projeto foi baseado em realizar um espaço aberto e acessível, para ocupação e convívio, e assim, sentirem-se recepcionados em um vazio urbano destinado para todos os moradores de rua do município da cidade e pedestres.

METODOLOGIA Para desenvolver e entender as situações que uma população passa a partir do momento que possuem uma relação com a rua, foi adotada uma metodologia de pesquisa, iniciando-se através de levantamentos no país, analisando quais estados e cidades havia um número crescente de moradores de rua nos últimos anos. Após a identificação das cidades, busca-se entender quais motivos e situações essas pessoas estão passando através de artigos, levantamentos bibliográficos e teóricos . Utiliza-se também, o estudos de projetos que possuíam características semelhantes da proposta, para compreender melhor qual método projetual aplicar no espaço escolhido no assunto abordado. Deste modo, através de todas pesquisas e referenciais teóricos, é estudado o desenvolvimento do entorno do projeto proposto e técnicas e meios de construções a serem aplicadas para a cidade, até chegar a uma concepção projetual final.


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FIGURA 3: Protesto de moradores de rua. Fonte: Desenvolvido pela autora.

“O morador de rua não é só aquele que está debaixo do viaduto, dormindo debaixo de uma coberta, ou mesmo num asfalto ou numa calçada fria, mas é aquele morador que um dia ele teve uma cama quente, um dia ele teve um lar, ele teve uma cultura na vida dele. Mas como se fosse numa fração de segundos, como um vírus no computador, aquilo deu um “tilt” na vida dele. E ele parou de funcionar, e ele foi parar ali, como se fosse um depósito de ferro velho. Sem ter alguém, um mecânico que fosse lá tentar descobrir onde estava o problema, tentar descobrir se tinha conserto ou não aquela peça... E cada vez mais, quanto mais tempo a pessoa fica colocada nesse depósito de ferro velho, que é o mundo aí fora, as calçadas e as esquinas da vida, aquele defeito vai se agravando de tal forma que vai tomando conta de todas as peças, ela vai enferrujando todas as suas partes. Chega um determinado momento que esta peça não tem mais vontade própria, nem sequer ela lembra que teve um passado. Ela começa a viver na verdade aquele submundo que ela está vivendo e esquece que existe outro mundo. Ela começa a ver as pessoas que vivem nesse outro mundo como se fossem “ETs”, como se fossem pessoas superiores a ela ao máximo. Por mais capacidade que essa pessoa tenha, ela não consegue botar isso para frente, ela não consegue botar isso para uma mudança da própria vida dela” (MATTOS, 2003, p. 75).


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FIGURA 4: A complexidade da desigualdade social no Brasil. Fonte: Fala Universidade.


21 DESIGUALDADE SOCIAL A desigualdade social é um assunto presente em um longo contexto histórico, através de uma sociedade passando por uma sequência de injustiças, dificuldades e principalmente quando torna-se um problema econômico e político. Surgindo em lugares carentes de necessidades e direitos básicos como a falta de moradia, má distribuição de renda e empregabilidade, falta de recursos públicos como: saúde, educação e cultura. Mas a desigualdade vai muito além de questões econômicas, pois está presente em meios sociais cercados por desigualdade de gênero, racial, regional e religiosa (SOUZA, 2016). Algumas características relacionadas à desigualdade social encontram-se no Brasil, na qual vivencia uma inédita e sistemática queda da desigualdade no período recente (CAMPELLO, 2018). Em posição de um dos países mais desiguais do mundo, segundo o BRIC, ocupa o 7º lugar do território onde há o maior índice de desigualdade social devido ao potencial exemplificado pela alta sensibilidade dos índices de desigualdade e pobreza e mudanças em certos instrumentos de política (mudanças no salário-mínimo e nas taxas de inflação por exemplo). “Por outro lado, talvez devido a instabilidades anteriores, o Brasil não tenha avançado muito na implementação de políticas estruturais de combate à pobreza e desigualdade, através do reforço do portfólio de ativos dos pobres” (NERI, 2000). No caso de pessoas que vivem em extrema pobreza, na qual acabam sendo marginalizadas, elas sofrem com o efeito que o país está vivendo, principalmente na questão econômica e social, faltando moradia, salário, emprego, ou seja, oportunidades adequadas para um crescimento social de forma igualitária. No Brasil não há meritocracia e direitos sociais, havendo pessoas que contribuem com o estado, como empreendedores, assim não sofrem com esta situação de pobreza, e, quem vem de uma descendência menos favorecida não possuem meios e oportunidades para melhoria de vida. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a concentração de renda aumentou em 2018 no país, mostrando que o rendimento mensal de 1% da população mais rica do país é quase 34 vezes maior que o rendimento da metade mais pobre da população, e a renda dos 5% mais pobres caiu em 3%, enquanto a renda dos 1% mais ricos aumentou em 8%. A realidade da desigualdade social no Brasil está presente desde a época de colônia de exploração. E, ao longo dos anos essa história continuou através da corrupção, divisão de classe sociais, segregação social, inflações e o início de uma era capitalista. E tendo como consequência a geração de uma pobreza absoluta em muitas famílias, e com o caos da economia, retirando até o último centavo dessas pessoas, na qual sobrevivem em condições desiguais, sem moradia, sem alimentação, sofrendo diariamente com a falta de dignidade, como as pessoas em situações de rua que são as que mais definem o significado de desigualdade. Elas são julgadas e não recebem nenhum direito que deveriam, vivendo totalmente separadas da sociedade e sendo tratadas como minorias (SOUZA, 2016).


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FIGURA 5: Pessoas em situação de rua embaixo do viaduto Jaceguai, região central da capital. Fonte: Rovena Rosa/Agência Brasil.


23 CONCEITO E CONTEXTUALIZAÇÃO

sentirem inferiores, porém, ninguém busca informações para saber por quais motivos foram parar em tais situações. 2.1. TIPOLOGIA DE MORADORES DE RUA Perambula noite e dia na cidade; sobrevive quase sempre sozinho sem comO termo morador de rua, tem como definição um grupo panheiro; agrupa-se esporadicamenheterogêneo, ou seja, um grupo de pessoas que possuem históte para satisfazer alguma necessidade rias diferentes e encontram-se naquela situação por motivos disimediata; por exemplo em falta de um tintos. Passando por abandono, desespero e falta de dignidade. trocado “filar a pinga de outro” ou ainda Essa população une características em comum como: a falta de buscar proteção. Esse processo de agrupauma moradia fixa ou um lugar temporário para sua estadia, conmento leva algum tempo até que se adquiflitos familiares, dependências e vícios, ou apenas por escolha ra confiança dos demais. Sua sobrevivência própria de estar em um local em busca de liberdade e se sintam é garantida através de biscates e “bicos”. familiarizadas com as pessoas que possuem em comum a poDormem nas beiras de calçadas, debaixo breza extrema. Estão fragilizados pela inexistência de moradia de marquises, na porta de estabelecimenconvencional regular, utilizando a rua em áreas degradadas ou tos comerciais ou em outros espaços públiabandonadas como meio de moradia temporária ou permanente cos até serem expulsos desses locais, seja (COSTA, 2005). por intervenção policial, ou outra forma de Além das situações apontadas, há também métodos de maus-tratos da população (BASTOS, 2003). sobrevivência, como doações feitas por ONGs e empregos inDessa forma, tornam-se vítimas de descaso, discriminação, formais, mediante de: esmola, trabalhos artesanais, artistas de preconceito e desprezo, resultando constantemente em agressinal, vendas de alimentos e pequenos objetos, flanelinhas, lava- sões, tentativas de homicídio, chacinas, e ainda nas violações redor de carro, coleta de materiais recicláveis, trabalhos informais alizadas por agentes públicos. De acordo com o relatório feito pela no setor de construções civis, prestação de serviços de carga e ONU no conselho de direitos humanos (30 de dezembro de 2015, descarga, empregada doméstica, distribuição de panfletos, ativi- p. 2) “a situação de rua é uma crise global de direitos humanos dades ilícitas como o tráfico, prostituição, entre outros meios. que requer uma resposta global e urgente”, ou seja, a vivência Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social de 2005, nas ruas depende de cada um que está nela, pois estão sozinhos tais características e tipologias de situações desses fatores na e vulneráveis, causado pelas diversas características já citadas, qual os levaram para a situação de rua constam na Política Na- transformando o em um grupo social, porém não possuem direitos cional para a População em Situação de Rua segundo o decreto socioeconômicos e identidade social, levando apenas uma série de nº 7.053 de 2009. A população nessa condição passa diariamen- consequências graves para a saúde e vida. O perfil dessas pessoas te por uma situação de preconceito, onde são julgadas e vivem mudam de acordo com as situações, motivos, causas, atividades em um mundo de exclusão social, onde a humanidade faz se


24 e espaços vivenciados por estarem nas ruas da seguinte forma: a) PERÍODOS • Crônicos: são indivíduos que vivem um longo período de suas vidas nas ruas ou em albergues públicos; • Episódicos: aqueles que alternam as suas estadias nas ruas ou em residências; • Transitórios: aqueles que vivem temporariamente nas ruas em razão de uma crise situacional aguda, como, por exemplo, os desabrigados por uma catástrofe natural (Arce & Vergare, 1984). b) MOTIVOS • Abandono: geralmente são pessoas que passaram em algum momento de sua trajetória um problema mental que não foi tratado adequadamente, e nem dado um suporte pela família, gerando esquizofrenia e alucinações, e, acabam vivendo de uma forma precária, através de sobras de lixo, ou ajudas de habitantes locais; • Problema mental: portadores de doenças mentais ou idosos, que necessitam de um cuidador maior, mas foram abandonados na rua pela família, ou não obtiveram como bancar custos de cuidados da saúde; • Vícios: geralmente por álcool ou entorpecentes químicos como crack, bastante frequente e motivo de levarem muitas pessoas para as ruas; • Conflitos familiares: causados por diversos motivos, mas principalmente por falta de aceitação e apoio de familiares, brigas, falecimento de algum familiar, assim, acabam indo para as ruas em busca de liberdade e estar perto de pessoas que passaram pelas mesmas situações; • Migração: de outros estados e países, que vieram para as capitais em busca de uma vida melhor, e acabaram

desiludidos com as propostas de empregos e como a sociedade os trata; • Ex-presidiários: pessoas que saíram do sistema penitenciário ou fundação casa, na qual suas vidas se tornaram uma estigma social, dificultando a busca de emprego e perda de propriedades e familiares; • Problemas com a justiça: em muitos casos, acabam perdendo tudo para o governo, por falta de dinheiro para pagarem suas contas e acabam despejados e perdem suas casas ou até mesmo separação conjugal; • Falta de transporte público: o preço elevado de passagens junto com a dificuldade da locomoção de trabalho x casa, por morarem distantes de seus empregos, e para não perdê-lo, acabam passando a noite nas ruas ou albergues quando possível, voltando para casa apenas nos finais de semana; c) SITUAÇÕES • Famílias: homens e mulheres que possuem família para sustentar, porém se encontram desempregados e acabaram deixando suas casas em relação a ruptura que tiveram na situação familiar; • Pedintes/ Mendigos: definem-se de modo geral como pessoas que supostamente perderam certos atributos sociais (não têm família nem casa), e por isso sobrevivem na rua, apresentando-se sujas e maltrapilhas, além de não trabalharem. Como pedintes são classificados aqueles que, embora disponham de atributos sociais reconhecidos, enfrentam dificuldades para sobreviver, e, portanto, recorrem à ajuda de terceiros (NEVES, 2010); • Malucos de Estrada: denominados como Nômades, Hippies ou Malucos de Estrada é o termo usado para


25 aqueles que estão buscando uma vida livre de regras e fora dos padrões da sociedade, geralmente se mudam frequentemente de cidades em cidades, sendo assim se trata de um modo de vida; • Artistas de rua: buscam uma forma de sobrevivência justa, mostrando seus talentos, tendo um dia serem reconhecidos por meio das artes apresentadas nas ruas da cidade, geralmente se encontram nas regiões centrais, por conta de haver uma proliferação de pessoas para assisti-lo e contribuírem com alguma ajuda. Muitos estão neste caminho por opção de escolha de vida, porém muitos estão ali pois estavam na rua e tiveram que se adaptar buscando meios de trabalho para própria sobrevivência; • Prostituição: em alguns casos, em suas trajetórias, são passados pela prostituição, como opção por decorrência de uma vida orientada por vícios, ou um método de sustentação, acabam vivendo em prostíbulos em uma situação de escravidão, porém estes tipos de situações acabam gerando doenças como HIV, e como consequência, ir em busca de tratamentos em casas de apoio para sobreviver; d) TIPOS ESPACIAIS PELAS CIDADES • Pessoas com animais, geralmente com cachorros, para cuidarem e como forma de companhia; • Utilização de caixas de papelão, pedaços de madeira, e cobertores, maneira de montarem espaços provisórios, assim, podem se aquecerem, dormirem, e se protegerem; • Barracas industriais para se protegerem e se abrigarem de forma permanente; • Pessoa com garrafas de bebidas alcoólicas, vício mais

• Utilização de fogueira para se aquecerem ou realizarem refeições, instaladas em praças com pouco fluxo de pedestres, rotatórias, ou marquises; • Pessoas com carrinho de supermercado para armazenarem seus objetos pessoais, ou utilizam para recolher materiais recicláveis pela cidade, estão na rua por esperança de um vida melhor e buscando meios de sobrevivência e trabalhos, como os catadores ou carrinheiros; • Residentes em albergues os quais abrigam a população que mora nas ruas ou residentes temporários de pensões ou hotéis de baixo custo; • Moradores em casas ou prédios abandonados e em condições precárias; • Vivendo temporariamente nas casas de amigos ou familiares. e) ADAPTAÇÃO ATRAVÉS DE EQUIPAMENTOS PÚBLICOS • Árvores e postes: improvisam um varal de corda para pendurar e estender roupas, utilizam como local de realização de necessidades fisiológicas, e no caso de árvores, utilizam a copa para armazenarem ou esconderem objetos pessoais; • Orelhões: forma de comunicação parcialmente gratuita; • Marquises, viadutos e pontos de ônibus: forma de abrigagem, armazenar pertences pessoais, se protegerem e dormirem; • Bueiros: local utilizado como armário e armazenamento de objetos; • Escadarias e bancos: forma de adaptação para ficarem e dormirem de forma temporária; • Fontes e torneiras públicas: meio de adquirir água para consumo próprio e meio de higienização.


26 2.2. RELAÇÕES E SITUAÇÕES COM A RUA É possível notar uma certa repudiação e medo vindo de pessoas que nunca tiveram que passar por alguma situação relacionada com uma vivência na rua, chegando a um questionamento do que leva uma pessoa a “escolher” morar na rua, pois vivem dentro de uma cultura, seja ela política ou econômica, que são enxergados por fatores como se fosse uma vitimização, por estarem ali para serem chamados de indivíduos com desmoralização e ofensa, fazendo com que se sintam excluídos de uma cidadania em uma negligência social. Segundo Mattos (2004, p.50) a caracterização de relações com a rua é uma concepção que procura explicar a situação de rua como uma oportunidade de expiação de erros cometidos em vidas passadas, ou seja, como um modo de vida de sofrimento que pode levar à salvação pessoal. Assim, a situação de rua passa a ser vista como uma condição de regeneração da alma. Mesmo existindo uma sincera piedade, o aspecto pernicioso que atua subjacente a esta concepção é o de contribuir para a construção da identidade do indivíduo em situação de rua como alguém inferior e digno de pena por suas mazelas, além de ser uma crença que dificulta a criação de possibilidades para estes indivíduos conquistarem suas saídas das ruas. É uma visão que favorece ações meramente assistencialistas e paliativas, o que, provavelmente, tende a manter o problema. No documentário “Invisíveis: Moradores de Rua”, um pro-

Sosek

jeto na qual relata o sentimento de todos que se sentem deixados de ladose julgados pela sociedade, nota-se as razões pelas quais essas pessoas pararam nas ruas e como se sentem em relação familiar a ela, causada por um impedimento em suas vidas. Alessandro, um jovem morador de rua com 20 anos, na qual está na rua desde os 12 anos de idade, e, seu sonho é ser jornalista e estudar, porém saiu de sua casa por haver uma família onde haviam dependentes químicos e bandidos, e isso estava interferindo em sua vida, relata: “ acordo, todo dia eu convivo com uma revolta, uma dor no coração, que é você estar passando sem rumo, e está passando pessoas indo para o trabalho, escola e pro curso, e você não tem rumo, seu olho não tem direção, e eu falo para você, você vê uma pessoa conversando, rindo, você não aguenta olhar para aquilo, porque você não tem, É uma inveja branca, não é uma inveja obscura, não to com raiva daquela pessoa, to com raiva de ter sido excluído [...] eu tenho uma etiqueta que eles me vestem, ele é ladrão, ele é bandido. Então chega um lugar para pedir emprego, pegam meu documento e é essa etiqueta que eu tenho.” Não há outra palavra que define melhor essa relação com a rua do que exclusão. Muitos querem ter uma vida além daquela, possuindo empregos, um lugar para residir, poder ter um estudo, seguir uma carreira, mas a sociedade impede que realizem essas ações de maneiras justas, pois julgam apenas por seu passado, sem saber o que eles sentem, olham apenas com julgamento, sendo possível ver que o verdadeiro problema não são eles de estarem morando na rua, mas sim as pessoas que os impedem de viver igualmente.


27 2.3. ACESSOS A MEIOS DE SAÚDE, ALIMENTAÇÃO E HIGIENE a) SAÚDE

A questão da saúde trata sobre diversos assuntos, não apenas doenças, como também um método de bem estar com a vida humana, fazendo com que os moradores de rua sintam-se cuidados e aceitos pela sociedade. Porém, a área da saúde no brasil passa constantemente por situações problemáticas, principalmente relacionada a pessoas em situação de rua, pois possuem riscos de adquirirem doenças com facilidade pelo fato de não se cuidaram como deveriam pela falta de recursos imposto sobre elas, como a falta de uma correta alimentação, utilização de medicamentos, o clima nas ruas, principalmente em dias chuvosos ou frios e o medo diário relacionado a violência e roubos. Sendo assim, o cuidado com a saúde não se torna uma prioridade em suas vidas, pois em primeiro lugar fica o pensamento de ir atrás de alimentação. Dessa forma, várias doenças estão presentes entre os logradouros públicos, colocando em risco os moradores de rua. Uma das principais doenças são: tuberculose, eczema cutânea, problemas odontológicos, psiquiátricos, dermatológicos, ampliando de várias formas pelas condições nas ruas, devido ao contato com pessoas que possuem alguma doença ou parasitoses, falta de higiene, contato com psicoativos como o crack e o álcool e a mais ocorrente: as DSTs. Segundo Brito, um estudo realizado com moradores de rua em albergues de São Paulo encontrou prevalências de 1,8% de HIV, 8,5% de vírus de hepatite C, 30,6% de infecção pregressa por hepatite B. Geralmente, tais

doenças são decorrentes pela maneira a qual vivem, debaixo de chuva e sol, frio e calor extremo, privação do sono, falta de alimentação adequadas e utilização de entorpecentes, gerando em alguns casos problemas psicológicos como: esquizofrenia, ansiedade, depressão, distúrbios pela falta do consumo de alguns vícios. Assim, afeta completamente a saúde e bem estar desta população, agravando alguns sintomas pela falta de oportunidade e facilidade de atendimento clínico (AGUIAR e IRIART, 2012). A Falta de acessibilidade a serviços médicos é uma outra problemática e motivo por não ser prioridade para os moradores de rua. Por mais que estes serviços sejam públicos e de ser uma obrigação oferecer atendimento a todos, no brasil há dificuldade de acesso. A falta de documentação dificulta o atendimento, além preconceito dos próprios funcionários a essas pessoas devida a situação em que vivem. O resultado final é a busca por ajuda apenas em último caso enquanto acharem que estão bem com suas condições de saúde, pois os problemas de saúde podem atrapalhar seus meios de sobrevivência e afazeres para obter algum tipo de renda. Segundo a afirmação de Boltanski (1989), a percepção do corpo está intimamente associada à forma como as pessoas se inserem na hierarquia social e como ganham a vida. Para as pessoas em situação de rua, o corpo é seu único bem e instrumento indispensável para a garantia da sobrevivência. A atenção que os indivíduos dão ao próprio corpo (aparência física, sensações de prazer e desprazer) cresce à medida que se eleva a hierarquia social. A percepção de saúde passa pelo corpo, sendo adaptada e legitimada pela performance corporal no cotidiano.


28 b) ALIMENTAÇÃO

bem vindos a lugares com ambientes diferentes do que estão acostumados. Estar na rua é estar em uma situação totalmente precária, GRÁFICO 1 - Acesso à alimentação no Brasil onde a pior luta é com a fome e sede diária, na qual muitos dias não há o que supri-la, buscando diversos meio para resolver esse vazio. Quando se vive na rua, as maneiras de se alimentar são grandes e nunca se passa pela cabeça da população o risco de saúde sofrido pelos moradores de rua por essa busca. As opções para adquirir alimentação ou água por conta própria são complicadas, tendo como Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social opções mais comuns recorrer a nascentes e torneiras de locais públicos e Combate a Fome, 2008. ou doações de algum voluntário, no caso dos alimentos não é diferente. c) HIGIENE O meio de alimentação é uma questão complexa, pois não há esAs questões higienistas no Brasil passam por dois pacolha, eles se alimentam ao que está em seu alcance. Sem empregos fixos râmetros distintos, sendo uma questão social e outra polítiou qualquer tipo de atividade informal, a renda recebida não é o suficienca. A social é uma maneira de ajudar e se preocupar com víte para o sustento próprio ou da família, buscando opções de alimentação timas de abandono social, pensando em seu bem estar e em através de comércios centrais, tornando-se pedintes para as pessoas que sua saúde para evitar propagação de doenças ou bactérias, passam nas ruas diariamente. As ONGs contribuem com doações solidáporém não é algo obrigatório, pois partiria do morador a esrias, restos de restaurantes e até mesmo, em último caso, sobras do lixo. colha de se higienizar adequadamente e de maneira que lhe Segundo o Desenvolvimento Nacional de Combate à Fome, cerca achar adequado. Já a questão política chega a ser um critério de 79,6% da população de rua conseguem fazer ao menos uma refeição ao desumano, favorecendo apenas os mais ricos e donos de codia, e 19% não conseguem se alimentar todos os dias. O segmento que se mércios que ajudam a gerar economia no país, sem ao menos destacou negativamente em relação à alimentação foi o das pessoas que pepensar no morador de rua como uma pessoa, apenas pensandem dinheiro para sobreviver, onde 31,3% delas não se alimentam todos os do em tratá-los com desprezo e com uma política higienista. dias. Observou-se ainda a esperada associação entre alimentação e renda, Os meios conservadoristas investem severamente na genjá que proporções mais elevadas de indivíduos que conseguem garantir a retrificação social, como acontece em São Paulo desde que João alização de alimentação diária foram encontradas nos níveis mais elevados Doria, do PSDB, assumiu o governo em 2001. A política higienista de renda (SANTOS, 2011, p.33). As grandes cidades possuem meios de conse refere como se fosse uma opção o morador viver rua, é uma lei tribuição para a população em situação de rua, como: restaurantes populaque trata o ser humano como um objeto. Através deste método, mores, albergues, sistemas e programas de integração social do governo que radores passam frequentemente por abusos, principalmente vinpossuem meios de alimentação, vestimentas, higiene e saúde, mas não do de agentes do centro de acolhimento e autoridades, pelo motisão todos que possuem acesso a esses meios, pois não são todos lugares vo de estarem nas ruas ou serem dependentes químicos, agindo que oferecem tais oportunidades gratuitamente ou apenas não se sentem de maneira ilegal e agressiva, sem possuírem direitos humanos.


29 Em um bairro nobre de São Paulo, moradores locais exigiram a remoção de moradores de rua de maneira preconceituosa, realizando uma campanha cujo nome era “Me devolva Higienópolis”¹ para o bairro ficar com um aspecto limpo, tratando-os como se fossem lixo, mas não foi realizado essa ação. Em 2018 houve outro caso na Cracolândia, onde os moradores de rua eram retirados à força pela prefeitura sob a gestão de João Dória através do uso de jatos d’água, na qual essa limpeza ocorria 3 a 4 vezes por dia, além do uso de bombas lançadas por políciais². No Rio de Janeiro¹ ocorreu em 2016 o mesmo caso, devido a um grande evento que ocorreria na cidade, a prefeitura realizou a política de higienização nas áreas centrais e com maiores fluxos de turistas, porém, utilizaram de forma violenta, obrigando-os a irem para abrigos sem nenhum de seus pertences, ocasionando denúncias feitas pela Comissão dos Direitos Humanos. A forma social é realizada por agentes geralmente da SMDHS, na qual tentam entender por quais situações os moradores de rua estão passando, tratando-os com respeito e dignidade, seguindo todas as leis de direitos, oferecendo a possibilidade de encaminhá-los para os Centros POP, mas só em caso de se sentirem confortáveis de participarem de tais ações, caso contrário, muitos moradores buscam maneiras para que possam se higienizar quando possível, indo atrás de prédios que possuam torneiras do lado de fora para realizarem um banho, ou através de banheiros públicos geralmente encontrados nas áreas centrais de algumas cidades. Através da FASPG e da SMPPS da cidade de Ponta Grossa, o projeto Banho Solidário¹ disponibilizou um motor trailer com banheiros individuais para higienização de moradores de rua, trazendo mais conforto para quem necessita, e além do banho, receberam roupas limpas, kit de higiene e alimentação.

GRÁFICO 2 - Locais utilizados para banho

5.2% 14.2% 32.6% 31.4%

Rua Abrigos e Abergues Banheiros Públicos Casa de parentes ou amigos

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, 2008.

GRÁFICO 3 - Locais utilizados para necessidades fisiológicas

9.4%

2.7% 32.5%

21.3%

Rua Abrigos e Abergues Banheiros Públicos Estabelecimentos Comérciais Casa de parentes ou amigos

25.2% Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, 2008.


3 30

FIGURA 6: Brasil. Fonte: Desconhecida.


31 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL O consenso nacional estimula o aumento da população vivendo em condições subumanas, chegando a cerca de 400 mil pessoas no país, e dentro dessa população encontra-se a população de rua no Brasil, na qual possui um grande índice por conta da crise econômica que tem afetado várias cidades e capitais em uma época de total intolerância pela falta de emprego e meios renda, com o aumento de desemprego atingindo cerca de 13,7 milhões de brasileiros e 54,8 milhões de cidadãos dispondo R$ 406 ou menos mensais. Segundo o IBGE, a pior situação se encontra principalmente no estado de São Paulo, onde as situações impostas são as ocupações em calçadas, viadutos, praças e prédios desocupados. Muitos casos encontrados onde a população ocupa esses meios são por conflitos familiares, onde grande parte são por dependências químicas. Além de São Paulo, outros estados, cidades e municípios se encontram em uma situação parecida em relação ao aumento de moradores de rua. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, realizado em 2008, uma pesquisa realizada em 71 cidades brasileiras com população superior a 300 mil habitantes, incluindo as capitais, com exceção de São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Através desta pesquisa, há cerca de 31.922 pessoas que utilizam as ruas como moradia. Os municípios brasileiros que possuem mais moradores em situação de rua são: Rio de Janeiro (4.585), Salvador (3.289), Curitiba (2.776), Brasília (1.734), Fortaleza (1.701), São José dos Campos (1.633), Campinas (1.027), Santos (713), Nova Iguaçu (649), Juiz de Fora (607) e Goiânia (563). Segundo a pesquisa feito pela IPEA em 2016, no total, o país possuía 101.854 pessoas em situação de rua, ou seja,

0,048% da população brasileira se encontra nessa condição. Viver nas ruas tem sido uma luta diária para essas pessoas, convivendo diariamente com a violência, tanto física quanto psicológica, havendo intervenções violentas por parte de policiais, recolhimento de pertences, negligência no atendimento social e ausência de políticas públicas. Dentro desta população, se encontram cerca de 40% vivendo em municípios com mais de 900 mil habitantes, 77% em municípios com cerca de 100 mil pessoas e em municípios menores com até 10 mil habitantes chega a 6,63%. O dever de acompanhar, desenvolver, avaliar e monitorar a Política Nacional para a População em situação de rua, observando se estão recebendo tais direitos e assistência, fica ao cargo do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), junto com a Secretaria Nacional de Cidadania (SNC), em sua Coordenação-Geral dos Direitos da População em Situação de Rua (CGPOPRUA). Especificidades da população em situação de rua no Brasil: • 69% dormem na rua (dois em cada três), enquanto 22% dormem em abrigos ou outras instituições. Outros 8,3% costumam alternar, ora dormindo na rua, ora dormindo em abrigos; 74% sabem ler e escrever e quase a metade completou o ensino fundamental; • 35,3% declaram como motivo para passarem a viver na rua o alcoolismo ou drogas; • 29,8%, o desemprego, e 29,1% desavenças com familiares; • Apenas 1/3 afirma ter problemas de saúde. Sendo 10,1% hipertensão, 6,1% desordem psiquiátrica ou mental e 5,1% HIV/AIDS; • 70,9% exercem alguma atividade remunerada. Desses, 27,5% trabalham como catadores de materiais


32 recicláveis; 14,1%, como flanelinhas; 6,3%, como trabalhadores da construção civil; 4,2% em área de limpeza e 3,1% como carregador/estivador; • 52,6% ganham entre R$ 20 e R$ 80 por semana; » apenas 15,7% têm como principal fonte de renda a esmola. Fonte: Meta/MDS (2008) - Guia de cadastramento de pessoas em situação de rua, 3ª EDIÇÃO. GRÁFICO 4 - População de rua no Brasil

GRÁFICO 5 - Descriminação, impedimento de acessos ou realizações de atividades

13.9%

18.4%

31.8%

21.7%

31.3%

26.7%

29.8%

GRÁFICO 6 - Vínculos famíliares

23.1% 51.9%

34.3% Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, 2008.

A realidade é que a sociedade não aceita algo fora dos “padrões normais”, pois prefere acreditar que não é possível haver pessoas em diversas situações e principalmente junto com seus familiares vivendo na precariedade, passando fome e vivendo à base de sobras que são considerados lixos pelas pessoas, vivendo em uma constante exposição à violência e olhares preconceituosos (Gráfico 5), onde sequer essa população mais favorecida pensa em ajudar o próximo como a população que vive em extrema desigualdade social, ao morador de rua.

Estabelecimentos Comérciais Entradas de Shopping Transporte Coletivo Bancos Orgãos Públicos Atendimento em redes públicas Tirar documentos

39.2% GRÁFICO 7 - Formação escolar

17.8% 0.7% 3.2% 3.8% 10.3% 15.1%

48.4%

Possuem parentes na cidade em que vivem Boa relação com parentes Mantém contato frequênte Contato com parentes de outras cidades

1° Grau incompleto Nunca estudou 1° Grau completo 2° Grau incompleto 2° Grau completo Superior incompleto Superior completo Não informaram

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, 2008.


33 3.1. NAS RUAS DAS CAPITAIS

e adolescentes e 400 pessoas transgêneros, transexuais ou travestis que passam diariamente confrontando preconceitos e violência social. O uso de substâncias ilícitas é comum nas ruas SÃO PAULO da cidade, pois, segundo o FIPE, 74% dos moradores possuem algum tipo de vício, como 65% a utilização é o álcool que é o No caso de São Paulo, o aumento de moradores de rua mais utilizado entre os mais velhos e 37% da população que utidobrou nos últimos anos, chegando a 53% comparado aos úllizam drogas são jovens de 18 a 30 anos, sendo o crack o mais timos quatro anos. Pesquisas feitas em 2015 pela SMADS e a frequente entre eles. FIPE afirmam ter 15.905 moradores de rua na cidade, porém atuMuitos que estão vivendo nas ruas de São Paulo vieram de oualmente o número chega a 24.344. Acredita-se que o número é tros estados, cidades ou até países em busca de emprego e conbem maior que o da pesquisa, pois eles utilizam o mesmo métodições melhores para a família. Cerca de 71% dos moradores do e percurso usado nos anos anteriores, sendo impossível reada cidade é composta por imigrantes e migrantes, conforme o lizar uma contagem precisa em ruas que não estão na trajetória. estudo feito pela SMADS (Secretaria Municipal de Assistência Nota-se que o aumento de moradores de rua em São Paulo foi e Desenvolvimento Social). Por conta desta crise, muitas famíacompanhado pelo número de desempregos na RMSP que vem lias não têm como se sustentar, algumas conseguem fazer o que acontecendo desde 2015, onde era 12.8% e em 2019 houve o está ao seu alcance como vender objetos artesanais, vendas de crescimento de 16.4%. alimentos como balas, ou através de esmolas, mas, o lucro não é suficiente e muitas vezes no final do dia não conseguem ir atrás GRÁFICO 8 - População em situação de rua na capital de São Paulo de alimentação ou abrigos. Em outros casos para não ficarem somente nas ruas e terem um pouco de segurança, buscam recorrer a ocupação em prédios abandonados por não terem condições de pagar um aluguel, ainda mais nas grandes cidades onde o valor é alto. Fonte: Secretária Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social SMADS, 2015 a 2017 Encontram-se nas regiões centrais da cidade a maior quantidade de ocupação, como a Mooca, Santana, Lapa e Santo Amaro, porém a maior porcentagem se localiza na Sé, na qual mais de 40% estão nesta região. Entre os 24 mil moradores de rua, destacam-se homens entre 31 a 49, cerca de 600 crianças


34 MAPA 1 - Indicação do maior número de moradores de rua na área central de São Paulo (2019)

24.344


35 MAPA 2 - Censo da População de Rua em São Paulo (2015)

1 pessoa 2 a 20 pessoas Acima de 20 pessoas

Fonte: Fipe, Censo da População em Situação de Rua, 2015. Prodam, Geolog, 2 1.2, 2001 Elaboração: SMADS / COPS / Centro de Geoprocessamento e Estatística, Junho de 2016

MAPA 3 - Censo da População de Rua em São Paulo (2011)

Nenhuma Ocorrencia 1 a 15 16 a 100 101 a 1.000 Acima de 1.000

Fonte: SMADS/FESPSP, CENSO e Caracterização Socioeconômica População em Situação de Rua na Municipalidade de São paulo, 2011; SMADS/ CGA/Convênios, Rede SMADS, março de 2013; SMDU, 2009. Elaboração: SMADS/COPS/Centro de Geoprocessamento, Maio de 2013.


36 3.2. SOBREVIVÊNCIA À VIOLÊNCIA E AO DIREITO À CIDADE

principal alvo nesta situação são as mulheres. Outros casos maiores por conta do preconceito da sociedade são com homossexuais, bissexuais, mulheres transexuais, homens transexuais e travestis (Gráfico 9). GRÁFICO 9 - Indice das vítimas de violência nas ruas por orientação sexual e identidade de gênero em São Paulo. Homens (Total)

A vivência nas ruas faz com que a dificuldade de estar nela seja algo frequente, principalmente devido a problemas de violência, vivendo sempre com desconfiança e ângustia por não saber o que irá ocorrer durante os dias e as noites sem saber se irão acordar vivos. Desta forma, conforme De Lucca, “a experiência de rua deixa gradativamente de ser uma experiência de soMulheres (Total) frimento, transformando-se em situação de risco e insegurança” Mulheres Transexuais (DE LUCCA, 2007, p. 229). A situação diária de estar na rua é viver em um campo de Homens Transexuais sobrevivência, tanto em questões de saúde, alimentação, mas Heterosexuais também um convívio com a violência na qual vem se alastrando Homosexuais pelo Brasil, registrando mais de 17 mil casos contra a população de rua nos últimos 3 anos de acordo com o Ministério da Saúde, Travestis e por mais que pareça um número grande, a situação pode ser maior que o estimado, pois não são todos que possuem a oportuBisexuais nidade de denúncia. O método de calcular o número de registros Não informado é através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), método usado pelo SUS, notificando as condições de GRÁFICO 10 - Etnia ou cor da pele das vítimas de violência nas ruas. pacientes em situação de rua e vítimas de violência de diversos tipos. 7.5% Segundo o Boletim Epidemiológico realizado pelo Minis1.6% Negra (pretos ou pardos) 7% tério da Saúde (2019, p.9) “O uso abusivo de álcool e/ou outras Branca drogas, o desemprego, as ameaças e violências, assim como a Amarela fragilidade das redes de apoio, podem predispor esta população 54.8% Índigena ao adoecimento mental e ao sofrimento psíquico, fatores de risco Não Informados 32.5% para morte autoprovocada”. Os casos de violência estão relacionados principalmente a jovens entre 15 a 24 anos de idade, chegando a cerca de 38% Fonte: Secretaria de vigilância em saúde e Ministério da Saúde - SMADS, dos casos, e vítimas declaradas negras (Gráfico 10), porém o 2015 a 2017


37 Os maiores índices de violência encontram nas capitais brasileiras, sendo que a maior porcentagem está na região Sudeste, principalmente na capital de São Paulo, com uma variante entre como esses casos ocorrem, na qual a violência física é de maior registro (Gráfico 11). Com base nos últimos dados registrados, foram cerca de 788 notificações de violência na cidade em 2017, sendo 82% em mulheres e 15% em homens, correspondendo a maior parte total de todos os casos no país. Outras capitais que se encontram na mesma situação reúnem Salvador com 395 casos, Natal com 145 casos, Goiânia com 134 casos e Maceió com 117 casos. Dentre as unidades federativas, cinco estados concentram grande quantidade dos registros como Minas Gerais, que possui 5.054 casos de violência nas ruas. São Paulo possui 3.500, Bahia 1.438, Paraná 1.249 e Rio Grande do Sul 763 casos, mas esses números não querem dizer que são as regiões mais violentas do país, mas corresponde a porcentagem que está notificada no sistema. GRÁFICO 11 - Tipos de violência provocadas nas ruas.

5%7% 6% 33% 92% 37%

Física Por pessoa desconhecidas Por amigos ou conhecidos Famíliares Parceiros Lesões auto-provocadas

Fonte: Secretaria de vigilância em saúde e Ministério da Saúde - SMADS, 2015 a 2017

3.3. ASSISTÊNCIAS GOVERNAMENTAIS Os órgãos governamentais sempre buscam meios de atender todo tipo de população, e a relação destes sistemas com a população de rua ocorre através de formas de atendimento social público. Desta forma, a secretaria intensifica a vigilância nos locais com grande concentração de população em situação de rua por meio das equipes dos serviços especializados como os SEAS, CRAS, CREAS, CAPE, Centro POP, entre outros, ressaltando que as pessoas são convidadas a ir para os abrigos e assistências, mas não são obrigadas a aceitar o encaminhamento. A necessidade da população que vive nas ruas serem anexadas a Programas Sociais é de extrema importância pois, assim, podem obter acesso à transferência de renda e habitação. O Brasil não possui dados oficiais sobre a população em situação de rua, pois cada dia que passa esse número vem crescendo e a dificuldade de inclusão nestes dados se tornam maiores, porém acaba prejudicando a implementação de políticas públicas e reproduz a invisibilidade social da população de rua no âmbito das políticas sociais. Como é citado por James Baldwin, em 1961, ”Qualquer um que tenha sofrido com a pobreza sabe que é extremamente caro ser pobre”, pois grande parte das assistências sociais, e os poderes públicos que constroem abrigos e assistências, mas esses sistemas não são revertido adequadamente para quem realmente precisa. Para contornar esta dificuldade, a variação de crescimento demográfico, centralidades e dinamismo urbano, serviços voltados à população de rua fazem com que o desenvolvimento e a disponibilização de metodologias de diagnósticos da população incrementem-se à incorporação deste segmento nas atividades locais de todos os estados brasileiros com a vigilância socio


38 assistencial, incluindo um maior esforço de incorporação destes sistemas sociais. Desta forma, possuem vários sistemas brasileiros e maneiras para terem acesso a uma vida mais justa, muitos fornecidos pela Prefeitura do Estado de São Paulo, como: • CadÚnico - Cadastro Único da Assistência Social: este sistema serve como meio de ajuda para pessoas em situação de rua, ele reúne dados da realidade socioeconômica do país sobre os usuários da Assistência Social, contribuindo para redução das vulnerabilidades sociais. Segundo a secretaria do governo, o CadÚnico vem ganhando um grande número de cadastrados, em 2014 eram cerca de 21 mil cadastrados, o último levantamento em outubro de 2019 foi de aproximadamente 134 mil cadastrados no Brasil. • CREAS - Centro de Referência Especializada da Assistência Social: funciona como forma de apoio, orientação direcionada para a preservação de direitos e vínculos familiares, comunitários, sociais e acompanhamento às famílias que possuem algum membro em situação de ameaça a violação dos direitos humanos. Destaca-se o fortalecimento das funções protetivas das famílias brasileiras de acordo com as condições vividas, e tentando sempre promover a saída das ruas e o retorno familiar e comunitário. O usuário deste sistema varia de crianças e adolescentes, jovens, adultos, idosos e famílias que vivem na rua, utilizando-a como meio de moradia e sobrevivência, possuindo o acesso às políticas públicas aplicadas sobre tais. • CENTRO POP: o acesso ocorre de forma espontânea, para o encaminhamento especializado e políticas públicas, possuindo atendimento por uma equipe profissional, apoiando a regularização e aquisição de documentos pessoais, além de poderem ter acesso a serviços, como lavanderia, higiene pessoal, alimentação, ter onde guardar alguns pertences

pessoais, encaminhamento para abrigos, inclusão ao Cadastro Únicos e podem utilizar o endereço do Centro POP para referência de documentos e outros cadastros. • CTA’s - Centros Temporários de Acolhimento: destinado para pessoas que requerem acolhimento. Os CTA’s têm a finalidade de assegurar atendimento e atividades direcionadas para o desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos que oportunizem a construção de novos projetos de vida. • ATENDE’s: as unidades emergenciais de atendimento estão instaladas na região da Luz em São Paulo fazem parte do projeto Redenção. O local é destinado ao acolhimento e atendimento de dependentes químicos, e são disponibilizados serviços de higiene pessoal, alimentação e ressocialização para os beneficiários. A estrutura, com espaços de descanso, banheiros e refeitório, oferece serviços como cortes de cabelos, oficinas socioeducativas e encaminhamento para regularização dos documentos. • Núcleos: posicionados em pontos específicos da cidade de São Paulo, os núcleos auxiliam na orientação e encaminhamento de pessoas em situação de rua, com o objetivo deste serviço é aproximar o atendimento e abordar locais com grande concentração de possíveis usuários dos nossos serviços. • Operação Baixas Temperaturas: durante as épocas mais frias do ano nas grandes cidades brasileiras, a SMADS trabalha para atender a população de rua, oferecendo acolhimento para a proteção do frio com encaminhamento pelos Centros de Acolhida, Centros POP e Núcleos, de acordo com a demanda exigida para atender a todos com ajuda de profissionais na área e especialistas na área da saúde caso haja algum tipo de problema na saúde de algum morador de rua.


39 • Espaço Vida: localizado no antigo complexo Prates, o Espaço Vida engloba dois Centros Temporários de Acolhimento (CTA). Além de camas, banho e alimentação, o serviço também conta com uma quadra poliesportiva, lavanderia e canil.

3.4. SITUAÇÃO DOS MEIOS DE ABRIGOS NO PAÍS A busca por meios de comodidades temporárias como os albergues e casas de apoio no Brasil, onde tais exigem regras como permanência máxima de três dias, e alguns possuem a proibição de pessoas que tenham vínculo com algum tipo de vício, e, não é permitido portas pertences pessoais e animais. A questão de nem todos verem como necessidade de frequentarem estas casa de apoio, é causada também pelas questões de higienização e segurança, nem sempre é fácil para essas pessoas se adaptarem às regras dos abrigos e a rotatividade e impossibilidade de estarem juntos ao seus parceiros e animais, além de ser um costume diferente para quem sempre presenciou a vida nas ruas, muitos sem suas famílias, tornando uma complexidade social de adaptação por duas diferentes trajetórias de vida e disciplinas, preferindo estar entre as ruas mesmo durante as noites frias e chuvosas, e, como consequência, as casas de abrigagem estão começando haver um número de vagas disponíveis. De acordo com os levantamentos feitos pela SAGI/MDS (2007-2008), 46,5% preferem dormir na rua, enquanto 43,8% manifestam preferência por dormir em albergues. As razões principais apontadas para essa preferência são a falta de liberdade nos albergues (44,3%), seguida do horário de entrada, saída e demais rotinas (27,1%) e o fato de ser proibido o uso de álcool e drogas (21,4%). Dos entrevistados que costumam dormir na rua, mas preferem dormir em albergue (20,7%) aponta-se a

dificuldade de conseguir vagas como obstáculo para a utilização desse serviço. Estes dados sugerem uma significativa falta de vagas em relação à demanda efetiva existente nos municípios. Entre aqueles que manifestam preferência por dormir em albergues, 69,3% apontaram a violência como o principal motivo da não preferência por dormir na rua, seguido pelo desconforto com 45,2% (SANTOS, 2011). Segundo a última atualização da Prefeitura de São Paulo, existem 102 pontos de acolhimento entre centros provisórios e fixos, com 9.963 vagas permanentes e 1.517 provisórias, oferecidas durante os dias mais frios. O município conta com 89 centros de acolhimento que oferecem mais de 17 mil vagas no total. No caso de alguns albergues, como a Casa de Passagem Manoel Coelho Neto, localizada em Maceió, dispõe 50 vagas, na qual 54 pessoas em situação de rua estão alojadas e, entre essas pessoas, a principal razão de permanência nas ruas e albergues é a crise econômica no brasil e conflitos familiares. O preconceito causado a essas pessoas é constante, pois muitos lugares acham que a população não vai para os abrigos por não terem que largar seus vícios, porém, não funciona deste modo, pois muitos buscam lugares para realizarem suas higienes pessoais em locais públicos que nem sempre constam abertos ou disponíveis, tendo que obter outros métodos de utilização nas próprias ruas onde a sociedade mais julga do que ajudam. Chamamos de moradores de rua os que vivem sob as marquises, viadutos. As pessoas em situação de rua aquelas que procuram ou moram em abrigos. Os trecheiros estão sempre se mudando, às vezes por causa de trabalho, e permanecem na rua


40 ou em ocupações e depois mudam de cidade. E também tem os escondidinhos, em geral ex-presidiários sem empregabilidade que se camuflam junto aos moradores de rua” (CORREIA, 2016). As casas de acolhimento no Brasil são equipamentos públicos que oferecem serviço de acolhimento, abrigo, albergue, casa de passagem ou residência inclusiva para quem se encontra em situação de rua, abandono, ameaça ou passando por algum tipo de violação de seus direitos. Possuem outros tipos de instituições que oferecem serviços parecidos, porém pela quantidade de regras, acaba se tornando impossível para alguns moradores de ruas viverem em um lugar cheio de regras. Pela falta de local de abrigo devido à falta de vagas ou algum outro tipo de barreira, o que tem sido utilizado nos últimos anos são as barracas, geralmente doadas por ONGs, pessoas que querem ajudar de alguma forma, tornando-se uma forma de proteção e facilidade para o morador poder transportar o que for necessário. Há casos que apenas uma barraca não é o suficiente, por habitar uma família inteira em apenas um lugar pequeno, em um mesmo colchão. Com a crise que o país vem passando nos últimos anos, muitas famílias chegaram a perder suas casas, passando a morar na rua ou atrás de locais em abandono e ocupação para terem uma segurança mínima comparada com as ruas, já que as grandes cidades possuem altas taxas de aluguel, tornando impossível pagar com o que conseguem receber nas ruas com trabalhos informais, apesar de ser o único jeito para possuírem eletricidade, segurança, uma infraestrutura que proporcione uma comodidade mínima. Porém, por ser uma infraestrutura mais

antiga e não possuir a manutenção adequada, acabam possuindo alguns riscos de desabamento e principalmente nas questões elétricas, correndo o risco de curtos ou incêndios, uma situação conforme ocorrido nos últimos anos em algumas ocupações como no edifício Wilton Paes de Almeida em São Paulo, ocasionando perdas tanto materiais quanto familiares.

3.5. DÉFICIT DE CONTAGEM Todas as cidades possuem um meio de contagem utilizado para definir o número de moradores de rua em cada lugar. Mesmo havendo um método de padronização realizada para checagem, principalmente no Brasil, há um déficit em decorrência da metodologia empregada na coleta dos dados, onde constam apenas dados superficiais. Segundo estudos realizados e aplicados em vários locais, consistindo em analisar o número de pessoas que abrigavam albergues, centros de apoio e as que estavam morando nas ruas através de agentes municipais para numerar os quarteirões das cidades em que haveria uma maior probabilidade de se encontrar moradores de rua. Tais pesquisas estabelecem métodos de contagem para chegar a um resultado, dentre esses métodos, realizar uma busca dos mesmos durante à noite, a fim de excluir pessoas que estão pelas ruas por inúmeras razões, sendo ideal realizar em uma noite para não haver uma replicagem do número, pois, essa população transita em diferentes áreas das cidades. Outro meio, é a divisão de regiões, e em quarteirões previamente bem-definidos, entrevistas em diferentes períodos do ano, e, ter uma retaguarda de vigilância policial em toda a região na noite de coleta de dados (Rossi et al., 1987). Porém, por mais que há uma sequência de realizações


41 para checagem de moradores de rua, pode-se apresentar falhas que como consequência, não atinge o número exato, pois, algumas pessoas se escondem ou se encontram em locais inacessíveis e abandonados. Além de moradores que transitam pelas ruas em um curto período e com frequência, sendo assim, excluídos desta contagem resultando em um déficit no número exato.

AR L U IC T R PA INA

O H N ATI J E U D E M ISA

PREC

I L O S GA

FIGURA 7: Sem descrição. Fonte: Edith Levy Photography. Modificado pela Autora.


4 42

FIGURA 8: Moradores de rua fazem parte do cenรกrio do Centro de Campinas. Fonte: Bรกrbara Gasparelo/ ACidade ON Campinas.


43 ENTRE AS RUAS DE CAMPINAS Campinas está como a 14ª maior cidade do Brasil, sendo a terceira cidade mais populosa do estado de São Paulo, na qual possui 1.204.073 habitantes, segundo estimativa de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de cidade sede da Região Metropolitana de Campinas (RMC), umas das cidades mais novas do Brasil, que surgiu no despontar da globalização técnica-científica-informacional na década de 1980 (SILVA NETO, 2008). Localizada no interior de São Paulo, vem se desenvolvendo durante os anos e se tornando cada vez maior, tornando-se uma cidade na qual muitas pessoas a idealizam com a busca por emprego e uma vida melhor, porém, assim como outras metrópoles, ela também acompanhou o crescente número de desemprego gerado pela crise econômica que o país está ocorrendo. É uma cidade que vive uma segregação social nítida há anos, separando os pobres dos ricos, onde se localizam geralmente em seus condomínios de alto padrão caracterizadas como arquitetura antimendigo e a existência de uma “tecnologia da expulsão”, criada para gerar dispositivos de restrições físicas (FRANGELLA, 2005, p. 201). A arquitetura antimendigo impede com que os moradores circulam a cidade ou busquem algum lugar coberto para se abrigarem, e é muito comum isso em cidades metropolitanas, assim como é citado por LOPES e MENDONÇA (2009, p.45) existente em algumas construções públicas ou em reformas urbanas, com a finalidade de impedir a presença de moradores de rua nesses espaços. A “arquitetura antimendigo”, entendida por nós como a negação completa do direito

humano e constitucional à moradia, é preciso associá‑la, ainda, à violência física à qual a população de rua é obrigada a vivenciar permanentemente, oriunda tanto do poder público quanto de setores da sociedade civil, os quais não admitem encarar essa realidade que desestabiliza as instituições imaginárias da sociedade, que, por sua vez, aceitam apenas os valores dominantes de casa, família e trabalho. (CARVALHO, 2004). A referida tecnologia surgiu por iniciativa tanto da sociedade civil quanto das administrações públicas municipais, que criam barreiras físicas para impedir a livre circulação dos moradores de rua pela cidade, tentando sempre expulsá ‑los para “lugar nenhum”, sob a justificativa de eles serem um problema de segurança pública, portanto é um assunto que deve ser resolvido pela polícia. Assim, quando esses indivíduos se veem barrados por grades e rampas, sofrem não só pela interdição física, mas também por serem considerados transgressores da ordem e da moral. No decorrer desse processo, o corpo torna ‑se um mecanismo de resistência, o único lugar de pertencimento social do indivíduo em situação em rua, seu corpo físico será a morada possível no contexto desta lógica de exclusão social. Quando trata-se de moradores de rua, Campinas tem um contexto histórico referindo-os à violência que ocorreu nos últimos anos. Por esse motivo, eles preferem estar em grupos, revezando durante a noite quem irá dormir, e é muito visível esta condição ao percorrer as ruas da cidade. Esses atos estavam ocorrendo devido o crescente número de moradores de rua,


44 deste modo, em 2019 foi feito um levantamento pela SMASDH GRÁFICO 12 - Censo de moradores de rua em Campinas/SP. para contabilizar o número da população em situação de rua em Campinas, chegando ao total de 822 pessoas (Gráfico 12), porém este número é baseado principalmente por quem participa de programas e sistemas de serviços da prefeitura, abrigos, casas de passagem e albergues, acreditando ser um número maior, por conta de muitos desses moradores pertencerem às 20 cidades municipais da Região Municipal de Campinas (RMC) com cerca de 12% e segundo este levantamento, 39% são de Campinas, Fonte: Secretaria Munícipal de Assistência Social de Campinas, 2019. 23,4% do Estado de São Paulo, 16% de outras cidades do Esta- GRÁFICO 13 - Gênero da população de rua em Campinas/SP. do de São Paulo, 9% da Capital e 0,3% de outros países. Segundo a Secretária Municipal de Assistência Social, 3% cerca de 12% da população de rua de Campinas está morando 15% Homens nas ruas há cerca de um mês, 22% estão há cerca de seis meses Mulheres e outros 20% estão há mais de 10 anos nesta situação, onde a LGBTQi+ maioria dos moradores são homens, negros, além de haver um aumento no número de mulheres, LGBTs, passando por opres82% são e violência diariamente (Gráfico 13). Entre essas pessoas, cada uma passa por um histórico de permanência nas ruas diferente, caracterizado por motivos distintos. A principal causa são Fonte: Secretaria Munícipal de Assistência Social de Campinas, 2019. os vícios por álcool ou entorpecentes químicos e psicoativos, na GRÁFICO 14 - Número de pessoas com nível escolar em Campinas/SP. qual os usuários chegam a cerca de 63%, além de haver também 27 19 14 Fundamental incompleto cerca de 8% que sofrem de algum problema psíquico e 6% pos28 Médio incompleto suem algum tipo de deficiência física ou mental. O levantamenFundamental completo to também abordou a escolaridade das pessoas em situação de 79 Médio completo rua, onde 47% não concluiu o ensino fundamental (Grafico 14). 334 De acordo com a prefeitura municipal de Campinas, em 2016 84 Não alfabetizados esse número era de 54% e em 2015 era 59%. Também foi obSuperior incompleto servado que houve aumento no número de pessoas com ensino 116 Superior completo médio e superior com relação a 2016. Alfabetizados Fonte: Secretaria Munícipal de Assistência Social de Campinas, 2019.


45 4.1. O APOIO DA CIDADE Assim como toda cidade brasileira que possui projetos e serviços para contribuírem com a vida dos cidadãos, segundo a Prefeitura de Campinas, a Secretaria Municipal de Assistência Social e a Rede de Saúde da cidade possuem uma política de cuidado, assim, oferecem auxílios aos moradores de rua, servindo aos diversos ciclos de vida de cada indivíduo e contemplando o processo de vinculação, aceitação de atendimento e inclusão. De acordo com o SEBRAE, a política pública pode ser definida como um conjunto de ações desencadeadas pelo Estado, em busca de resultados de problemas relacionados à sociedade. Também, buscando o desenvolvimento de ações de apoio, através de parcerias com organizações não governamentais e com a iniciativa privada, necessitando profissionais especializados e um sistema de monitoramento. As políticas sociais, segundo Behring e Boschetti (2008), podem ser consideradas como um fenômeno associado à constituição da sociedade burguesa e do modo capitalista de produzir e reproduzir e assim reproduzir os direitos de uma sociedade. No caso de Campinas, na qual está ampliando suas políticas públicas e sociais para atendimento à população de rua, em busca de implantações que as retirem das ruas para impedimento de pedintes de esmola, e, evitando aglomerações no centro da cidade, onde se localiza a Catedral, local de maior ocupação. De acordo com os dados políticos de 2019, demonstra-se a complexidade da intervenção, tratando de pessoas com grande tempo de permanência nas ruas. A prefeitura busca oferecer atendimento a um público sem moradia, contando com diferentes serviços, como: Abordagem Social de Rua; Albergue; Acolhimento Institucional como abrigos e Casas de Passagem; Residências Inclusivas; Repúblicas para

Jovens; Programa Mão Amiga; Programa Recomeço, e ações do Departamento de Bem Estar Animal (DPBEA). Além desses serviços públicos específicos à população de rua,vinculados à secretaria municipal de saúde, especificamente em Centros de Saúde, Casa da Gestante, Consultório na Rua, Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Distritos de Assistência Social (DAS) e pelo Projeto Recâmbio. Entre outros, citados pela Prefeitura de Campinas, na qual são específicos para este público, como: • SERVIÇO ESPECIALIZADO DE ABORDAGEM SOCIAL/ SOS RUA: esse serviço realiza abordagem social e busca ativa de pessoas em situação de rua nas cinco regiões administrativas do município. Conta com equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais, psicólogos e educadores que atua diretamente nas ruas. • CENTRO-POP I e II: são unidades públicas que ofertam atendimento especializado para pessoas em situação de rua. • CASA DE PASSAGEM: acolhe pessoas em situação de rua oferecendo espaço transitório de moradia para a construção do processo de saída das ruas. Oferece cuidados de higiene, saúde, alimentação, vestuário, documentação e convivência. • ABRIGO INSTITUCIONAL: oferece acolhimento provisório em ambiente adequado, com segurança, acessibilidade e privacidade, visando a elaboração do novo projeto de vida do usuário. • SAMIM – SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO MIGRANTE, ITINERANTE E MENDICANTE: oferece espaço de acolhimento emergencial. Atende as necessidades básicas de


46 acolhimento, higiene, alimentação e pernoite. • CASA DA CIDADANIA: oferta, por meio do trabalho de voluntários, refeições, como também, espaço de convivência e higiene. Realiza encaminhamentos para os serviços de saúde e assistência social. Articula as suas ações com o Serviço de Abordagem - SOS Rua e a Guarda Municipal. • OPERAÇÃO INVERNO: a Operação Inverno ocorre todos os anos a partir do dia 1º de maio até o dia 30 de setembro, com o objetivo de acolher as pessoas em situação de rua e suprir as necessidades imediatas ao facilitar o acesso emergencial aos bens e serviços da rede pública municipal.

inibição para permanência de moradores de rua nas áreas centrais da cidade, idealizando haver apenas um espaço único para tais atividades, entre as 18 instituições cadastradas na Prefeitura de Campinas. Além destes, foram feitas uma medida de fiscalização baseada em uma lei de 1999, para impedir a aglomeração no centro de Campinas, como a proibição de artistas de rua se apresentarem em espaços públicos ou concentrar as apresentações em apenas dois lugares na região central. Conforme descrito pela SETEC, na qual impediu as apresentações, devido às reclamações de lojistas das áreas centrais, aplicando multa para qualquer um que utilizar o espaço público como forma de renda. No Centro de Convivência, Treze de Maio e Largo do Rosário, estava ocorrendo aglomerações de moradores e artistas de rua, busNo entanto, todos estes projetos não oferecem grande cando um meio de arrecadar dinheiro para sobreviver. As regras eficácia, além de controvérsias sobre possuir indicação própria principais são, o veto ao uso de caixas de som, violão, microfopara os habitantes de rua. Não há interesse na utilização de cen- ne, e a definição de dias e horários específicos, além do tempo tros de apoio, apenas em casos emergenciais, de outro modo, os de apresentação. A orientação é para que estes artistas sejam moradores preferem a permanência nas ruas, obtendo ajuda de avisados e notificados, caso há desobediência, é previsto à apliONGs e entidades religiosas. Também foi observado que houve cação de multas caso não possuam uma autorização de uso do maior descentralização dessa população em período coincidente solo público. com a implementação do Plano Intersetorial de Atenção à PopuEstes meios de intervenção em relação ao modo de vida lação em Situação de Rua de Campinas e de intensificação de dessas pessoas em situação de rua, ocorreram, principalmente políticas públicas integradas. por conta de comerciantes locais. Para estes comerciantes, é de Em 2018, a Prefeitura de Campinas junto com o Prefeito grande incômodo o modo que as áreas centrais vivem em situaJonas Donizette, decidiram realizar um projeto da casa da cida- ção de abandono, além da falta de limpeza das ruas e iluminação dania para refeições e banhos. Com a vinda deste projeto, os adequada, porém, para eles, a principal causa são os moradores vereadores Marcos Bernadelli e Luiz Rossini propuseram a apre- de rua. A dificuldade de encontrar um espaço para realizar resentação de uma lei de regularização para distribuição de refei- feições, e necessidades fisiológicas na área central é escassa, ções aos moradores de rua feito por entidades em vários pontos assim, as únicas opções são a utilização da rua para essas ativida cidade. A medida apresentada seguia com as regras de dades, tendo como consequência a utilização de muros de lojas, calçadas, e escadarias.


47 4.2. LOCAIS DE PERMANÊNCIA E OCUPAÇÃO Quando se vive nas ruas, a preferência de espaços centrais é comum, pois para aqueles que dependem esmola, é onde possui maior movimento de pessoas, e onde as ONGs e outras entidade que colaboram com alimentação passam para ajudá-los porém, para aqueles que possuem uma vida de dependência química, acabam indo para os lados extremos do centro, longe de todo julgamento social, geralmente em locais com pouca iluminação e abandonados, como praças, edificações, galpões. Historicamente, segundo a Prefeitura de Campinas sobre os dados de 2019, observa-se maior número dessas pessoas no centro das cidades, a região Leste, área central da cidade, tem a maior concentração, sendo 49% de toda a população em situação de rua. Seguem-se as regiões norte (Eucalina e Chapadão) com 24%; sul (Parque Prado e São Gabriel) com 22%; noroeste e oeste (região de Campo Grande), registrando 3%, e sudoeste (região do bairro Ouro Verde) com 2% (Mapa 4). Durante o dia estão diluídos na multidão, mas assim que o comércio fecha as portas e o sol se põe, eles tomam, feito posseiros, trechos da Rua Costa Aguiar, da Praça Rui Barbosa, de espaços na José Paulino, e dos acessos do prédio dos Correios. Uma ocupação silenciosa, que se repete cotidianamente, sem que o poder público consiga controlar. Grupos são vistos também, no entorno do Terminal Central, na Thomaz Alves, Cônego Scipião. Outros núcleos avançaram para o Parque Industrial, Jardim Eulina e no Cambuí (NUNES, 2018). A Avenida Francisco Glicério, em Campinas, enfrenta um aumento de moradores de rua, assim como todos os centros urbanos e de grande movimentação. A avenida amanhece todos os dias com muitas pessoas dormindo nas calçadas, se protegendo através dos toldos de

MAPA 4 - Locais de ocupação por moradores de rua de Campinas.

Fonte: Desenvolvido pela autora.

GRÁFICO 15 -Crescimento de moradores de rua em Campinas.


48 lojas, mas com o passar do dia, eles saem para abrir caminho para a população, e não atrapalharem ou sofrerem alguma agressão verbal e até mesmo física, de lojistas e agentes públicos, mas como consequência da noite passada nesses locais, acabam sendo deixados alguns resíduos em frente aos comércios, incomodando-os com a sujeira e odores fortes. Outros locais de permanências comuns na cidade, é na SAMIM, na qual é um Setor de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante de ação municipal, mas podendo ser utilizado por habitantes que estão atrás de um abrigo para passar a noite, ou realizarem suas necessidade. De acordo com o SAMIM, é muito comum os indivíduos se negarem a ser levados para esse serviço, preferindo continuar nas ruas. Os que pernoitam, ou permanecem mais dias na instituição devem seguir as normas referentes aos horários de chegada, de saída e do café da manhã, sendo essas regras reforçadas constantemente pelos funcionários sob a alegação de conscientiza‑los, avisando das consequências do não cumprimento da rotina interna. O serviço tem como função básica a recepção, a triagem e o encaminhamento do indivíduo atendido à cidade de origem ou a outros tipos de atendimentos da cidade, sendo atendidas cerca de 200 pessoas por dia, porém o lugar se encontra totalmente abandonado e em estado de calamidade pelo Município, com fanta de abastecimento de água, tanto de água potável quanto para realizarem atividade higiênicas ou preparo de refeições. Sendo assim, por conta do abandono e regras dos albergues e casas de acolhida de Campinas, desde 2017 o número de pessoas frequentando esses lugares caiu cerca de 35%, e, mesmos nos dias frios, onde ocorrem mortes diariamente, ainda preferem estar nas ruas.


49 MAPA 5 - Locais de ocupação por moradores de rua de Campinas na região central.

1. Rua José Paulino 2. Rua Doutor Costa Aguiar 3. Catedral Metropolitana de Campinas 4. Avenida Francisco Glicério 5. Terminal Rodoviário de Campinas - Ramos de Azevedo 6. Terminal Central 7. FEPASA - Estação Cultura 8. Avenida Andrade Neves 9. Rua General Osório 10. Correios

Fonte: Desenvolvido pela autora.


50 4.3. INVISIBILIDADE DA ÁREA CENTRAL A centralidade principal e nós de de centralidade relevantes na estrutura urbana de Campinas, está localizada na região da Macrozona 4, é um bairro de zona mista que concentra uma parcela significante de comércios e residências, além de contemplar com serviços do município e da Região Metropolitana de Campinas, áreas de lazer como praças públicas e a Lagoa do Taquaral, terminais urbanos e ferroviários, patrimônios históricos e culturais, catedrais e igrejas, estádios de futebol, hospitais e faculdades. Sua área é de aproximadamente 1,5 quilômetros quadrados, sendo delimitado pelas avenidas principais e ruas de frequente fluxo: Aquidaban, Boaventura do Amaral, Barreto Leme, Anchieta, Irmã Serafina, Orozimbo Maia, Francisco Glicério, Doutor Mascarenhas, Lix da Cunha e Waldemar Paschoal. Ao noroeste, está localizado o bairro Guanabara; a nordeste e a leste, está o Cambuí; a sudeste, está o Bosque; ao sul, está a Ponte Preta; a sudoeste e ao sul, está a Vila Industrial; e, a oeste, está o Bonfim. Atualmente o principal centro da cidade, passa por um crescimento exuberante de fluxos e aglomerações da população em situação de rua, e o motivo por estar acontecendo este processo é por conta do fenômeno do esvaziamento dos centros que vem atrelado à desvalorização e degradação da área central, onde as população que possuí uma renda alta está abandonando essa área e migrando para as regiões periféricas da cidade, onde se encontram condomínios luxuosos de difícil acesso e com maior segurança aos moradores, além de estar localizados próximos aos shoppings centers, acarretando um abandono progressivo de frequência nos comércios centrais. Porém, como os centros vem sido abandonado nos últimos anos, com alguns

vazios urbanos e edificações em desuso, começa uma nova ocupação de uma população mais pobres e desprovidas, buscando o centro como alternativa de sobrevivência (CASTILHO, 2008, p.30). Além das áreas onde possuem os comércios, os terminais rodoviários da cidade, são um alvo comum para encontro de moradores de rua, geralmente por se encontrar nas periferias centrais, haver um grande fluxo de movimento e maior quantidade de locais abandonados. A cidade possui uma rodoviária intermunicipal, o Terminal Multimodal Ramos de Azevedo , localizado no bairro Vila Industrial, na região centro-sul de Campinas, e onze terminais urbanos, sendo dois na região central (Terminal Central e Mercadão), um no distrito de Barão Geraldo, dois onde se localizam os maiores shopping centers (Terminais Iguatemi e Dom Pedro) e seis terminais em bairros periféricos de baixa renda (Terminais Padre Anchieta, Vila União, Ouro Verde, Campo Grande, Itajaí e Vida Nova). Na questão de áreas grandes em desuso, por ser uma cidade relativamente nova, ela possui poucas destas áreas, porém próximo a área central da cidade, abriga-se duas Estações Ferroviárias, ambas são heranças do período cafeeiro de Campinas e compunham a malha ferroviária da cidade. O Complexo Ferroviário da Companhia Mogiana está localizado no atual bairro do Guanabara, próximo ao centro da cidade, e foi inaugurado em 1894 e desativado em 1982 (Santos & Oliveira, 2015). A área e todos seus edifícios foram tombados pelo CONDEPACC (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas) em 2004. Atualmente, a estação tem sido usada como Centro Cultural de Inclusão e Integração Cultural (CIS – Guanabara), os demais edifícios e o pátio ferroviário permanecem sem uso.


51 Já o Complexo Ferroviário da Companhia Paulista, Estação Central, localizado no centro de Campinas, foi inaugurado em 1872 e desativado em 2001 (Pozzer, 2005). A área e todos seus edifícios foram tombados pelo CONDEPACC em 1982. Hoje o edifício da estação abriga o Centro Cultural Prefeito Antônio da Costa Santos conhecido como FEPASA (imagem x), vários edifícios e parte do pátio ferroviário permanecem sem uso, entretanto a linha férrea ainda é utilizada para passagem de trens de carga. (TURCZYN, 2019). Os vazios urbanos centrais, possuem diversos lotes vagos ou subutilizados, como estacionamentos, apesar de serem utilizados por se tratar de fluxo de veículos, não deixam de ser espaços que poderiam ser preenchidos com edificações que proporcionasse, seja uma local para novas moradias para pessoas de baixa renda, ou meios culturais e de lazer.

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FIGURA 9: Edificações abandonadas no centro de Campinas/SP. Fonte: Desenvolvido pela autora


52 4.4. ABANDONO E DEGRADAÇÃO DO CENTRO

presente no cotidiano dos moradores da região, e vem piorando nos últimos anos. Segundo a advogada Kelma Camargo, direO abandono do centro é parte de um processo que se tor- tora regional do Sindicato da Habitação em Campinas e com o nou mais evidente nos últimos anos, proporcionando menos efi- arquiteto e urbanista Fábio Muzetti, diretor da Faculdade de Arcácia em relação a limpeza das ruas, e o aumentos de vazios ur- quitetura e Urbanismo da PUC-Campinas, confirmam que a as banos em estado de abando. Segundo o professor de arquitetura áreas centrais da cidade faltaram uma melhor aplicação de polítiValter Caldana, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (2018), cas públicas voltadas à revitalização e ocupação ordenada, pois a Lei de Zoneamento aplicadas em na década de 70 em grandes os poderes públicos optaram em expandir a ocupação urbana, metrópoles, principalmente em São Paulo, na qual, desenharam assim, coagindo os prestadores públicos à oferta de produtos e uma cidade onde o centro não de encaixava adequadamente, e serviços ao longo das rodovias e extensas avenidas, onde, como de tal forma, o descuido do centro ocorreu, pois outros bairros consequência, o centro se torna como principal uso uma passaafastados das áreas centrais proporcionam mais atratividades, gem para utilização de modais de transportes públicos. Nos últimos 10 anos, a utilização da área central de Camtanto para a população na qual utilizavam os novos modais de pinas se tornou um espaço subutilizado, de passagem, visto transporte, e, quanto para mercado imobiliário. A falta de segurança, a deterioração da paisagem, e a lim- como um anel perimetral, por conta da falta de lazeres e meios peza da região são muitas vezes utilizada com explicação para de passeio para a população, pois grande parte opta em utilizar o abandono, mas na verdade a degradação veio depois que as locais de comprar localizados nas rodovias, como os shoppings, pessoas saíram, não o contrário, avalia Caldana. A questão que que em apenas um espaço oferece segurança, abrigo, estabelecontribuiu para o abandono de centralidade, foi o crescimento cimentos de comparar e formas de recreação. Uma solução seria a criação de um projeto para revitalizaurbano em grande escala, junto com uma expansão horizontal que gerou a periferização de classes pobres e as médias, e a ção, disponibilizado por um poder público, para estimular a quesexpansão vertical, que com passar do tempo, através do de- tão imobiliária. Mas, esta revisão realizada pelo Plano Diretor, disinteresse econômico desencadeou a manutenção dos prédios minuiu a taxa de ocupações em vez de terem aumentado, assim, vazios e o acúmulo de dívidas, transformadas em prejuízo para enfraquecendo o estímulo de novas construções ou ocupações os proprietários que acabaram abandonando as edificações. De irem para o centro, atraindo um público de volta para frequentar acordo com o presidente do Insper, este problema persiste por- esta área, e assim, buscando de volta a identidade que o centro que o mercado imobiliário possui uma burocracia para aprovar a proporciona na vida da cidade, pois é um local que era para ser reforma de prédios antigos é tão grande que acaba inviabilizan- reconhecido pela sua infraestrutura completa e por toda a história do as obras. O centro é um local de importância simbólica para através dos edifícios. No entanto, segundo o vereador Marcos qualquer cidade, sendo um ponto de referência e um marco na José Bernardelli, a principal culpa deste abandono, são dos mohistória, mesmo perante do surgimento de novas centralidades e radores de rua e de entidade que realizam trabalhos de entrega a sua deterioração física. No caso de Campinas, é uma realidade de alimentos para essas pessoas.


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FIGURA 10: Sem descrição. Fonte: Luis Vaz.


54 VIVENDO NAS RUAS

cantos, em suas casas chamadas de marquises ou calçadas por aqueles que vivem uma realidade totalmente diferente. O indivíduo que vive em situação de rua foi aos poucos passando por um processo de perdas, sejam elas materiais, morais ou simbólicas. Alguns abandonaram ou foram abandonados por suas famílias, muitas vezes despejados de suas moradias, e a grande maioria não consegue trabalho. Aquele que sempre foi o provedor passa a viver distante de suas famílias e a se sentir culpado e fracassado. (D´INCAO apud BEZERRA; VIEIRA; ROSA, 1994, p. 47).

As abordagens utilizadas contra os sem-teto acontecem desde quando a sociedade identificou essas pessoas, que vivem em uma situação de pobreza como “indesejadas” desta sociedade que possui melhores condições de vida. Desde o século 14, são criadas leis de intervenção no modo em que os moradores de rua vivem, principalmente em grandes cidades, como na Inglaterra e Paris, onde eram condenados, escravizados ou executados por “vagabundagem”, dormirem em logradouros públicos, e pedir esmolas. (MENEZES, 2018). No início do século A rua como um fora/dentro da cidade, um 20, abordagens eram criadas em questão aos meios de moradia espaço existencial envolvido pela cidade, para pessoas que estavam dormindo nas ruas, como em Lonmas que, todavia escapa às suas leis e didres, que, para evitar as leis contra moradores de rua, eles recornâmicas oficiais [...] a rua acaba sendo o riam à lugares denominados como Caixão, onde haviam “coffin lugar de tudo que não tem lugar na cidade: beds”, uma caixa de madeira, com uma lona como cobertor, na o que não cabe nas casas de classe média, qual os sem-tetos pagavam para dormir ou falecer. Assim como o que não cabe na comunidade. Não só a os “Twopenny Hangover” (figura 00), que consiste num banco miséria leva as pessoas para a rua. Uma com uma corda, onde pagando com moedas, podiam dormir deconjunção de fatores produz esse território pendurados durante a noite, e às 5 horas da manhã, a corda era existencial. A rua se constitui então como cortada (ORWELL, 1933). esta zona ‘obscura’ na cidade, zona esAté nos dias atuais, a invisibilidade social de viver nas ruas trangeira, ‘estranha/íntima’ na cidade. A rua é sobrecarregada por uma série de julgamentos, sendo vítimas como um fora/dentro da cidade que marca de preconceito e menosprezo, com um tratamento marginalizadistâncias entre cidades numa mesma cido, é, estar nessas condições por uma diversidade de motivos e dade (MACERATA, 2013, p.213). histórias nas quais não podem ser compartilhadas e ouvida por alguém que transita pela rua, pois através dessa carência de um Através de relatos do documentário “Eu Existo” (2012), diálogo, vem como conjunto o medo de uma pessoa, por achar que será assaltada, ou apenas por ter um morador de rua na pro- produzido pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade ximidade. Através desse distanciamento social, a única escolha é de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo estar junto com pessoas que estão na mesma situação, em seus (USP), na qual relata sobre a conscientização social e como são


55 tratadas as pessoas invisíveis na cidade de São Paulo, através de histórias de pessoas em situações de rua, assim, é possível entender que a rua é capaz de fazer qualquer pessoa perder tudo o que ela tem, principalmente a dignidade, além de mostrar que as pessoas não enxergam o ser humano que existe internamente das outras, afetando a conexão social, vendo apenas a parte externa. Na rua é um espaço de pessoas diversificadas, que possui escritores, artistas, estrangeiros, pessoas estudadas, é um lugar de uma vida de imprudência, onde essas pessoas têm que sobreviver e lutam desesperadamente diariamente por pequenas coisas. Chega a ser impossível pensar o que deve fazer mais falta quando uma pessoa vivem em situação de rua, muitos acreditam que comida, dinheiro e um lugar é suficiente, mas segundo entrevista feita com Castor (2012), um morador de rua da cidade de São Paulo, quando lhe perguntam qual a experiência que mais marcou em relação a rua, ele responde: (...) Acredito que a solidão, a dor sem remédio, o afeto não correspondido, a lágrima na madrugada, a solidão de não ter ninguém que toque, de ter uma pele que afagli, não ter ninguém pra ele que diga ‘que bom que você veio, estava com saudades de você’. A roupa que nunca escolhida, o sapato que sempre é dado, àquele que ninguém mais quer, a impossibilidade de escolher, a negação do sonho, da sexualidade, do afeto, a impossibilidade de transitar pelo mundo, de entrar no lugar que quer, e de escolher a comida que gostaria de comer, sempre ten-

do que comer aquilo que dão, a amargura de esperar as horas passar, a chuva que molha, o sol que queima, a ausência de um afeto e alguém que diga: eu também amo você (Documentário: Eu existo, 2012). Viver nas ruas não é uma opção de livre vontade, por meio de cada história, sempre haverá um motivo real, na qual, não foi uma escolha de vida. Independente da classe social, escolaridade, etnia ou sexo, pode chegar na vida de uma pessoa, um momento inesperado, onde o desemprego, abandono ou despejo, podem levar a uma situação de rua. Enfrentando diariamente uma luta contra o desemprego, violência, mudanças climáticas, fome, sede, além de, serem ignorados e rejeitados da sociedade. Uma sociedade que encaram essas pessoas, com repúdio, medo, marginalizando-os.


ANDRÉA

FIGURA 11: Andréa. Fonte: SP Invisível.

“Eu era bailarino, meu nome é Andréa. Eu sou carioca e com a arte, já me apresentei em vários lugares do mundo. Hoje eu to nessa situação, só to esperando o dia que eu morrer, não sei mais o que fazer. Quando assumi pros meus pais a minha orientação sexual, eles me expulsaram, eu apanhei muito! Aqui na rua tem muita homofobia também. Teve um dia, que uma amiga minha que não mora na rua descobriu que tinha câncer e veio me contar. Na hora, fui abraçá-la pra consolar ela, ela chorou muito no meu ombro. Teve um pessoal que achou que eu tava assaltando ela me deu uma pedrada na cabeça sem nem saber o que tava acontecendo.” Fonte: SP Invisível

“Meu pai é russo e minha mãe é francesa, eles se conheceram em Paris e foi lá que eu nasci. Aqui no Brasil, eles me chamam de Carlinhos, eu tenho 35 anos. O governo dos Estados Unidos raptou meus pais e sumiram com todas as crianças da Europa em 1979 para fazerem o trabalho deles, foi aí que eu cheguei no Brasil. Aqui eu sou um artista, componho, escrevo livros e desenho alguns carros e aviões também. Porém, teve uma época que eu fiquei parado e os Estados Unidos vieram e roubaram um monte de ideias minhas e colocaram na indústria, como os títulos ‘Lágrimas do Sol’ e ‘O Pianista’ que, hoje, são filmes muito conhecidos. (...) A gente não tem voz sobre as nossas obras, isso tudo é herança da ditadura. Eles apagaram a nossa história e, hoje, os jovens crescem sem saber as histórias das gerações anteriores.” Fonte: SP Invisível

CAMILA

FIGURA 13: Camila. Fonte: SP Invisível.

FIGURA 12: Carlinhos. Fonte: SP Invisível.

CARLINHOS

Meu nome é Camila Gomes. Hoje eu moro aqui na rua junto com o meu marido, o Rodrigo. Só que isso aqui é bem melhor do que onde eu tava. A gente morava na ZL numa quebrada. Eu trabalhava no tráfico e tava me matando cada vez mais, me afundando no crack. Ficar limpa é muito bom, hoje eu voltei a sonhar. O amor é maravilhoso, foi o amor que me salvou da droga e salvou meu marido também. Hoje sinto o gosto de viver, tenho sonhos de novo. Quero casar e ter filhos. A gente se conhece a 15 anos, quase morremos juntos de tanta droga, mas só hoje, são, a 1 anos e 7 meses, fomos namorar. Tinha que acontecer, né? A gente nasceu até no mesmo dia: 13/02. Muita coincidência.” Fonte: SP Invisíve.


:Eu estou na rua desde criança, ficava pra lá e pra cá. Eu morava na zona norte, mas ficava 2, 3 meses fora de casa. Minha mãe nunca sabia onde eu estava. Mas to sempre atenta né, a rua pra mulher é diferente. Nunca fui estuprada, mas já vi acontecendo, então eu me cuido. Meu nome é Ingrid, tenho 27 anos e o meu sonho é me formar em psicologia. Quero ajudar muitos moradores de rua! Tem muita gente formada na rua, inteligente, mas cada um está por um motivo. Tem gente que perdeu família, tem gente que chapou e perdeu tudo. Enfim, prazer em conhecer vocês!” Fonte: SP Invísivel.

INGRID

FIGURA 14: Ingrid. Fonte: SP Invisível.

HIPPIE FIGURA 15: Hippie. Fonte: SP Invisível.

“O mais difícil no Brasil é ser reconhecido como artista e não um mendigo de luxo. Faço arte há 15 anos, hoje tenho 41 e todo mundo acha que eu sou vagabundo. Tanto eu, Washington, como qualquer artista, só quero reconhecimento pelo o que a gente faz. A gente não rouba, não trafica, a gente faz arte. (...) Tenho trabalho exposto em Tókio, Paris, no mundo todo, mas no meu país eu sou só um mendigo de luxo. Ainda sou o mesmo, mesmo nome, mesma dignidade, mas com vergonha de ser artista aqui no Brasil, porque quem é artista hoje? É BBB. O sistema que faz nossos artistas.Eu não quero isso, quero somar com meu país, não quero só olhar uma arvore caindo e chorar, quero cuidar do galho. Se eu não fizer minha história, correr pro meu objetivo, vou ficar só questionando o governo e sendo guiado pela Rede Globo.” Fonte: SP Invisível.

“Fala mano, meu nome é Danilo do Nascimento Arruda, tenho 31 anos. Nasci em Guarulhos, estou há praticamente 11 anos na calçada. Tenho família aqui perto, ali para baixo, mas me adaptei a rua. Sempre fico aqui nessa região, eu e minha mulher estamos sempre juntos, somos inseparáveis. Já trabalhei como cozinheiro, portanto, curto cozinhar para a galera. Hoje vamos fazer um macarrão ao alho e óleo, até lasanha já fiz aqui. Daqui a pouco vou ver se alguém me fortalece uma mistura no açougue aqui do lado, tenho 10 conto, melhor do que nada.” Fonte: SP Invísivel.

DANILO

FIGURA 16: Danilo. Fonte: SP Invisível.


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FIGURA 17: Avenida do Chá. Fonte: Hélvio Romero/Cenas da Cidade.


59 ASPECTOS CULTURAIS E O PROBLEMA DA MORADIA

créditos bancários, que tiram proveitos especulativos. Por mais que estes meios “ajudam” a adquirir uma moradia, atingindo uma dívida, e como consequência, acabam perdendo tudo o que con6.1. ABORDAGENS À MORADIA quistaram. A moradia não é uma questão de um lugar com um teto Todos possuem o direito de ter uma moradia, porém, a e paredes fixas, mas uma qualidade de vida melhor, sendo uma desigualdade social pelo mundo impede que isto aconteça, aten- realização para aqueles que não possuem nada. A exclusão sodendo este pedido apenas para aqueles de classe superiores, cial e a inclusão precária no setor habitacional têm sido uma das tendo o direito de haver uma ou mais locais para residir, deste marcas no processo de urbanização contemporânea, amplianmodo, impedindo aqueles de classes abandonadas pelos gover- do-se significativamente nas últimas décadas, quando a falta de nos, que não possuem uma residência fixa, ou não há uma ma- alternativas habitacionais para os segmentos sociais de menor neira de manter um lar. Buscando locais de extrema pobreza e renda resultaram na expansão das cidades para as áreas mais precariedade para viver, como os logradouros públicos e vazios periféricas. urbanos que poderiam ser utilizados para construção de uma moradia social. Este é um assunto histórico mundial, o direito à A insuficiência de recursos financeiros por moradia passou a ser considerado um direito fundamental pela parte de parcela da população refletirá nas organização dos Direitos Humanos, onde, segundo levantamenformas de habitar do homem, caracterizato realizado pela ONU, mais de 100 milhões de pessoas em todo das muitas vezes por ocupações irregulares o mundo não possuem um lugar para viver, enquanto mais de 1 de espaços públicos e privados, de áreas bilhão reside em moradias inadequadas. ambientalmente frágeis como as margens É uma grande utopia pensar em moradia para todos no de rios e encostas, resultando na expansão Brasil, onde, segundo o IBGE, mais de 11 milhões de pessoas desordenada da cidade, reflexo da desivivem em favelas, em moradias consideradas precárias ou nas gualdade e exclusão social. Isto quando se ruas. Além da ausência de uma infraestrutura adequada e serviconsegue um local para morar, pois muitos ços públicos, como, distribuição de água e esgoto, energia elése encontram em total situação de abandotrica e pavimentação, elementos que deveriam ser um direito de no, vivendo em praças, embaixo de pontes toda uma população. Em uma crise econômica, se torna uma e viadutos, sujeitos às mais diversas situadificuldade adquirir um sustento familiar, ou o pagamento de uma ções de risco. Problema ignorado por aqueresidência alugada, onde os valores são inflacionados. Além da les que deveriam garantir os direitos básiespeculação imobiliária, na qual, um imóvel chega a custar dez cos dos cidadãos, carecendo de políticas vezes a mais que o seu valor original, enquanto os salários-mípúblicas intervencionistas mais energéticas. nimos seguem sem aumento relevante, e uma família recorre de (MONTEIRO, 2017, p.6).


60 A implantação de medidas política de inclusão social, seria algo ideal, assim como a na cidade de Lisboa em Portugal, através de uma Estratégia Nacional, atuando ao nível em grandes áreas, que são: prevenção e emergência, assim, abrangendo todos os grupos de risco, principalmente população de rua, criando condições para que nenhum cidadão tenha que ficar sem terem que permanecerem nas ruas ou um local temporário, de acordo com os direitos de um cidadão (LÚCIO E MARQUES, 2010). Uma política adequada em questões habitacionais seria o ideal, pois, pode-se antecipar aos problemas, através de avaliações críticas a todos os tipos de programas, e implicações sobre a população e espaços urbanos que podem ser possibilitados de uma implantação eficiente, reduzindo a desigualdade social e solucionar a falta e a precariedade de moradias existentes e oferecer os demais serviços públicos essenciais aos cidadãos. Na vida de uma pessoa, a moradia torna um meio de realização de vida, principalmente se ela se encontra em situação de rua, tornando-se uma dificuldade para se alcançar. Deste modo, métodos são criados para facilitar acesso, diferente da ideia de uma moradia com paredes, utilizando, além de políticas públicas, mas também, abordagens arquitetônicas e urbanísticas, de forma que pode possibilitar um baixo impacto em relação aos custos e à cidade. Em grandes cidades é difícil a implantação de novos edificações destinadas a pessoas sem-teto, por falta de estrutura e alguém para realizar um projeto apropriado á essas pessoas. Como no caso de São Paulo, uma cidade desenvolvida, com um grande número de imóveis, e, entre eles, segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento e a Secretária do Patrimônio, foram notificados em 2018, cerca de 708 prédios não utilizados, totalizando com cerca de 10 mil imóveis em que, a secretaria afirma estarem em estado de abandono. Entre eles

apenas 2.647 constam em dados públicos. A utilização de vazios urbanos seria uma maneira de ocupação para abrigarem a população de rua, sendo uma forma de resolução arquitetônica, para implantações de longo prazo, como habitações sociais que oferecem um amplo programa comunitário, sendo uma forma de longo prazo. Porém, por questões políticas, essa forma se torna complicada, podendo-se utilizar recursos de curto prazo e temporários, como abrigos emergenciais (figura 18), que em algumas situações se encontram com um mal planejamento e são de uso temporário. As moradias “parasitas” (figura 18), na qual se encaixam em estruturas já existentes, geralmente em paredes laterais, sendo moradias acessíveis e de baixo custo comparado com uma construção de edificação. Há também uma arquitetura considera hostil (figura 18), encontrada por toda cidade, principalmente em praças de grandes centros expandidos, como bancos com divisórias, espinhos anti-desabrigados fora dos edifícios e sob pontes, e também, a realocação da população em situação de rua de volta para suas cidades de origem ou cidades com menor crescimento econômico, e longe de grandes centros. Este meios anti-mendigo é severamente aplicado no estado de São paulo, onde, Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, inovou lançando os “bancos anti-mendigo” na praça da República, dividido por barras de ferro, impedindo moradores de rua deitarem aos bancos. O mesmo ocorreu em Belo Horizonte, em 2015, na qual o ex-prefeito Marcio Lacerda, do PSB, realizou uma campanha para que a população não dessem dinheiro ou alimentos aos moradores de rua primeiro, e também, realizou uma série de intervenções sob os viadutos, colocando pedras pontiagudas, impedindo dormirem ou ocuparem os espaços, e como consequência, diversas cidades aplicaram tais intervenções de impedimento.


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ABRIGOS EMERGÊNCIAIS

MORADIA PARASITA

FIGURA 18: Meios de moradias destinadas aos moradores de rua Fonte: Desenvolvido pela autora.

ARQUITETURA HOSTIL


62 6.2. VAZIOS URBANOS Para melhor entendimento sobre vazios urbanos, pode-se caracterizá-los como espaços dentro de um perímetro urbano, em desusos ou subutilizadas. Essas áreas poderiam fornecer melhor uso para sociedade, porém, como consequência de questões históricas, políticas e econômicas, acabam dificultando uma melhor análise do que poderia ser utilizado (FREITAS e NEGRÃO, 2018). Segundo o Manual de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais (2008), os vazios urbanos: [...] consistem em espaços abandonados ou subutilizados localizados dentro da malha urbana consolidada em uma área caracterizada por grande diversidade de espaços edificados, que podem ser zonas industriais subutilizadas, armazéns e depósitos industriais desocupados, edifícios centrais abandonados ou corredores e pátios ferroviários desativados “(BRASIL, 2008, p. 142). Estes vazios podem ser utilizados por inúmeras propostas de projetos como intervenção desses espaços, como vias de acesso, moradias e conjuntos habitacionais, funções sociais, áreas de lazer e recreação, áreas verdes, ou equipamento públicos com âmbito social. O poder público tem a responsabilidade de interferir esses espaços vazios por muito tempo, pois não cumprem uma função social adequada. A requalificação de espaços em desuso são de grande potencialidade para os centros urbanos, principalmente quando aplicado para as necessidades populacionais, sem caráter econômico. Enquanto vazios, podem servir apenas como estacionamentos nas áreas centrais ou como local de depósito de resíduos, intensa vegetação, na qual podem atrair parasitas. Segundo Dittmar (2006) os vazios urbanos são áreas ociosas, como

espaços não parcelados, como grandes glebas e loteamentos, frutos da especulação imobiliária, à espera de ocupação. Assim como Bicca (2017) realça, que os vazios urbanos não foram vistos então apenas como problemas, mas também como áreas que reúnem grandes potenciais a serem explorados, em ações visando requalificar a arquitetura da cidade.

6.3. CENTROS CULTURAIS A palavra cultura tem uma de suas prováveis origens na palavra cultivo. Cultivar como gesto de arar e cuidar (de) um terreno, como um trajeto que é realizado por corpos e instrumentos que experimentam a terra como fornecedora de alimentos de maneira controlada. A palavra cultura tem outra de suas prováveis origens na palavra culto. Cultuar como gesto de reconhecer e agradecer o mistério, como sendo um trajeto realizado por corpos que experimentam aquilo que os atravessa sem controle. Ambos os gestos, cultivar o terreno e cultuar o mistério, se fazem como exigência da vida. Vida como interação entre heterogêneos; vida como fato inumano que arrasta o humano em seu regaço; humano que cultiva e cultua o inumano e, nestes gestos, (se) faz cultura. Com estas palavras convido as comunidades acadêmica e extra-acadêmica a conhecer a Diretoria de Cultura como espaço heterogêneo e, em interação conosco, convido a todas as pessoas a fazerem(-se) cultura. Prof. Dr. Wenceslao Machado de Oliveira Jr. Diretor de Cultura da UNICAMP (2019).

UMA BREVE HISTÓRIA Os centros culturais possuem um extensa história de acordo com seu surgimento e adaptação, para que, assim como nos


63 dias atuais pudesse receber um espaço e uma característica própria de acordo com seu contexto proposto. Sempre houverão meios culturais espalhados pelas cidades, sendo bibliotecas, museus, e teatros. Porém, uma das primeiras manifestações de centros culturais no Brasil ocorreram na década de 1970, após o pioneirismo e a influência francesa no século XX. As manifestações gerais ocorrem no Brasil desde a sua descoberta, por conta da catequização dos índios pelos padres jesuítas, trazendo elementos como as cantigas, teatros e livros (MILANESI, 1997). Segundo Milanesi (1997), a ação dos jesuítas foi fundamental para estabelecer o que identificamos como Cultura brasileira, junto com as igrejas, na qual eram consideradas como centros de cultura, pelo fato de abrigarem artistas contribuintes a religião. Apenas a partir de 1823 que as escolas públicas implantadas para substituição dos colégios jesuítas, começaram a receber meios de conhecimento amplo e uma responsabilidade educacional. Após a Proclamação da República, e o desligamento com Portugal, Milanesi (1997) cita que, ocorreu a separação entre a instrução e a Cultura sendo que a mesma nasceu no país graças ao jornalismo. Essa Cultura reuniu na década de 1930 uma série de artistas que começaram a atuar nessa área “em instituições imprecisas, quase sempre engastadas em organogramas oficiais, em departamentos de Cultura e, posteriormente, com o seu templo específico: ‘os centros de Cultura”. (MILANESI, 1997, p. 92). Apenas em 1935, em São Paulo, foi criado um departamento específico para meios culturais e artísticos pelo prefeito Fábio Prado em companhia com o escritor Mário de Andrade, levando uma série de propostas relacionadas a arte para população e comunidade paulista, principalmente para os locais mais

cultura, iniciando com a implantação do principal centro educacional, a Universidade de São Paulo, e diversas bibliotecas municipais espalhadas por todo o estado, principalmente nas áreas centrais, abrigando os maiores acervos literários. Sendo assim, os espaços de culturas se encontravam separados, na qual, bibliotecas e teatros eram localizados em locais diferentes da cidade. Só então, chegando a década de 1970, que esses meios foram agrupados em apenas um espaço, tornando-se os centros culturais, tendo como início desta fusão, a construção do Centro George Pompidou na França, influenciando em seguida, especificamente entre 1973 à 1978, o início do Centro Cultural São Paulo, localizado na vergueiro, sendo o primeiro e maior representante arquitetônico em relação aos centros culturais, abrigando biblioteca, teatro e lazer em um só espaço, urbanizado um espaço em desuso além da eficácia de sua localização, disponibilizando acesso a todo tipo de público. Segundo Luís Milanesi (p. 97, 1997) a cultura para a administração dos municípios é apenas um atestado de bom gosto, onde o centro cultural deverá ser sempre uma obra de grande visibilidade para atrair atenção para si mesma e para o administrador que o propôs, sendo assim, um espaço de valor e direito ao lazer e conhecimento de uma população que está em busca da cultura.

Sosek


64 CULTURA PARA A CIDADE

baixo custo para utilização de ambos os meios. A localização central, é uma das principais características dos centros cultuA definição de cultura é ampla conjunto de hábitos, cren- rais, pois, segundo Dabul (p. 269, 2008), oferecem exposições ças e conhecimentos de um povo ou um determinado grupo ar- gratuitas ou a preços baixos, o que garante acesso de população tístico. Assim, com esses meios são criados os centros culturais, numerosa e heterogênea, muitas das vezes desejosa de também possibilitando a colaborando com o desenvolvimento e inclusão ter acesso ao prédio, a seus teatros, shows, e a outros de seus social no meio cultural dentro de uma cidade. Incentivando uma espaços e eventos. O objetivo de um centro cultural é promover a concretipopulação a acessar diversos manifestos culturais, e se sentirem em um espaço de integração. Assim como é citado por Da- zação de ações básicas de uma forma integrada através de bul (p. 258, 2008), a presença do público em exposições de arte práticas, costumes e vivências de um determinado local, seja em centros culturais suscita reflexões, ânimos e ponderações de de uma forma tradicionalista através de meios artísticos como cientistas sociais, de movimentos sociais, de agentes do Estado pinturas em telas e esculturas, envolvendo cinema e literatura, ou de uma maneira contemporânea, que envolve todo meio ine do chamado mundo artístico. Apesar da extensa tipologia de centros culturais e museus terligado a arte, na qual atualmente é uma das aplicações mais possuírem uma ideia preservacionista, visando apenas no cres- usadas em centros. Porém, ambas formas citadas possuem uma cimento econômico e turístico das cidades, com uma ideia de importância essencial nas cidades, pois, através delas que uma presença apenas de pessoas privilegiadas em um olhar leigo da cultura local será aplicada e expandida para o conhecimento de sociedade. Os centros culturais passam por um importante papel toda população. No entanto, não é uma facilidade encontrar uma de contribuição nas questões sociais, profissionais em relação às definição mais objetiva do que realmente é um centro cultural, classes artísticas, como forma de um campo de oportunidades segundo Neves (2013, p.3) não existe um modelo para centro em um espaço digno, assim, compartilhando a longo prazo a cul- cultural, mas sim uma ampla base que permite diferenciá-lo de tura e a arte como aprendizagem para todas as classes sociais, qualquer outro edifício [...] mas, quem entra num centro cultural visando ao público um processo indispensável na melhoria da deve viver experiências significativas e rever a si próprio e suas qualidade de vida, por conta de um amplo acesso e visibilidade a relações com os demais. Trata-se de um importante instrumento público para decomunidade (MENEZES, 2005). Além do seu amplo acesso interno e público diversificado senvolvimento de uma população, tendo como benefício a ine crescente, os perímetros que constituem tais meios de exposi- clusão de todos, principalmente aquelas pessoas que vivem em ções artísticas, são localizados estrategicamente em áreas cen- uma exclusão social, podendo ter acesso a diversas atividades trais, pois são locais de fácil acesso, tanto pelo uso misto nos culturais. Havendo como objetivo principal, ajudar no desenvolcentros, possuindo escolas e áreas de atividade e lazer, quanto a vimento de artistas que poderiam realizar apresentações sobre diversidade de meios de transporte descontados no entorno e ao diversos conteúdos em um espaço favorável, sendo um modo


65 oportuno para quem está iniciando uma carreira cultural de forma livre e espontânea, e assim, serem reconhecidos por seus trabalhos para o público, de forma digna e como maturação profissional. Desta forma, é possível observar que esses centros culturais tem como definição associada ao seu uso, ou seja, as atividades que ele propõe para desenvolvimento, variando entre prestação de serviços especializados, mas também de múltiplo uso, como consultas, leitura em biblioteca, realizações de oficinas, exibições de filmes e teatro, audições musicais, espetáculos, aulas de dança e música, apresentação de arte de rua, citações poéticas, entre outras formas dinâmicas de cultura (NEVES, 2013, p.2). A cultura não necessita de um espaço fixo, ela pode está presente em diversos pontos da cidade, principalmente em ruas, na qual possuem uma variedade venerável e comum do encontro entre o público e um artista. A vivência com a arte de rua se torna algo simbólico a quem está transitando por um espaço e vê uma pessoa em condições de rua, apenas oferecendo uma amostra de seus talentos como uma forma de viver. A rua é uma forma de expressão que se manifesta nos principais espaços públicos centrais e ruas do país, acontecendo nos lugares menos esperados, onde a rua se torna um espaço para que diversos artistas possam divulgar seus trabalhos, ou buscando maneiras dignas de sobreviver, levando entretenimento para as pessoas, seja por uma exposição ou por artesanatos para vender, como no caso dos conhecidos “malucos de estrada”. A arte de rua é composta por uma diversa tipologia, como música, circo, teatro, estátuas vivas, grafites, danças, recitais, poesias, trabalhos manuais para vendas, como pinturas, miçangas, entre outros tipos de sustentos. Os artistas desejam a

oportunidade de transmitir o seu valor de trabalho, para transformar o espaço das cidades, não são todos que pedem algum tipo de esmola, e não são todos que são moradores de rua, mas os que são, estão ali como meio de sobreviver, buscando novas oportunidade, ou apenas garantir uma refeição no dia. A importância de sua construção trata-se de reconstruir centros urbanos, trazendo movimento para eles, além da função de ancorar, em determinada região da cidade, um elenco de atividades não-comerciais, lúdicas, de circulação de bens simbólicos e com poder aglomeração de pessoas. Cabe também aos centros culturais a identificação de iniciativas potencialmente exitosas, geradas pela própria comunidade, a fim de apoiá-las, estruturá-las e oferecê-las à coletividade, dando-lhes a visibilidade necessária e merecida. Por fim, vale lembrar que as atividades oferecidas pelos centros culturais de reconhecida excelência são fundamentais para a escolha de uma cidade como destino turístico por parte de visitantes de mentalidade salutar e com elevado poder aquisitivo. É justamente esse tipo de turista que interessa a uma cidade saudável, pois atrai fortuna simbólica e material, traduzida na injeção de disponibilidades cambiais e na vivência coletiva de uma cultura de paz (MENEZES, 2005). Neves (2013) afirma que no Brasil, nos últimos anos, houve um aumento muito grande na construção de centros culturais, para promover as cidades e integrar a sociedade nesses espaços de forma que não obtenham apenas informação e conhecimento, mas também lazer e integração entre as classes presentes naquela sociedade.


66 6.4. CULTURA E ARTE COMO REFÚGIO

é o projeto Urbano, programa da Direção Nacional de Cultura, do Ministério de Educação e Cultura do Uruguai, sendo o primeiro Para algumas pessoas, a cultura e formas de exposições projeto cultural de forma conceitual destinado para moradores de artísticas propõe sensações, lembranças, seja já vivenciadas, ou rua, na qual proporciona atividades abertas para toda comunidaum pensamento de mudanças na maneira de vida, além de pro- de. Segundo o coordenador do Urbano, Walter Ferreira, é uma política de Estado que tem como uma de suas linhas de trabalho porcionar acolhimento e inclusão. Deste modo, a junção de uma variável tipologia de pes- centrais o tema da cultura comunitária, sendo possível trabalhos soas, incluindo pessoas em situação de rua em um único espa- com, oficinas de cinema, música, dança e teatro, tendo como ço urbano, por meio de oficinas, apresentações de música ou ideia principal de a arte e a cultura podem servir para incluir, para dança, ou em recitais teatrais, pode proporcionar através desses integrar, para desmarginalizar. A integração cultural para pessoas em situação de rua, é meios, uma gratificante lembrança na vida de muitas pessoas, um gesto importante para a vida delas, pois elas podem se senprincipalmente aquelas que são excluídas da sociedade atual. Uma convivência respeitosa, é a idealização de um espa- tir bem recepcionadas, seja em espaços como centros culturais, ço onde não há dúvidas de quem são aquelas pessoas, qual a como nos próprios locais de permanência, sendo vistas como arhistória dela, onde que ela vive, sem distinção entre os partici- tistas, não como ameaças, contribuindo de forma complementar pantes, na qual estão realizando atividades socioculturais, assim para que se sintam capazes e motivadas em suas vidas através como todos que estão frequentando o centro cultural, onde a úni- de um estímulo criativo. ca preocupação é a criação de artes. É possível identificar a necessidade da cultura, tanto para as pessoas, quanto para própria cidade, deparando com diversas formas de artes pelas calçadas de forma gratuita ao público e de forma acessível. Segundo os Artistas de Rua de São Paulo, o objetivo e desejo é de apresentar uma forma de beneficiar a vida dos pedestres, que estão apressadas em seus cotidianos, principalmente em grandes cidades caóticas, que, quando recebe estes formas de manifestações, transmite sensações e emoções em meio de sua cor cinza e abstrata. Ao transitar pelos grandes centros, é evidente este encontro da cultura com pessoas em situação de rua, e qual a importância desses espaços para essas pessoas, sem vinculá-las a essa problemática social, indo contra todo o preconceito. Um exemplo,


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FIGURA 19: Sem descrição. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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“O fogo atrairá mais atenção do que qualquer outro pedido de ajuda.“ — Jean-Michel Basquiat


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ARTE E A CULTURA NÃO É UM CRIME É UM REFÚGIO


70 6.5. MEIOS ARTÍSTICOS DE EXPRESSÃO

Aparece como uma alternativa aos circuitos oficiais, capaz de proporcionar o acesso direto e de promover um corpo-a-corpo da Em toda cidade, principalmente em suas grandes centrali- obra de arte com o público, independente de mercados consumidades, é possível encontrar algum meio de intervenção artística dores ou de complexas e burocratizantes instituições culturais. Um exemplo de uma arte neo-expressionista foi Jean-Miurbana, seja ela de uma maneira fixa quanto temporária. Toda forma de apropriação do espaço público para realizações artísti- chel Basquiat (1960-1986), pintor e grafiteiro norte-americano, e cas é realizada com intuito de uma idealização de transmitir uma o primeiro afro-americano a fazer sucesso nas artes plásticas de imagem para a vida cotidiana da população que passa por ela, Nova Iorque, desde criança tinha aptidão para as artes, desee recriando uma nova paisagem, trazendo cor para uma cidade nhando caricaturas e reproduzindo personagens dos desenhos animados da televisão, considerandos “primitivismo intelectualicinza e caótica. Os meios artísticos vão muito além de espaços destinado zado”. Tornou-se artistas de rua, colocando sua arte em muros à cultura, como centro culturais, museus, galerias, bibliotecas, das cidade, e em suas pinturas e grafites, seus textos associados etc. Trata-se também de intervenções visuais, como o grafite até à imagens, eram uma mistura interessante de crítica social e publicidade pessoal com um envolvimento musical do estilo jazz, às expressões corporais, como a dança e a música. Essas maneiras são formas de comunicação à sociedade, blues, raízes afro-atlânticas e opera, assim rompendo barreiras em muitos casos, relatando críticas, tanto política quanto social, entre a arte e a vida comum (ROCHA, 2001). A cidade como cenário de tais práticas integram-se ao que ela surgiu com uma caráter de movimento underground e foi gaantes era estabelecido apenas em espaços culturais, mas sendo nhando voz, transformando-se em uma diversificação de interencontrados tanto nesses espaços quanto nas ruas assim, são venções. No Brasil, tais intervenções começaram no final da década formas de expressão e intervenção artísticas: grafite, colagens, de 1970, época de ditadura, como um movimento de oposição ao vídeos, dança, música, poesia, fotografia, materiais alternativos governo, na qual queriam ir além de espaços fechados, tradicio- como reaproveitamento sustentável, utilização de vegetações, nais e restritivos, onde suas mensagens não chegavam a todos, adesivos, pinturas, instalações de objetos, apresentações teae assim ganhando força maior em 1990, chegando até atualmen- trais, etc. te, como uma das principais formas de expressões pacíficas. Segundo Barja (1994), cabe observar que, atualmente nas artes visuais, a linguagem da intervenção urbana precipita-se num espaço ampliado de reflexão para o pensamento contemporâneo. Importante para o livre crescimento das artes, a linguagem das intervenções instala-se como instrumento crítico e investigativo para elaboração de valores e identidades das sociedades.


71

FIGURA 20: Colagem. Fonte: Desenvolvido pela autora.


7 72

THE BRIDGE CENTER AS

HOMED

CENTRO PRAÇA D


HOMED

CULTURAL

AS AERTES

ESTUDOS DE CASOS

HOMELESS SISTENCE

Os projetos referenciais para estudo de caso, foram baseados na escolha de quatros locais que entre eles, dois são relacionados às formas de moradia destinadas à população em situação de rua, e, outras duas sobre centros culturais. Essas escolhas foram abordadas para melhor entendimento de deus usos, e como esses espaços se relacionam os moradores de ruas, seja como abrigo ou uma forma de refúgio e integração. A principal referência foi como o programa de necessidades são aplicados como infraestrutura de requalificação urbana. Os espaços de acolhimento estão localizados nos Estados Unidos, e mostra como a inserção de pontos com destino específicos à essas pessoas podem influenciar no desempenho da cidade. Assim, resolvendo problemas de segurança, requalificação das áreas centrais, e uma nova maneira de utilização de espaços verticais em desuso. Os centros culturais estudados, estão localizados na capital de São Paulo. São destinados a todo tipo de público, porém, oferece acolhimento e integração dessas pessoas à sociedade através da cultura e da arte.

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74

THE BRIDGE HOMELESS ASSISTANCE CENTER FICHA TÉCNICA

Arquiteto: Overland Partners Localização: Dallas, TX, EUA Área de construção: 75.000,0 m² Ano do projeto: 2008 Certificado LEED Silver

FIGURA 21: Fachada do The Bridge. Fonte: Overland Partners.


75 O Centro de Assistência para Desabrigados The Bridge era uma edificação sem uso, localizado na área central de Dallas, tornando-se um projeto para suporte a pessoas em situações de rua com a intenção de criar um ponto de referência, sem esconder os problemas da cidade, reunindo uma variedade serviços em um único espaço, sendo um modelo arquitetônico mundial para as construções de centros de apoio. Servindo como albergue permanente e apoio social, possui a capacidade para abrigar cerca de 1.200 pessoas durante o dia, e 325 durante a noite, estando aberto aos clientes 24 horas e durante todos os dias do ano, atendendo as necessidades básicas cerca de 1.200 pessoas por dia. “Desde a abertura da ponte, mais de 2,5 milhões de refeições foram servidas, 750 desabrigados foram alojados em casas e os desabrigados crônicos foram reduzidos em 57% [..] Os sem-teto não foram os únicos beneficiários de ter a ponte em sua comunidade. Desde a sua abertura, a taxa de criminalidade local reduziu em mais de 20%” disse James Andrews, diretor da Overland Partners Architects. O escritório de arquitetura Overland, na qual foi responsavel pelo projeto, foi fundado em 1987 na cidade de San Diego, EUA, reúne diversos tipos de profissionais do ramo da arquitetura, tudo isso para fornecer serviços abrangentes com uma arquitetura única, é reconhecido por ter um traço de design urbano diferenciado e um planejamento mestre em todo mundo. Sensíveis ao que se refere meio ambiente e estética nos projetos, integram

de forma inteligente a tecnologia, o artesanato e a arte para descobrir soluções sustentáveis e inovadoras das diferentes classes mundiais a projetos altamente complexos’’. O escritório recebeu mais de 200 prêmios de design internacional, nacional, regional e local, foi publicado em várias publicações internacionais e nacionais. O Overland foi reconhecido pela revista Architect como uma das melhores empresas de design dos Estados Unidos em 2015 e sustentável em 2016 (OVERLAND, 2015).

PRÊMIOS • • • • • • • • • •

Medalha de ouro do prêmio Rudy Bruner de 2011 Topping Out Awards 10 principais projetos de 2010 Prêmio Nacional de Habitação AIA 2009 Prêmio de Design Informado pela Comunidade de Secretário da AIA HUD 2009 Prêmio CLIDE para Desenvolvimento Especial 2009 Prêmio Chicago Athenaeum American Architect de 2009 Prêmio Design Ambiental + Construção de Excelência em Design 2009 Menção honrosa do IIDA Design Excellence Awards 2009 Prêmio AIA San Antonio Detalhe Divino 2008 Competição Internacional de Rebranding Homelessness (exibida na Copa do Mundo de Futebol de 2010 na África do Sul) Melhor Inscrição Arquitetônica

NÃO É UM ABRIGO. É UM SISTEMA DE SUPORTE. UM LAR PARA TODOS.


76 SITUAÇÃO O local possui cinco edifícios que criam um pátio central ligando com campus universitário, além de aproximar a comunidade do entorno, a The Bridge incorpora em seus setores, um prédio de serviços, um de recepção, um depósito, um pavilhão ao ar livre com refeitório integrado, servindo como um ponto focal para o pátio do campus. Ocupa um quarteirão,onde uma parte deste quarteirão teve que ser desocupado para implantação de uma parte do complexo. Grande parte dos edifícios ficam na região Norte e Leste, para minimizar o impacto do bairro que interliga com o Rodovia Interestadual, sendo um local visível a um âmbito cívico, próximo a Prefeitura de Dallas, e conectando os moradores de rua aos espaços públicos, meios de transporte, vias para pedestres, ciclovias, e áreas de lazer. Como consequência da implantação do centro de assistência na área central e comercial, a cidade acabou passando por mudanças positivas, como a diminuição de cerca de 20% de violência, como a redução de doenças crônicas causadas em quem vive nas ruas, prisões, hospitalizações, crimes, uso inapropriado de espaços públicos.

Na imagem 22 é possível visualizar a Avenida Interestadual (linha vermelha) próxima ao The Bridge e ao FIGURA 22: Localização do The Bridge. Fonte: Google Earth (Acessado em 28/04/2020). Modificada pela autora. Centro Comercial de Dallas, TX.


77 PROJETO Algumas das questões que merecem consideração partido arquitetônico com um programa de necessidades original, o conceito do campus, o uso de ar, luz e vidro, orçamento restrito e estética na utilização de materiais com durabilidade como o sistema construtivo feito por alvenaria de bloco de concreto, o design urbano, imagem e design para a sustentabilidade. No geral, os arquitetos tentaram resolver todos esses problemas de uma maneira que reforçasse a atitude de tolerância e respeito aos desabrigados que The Bridge defendia. O projeto recebeu várias premiações em 2009, sendo principalmente por conta da utilização recursos sustentáveis para economia de energia, eficiência energética e reciclagem, na qual proporcional o certificado Leed Silver, sendo assim a utilização da sala de jantar com telhado verde, reutilização de um edifício existente, coberturas e pavimentos de baixa iluminação direta, comissionamento de sistemas de construção, plantações nativas, sistema de reciclagem de água, luz e ventilação natural usada em todos os espaços. Outros recursos utilizados, está a área de dormitório, instalações de saúde física e mental, assistência infantil, consultórios jurídicos, áreas de aconselhamento, instalação de treinamento e escritórios de segurança. As comodidades adicionais incluem lavanderia, um centro de recreação, abrigo de animais, biblioteca, armários e serviços postais, e, na área posterior encontra-se um pavilhão de refeições compartilhado para todos os frequentadores. • Edifício de recepção (1): encontra-se ao lado do pátio de entrada no lado nordeste do complexo, e, inclui lavanderia, correios, creche, barbearia, biblioteca e salas de aula. É também o local onde os convidados se reúnem com a equipe de admissão através de um concierge,

• Edifício de serviços (2): no térreo possui um espaço para clínicas médicas, exames de saúde, aconselhamento e treinamento, o primeiro pavimento é voltado para serviços de apoio, como assistência jurídica, auxílio a viajantes, colocação de emprego, assistência em moradia, moradia com vida profissional e administração, e o segundo pavimento, para residentes de longa permanência, possuindo dormitório masculino e feminino, quartos para hóspedes com necessidades especiais, como transgêneros em tratamento, convalescentes ou idosos. • Refeitório (3): ocupa uma localização central no complexo, criando um centro social e fornecendo três refeições por dia preparadas por uma instituição de caridade. • Área de higienização (4): os banheiros e chuveiros ao ar livre oferecem a oportunidade para todos os hóspedes do The Bridge, independentemente de quanto tempo eles ficarem, para cuidar de suas necessidades pessoais básicas em um local acessível. • Dormitórios (5): é um armazém de reutilização adaptável no sudoeste do complexo, oferecendo abrigo de emergência para cerca de 300 pessoas que dormem em colchões. As portas do edifício, em estilo de garagem, são deixadas abertas para os residentes que se sentem mais confortáveis dormindo ao ar livre, como fazem muitas pessoas de longa data que vivem em situação de rua. • Depósito (6): oferece espaço para os hóspedes manterem seus pertences em segurança enquanto visitam The Bridge, incluindo, um canil para cães, projetado para aqueles que vivem nas ruas junto com seus companheiros caninos.


78 PRIMEIRO PAVIMENTO

IMPLANTAÇÃO

ACESSOS

SEGUNDO PAVIMENTO

TERCEIRO PAVIMENTO


79 CONFORTO TÉRMICO E SISTEMA CONSTRUTIVO O clima de Dallas se baseia em o verão ser quente e abafado e o inverno é fresco e de ventos fortes. Durante o ano inteiro, o tempo é de céu parcialmente encoberto. Sendo assim é necessario técnicas para diminuição das temperaturas internas, como brises e vidros insulados. Os ventos preominantes se concentral da região sul, e se proliferam acima de 10m do nível do solo e passa por váriações sazonnais significativas durante o ano. A sensação de vento em um determinado local é altamente dependente da topografia local e de outros fatores. A velocidade e a direção do vento em um instante variam muito mais do que as médias horárias. No The Bridge, foi bem pensado todas essas questões, principalmente a localização solar, para que possuisse ambientes confortaveis térmicamentes, assim, os domitórios, nas quais são áres de uso inferior aos demais está localizado na fachada leste, proporcionando toda intensidade solar durante a manhã. Por se tratar de uma edificação de apenas três pavimentos, a incidência solar consegue atingir esta área.

VENTO PREDOMINANTE SUL

FIGURA 23: Isométrica de insolação. Fonte: Desenvolvido pela autora.

FACHADA SUL


80 CARACTERIZAÇÃO E PARTIDOS ARQUITETÔNICOS • Ar, luz, vidro: O uso do espaço, iluminação natural e artificial e janelas para projetar a luz do prédio à noite - às vezes é descrito como um “farol” ou “lanterna” - e para fornecer luz aos espaços interiores - até mesmo espaços de dormir em alguns casos - é uma característica essencial do design. Apesar da iluminação natural e amplas aberturas, em conjunto com a posição solar, destaca-se como bem posicionada em relação aos ambientes internos, porém, a noite é alvo de atenção pelo seu, denominado “faróis”, iluminação artificial é bem posicionada, proporcionando ao usuário conforto a qualquer hora e refletindo uma iluminação externa pelos vitrais poéticos. • Projeto urbano: Os prédios do complexo são construídos na calçada, de acordo com o caráter dos prédios vizinhos e evitando a necessidade de cercas externas. Somente o estacionamento no lado sudoeste do projeto interrompe esse ritmo. Também é importante observar que o complexo encerra, mas não se encontra no caminho certo para a St. Louis Street, caso seja necessário no futuro como via pública. • Arte pública: O projeto incorpora obras de arte originais ao edifício feitos por Gordon Huether, com uma série de sete janelas com as palavras dos sem-teto gravadas em portas e paredes de vidro no interior do complexo, especificamente no terceiro andar, tendo a função de ser apreciado do lado externo, chamando atenção pela utilização de cores que aprimoram a arquitetura modernista do edifício e animam o horizonte da cidade no perímetro sul, e também, pode ser visto de dentro do complexo, para que possam olha de uma forma de narrativa das histórias. • Fachada: O edifício é ligado diretamente com a calçada, para que não houvesse cercas ou qualquer tipo de barreira, criando uma clara margem urbana conscientes com as edificações vizinhas.

“The Bridge fez da comunidade do centro de Dallas um lugar melhor para trabalhar e viver”, diz Rawling


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FACHADA FACHADA

SALA DE RECEPÇÃO

FACHADA 2

REFEITÓRIO

PÁTIO

HISTÓRIAS DOS MORADORES D E RUA NAS JANELAS

PAVILHÃO

DORMITÓRIOS

FIGURA 24: The Bridge . Fonte: Overland Partners.

FIGURA 25: The Bridge . Fonte: Overland Partners.


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THE BRIDGE HOMELESS ASSISTANCE CENTER FICHA TÉCNICA Arquiteto: Framlab Localização: Nova Iorque, NY, EUA Ano do projeto: 2016 - Em andamento

FIGURA 26: Renderização 3D representando o Homed. Fonte: Framlab.


83 O projeto surgiu após verem o aumento de falta de moradias na cidade de Nova York desde 1930 e cresceu mais 40% desde 2012, e os sistemas de abrigos com dificuldade para oferecer espaço e conforto para os moradores de rua, e se encontram superlotadas todas as noites. Deste modo, o grupo de arquitetos da Framlab desenvolveu o Homed, que são módulos em formatos de favos de mel para criar micro-bairros impressos em 3D, que servem para abrigar a população que está vivendo de maneiras precárias, fazendo o uso de lotes verticais, fixando-as nas paredes dos prédios criando abrigos parasitas e temporários, sendo a melhor solução para uma cidade que é totalmente verticalizada e com espaços limitados para construções.

PROJETO

Os módulos podem ser construídos em até 95 unidades Homed em uma parede típica de 50x70 pés, aproximadamente 15 x 21 metros. Compondo esta paisagem urbana dinâmica, os módulos podem ser facilmente transportados, montados e desmontados em apenas alguns dias. A projeto propõe ainda que as moradias sejam ocupadas pelo menos por um ano inteiro, para proporcionar novas oportunidades a seus moradores, além de serem projetadas para funcionar tanto no inverno quanto no verão, com ventilação natural integrada no quadro das janelas.

Acesso a rua

Instalação por guindaste

Unidades privadas

Unidades públicas

Unidades de bem estar

Unidades expansivas

Na imagem 27 é possível visualizar que à medida que as cidades se densificam, os lotes vagos (horizontais) tradicionais desaperecem e os verticais emergem.

Acesso ao edifício anfitrião

Fácil transporte

FIGURA 27: Verticalização. Fonte: Framlab.


84 Cada módulo abriga uma pessoa, a fim de manter uma privacidade e segurança individualmente, e para acessá-los, será necessário escadas montadas em andaimes, de forma que seja uma estrutural de fácil e rápida montagem, para que possam ser adaptados em qualquer lugar e serem desmontados caso haja uma ocupação vizinha de uma nova construção. Cada unidade é pré-fabricada, compondo uma estrutura de alumínio destinada a suportar as condições climáticas da região, junto com paredes pré-moldadas de policarbonato reciclado (Figura 28), feitas por uma impressora 3D como uma forma econômica, e, as janelas de vidro que possuem um sistema tecnológico e inteligente, pois para quem está do lado externo servirá como um grande painel de propagandas (Figura 29).

Circulação Vertical

Fáscia de alumínio PMMA Vidro Inteligênte Moldura de alumínio Cobertura de alumínio oxidado Armação HSS 1x1x1/4 Impressão 3D em policarbonato reciclável

Morador Moldura de alumínio PMMA Vidro Inteligênte Fáscia de alumínio

FIGURA 28: Processo de utilização e montagem do Homed - Fonte: Framlab.

FIGURA 29: Tecnologia do vidro na face frontal - Fonte: Framlab.

95 Unidades de Moradias

A Imagem 28 mostra a estrutura da comunidade Homed é composta por andaimes modificados - um sistema econômico e flexível que rapidamente pode ser montado, desmontado e reutilizado.

A imagem 29 mostra o vidro da face frontal da unidade, permitindo transparência, translucidez e transmissão de conteúdo digital.


85 Os ambientes internos possuem um revestimento de madeira compensada para criar um ambiente acolhedor, e sua própria estrutura, incluindo as camas sob um armário para armazenamento serão feitas também pela impressora 3D utilizando plástico como material. Todos os ambientes com diversos layouts com um design minimalista, foram feitos para que possam ser personalizados de acordo com a necessidade do residente. Entre os tipos de layout, está disponível um quarto com estúdio, camarim com espaço para banho podendo ser de uso compartilhado, área de descanso com assentos escalonados. Outros sistemas utilizados foram, uma entrada com chave, espaço de armazenamento extra, tomadas, ventilação, isolamento térmico e acústico e até “monitoramento da saúde”. Além de proporcionar aos habitantes uma vista da cidade, eles podem exibir obras de arte digital, informações públicas ou comerciais, através das janelas de vidros que possuem um sistema digital feito com uma camada de diodos de filme fino, assim permite que a fachada fique clara e aberta para a cidade, fornecendo privacidade ao residente. A cidade de Nova York não tem escassez de paredes vazias e não utilizadas. Talvez seja melhor usá-los para ajudar os necessitados, exibir obras de arte digital e incorporar mais projetos impressos em 3D em toda a cidade. Quarto Unitário

Quarto Unitário com área de leitura e armazenamento

FIGURA 30: Ambientes e layouts do Homed - Fonte: Framlab.

FIGURA 31: Homed - Fonte: Framlab.

Área de descanso e lazer escalonado

Quarto Unitário com espaço de descanço

Camarim e espaço para banho


86

CENTRO CULTURAL PAULISTA (CCSP) FICHA TÉCNICA Arquiteto: Eurico Prado Lopes e Luiz Benedito Castro Telles - Plae Arquitetura Localização: São Paulo, SP, Brasil Área de construção: 300.000,0 m2 de área total e 48.000,0 m² de área construída Ano do projeto: 1979 - 1982

FIGURA 32: Interior Centro Cultural São Paulo - Fonte: Nelson Kon.


87 O Centro Cultural São Paulo está localizado entre a Rua Vergueiro e a Avenida 23 de Maio, é um dos marcos da paisagem de São paulo, constituindo como uma área de passagem e encontra de pessoas diariamente, de todos os âmbitos sociais, sendo um exemplo de urbanização e projeto cultural, nascido para ser um local onde todas as formas de arte convergem, sendo um ponto de encontro e liberdade através de experiências, um espaço onde as artes se misturam e ao mesmo tempo variando entre formas clássicas, modernas e contemporânea. Historicamente, após a prefeitura de São Paulo realizar inúmeras desapropriações para a construção de uma nova linha de metrô na nova Vergueiro em 1974, onde houve uma licitação para reordenamento do local, Para que o objetivo inicial fosse a construção de uma nova urbanização, onde seriam construídos um complexo de escritórios, bibliotecas, hotéis e shoppings center, mas, acabou sendo cancelado, preservando apenas a proposta de uma biblioteca pública, porém, como o espaço era grande, a proposta definitiva foi de um Centro Cultural se inspirando no Centro Pompidou de Paris (1977), com o objetivo de ser um espaço de exposições, biblioteca, cinema, teatro e restaurante.

FIGURA 33: Sem Descrição. Fonte: Desenvolvido pela autora.

Os usos que surpreendem mesmo são aqueles que nem tinham passado pela nossa cabeça. Um dia eu cheguei aqui na biblioteca e observei que um rapaz lia sentado no chão, encostado na parede inclinada perto da saída para a Rua 23 de Maio. Essa parede serve para compor a ventilação lá de baixo. Para mim, aquela era a leitura de lazer que tanto queríamos, não interessa se ele estava fazendo trabalho de escola, se ele estava no lazer geral. Por que não? É legal observar as pessoas que vêm namorar, observar, inclusive, o pessoal em situação de rua. A coisa mais importante desse edifício, honestamente, eu não acho que seja o projeto, eu acho que é o uso, o uso é o grande lance desse edifício.” TELLES, Luís.


88 SITUAÇÃO Em uma área de 300.000,0 m², o lote público com cerca de 300 metros de comprimento percorrido por uma “rua interna”, 70 de largura, na qual respeitou o desnível de cerca de 10m da topografia local, tendo como objetivo acolher as pessoas para dentro da edificação distribuindo um melhor fluxo e circulação. É possível notar a acessibilidade dos quatro acesso ao terreno através do alto fluxo de pedestres e a conexão da Estação Vergueiro da Linha Azul do metrô, próximo a principal avenida da cidade.

LOCALIZAÇÃO DO CCSP EM 1979

TOPOGRAFIA

FASE DE CPNSTRUÇÃO NÍVEL 896

NÍVEL 810

NÍVEL 801 FIGURA 34: Implantação do CCSP em 1979 - Fonte: Acervo Centro Cultural São Paulo. Modificado pela autora.

LOCALIZAÇÃO ATUAL E SEU ENTORNO

FIGURA 35: Localização do CCSP - Fonte: Google Earth. (Acessado em 28/04/2020). Modificada pela autora.

IRO GUE VER RUA

AV. 2

3 DE

MAIO

BAIRRO PARAÍSO


89 PROJETO O projeto do Centro Cultural segue o formato do terreno, remetendo a elevação de um barco, em um declive de 10 metros e 46 500 m2 de área construída, seguindo volumes baixos para preservar a paisagem urbana e vegetação local, na qual foram mantidas. Com a intenção de proporcionar sensações de comunicação visual as pessoas que o frequentaria através do seu diversificado programa de necessidade, para que os frequentadores tivessem a vontade de utilizar todos equipamentos. Apesar dos quatro pavimentos que foram possíveis após a retirada de terra, a volumetria vista através da Rua Vergueiro é baixa e discreta, evidenciando somente a cobertura principal, cujo balanço projeta-se sobre o passeio público em alguns pontos. Todas as divisórias transversais internas são transparentes, proporcionando uma visão total e integração entre todos os programas e o jardim interno. Possui também na rua interna principal, uma escadaria que conduz as atrações teatrais e auditórios, e rampas que se sobrepõe dando acesso diretamente a biblioteca e a Pinacoteca Municipal, na outra extremidade da rua está localizado os ateliers de artes plásticas. Para romper o brutalismo dos materiais expostos na estruturam, foi implantado o pátio central da construção e os jardins que possuem a vegetação original de quando a área foi desapropriada, possibilitando o cultivo de hortas comunitária. Os acessos internos são atraves de grandes rampas que se variam para haver uma melhor distribuição de fluxos para acessar com facilidade todas as áreas, com uma melhor integração de ambientes. Além de haver uma rua interna na qual passa abaixo das rampas, possuindo cerca de 300 metros, ou seja, praticamente toda a extenção do edificio, transformando em uma extenção do passei público externo com o interno.

O terreno, antes de se tornar o conhecido centro cultural da cidade são paulo, nos primeiros séculos da criação da cidade, se encontrava encaixado a um vale cercado por casas do século 19 e 20, na qual foram desapropriadas para a implantação das primeiras estações da cidade, assim, quando mais tarde, os arquitetos Luis Telles e Eurico Prado, se encontravam em uma área totalmento motivicada nos séculos anteriores e o crescimento central, na qual toda vegetação original ja haviam sido retiradas, viram como obrigação preservar aquilo que ainda estava presente na região e preservar a geografia local, enaltecendo as margens, Luis menciona que, “Manter a área verde entre os dois volumes principais permitiu uma espécie de respiro no percurso pelo interior da obra. A copa das árvores evita também que o conjunto se revele logo de cara”. Os arquitetos estudaram e utilizaram como referencia a escola paulista de arquitetura, para chegar a uma identidade visual, e, assim instalando ambientes amplos e continuos, rampas nas diagonais, as aberturas zenitais e o concreto armado aparente. O logotipo do centro cultural foi criado pela artista visual Emilie Chamie, esposa de Mário Chamie, inspirado na estrutura do prédio.

O LUGAR O espaço que abrange o CCSP é conhecido por ser um local de receptividade, congregando toda tipologia de público. Além da diversidade programação em cada canto da edificação, desde de exposições artísticas, ou a utilização do seu amplo espaço aberto para realização de estudos por conta da calmaria que é proporcionada dentro de uma cidade desordeira. Ensaios de diversos tipos de coreografias com ritmos e estilos diferentes


90 são frequentes, principalmente através dos reflexos das divisórias de vidro utilizados como espelhos, ensaios musicais para recitais no terraço, além de encontros entre amigos para diversão, piqueniques, jogos ou esportes. Por possuir um fácil acesso, próximo a estação Vergueiro, o centro cultural se tornou um lugar alternativo, cheio de personalidade na vida dos paulistanos. Atualmente a frequência de pessoas passou a decair, comparado a 38 anos atrás, porém, ele sempre permanecerá com o acolhimento, e suas oficinas diversas sempre estará no local para realizações de atividades e expressões criativas. Em meio a uma extensão multicultural, o acolhimento desta diversidade de pessoas não é apenas em seu espaço interno, mas começando pelo lado externo, onde na entrada da Vergueiro, abaixo de suas coberturas em arco abrigam moradores de rua e estudantes, principalmente nos dias frios e chuvosos da cidade. A ideia principal por Telles e Lopes era de ser um projeto de inclusão, independente da classe ou situação, qualquer pessoa poderia frequentar o espaço, longe de todo caos e cacofonia urbana, para que se sentissem em segurança sem a presença de um símbolo ou alguém que represente segurança. Moradores de rua, pessoas nas quais são excluídas da sociedade, proibidas de frequentarem equipamentos culturais, pois a sociedade impõe esse pensamento irracional na qual cultura só é permitido a pessoas de requinte, e assim, o Centro Cultural São Paulo acaba com esse paradigma, pois essas pessoas são recebidas sem hostilidade. Se sentem protegidas, possuem banheiros para higienização, participam de oficinas, ensaios de dança, se divertem junto com seus cachorros dentro dos espaços internos.

CONCEITOS DE CRIAÇÃO E PARTIDO ARQUITETÔNICO • Planejar, promover, incentivar e documentar as criações artísticas; • Reunir e organizar uma infraestrutura de informações sobre o conhecimento humano; • Desenvolver pesquisas sobre a cultura e a arte brasileiras, fornecendo subsídios para as suas atividades; • Incentivar a participação da comunidade, com o objetivo de desenvolver a capacidade criativa de seus membros, permitindo a estes o acesso simultâneo a diferentes formas de cultura; • Oferecer condições para estudo e pesquisa, nos campos do saber e da cultura, como apoio à educação e ao desenvolvimento científico e tecnológico. Todos esses itens compõem a lei de criação do Centro Cultural São Paulo, de 6 de maio de 1982. O partido arquitetônico visou a horizontalidade, privilegiou a fluidez dos amplos espaços e incluiu diversos acessos, além da construção complexa em concreto armado e aço.

VENTOS PREDOMINANTES LESTE FIGURA 36: Estudo solar e ventos predominantes. Fonte: Desenvolvido pela autora


91 PLANTA NÍVEL 801

PLANTA NÍVEL 806

PLANTA NÍVEL 810

PLANTA NÍVEL 896

FIGURA 37: Estudo das plantas e programa de necessidades Fonte: Desenvolvido pela autora.

FACHADA LATERAL OESTE


92 O Centro Cultural São Paulo oferece: • Um conjunto de bibliotecas multidisciplinares (entre elas a Biblioteca Louis Braille e a Sérgio Milliet, segunda maior biblioteca pública da cidade); • Coleções e acervos da cidade (como a Coleção de Arte da Cidade, a Discoteca Oneyda Alvarenga, o Arquivo Multimeios, o Núcleo Memória do CCSP e a Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, entre outras); • Uma programação de artes visuais, cinema, dança, literatura, música e teatro, além de atividades educativas, ateliês abertos, cursos e oficinas, palestras e debates, arte cênica, ações ligadas aos acervos e voltadas ao público infantojuvenil; • Prporciona 5 jardins diferentes, com árvores sobreviventes da construção do metrô e que, junto com o gramado dos jardins suspensos, oferecem um raro contraponto ao visual, à sonoridade e aos ritmos do entorno; • Espaços de estudo, de permanência, de ensaio, de acolhimento, de compartilhamento e de criação dentro de um equipamento público amplo, vivo e democrático. • Horta Comunitária e Oficina de bicicleta de forma gratuita organizadas por voluntários; • Oficina de folhetária, na qual possui máquinas antigas de impressão e gravura; • Salas e espaços para exposições de artes e ações culturais;

PÁTIO DO TRONCO

PÁTIO ABERTO

COBERTURA VERDE

ÁREA COMUM DO CENTRO CULTURAL

ESCADA PARA ACESSO Á COBERTURA

BIBLIOTECA LOUIS BRAILLE

FIGURA 38: Fotografias do interior e exterior do edifício. Fonte: Acervo Centro Cultural São Paulo.


93 SISTEMAS CONSTRUTIVOS A estrutura única adequa-se ao talude, demandando a construção de uma cortina de concreto atirantado contra placas de ancoragem, bastante visíveis na área da biblioteca, constituindo-se uma estrutura mista de concreto e aço aparente, os pilares centrais azuis são estrutura metálica que sustentam as rampas não são padronizados, retilíneos e uniformes, são distorcidos e muitas vezes subdivididos conforme a necessidade estrutural, e os outros pilares principais se encontram com as vigas, este formato é para remeter aos troncos de árvores. As vigas em concreto aumentam a seção ao atingir os pilares e diminuem nos meios dos vãos, conferindo dinamicidade à estrutura, não há relações de simetria clássica e padronizações de dimensões dos vãos, utilizando curvas em elementos estruturais do projeto produzem uma imagem complexa. Na cobertura principal, feito de acrílico translúcido, permite a entrada de luz zenital, proporcionando iluminação natural em todo o edifício, para melhor eficiência energética.

PILARES AZUIS CENTRAIS DE ESTRUTURA METÁLICA

RAMPAS INTERLIGADAS ASSIMÉTRICAS

ESTRUTURA METÁLICA COM COBERTURA EM ACRÍLICO TRANSLÚCIDO

PILARES SE EXPANDINDOASSIMÉTRICAS PARA O EXTENO RAMPAS INTERLIGADAS

RAMPAS DE ACESSO INTERNOS

COBERTURA EXTERNA COM SEGUIMENTO VISUAL INTERNO

FIGURA 39: Fotografias do interior e exterior do edifício detalhando a estrutura. Fonte: Acervo Centro Cultural São Paulo.


94

PRAÇA DAS ARTES DE SÃO PAULO FICHA TÉCNICA Arquitetos: Brasil Arquitetura Restauro: Kruchin Arquitetura Localização: São Paulo, SP, Brasil Área de construção: 28.500,0 m² Ano do projeto: 2012 Custo de Obra: 136 milhões de reais

FIGURA 40: Fachada Praça das Artes. Fonte: Brasil Arquitetura.


95 A Praça das Artes está localizada no Centro de São Paulo, e por conta dos seus acessos, fornece a direção para três direções que possuem um grande fluxo de pedestres, o Vale do Anhangabaú, Avenida São João e Rua Conselheiro Crispiniano, fazendo ligação com ruas e a avenidas, transformando em um caminho público. O projeto relacionado a artes musicais e do corpo, se adaptou em uma construção já existente, na qual se tornou um conjunto de edifício em concreto aparente pigmentado, com área total de 28.500,0 m², tornando-se um elemento principal que estabelece o novo diálogo, tanto com os edifícios mantido quanto às edificações vizinhas. Sendo um complexo cultural que promove apresentações, exposições e diversos eventos, espaços de convivência a partir da geografia urbana, da história local e dos valores contemporâneos da vida pública, abrigando grupos artísticos do Theatro Municipal de São Paulo, Escola Municipal de Música, Escola de Dança de São Paulo e administração da Fundação Theatro Municipal e da SP-Cine. O objetivo era criar um espaço que pudesse contornar o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, tendo uma forma mista de edifício e praça. Foi projetado pelo arquiteto Marcos Cartum junto com Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Luciana Dornellas da Brasil Arquitetura, recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de Melhor Obra de Arquitetura de 2012, o prêmio de Edifício do Ano de 2013 pelo Icon Awards, realizado pela Icon Magazine, e foi finalista dos ‘Projetos Impressionantes das Américas’, da Mies Crown Hall Americas 2014.

FIGURA 41: Croquis em aquarela da Praça das Artes. Fonte: Brasil Arquitetura.

FIGURA 42: Fotografia das fachadas externas. Fonte: Brasil Arquitetura (Acessado em 28/04/2020).


96 LOCALIZAÇÃO A implantação desse equipamento cultural ocupa todo seu terreno, além de atender à histórica carência de espaços para o funcionamento do Teatro, desempenhando uma estratégia na requalificação da área central, uma vez que o completo e complexo programa de usos e necessidades, focado nas atividades profissionais e educacionais de música e dança, está fortemente marcado por funções de caráter público, convivência e vida urbana, possuindo uma situação privilegiada de urbanização ao seu redor, através da mistura de classes sociais e usos (Brasil Arquitetura). Assim como em quase toda a região central de São Paulo, os edifícios que abrigam em volta do projeto estão dispostos de maneira assimetria e caótica predial em questão volumétrico e entre as normas de insolação e ventilação adequados para uma boa eficiência energética. Por se tratar de um espaço público, ele faz conexão com o tecido urbano da cidade através de suas aberturas, além de ser também uma seção urbanística de recuperação e regeneração de uma zona central. O projeto em si se acomoda no terreno.

SITUAÇÃO

IMPLANTAÇÃO 4 3

5

1 2

1/ Praça das artes 2/ Vale do Anhangabaú 3/ Praça Ramos de Azevedo 4/ Teatro Municipal 5/ Largo Paissandu

FIGURA 43: Situação e Implantação. Fonte: Brasil Arquitetura.

FIGURA 44: Localização da Praça das Artes. Fonte: Brasil Arquitetura.


97 PROJETO

entrada e saída de público. O extinto Cine Cairo, permanece a fachada, porém anexada ao novo edifício, destinado aos Corpos Artísticos. Assim, Um grande edifício com blocos abertura irregulares em concreto aparente, pigmentado na cor ocre, é o elemento princi- estes edifícios históricos são registros físicos e simbólicos remapal a estabelecer um novo diálogo com a vizinhança e, também, nescentes da cidade do século passado. Como raízes dos novos com os edifícios históricos existentes recentemente reformados, usos sustentarão, com sua cor branca que contrasta com o ocre permanecem como parte integrante do conjunto, são eles o Con- e o vermelho do concreto, uma vida por ser inventada. A nova intervenção busca ser incisiva, onde o edifício posservatório Dramático e Musical e a fachada do Cine Cairo, na qual tais conjuntos proporcionam ao local uma arquitetura de di- sui um pé-direito livre, de modo a liberar o pavimento térreo aos ferentes épocas. A edificação do Antigo Conservatório Dramáti- pedestres, que podem cruzar o quarteirão de lado a lado e em co Musical de São Paulo, foi construída em 1896, abrigou uma três direções, a céu aberto ou protegidos por marquises. A galeria loja de pianos e funcionou como o luxuoso Hotel Panorama. Em aberta, é o local onde serão instalados pontos comerciais e de 1909 passou a sediar o Conservatório Dramático e Musical de serviços, atraindo para o novo espaço o movimento das ruas do São Paulo, que chegou a ter mais de 1400 alunos e foi ponto de entorno, deste modo, o projeto propõe um reordenamento urbaencontro dos intelectuais que influenciaram as artes no Brasil. nístico para a região. Após décadas de abandono, ele se encontrava incrustado em uma região degradada do centro da cidade, sendo um importante marco histórico e arquitetônico e abriga uma rara sala de recitais, que há décadas estava inutilizada. Com o projeto da Praça das Artes, o edifício foi restaurado e reabilitado, e, vinculou-o a um complexo de novas construções e espaços de circulação e estar que abrigam as instalações para o funcionamento das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal. O antigo edifício, anexado ao Conservatório Dramático e Musical, dá lugar a uma torre, que funciona como centro articulador de todos os departamentos e setores instalados no conjunto. Todos os escritórios administrativos, a circulação vertical, os halls de chegada e distribuição, os sanitários e vestiários e os shafts de instalações estão concentrados neste edifício. Essa nova torre, também em concreto aparente, porém pigmentado na cor vermelha, destaca-se como o centro geográfico de todo o conjunto,


98 PLANTA TÉRREO

PLANTA 1 PAVIMENTO

PLANTA 2 PAVIMENTO 3

3

AA’ BB’

1

AA’ BB’

2 3

14

9 8 4

6

5

7

1. SALA DE ENSAIO DA ORQUESTRA 2. SALA DOS MAESTROS E ÁREAS DE APOIO 3. ESCULTURA VERDI 4. RESTAURANTE 5. DOCUMENTAÇÃO 6. HALL/ACESSO GERAL 7. EXPOSIÇÕES

12 10

2 4

12

1 6

13

8

11

91

8. LANCHONETE 9. PRAÇA CENTRAL 10. CIRCULAÇÃO 11. AUDITÓRIO 12. CAFÉ 13. BANCA DE REVISTA 14. ACESSO ESTACIONAMENTO

AA’ BB’

5

1. SALA DE ENSAIO VAZIA 2. CAFÉ 3. SALA DE APOIO E CAMARINS 4. TERRAÇO DO CAFÉ 5. LIGAÇÃO DE EDIFICIOS 6. RESTAURANTE 7. COZINHA

01

5

12

7 1

7

13 89

14

8. HALL/ACESSO 9. DOCUMENTAÇÃO 10. SALA DE CONCERTOS 11. ADMINISTRAÇÃO DAS ESCOLAS 12. TERRAÇO 13. LIGAÇÃO DOS EDIFICIOS 14. SALAS DE ENSAIO (DANÇA E MÚSICA)

1. SALA DE CORAL LÍRICO 2. SALA CORAL PAULISTANO 3. SALAS DE APOIO 4. SALA DOS MAESTROS 5. VAZIO DO RESTAURANTE 6. HALL/ACESSO 7. CAMARINS

CORTE AA’

SALAS DE ENSAIOS

VENTOS PREDOMINANTES LESTE

ESTACIONAMENTO E ACESSO A PRAÇA

CORTE BB’

FIGURA 45: Desenhos técnicos e setorização. Fonte: Brasil Arquitetura,

10

6

EDIFÍCIOS DAS ESCOLAS

SALAS DE ENSAIOS

4

CORTE AAA’

11

8. DOCUMENTAÇÃO 9. ADMINISTRAÇÃO DAS ESCOLAS 10. SALA DE ENSAIOS DE MÚSICA 11. SALAS DE APOIO


99 PROGRAMA DE NECESSIDADES

O local contém uma arquitetura de diferentes épocas, retratando principalmente no Conservatório Dramático e Musical, na fachada do Cine Cairo e, também, nos edifícios que o cercam. A edificação do Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo, foi construída em 1896, abrigou uma loja de pianos e funcionou como o luxuoso Hotel Panorama. Em 1909 passou a sediar o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, que chegou a ter mais de 1400 alunos e foi ponto de encontro dos intelectuais que influenciaram as artes no Brasil. Após décadas de abandono, ele se encontrava incrustado no coração de uma região degradada do centro da cidade, é um importante marco histórico e arquitetônico e abriga uma rara sala de recitais, que há décadas estava inutilizada, com o projeto da Praça das Artes restaurou e reabilitou este edifício, e vinculou-o a um complexo de novas construções e espaços de circulação e estar que abrigam as instalações para o funcionamento das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal. O novo conjunto integra as sedes das Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do Quarteto de Cordas. Abriga também as Escolas Municipais de Música e de Dança, o Museu do Teatro, além de restaurantes, estacionamento subterrâneo e áreas de convivência, além de recebe diversas apresentações de música de câmara, contemporânea, pequenas orquestras e corais. Além destes organismos, o conjunto abriga um Centro de Documentação Artística, a Discoteca Oneyda Alvarenga, galeria de exposições, áreas administrativas, de convivência, restaurantes, cafés e estacionamento em dois níveis de subsolo. ÁREA 1: TOTAL: 5957,48m²

ÁREA 2:

1

2

TOTAL ÁREA CONSTRUÍDA

30115,15m²

3

TÉRREO DESCOBERTO TOTAL: 5687,48m²

ÁREA 3: TOTAL: 18470,27m²

FIGURA 46: Programa de Necessidades. Fonte: Archdaily.

2145,80m²


100

SALA DO CONSERVATÓRIO

SALA PARA AULA DE CANTO

SALA DEAULA ENSAIO E CONCERTO SALA PARA DE CANTO

SALA DE EXPOSIÇÕES

ESCADARIA DA ENTRADA PELA RUA FORMOSA

TETO DE TECIDO DO ESPAÇO DE CONVÊNCIA

VISTA DE UMA D AS JANELAS D A ÁREA DE ACESSOS

SALA DE ENSAIO DO 2 PAVIMENTO

TÚNEL DA P RAÇA CENTRAL LIGANDO COM A AV. SÃO JOÃO

FIGURA 47: Fotografias do interior e exterior do edifício. Fonte: Brasil Arquitetura.


101 CONSIDERAÇÕES FINAIS - ESTUDOS DE CASO Os estudos citados, The Bridge, Homed, Praça das Artes e o Centro Cultural, tratam-se de projetos com âmbitos, programas e funções de diferentes aplicações, porém, ambos possuem em comum um partido de uso público, de recepção e abrigagem de todos os tipos de pessoas. Sendo assim, a escolha de tais projetos como referências de estudo, são essenciais para entendimento de como os espaços buscam acolher, principalmente a população em situação de rua. No caso de projetos voltados diretamente para população de rua, há o The Bridge, um local com um propósito principal de acolhimento e apoio ao morador de rua, busca desenvolver atividade que possam contribuir com a vida de todos, mas de uma forma aberta, onde os próprios moradores podem escolher o caminho que irão seguir. E, Homed, uma moradia parasita que se adapta nas verticalidades de pares de prédios sem uso, um projeto não existente, mas com uma proposta de proporcionar um abrigo de forma informal, cumprindo todas as necessidades de um pessoas que busca uma moradia, seja ela temporária ou não. Espaços culturais, como a Praça das Artes e o Centro Cultural Paulista, são lugares, nas quais, além de proporcionar, cultura, arte e um espaço para encontro, para algumas pessoas enxergam-os como um local de segurança, abrigo, ouvir uma música, assistir uma peça teatral ou de arte de rua, danças, cantorias, leituras, onde podem se expressar, seja de forma artística ou sentimental, local de liberdade de expressão e igualdade social. E, principalmente para quem transita entre as ruas, ou querem poder apresentar seus ensinamentos e aprendizagem para outras pessoas, como no caso dos moradores de rua, que adquirem tais sensações e sentimentos citados apenas em um lugar. Deste modo, pode se interpretar o apoio cultural e social à pessoas que buscam um lugar para se sentirem confortáveis em qualquer ambiente, onde não se sintam excluídas da sociedade por estarem em condições inferiores a outras pessoas que estão nas ruas apenas de passagem, e não como forma de moradia.


8 102

FIGURA 48: Sem descrição. Fonte:Google Earth. (Acessado em 28/04/2020). Modificada pela autora.


103


104 PROPOSTA GERAL Através de pesquisas realizadas para definição projetual, na qual foi feita na cidade de Campinas, foi possível analisar um aumento significativo anual entre a população em situação de rua, precisamente na principal área central da cidade, onde a falta de inclusão social em locais públicos, como centros culturais, na qual eles passam por uma visão social de exclusão por conta da situação que vivem. Outro ponto importante, foi o impedimento de meios de trabalhos informais nas ruas, como apresentação de meios artísticos nas ruas, e a falta de locais com menos restrições, para utilizarem como abrigo e realizarem atividades básicas diárias, como higienização, alimentação, recreação, entre outros cuidados. A principal ideia é apresentar um local onde esta população possa ter um contato adequado com a sociedade, sem largarem suas vidas, ou deixando-o às ruas, mas, para que tenham o apoio necessário quando precisarem, e, para se integrarem através de meios artísticos e sócioculturais. Se apresentando ou produzindo produtos artísticos, seja para comércio ou exposição para terem uma chance de serem reconhecidos devidamente e honestamente. Deste modo, por se tratar de uma área importante de Campinas, e onde está localizado a maior concentração de moradores de rua da cidade, e sem gerar qualquer tipo de impacto em seu entorno a ideia principal é a implantação de um Centro Cultural e Apoio para aqueles que sofrem em uma sociedade de exclusão e parem de se sentirem invisíveis. O espaço será um espaço para se sentirem seguros e tenham um aspecto social, tratando-se de um lugar onde forneça auxílio, respeitando-os de maneira que deveriam, como seres humanos. Mas antes de concluir uma proposta projetual, é necessário um estudo do seu entorno, para compreender os seus cheios e vázios e ocupação da região.


105

Sosek


106

LOCALIZAÇÃO

MACROZONA 4 CENTRO

Após analisar a cidade Campinas, foi possível identificar a necessidade de uma atenção maior na Macrozona 4, especificamente, na região central. Mesmo sendo uma das áreas com uma extensa infraestrutura urbana, possuindo uma variedade de equipamentos públicos, como moradias, saúde, educação e atividades de comercialização, o quesito lazer está em carência comparado com os demais. O lazer, um importante equipamento para desenvolvimento da cidade que é ignorado pelos órgãos públicos. O centro refere-se a um local de aquisição histórica, na qual, um extenso percurso arquitetônico envolve patrimônios e bens tombados, além de praças centros culturais e pontos de convivência. Pertence a um ponto de convergência, em questão de deslocamentos, pois, possui importantes questões econômicas, de empregabilidade, e outros serviços. É umas das localizações da cidade com menor número de vazios urbanos, possui lotes que não são ocupados adequadamente, sendo utilizados como estacionamentos, e, prédios antigos que estão em estado de abandono. Por haver estas áreas abandonadas ou precárias. O centro tem proporcionado um aumento significativo de moradores de rua, causando aglomeração nas principais avenidas, ruas e calçadas de Campinas. Excluídos pelos moradores locais, e, sem um lugar digno para moradia ou fazerem suas necessidades básicas diárias. Para uma melhor compreenção da região, é necessário um estudo sobre as funcionalidades existentes na Macrozona 4, além dos seus pontos de interesse para melhor implantação.

MAPA 6: Localização Campinas. Fonte: Desenvolvido pela autora.


107

MACROZONA 4 A macrozona possuí uma elaboração do plano local realizado pela Prefeitura de Campinas, sendo o detalhamento dos objetivos, diretrizes e normas definidos na lei do Plano Diretor e no Estatuto da Cidade. Assim, estabelecendo as seguintes finalidades e objetivos: adequação dos parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo às condições ambientais, urbanísticas e sócio-econômicas, detalhamento das políticas de cada setor e, definição das diretrizes viárias, preservação e recuperação ambiental, otimização da infra-estrutura existente, o equacionamento das áreas de sub-habitação, incentivo à mescla de atividades, incentivo à consolidação de subcentros. Através dessas finalidades, é possível analisar suas características e compreender o centro histórico de Campinas e o centro expandido, onde se localizam os bairros de maior intensidade de ocupação e verticalização. Delimitada pela Bandeirantes, MZ5, MZ9, D. Pedro I e Valinhos e seccionada pela Rodovia Anhangüera e pela Rodovia Santos Dumont. Conta com uma área de 159,137 Km², correspondendo a 19,97% da superfície do município, e segundo o censo de 2000, há uma população com cerca de 599.945 habitantes, 61,89 % da população do município.Representa a malha urbana mais articulada do município, além de uma infra-estruturada e equipamentos públicos bem planejados. São os principais pontos centrais na MZ: Centro Histórico; Terminal Rodoviário; Terminal Central, Parque Ecológico; Bosque dos Jequitibás; Escola de Cadetes; Complexo Fepasa.

FIGURA 49: Macrozona 4. Fonte: Google Earth. Modificado pela autora.


108 PLANO DIRETOR DE CAMPINAS - DIRETRIZES São diretrizes específicas da Macrozona 4 (art. 28 da Lei Complementar n° 15/2006): • Regulamentar a implantação de atividades de grande porte e de caráter regional na região lindeira à rodovia D. Pedro I SP 65; • Orientar a ocupação urbana levando em conta a infra-estrutura e o adensamento, através de eixos estruturadores; • Consolidar sub-centros; • Revitalizar o centro, estabelecendo regras para a mescla de usos com incentivo especial para habitação, hotéis e atividades culturais noturnas; • Priorizar investimentos públicos para as áreas com carência de infra–estrutura; • Garantir padrão de baixo adensamento para as APs 11, 13 e 22 e UTB 17; • Garantir padrão de médio adensamento para a AP 12; • Manter as características residenciais na UTB 32; • Controle do parcelamento e do adensamento na AP 31; • Permitir o adensamento nas UTBs 20, 55, 56, 57, 58, 60 e 61; • Promover a interligação entre os sub-centros; • Preservar os maciços florestais; • Adotar medidas preventivas de processos erosivos em novos parcelamentos na microbacia do córrego Sete Quedas; • Recuperar as áreas com processos erosivos na microbacia do córrego Taubaté; • Implantar Eixos Verdes (vias e avenidas); • Implantar o Polígono de Multiplicidade Ambiental;


109

A área central de Campinas é um local de aquisição histórica, prioridade para desenvolvimento projetual na qual será proposto onde grande percurso cultural, e, são sub-utilizados atualmente, pois a cultura e arte para algumas pessoas não são de importância, mas para outras, é um meio de refúgio utópico de uma sociedade caótica. Além do eixo cultural, é necessário o trabalho em conjunto, desse eixo fazer parte de uma infraestrutura relacionada ao transportes, assim, essas atrações podem ser utilizadas por toda a região. O objetivo de manter uma proposta na área central parte de um potencial de integração dessa população, implantando um projeto em um eixo cultural, para se sentirem parte desse meio, além da necessidade de novos equipamentos culturais em centros urbanos. A proposta poderia ser implantada adequadamente em outras regiões periféricas, mas assim, consequentemente

estaria afastando eles de um eixo de desenvolvimento cultural importante, além do difícil acesso, revendo que a região central está localizada cerca de 50% da população de rua de Campinas. Resumidamente, a principal proposta é a integração espacial e social, assim, a região central é condizente revelando todo seu contexto de abandono da macrozona. Pois a retirada de um eixo importante, é como a exclusão da população de rua da sociedade atual.

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FIGURA 50: Sem descrição. Fonte: Desenvolvido pela autora.

POR QUE O CENTRO?

Para estudo sobre qual localização seria ideal para realização de uma proposta projetual voltada a cultura, foi analisado quais pontos da cidade em um eixo de 1km se encontrava em uma precariedade relacionada a equipamentos públicos voltados aos moradores de rua de Campinas. Como já citado anteriormente no capítulo 4, a cidade é setorizada em 5 áreas e em 9 macrozonas, sendo assim, um projeto com âmbito cultural poderia ser desenvolvido em outras áreas mais afastadas dos centro e de infraestrutura, porém, por se tratar de uma metrópole em desenvolvimento, Campinas está acompanhando um crescimento em suas periferias, implantando infra estruturas nestas áreas mais afastadas, e assim, consequentemente o centro começa a entrar em estado de abandono, não sendo mais útil para uma parcela da população.


110

POTÊNCIALIDADES

Um dos principais objetivo para implantação da proposta, foi a análise de pontos que se encontravam como vázios urbanos no perimetro central de Campinas. Outro ponto análisado, foi a proximidade do eixo cultural. Áreas em potêncial:

1/ A proposta seria aplicada é uma rua que estava sendo

sub-utilizada, porém, após uma pesquisa sobre o local, foi encontrado que ele pertenceria às novas intalações dos corredores de ônibus realizado pela BRT de Campinas. 2/ Com uma área de 12.000m ² , assim como o terreno 1, será implantados os corredores de ônibus da BRT. 3/ O terreno de 11.000m ² localizava-se a antiga estação rodoviária, porém foi demolido toda sua construção existente, e abandonado pela prefeitura durante anos. Em 2020 foi anúnciado que o espaço seria destinado à instalações hopitalares do São Luís. 4/ Com grande potêncial projetual, o terreno 4 de 35.000m², é uma propriedade particular, que encontra-se abandonada, e com uma área de APP em seu contorno. 5/ A área 5, escolhida para proposta, possuí 3 vazios urbanos tratados pela CONDEPHAAT, mas sem restições de construções, principalmente destinados ao lazer da cidade. É uma das áreas com o maior encontro de moradores ao redor de seus muros. Localiza-se entrem duas avenidas principais da área central de Campinas.

MAPA 7: Potências. Fonte: Desenvolvido pela autora.


111

CULTURA

Campinas possuí um âmbito cultural, na qual reflete sua tradição e sua vocação à inovação. As mais variadas manifestações culturais e linguagens artísticas retratam a composição rica e diversa das diferentes identidades e povos que constituem a viva face do povo campineiro (Mapa Cultural de Campinas). A predominância cultural da região central é baseada em museus, sendo eles: • Estação Cultura - Ferrovia Paulista; • Museu da Cidade - Fundição Lindgerwood; • Teatro Municipal José de Castro Mendes; • Instituto Vivarte; • Museu de Arte Moderna de campinas; • Museu Odontologico Dr. Nelson de Souza Barros; • Museu de Arte e Som de Campinas - MIS; • Museu de Arte Sacra da Irmandade do Santíssimo Sacramento; • Espaço Cultural do TRT da 15° Região; • Museu Carlos Gomes - CCLA; • Museu Campos Salles - CCLA; • Centro de Ciência, Letras e Artes - CCLA; MAPA 8: Cultura. Fonte: Desenvolvido pela autora.


CHEIOS E VAZIOS

112

Como dito anteriormente, Campinas possuí uma quantidade inferior de vazios urbanos na área central. Isso ocorre por ser uma das áreas mais antigas da cidade com edificações históricas, e ser uma cidade relativamente nova comparada com outras cidades da região. Assim, possui poucas áreas vazias. As áreas ocupadas baseiam-se de residencias antigas e terrenos pequenos, encostadas uma às outras, apenas as atuais construções que posuem uma disposiçao mais ampla, na qual são prédios mistos e hospitais.

MAPA 9: Cheios e Vázios. Fonte: Desenvolvido pela autora.


113

VIAS

Por esta ser uma região central, possúi um fluxo com maior intensidade, tanto para veículos, quanto pedestres. As avenidas são as de maior concentração, por ligarem as estradas e estar próximo de uma mobilidade urbana rodoviária e pontos de ônibus por toda avenidade principal. È posssível analisar, que o entorno destinado aos pedestres encontra-se em degradação, com calçadas sem iluminação e pavimentação adequada, tornando-se uma área integura para passagem, principalmente durante a noite.

MAPA 10: Vias. Fonte: Desenvolvido pela autora.


114

USOS DE SOLO

O uso e ocupação de solo da área de abrangência de 1km se baseia em, pequenos e grandes comércios, instituições religiosas, mercados, alto número de instalações destinadas à saúde, museus, praças, residências unifamiliar, residenciais multifamiliares, prédios mistos, escolas e instituições de ensino, restaurantes, e mobilidades. Conectados por vias coletoras e arteriais lineares de grande fluxo. De uma forma geral, o entorno é de uso misto, porém, na região sudeste, predomina-se residências, na algumas residências são utilizadas como comércio por conta da universidade nas proximidades.

MAPA 11: Usos de solo. Fonte: Desenvolvido pela autora.


115

GABARITO

Mesmo sendo uma localização central, em uma metrópole próxima e comparada a São Paulo, Campinas é um lugar com frequente espraiamento em seu desenvolvimento urbano, porém, diferente de outras metrópoles, elas não possui um gabarito de altura superior e de grande quantidade, apenas em edificações recentes, que são verticalidades de uso misto, possuindo entre 20 a 30 pavimentos. A maior denominação comum de altura é de 1 a 4 pavimentos, na qual, os de 1 a 2 pavimentos são residenciais, e de 3 a mais, de uso comercial ou misto. Isso ocorre por esse perímetro está localizado em uma área envoltória de patrimônios tombados no centro histórico expandido, e pelas restrições aeroportuárias.

MAPA 12: Gabarito. Fonte: Desenvolvido pela autora.


CLIMA

A região da cidade Campinas (Latitude Sul 22º 53’20” e Longitude Oeste 47º 04’40”) possui um clima quente e temperado durante o verão, e no inverno é ameno, quase seco, além de haver uma constante pluviosidade durante o ano, sendo em média cerca de 1.315mm. Trata-se de um clima, na qual é classificado na média de 19.3ºC, variando entre 13ºC a 29ºC. A temperatura mais frequente é a morna, permanecendo por 4,9 meses, permanecendo com temperatura máxima média diária acima de 28 °C. No entanto, a temperatura mais fresca, permanece durante 2,5 meses. Devido a grande variação climática e temporal das chuvas, a cidade atinge uma intensidade de precipitação, principalmente durante o verão. A estação de maior precipitação, sendo na época de verão, dura 5,4 meses, com probabilidade acima de 39% de que um determinado dia tenha precipitação. Dentre os dias com precipitação, distinguimos entre os que apresentam somente chuva, com probabilidade máxima de 67% em janeiro. O máximo de chuva ocorre durante os 31 dias ao redor de 9 de janeiro, com acumulação total média de 216 milímetros.

GRÁFICO 17: ZONA DE CONFORTO

DADOS CLIMÁTICOS

GRÁFICO 16: TEMPERATURAS

116

Conhecer o percurso do sol é fundamental para o controle da radiação solar sobre o edifício. Assim, a implantação do edifício, pode haver criação de aberturas, artifícios para sombreamento, e, uso de materiais isolantes. A energia solar de ondas curtas incidente média diária em Campinas e Região permanece basicamente constante durante abril, permanecendo entre mais e menos 0,2 kW/h de 5,1 kW/h

GRÁFICO 18: CHUVAS

INSOLAÇÃO

Fonte: INMET, 2016.


O gráfico da rosa dos ventos mostra as estatísticas sobre o vento, reunidas ao longo do tempo. Essas medições incluem velocidade do vento, direção e frequência. A velocidade horária média do vento em Campinas e Região permanece basicamente constante durante abril, ficando entre mais e menos 0,1 quilômetro por hora de 10,7 quilômetros por hora ao longo do período. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, predominam principalmente na direção sudeste, com velocidade média de 2,0 m/s, variando entre sul e sudoeste, e no mês de abril predominando o sentido leste. Neste caso, para construção de edificações, o ideal é a utilização de uma ventilação cruzada ou por efeito chaminé em projetos, por se tratar de uma região quente, e como solução de um melhor conforto térmico para usuários, através de estratégias de ventilação passivas, diminuindo a temperatura do ar dos ambientes.

GRÁFICO 20: UMIDADE RELATIVA

ROSA DOS VENTOS

GRÁFICO 21: ROSA DOS VENTOS

ao longo do período, a média de radiação solar durante o ano é de 663,54 wh/m², sendo a máxima de 762,36 wh/m² durante o mês de dezembro e a mínima de 516,9 wh/m² durante o mês de maio. Como campinas está localizada na zona bioclimática 3, e, através da sua carta solar, compreende-se adotar estratégias de proteção solar durante o verão, porém, ao mesmo tempo proporcionar algum tipo de ganho térmico durante o inverno, podendo ser utilizados brises ou beirais, mas sempre utilizando iluminação natural nas edificações.

GRÁFICO 19: RADIAÇÃO MÉDIA

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Fonte: INMET, 2016.


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TERRENO

7.218,11m/2

FIGURA 51: Situação. Fonte: Desenvolvido pela autora.

A área de potencialidade 5 encontrava-se com três terrenos subutilizados, assim, a escolha se baseou naquele que poderia oferecer a proposta ideal, e abrigar o programa de necessidades. Como a proposta é a transformação de um local de passagem de pedestre, foi analisado o terreno que mais ofereceria a necessidade de uma nova infraestrutura cultural e pública. Está localizado entre a Avenida Andrade Neves e a Rua General Osório, locais com maior índice de moradores de rua, assim como no terreno escolhido para projeto, na qual é cercado por muros, e algumas vezes utilizado como estacionamento. Ao analisar os muros que o cercam, é possível encontrar moradores de rua, dormindo em frente ao vazio urbano, independente do horário. A partir deste ponto, surge a questão de transformar essa espaço sem uso, frequentado por moradores de rua externamente, destinando em um espaço livre e próprio para eles.


119 LEIS DE USO DO TERRENO

Localizado entre as Avenidas Andrade Neves e General Osório, havendo como área de Planejamento e Gestão (APG), o Centro de Campinas, uma Macrozona de estruturação urbana. Trata-se de uma localidade de zoneamento 4 (ZC4 - Zona de Centralidade 4) LC.nº208/2018. A área possui ocupações e usos CSEI, HCSEI, HMV, ou seja, uma área mista na qual pode ser implantado comércios, serviços, institucionais, industriais (até 750,00m² de área ocupada pelo serviço), valores históricos, arquitetônicos, artísticos, paisagístico, ambiental, e, habitações. Os projetos de instalação de anúncios publicitários e de todo e qualquer artefato de publicidade no imóvel deverão obedecer às diretrizes estabelecidas na Resolução nº 93/2010 do CONDEPACC que trata da publicidade no Centro Histórico Expandido. A situação do terreno para implantação do projeto está em Área Envoltória CONDEPHAAT, de acordo com o processo Nº 04/89 e Nº 20682/78 - Complexo Ferroviário Central da FEPASA, resolução Nº 137/15 e Nº 09/82. Qualquer intervenção feita no imóvel será necessário ter o projeto previamente analisado e aprovado pelo CONDEPHAAT e obedecer ao gabarito de altura ZP0, com impedimento de passagem da altura de nível do solo máxima de 121.50 m, porém, há a solicitação ao DECEA se o objeto se elevar acima do terreno mais de 30 metros de altura e ultrapassar a altitude de 811,50 m (superfície horizontal externa SBKP). Cap.VII - Art.109.VII.

TOPOGRAFIA DO TERRENO

O município de Campinas ocupa uma área de 797,6 Km² , situa-se na porção centro leste do estado de São Paulo (47°04’40’’ Longitude Oeste e 22°53’20’’ Latitude Sul), numa altitude média de 680 metros acima do nível do mar.

A topografia dentro do perímetro de 3 quilômetros de Campinas e Região contém apenas variações pequenas de altitude, com mudança máxima de 109 metros e altitude média acima do nível do mar igual a 689 metros. Dentro do perímetro de 16 quilômetros, há apenas variações pequenas de altitude (419 metros). Dentro do perímetro de 80 quilômetros, há variações muito significativas de altitude (1.242 metros). No caso da localização do terreno para implantação do Espaço de Cultura, Arte e Apoio ao Morador de Rua, está em um local relativamente plano, variando entre as curvas de níveis 701m a 699m, por conta do túnel subterrâneo ao lado na fachada leste. Assim, foi lidado com esta topografia, sem modificá-la, para não afetar a estrutura do túnel, chegando a uma solução de implantar uma arquibancada para acesso da Rua Lindgerwood para o espaço e ocupação de pedestres.

LEITURA GERAL

Para compreender quais questões precisam ser levantadas antes da realização de um plano de massas, é necessário uma leitura geral do terreno, de como é a relação dele com as ruas ao redor, quais os pontos de maior fluxo e ruídos sonoros existentes. Assim, pode-se compreender e solucionar esses problemas, ou apenas implantando uma edificação de forma correta, sem grandes modificações na área existente, e construir um programa de necessidades coerente.


LEITURA GERAL

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MAPA 13: Leitura Geral. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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PLANO DE MASSAS

MAPA 14:Plano de Massas.Fonte: Desenvolvido pela autora.


122 Como conclusão dessa etapa de pré definições, foi diagnosticado os prós e contras nessa área determinada para uso e implantação de um projeto sócio cultural. Como o propósito do projeto é ser um lugar de passagem, acaba-se tornando uma solução para a questão de vias de pedestre, pois atualmente encontram sem pavimentação adequada, iluminação noturna transformando uma área com insegurança noturna, e falta de espaço para circulação, além do elevado fluxo que dificulta diariamente o uso do seu entorno. A acústica é uma situação a ser analisada, pois os fluxos das avenidas são intensos, e assim, consequentemente possui alto ruído em alguns pontos mais movimentados. A aplicação de uma edificação acima de 1 pavimento é uma vantagem, pois, como possuí poucas construções com gabaritos elevados, permite uma visualização do seu entorno, dos pontos de interesse históricos e da área central da cidade. Como é um terreno praticamente plano, sem edificações existentes, apenas um muro em todo seu percurso, facilitando uma implantação e estudo melhor das formas à serem desenvolvidas para realização do projeto de graduação. Assim, de forma geral, a implantação de novas vias destinadas a pedestre, espaços abertos e amplos, disponibilizados de acordo com o sol e os ventos predominantes, com uma iluminação adequada é uma solução para gerar o projeto.


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FIGURA 52: Muros. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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FIGURA 53: Projeto. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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CULTURA COMO PROPOSTA Com esta disposição urbana, passando por uma análise sobre as principais características de um centro cultural, mantendo uma ideia referencial sobre os meios culturais existentes e equipamento públicos. Possibilita a introdução da proposta projetual e criação de uma forma dispersa, para criação de caminhos e ambientes, deste modo, diferenciado e desconstruindo uma característica comum em outros equipamentos de ser apenas uma edificação de acesso centralizada. Esta ampliação promove uma leitura urbana posicionando os equipamentos de acordo com o programa de necessidades, proporcionando um espaço livre, público, com âmbito social, direcionado a qualquer público e qualquer tipologia de expressões artísticas e culturais. Além dessa relação cultural, foi explorado como poderia haver uma integração com a população da cidade de Campinas, principalmente às em situação de rua, que além de possuírem um espaço para se expressarem, podem e devem ocupar o espaço para se sentirem livre, e que pertencem àquele lugar, assim, complementando todo o programa proposto, conectando com maneiras de apoio social, sendo: restaurante popular, bagageiro, canil, biblioteca, oficinas e ateliês como forma de reintegração e lazer, entre outros equipamentos integrados ao cotidiano. O projeto será uma forma de ampliar os conhecimento e atenção à cultura, mostrando que pode fazer a diferença e o bem na vida de algumas pessoas.Contando com todos esses fatores, surge o

CA+Rua (Cultura, Arte e Apoior ao Morador de Rua).


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CONCEITO X PARTIDO 1/ Movimento 2/ Acessibilidade e Inclusão 3/Liberdade As principais caracterizações conceituais que abrange o projeto são o agrupamento de liberdade, inclusão, acessibilidade e movimentação. Desta forma, foi possível o seguimento de um eixo arquitetônico, de como seria a proposta projetual.

...

A implantação em um vazio urbano localizado em uma área central, cercado de ruas e avenidas, com um intenso movimento de pedestres ao redor de um espaço cercado por muros, possibilita o desenvolvimento de um local para acolhimento e utilização e inclusão por várias zonas da cidade. Caminhos em diferente eixos transformados em alameda são criados para o desenvolvimento de uma proposta em terreno subutilizado, configurando-o para um local de uso público na qual o pedestre que utiliza as avenidas poderia acessar o novo espaço de passagem para chegar ao seu destino. O seguimento proporcionaram um preenchimento de áreas na qual eram vazias, adaptando formas entre eixos e acessos livres, encaixado em um programa de necessidade desenvolvido para a população em situação de rua. FIGURA 54: Sem descrição. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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PROGRAMA DE NECESSIDADES


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FIGURA 55: Programa de Necessidades. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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CONCEPÇÃO DA FORMA

FIGURA 56: Concepção. Fonte: Desenvolvido pela autora.


131 Para elaboração desse projeto, foi necessário um estudo de como seria a disposição seguindo principal proposta de ocupação total de um vazio urbano central destinado aos pedestres. Assim, o volume foi criando forma e movimento, começando como seria os melhores caminhos para quem utilizasse o espaço tanto pra frequentar, quanto para um meio de passagem, desviando do caos da cidade. A partir disso, as formas surgiram, e começaram a disponibilizar espaços geométricos que seria destinado aos equipamentos urbanos. Mas ainda era necessário se preocupar onde que poderia ser aplicado um espaço que ao mesmo tempo fosse livre e de fácil acesso, onde as pessoas poderiam utilizar como lazer, descanso ou ocupação, assim foi iniciado a fragmentação dos módulos de andaimes, dispersos por toda edificação permanente, chegando a um resultado final entre eixos e formatos que passassem a sensação de movimento, acolhimento e liberdade.

Exposições Temporárias

Placas fotovoltai-

Exposições Horta e Lazer

Palco para apresentações e arquibanca

Biblioteca

Atendimento

Restaurante Popular

Apoio ao Morador de rua

FIGURA 57: Perspectiva Explodida. Fonte: Desenvolvido pela autora.

Ateliês e Oficinas


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SISTEMAS CONSTRUTIVOS ANDAIMES

A utilização dos módulos de andaimes são como proposta principal do projeto, tendo como ideia transmitir uma sensação de fragmentação, criando caminhos, além de serem utilizados como espaço de lazer, descanso e moradia modular, possibilitando com que os moradores de rua de Campinas possuam um espaço aberto para se abrir quando necessário. Os andaimes metálicos de estrutura tubular de aço são de fácil manuseio, e possui uma vida útil ilimitada, baixo custo, pois podem se ecologicamente reaproveitados por conta de suas peças de junções não definitivas, e assim, utilizando peças de outras construções, projetos temporários ou grandes eventos . Podem ser utilizados tanto para um projeto temporário, quanto permanente proporcionando uma arquitetura adaptável e contemporânea. Como proposta, o centro cultural surge como meio de apoio através da arte para os moradores de rua, estabelecendo um espaço aberto integrando as calçadas em uma alameda. Seus espaços, sendo separados em quatro blocos de estrutura metálica, e entre eles, dissolvendo pelo edifício, o andaime se torna a estrutura principal, sendo um espaço gratuito e sem regras restritivas de ocupação, mesmo sendo uma forma de construção pouco utilizada e inalcançável na arquitetura. Para um arquiteto – e creio que para a maioria das pessoas comuns – o andaime é uma estrutura provisória que escora a construção definitiva. Sua serventia é importante, mas relativa frente ao seu inevitável

desaparecimento para a sobrevida extensa da arquitetura verdadeira. Mas a arquitetura – seja na forma de muro de arrimo, casa ou catedral – nunca é eterna, como comprovam as ruínas, as atuais e as arqueológicas. Se o que realizamos expressam metaforicamente o que somos, são os andaimes e não a arquitetura as construções mais semelhantes a nós (GUERRA, 2018).

Para estrutura protagonista do projeto, os módulos de andaimes são encaixados através de rosetas, sendo descartada a utilização de soldagem para fixação. Funcionando como um sistema totalmente aberto, permitindo manutenção, possui também placas para divisão em policarbonato translúcidos em algumas partes, por questão de insolação e isolação acústica da cidade, possuí também nestas placas uma película de controle solar transparente Prestige PR70 da 3M, pois ela não é refletora e reduz o ganho de calor nas áreas de descanso e lazer. A dimensão dos módulos de aço em planta planta é de 2m por 2m, com peças verticais de 2m cada, totalizando a 10m de altura, as rosetas possuem 48,3 mm e 3,2 mm de espessura, assim, a estrutura sustenta as salas de exposição com paredes em steel frame. As escadas, e guarda-corpo também são de metais, os patamares e o piso sob o espaço de apresentações são em placas cimentícias. Sendo assim, a utilização do andaime é uma grande tendência a ser explorada no meio da arquitetura, para serem utilizado como algo além de sua função comum de apoiar em edificações, mas assim se tornar parte de uma edificação, criando novos espaços


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públicos, ou sendo estudado para se tornar um sistema construtivo Assim como é considerado por Campolina, Aguiar e Araujo (p.289, 2018) as estruturas de andaimes possuem um campo vasto para estudos e desenvolvimento de projetos futuros, tanto em termos arquitetônicos, que exploram as novas aplicações quanto em termos tecnológicos que aperfeiçoam o produto para o canteiro de obras e criam novos componentes complementares para o sistema. Referência de projetos que utilizaram andaime: • Pavilhão Humanidade, Rio+ 20, Rio de Janeiro, 2012. Arquiteta Carla Juaçaba; • Instalación Sava, Croácia, 2019. Openact Architecture + Sara Palomar Studio; • Level Up, Croácia, 2018. Brett Mahon, Joonas Parviainen, Saagar Tulshan, Shreyansh Sett; • Teatro Oficina, São Paulo, 1994. Lina Bo Bardi e Edson Elito; • Mercado Dadad, Tailândia, 2017. Bangkok Tokyo Architecture + OPH; • Ocupação Conexidade, Rio de Janeiro, 2018. Estúdio Chão; • Cota 10, na praça XV, Rio de Janeiro, 2015. Arquitetos Pedro Varella e Julio Parente / Grua Arquitetos (Foto Rafael Salim) • Casa Andaime, Minas Gerais, 2013. Arquiteto Alexandre Veneziano; • Plaza Protótipo, Letônia, 2016. Escritório Mailītis A.I.I.M.

FIGURA 58: Andaimes. Fonte: Desenvolvido pela autora.


134 SISTEMA MULTIDIRECIONAL Para realização da montagem dos módulos de andaime de aço, foi utilizado um sistema multidirecional, na qual oferece a possibilidade de formar diversas geometrias e alturas, adaptando-se a qualquer estrutura, sendo leve e flexível para ser erguido de maneira rápida e inteligente. Podendo assim, ser usado como andaime de acesso, proteção, fachada e escoramento. Segundo Viunov (2011), este é o sistema mais versátil e flexível do mercado, pois constitui apenas de componentes básicos, como os tubos e rosetas metálicas. Pode ser montado em diferentes volumes. A grande vantagem desse sistema, além do baixo custo inicial, é a liberdade modular que se pode obter ao posicionar as rosetas livremente em qualquer ponto do tubo,são extremidades adaptadas, utilizando um sistema de estribos e pinças com chavetas auto basculantes para sua fixação. Isso permite a criação de pisos em qualquer nível e, ao mesmo tempo, a criação de vãos com qualquer modulação desejada, desde que compatíveis com a resistência dos tubos e com os carregamentos previstos. O poste usado é um perfil tubular metálico equipado com dispositivos fixos, que recebem as conexões dos demais elementos. Esses pontos de conexões, no caso as rosetas, e são fixados por meio de solda, realizada em fábrica, e espaçados em intervalos equidistantes, geralmente a cada 30 a 50 cm. Essas rosetas de conexões multidirecionais possuem alta rigidez nas juntas, permitindo suportar mais cargas e, atingir alturas maiores com mais segurança, geralmente em seu desenho encontram-se oito perfurações no disco, sendo quatro delas propositalmente mais estreitas para instalar os componentes horizontais em ângulos de 90º de forma precisa, e as outras aberturas existentes são mais largas, permitindo ajustes mais livres, em ângulos múltiplos de 15º. Outro elemento utilizado na estrutura, são as travessas, diagonais e longarinas.

Diagonais

Rosetas Multidirecionais

Placa de Travessas de aço policarbonato Sapata ajustável Plataforma metálica antiderrapante para andaimes tubulares

FIGURA 59: Andaimes. Fonte: Desenvolvido pela autora.


135 ESTRUTURA METÁLICA Para construção das edificações, utiliza-se uma estrutura metálica nas edificações permanentes, onde localizam-se a biblioteca, restaurante, ateliês e espaço para apoio. A composição da estrutura é simples, tendo a conexão de pilar, viga, treliças, e grelhas de aço apoiadas nas lajes de steel frame. A especificação dos perfis metálicos são diferentes, sendo o pilar com o perfil HP 200x53,0 (H), possuindo as dimensões de 0,204x0,207m, e, as vigas com o perfil W 610x92,0, com a dimenção de 0,603x0,179m, ambos da Gerdau e posicionados por todos os blocos. Nas áreas de passagem, por possuírem grandes vão acima de 15m, foi utilizado treliças espaciais com perfil de 0,650m, assim vencendo todo o vão. A laje será de steel deck com um perfil de 0,20m, com piso de concreto polido. A escolha está relacionada ao local de construção, por haver grande intensidade solar, e o steel deck proporciona uma eficácia no isolamento térmico, além de um rápido e fácil processo de montagem, e com baixo custo de obra. Nas áreas internas as lajes serão forradas, com uma modulação de forro colméia, uma grelha metálica de alumínio. E, nos ambientes que necessitam de um isolamento acústico maior, utiliza-se o forro de fibra mineral soundscape da Armstrong, para tratamento acústico e iluminação, possui também, uma fácil instalação por se tratar de módulos suspensos às laje, e ser resistente a 95% da umidade relativa do ar, e 85% reciclável, possuindo certificado LEED, e, resistente a fogo. Está na classificação A na NBR 9442/1986. Por se tratar de um projeto, na qual apenas um dos blocos possuem 2 pavimentos, para a alvenaria, será utilizado uma estrutura de steel frame, pois, proporciona uma grande vantagem na construção, como: rápida execução; redução do peso na estrutura, assim pode-se utilizar uma fundação superficial do tipo radier; maior

precisão na execução; sustentabilidade; melhor isolamento térmico e acústico; variação de acabamentos; baixo custo de mão de obra (PEREIRA, 2018). Como a ideia principal do projeto em relação às técnicas construtivas, é seguir uma mão de obra rápida, limpa, com alta durabilidade, sustentável e com um baixo orçamento de custo e fácil manutenção, utiliza-se nas cobertura embutidas telha de fibrocimento, pelo seu baixo custo e maior rendimento. Na biblioteca possui uma claraboia, sob um grelha de aço galvanizado e placas de policarbonato lisa. 1/ Apoiamento viga, pilar e laje Steel Deck; 2/ Paredes de Steel Frame; 3/ Treliça espacial; 4/ Viga e Pilar aparente, com forro colméia metálico.

1/

3/

2/

4/

FIGURA 60: Estruturas. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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CONFORTO TÉRMICO

A proposta térmica se baseia em criar espaços confortáveis e adequados para ocupação, através de estratégias bioclimáticas. Como a região de Campinas possui um clima tropical, e, como consequência uma alternância diária em sua temperatura, uma intensa radiação solar incidente, alto índices pluviométricos, foram aplicadas estratégias que se adaptassem ao terreno e ao projeto, como: • Os blocos das edificações se caracterizam como alongados, com grandes fachadas para o Norte e Sul. • As edificações possuem uma distância significativa de uma para outra, assim, possibilitando a ventilação circular melhor por todo terreno, além de ventilação cruzada interna. • Brises nas fachadas Oeste. • Utilização de paredes, pisos e coberturas leves, refletoras e isolantes térmicas.

1/ RESFRIAMENTO EVAPORATIVO

Campinas possui uma alta umidade relativa do ar, proporcionando desconforto térmico com a sensação de abafamento e dificuldade na redução da temperatura corporal. Por se tratar de um projeto onde as pessoas irão ocupar e utilizar como lazer, é necessário meios que reduzam essa sensação, assim, é aplicado em alguns pontos do terreno espelhos d’água na qual serão utilizados através da captação de água pluviais, pois a cidade possui um alto índice de precipitações decorrente ao ano, assim favoreceram às áreas gramadas, vestiários, e como já dito os espelhos d’água. Possuí também, uma horta comunitária no terraço, e utilização de vegetações. A implantação desses métodos, encontram-se principalmente em áreas onde possui um intenso tráfego de veículos, assim, diminuindo

também com a poluição do ar e sonora através das vegetações, e, consequentemente, reduzindo a massa de calor em dias quentes e secos. No caso do espelho d’água, passará por um resfriamento direto, na qual, seguindo as análises do Projeteee, o ar será umidificado enquanto sua temperatura é reduzida e o objetivo do sistema é fazer com que a água evapore controladamente dentro do ambiente, ou seja, adicionando a quantidade correta de água para atingir resfriamento, umidade ou melhoria da qualidade do ar no ambiente. Média geral de aplicabilidade no projeto: 7% Por estação Verão: 4%; Outono: 6%; Inverno: 8%; Primavera: 10% Por horário Manhã: 5%; Tarde: 13%; Noite: 7%; Madrugada: 2%

2/ ILUMINAÇÃO E VENTILAÇÃO

O projeto possui um alto ganho de iluminação e ventilação, pois está localizado em uma área na qual não possui um gabarito de altura elevado, assim, recebe grande ganho de insolação. As grandes aberturas se localizam nas fachadas Norte e Sul, possibilitando uma ventilação cruzada nos amplos ambientes, a utilização de vidros low-e, que são de baixo-emissivos duplos, havendo um ganho térmico no inverno, e não deixa passar o calor do verão, possuindo assim, baixa transferência de temperatura entre o ambiente interno e o externo, com alto índice de transparência, que proporciona aproveitamento de luz natural sem comprometer o conforto de ambientes internos. Também, as aberturas de esquadrias localizadas na fachada Leste e Norte conta com a utilização de brises. E, para os dias mais


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frios, possui uma ampla claraboia, na qual, além de fornecer maior índice de iluminação natural, está posicionada, assim, no inverno, recebe uma radiação solar passando pela superfície de policarbonato translúcido. Como forma de reaproveitamento desse ganho solar, o projeto possí em suas coberturas placas de painéis fotovoltaicos para produção de energia solar, assim, contribuindo na redução de gastos com energia no edifício.

Brise (Vista Interna)

Brise perfurado

Leste

Espelho d’ água Resfriamento Evaporativo

Clarabóia

Placas Fotovoltaicas Clarabóia

Vento Predominate Sudeste Ventilação Cruzada

FIGURA 61: Análise de Conforto. Fonte: Desenvolvido pela autora.

Brise (Vista Externa)


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FIGURA 62: Planta TĂŠrreo. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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FIGURA 63: Planta Pavimento. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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1/

É possivel acessar o CA+Rua por todas as avenidas e ruas principais em seu arredor. Ele não possuí uma alameda principal, a ideia é o pedestre se integrar nele “sem perceber”, para se tornar um espaço sem abtavel para quem trafega a região. Além de, a possibilidade de se locomover de cada ambiente para outro com facilidade. Pela Av. Andrade Neves pode acessar diretamente à todos os ambientes e em eixos acesso direto ao palco, e outras ruas ao redor, e consequentemente, as outras ruas possuem o mesmo sistema de passagem passando por andaimes e estruturas.

2/

A idéia do palco e arquibanca é simples e direta: apresentar, expressar, ocupar. Nesse espasso amplo e livre, é dedicado para todos os tipos de apresentações artísticas, as arquibancadas são dimencionas para assistir as apresentações, pode ser usada como passagem pela Rua Lindgerwood, e, ser ocupada pela população de rua, para dormir ou passar a noite, com a ideologia de não serem expulsos. Acima do palco, entre estrudas de aço, módulos e treliças, atrevés de uma escada vermelha, encontra-se o espaço de exposição temporária, na qual pode ser utilizada para apresentações, exposições realizadas nas oficinas, ou seja, apresentar sua bagagem cultural, seja através de pinturas, esculturas, música ou dança, qualquer meio voltado a essa idéia. Sempre haverá o espaço para quem deseja ocupar. São divididas em três salas fechadas, revestidas com placas de OSB de 12mm e placas metálicas, tanto nas paredes e cobertura, seguindo uma identidade projetual. A escolha dos materiais foi pensado por uma questão de fácil manutenção e montagem, além de se tratar de um material com um bom isolamento termoacústico. Assim, sob o piso de placas cimentícias de 10mm, é possível desmontá-las se necessário.

3/

Uma biblioteca também faz parte de uma cultura, alé encontra-se histórias e conhecimentos necessários para uma pessoa. O espaço compacto conta com áreas para leituras, sala de computação, sala multimídia, sofas que compões o living, e uma arquibancada. Com iluminação natural, tanto pela grandes esquadrias, quanto pela clarabóia acima da escada que dá acesso às exposições permanente.

4/

Este espaço composto de paredes referênciando à um labirinto, está as exposições permanentes, destinado aos artístas locais que desejam um espaço para deixar seus trabalhos. Pode ser acessado tanto pela biblioteca, quanto pelos módulos de andaimes nas extremidades do terreno. Ao passar pela exposições, banheiros, encontra-se um terraço que possuí caixotes de madeira, para ser utilizado como uma micro horta urbana, e aos fragmentos de andaimes para descanso nas redes e bancos. A Horta Urbana, tem a intenção de um espaço para horta comunitária, é trazer uma forma de reintegração social através de um programa sócio pedagógico com princípios da permacultura, em uma forma reduzida localizado sobre o terraço da edificação cultural, como meio de consumo próprio das pessoas que frequentarem o espaço. A permacultura trata-se de uma expressão que abrange uma ampla gama de conhecimentos oriundos de diversas áreas científicas e socioambiental, indo além da agricultura. Abrange a ecologia, leitura da paisagem, reconhecimento de padrões naturais, uso de energia através de recursos naturais, assim, planejando e criando ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio com a natureza, utilizando éticas como cuidado da terra, das pessoas e do futuro (Dixon, 2014; Harland, 2018; McKenzie e Lemos, 2008).


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5/

O restaurante popular tem a intenção de ser como um bandeijão self-service, para melhor acesso dos moradores de rua à alimentação. Claro, pode e deve ser frequentado por todos. O espaço possuí mesas para até 72 pessoas. O espaço serve como integração, tanto na hora da alimentação, quanto para aqueles que queiram participar desse programa, trabalhando no espaço para contruibuição.

6/

Este é o espaço de produzir, criar, invertar, inovar. É nesse lugar que encontra-se o ateliê, com espaços para oficinas, salas livres para produção. Local onde todos trabalham em conjunto, numa mesma obra ou para um mesmo indivíduo. Assim como a biblioteca, a referencia de labirinto também se aplica nesse espaço, as salas de pintura, costura, escultura, fotografia, são livres, abertas, assim como toda a proposta projetual. Além desse meio manual, o movimento corporal também é presente, com duas salas fechadas acusticamente para dança ou música. O acesso esta localizado por 3 alamedas, e através dos andaimes externos, que assim como o restante, também possuí redes e grandes bancos para descanço e ocupação.

7/

Apoio, uma questão necessária quando propões um projeto à população de rua. É essêncial ter meios de ajuda dispônivel, seja para um atendimento psicoterapêutico, quanto um lugar que aceite que deixem seus pertênces, sem regras restritivas. Assim, o programa desse meio de apoio, é composto por um caníl coletivo, com capacidade máxima de 20 animais. Possí três tipologias, dois abrigos de 6.45m/2, cinco de 7.20m/2, e um de 9m/2. Os abrigos são divídidos por sexo do animal

Há também, um espaço de bagageiro, na qual possuí 60 armários grandes, para que todos possam tem onde deixar seus pertences pessoais, sem descartagem. Integrado no mesmo espaço há uma lavanderia com 12 máquinas de lavagrem de roupas, 6 tanques, e espaço para secar e passar roupa. E também, os vestiários, distribuído por genêro, com 7 duchas separadas para higiênização.


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1/


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FIGURA 64: Externo. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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2/


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FIGURA 65: Palco. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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3/


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FIGURA 66: Biblioteca. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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FIGURA 67: Exposição. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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5/


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FIGURA 68: Restaurante. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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6/


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FIGURA 69: AteliĂŞs. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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7/ CanĂ­l, lavanderia, bagageiro, vestiĂĄrio. FIGURA 70: Apoios. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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Ateliês livres, Espalo de Costura, Espaço de Pintura.

FIGURA 71: Apoios. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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Sala par ensaio de danรงa.

FIGURA 72: Ensaio. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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Restaunte popular, estilo bandeijĂŁo.

FIGURA 73: Restaurante. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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Térreo: Biblioteca, Espaços de estudo, Arquibancada, Living, Sala Multimídia. Primeiro Pavimento: Exposições permanentes, acesso à hora, área de lazer, e, exposições temporárias.

FIGURA 74: Biblioteca e Exposição. Fonte: Desenvolvido pela autora.


160 Há também, um espaçoFINAIS de bagageiro, na qual possuí 60 arCONSIDERAÇÕES

mários grandes, para que todos possam tem onde deixar seus pertences Após pessoais, descartagem. Integrado espaço há umasem análise completa da cidade, no damesmo área central e vaumaurbanos lavanderia 12 máquinas roupas, 6 tanques, zios decom Campinas e comode é lavagrem a atençãode voltada aos moradoe espaço para secar e passar roupa. E também, os vestiários, distrires de rua e meios sócio culturais, foi possível realizar a proposta de buído por genêro, compara 7 duchas separadas para higiênização. um projeto idealizado esse grupo heterogêneo. Mas esse é um assunto que precisa ser estudo ainda, por conta dos preconceitos e desigualdade que essa população sofre diariamente, a realização de um projeto que beneficiaria eles mentalmente é uma questão utópica, pois para uma realização sem julgamentos, seria necessário mudar o modo de pensamento da sociedade, que tratam essas pessoas como se fossem invisíveis, criminosas, e nomenclaturas piores. Todos possuem histórias de suas trajetórias diferentes, é uma minoria que está ali por opção, mas ninguém leva em consideração essas condições, ninguém entende que basta uma pessoa ficar desempregada para acabar em uma situação de rua, e em uma sociedade hierárquica, precisará de muita evolução pessoal e intelectual para compreender estes fatores. O pensamento de proporcionar arte e cultural como forma de integração e mudança na vida de uma pessoa que está nas ruas já é um início a ser estudado e desenvolvido, em algum dia.


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FIGURA 75: Basquiat. Fonte: Desenvolvido pela autora.


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